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Ideias_fundamentais_dos_DH

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Teorias críticas
Profa. Débora Roland – DCJUR/IM/UFRRJ - 2022
O monismo na cultura jurídica
Positivismo normativista – o que é?
Significado para o desenvolvimento do 
capitalismo e para o fortalecimento do 
Estado nação moderno
Profa. Débora Roland - 2022 2
A escola do direito natural racional
Surge nos séculos XVI a 
XVIII – essa época 
identifica-se com o 
surgimento da economia 
capitalista e avanços 
das ciências exatas e 
da biologia, resultante 
da experimentação, das 
mudanças políticas e 
científicas que 
repercutem nas áreas 
das ciências sociais e 
na visão do direito;
De uma forma geral 
podemos afirmar que o 
direito constituía uma 
ordem preestabelecida, 
decorrente da natureza 
do homem e da 
sociedade. 
A razão era o 
instrumento adequado 
para se descobrir uma 
ordem jurídica natural 
e seus fundamentos. 
E isso se devia ao fato 
de que os homens eram 
capazes de pensar, 
refletir, raciocinar, 
ponderar e concluir.
Afasta-se da ideia 
fatalista dos 
“desígnios de Deus”, 
levando à importantes 
mudanças teológicas, 
muito embora ainda 
persistisse um forte 
sentimento religioso, 
que percebia a 
capacidade de 
raciocinar como um dom 
divino.
Profa. Débora Roland - 2022 3
Noções fundamentais
• Genericamente, podemos afirmar que para o positivismo
jurídico o direito é tão somente aquele positivado.
• Em termos mais precisos: direito positivo é o direito
posto pelo poder soberano do Estado, mediante normas
gerais e abstratas, isto é, como “lei”.
• O positivismo nasce do impulso histórico para a
legislação, se realiza quando a lei se torna fonte
exclusiva – ou, de qualquer modo, absolutamente
prevalente – do direito, e seu resultado último é
representado pela codificação.
Profa. Débora Roland - 2022 4
Ideias-matrizes = princípios ideológicos
• Os princípios ideológicos implícitos ao movimento pela codificação do direito, como se verificou no
Estado moderno, apresentam duas marcas racionalistas, como identifica Bobbio:
1. Dar prevalência à lei como fonte do direito significa conceber uma firme ideia de que se trata de um
ordenamento racional da sociedade: o direito não pode ser fruto de um capricho ocasional, de
interesses escusos e do arbítrio; o direito é constituído de normas gerais e coerentes postas pelo
poder soberano da sociedade, assim como a ordem do universo repousa em leis naturais, universais e
imutáveis;
2. O dar prevalência à lei como fonte do direito nasce do propósito do homem de modificar a sociedade.
Dessa forma seria possível transformar a sociedade mediante a formulação de novas leis, desde que
seja posta conscientemente, segundo uma finalidade racional.
+ Por esse motivo, a teoria não aceita o costume como fonte do direito, já que ele traz a marca da
inconsciência, da insensatez. Assim, o costume é uma fonte passiva, a lei é uma fonte ativa do
direito.
+ Bobbio finaliza: Em síntese, o impulso para a legislação nasce da dupla exigência de pôr ordem no
caos do direito primitivo e de fornecer ao Estado um instrumento eficaz para intervenção na vida
social
Profa. Débora Roland - 2022 5
O impulso 
para a 
legislação
• Não se trata de um fato isolado, limitado, mas um movimento 
universal e irreversível, como podemos atestar hoje, e que 
está associado à formação do Estado moderno. 
• O filósofo e jurista Jeremy Bentham, expoente utilitarista, 
influenciou profundamente as reformas legislativas e o 
desenvolvimento do sistema de fontes do direito na Inglaterra 
e nos Estados da common law, onde não se formulou a 
codificação.
• O caso da Alemanha: Bobbio relata a reação da escola 
histórica liderada por Savigny, em virtude da questão 
geopolítica vivida pelo país no século XIX que 
impossibilitava a formulação de uma codificação única.
