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A INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL DO ARTIGO 198 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Segundo o que estabelece o artigo 198 do Código de Processo Penal1 (BRASIL, 1941): “O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do convencimento do juiz.” Acontece que, essa parte final vai na contramão do artigo 186 parágrafo único (que por sinal, é uma norma nova acrescentada pela lei 10.792 de 2003) que apresenta uma ideia contrária: “o silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa” além disso, o artigo em questão possui incompatibilidade com a Constituição no artigo 5º, LXIII2: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. Além de ser um claro exemplo de inconstitucionalidade o trecho não está em conformidade com diversas outras normas e tratados internacionais como o famoso pacto são José da Costa Rica que reitera o mesmo entendimento constitucional no seu artigo 8º, 2, g3 “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: g) direito de não ser obrigado a depor contra si, nem declarar-se culpado...” Segundo os ensinamentos do professor Aury Lopes junior4, a recursa do acusado em se manifestar é um típico exemplo da chamada Defesa Pessoal Negativa que pode ser conceituada como: “A defesa pessoal negativa, como o próprio nome diz, estrutura-se a partir de uma recusa, um não fazer. É o direito de o imputado não fazer 1 BRASIL, Código de Processo Penal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del3689compilado.htm> Acesso em 10/06/2022. 2 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em 10/06/2022. 3 Organização dos Estados Americanos, Convenção Americana de Direitos Humanos (“Pacto de San José de Costa Rica”), 1969. 4 Lopes Jr., Aury Direito processual penal / Aury Lopes Jr. – 16. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019.1. Processo penal – Brasil I. Tıt́ulo. prova contra si mesmo, podendo recusar-se a praticar todo e qualquer ato probatório que entenda prejudicial à sua defesa (direito de calar no interrogatório, recusar-se a participar de acareações, reconhecimentos, submeter-se a exames periciais etc.).(LOPES Jr, 2019, pg.442)” No entanto, por que tal dispositivo existe no código de processo penal? Bom, primeiramente é importante lembrar que o CPP é de 1941 sendo assim, muitos dos seus dispositivos são ultrapassados. As questões envolvendo à confissão é um grande exemplo, sendo que está já foi considerada a “Rainha das provas”, no entanto não é o entendimento atual como explica o professor Lopes jr (2019, p. 544): “[...] Em suma, a confissão não é mais, felizmente, a rainha das provas, como no processo inquisitório medieval [...]”. Deste modo, tomando como base a hierarquia das normas, a leitura do artigo 198 deve ser feita se baseando no texto constitucional e assim, tudo aquilo que não é compatível com a carta magna deve ser considerado inconstitucional. Segundo Lopes Jr. : “art. 198 do CPP deve ser lido à luz do direito constitucional de silêncio e em conformidade com a estrutura do devido processo. Assim, o silêncio não importará confissão, e tampouco pode ser (des)valorado pelo juiz. Ou seja, é substancialmente inconstitucional a última parte do referido artigo, quando afirma que o silêncio do acusado ‘poderá constituir elemento para a formação do convencimento do juiz” (LOPES Jr. 2019, p. 545)”
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