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TEOLOGIA SISTEMÁTICA III-Aula 1 até 10-Excelente ajuda para testes Simulados e ou Avaliação Final-AV

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Teologia Sistemática III
Aula 1: O Espírito Santo no Antigo Testamento
Apresentação
Nesta aula, estudaremos as a�rmações e indicações incoativas (veladas) acerca do Espírito
Santo no âmbito do Antigo Testamento.
Você já pensou sistematicamente nos signi�cados da Pessoa e do Mistério do Espírito Santo na
existência da Igreja, do mundo e na sua própria? Como pode ser importante aprofundar os valores
da existência no espírito?
Mas o que nos foi revelado plenamente nas Escrituras sobre o Espírito Santo não se inicia, como
se poderia imaginar, nos escritos do Novo Testamento. Os textos e eventos do Velho Testamento
estão repletos de uma forte e decisiva revelação acerca do Espírito Santo.
Por isso, para compreender melhor a Pessoa do Espírito Santo, será preciso estudar de que
maneira, ao longo dos séculos, gradativamente, Deus, nas Sagradas Escrituras, nos revelou a
Identidade e a Missão do Espírito Santo.
Objetivos
Analisar a doutrina pneumatológica (pneuma = espírito ou sopro) no desenvolvimento da
história de Israel;
Reconhecer o que se diz do Espírito de Deus nas etapas da História da Salvação antes do
Evento Cristo.
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 (Fonte: Artit Fongfung AF / Shutterstock)
Espírito Santo
Como discernir, com efeito, a presença do Espírito de Deus na história?
Só podemos dar uma resposta a essa pergunta recorrendo às Sagradas Escrituras que, inspiradas
pelo paráclito, nos revelam progressivamente Sua ação e Sua identidade.
Elas manifestam, de certo modo, a “linguagem” do Espírito, o Seu “estilo”, a Sua “lógica”. A realidade
em que Ele atua, é possível lê-la também com olhos que penetram para além duma simples
observação exterior, captando atrás das coisas e dos eventos os traços de Sua presença.
A própria Escritura, desde o Antigo Testamento, nos ajuda a compreender a Identidade e a Ação do
Espírito Santo ao longo da história humana.
O Espírito de Deus na criação
"O Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas."
(Gn 1,2)
O primeiro pressuposto que devemos considerar quando pesquisamos sobre o Espírito Santo é que a
Bíblia não é um dicionário que responda sistematicamente a perguntas precisas que possamos
elaborar. Mas na Bíblia se encontram os núcleos do conhecimento elaborado pela teologia, como
“ciência humana do conhecimento de Deus”.
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Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
A teologia (teo + logia = conhecimento de Deus) é a compreensão racional e
sistemática de tudo aquilo que Deus revelou ao longo das Escrituras do
Antigo e Novo Testamentos. As Sagradas Escrituras funcionam como
“fontes” e referências na elaboração das tradições compreensivas da
Revelação.
Uma primeira referência ao Espírito encontra-se nas primeiras linhas da Bíblia, no hino a Deus criador
na abertura do livro do Gênesis (Gn 1,2), “O Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas”.
Para dizer “espírito” usa-se aqui a palavra hebraica ruach, que signi�ca “sopro”, e pode designar tanto o
vento como o respiro, que foi traduzida para o grego (pneuma) e para o latim (spiritus). As duas
palavras ainda acusam o sentido sensível de “vento”, “vento que sopra”, e que também no signi�cado
de espírito acentuam a dimensão de dinamismo de maneira muito mais forte do que as dimensões
do insensível ou da re�exão.
Saiba mais
O signi�cado básico de ruach é simultaneamente “vento” e “respiração” – ambos não como
essencialmente presentes, mas como força que se encontra no golpe do sopro do vento cujos de
onde e aonde permanece enigmático.
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"Como se sabe, este texto pertence à chamada ‘fonte
sacerdotal’ que remonta ao período do exílio babilônico (séc.
VI a.C.), quando a fé de Israel tinha chegado explicitamente à
concepção monoteísta de Deus. Ao tomar consciência do
poder criador do único Deus, graças à luz da revelação, Israel
chegou a intuir que Deus criou o universo com a força da Sua
palavra."
(AQUINO, 1998)
Nessas primeiras concepções veterotestamentárias, a questão em torno do conceito ou identidade
do Espírito Santo reside em sua realidade “impessoal”. Não se encontra na Bíblia do Antigo
Testamento uma concepção trinitária explícita. A teologia clássica gosta de se referir a isso com a
expressão “Trindade Imanente”, em relação à “Trindade Econômica”.
A Revelação da Trindade, isto é, do Mistério Divino, foi-
nos comunicado em duas etapas: a primeira, aquela do
Antigo Testamento, acerca do Deus Uno, base do
monoteísmo bíblico; a segunda, no Novo Testamento,
pela revelação do Cristo, tivemos o Conhecimento do
Deus, Uno e Trino.
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Quanto à questão econômica, refere-se aos sinais e às palavras que Deus dispôs para que O
conhecêssemos através da história da salvação, um saber disposto pelo seu agir histórico. De outra
parte, Deus, em Cristo, faz conhecer-Se a Si mesmo: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9) ou, ainda,
“Ninguém vai ao Pai, senão por Mim” (Jo 14, 6).
“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, pelo sopro (ruach) da Sua boca, todos os seus
exércitos” (Sl 33,6); ao longo dos livros do Antigo Testamento, sempre se relacionou o ato da Criação
ao Espírito Santo, pois o ato criador provém dos lábios divinos, de seu sopro. Aqui, Palavra e Sopro
estão associados.
Esse sopro vital e vivi�cante de Deus não está limitado ao instante inicial da
criação, mas sustém em permanência e vivi�ca toda a criação, renovando-a
continuamente: “Se lhes enviais o Vosso espírito, voltam à vida, e renovais a
face da terra” (Sl 104,30).
O Espírito Santo e a história de Israel
O Espírito de Deus não á manifestado na Bíblia dissociado das “intervenções divinas” ao longo da
história do Povo de Israel. No decorrer do percurso de Israel se vê nas suas narrativas que Deus é
causa dos sucessos sobre adversidades e inimigos e ao mesmo tempo, sob a forma de correção,
castigo e punição.
No tocante aos personagens humanos (fora os anjos), não há alusão a seres humanos excepcionais
(poderes mágicos). Mas é claro que aqueles que foram ungidos pelo Espírito de Deus para cumprir
tarefas e missões especí�cas são dotados de força, coragem e sabedoria extraordinárias.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
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Clique nos botões para ver as informações.
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Sobre a �gura central de Moisés, não faltam acenos à convicção de que ele fora ungido pelo
Espírito de Deus, para cumprir sua missão. Aliás, por diversas vezes, Moisés é tido como um
profeta, o maior. O elogio deriva da intimidade que goza em seu relacionamento com Deus:
Nessa passagem, �ca claro ao leitor a consciência da atuação “carismática” de Moisés, agora
compartilhada com outros juízes:
Espírito Santo e Moisés 
"Então o Senhor desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do
espírito que estava sobre ele, pô-lo sobre aqueles setenta
anciãos; e aconteceu que, quando o espírito repousou sobre
eles profetizaram, mas depois nunca mais o �zeram."
(Nm 11,25)
"Não se levantou mais em Israel profeta comparável a
Moisés, com quem o Senhor conversava face a face."
(Dt 24,10)
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"Pouco depois do reinício da viagem, a partir do monte Sinai, Moisés teve uma
crise de cansaço e desânimo. Chegou a fazer um desabafo longo e sentido
diante de Deus: ‘Por que me tens tratado tão mal? Por que estás aborrecido
comigo? Por que me deste um trabalho tão pesado de dirigir todo este povo? Eu
não �z este povo, nem dei à luz esta gente! Por que me pedes que faça como
uma babá e os carregue no colo como criancinhas para a terra que juraste dar
aos seus antepassados? Onde poderia eu conseguir carne para dar a todo este
povo? Eles vêm chorar perto de mim e dizem que querem comer carne. Eu
sozinho não posso cuidar de todo este povo; isso é demais para mim! Se vais me
tratar desse jeito, tem pena de mim e mata-me! Se gostas de mim, não deixes
que eu continue sofrendo deste jeito!"(Nm 11.11-15)
Em cada etapa, como na chegada da terra prometida ao auge da teologia do Espírito na
experiência dos profetas, tem-se um belo panorama da identidade e da ação do Espírito Divino.
Com a �xação na terra prometida e os desa�os religiosos e bélicos que Israel tem de enfrentar,
Deus suscita alguns homens e mulheres a serem, em situações de crise, em tribos e períodos
determinados, uma referência da Unção divina, que exprime eleição e proteção da parte de Deus.
Mas o Espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão; e tocando ele a trombeta, os abiezritas se
ajuntaram após ele (Jz 6,34);
Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté, de modo que ele passou por Gileade e
Manassés, e, chegando a Mizpá de Gileade, dali foi ao encontro dos amonitas (Jz 11,29);
E o Espírito do Senhor começou a incitá-lo em Maané-Dã, entre Zorá e Estaol (Jz 13,25);
Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que ele, sem ter coisa alguma na mão,
despedaçou o leão como se fosse um cabrito. E não disse nem a seu pai nem a sua mãe o
que tinha feito (Jz 14, 6);
Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que desceu a Asquelom, matou trinta
dos seus homens e, tomando as suas vestes, deu-as aos que declararam o enigma; e,
ardendo em ira, subiu à casa de seu pai (Jz 14,19).
A ação carismática dos “juízos” revela a atuação do Espírito como fonte de força e �delidade a
Deus. Ungidos do Espírito, cumprem uma função social e religiosa fundamental naquele início de
caminho de Israel após a Páscoa e o período do deserto.
O Espírito Santo e os Juízes 
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Com o advento da monarquia davídico-salomônica, essa força divina, que até então se
manifestara de modo imprevisível e intermitente, alcança certa estabilidade. E isso é bem
constatado na consagração régia de David:
O Espírito Santo estrutura e dirige a história monárquica de Israel. O Espírito de Deus comanda a
coroa, o rei é o servo de Deus diante do povo. O gesto da coroação é a unção (o óleo consagra).