• Assim, a escola do direito científico assumiu a função 
histórica da legislação. Por esse motivo, essa escola é 
considerada como um filão da corrente do positivismo jurídico 
que postulava o seguinte:
+ A concepção do direito como uma realidade socialmente dada 
ou posta; e
+ Como unidade sistemática de normas gerais.
Profa. Débora Roland - 2022 6
Sete pontos fundamentais da doutrina 
juspositivista, segundo Bobbio
1.Quanto ao modo de abordar o direito: o positivismo jurídico considera o direito 
como um fato e não como um valor
▪ O que significa isso?
Em última instância, significa que o direito deve se abster de formular juízos de 
valor. Direito e moral são temas distintos, que não se deve misturar.
O direito é tal que prescinde do fato de ser bom ou mau, de ser um valor (justo) ou 
um desvalor (injusto)
Deste comportamento deriva uma particular teoria da validade do direito, dita 
teoria do formalismo jurídico, na qual a validade do direito se funda em critérios 
que concernem unicamente à sua estrutural formal (seu aspecto exterior), 
prescindindo do seu conteúdo.
Profa. Débora Roland - 2022 7
Sete pontos fundamentais da doutrina 
juspositivista, segundo Bobbio
2.Quanto à definição do direito: o juspositivismo define o direito em função do elemento da 
coação, de onde deriva a teoria da coatividade do direito. 
Não obstante a origem da teoria da coatividade do direito, ela ganha expressão com o 
positivismo que considera o direito como um fato, aquele que vige numa determinada sociedade 
que cria normas que devem prevalecer por meio da força.
3.Quanto às fontes do direito
O positivismo jurídico se desenvolve com a teoria da legislação como fonte superior do direito, 
ou seja, o direito como sub specie legis (= ao abrigo da lei), destacando, entretanto, que as 
outras fontes do direito não desaparecem.
Para se afirmar como fonte superior do direito, a teoria formula regras de relacionamento entre 
a lei e o costume, entre a lei e o direito judiciário, e entre a lei e o direito 
consuetudinário.
Profa. Débora Roland - 2022 8
Sete pontos fundamentais da doutrina 
juspositivista, segundo Bobbio
4.Quanto à teoria da norma jurídica: o positivismo considera a norma como um comando, 
formulando a teoria imperativista do direito, que por sua vez formula uma série ideias de 
como as normas se comportam, como as normas são aplicadas.
5.Quanto à teoria do ordenamento jurídico: o foco aqui é o conjunto de normas, e não mais a 
norma isoladamente. Para tanto, trabalha com duas ideias concomitantes:
a) A característica da coerência do ordenamento, que estatui a existência de apenas um único 
ordenamento jurídico de forma a permitir a coexistência de duas normas antinômicas 
(contraditórias), e apontando a saída para o impasse: uma delas, ou as duas, são inválidas e devem 
ser expelidas do ordenamento jurídico
b) A característica da completude do ordenamento, significando dizer que a resposta à solução do 
impasse jurídico se encontra no próprio ordenamento explícita ou implicitamente, afastando a 
possibilidade da existência de lacunas do direito
Profa. Débora Roland - 2022 9
Sete pontos fundamentais da doutrina 
juspositivista, segundo Bobbio
6.Quanto à interpretação do direito, ou seja, ao método da ciência jurídica: o 
aspecto salientado se refere ao modo de compreender a atividade científica do 
jurista, a interpretação estrito senso, integração, construção e criação do 
sistema. O positivismo prega a teoria mecanicista da interpretação, que faz 
prevalecer o elemento declarativo sobre o criativo do direito.
7.Quanto à obediência, ao formular a teoria da obediência, em que o jurista deve 
observar o comando da lei enquanto lei, sintetizada pelo aforismo “lei é lei”.
Lembremos de outro aforismo muito popular: dura lex sed lex, ou seja, 
a lei é dura, mas é a lei.
