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Carla Bertelli – 4° Período – Investigar os agentes etiológicos, a epidemiologia, os mecanismos de transmissão, os fatores de risco, o quadro clínico, o diagnóstico e as complicações das ISTs que causam úlceras genitais (Herpes simplex vírus, Treponema Pallidum, Haemophilus ducreyi e Klebsiella granulomatis). Define-se ulceração como a perda completa da cobertura epidérmica com invasão para a derme subjacente. Já o termo erosão descreve a perda parcial da epiderme sem penetração da derme. A distinção é feita através de exame clínico. Em geral, as biópsias não auxiliam, mas podem ser uteis se realizadas nas bordas de uma nova lesão. É importante ressaltar que a biópsia é obrigatória se houver suspeita de carcinoma. Infecção pelo Vírus Herpes Simples O herpes genital é uma doença ulcerosa genital de maior prevalência, e é uma infecção crônica. O vírus penetra nas terminações dos nervos sensoriais e é transportado retrogradamente pelo axônio para as raízes dos gânglios dorsais, onde fica potencialmente latente por toda vida. A reativação espontânea acontece por várias causas resulta no transporte anterógrado de partículas/proteínas do vírus para a superfície, onde se dissemina, com ou sem formação de lesões. Mecanismos imunológicos controlam a latência e a reativação. Há 2 grupos de herpes, HSV-1 e o HSV-2. Os dois tipos podem causar herpes genital, porém: • HSV-1 é a causa mais comum de lesões orais • HSV-2 costuma ser encontrado nas lesões genitais Muitas mulheres infectadas por HSV-2 carecem desse diagnóstico em razão de infecções leves ou não reconhecidas. As pacientes infectadas podem transmitir o vírus quando assintomáticas, e muitas infecções são sexualmente transmitidas. Os herpes-vírus são vírus encapsulados grandes com genoma bicatenar (hélice dupla). Existem três grupos e nove tipos de herpes-vírus que causam infecções nos seres humanos: 1. Vírus neurotrópico do grupo a, inclusive herpes-vírus simples tipo 1 (VHS-1; geralmente associado ao herpes labial, embora tenha crescido um número de infecções herpéticas anogenitais comprovadamente causadas pelo VHS-1) e tipo 2 (VHS-2) 2. Vírus varicela-zóster (causa varicela e herpes-zóster) 3. Vírus linfotrópicos do grupo b, inclusive citomegalovírus (causa citomegalovirose ou doença de inclusão citomegálica), vírus Epstein-Barr (causa mononucleose infecciosa e linfoma de Burkitt) e herpes-vírus humano do tipo 8 (provavelmente causa sarcoma de Kaposi). O HSV-1 e o HSV-2 são geneticamente semelhantes. Ambos causam diversas infecções primárias e recidivantes semelhantes e os dois podem causar lesões genitais. Esses vírus replicam-se na pele e nas mucosas infectadas (orofaringe ou genitália), onde causam lesões vesiculares da epiderme e infectam os neurônios que inervam a região. O HSV-1 e o HSV-2 são vírus neurotrópicos, ou seja, proliferam nos neurônios e compartilham da propriedade biológica de latência. O termo “latência” refere-se à capacidade de manter potencial patogênico, mesmo que não existam sinais e sintomas clínicos. A infecção genital por HSV pode ser evidenciada por um episódio de primoinfecção (infecção primária) ou recidivante. Em geral, o primeiro episódio é o mais doloroso com uma lesão evidente As infecções primárias (primeiros episódios) causam lesões mais numerosas e dispersas e acarretam mais manifestações sistêmicas. A disseminação do vírus persiste por mais tempo durante os episódios de primoinfecção (10 a 15 dias), e lesões recém-formadas continuam a aparecer por cerca de 10 dias depois da infecção inicial. Alguns casos “graves” presumivelmente primários são, na verdade, recidivas detectadas pela primeira vez nos indivíduos com infecções de longa duração. – A apresentação inicial depende basicamente do paciente, durante o episódio atual, apresentar ou não anticorpos em função de exposição prévia. O vírus infecta células epidermais viáveis, e a resposta à infecção é formada por eritema e pápulas. Com a morte celular e a lise da parede celular, formam-se bolhas. A cobertura rompe-se levando a úlcera dolorosa. Essas lesões desenvolvem uma crosta e cicatrizam, mas podem ser infectadas secundariamente. As 3 fases da lesão são: Carla Bertelli – 4° Período 1. Vesícula com ou sem formação de pústula, com duração de aproximadamente 1 semana 2. Ulceração 3. Crosta Pode-se predizer que o vírus se dissemina durante as duas primeiras fases do surto. Queimação