Ele se apossa de Saul, de Davi, do o�cial do exército Amasai (1Cr 12.18), de Azarias (2Cr 15.1) e
de Zacarias (2Cr 24.20).
E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e tornar-te-ás outro
homem (Saul: 1Sm 10, 6);
E, chegando eles ao outeiro, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito
de Deus se apoderou dele, e profetizou no meio deles (Saul: 1Sm 10, 10);
Então foi para Naiote, em Ramá; e o mesmo Espírito de Deus veio sobre ele, e ia
profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá (Saul: 1 Sm 19, 23).
Mas também ocorre que a legitimidade do rei passa pela posse do espírito de Deus, corresponde
a sua investidura. Quando há outro espírito atuando, o rei está fora da sua verdadeira função,
sem a garantia da �delidade a Deus, no serviço do governo do Povo:
E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do
Senhor. Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora o espírito mau da parte de
Deus te atormenta (Saul: 1 Sm 16, 14.15);
Então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele
dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi; então Samuel se levantou, e voltou a
Ramá (Davi: 1 Sm16,13).
A monarquia que se estabelece a partir do século X a.C. é a demonstração que Deus atua por
meio das instituições de Israel. Na lei e na ordem do Estado, Deus é quem, pelo seu Espírito,
governava Israel.
O Espírito Santo e os reis de Israel 
"A partir daquele dia, o Espírito do Senhor apoderou-Se de
David."
(1 Sm 16,13)
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"O Espírito sai de um para falar a outro (1Rs 22.24). O
Espírito não era uma pessoa desconhecida. Prova-o que
Obadias, o �el adorador do Senhor, admitiu que o Espírito
do Senhor, por ser soberano, poderia levar o profeta Elias
para qualquer lugar e em qualquer momento."
(AQUINO, 1998)
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Durante e depois do exílio na Babilônia, toda a história de Israel é relida como um longo diálogo
estabelecido por Deus com o povo eleito, pelo Seu Espírito, pelo ministério dos profetas do
passado. O fenômeno da profecia é o auge da revelação do Espírito de Deus nas Sagradas
Escrituras. Deus coloca suas palavras nos lábios dos profetas. Eles são os “tímpanos” da ação e
da revelação divina no meio de Israel, como se lê no relato vocacional de Jeremias:
O Espírito Santo e os profetas 
"Sim, �zeram os seus corações como pedra de diamante,
para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor
dos Exércitos enviara pelo seu Espírito por intermédio dos
primeiros profetas; daí veio a grande ira do Senhor dos
Exércitos."
(Zc 7, 12)
"Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: Antes que no seio fosses
formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e
te havia designado profeta das nações. E eu respondi: Ah! Senhor JAVÉ, eu nem
sei falar, pois que sou apenas uma criança. Replicou, porém, o Senhor: Não
digas: ‘Sou apenas uma criança’: porquanto irás procurar todos aqueles aos
quais te enviar, e a eles dirás o que eu te ordenar. Não deverás temê-los porque
estarei contigo para livrar-te – oráculo do Senhor. E o Senhor, estendendo em
seguida a sua mão, tocou-me na boca. E assim me falou: Eis que coloco minhas
palavras nos teus lábios. Vê: dou-te hoje poder sobre as nações e sobre os reinos
para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edi�cares e
plantares."
(Jer 1, 4-10)
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Ou ainda no relato da vocação de Ezequiel:
Em todos os profetas, como em Ezequiel torna-se explícito o ligame entre o espírito e a profecia,
"Filho do homem – falou-me –, come o rolo que aqui está, e,
em seguida, vai falar à casa de Israel. Abri a boca, e ele mo
fez engolir. ‘Filho do homem’ – falou-me –, ‘nutre o teu
corpo, enche o teu estômago com o rolo que te dou.’ Então o
comi, e era doce na boca, como o mel. 4. Em seguida,
acrescentou: ‘Filho do homem, vai até a casa de Israel para
lhe transmitir as minhas palavras"
(Ez 3, 1-4)
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No entanto, a perspectiva profética aponta, sobretudo, no futuro o tempo privilegiado em que se
cumprirão as promessas no sinal do ruach divino. Aqui se apresenta outro elemento importante
do Espírito de Deus no Antigo Testamento e a profecia: a dimensão escatológica. A a�rmação do
domínio divino sobre a história, o anúncio do Messias (Ungido) e do juízo de�nitivo de Deus
sobre a humanidade.
Isaías anuncia o nascimento de um descendente, sobre o qual “repousará o espírito de sabedoria
e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor”
(Is 11,2-3). No conjunto do Antigo Testamento, nos diversos livros e narrativas o Espírito de
Deus, o Espírito Santo ainda não surge com uma identidade “pessoal”, como a conheceremos na
plena revelação em Cristo, mas Ele é o princípio dinâmico da ação e da presença divina no meio
do povo de Israel e anima seus dirigentes (juízes, reis e profetas)
"Filho do homem – dizia-me –, �ca de pé, porque eu te falo! Enquanto ela me
falava, entrou o espírito em mim, e ele me fez �car de pé; então, ouvi aquele que
me falava. Filho do homem – dizia-me –, envio-te aos israelitas, a essa nação de
rebeldes, revoltada contra mim, a qual, do mesmo modo que seus pais, vem
pecando contra mim até este dia. É a esses �lhos de testa dura e de coração
insensível que te envio, para lhes dizer: oráculo do Se¬nhor Javé. Quer te ouçam
ou não (pois é uma raça indomável), hão de �car sabendo que há um profeta no
meio deles! 6. Quanto a ti, �lho do homem, não os temas, nem te arreceies dos
seus intentos, conquanto estejas entre moitas de abrolhos e de espinhos e vivas
entre escorpiões; não te deixes intimidar por suas palavras nem te espantes com
sua atitude, porque é uma raça rebelde. Tu lhes transmitirás os meus oráculos,
quer te deem ouvidos ou não; é uma raça pertinaz. E tu, �lho do homem, escuta o
que eute digo: não sejas rebelde, como essa raça de rebelados. Abre a boca e
come o que te vou dar. Olhei e vi avançando para mim uma mão, que segurava
um manuscrito enrolado, que foi desdobrado diante de mim: estava coberto com
escrita de um e de outro lado: eram cânticos de luto, de queixumes e de
gemidos"
(Ez 2, 1-10)
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"A concepção bíblica do ruach indica uma energia
supremamente ativa, poderosa, irresistível: o Espírito do
Senhor ‘é torrente transbordante’ (Is 30,28). Por isso,
quando o Pai intervém com o seu Espírito, o caos
transforma-se em cosmo, no mundo acende-se a vida, e a
história põe-se novamente em caminho."
(AQUINO, 1998)
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Atividade
1. Leia o artigo O Espírito Santo, de Welker (2008) e colete suas a�rmações principais usando as
questões apresentadas pelo próprio autor:
O Espírito enche todo o mundo, mas “foge e se distancia”. O que Welker quis a�rmar sobre a
identidade do Espírito Santo?
a) O Espírito não existe na realidade.
b) O Espírito é material e físico.
c) O Espírito é divino e transcendente.
d) O Espírito vive sempre para além da razão.
e) O Espírito é um ser oculto.
2. No Credo antigo, dito niceno-constantinopolitano, se lê o seguinte: “Creio no Espírito Santo,/ Senhor
que dá a vida,/ e procede do Pai e do Filho;/ e com o Pai e o Filho é adorado e glori�cado:/ Ele que
falou pelos profetas.” O que isso signi�ca?
a) O Espírito Santo só existia no Antigo Testamento.
b) Só os profetas eram portadores do Espírito Santo.
c) Deus falou em ambos os testamentos pelo Espírito.
d) Os profetas eram visionários em nome do Espírito.
e) O Espírito é um evento exclusivo do Novo Testamento.
Referências
AQUINO, F. O Espírito Santo no Antigo Testamento. L’Osservatore Romano, n. 20, v. 272, 16 maio
1998. Disponível em: https://cleofas.com.br/o-espirito-santo-no-antigo-testamento. Acesso: 10 fev.
2019.
NEGRO, M. Profetas e profetismo: identidade e missão. Revista de Cultura Teológica, São Paulo, n. 6,
p. 157-176, 2009. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/15459.
Acesso em: 10 fev. 2019.
Página 14 de 46
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WELKER, M. O Espírito Santo. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 1, n. 48, p. 5-17, 2008.
Próxima aula
Diversos aspectos da teologia do Espírito Santo no Novo Testamento em geral.
Explore mais
Leia os textos:
Dietz, M. T. Pneumatologia no tratado “Da liberdade cristã”, de Martim Lutero. In: I CONGRESSO
INTERNACIONAL DA FACULDADE EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais [...]. São Leopoldo: EST, 2012;
JOÃO PAULO II (PAPA). Dominum et Vivi�cantem: sobre o Espírito Santo na vida da Igreja e do
mundo. São Paulo: Paulinas, 1986.
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Teologia Sistemática III
Aula 2: O Espírito Santo no Evangelho
Apresentação
Esta aula apresenta o desenvolvimento da doutrina e da experiência do Espírito
Santo no âmbito das tradições evangélicas: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Como já pudemos ver na aula passada, o Espírito de Deus age e se mostra aliado de
modo inseparável da Ação e do Mistério de Deus, e não foi revelado de modo
“pessoal”. Nos Evangelhos, o Cristo revela a verdadeira Identidade do Espírito Santo
como Dom e Pessoa, já que o Jesus é, Ele mesmo, uma realidade do Espírito de
Deus na História da Salvação.
Você sabia que a cada etapa da vida/história de Jesus Cristo pode-se perceber o
Dom do Espírito Santo? Ao estudarmos os Evangelhos, veremos de que maneira isso
se veri�ca.
Objetivos
Reconhecer a doutrina do Espírito Santo nos Evangelhos;
Veri�car de que maneira a vida de Jesus, narrada nos Sinóticos (Mt, Lc e Mc), é o
fundamento da pneumatologia bíblica (cristã);
Compreender como o termo “Messias”, que caracteriza a missão central de
Jesus, é um conceito pneumatológico central no Novo Testamento.