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O positivismo jurídico como postura 
científica
Profa. Débora Roland - 2022 11
O positivismo jurídico nasce 
do esforço de transformar o 
estudo do direito numa 
verdadeira e adequada 
ciência que tivesse as 
mesmas características das 
ciências físico-matemáticas, 
naturais e sociais.
A característica fundamentalda ciência consiste em sua 
avaloratividade, isto é, na 
distinção entre juízos de 
fato e juízos de valor:
Juízo de fato representa uma 
tomada de conhecimento da 
realidade, cuja finalidade é 
informar, comunicar aos 
outros minha constatação;
Juízo de valor representa 
uma tomada de posição frente 
à realidade, com o objetivo 
de influir sobre o outro, de 
fazer com que o outro 
realize uma escolha igual à 
sua;
A ciência, no entendimento 
da época, excluía em seu 
âmbito os juízos de valor, 
porque ela desejava um 
conhecimento puramente 
objetivo da realidade
O direito como fato, não como valor!
Juspositivismo: o direito tal como ele é
• O positivismo jurídico assume a posição científica frente ao direito estudando-o tal 
qual é, não tal qual deveria ser:
• Assim, o direito como objeto da ciência jurídica, é aquele que efetivamente se 
manifesta na realidade histórico-social; o juspositivista estuda tal direito real sem 
se perguntar se além deste existe também um direito ideal (como aquele natural), sem 
examinar se o primeiro corresponde ou não ao segundo e, sobretudo, sem fazer depender 
a validade do direito real da sua correspondência com o direito ideal.
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Ainda o direito tal como ele é
Profa. Débora Roland - 2022 13
O romanista, por exemplo, considerará direito 
romano tudo o que a sociedade romana considerava 
como tal, sem fazer intervir um juízo de valor 
que distinga entre direito “justo” ou 
“verdadeiro” e direito “injusto” ou “aparente”.
Assim a escravidão será considerada um 
instituto jurídico como qualquer outro, 
mesmo que dela se possa dar uma valoração 
negativa.
Positivismo x 
Jusnaturalismo
• O esforço de conferir ao direito o status de 
ciência, leva o positivismo jurídico a se 
contrapor ao jusnaturalismo, que sustenta que 
deve fazer parte do estudo do direito real 
também a sua valoração com base no direito 
ideal, pelo que na definição do direito se 
deve introduzir uma qualificação, que 
discrimine o direito tal qual é segundo um 
critério estabelecido do ponto de vista do 
direito tal qual deve ser.
Profa. Débora Roland - 2022 14
Validade do direito e valor do direito
• Norberto Bobbio, no intuito de esclarecer esses dois modos de perceber o direito, 
entende ser conveniente esclarecer a distinção entre os dois conceitos:
+ Validade de uma norma jurídica indica a qualidade de tal norma, atestando sua existência no 
ordenamento jurídico real, efetivamente existente numa dada sociedade;
• Validade x invalidade
+ Valor da norma indica que tal norma é conforme o direito ideal, entendido como síntese de 
todos os valores fundamentais nos quais o direito deve se inspirar;
• Justa (valor) x injusta (desvalor)
• A posição jusnaturalista sustenta que para uma norma ser válida deve ser valorosa 
(justa); nem todo o direito existente é portanto direito válido, porque nem todo é 
justo. Esta posição identifica o conceito de validade e o de valor, reduzindo o 
primeiro ao segundo.
Profa. Débora Roland - 2022 15
O positivismo formalista (normativista)
• Bobbio afirma que podemos precisar a característica fundamental das definições 
positivistas, qual seja, a representada pelo fato de que as mesmas procuram 
estabelecer o que é direito independente do seu conteúdo, ou seja, da matéria objeto 
de regulação.
• Em razão da diversidade social, econômica, política das comunidades, não é possível 
traçar um conteúdo único, ou mesmo uma matéria que hoje não está contemplada no 
ordenamento jurídico que não possa ser no futuro. 
• Assim, o direito pode disciplinar todas as condutas possíveis, ou ainda, todos os 
comportamentos que não são nem necessários, nem impossíveis, visto que nesses dois 
casos seria supérflua ou vã.