e dor intensa acompanham as lesões vesiculares iniciais, e os sintomas urinários, como frequência e/ou disúria, podem estar presentes em caso de lesão na vulva. É possível haver edema local causado por lesões vulvares levando à obstrução uretral. De forma alternativa ou adicional, as lesões podem envolver vagina, colo uterino, bexiga, ânus e reto. É comum a paciente apresentar outros sinais de viremia, como febre baixa, mal-estar e cefaleia. A carga viral contribui para o número, o tamanho e a distribuição das lesões. Os mecanismos normais de defesa do hospedeiro inibem o crescimento viral e a cicatrização de inicia em 1 a 2 dias. Pacientes imunodeficientes apresentam maios suscetibilidade, menor resposta e cicatrização retardada. Para um paciente não infectado anteriormente, a fase vesicular ou inicial é mais longa. Há aumento no período de formação da nova lesão e a cicatrização é mais demorada. A dor persiste pelos primeiros 7 a 10 dias, e a cicatrização de 2 a 3 semanas. Se um paciente tiver sofrido exposição anterior ao HSV- 2, o episódio inicial será significativamente menos grave. A duração da dor e da sensibilidade dolorosa será menor, e o tempo de cicatrização será de 2 semanas. É comum haver recorrência após a infecção por HSV-2. As parestesias percursoras, são descritas como prurido ou formigamento na região antes da formação da lesão ó – O diagnóstico do herpes genital se baseia nos sintomas referidos, no aspecto das lesões e no isolamento do vírus por meio de esfregaços retirados das lesões e implantados em meios de cultura. O padrão ouro para o diagnóstico da lesão é a cultura tecidual. A especificidade é alta, mas a sensibilidade é baixa e declina a medida que as lesões cicatrizam. O teste de reação em cadeia polimerase (PCR) é de 1,5 a 4x mais sensível do que a cultura. Uma cultura negativa não significa inexistência de infecção por herpes. Há testes sorológicos tipo-específicos para glicoproteína-G disponíveis para detectar anticorpos específicos para glicoproteína-G2. (HSV-2) e para glicoproteína-G1 (HSV-1). Sífilis IST sistêmica de notificação compulsória causada pela espiroqueta Treponema pallidum. Em 2015, foramdiagnosticados nos EUA 23.872 casos de sífilis primária e secundária e 26.170 casos no estágio de latência e no estágio final. As mulheres com maior risco são as pertencentes a grupos socioeconômicos desfavorecidos, as adolescentes, início precoce de vida sexual, múltiplos parceiros sexuais. Taxa de acometimento é de aproximadamente 30%. T. pallidum é disseminado por contato direto com uma lesão úmida contagiosa, geralmente por relação sexual. Secreções repletas de bactérias podem transferir o microrganismo durante qualquer tipo de contato íntimo. Abrasões da pele podem ser outra porta de entrada. A transmissão transplacentária de T. pallidum da mãe para o feto depois da 16ª semana é rápida, de modo que a infecção materna em atividade durante a gestação pode causar sífilis congênita do feto. A sífilis não tratada pode causar prematuridade, morte fetal e anomalias congênitas, além de infecção ativa do feto/recém- nascido. Como as manifestações clínicas da sífilis materna podem ser sutis, o teste para sífilis é obrigatório para todas as gestantes. Depois de ser tratada para sífilis, a gestante geralmente é acompanhada ao longo de toda a gestação por dosagens repetidas dostítulos séricos Carla Bertelli – 4° Período Clinicamente, a sífilis é dividida em três estágios: primário, secundário e terciário. í á – Caracteriza-se pelo aparecimento de um cancro no local da exposição/contaminação. A história natural de sífilis em pacientes não tratados pode ser dividida em 4 fases. A lesão indicadora dessa infecção é chamada de cancro, onde as espiroquetas são abundantes. É uma úlcera clássica, isolada, firme ao toque, com bordas arredondadas levemente elevadas e uma base integrada não infectada. No entanto, pode-se tornar infectada secundariamente e dolorosa. Em geral, os crancos são encontrados no colo uterino, vagina e vulva, mas também pode se formar na boca ou ao redor do ânus. A lesão pode se desenvolver em 10 a 12 dias após a exposição, com um período médio de exposição de 3 semanas. í á – Está associada à bacteremia e desenvolve-se em 6 semanas a 6 meses após o surgimento do cancro. Sua manifestação é um exantema maculopapular que pode envolver todo o corpo e inclui palmas, plantas e mucosas. Assim como no cancro, esse exantema dissemina