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 (Fonte: Jacob_09 / Shutterstock)
O Espírito Santo no Evangelho
Na aula anterior, vimos como o Espírito Santo é apresentado no Antigo Testamento, isto
é, como realidade do Mistério Pessoal do Pai, essencialmente “Espírito do Pai”. Parece
que não havia nas páginas do Antigo Testamento uma nítida consciência de que o
Espírito Santo tivesse uma “personalidade” própria, diversa da do Pai. Parecia ser
simplesmente Aquele que atuava a partir de Deus de Israel.
Ao mesmo tempo, vimos como, nos diversos estágios da vida e da história de Israel,
esse “Espírito de Deus” atuava diante das situações difíceis. Os Juízes, por exemplo,
eram sujeitos que, por sinais extraordinários, como a força (Sansão), a coragem (Judite),
a astúcia militar (Gedeão) ou a sabedoria (Samuel). Ou a �gura dos reis, por essência,
ungidos por Deus (dom do Espírito), também foram muito privilegiados, como Davi, que
venceu o gigante Golias e se tornou um exímio rei-guerreiro; ou Salomão, protótipo da
sabedoria.
Por �m, tínhamos os protagonistas do Espírito (de Deus) no Antigo Testamento, os
profetas, homens que traziam nos lábios a própria Palavra de Deus. Neles, Deus, pelo
seu Espírito, imprimia credibilidade às palavras de revelação, comunicava-se
efetivamente com Israel e realizava prodígios – e, sobretudo, provocava conversão e
mudança de vida de Seu povo.
Atenção
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No entanto, em todas essas etapas, não se pode a�rmar que o Espírito Santo ou o
Espírito de Deus fosse uma manifestação autônoma, uma “Pessoa”, como a�rmará a
Igreja em sua antiga Pro�ssão de Fé.
A�nal, quem é o Espírito Santo?
O que os Evangelhos têm a dizer sobre Ele, diversamente do que já sabemos pelos
livros do Antigo Testamento?
Que relações se podem estabelecer entre Jesus e o Espírito Santo?
Jesus revelou o Espírito Santo como o professamos hoje?
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 (Fonte: Kris L / Shutterstock)
O Espírito Santo e o
Messias
O Espírito Santo nos lábios e nas ações
dos profetas tem a missão de anunciar
como um evento futuro da parte de Deus
o envio a Israel de um escolhido, um
Ungido, um “Cristo”. A própria profecia é
um evento do Espírito Santo, pois coloca
o desconhecido, o Futuro, diante dos
olhos dos crentes, que acolhem a
profecia.
O termo ‘messias’ deriva do grego
messias que, por sua vez, deriva do
aramaico mashiha e do hebraico
mashiach (‘ungido’). O termo grego
aparece no Evangelho de João (1:42;
4:25) de forma a indicar que, no período
da escrita do Novo Testamento, já se
inseria no contexto de um discurso com o
qual pelo menos uma parcela da
população judaica já se encontrava
familiarizada.
O messianismo foi uma corrente do
tardio judaísmo, que trazia à tona a
esperança de que, em meio a tantos
desastres e catástrofes, Deus continuava
a consolar, a conduzir e a salvar Seu
povo.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
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O Messias era a esperança da Ação Divina e futura que reconduziria Israel ao seu
verdadeiro esplendor. Uma das vertentes que se ocupara disso anuncia o Messias como
sendo um descendente de Davi; outra corrente, ancorada na tradição apocalíptica,
acreditava que o Messias era uma �gura misteriosa. Quando surgisse, Deus o daria a
conhecer através do Espírito Santo a sua descendência.
Leia mais:
 Descendência do Messias
 Clique no botão acima.
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Descendência do Messias
Descendência a partir de Davi:
E, quanto a ti, se andares diante de mim, como andou Davi teu pai, e
�zeres conforme a tudo o que te ordenei, e guardares os meus
estatutos e os meus juízos, também con�rmarei o trono do teu reino,
conforme a aliança que �z com Davi, teu pai, dizendo: Não te faltará
sucessor que domine em Israel. (2 Crônicas 7, 17-18).
A tradição salmódica, Sl. 132, 11-12 a�rma o mesmo:
O Senhor jurou a Davi com verdade, e não se desviará dela: Do fruto
das tuas entranhas porei sobre o teu trono. 12.Se os teus �lhos
guardarem o meu pacto, e os meus testemunhos, que eu lhes hei de
ensinar, também os seus �lhos se assentarão perpetuamente no teu
trono.
Outra corrente, ancorada na tradição apocalíptica, acreditava que o Messias era
uma �gura misteriosa. Quando surgisse, Deus o daria a conhecer através do
Espírito Santo a sua descendência, ao resto de Israel, que �elmente esperava em
Deus.
É preciso remontar, antes de mais nada, à profecia de Isaías, algumas
vezeschamada “o quinto Evangelho”, ou “o Evangelho do Antigo Testamento”.
Isaías, fazendo alusão à vinda dum personagem misterioso, que a revelação
neotestamentária identi�cará em Jesus, liga a sua pessoa e a sua missão a uma
ação particular do Espírito de Deus — Espírito do Senhor. São estas as palavras
do profeta:
Despontará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará da
sua raiz. Sobre ele pousará o espírito do Senhor, espírito de
sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza,
espírito de conhecimento e de temor de Deus, o no temor do Senhor
está a sua inspiração (Is 53, 5-6. 8).
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Esse texto é importante para toda a compreensão do Espírito Santo
(pneumatologia = teologia do espírito) do Antigo Testamento, porque constitui
como que uma ponte entre o antigo conceito bíblico do “espírito”, entendido
primeiramente como “sopro carismático”, e o “Espírito”, como pessoa e como
dom, dom para a pessoa.
Os textos proféticos que acabam de ser apresentados devem ser
lidos por nós à luz do Evangelho; o Novo Testamento, por sua vez,
adquire um esclarecimento particular da admirável luz contida
nestes textos veterotestamentários. O Profeta apresenta o Messias
como aquele que vem com o Espírito Santo, como aquele que
possui em si a plenitude deste Espírito; e, ao mesmo tempo, é
portador d’Ele para os outros, para Israel, para todas as nações, para
toda a humanidade. A plenitude do Espírito de Deus é acompanhada
por múltiplos dons, os bens da salvação, destinados de modo
particular aos pobres e aos que sofrem ― a todos aqueles que
abrem os seus corações a esses dons: isso acontece, algumas
vezes mediante as experiências dolorosas da própria existência;
mas, primeiro que tudo, por aquela disponibilidade interior que vem
da fé. (JOÃO PAULO II, 1986).
Portanto, o novo Testamento, que tem Cristo no centro, é aquele espaço e
tempo no qual se revela a Pessoa do Espírito Santo.
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As etapas históricas do Messias-Jesus e o
Espírito Santo
Como se percebe no desenvolvimento da narrativa evangélica – Mt, Mc, Lc e Jo –, pode-
se deferir que são três as partes que funcionam como disposição do quadro histórico-
narrativo de Jesus.
Todos os Evangelista têm sua tradição teológico-literária do Espírito. Porém, não é
possível entender os Evangelhos sem a perspectiva pneumatológica, sem a qual os
fatos seriam somente “cronologia” religiosa, e interessariam somente às histórias da
religião e ao passado.
"Em relação aos outros dois sinópticos, o evangelista Lucas apresenta-nos uma
pneumatologia muito mais desenvolvida. No Evangelho ele tem em vista mostrar
que Jesus é o único a possuir o Espírito Santo em plenitude. Certamente, o
Espírito intervém também em Isabel, Zacarias, João Baptista e sobretudo em
Maria, mas só Jesus, ao longo de toda a Sua existência terrena, detém
plenamente o Espírito de Deus. Ele é concebido por obra do Espírito Santo (cf. Lc
1, 35). A respeito d’Ele João Baptista dirá: ‘Eu batizo-vos em água, mas vai chegar
Quem é mais poderoso do que eu […]: Batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo’
(Lc 3,16)."
(AQUINO, 1998)
A infância ou início da missão
Em Mt (1,1-2,23) e Lc (1,5-2,52) se encontram os relatos da infância de Jesus. Nesse
universo, desde o início encontramos a centralidade da Revelação do Espírito Santo nas
diversas etapas e mesmo nos personagens que povoam as cenas da infância de Jesus:
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Lc 1, 34-35: Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço
homem?” Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do
Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti
será chamado Filho de Deus.”
Mt 1, 19: “José, �lho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela
concebeu é obra do Espírito Santo.”
O �lho de Maria é obra do Espírito Santo. A concepção do Messias tem sua lógica
na promessa profética do Messias, Ungido. Outra expressão presente no
paralelismo poético da mensagem de Gabriel, “força do Altíssimo”, indicada na obra
lucana.
Maria, a Mãe 
Lc 1, 39-41: “Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma
cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel
ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel �cou cheia
do Espírito Santo.”
O encontro com Maria, Isabel, no sexto mês da gravidez (estéril), é um tema típico
dos relatos de messianismo ou ao menos de escolhidos de Deus para missões
especiais (Isaque, Sansão, Samuel...). Esse encontro é tipicamente “pneumático”:
“Isabel �cou cheia do Espírito Santo”, indicando que as duas grávidas estavam
envolvidas nos processos messiânicos dos últimos tempos.
Até o esposo, inicialmente incrédulo (mudo), profetizará, na forma de um cântico
carismático, o “Benedictus”.
Lc 1, 67-68: Zacarias, seu pai, �cou cheio do Espírito Santo e profetizou, nestes
termos: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu
povo.”
Isabel, a estéril 
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Lc 1, 25-27: Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Esse homem,
justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele.
Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do
Senhor. Impelido pelo Espírito Santo, foi ao templo, tendo os pais apresentado o
menino Jesus, para cumprirem a respeito dele os preceitos da Lei.
Deles se diz que eram conduzidos pelo Espírito Santo – “Impelido pelo Espírito
Santo, foi ao templo” – sob o qual agem e profetizam, como ocorrerá no Templo.
“Espírito Santo estava nele.”
Simeão, profeta do Templo de Jerusalém 
Uma experiência profética neotestamentária, mas ainda ancorada nas tradições
messiânicas davídico-salomônicas que perpassavam os círculos de Jerusalém. Em
torno do nascimento de Jesus, todos os eventos e os personagens envolvidos.