• Este modo de definir o direito pode ser chamado de FORMALISMO JURÍDICO
• A concepção formal do direito define o direito exclusivamente em função da sua 
estrutura formal, independentemente de seu conteúdo.
Profa. Débora Roland - 2022 16
Concluindo
1) No positivismo formalista ou normativista separa-se o domínio do ser e do dever
ser na ciência (representa o direito tal como ele é e não como ele deveria ser, o
que supõe uma separação entre o direito e a moral).
2) Considera-se como direito só as normas em vigor em uma dada sociedade.
3) Considera-se igualmente que a análise dos conceitos jurídicos deve ser distinguida
de todo estudo a respeito da origem histórica ou sociológica da norma e que os
julgamentos ideológicos, diferentemente dos julgamentos de fatos, não podem ser
objeto de discussão racional.
4) Para Pablo Serrano, abstrai-se o julgamento da validez da norma do julgamento do
conteúdo dessa norma; assim, a definição do direito se apoiaria no seu caráter
coercitivo
Profa. Débora Roland - 2022 17
Afinal, o que é teoria crítica do direito?
• Propõe uma ruptura com a ordem prevalecente do direito: oferece novas alternativas ao monismo
jurídico
• Sugere novos paradigmas éticos, preconizando formas diferenciadas, não repressivas e
emancipadoras de práticas jurídicas, de natureza comunitária, participativa e informal,
assumindo formas de negociação, mediação, conciliação, arbitragem, conselhos populares, que
acontecem em ambientes plurais e conflitantes.
• Para Wolkmer:
+ “O instrumental pedagógico operante (teórico-prático) que permite a sujeitos inertes e mitificados uma
tomada de consciência, desencadeando processos que conduzem à formação de agentes sociais possuidores de
uma concepção de mundo racionalizada, antidogmática, participativa e transformadora. Trata-se de proposta
que não parte de abstrações, de um a priori dado, da elaboração mental pura e simples, mas da experiência
histórico-concreta, da prática cotidiana insurgente, dos conflitos e das interações sociais e das
necessidades humanas essenciais”.
• A teoria crítica do direito se alia à sociologia, à filosofia, à política e à economia para
atender às demandas sociais que ficaram alijadas de qualquer atendimento pelo Estado e seus
órgãos.
Profa. Débora Roland - 2022 18
Aula do Prof. Wolkmer
• Importante aula sobre teoria crítica que os 
alunos devem acompanhar. Segue o link da 
aula:
• https://youtu.be/EiDyfXAbBKc
Profa. Débora Roland - 2022 19
https://youtu.be/EiDyfXAbBKc
A teoria crítica representa
• Questionamento da ordem jurídica estatal
• Ruptura com o conhecimento, discurso e comportamento ordenado e 
oficialmente consagrado em dada realidade social
• Possibilidade de conceber e operacionalizar outras formas 
diferenciadas, não repressivas e emancipadoras da ordem e prática 
jurídica
• Compor uma nova ordem ética-jurídica
Profa. Débora Roland - 2022 20
Wolkmer, mais uma vez
Profa. Débora Roland - 2022 21
Tópicos das teorias críticas do direito, 
segundo Warat
• Warat, em A PUREZA DO PODER, compila em 5 tópicos, os enunciados mais importantes das diferentes 
abordagens críticas do direito, apresentados aqui em síntese:
1) Diagnosticar os efeitos sociais do normativismo jurídico, mostrando como essas doutrinas jurídicas egocêntricas encobrem e 
reafirmam as funções sociais do direito e do Estado;
2) Mostrar os mecanismos discursivos se converte em discursos fetichizados;
3) Denunciar como as funções políticas e ideológicas das concepções normativistas do direito e do Estado se apoiam na falaciosa 
separação entre direito e política. A teoria crítica então proporia uma inversão, ou seja, refletir sobre as dimensões políticas
do direito. Trata-se assim, de uma reflexão que tenta não esquecer que o jurídico é político e que a política contém um viés 
político.