ativamente as espiroquetas. Nas áreas corporais quentes e úmidas esse exantema pode produzir placas grandes, rosadas ou cinzas, esbranquiçadas, altamente infecciosas denominadas condyloma lata. Como a sífilis é uma infecção sistêmica, outras manifestações podem incluir febre, mal-estar. Além disso, sistemas como o renal, hepático, osteoarticular e SNC podem ser envolvidos. Os sinais e sintomas de erupção (especialmente nas palmas das mãos, mucosas, meninges, linfonodos, estômago, plantas dos pés e fígado), febre, dor de garganta, estomatite, náuseas, perda de apetite e inflamação ocular podem aparecer e desaparecer ao longo de 1 ano, mas geralmente se estendem por 3 a 6 meses. As manifestações clínicas da sífilis secundária podem incluir algum grau de queda dos cabelos e condilomas planos. Essas últimas lesões são placas elevadas marrom-avermelhadas, que podem ulcerar e liberar secreção fétida. As lesões têm 2 a 3 cm de diâmetro, contêm muitas espiroquetas e são altamente contagiosas. Depois do segundo estágio, a sífilis frequentemente entra em uma fase de latência, que pode estender-se por toda a vida ou progredir à sífilis terciária em alguma época. í – Significa o período de um ano após o surgimento da sífilis sem tratamento, durante o qual podem surgir sinais e sintomas secundários. Entretanto, as lesões associadas a essas manifestações não são contagiosas. A sífilis latente tardia é definida como aquela que se tenha passado um ano desde a infecção inicial. í á – Esta fase da sífilis não tratada pode surgir até 20 anos após a latência. Durante essa fase, evidencia-se o envolvimento cardiovascular, do SNC, e do sistema musculoesquelético. Quando a sífilis progride para o estágio terciário sintomático, isso geralmente se evidencia de três formas: formação de lesões granulomatosas destrutivas localizadas conhecidas como gomas; desenvolvimento de lesões cardiovasculares; ou desenvolvimento de lesões no sistema nervoso central. As gomas são encontradas mais comumente no fígado, nos testículos e nos ossos. As lesões do sistema nervoso central podem causar demência, cegueira ou acometimento da medula espinal com ataxia e déficit sensorial. Em geral, as manifestações cardiovasculares resultam das retrações fibróticas da camada média da aorta torácica com formação de aneurismas. ó – Espiroquetas são finas demais para reter a coloração gram. A sífilis precoce é diagnosticada principalmente pelo exame em campo escuro ou pelo teste de imunofluorescência direta do líquido da lesão. Na ausência de diagnóstico positivo, o diagnóstico suposto pode ser conformado com testes sorológicos não treponêmicos (1) teste VDRL ou (2) teste da reagina plasmática rápida. Como alternativa pode-se optar pelos testes treponêmicos (1) teste de absorção de anticorpos de treponema fluorescente (FTA-ABS) ou (2) teste de aglutinação passiva para anticorpo treponema pallidum (TP-PA). Para rastreio na população são utilizados os testes RPR ou VDRL. Para aferições quantitativas dos títulos de anticorpos para avaliar a resposta ao tratamento costuma-se utilizar os testes RPR ou VDRL. O resultado positivo em uma pacien- te que tenha sido tratada pra sífilis ou o aumento de quatro vezes no título (duas diluições) em paciente previamente tra- tada para sífilis determina a necessidade de confirmação com testes específicos para treponema. Assim, para a confirmação do diagnóstico em uma paciente com resultado positivo para teste não treponêmico de anticorpo ou com suspeita clínica de sífilis, as melhores opções são FTA-ABS ou TP-PA. Finalmen- te, para as medições quantitativas de títulos de anticorpos para avaliar a resposta ao tratamento, os testes mais utilizados são RPR ou VDRL. Após o tratamento, testes sequenciais não treponêmicos devem ser realizados. Carla Bertelli – 4° Período Cancro Mole Causada por um bacilo sem motilidade, não formador de esporos, facultativo, gram-negativo, o Haemophilus ducreyi. Em geral, o período de incubação é de 3 a 10 dias, e o acesso ao hospedeiro requer a presença de fissura na pele ou na mucosa. O cancro mole não causa reação sistêmica, e não há síndrome prodrômica descrita É uma doença da genitália externa e dos linfonodos. O agente etiológico é a bactéria Gram-negativa Haemophilus ducreyi, que causa lesões ulcerativas agudas com secreção profusa. Hoje em dia, essa doença é rara nos EUA e a maioria dos casos ocorre na África e no Caribe. Nos casos típicos, o cancroide