Os evangelhos, em sua segunda parte, também retratam a vida pública de Jesus,
envolvido com a pessoa e o mistério do Espírito Santo, de um lado, em continuidade
com as tradições pneumatológicas do “Espírito do Senhor”, como vimos na aula anterior
– na dimensão nova, da revelação do Espírito como Pessoa, diversa do Pai e do Filho.
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A ação pública de Jesus inicia-se com o batismo,
no Jordão, e segue até a sua paixão e morte.
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A vida pública de Jesus e o Espírito Santo
Segundo o livro dos Atos, a promessa cumpre-se no dia do Pentecostes: “Todos �caram
cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes
inspirava que se exprimissem” (At 2,4).
Realiza-se assim a profecia de Joel: “Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o Meu
Espírito sobre toda criatura. Os vossos �lhos e as vossas �lhas hão-de-profetizar” (Jl 2,
17).
Lucas vê nos apóstolos os representantes do povo de Deus dos tempos �nais, e ressalta
com razão que esse Espírito de profecia envolve o inteiro povo de Deus: “Uma das
características marcantes na obra de Lucas é a presença do Espírito Santo. Tanto o
Evangelho quanto os Atos estão repletos de notícias sobre sua ação”. Vejamos onde e
em que circunstâncias o Espírito Santo age no Evangelho de Lucas.
Os primeiros capítulosapresentam de modo marcante a ação do Espírito Santo
1,15 Sua presença com João Batista é prometida a Zacarias.
1,35 O anjo Gabriel anuncia a Maria o nascimento de Jesus que somente será
possível através do Espírito Santo.
1,41 Isabel cheia do Espírito Santo saúda Maria.
1,67 Zacarias profetiza através do Espírito Santo.
2,25-
27
Simeão vai ao Templo movido pelo Espírito Santo.
3,16 João anuncia o Batismo no Espírito Santo através de Jesus.
3,22 O Espírito Santo em forma corpórea desce sobre Jesus no Batismo.
4,1 Jesus cheio do Espírito Santo é levado para o deserto.
4,14 Jesus é levado para a Galileia pelo Espírito Santo.
4,18 Na Sinagoga, Jesus anuncia a sua missão pela força do Espírito Santo.
23,46 Jesus entrega seu Espírito a Deus antes de morrer.
24,49 Promessa de Jesus sobre a presença do Espírito Santo junto aos discípulos.
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No coração de todos os relatos evangélicos, encontramos uma forte atenção à teologia
do Espírito Santo. Trata-se de uma compreensão de Jesus, uma visão teológica
(identidade messiânica) e da plena revelação do mistério trinitário, como já vimos na
primeira aula:
No Evangelho de Lucas, portanto, a presença do Espírito Santo se dá como preparação
da chegada de Jesus. Muitos anunciam, profetizam, louvam sempre inspirados por sua
força e presença. Da mesma forma, no livro dos Atos é o Espírito Santo novamente
quem vai animar os discípulos e comunidade a levar adiante a Boa Nova de Jesus. O
Espírito anima a missão. Com Jesus a missão acontece. A Boa Nova se torna realidade:
‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres;
enviou-me para anunciar aos aprisionados a libertação, aos cegos a recuperação da
vista, para pôr em liberdade os oprimidos, e para anunciar um ano de graça do Senhor’
(Lc 4,18-19). Esta dimensão missionária, voltada para os pobres, cativos, marginalizados
não pode nem deve ser esquecida. De nada adianta louvar ou orar ao Espírito Santo se
não nos colocamos nesta sua real dimensão. Deixar o Espírito agir, neste sentido, é
colocar-se à disposição, a serviço do Reino de Deus.
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Atividade
1. “A Messianidade de Jesus de Nazaré, em todas as suas etapas, é a exibição e a
revelação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: O Espírito Santo.” Explique de que
modo Jesus, o Messias, é o Revelador do Espírito Santo:
a) Jesus foi gerado no Espírito e toda a sua existência se realiza no Espírito (Lc 1).
b) Jesus não revela o Espírito em sua etapa histórica, só em Pentecostes.
c) A Messianidade de Jesus é política e humana, por isso termina na Cruz.
d) Jesus é o Cristo porque Deus o ressuscitou, não o Dom do Espírito.
e) O Espírito é um dom pós-pascal, não pertence ao messianismo histórico.
2. Em relação à pneumatologia de Lucas, o que se pode a�rmar sobre a Missão de
Jesus?
a) Pode-se afirmar que no início do Evangelho a presença do Espírito Santo não é intensa.
b) Lucas não fala da presença do Espírito Santo só em Cristo, mas em outros personagens.
c) Lucas fala do Espírito como promessa aos discípulos.
d) Jesus não exercita o Espírito na sua missão, mas o Poder do Pai.
e) O messianismo de Jesus em Lucas é de natureza histórica.
3. O messianismo foi uma corrente do tardio judaísmo, que trazia à tona a esperança
que, em meio a tantos desastres e catástrofes, Deus continuava a consolar, conduzir e
salvar seu Povo.
Assinale a alternativa correta que justi�ca ou reti�ca a a�rmação acima.
a) O messianismo começa no Gênesis, e segue por toda a Bíblia.
b) Não se entende o messianismo judaico senão por ser político e imediato.
c) O messianismo fez parte da pregação profética a partir do exílio da Babilônia.
d) Somente João Batista preparou o Messias em toda a Bíblia.
e) Deus não consolou o Povo, pelo contrário – o castigava.Referências
AQUINO, F. O Espírito Santo no Antigo Testamento. L’Osservatore Romano, n. 20, v. 272,
16 maio 1998. Disponível em: https://cleofas.com.br/o-espirito-santo-no-antigo-
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testamento. Acesso: 10 fev. 2019.
JOÃO PAULO II (PAPA). Dominum et Vivi�cantem: sobre o Espírito Santo na vida da
Igreja e do mundo. São Paulo: Paulinas, 1986. Disponível em:
https://fasfhic.eu/storage/default/documents/090-dominum-et-vivi�cantem.pdf.
Acesso em: 16 fev. 2019.
SCHLAEPFER, Carlos Frederico. O Espírito Santo no Evangelho de Lucas. Aleteia, 8 ju.
2014. Disponível em: https://pt.aleteia.org/2014/06/08/o-espirito-santo-no-
evangelho-de-lucas.
Welker, M. O ESPÍRITO SANTO. Estudos Teológicos, ano 48, n. 1, p. 5-17, 2008.
Disponível em:
//periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/396/0.
Próxima aula
A Teologia do Espírito Santo no Evangelho de São João;
A Teologia do Espírito Santo no Epistolário Paulino;
A Teologia do Espírito Santo no Livro do Apocalipse.Explore mais
Leia os textos:
ADRIANO FILHO, J. Expectativas messiânicas sacerdotais no judaísmo e as
origens da cristologia. Oracula, v. 1, n. 1, p. 1-50, 2005. Disponível em:
//estudosteologicos.6te.net/doc/Expectativas_Messianicas.pdf.
HACKMANN, G. L. B. (org.). O espírito santo e a teologia. Porto Alegre: EdPUCRs,
1998.
IWASHITA, P. K. O espírito santo na vida e na missão de Maria. Revista de Cultura
Teológica, v. 19, n. 75, jul./set. 2011. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/culturateo/article/view/15329/11451.
RIDOUT, G. W. O poder do espírito santo. São Paulo: Imprensa Metodista, 1993.
Di í l // t di t il i b l b /d /O d d
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Disponível em: //www.metodistavilaisabel.org.br/docs/O-poder-do-
Esp%C3%ADrito-Santo.pdf.
WACHHOLZ, W. O progresso do espírito: o céu como alvo e o inferno como
consequência. O paradigma trinitário em Agostinho, Fiori, Comte e Hegel no diálogo
com o pensamento de Lutero. Estudos Teológicos, v. 47, n. 2, p. 5-26, 2007.
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Teologia Sistemática III
Aula 3: O Espírito Santo no Evangelho de São João
Apresentação
Esta aula apresenta o desenvolvimento da doutrina e da experiência do Espírito
Santo no âmbito do Evangelho de João. Em particular, o termo “Espírito da Verdade”.
O estudo da Doutrina do Espírito Santo na tradição do Evangelho de São João
constitui uma fascinante aventura da teologia no âmbito do Novo Testamento, pois o
termo “Espírito da Verdade” é a marca exclusiva de uma experiência eclesial e de
uma tradição teológica que se imporá no campo da pneumatologia.
Verdade é Cristo, e o Espírito Santo no Evangelho de João é o porta-voz do próprio
Ressuscitado na Igreja.
Objetivos
Compreender a doutrina do Espírito Santo no conjunto dos Evangelhos;
Reconhecer os âmbitos da pneumatologia (teologia do Espírito Santo) no
Evangelho de João (Jo 14-16).
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 (Fonte: GD Arts / Shutterstock)
Premissa
Nesta aula, analisaremos o termo “Espírito da Verdade”, que aparece somente no
Evangelho de João, entre os caps. 14-16, também chamados, “Discursos de Adeus”.
(Nas aulas da Unidade II, teremos a oportunidade de nos ocupar com o problema do
Paráclito.) Sobre esse vasto assunto, todas as Igrejas têm produzido muita re�exão
pertinente.
Trata-se da seção das promessas do Espírito Santo – cinco ditos do Espírito, dos quais
três se referem ao Espírito com o termo “da Verdade”. Ampla e diversi�cada é a
a�rmação de fé e, sobretudo a experiência do Espírito Santo no Novo Testamento. Aqui
nos cabe uma análise do ponto de vista da Igreja, seja porque ela o experimenta, seja
porque fala sobre o Espírito Santo até formular um artigo de fé, no qual a�rma a
“Personalidade” do Espírito de Deus revelado de�nitivamente em Jesus Cristo.
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Atenção
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No corpo joanino (Evangelho e Cartas),a antropologia teológica depende da
pneumatologia, isto é, o Homem, como Imagem e Semelhança Divina redimido pelo
Cristo, necessita do Espírito Santo para experimentar a si mesmo nessa novidade, e,
ao mesmo tempo, formular uma linguagem “ortodoxa” do Ministério que se porta e
que nos autorrede�ne.