4) Rever as bases epistemológicas do direito, em especial, como as crenças teóricas dos juristas em torno da verdade e da 
objetividade cumprem uma função para desvirtuar os conflitos sociais, passíveis de serem harmonizadas pelo direito estatal.
5) Superar a ideia do direito como um modelo abstrato, mas sim como um saber técnico, destinado a conciliação de interesses 
individuais, à preservaçãoe à administração dos interesses gerais e à aplicação de sanções tuteladas pela moral. O direito deve
então ser incluído nas práticas sociais, pertencendo a um locus particular do Estado na sociedade, por meio do qual ele realiza 
seu projeto político.
OBS: Link para obter o livro em pdf: A Pureza do Poder – Abdet
Profa. Débora Roland - 2022 22
https://abdet.com.br/site/luis-alberto-warat/a-pureza-do-poder/
O que é o monismo jurídico?
• Inicialmente, convém afirmar que a modernidade burguesa-capitalista 
adotou um modelo burocrático, jurídico, ideológico, econômico e 
político, de acordo com seus valores e interesses, com os seguintes 
paradigmas como forma institucional de poder, ao lado de uma burocracia 
racional-legal:
+ Sociedade burguesa
+ Economia capitalista
+ Ideologia liberal-individualista
+ Estado soberano
Profa. Débora Roland - 2022 23
Três ciclos do monismo
• Partindo da ideia de que o Estado é a única fonte legítima de produção normativa, 
o monismo passou por ciclos:
1) Entre os séculos XVI e XVII: tendo como marco teórico as ideias de Hobbes, o monismo jurídico se 
associa ao declínio do feudalismo, o direito passa a ser compreendido como expressão criadora da 
vontade do monarca soberano;
2) A partir da revolução francesa até o século XIX, procura-se separar o direito da ética;
3) Abrange desde o início do século XX até os anos de 1960, buscou-se uma legalidade dogmática com 
pretensões de cientificidade, resultante de:
a. Expansão do intervencionismo estatal na esfera da produção e do trabalho;
b. Passagem de um capitalismo industrial para um capitalismo monopolista organizado;
c. Implementação de políticas sociais de natureza distributiva;
d. Estatismo jurídico ocidental da Escola de Viena, descartando do direito qualquer vestígio de 
ética e fundindo os conceitos de Direito e Estado;
4) A partir dos anos de 1970, com a globalização do capital monopolista, da crise fiscal, 
ingovernabilidade do Estado do Bem-Estar Social e seu enfraquecimento, demandou novas formas de 
ordenação.
Profa. Débora Roland - 2022 24
1) Direito alternativo
2) Pluralismo jurídico
3) Teoria dialética do direito
Três teorias críticas que 
repercutiram no Brasil
Premissas do Direito alternativo
• Crítica ao modelo jurídico tradicional
• Idealização do Estado democrático de direito → Estado Social
• Propunha-se a realizar uma crítica ao juspositivismo
• Buscava um direito interpretado e aplicado de forma a atender a 
sociedade:
+ Ao encontro dos desfavorecidos
+ De encontro ao direito legalista que privilegiava as elites
Profa. Débora Roland - 2022 26
O que é direito alternativo?
• Não possui um conceito exato e bem delineado: ausência de marcos teóricos definidos,
refletindo muitas tendências e autores de escolas diversas
• Centrado na busca de um sentido de justiça para o direito, privilegiando uma
interpretação mais justa, e por um sistema democrático focado nos problemas da sociedade
como objetivo principal do direito.
• “O Direito Alternativo por estar comprometido com o diverso do usual predominante, por
ter assumido posição de classe, por não ter compromisso com dogmas, permite a atuação
firme e eticamente definida de estar ao lado do frágil sem receio [...] do novo e sem
necessitar [...] de ‘verdades definitivas’. Enfim, está, sempre e sempre, disposto a
criar, com todos os riscos que tal representa”. (Amilton Bueno de Carvalho)
• V. em PIRES, Fabricia Lima. DIREITO ALTERNATIVO: A INFLUÊNCIA NA APLICAÇÃO DO DIREITO BRASILEIRO, NA ATUALIDADE.
