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Ester Paiva – P5M2 2022/2 ABDOME AGUDO DEFINIÇÃO Síndrome clínica caracterizada por dor na região abdominal, não traumática, súbita e de intensidade variável associada ou não a outros sintomas e que necessita de diagnóstico e conduta terapêutica imediata, cirúrgica ou não. O diagnóstico varia de acordo com a idade e o sexo e a apendicite é mais comum em jovens, enquanto a doença biliar, obstrução intestinal, isquemia e diverticulite são mais comuns em idosos. CLASSIFICAÇÃO INFLAMATÓRIO • Tipo mais comum de abdome agudo • Início geralmente insidioso e mal definido com sintomas a princípio vagos (dor abdominal característica, náuseas, anorexia, vômito, alteração do trânsito intestinal) • Apendicite é a causa mais comum: fase inicial apresenta dor epigástrica ou periumbilical, tipo visceral, seguida por anorexia, náuseas e vômito (menos comuns), e posterior localização da dor em quadrante inferior direito, tipo somática; constipação intestinal e a parada de eliminação de flatos é comum, mas ocasionalmente pode haver diarreia; a febre é baixa e a leucocitose moderada (até 15.000), com desvio para a esquerda. Rx inespecífico. USG com 94% de sensibilidade confirma diagnóstico clínico. O tratamento é cirúrgico, recomendando-se antibioticoterapia profilática até a cirurgia. • A colecistite está associada à litíase biliar em 95% dos casos. A dor inicialmente é epigástrica, visceral, acompanhada de náuseas e vômito, e posteriormente mais intensa e localizada no quadrante superior direito, podendo irradiar-se para as regiões lombar direita e escapular direita. A febre geralmente é baixa, e a leucocitose, moderada (até 15.000). Sinal de Murphy ecográfico associado à litíase biliar e ao espessamento da parede vesicular indica colecistite em 95% dos casos. USG é método de escolha para diagnóstico. O tratamento da colecistite é cirúrgico, com realização de colecistectomia precoce. Antibioticoterapia. • Outras causas: Apendicite, colecistite, diverticulite aguda, pancreatite, anexite aguda, pielonefrite, DIP, colangite, peritonite... OBSTRUTIVO • Sintoma cardinal: cólica intestinal demonstrando esforço das alças para VENCER O OBSTÁCULO (peristaltismo de luta) que está impedindo o trânsito. • A dor é visceral, localizada em região periumbilical, nas obstruções de delgado, e hipogástrica, nas obstruções de cólon, intercalada com períodos livres de dor no início da evolução. • Os episódios de vômito surgem após a crise de dor, inicialmente reflexos, e são progressivos, na tentativa de aliviar a distensão das alças obstruídas. • Peristaltismo aumentado (RHA aumentados com timbre metálico) • Obstrução alta: vômitos mais frequentes, menor distensão abdominal • Obstrução baixa: maior distensão, vômito fecalóide • Desidratação, comprometimento da vascularização do segmento obstruído (isquemia – necrose) • Tipos: baixa ou alta, completa ou incompleta, com ou sem necrose • Método de escolha: Raio X - e revelam níveis hidroaéreos, edema e distensão das alças, além de localizar o nível e o grau de obstrução, possibilitando também a identificação de corpos estranhos. Sinal do empilhamento de moedas. • Tto inicial: descompressão gástrica, hidratação venosa, antibioticoterapia de largo espectro. Pode-se necessitar do tto cirúrgico • Principais causas: Bridas e aderências (principalmente pós laparotomia), neoplasias, doença de Crohn. O tratamento da hérnia é sempre cirúrgico, assim como nos casos de obstrução completa por bridas. Causas funcionais: íleo funcional e Sd. De Olgivie. • Obstruções mais comuns: delgado – bridas e aderências; cólon – CCR e síndrome de Olgivie (pseudo-obstrução isolada do cólon); Ester Paiva – P5M2 2022/2 PERFURATIVO • Uma das causas mais frequentes de cirurgia abdominal de urgência. • Dor de início súbito e intensa, rapidamente atingindo seu pico. • Peritonite: a dor tipo somática vem da irritação química do peritônio, e, quanto menor o pH, maior a irritação. • Exame clínico: “Abdome em tábua” – silêncio abdominal (RHA diminuído ou ausente) e rigidez muscular; • Método de escolha para diagnóstico: Raio X – Pneumoperitônio • Sinal de Jobert – percursão do fígado sem macicez (ar) e pneumoperitônio • Em 12 h de evolução do quadro, a peritonite química torna-se bacteriana, aparecendo os sinais de infecção. • O tratamento é sempre cirúrgico, sendo pior o prognóstico quanto maior o tempo de perfuração. Devem-se sempre associar antibióticos de largo espectro ao tratamento cirúrgico. • Os pacientes idosos são os mais afetados, devido ao uso crônico de anti-inflamatórios e ácido acetilsalicílico. • O paciente procura