Por isso, em João, a pneumatologia é a fonte do agir revelador da existência “em Cristo”.
O Discípulo Perfeito é o sinal da economia do “Espírito” em ação no mundo. Trata-se de
limpar vidros e janelas da existência humana de�nitivamente radicada no Ministério da
Redenção do Cristo, mas, ao mesmo tempo, tornar eloquente, aos olhos do mundo e da
mentalidade pagã, o alcance da Salvação em Cristo.
No âmbito da tradição do Evangelho de João, temos dois termos que são únicos no
Novo Testamento: “O Paráclito” e “O Espírito da Verdade”. Teremos uma aula sobre a
compreensão do termo “Paráclito” no movimento pentecostal, mas aqui trataremos
desse termo em comparação com o “Espírito da Verdade”.
I. Jo 14, 16-17
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que �que eternamente convosco.
É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece,
mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós.
II. Jo 15, 26-27
Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que
procede do Pai, ele dará testemunho de mim. Também vós dareis testemunho, porque
estais comigo desde o princípio.
III. Jo 16, 13-15
Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ele vos ensinará toda a verdade, porque
não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e vos anunciará as coisas que virão. Ele
me glori�cará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui
é meu. Por isso, disse: Há de receber do que é meu, e vo-lo anunciará.
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Como se percebe, os textos da tradição joanina
justapõem estes dois termos: Paráclito e do
outro, Espírito da Verdade.
A origem do termo “verdade” nos escritos
joaninos
Quando se fala de Espírito Santo na tradição de João, no seu Evangelho, devemos ao
menos considerar a questão da “verdade”, termo que determina a Pessoa do Espírito,
nesse âmbito eclesial.
O problema inicial da análise do termo “verdade” no contexto da literatura joanina seria
aquele da sua origem sociorreligiosa. O problema é muito complexo. De fato, diversos
autores divergem na explicação das fontes socioliterárias do termo “verdade” nos
escritos Joaninos.
Constata-se, com frequência, uma aproximação vocabular com tantos ambientes
culturais como aquele gnóstico, de Qumran, hermético, e da �loso�a platônico-
helenística. No entanto, parece que se pode a�rmar uma originalidade “joanina” no uso
desse termo, em relação a todos os pontos de contatos em nível de vocabulário/tipo ou
mesmo conteúdo.
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No conjunto da teologia joanina, o termo “verdade” pertence à esfera do campo
cristológico, e em particular, à sua função de Revelação. A palavra “verdade”, no
sistema teológico joanino, jamais aplicado a Deus, é uma realidade da “economia”
da Salvação. Trata-se de uma verdadeira cristologia joanina, na forma de uma
“cristologia da verdade”.
A primeira fonte literária do termo “Espírito da Verdade” no Novo Testamento são os
chamados “discursos de Adeus” do Evangelho de João. São capítulos muito
complexos, onde a elaboração de�nitiva de uma teoria coerente sobre sua
colocação atual e das suas recíprocas relações está longe de se propor. No entanto,
pode-se dizer que vêm classi�cados dentro de um gênero literário clássico, muito
difuso tanto na literatura veterotestamentária como greco-romana.
A concepção teológico-joanina 
No cap. 14 do Evangelho de João entramos na primeira seção dos chamados
“Discursos de Adeus”. Nesses versículos, analisaremos os diversos elementos que
pela primeira vez con�guram esse título joanino do Espírito.
A maioria dos estudiosos está de acordo, ao menos, sobre a complexidade de
estruturar esse discurso, sobretudo pela quantidade e variedade de propostas de
estruturação. A fragilidade de soluções para esse problema é perceptível.
A promessa do espírito da verdade (Jo 14, 16-17) 
Leia mais sobre o termo “verdade”:
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 Delimitação: Jo 14, 15-17
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Delimitação: Jo 14, 15-17
O primeiro passo na pesquisa exegética de um texto consiste na sua
constituição. Isto é, ao buscar analisar o termo Espírito da Verdade, que se
encontra pela primeira vez no Evangelho de João (v. 17, cap. 14), é
metodologicamente necessário estabelecer os limites mínimos, que nos
permitem situar uma palavra ou expressão dentro de um contexto literário,
denominando assim a unidade a que pertence. Esse título do espírito joanino se
encontra no parecer da maioria absoluta dos estudiosos na unidade dos v. 15-
17. O v. 15 constitui o limite inicial dessa perícope.
Dentro do grande contexto da partida de Jesus, que ocupa todo o capítulo, Ele
assegura à comunidade que não permanecerá sozinha no seu caminho (vv. 1-
14). E, ao mesmo tempo, com a promessa de um novo “socorredor”, o “Espírito
da Verdade”, inicia-se uma segunda unidade do capítulo (vv. 15-26).
Os vv. 15-17, ou seja, a promessa do Espírito da Verdade constitui, por sua parte,
uma verdadeira unidade literária, seja pela introdução de um novo tema, que, no
entanto não é abrupta, graças à preparação dos vv. 13-14, seja com o tema da
intercessão de Jesus pela clara separação criada pelo v. 18.
Sobre o contexto de Jo 14, 15, "Se me amais, guardareis os meus
mandamentos", esse versículo parece ter a função literária de introduzir o tema
da Promessa do “Outro Paráclito”, o “Espírito da Verdade”, no conjunto dessa
unidade, que se limita aos vv. 16-17. Ele impede, assim, um abrupto início do
tema, em relação àquilo que se dizia antes, ou seja, o tema da oração e
glori�cação recíproca do Pai e do Filho (Jo 14, 13-14).
De fato, em Jo 14, 14, Jesus aparece como “Intercessor”, no Seu Nome se
intercederá para a maior Glória do Pai. Todos os verbos desse versículo estão no
futuro, dentro da lógica da glori�cação do Pai e do Filho.
O v. 15 não somente enquadra a unidade referente ao tema do Espírito da
Verdade prometido aos discípulos, mas também condiciona e quali�ca a
condição de recebê-lo: “se me amais” é uma “prótase” (aquele que, subordinado
ou dependente, cria uma expectativa para a enunciação do segundo (apódose))
de um discurso hipotético que se prolonga até o v. 17a.
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Em outras palavras, o amor a Jesus condiciona toda a unidade, seja na
observação dos “seus” mandamentos, seja como condição para o cumprimento
da promessa do Espírito. No v. 15 encontra-se a resposta à questão da “futura”
relação dos discípulos com o Revelador, que está por partir junto ao Pai (o
contexto dos “discursos de Adeus”). A esse problema a resposta é clara: o amor,
fonte segura dessa relação, permanece forte e presente, através da observância
dos seus mandamentos.
Aqui percebemos as conexões com 13, 31-34, mas também com toda a
estrutura literária do próprio cap. 14, pois o observar os meus mandamentos do
v. 15 está em paralelo com os v 23: "e alguém me ama, guardará a minha
palavra".
E isto quer dizer simplesmente crer: quem deseja uma relação de “amor” com
Jesus, deseja, na verdade, viver uma relação de fé.
Talvez o Evangelista pense as exigências do v. 15 à luz da problemática mais
ampla dos discursos de Adeus, a saber, manter-se efetivamente em Cristo,
como garantia e antecipação da União De�nitiva com o Pai.
Um estudo de Jo 14, 16 nos mostra diversas questões sobre o original termo
“outro Paráclito”: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que
�que eternamente convosco.” Com esse versículo entra-sediretamente na lógica
literária da primeira promessa do “Espírito da Verdade”. Parte-se da exigência
dos mandamentos de Jesus, como sinal concreto do amor a Jesus, que “de Sua
Parte” intercede junto ao Pai, pelos seus.
A originalidade e a síntese desse versículo estão concentradas sobre a questão
do “outro Paráclito”. Isso torna possível, após a partida de Jesus (o primeiro
Paráclito?), a continuidade dessa relação de amor com os discípulos, por meio
da fé, como obediência aos mandamentos.
Sob o aspecto teológico central, pode-se dizer que, apesar da visão paralela
entre o outro Paráclito (v. 16) e o Espírito da Verdade (v. 17) em relação à
pneumatologia no Evangelho joanino, a questão só pode ser bem situada a
partir da perspectiva cristológica. Isto é, em que sentido a função reveladora de
Jesus, que supõe a ação do Espírito na sua fase terrena, relaciona-se com a fase
pós-pascal, decisiva para os discípulos, na sua compreensão e visão de Jesus?
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Em relação ao “ser-com Jesus”, para sempre, como elemento que faz “ver” e
“permanecer”, é muito mais decisivo ainda o fator da unidade/Amor ao
Ressuscitado-Elevado, e também entre si, como sinal que testemunha a
Verdade. Veja, por exemplo, Jo 13, 35: “Nisso todos conhecerão que sois meus
discípulos, se vos amardes uns aos outros.”
Nessa primeira promessa, o termo “Outro Paráclito” é muito importante, porque
estabelece claramente uma continuidade entre a obra de Jesus e aquela do
Espírito da Verdade. Esse outro Paráclito é apresentado como continuador da
“obra terrestre” de Jesus, junto aos discípulos. A expressão por isso não
procede, apesar do paralelo com 1 Jo 2, 1, de a�rmar em plena forma, que
durante o ministério terrestre de Jesus, Ele tenha recebido esse título, apesar de
encontrarmos diversos elementos de intercessão e defesa.
Essa função será reservada ao Espírito da Verdade, no contexto da perseguição
aos discípulos (mais claramente em Jo 15) e do juízo contra o mundo (Jo 15,
12-16, 13).
Quanto ao problema dos sujeitos que enviam o Espírito, não é secundário
indicar que Pai, nessa perícope (assim como em Jo 14, 26), constitui o doador
do Espírito da Verdade, por intercessão de Jesus. Aqui se coloca a questão
Trinitária, que na nossa primeira aula começávamos a tratar.
Em Jo 15, 26, 16, 7 e 1 Jo 2, 20,27 é o próprio Cristo glori�cado a fazê-lo. Essa
questão, no entanto, se insere no contexto teológico das relações entre o Pai e o
Filho. “Para que permaneça convosco para sempre.” O problema não é outro
senão aquele da relação da Comunidade e Jesus Cristo, que vem garantida a
partir da doação do Espírito da Verdade. Uma relação que se quali�ca como
permanente. Em outras palavras, a experiência da Igreja pode ser traduzida, sob
essa ótica, como contato permanente com Cristo.
