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As cidades e o Desenvolvimento Sustentável

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO
CAMPUS VÁRZEA GRANDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
	Disciplina: As Cidades e o Desenvolvimento Sustentável 
Docente: Profa. Dra.  Gabrielly Cristhiane Oliveira e Silva
Discente: Patricia Carla Filoso
	Turma: 2022
Resenha Crítica: Cidades inteligentes sob a perspectiva da sustentabilidade: Um desafio além da 
tecnologia - José Augusto Paixão Gomes e Orlando Celso Longo - Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 8, p.58805-58824 - Aug. 2020. ISSN 2525-8761
A questão das cidades inteligentes surge a partir do intenso processo migratório de pessoas para as cidades. Em 2008, pela primeira vez na história, a maior parte da população mundial está concentrada nas cidades. Esse crescimento urbano geralmente ocorre de forma desordenada e acaba por sobrecarregar os recursos e os serviços básicos que uma administração pública urbana deve oferecer, como serviços de água e tratamento de esgoto, terras, recursos para construção e afins. As soluções tradicionais não dão conta de resolver estas inúmeras demandas e, portanto, é preciso pensar em soluções inteligentes.
A tecnologia da informação, por exemplo, permite o armazenamento de uma quantidade enorme de informações, convertidas em dados, que antes ocupavam salas e até prédios destinados ao armazenamento de documentos. Além disso, do ponto de vista do planejamento urbanístico, a tecnologia da informação ainda permite sistematizar diversas informações a respeito de planejamento, gestão dos recursos naturais e espaciais da cidade, mapas, informações cartográficas, etc.
No entanto, a ciência e a tecnologia passaram a ser importantes para o desenvolvimento da urbanização ainda no século XVII e intensifica-se durante a Revolução Industrial, que acelera o processo migratório das zonas rurais para áreas urbanas, onde se encontravam as principais indústrias.
Nota-se que o Brasil, todavia e enquanto um país de capitalismo tardio, passou por este processo migratório do campo para a cidade de forma mais intensa apenas a partir da segunda metade do século XX. Até o início da década de 1960, mais da metade da população do país vivia ainda nas áreas rurais. Atualmente, mais de 85% da população brasileira vive nas cidades, espaços de grandes desigualdades, em parte pelo processo tardio e acelerado de migração do campo para a cidade, mas também, pela falta de políticas públicas que priorizasse o espaço urbano como um local de bem-estar e não apenas de exploração do trabalho industrial e comercial.
Embora o Brasil tenha avançado no combate às desigualdades sociais durante a primeira década do século XXI e primeira metade da década seguinte, houve um processo de ruptura democrática que retardou e, até mesmo, destruiu alguns avanços. Já nesta década atual, vivemos no país uma taxa crescente de desemprego, insegurança alimentar e voltamos para o mapa da fome, do qual tínhamos saído em 2014. Soma-se a isso o período de pandemia e, principalmente, a péssima gestão federal realizada durante este período e temos um país com profundas desigualdades a serem resolvidas. 
O uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) devem ser importantes aliados para criarmos cidades inteligentes e sustentáveis no Brasil, mas é preciso notar as características no processo de formação de nossa sociedade, muito marcada, como já citado, por um capitalismo tardio e com interrupções nos processos democráticos, especialmente quando estes passam por períodos mais progressistas, e por uma profunda influência de uma sociedade colonizada, que teve como um dos seus principais traços, um período escravocrata de aproximadamente quatro séculos. Sem levar essas características em consideração, podemos cair numa armadilha utópica de uma solução inteligente a partir do uso das TIC’s, ou ainda pior, de uma solução para uma pequena parcela da população já historicamente privilegiada que terá acesso ao uso dessas TIC’s.
Não se trata de ignorar, diminuir ou ser contra o discurso das cidades inteligentes. Contudo, se as soluções que as TIC’s e demais ferramentas para um desenvolvimento sustentável estiverem concentradas nas mãos do mercado financeiro, das big techs e não consolidadas em políticas públicas e democráticas, corremos sérios riscos de perpetuar e agravar aindas mais as desigualdades, como já é possível notar em diversas cidades do Brasil, onde verifica-se uma concentração de pequenos territórios dentro das cidades com acesso recursos urbanísticos inteligentes, como transporte público moderno, redes de wi-fi gratuita e com alta conexão, automatização de processos burocráticos, algo que não se vê nas periferias pelo Brasil afora, mas é possível encontrar em distritos como o de Pinheiros e Itaim Bibi, em São Paulo, áreas que concentram uma pequena e rica parte da população paulistana.