manter-se imóvel, com restrição respiratória, devido à irritação peritoneal. • Os exames laboratoriais revelam leucocitose e possível hiperamilasemia. • Causa mais comum: úlcera péptica. • Outras causas: neoplasia, corpo estranho, perfuração espontânea, doença de Cronh, megacólon torácico, alcoolismo, tabagismo.. VASCULAR • Constitui uma doença grave com mortalidade de 80% • O diagnóstico quase sempre é tardio; Acomete principalmente pacientes idosos • Lesão isquêmica inicial, decorrente da redução do fluxo arterial ou venoso. • Fase inicial: A dor abdominal súbita é o sintoma inicial, geralmente muito intenso e periumbilical, fora de proporções com os achados clínicos, que são inespecíficos. Pode estar associada a vômito e diarreia sanguinolenta. • Fatores de risco para isquemia mesentérica aguda: 60+, doença aterosclerótíca, IAM recente, arritmias cardíacas, ICC, uso de vasoconstritores, uso de nutrição enteral, pelo aumento não regulável do consumo de oxigênio no intestino... • Fase intermediária: peritonite (confusão com quadro inflamatório) • Fase avançada: acentuam-se os sinais abdominais, surgindo a instabilidade hemodinâmica, o choque refratário e o óbito. • Exames laboratoriais: hemoconcentração, leucocitose e acidose metabólica, associados aos achados clínicos de distensão, defesa e ausência de peristaltismo sugerem doença avançada. • O diagnóstico de certeza é dado pela arteriografia, que é considerado padrão-ouro e só deve ser realizada no paciente hemodinamicamente estável. • Raio X: pode mostrar dilatamento difuso da parede das alças intestinais, alças tubuliformes, fixas e imutáveis, e pneumoperitônio • USG: principalmente associada ao recurso Doppler, pode identificar a obstrução vascular e estudar o fluxo dos vasos mesentéricos, especialmente dos segmentos proximais. • Angiotomografia: pode mostrar as alterações isquêmicas nas paredes intestinais e demonstrar o local da obstrução mesentérica. • Tratamento: antibiótico de largo espectro. Vasodilatador (papaverina) deve ser usado em todos os casos de isquemia mesentérica aguda. A abordagem cirúrgica é feita por laparotomia. • Causa mais comum: embolia da artéria mesentérica superior. Outras causas: isquemia mesentérica, trombose de veia mesentérica, colite isquêmica... Ester Paiva – P5M2 2022/2 HEMORRÁGICO • Dor súbita, rápido comprometimento hemodinâmico, palidez intensa e hipovolemia acentuada. • Mais frequentemente associado ao trauma, ao pós-operatório e a complicações após-procedimentos (biópsias hepáticas, por exemplo). • Na mulher em idade fértil, sempre ponderar a possibilidade de gravidez ectópica rota • O tratamento é a cirurgia imediata, mas a arteriografia pode ser terapêutica em alguns casos. • Deve-se suspender o uso de anticoagulantes. • A aterosclerose é a causa principal, mas trauma, infecção (sífilis) e arterites são causas possíveis • A ruptura de aneurisma de aorta abdominal acomete geralmente pacientes idosos do sexo masculino; • USG confirma diagnóstico. • Causas: laceração traumática, rotura de gravidez ectópica, rotura de aneurisma, rotura de bexiga ou baço... FISIOPATOLOGIA ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO • Tipo mais comum • Habitualmente, o processo se inicia com a obstrução mecânica de vísceras ocas normais, ouanatomicamente alteradas (divertículos, por exemplo), originando diversos fenômenos inflamatórios na parede da víscera, com tendência à progressão para infecção e comprometimento da vascularização do órgão. • A inflamação inicial na víscera, que gera dor mal localizada, pela ativação de fibras C, e que com o tempo alcança o peritônio, gerando a dor bem localizada. • Sinais, sintomas e exames: febre, intervalo entre o início dos sintomas e o atendimento médico, dor súbita ou insidiosa, sinais de infecção ou sepse, quadro abdominal de peritonite evidente, hemograma e radiografias simples do abdome. ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO • A presença de uma obstrução intestinal, faz com que o conteúdo intraluminal seja impedido de progredir em direção ao reto, levando a uma distensão de todo o intestino a montante do ponto obstrutivo. Com a progressão do quadro, a parede intestinal torna-se edemaciada, comprometendo a sua função absortiva. Nos casos mais graves, a distensão das alças pode levar a um comprometimento da vascularização, dificultando a chegada de sangue no intestino. Com a perfusão comprometida, a parede intestinal começa a isquemiar, podendo evoluir para necrose e, caso o processo não seja interrompido, perfuração. ACHADOS LABORATORIAIS E IMAGINOLÓGICOS EXAMES LABORATORIAIS • Hemograma completo: fundamental para avaliação