Esse contato criado pelo Espírito da Verdade constitui a signi�cação Divina de
sua Revelação e, ao mesmo tempo, é a Comunidade no Espírito que interpreta e
atualiza o “ser-em-Cristo”, como Revelador Permanente do Pai, na Comunhão
Nova, possível no Espírito.
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Em Jo 14, 17 chegamos então à expressão original do Evangelho Joanino sobre
o Espírito Santo, dito da “Verdade”: “É o Espírito da Verdade, que o mundo não
pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque
permanecerá convosco e estará em vós.” A função dessa primeira promessa do
Espírito é aquela de coordenar os diversos aspectos dessa comunidade, na qual
realiza-se fundamentalmente o tempo pós-pascal como tempo da presença do
Espírito entre os �éis.
Por isso, o texto vem entendido como uma composição, onde a promessa dos
Espíritos torna-se chave hermenêutica das Promessas de Jesus, que parte da
sua Comunidade.
Atenção 
 
O importante é reforçar a ideia da relação entre Jesus e o Espírito
como fundamento, sobre o qual o mesmo Espírito, Representante
mandado do Pai, pode fazer valer, que Jesus, permaneça como
“alma” desta relação nova, na história entre o Mestre e os seus
discípulos-amigos, após Sua Glori�cação.
No contexto imediato do v. 17, convém imediatamente enfrentar a temática
literária e teológica da relação entre o Espírito da Verdade e o “outro Paráclito”.
Outros apresentaram diversas teorias literárias, separando em distintas
camadas, no “discurso de Adeus”, como explicação para as diversas
incongruências “aparentes” que se encontram nos textos de Jo 13-17.
Ambos os termos virão utilizados nos textos das cinco promessas do Espírito –
Jo 14, 16-17 (1), 26-27 (2); 15, 25-27 (3); 16, 7-10 (4); 12-15 (5) – e constituem o
grande patrimônio da pneumatologia joanina no conjunto daquelas do Novo
Testamento, que terá uma grande in�uência sobre a teologia do espírito na
história da teologia.
Na exegese das promessas do Espírito, fala-se em paráclito quando, com esse
título, busca-se relacionar as funções do Espírito em conexão pessoal com
aquelas de Jesus, durante seu ministério terreno.
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Sendo um complemento adnominal em relação ao Espírito, exige que se busque
no conteúdo cristológico da verdade Joanina as consequentes demarcações de
signi�cado. Em outras palavras, essa forma quali�ca o Espírito.
Segundo a etimologia, este signi�ca olhar um espetáculo, observar com atenção
e concentração, em sentido �gurado contemplar. O acento recai evidentemente
sobre o aspecto ativo da ação. Quando esse verbo se aplica à realidade
religiosa, constata-se que Jesus não é jamais sujeito, mas como objeto, Ele
mesmo, ou Sua ação. Em Jo 6, 40; 12, 45;14, 9; 17, 24, equivale ao conjunto da
visão do Mistério Pessoal do Filho, em Jesus.
O problema que se coloca diante da exegese consiste em saber em que sentido
o mundo não vê ou contempla o Espírito da Verdade. E, de novo, é a partir da
cristologia que encontramos os elementos justos para interpretar a
pneumatologia Joanina.
De fato, o Espírito pode ser “visto” através da vida-existência de Jesus; suas
palavras e obras são os meios sensíveis para “ver” o Espírito da Verdade.
Ao terminar a seção exegética dessa primeira promessa do Espírito da Verdade,
convém destacar os elementos principais, assumidos até agora. Dois
elementos, a seguir, devem ser sublinhados.
A questão cristológica: o outro paráclito
Destacamos desde o início, que uma característica principal da pneumatologia joanina
(Evangelho e Cartas) baseia-se na relação de dependência direta do discurso teológico
sobre a pessoa e a ação do Espírito, em relação a Cristo.
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E não poucas vezes, quando problemas
semânticos se mostravam
demasiadamente complicados, era a via
cristológica a única efetivamente a
iluminar, não somente as questões
pneumatológicas, mas também aquelas
de origem eclesiológica.
A maioria dos autores está de acordo
que se deve a�rmar que o termo “outro
Paráclito”, aliás, característica original
desta primeira promessa, evidencia esse
aspecto da relação de “continuidade”
entre o Jesus terreno e a presença do
Cristo Glori�cado na Comunidade pós-
pascal.
Teríamos assim, com esta expressão, não
tanto a a�rmação do Cristo como
“paráclito”, mas a acentuação do
“Paralelismo” entre a presença
messiânica de Jesus Cristo junto à sua
Comunidade, antes e depois da Páscoa
de Ressurreição.
 (Fonte: Jacob_09 / Shutterstock)
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Comentário
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As relações entre o “outro paráclito” e o “espírito da verdade”.
Ambos, de modos diversos, acentuaram as duas etapas da presença de Cristo, como
critério para distinguir o valor desses dois termos.
Ao percorrer os verbos dessa unidade, interpretava os dois tempos, aquele do
presente, aplicando-os ao Paráclito, como presença atual e incoativa do Espírito junto
aos discípulos e aqueles do futuro, que constituem o cerne da promessa de outra
forma de presença do mestre, denominada Espírito da Verdade.
Propõe-se comocritério de distinção desses dois termos, caso se quisesse distingui-
los, relacionar o termo Paráclito ao período pré-pascal da relação entre Jesus e a
comunidade. Em outras palavras, cada termo acentua diferentemente as formas de
presenças de Cristo na Igreja.
Atividade
1. Leia o artigo de Santos (2000) e responda:
a) Como o Espírito Santo na tradição joanina pode ser entendido como Pessoa
Trinitária?
b) De que maneira Cristo é o Referente do Espírito na Igreja?
2. O que signi�ca a expressão “Espírito da Verdade” na tradição pneumatológica do
Evangelho de João?
a) Essa expressão não pertence à tradição de João sobre o Espírito.
b) O Espírito Santo faz revelações inéditas sobre o Cristo.
c) Verdade é uma característica exclusiva do Cristo, não do Espírito.
d) O Espírito Santo na tradição de João funciona como uma nova profecia do futuro.
e) O Espírito ensina e recorda a Verdade do Evangelho à Igreja.
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3. Qual é o papel de Cristo Glori�cado na evocação e no envio do Espírito Santo no
Evangelho de São João?
a) Cristo Glorificado intercede ao Pai pelo Envio do Espírito Santo à Comunidade.
b) O Espírito sucede Cristo após sua Missão, sem que Cristo possa interferir.
c) A Igreja, agora sem Cristo, com sua partida, depende exclusivamente do Espírito.
d) O Cristo glorioso não interfere na Vinda do Espírito, pois é uma prerrogativa do Pai.
e) Cristo nunca em sua vida terrena prometeu o Espírito para a Comunidade.
Referências
SANTOS, P. P. A. A tradição joanina: história e teologia. Coletânea, Rio de Janeiro, v. 16,
p. 39-62, 2017.
______. Jo 14, 15-17: tò pnêma tes alethéias: as promessas do espírito da verdade.
Exegese e hermenêutica na tradição teológica do quarto Evangelho. Um exercício
teológico-literário. Communio, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2-3, p. 519-551, 2005.
WELKER, M. O Espírito Santo. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 1, n. 48, p. 5-17,
2008.
Próxima aula
Concluiremos a questão do Espírito Santo no conjunto do Novo Testamento:
Pneumatologia nas Cartas Paulinas;
Pneumatologia no Apocalipse.
Explore mais
Leia os textos:
HACKMANN, G. L. B. (org.). O Espírito Santo e a teologia. Porto Alegre: EdPUCRs,
1998;
Oliveira, d. m. Os pentecostais, o Espírito Santo e a Reforma. Pistis & Praxis:
Teologia e Pastoral, Curitiba, v. 9, n. 2, 539-553, maio/ago. 2017;
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RIDOUT, G. W. O poder do espírito santo. São Paulo: Imprensa Metodista, 1993;
SANTOS, P. P. A. dos. Jo 15,26: Cristo envia-nos do Pai o Espírito da Verdade:
dimensão trinitária no Evangelho de João. Communio. Rio de Janeiro, v. XV, n.82, p.
89-101, 2000;
______. Verdade e espírito no âmbito da teologia do Novo Testamento. Communio,
Rio de Janeiro, v. XV, n. 83, p. 173-199, 2000.
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Teologia Sistemática III
Aula 4: Espírito Santo no Novo Testamento em geral
Apresentação
Esta aula apresenta o desenvolvimento da doutrina e da experiência do Espírito Santo no âmbito
da literatura paulina.
Estudar a doutrina teológica do Espírito Santo no Novo Testamento é mergulhar nas signi�cações
da ação de Cristo Ressuscitado e assim aceder às experiências pentecostais própria da
comunidade dos discípulos. O Novo Testamento é um testemunho dessa ampla ação do Espírito
Santo, primeiro na vida e na ação do Cristo, e depois nas de seus discípulos.
Objetivos
Compreender a doutrina do Espírito Santo no âmbito do restante dos escritos
neotestamentários;
Reconhecer os âmbitos da pneumatologia (teologia do Espírito Santo) na literatura paulina e
do Apocalipse.
 (Fonte: Paolo Gallo / Shutterstock)
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Premissa
O Espírito Santo é o intercessor que nos introduz na vida da Trindade, para a realização do projeto de
Deus, na adoção �lial, na glori�cação dos �lhos de Deus e da própria criação (Rm 8,19-27). Habitando
em nós (Rm 8,9), faz morrer as obras do pecado (Rm 8,12). Ele comunica a verdadeira paz, que é
comunhão na vida feliz de Deus. É Aquele que "vem em auxílio de nossa fraqueza porque nem
sabemos o que convém pedir" (Rm 8,26).
Nesta aula trataremos de uma importante tradição do Novo Testamento, indispensável para
conhecermos o patrimônio pneumatológico. Já pudemos ver isso nos Evangelhos (de Lucas, em
particular, e de João, com as promessas do Espírito da Verdade), e agora é a vez do grande São Paulo,
teólogo da primeira hora cristã.