CADERNOS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, v. 3, n. 1, 2018.
Texto disponibilizado no SIGAA
Profa. Débora Roland - 2022 27
Virtudes e críticas
• Colaborou com a desconstrução do modelo de ditadura, contribuindo para a 
efetividade da Constituição
• Criou oportunidades para discutir e refletir sobre o modelo de direito vigente
• Não via o direito fora da esfera estatal, mas pleiteava um direito voltado para 
as necessidades da sociedade
• Ir de encontro ao direito posto
• Fomentar o ativismo judicial ilimitado
Profa. Débora Roland - 2022 28
“O direito é maior do que as fontes 
formais do direito” Jean Carbonnier
• No âmbito da sociologia jurídica encontramos uma forte corrente que sustenta a 
tese do pluralismo dos ordenamentos jurídicos (juridicidade policêntrica). Os 
seus adeptos adotam um conceito sociológico do direito, muito mais vasto do que o 
conceito do positivismo jurídico, que identifica o Direito com o Estado.
• Pode-se dizer, sob esta perspectiva, que o direito não depende da sanção do 
Estado, ou seja, não se encontra exclusivamente nas fontes oficiais do direito 
oficial-estatal (constituição, leis, decretos). 
• O direito é considerado como manifestação de eficácia de um sistema de regras e 
sanções que podem ser observadas na prática social e na consciência dos 
indivíduos.
Profa. Débora Roland - 2022 29
Pluralismo jurídico
• Compreende o direito como manifestação autônoma da imagem estatal, pois ele surge da 
expressão da população e pode ou não ser oficial.
• O pluralismo jurídico se apresenta em duas versões: uma teoria antropológica e uma 
teoria política.
+ Segundo a teoria antropológica consiste em uma corrente doutrinária que acredita na pluralidade 
dos grupos sociais, percebendo a existência de sistemas jurídicos múltiplos que seguem relações 
de colaboração, coexistência, competição ou negação; nesse sentido, o indivíduo é um ser do 
pluralismo jurídico na medida em que ele se determina em função de seus vínculos sociais e 
jurídicos.
+ No plano político existem teorias que tendem a relativizar a tendência do Estado de se 
apresentar, através da primazia da lei, sendo essa a fonte principal do direito. 
• No plano metodológico essas duas teorias permanecem na necessidade de pesquisar as 
manifestações do direito fora dos domínios onde a teoria clássica das fontes do direito 
se situa.
Profa. Débora Roland - 2022 30
Pluralismo jurídico e direitos humanos
• Novo milênio:
+ Repensar um projeto social e político contra hegemônico
+ Ressignificar outro modo de vida impulsiona a dimensão cultural por outras 
modalidades de experiência, de relações sociais e ordenações → prioridade na 
força da sociedade como novo espaço comunitário
+ Repensar politicamente o poder de ação da comunidade → fundamental pensar 
novas formas plurais emancipatórias e contra hegemônicas de legitimação do 
direito
+ Na AL = instituir uma cultura político-jurídica mais democrática
+ Pluralismo não como possibilidade, mas como condição primeira.
• WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo jurídico, direitos humanos e interculturalidade. Seqüência: Estudos Jurídicos e Políticos, v. 27, n. 53, p. 113-128, 
2006.
Profa. Débora Roland - 2022 31
Texto organizado em 3 tópicos:
Profa. Débora Roland - 2022 32
1. Processos de mundialização e 
ações políticas contra hegemônicas
• Dois processos de mundialização: globalização e neoliberalismo
• Globalização: mundialização de políticas econômicas, comerciais e
financeiras de grandes conglomerados empresariais:
+ Ampliação do espaço, Desterritorialização, Transnacionalização econômica,
tecnológica e cultural
• Neoliberalismo: doutrina teórico-prática de justificação e
legitimização.