ocorre em surtos bem delimitados, em vez de caracterizar uma doença endêmica nesses países. Por ser uma doença altamente contagiosa, o cancroide geralmente é transmitido por relações sexuais ou por abrasões da pele e das mucosas. A autoinoculação pode formar vários cancros moles. As lesões começam na forma de máculas que se transformam em pústulas e depois rompem. Essa úlcera dolorosa tem base necrótica e bordas entrecortadas. Por outro lado, o cancro sifilítico é indolor e duro. A secreção que se forma em seguida pode espalhar a infecção para outras pessoas. Ao exame físico, podem ser detectadas lesões e linfadenopatia regional. A infecção secundária pode causar destruição significativa dos tecidos. Em geral, o diagnóstico é estabelecido clinicamente, mas pode ser confirmado por cultura. A coloração com Gram raramente é realizada porque não é sensível nem específica. – A paciente com a doença se apresenta inicialmente com uma pápula eritematosa que evolui para pústula que sofre ulceração em 48 horas. As bordas dessas úlceras dolorosas, em geral, são irregulares, com limites eritematosos sem enduração. A base da úlcera costuma ser avermelhada e granular e, em contraste com o cancro sifilítico, tem consistência amolecida. Em regra, as lesões são recobertas com material purulento e, quando secundariamente infectadas, exalam odor fétido. Nas mulheres as localizações mais comuns são a fúrcula vulvar, o vestíbulo, o clitóris e os grandes lábios. As úlceras no colo uterino ou na vagina podem ser duras. Simultaneamente, quase metade das pacientes desenvolverá linfadenopatia inguinal mole unilateral ou bilateral. Quando as úlceras são grandes e flutuantes, são chamadas de bubão. Às vezes podem supurar e formar fístulas, e sua drenagem resultará na formação de outra úlcera. ó – O diagnóstico definitivo requer crescimento do H. ducreyi em meio específico, mas a sensibilidade para cultura é inferior a 80%. O diagnóstico é confirmado com a identificação de bas- tonetes gram- negativos, sem motilidade, em esfregaço coletado da lesão e corado pelo Gram. Antes de se obter a amostra, o pus superficial ou a crosta devem ser removidos com gaze este- rilizadaembebida em solução salina Granuloma Inguinal É causado por um bastonete Gram-negativo – Klebsiella granulomatis, que é uma bactéria intracelular encapsulada minúscula. Essa doença praticamente inexiste nos EUA, mas é encontrada mais comumente nas regiões tropicais como Índia, Brasil e Índias Ocidentais e em algumas partes da China, Austrália e África Carla Bertelli – 4° Período Causa ulceração da genitália, que começa como uma pápula inócua. A pápula passa por estágios nodular ou vesicular até começar a irromper na forma de tecido granulomatoso rosado. No estágio final, os tecidos tornam-se finos e friáveis e sangram facilmente. O paciente queixa-se de edema, dor e prurido. A retração inflamatória extensiva pode causar sequelas tardias como obstrução linfática com crescimento e deformação elefantoide da genitália externa. Fígado, bexiga, ossos e articulações, pulmões e intestino delgado podem ser afetados. As complicações genitais são abscesso tubo- ovariano, fístula, estenose vaginal e obstrução do orifício vaginal ou anal. As lesões podem sofrer transformação neoplásica. – A paciente com granuloma inguinal apresenta-se com nódulos inflamatórios indolores, que progridem para úlceras altamente vascularizadas, avermelhadas e carnudas, que sangram com facilidade ao contato. Se secundariamente infectadas, podem se tornar dolorosas. Essas úlceras cicatrizam por fibrose, o que pode resultar em cicatrizes semelhantes a queloides. Os linfo- nodos, em geral, não estão envolvidos, mas podem aumentar de tamanho, e novas lesões surgirem junto aos canais de drenagem linfática. Há relatos de lesões a dista ̂ncia ó – O diagnóstico é firmado por identificação dos corpúsculos de Donovan (i. e., células mononucleares grandes preenchidas por bastonetes Gram-negativos intracitoplasmáticos) nos esfregaços de tecidos, nas amostras de biopsia ou em cultura. O diagnóstico é confirmado pela identificação de corpúsculos de Donovan ao exame microscópico de amostra corada com Wright-Giemsa. No momento, não há testes de PCR para DNA de C. granulomatis aprovados pela FDA. REFERÊNCIAS Hoffman, Barbara, L. et ai. Ginecologia de Williams . Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo A, 2014.
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