Além disso, é preciso que essas soluções não venham apenas dos centros do capitalismo, mas que tenham condições, a partir de políticas públicas, para a criação nas periferias do sistema, como aqui no Brasil ou em outros países da América Latina, a fim de evitar que soluções pensadas fora das nossas demandas sejam impostas aqui e, por consequência, não cumpram o seu papel na criação de espaços urbanos inteligentes.
Neste sentido, destaca-se o que o Parlamento Europeu define como uma Cidade Inteligente: “cidade inteligente é uma cidade buscando atender aos interesses públicos a partir de soluções baseadas em tecnologias da informação e comunicação (TIC), tendo como fundamento parcerias com os atores-chave do município” (Gomes e Longo apud Manville et al., 2014). Atender o interesse público e contar com a participação democrática são dois fundamentos básicos que devem guiar uma cidade inteligente.
Dentre alguns exemplos de ações que podem ser desenvolvidas, de acordo com o Programa Nacional de Estratégias para Cidades Inteligentes Sustentáveis, lançado em 2020 pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, estão: a instalação de câmeras de segurança, a identificação facial, o monitoramento de lavouras, os sistemas de aproveitamento de água das chuvas, o prontuário eletrônico e a mobilidade urbana.
Destaca-se que os dois primeiros exemplos de ações citadas anteriormente são voltados, principalmente, para fins de segurança pública. Preocupa-me o fato de que as políticas de segurança pública no Brasil servem historicamente para a opressão do povo e das massas. Mais uma vez, é preciso que estes termos que compõem uma Cidade Inteligente Sustentável não sejam apenas palavras vazias, mas que se analise a que propósito elas podem servir.
Na questão da sustentabilidade, à qual as Cidades Inteligentes devem estar comprometidas, o processo de desenvolvimento precisa estar em consonância com o que está estabelecido no Acordo de Paris e a Agenda 2030. Neste sentido, há vários e constantes desafios a serem enfrentados pelas cidades brasileiras, se levarmos em consideração, novamente, o nosso processo de urbanização caracterizado por um capitalismo tardio e, mais recentemente, por um período desastroso de desindustrialização do país, ou seja, as condições sociais e historicamente dadas no Brasil para um desenvolvimento urbano sustentável estão consideravelmente atrasadas em relação aos centros capitalistas, que puderam desenvolver-se e avançar à base da exploração de recursos desenfreada e a um processo colonizador exploratório ao redor do globo e já há algumas décadas podem se reorganizar, a partir dos recursos acumulados ao longo da história, num processo de desenvolvimento mais sustentável, a partir de um ponto no qual ainda não alcançamos. Temos a nosso favor, todavia, uma diversidade de recursos naturais, capazes de dinamizar e ampliar nossas matrizes energéticas, além da possibilidade de não cometer velhos erros de outras experiências históricas.
Este desafio, embora difícil e complexo, não é impossível. Basta pensarmos no exemplo chinês, que antes da Revolução Popular era um dos países mais pobres do mundo, com expetativa de vida abaixo dos 40anos e que vivia extremamente atrasado em termos de desenvolvimento, estagnada praticamente a um período ainda feudal. É deste cenário que a China parte em 1949, para hoje, em 2022, ser uma das maiores economias do mundo, possuir o maior número de metrópoles num país, ter promovido o maior processo migratório das zonas rurais para as cidades da história e, ainda sim, ter acabado com a extrema pobreza, tendo retirado mais de 800 milhões de pessoas da miséria, inserindo sua imensa população no processo de desenvolvimento, processo este, cada vez mais pautado pelas TIC’s e seus benefícios na vida das pessoas. Não se trata aqui de defender que o Brasil copie o modelo chinês, pois como citado acima, é preciso levar em considerações às nossas características. Mas assim como a China conseguiu esse imenso salto, levando em consideração as suas características histórico-sociais, o Brasil também pode.
Antes, contudo, é preciso democratizar o acesso às TIC’s no Brasil e isso não se limita a vender smartphones, mas proporcionar o uso das inúmeras tecnologias da informação existentes. Além disso, é preciso retomar o processo de industrialização do país, agora pautado pela Indústria 4.0, promover parques de criação tecnológica e de automação brasileiras, a fim da geração de riquezas, conhecimento e empregos, além da redução dos impactos ambientais provocados pelo modelo industrial tradicional.
Ainda que tenhamos desafios urbanos anteriores ao desenvolvimento das Cidades Inteligentes e Sustentáveis, o Brasil não pode perder de vista as possibilidades que os recursos oferecidos pelas TIC’s podem oferecer na solução de antigos e novos problemas.

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