Sobre o Espírito Santo no Novo Testamento, temos na teologia de São Paulo um grande acervo
de compreensão acerca da identidade e da ação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
1
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É muito ampla e diversi�cada a a�rmação de fé e, sobretudo, muito rica a
experiência do Espírito Santo no Novo Testamento.
Comentário
Aqui nos cabe uma análise do ponto de vista da Igreja, seja porque ela o experimenta, seja porque
fala sobre Ele, até formular um artigo de fé, onde a�rma a “Personalidade” do Espírito de Deus,
revelado de�nitivamente em Jesus Cristo.
Como dissemos, o Espírito é um objeto complexo em relação à Igreja, pois, de um lado, Ele mediu o
conhecimento que a Igreja tem de si própria; e, por outro, é a Igreja que �xa uma linguagem sobre o
Espírito que corresponda à consciência Divina da terceira pessoa da Trindade, como a conhecemos
na linguagem da tradição ortodoxa da Trindade.
O Mistério da Igreja ela o conhece, somente em contato com o Espírito, pois este dá acesso ao
âmago do Cristo e, assim, ao epicentro de sua consciência, enquanto Igreja.
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https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0154/aula4.html
O cristão, pela graça batismal, é introduzido na intimidade da vida trinitária, partilhando da sua riqueza
na comunidade eclesial. A plena comunhão da Trindade manifesta-se na Comunidade-Igreja e oferece
vida nova (Ef 4,24; Cl 3,10) de relacionamento de �lhos com o Pai (Gl 4,6). O Espírito ensina, santi�ca e
conduz o Povo de Deus através da pregação e da acolhida da Palavra, da celebração dos
sacramentos e da orientação dos pastores. Distribui também graças ou dons especiais "a cada um
como lhe apraz" (1Cor 12,11), sempre "para a utilidade comum". Por essas graças, Ele "os torna aptos
e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para a renovação e maior
incremento da Igreja” (1Cor 12,2).
O Espírito Santo distribui seus dons aos �éis, de tal
forma que ninguém possui todos eles, como ninguém
está totalmente privado deles (1Cor 12,4ss). Esses
dons são sempre para o serviço da comunidade (1Cor
14). Não é a experiência dos carismas que exprime a
perfeição da salvação, mas a caridade que deve
perpassar toda a vida do cristão (Mc 12, 28-31; 1Cor
13). Procurá-la é o primeiro e melhor caminho para a
edi�cação do Corpo de Cristo, que é a Igreja (1Cor
12,31-13,13). (BORGES, 2013).
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A �gura histórica de Paulo
Cronologia
Para a maioria dos autores, é bastante fácil delinear o quadro geral da vida de Paulo. Nascido pelo
início da Era Cristã, por volta do ano 5 d.C., converte-se e entra no círculo dos seguidores de Cristo, e
sobe muitas vezes a Jerusalém (encontrando-se com Pedro).
A partir de uma intensa atividade missionária, ele se tronou um peregrino e percorreu todo o arco do
Mediterrâneo Oriental, com paradas prolongadas em Antioquia da Síria, Corinto, Éfeso e Roma, onde
morreu sob o período de Nero (64-66?).
É mais difícil precisar cronologicamente os episódios da vida, as viagens e a morte, esta indicada por
alguns autores como ocorrida no início do período de Nero, enquanto para outros se deu no �m. O
referimento mais seguro é a inscrição de Del�, que indica o pró-cônsul romano Galião no período 50-
51 como residente em Corinto (cf. At 18,12).
Dois esquemas cronológicos nos ajudam a compreender sua vida:
Ato dos Apóstolos Segundo as Cartas
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Tendo como clássicoe tradicional referimento.
Missão Paulina vem escalonada em diversos
momentos:
1. Concílio de Jerusalém (49-50) depois da
primeira viagem;
2. A prisão em Cesareia, entre 58-60;
3. Em 60-62, período do cárcere romano;
4. Em 64 ou 67, a segunda prisão e a morte.
1. Concílio de Jerusalém: 50-51, depois da
segunda viagem que levou Paulo à Grécia;
2. 52-55, Éfeso, pela segunda vez;
3. 56, prisão em Jerusalém, prisão em
Cesareia;
4. 57-58, viagem a Roma;
5. 58-60, domicílio forçado em Roma;
�. 60, martírio sob Nero.
A conversão
Os textos Gal 1,13 e At 8,1 são elementos hermenêuticos importantes na compreensão das cartas
(literatura paulina), relatados por Atos, três vezes, At 9,22 (Paulo), 26 (Paulo).
Nas Cartas, torna-se um argumento constante, de modo apologético ou polêmico, defender-se dos
adversários e indicar o fundamento que sustenta sua vida (1 Cor 15,8; Gal 1,15-16; Fil 3,12).
A conversão de Paulo, como lemos nos diversos textos, apesar do seu
caráter autobiogrográ�co, aparece sensivelmente teologizada e re�ete uma
leitura retrospectiva do evento à luz de toda a vida do apóstolo e do caminho
da Igreja.
Homem de três culturas
Paulo possui a envergadura de um verdadeiro "cosmopolita" (expressão de A. Deissmann).
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Clique nos botões para ver as informações.
No interrogatório após a prisão a Jerusalém, ele se identi�ca como pertencente à diáspora
hebraica dispersa no mundo helenizado.
2Cor 11,22; contra os contestadores da sua autoridade apostólica;
Fil 3,5-6; faz polêmica contra o argumento "carnal" da descendência;
Rom 9,3-5; surge a lúcida consciência teológica de pertencer por nascimento ao povo
chamado por Deus para um desígnio de Salvação a favor de toda a Humanidade;
Em Gal 2,15 quase com orgulho separatista;
Convertido a Cristo, Paulo vive em um clima espiritual hebraico: seu calendário é hebraico
(1Cor 16,8) duas vezes, nos Atos se relatam votos (AT 18,18; 21, 17-26);
As Escrituras: LXX como o TM vem utilizados com destreza, através das técnicas de
interpretação mais profundas: 1Cor 10, 1-10: Midrash de Páscoa;
At 22,3: Gamaliel (Mesh, Sotr 9,15: o Ancião).
Hebreu: At 21,39 
Sobre o rio Adno, era naquele tempo como Elade no Apogeu esplendor de estudo helenístico e
cosmopolita, Pátria do estoicismo:
a) O ideal da autossu�ciência ética (Til 4,11);
b) Filosó�co-religioso: a transparência de Deus no mundo (Rom 1,19-20).
Todo o quadro da sua atividade se coloca dentro de uma moldura cultural helenística:
a) Uso gramatical e retórico da língua grega (Rom 5,20; 8,26; 2Cor 7,4; verbos com diversas
preposições);
b) Uso gramatical de "syn" para indicar a "simbiose" com colaboradores e amigos na
comunicação vital com Cristo, na morte, na ressurreição e na Glória (cf. Rom 6,45; Gal 2,19; Fil
3,10; Ef 2,6; Col 2,12; 3,1ss).
Não são raros os casos nos quais diversos termos contemporâneos à língua grega de Paulo
vêm utilizados e dobrados ao uso e intenção de Paulo.
Paulo, hebreu de origem 
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Paulus, nome latino, provavelmente desde a infância vê o império Romano de certa forma como
uma estrutura a serviço das disposições diurnas (Rom 13,2-5):
Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha
de Deus; as que existem foram instituídas por Deus. Assim, aquele que resiste à autoridade
opõe-se à ordem estabe lecida por Deus; e os que a ela se opõem atraem sobre si a condenação.
Em verdade, as autoridades ins piram temor, não porém a quem pratica o bem, e sim a quem faz
o mal! Queres não ter o que temer a autoridade? Faze o bem e terás o seu louvor. Porque ela é
instrumento de Deus para teu bem. Mas, se �zeres o mal, teme, porque não é sem razão que
leva a espada: é ministro de Deus, para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que
pratica o mal. Portanto, é necessário submeter-se, não somente por temor do castigo, mas
também por dever de consciência.
At 22,28 - direito de cidadania Romano, desde o nascimento;
Roma nos seus programas missionários estava no vértice: Rom 15,22-24, outro lado do
Carta dos Romanos.
Romano 
Leia mais sobre Paulo:
 O maior missionário do cristianismo
 Clique no botão acima.
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O maior missionário do cristianismo
O Livro dos Atos oferece uma narração ordenada da obra missionária de Paulo. Esta se
desenvolve provavelmente naquela parte da costa Mediterrânea denominada “a elipse da
oliveira”, tocando as cidades de Damasco, Tarso, Antioquia, Chipre e Anatólia Sul-oriental:
Filipos, Tessalônia, Bereca, Atenas, Corinto na Europa, e Éfeso, capital da Província romana
da Ásia, e Roma, do capital do Império. Os dados provenientes das Cartas con�rmam tal
quadro mesmo se não permitem de seguir a linearidade e de ancorá-lo sobre con�rmar o
esquema de uma tríplice expedição, como vem delineada em Atos.
a) Importância e característica
Ele escolhia intencionalmente os grandes aglomerados urbanos, sobretudo aqueles ainda
não tocados pelo Evangelho, onde buscava fazer surgir ao menos uma pequena
comunidade cristã, animada e presidida por pessoas em particular, dedicadas e generosas
(1 Ts 5,12-13; 1 Cor 16,15-16).
Tudo faz pensar que no âmago da metodologia missionária de Paulo, ele tinha em mira
muito mais os povos, como tal, como seria comum aos pregadores ambulantes do seu
tempo. O que ressalta o fato singular que ele não tinha se interessado por Alexandria no
Egito.
Paulo tem a consciência, desde o início, de ter sido chamado a evangelizar aos gentios (Gal
1,16), e essa vocação vem con�rmada por Pedro e pelos Apóstolos (Gal 2,9-10). Seu método
de comunicação do Evangelho se prende na palavra, no exemplo e no amor, e unia à Palavra,
que não é simples transmissão verbal, mas permeada pelo Espírito e pela potência de Deus
que interpela os homens por meio de seus (2 Cor 5,20; 1 Tes 2,13; Rom 1,16 ): Revelação!
b) A Palavra vem corroborada pela força do “modelo humano”
A Exemplaridade ética tem sua origem da humanidade de Jesus e é particularmente
importante para Paulo. Porque o Evangelho não é uma teoria, mas um modo de existência.