+ Esse sistema de valores acabou por eximir o Estado de grande parcela de
responsabilidade, contribuindo para acelerar desequilíbrios econômicos, elevar
taxas de desemprego, desigualdade social, desajustes no cotidiano das
comunidades locais e genocídio cultural.
Profa. Débora Roland - 2022 33
Esgotamento do Estado-nação
• Políticas tradicionais e padrões normativos são desafiados por esses sistemas de 
mundialização
• Abre-se dessa forma, um horizonte de questões a serem discutidas e debatidas na 
procura de estruturas alternativas capazes de formular novas diretrizes, práticas 
e regulações voltadas para o reconhecimento à diferença de uma vida humana com 
maior identidade, autonomia e dignidade.
• Novo espaço comunitário• O pluralismo comprometido com a alteridade e com a diversidade cultural projeta—
se como um instrumento contra hegemônico → exercício democrático que viabiliza o 
cenário de construção de afirmação dos direitos humanos.
Profa. Débora Roland - 2022 34
2. Pluralismo na perspectiva da 
alteridade e da participação
• Pluralismo fundado em democracia → expressa o reconhecimento dos valores coletivos →
multiculturalismo
• Multilateralismo em visão emancipatória (decolonial) 
+ Reconhecimento do direito à diferença
+ Coexistência ou construção de uma vida em comum
• Multiculturalismo se torna assim, uma das formas possíveis de reconhecimento e articulação das 
diferenças culturais.
• Nova cultura jurídica - pluralismo jurídico: rica produção informal engendrada pelas condições 
materiais, lutas sociais e contradições pluriclassistas, permitindo avançar numa redefinição e 
afirmação dos direitos humanos numa perspectiva de interculturalidade → nenhuma cultura é um 
absoluto; horizonte de diálogo
• “Os centros geradores do Direito não se reduzem tão somente às instituições oficiais e aos órgãos 
representativos do monopólio do Estado Moderno, pois o Direito, por estar inserido nas práticas e nas 
relações sociais das quais é fruto, emerge de diversos centros de produção normativa”. (Wolkmer)
Profa. Débora Roland - 2022 35
3. Direitos humanos: sua dimensão 
intercultural e emancipatória
• Inicialmente, do século XVII até meados do século XX, os direitos humanos foi centrado no 
individualismo e na legitimação de sua produção pelo Estado-nação → formalismo monista
• Boaventura apresenta 2 limites:
+ Direitos humanos confinados ao direito estatal
+ Ênfase técnico-formal pela promulgação positiva de direitos
• Nova fase histórica: questionar a natureza individualista, essencialista, estatista e 
formalista dos direitos, a partir de uma redefinição multicultural de direitos humanos →
reconhecimento da diferença, criação de políticas sociais voltadas para a redução das 
desigualdades, a redistribuição de recursos e a inclusão.
• “Sintetizando, é na perspectiva paradigmática do Pluralismo Jurídico de tipo comunitário-
participativo e com base num diálogo intercultural que se deverá definir e interpretar os 
marcos de uma nova concepção de direitos humanos”.
• WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo jurídico, direitos humanos e interculturalidade. Seqüência: Estudos Jurídicos e 
Políticos, v. 27, n. 53, p. 113-128, 2006.
Profa. Débora Roland - 2022 36
Teoria dialética do Direito – Roberto 
Lyra Filho
• Roberto Lyra Filho, ao tempo da redemocratização do país, afastou-se da ideia 
de uma hermenêutica jurídica que queria trazer justiça mediante uma nova 
interpretação do direito. O direito não pode ser entendido como expressão da 
soberania popular, mas sim como um mecanismo que beneficia grupos de 
interesse. 
+ Nesse passo, nenhum sistema injusto poderia produzir uma hermenêutica justa.
• Além disso, a análise dos discursos hegemônicos revela as suas bases 
ideológicas, mas tende a afirmar a impossibilidade de um discurso 
alternativo. Diversamente dessas posturas, entendidas por Lyra como 
conservadoras, ele buscou elaborar uma teoria engajada em um projeto político 
emancipador.