de processo infeccioso, em geral apresenta leucocitose; • AST, ALT, GGT, bilirrubinas: avaliação de causas de abdome agudo de origem biliar, como colecistite e colangite; • Amilase e lipase: quando elevadas podem sugerir pancreatite, isquemia intestinal ou úlcera duodenal; • Eletrólitos, ureia e creatinina: avaliação das complicações de vômitos ou perdas de fluido para o terceiro espaço; • Beta HCG: fundamental sua solicitação para todas as pacientes em idade fértil, para diagnostico diferencial de gravidez ectópica. • Outros: VHS, TP, RNI, glicemia e sumário de urina. EXAMES DE IMAGEM • Raio-X de abdome e tórax: muito utilizado devido ao baixo custo e fácil acesso, além de permitir diagnostico diferencial. O raio-X pode detectar efetivamente um pneumoperitôneo (ar entre o diafragma e o fígado), sugerindo perfurações gastroduodenais. Também podem ser observados calcificações no pâncreas e vesícula biliar ou distensão das alças intestinais, sugerindo um abdome agudo obstrutivo - Sinal do empilhamento de moedas (dilatação das alças intestinais). • Arteriografia / arteriografia: padrão ouro para abdome agudo vascular • USG abdominal: muito eficiente na detecção de cálculos biliares e avaliação da vesícula biliar; liquido livre; abdome agudo hemorrágico. Ester Paiva – P5M2 2022/2 • TC de abdome: muito útil para avaliar complicações, principalmente em casos de abdome agudo inflamatório. Está sendo cada vez mais utilizadas devido a menor probabilidade de ser prejudicada pelo ar abdominal, como ocorre na USG. LAPAROSCOPIA DIAGNÓSTICA A laparoscopia está indicada nos casos de abdome agudo em que não se consegue estabelecer um diagnóstico, mesmo depois de esgotados os recursos propedêuticos não invasivos. Ela é capaz de evitar laparotomia desnecessária, otimizando o tempo do diagnóstico e reduzindo a morbidade. APENDICITE A obstrução luminal direta pode ocorrer pela presença de um fecalito, hiperplasia linfoide ou por fezes impactadas e raramente por um tumor de ceco. O lúmen, uma vez obstruído, se torna preenchido por muco e com intensa proliferação bacteriana. Se distendido, pode ocorrer trombose e gangrena local. • A proliferação bacteriana é polimicrobiana com associação de germes aeróbios e anaeróbios, sendo a Escherichia coli e o Bacteroides fragilis os principais agentes encontrado na cultura. • FSP: Obstrução do lúmen proximal do apêndice > proliferação bacteriana > processo infeccioso > alteração do suplemento sanguíneo > formação de secreção purulenta > distensão do lúmen > pressão intraluminal > isquemia das paredes do apêndice > gangrena e perfuração > peritonite local > ou > peritonite difusa pelo extravasamento do conteúdo intestinal em peritônio livre. • Acompanhada de descompressão dolorosa à palpação (Sinal de Blumberg +), Dor periumbilical ou epigástrica com posterior localização na fossa ilíaca direita. • Constipação intestinal (pode ter diarreia); febre moderada • Na inspeção o paciente pode assumir a posição fetal ou manter os membros inferiores fletidos • No exame físico, a pesquisa do sinal de Rovsing demonstra dor na fossa ilíaca direita quando se comprime a fossa ilíaca esquerda, pelo deslocamento retrógrado dos gases da luz dos cólons, e consequente distensão do ceco. • O toque retal e vaginal são extremamente importantes devido à grande frequência de processos inflamatórios pélvicos de origem anexial nas mulheres com suspeita de apendicite. Manifestações Laboratoriais: • Leucocitose (10.000-20.000) • Neutrofilia com desvio à esquerda • Aumento de bastonetes e segmentados • Aumento de VHS e Proteína C Reativa (aguda) DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA APENDICITE AGUDA • Raio X: mostram achados inespecíficos • USG: apresenta uma sensibilidade de 94%, confirmando o diagnóstico clínico, especialmente ao demonstrar o apêndice inflamado, visto como uma estrutura tubular aperistáltica, não compressível, com paredes espessadas. • TC pode ser necessária, avaliando diretamente o apêndice inflamado, e, principalmente, dando informações sobre diagnósticos alternativos • O tratamento é cirúrgico, recomendando-se antibioticoterapia (metronidazol + ciprofloxacino) profilática até a cirurgia, com manutenção do antibiótico de amplo espectro caso haja perfuração, abscesso ou peritonite. O paciente deve ser colocado em dieta zero, hidratação parenteral e reposição eletrolítica. • Atualmente, a apendicectomia laparoscópica é responsável pela maioria das apendicectomias realizadas nos países ocidentais. • Em casos de perfuração ou abcesso, faz-se a laparotomia. Ester Paiva – P5M2 2022/2
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