Paulo sabe que deve transmiti-lo com sua própria existência no "exercício" que isso
comporta.
Os dois termos maiores que são usados neste contexto são "modelo" e "imitadores" (1 Cor
4,16; 1 Ts 1,6; Fil 4,9; 2 Ts 3,7).
c) O Amor
A Palavra, porém, parte do amor, e tende à edi�cação, isto é, à construção e ao crescimento
espiritual dos singelos indivíduos e da comunidade (cf. 1 Ts 2,7-8; 2 Cor 4,15; 5,15; 6,12; Gal
4,15). É pronunciada em �delidade e lealdade de espírito diante de Deus e diante dos
homens (cf. 1 Ts 2,1-12) com a franqueza (parresia; 2 Cor 3,12; Fil 1,20, Ef 3,12) e a limpidez
cristalina (cilikrineia: 2 Cor 2,17), própria dos ministros da Nova Aliança. Além do aspecto
"encarnatório" da Palavra (1 Cor 9, 12-23), que conduz o ministro ao âmago de seu tempo.
O conteúdo essencial da sua mensagem é aquele da "Tradição" (parádosis = tradição)
apostólica (1 Cor 15, 1-5). De tal "verdade do Evangelho" nada pode ser subtraído (Gal 1,6-8;
2,5-14). Porém, em tal "tradição", enquanto o Evangelho exigia sua "tradução" em um estilo
de vida e era destinado a produzir uma "nova criatura" (2 Cor. 5,17), Paulo se faz educador,
pastor.
Diversos são os verbos que indicam a complexidade do projeto missionário Paulino: exortar,
admoestar, instruir, dizer, evangelizar, anunciar, desejar, encorajar, dispor, ensinar, tornar
conhecido, confortar.
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Paulinismo/antipaulinismo
"Reconhecei que a longa paciência de nosso Senhor vos é
salutar, como também vosso caríssimo irmão Paulo vos
escreveu, segundo o dom de sabedoria que lhe foi dado. É o
que ele faz em todas as suas cartas, nas quais fala nesses
assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender,
cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos
deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também
com as demais Escrituras."Paulo e sua tradição (2 Pd 3,13-16)
Origem: termo à Escola de “Tübingen”, isto é, protestantismo racionalista alemão: Paulo, herói
protestante contra Pedro (petrinismo).
O fato: Nenhum outro personagem é tão documentado como Paulo.
 Centro da Teologia Paulina
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Centro da Teologia Paulina
1º) A posição protestante
A dimensão antropológica do evento salví�co – impacto sobre o homem da obra redentora
de Cristo, que se desenvolve em duas posições:
1.1) Tese luterana clássica (R. Bullman, E. Käsemann) – o centro do paulinismo é a doutrina
da justi�cação pela fé sem obras, isto é, o Evangelho da Graça (Rom 4,5).
1.2) Schweitzer: participação do batizado, a vida (mesma) de Cristo, e, por isso, a experiência
tendencialmente “mística” do Cristo (Rom 6,11; Rom 3,21-26).
Crítica: Não se deve confundir paulinismo com Paulo: o evento de Cristo tem um valor
primário e fundante em relação ao seu resultado soteriológico.
2º) Posição católica
Privilegia a dimensão objetiva do evento salví�co (ad extra/extra nos).
Apesar de poder objetar, sobre a decisiva mediação da fé, aqui a cristologia é colocada em
primeiro lugar, como centro do pensamento paulino.
Segundo Lucian Cerfaux, a intuição fundamental de Paulo está na concepção da Divindade
de Cristo – onde está Cristo, existe a Presença de Deus, e Deus opera e se comunica
somente mediante Cristo (Cf. 2 Cor. 5,19).
Para Rudolf Schnackenbrurg, no entanto, a base sobre a qual se constrói e se concentra toda
a cristologia paulina é o Kerygma primitivo da morte e Ressurreição de Cristo, que Paulo
retoma e mantém como ponto focal de seu sistema.
Segundo Romano Penna é melhor concentrar-se sobre a �gura de Cristo como tal a
prescindir de suas especi�cações. Se pudéssemos comparar a teologia paulina a um círculo,
deveríamos dizer que Jesus Cristo é o centro; tudo aquilo que se a�rma de Cristo é
constituído de raios, enquanto aquilo que constitui a soteriologia forma um círculo virtuoso.
Atenção
De fato, sobre a �gura de Cristo e sua centralidade em Paulo, estão todos de acordo, desde S.
Tomás até Lutero, mesmo que o luteranismo considere central o ponto de vista soteriológico.
Porém, isso se pode a�rmar de todo o Novo Testamento, isto é, a "centralidade" da �gura de Cristo,
na variação dos diversos escritos.
Mas o que distingue a centralidade de Cristo no paulinismo de origem pode ser observado entre
níveis:
1
Vê-se bem como Jesus Cristo, para Paulo, não é narrado no passado da sua vida terrena, bem que
se compendia essencial, e em termos fulgurantes na �gura do Cruci�cado-ressuscitado (1 Cor 1,
23 s). Dessa maneira é assumida a formulação do Kerygma Primitivo (1 Cor 15, 3 - 5), mas se
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desenvolve o conteúdo em formas e dimensões que não são constatáveis em nenhum outro
autor do cânon.
2
É possível constatar e documentar sobre a base dos seus textos epistolares e mesmo de maneira
detalhada, como Paulo constituiu o conjunto de sua partitura teológica sobre o único teclado da
Pessoa de Cristo, sem separar a ontologia da funcionalidade.
Nesse ponto R. Penna expõe os traços fundamentais da cristologia, como centro do pensamento
Paulino. Para Paulo, Deus mesmo é de�nido em função de Cristo (cf. Rom 15,6; 2 Cor 1,3; 11,31; Col
1,3; Ef 1,3); Ele enviou Jesus ( Rm 8, 3; Gal 4,4). Também o Espírito é denominado em termos de
"Espírito de Cristo" (Rom 8,9), "do Filho" (Gal 4,6), de "Jesus Cristo" (Fil 1,19 ), uma formulação
tipicamente paulina.
O Evento Salví�co decisivo, mesmo que tendo em Deus sua origem e seu principal agente, é
claramente dominado pelo Cristo e com o seu sangue como protagonista histórico, através de uma
diversidade de termos, como Reconciliação, Libertação, Resgate, Redenção, Expiação, Justi�cação.
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Depois desses elementos, vale a pena destacar que, para Paulo, o Espírito,
mesmo “autônomo”, com personalidade, é Espírito do Filho, que age e atua
em nós a favor da Salvação trazida por Cristo.
Destacamos agora o texto mais paradigmático de Paulo sobre o Espírito Santo: O Capítulo 8 da Carta
aos Romanos (STOOT, 1994).
 Carta aos Romanos – Capítulo 8
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Carta aos Romanos – Capítulo 8
Rm 8, 1-2: De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para
aqueles que estão em Jesus Cristo. A Lei do Espírito de Vida me libertou, em
Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte.
A maneira pela qual o apóstolo começa sua discussão sobre o Espírito Santo
no capítulo VIII da Carta aos Romanos é verdadeiramente surpreendente:
“Portanto, não há mais condenação para os que estão em Cristo Jesus. Porque
a lei do Espírito, que dá vida em Cristo, libertou-te da lei do pecado e da morte.”
Ele passou todo o capítulo anterior para estabelecer que "o cristão está livre da
lei", e aqui começa o novo capítulo falando em termos positivos e edi�cantes
sobre a lei. "A lei do Espírito" signi�ca a lei que é o Espírito; é um genitivo ou
explicação epesegética, isto é, explicativa.
O que é a lei do Espírito e como ela funciona, A nova lei, ou do Espírito, não é,
portanto, estritamente falando, aquela promulgada por Jesus no Sermão da
Montanha, mas aquela que ele gravou nos corações no Pentecostes.
Rm 8, 5-12: “Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito,
se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o
Espírito de Cristo, este não é dele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em
verdade, está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justi�cação. Se o
Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que
ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos
mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, não somos
devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes
segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito morti�cardes as
obras da carne, vivereis.”
Os preceitos evangélicos são certamente mais altos e mais perfeitos que os
mosaicos; no entanto, sozinhos, eles também teriam permanecido ine�cazes.
Se fosse o su�ciente para proclamar a nova vontade de Deus através do
Evangelho, não seria possível explicar que havia a necessidade de Jesus
morrer e que o Espírito Santo viesse.
Mas os próprios apóstolos mostram que isso não era su�ciente; apesar de
terem escutado tudo – por exemplo, que você deve se voltar para aquele que
bate em você, a outra face –, no momento da paixão eles não encontram a
força para executar qualquer um dos mandamentos de Jesus.
Rm 8, 14: “De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo
Espírito morti�cardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são
conduzidos pelo Espírito de Deus são �lhos de Deus.”
De fato, aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus, estes são �lhos de
Deus.
Tendo dito que devemos morti�car, isto é, deixar nossa carne morrer, Paulo
explica que – guiado pelo Espírito de Deus, não simplesmente por nossa
própria iniciativa, mas iluminado e guiado pelo Espírito Santo, o que signi�ca
que não podemos fazer nada e devemos fazer o que não isto é de acordo com
a vontade de Deus – somente essa obediência testi�ca que somos �lhos de
Deus.
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Rm 8, 16: “Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos
�lhos de Deus.”
De fato, o próprio Espírito testi�ca que somos �lhos de Deus. Somente na interioridade do
nosso coração encontramos a certeza de que somos �lhos de Deus; ninguém pode garantir
por si mesmo que é �lho de determinado pai.
Outro deve testemunhar para nós: alguém que conhece bem a nossa história e está
presente não apenas quando nascemos, mas também quando fomos concebidos.
Não há necessidade de ir longe e procurar por Deus sabe onde. É o próprio Espírito Santo
que testi�ca ao nosso espírito que somos �lhos de Deus; no Espírito

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