Profa. Débora Roland - 2022 37
Uma teoria crítica
• Para realizar seus objetivos, Lyra Filho não podia se limitar a promover uma crítica 
constitucional ao direito legislado nem uma análise das estruturas de poder que conformam 
o discurso jurídico. Consciente dos desenvolvimentos contemporâneos da filosofia da 
linguagem, da hermenêutica e da tópica, Lyra buscou ultrapassar os limites impostos por 
essas perspectivas analíticas e realizar efetivamente uma teoria crítica, consubstanciada 
em uma teoria marxista que contestava a validade do direito oficial como um todo, 
especialmente a própria constituição, com base na afirmação de critérios de legitimidade 
que estavam para além daqueles que organizavam a prática jurídica efetiva.
• A partir de 1978, nos quais ele buscou desenvolver uma concepção que ele próprio designou 
como humanismo dialético: uma teoria jurídica de inspiração marxiana, politicamente 
engajada na implantação de um socialismo democrático.
• COSTA, Alexandre Araújo; COELHO, Inocêncio Mártires. Teoria dialética do direito: a filosofia jurídica de Roberto Lyra 
Filho. 2017. Disponível em: Teoria Dialética do Direito: a filosofia jurídica de Roberto Lyra Filho (unb.br)
Profa. Débora Roland - 2022 38
https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/22443/5/Teoria%20dial%C3%A9tica%20do%20direito%20-%20a%20filosofia%20jur%C3%ADdica%20de%20Roberto%20Lyra%20Filho%20-%20Alexandre%20A.%20Costa%2C%20Inocencio%20M.%20Coelho.pdf
Ainda a teoria dialética
• Para Lyra Filho, a compreensão unitária de fenômenos sociais em constante 
transformação somente poderia ser concebida dialeticamente. Toda vez que 
indica a necessidade de uma abordagem dialética, Lyra diagnostica que há um 
embate entre concepções (positivismo e naturalismo, culturalismo e 
naturalismo, sociologismo e psicologismo, compreensão e explicação, 
individual e coletivo, cultura e contracultura, etc.) e que nenhuma delas é 
capaz de esclarecer devidamente a complexidade dos objetos analisados. 
• Assim, a dialética surge como modo de abordar as questões sociais dentro de 
um quadro de historicidade, compreendendo as tensões existentes e 
desenvolvendo uma concepção unitária que incorpora elementos das concepções 
colidentes, constituindo uma síntese superadora dos elementos em tensão.
Profa. Débora Roland - 2022 39
Um direito sem dogmas
• Lyra Filho desferiu golpes certeiros contra os conceitos estabelecidos no imaginário dos 
juristas, e porque neles ouviu retinir um som oco e doente, propôs a criação de uma ciência 
jurídica sem dogmas.
• Estabelecendo uma relação entre o dogma teológico e o dogma jurídico, afirmava que tanto a 
dogmática teológica como a jurídica são conhecimentos voltados a identificar quais condutas 
humanas correspondem ao devido cumprimento de certas regras (religiosas ou jurídicas) e 
quais correspondem a violações a serem punidas (pecados ou infrações).
• Portanto, ambas são parte do processo de estabilização das relações de poder inscritas nos 
conjuntos normativos que essas dogmáticas têm por objetivo esclarecer e perpetuar.
• Os discursos dogmáticos, assim, constituem saberes politicamente engajados em um projeto 
político conservador: a busca de estabilizar expectativas e (re)produzir consensos, criando 
a ilusão ideológica de que é possível uma aplicação técnica e imparcial das normas vigentes. 
Neste ponto, Lyra se alinha com a crítica marxista ao direito, acentuando que não é possível 
efetuar um movimento emancipatório a partir de um discurso que, por ser dogmático, é 
comprometido com a manutenção das estruturas vigentes de poder.
Profa. Débora Roland - 2022 40

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