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E-book 4 LIBRAS Juliane Farah Arnone Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 MOMENTO TEÓRICO: QUESTÕES ACERCA DO ENSINO BILÍNGUE PARA SURDOS ���������������������������������������������4 MOMENTO PRÁTICO: FLEXÃO, DERIVAÇÃO E FENÔMENOS LEXICAIS NA LIBRAS ��������������������������������� 9 Flexão na Libras ���������������������������������������������������� 10 Incorporação de quantidade �������������������������������� 11 Incorporação de negação ������������������������������������� 13 Incorporação de argumento ��������������������������������� 15 Derivação ��������������������������������������������������������������� 16 Derivação por alteração de um sinal ������������������� 16 Derivação por composição ���������������������������������� 17 Fenômenos lexicais na Libras ������������������������������ 19 Sinonímia ��������������������������������������������������������������� 19 Antonímia �������������������������������������������������������������� 20 Homonímia ������������������������������������������������������������ 21 Paronímia �������������������������������������������������������������� 23 Polissemia ������������������������������������������������������������� 23 VAMOS PRATICAR? ���������������������������������26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������� 32 SÍNTESE ������������������������������������������������������� 33 2 INTRODUÇÃO No quarto momento teórico, iremos analisar algu- mas questões que permeiam o ensino bilíngue para surdos� No momento prático, estudaremos sobre a morfologia da língua� Vamos entender alguns pro- cessos de formação de sinais que envolvem a flexão e a derivação� Além disso, iremos estudar também alguns fenômenos lexicais envolvendo os sinais, como a sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia e polissemia� Você já conhece esses fenômenos na sua língua, o português� Mas não se preocupe se não lembrar cada um deles, pois explicaremos e daremos alguns exemplos para clarificar. Para finalizar, pratica- remos a Libras com a elaboração de questões com palavras interrogativas, como ONDE, COMO e QUAL� Bons estudos! 3 MOMENTO TEÓRICO: QUESTÕES ACERCA DO ENSINO BILÍNGUE PARA SURDOS O reconhecimento do estatuto linguístico das lín- guas de sinais reverberou na área da educação e, junto com outros fatores, fizeram com que a abor- dagem educacional do bilinguismo ganhasse força� Conforme estudamos anteriormente, nessa aborda- gem, a língua de sinais é ensinada como primeira lín- gua (L1), e a língua principal de instrução dos surdos e a língua oral na sua forma escrita é ensinada como segunda língua (L2), após a aquisição da L1� Essa abordagem permite o desenvolvimento linguístico esperado e similar ao de crianças ouvintes, além de favorecer a construção de uma identidade linguística e cultural do aluno surdo� Segundo o Relatório do Grupo de Trabalho, desig- nado pelas Portarias nº 1�060/2013 e nº 91/2013, contendo subsídios para a Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa, por meio das garantias e direi- tos legais “os surdos devem ser vinculados a uma educação linguístico/cultural e não a uma educação especial marcada pela definição da surdez como falta sensorial, como anomalia a ser reabilitada ou corrigida por tentativas cirúrgicas” (2014, p� 6)� A educação bilíngue está em consonância com essa 4 ideia, pois promove condições para que a língua de sinais ajude na construção de uma cultura singular para o surdo, sem desconsiderar o ensino do portu- guês como fator importante ao desenvolvimento do aluno, uma vez que é a língua majoritária da socieda- de brasileira e por meio da qual muitas informações são veiculadas� Você pode estar se perguntando como deve ser ela- borado o currículo escolar do ensino bilíngue para surdos� Elaborar um currículo bilíngue é realmente um desafio. Primeiro, pois deve levar em considera- ção o ensino de Libras como L1� Desse modo, deve- mos nos questionar como e por que ensinar a língua materna na escola? O segundo desafio é abarcar as diferentes realidades das crianças surdas� Enquanto algumas já têm vivência com a Libras, outras não tiveram contato algum com a língua� Segundo Travaglia (2002), o ensino da língua materna na escola se justifica principalmente para que o aluno desenvolva competência comunicativa, tornando-o apto a se comunicar e a entender aquilo que os ou- tros comunicam nas diversas situações de uso da língua� Ao desenvolver a competência comunicativa, a pessoa consegue utilizar a língua para os mais variados fins, além de compreender o uso que as outras pessoas fazem, seja na língua oral, na escrita ou na língua de sinais, na variedade padrão ou não� No caso das línguas de sinais, o objeto de estudo da língua na escola é o texto em Libras, por meio de in- terações face a face ou de vídeos, nas mais variadas 5 esferas discursivas� São os chamados texto-discurso em língua de sinais (ALBRES; SARUTA, 2013)� Segundo Albres e Saruta (2013), a construção de um currículo bilíngue para o ensino de crianças e jovens surdos requer uma reflexão coletiva sobre o processo de aquisição da linguagem pelas crianças surdas e pesquisa sobre a arquitetura curricular de ensino de língua materna� Um problema relatado pelas autoras para a elaboração do currículo bilín- gue é a pequena quantidade de estudos linguísticos sobre a língua, principalmente em uma perspectiva discursiva� Desse modo, é comum os professores de Libras dependerem de poucos materiais que, muitas vezes, não cobrem todos os níveis de análise (fonoló- gico, morfológico, sintático, semântico e pragmático), nem todos os gêneros e esferas discursivas, pois poucos trabalhos adotam como objeto de análise e discussão os gêneros do discurso em Libras� Assim, muitas vezes, o material de apoio para elaboração de currículos de Libras acaba sendo aqueles destinados às línguas orais, o que não é adequado� De qualquer modo, tendo o texto em Libras como objeto de estudo da língua materna, os alunos têm um contato mais próximo com a sua língua e podem desenvolver sua competência linguística� Outro ponto importante com relação ao ensino de Libras como L1 é a necessidade do professor surdo como modelo linguístico� De acordo com o exposto por Giordani (2004, p� 78 apud MACEDO; MATSUMOTO, 2015), “os professores ouvintes, nas 6 escolas de surdos, são ‘estrangeiros’ que se aproxi- mam da língua de sinais e da cultura visual, mas privi- legiam, pelo hábito e pela própria cultura, a modalida- de oral-auditiva”. Daí a importância dos profissionais surdos, com um perfil bilíngue e bicultural, no ensino de surdos. Além de se configurarem para os alunos como interlocutores que compreendem sua língua, são modelos linguísticos que desempenham papel de liderança perante as crianças e adolescentes� Como estudamos nos módulos anteriores, a língua faz parte da construção da subjetividade e carrega consigo um valor identitário� Desse modo, a presen- ça do professor surdo para o ensino da língua de sinais torna-se primordial para que o aluno tenha contato com aquele que tem domínio das diferen- tes linguagens constitutivas da Libras� O professor surdo é também um meio de veiculação da cultura surda� Para saber mais sobre o assunto, acesse o Podcast 1� Podcast 1 O ensino de língua de sinais como L1 para surdos é, como percebemos, importante para o desenvolvi- mento linguístico, comunicativo e subjetivo do alu- no� Por isso, torna-se importante a elaboração de um currículo específico de língua de sinais como L1, que atenda as necessidades de ensino para o aluno surdo, bem como a elaboração de materiais didáticos adequados e diversificados. Além disso, para as famílias que desejam que a língua de sinais 7 https://famonline.instructure.com/files/1108550/download?download_frd=1 seja a língua de instrução do surdo, faz-se necessária a educação bilíngue da criança desde cedo – desdea educação infantil� É nesse período que a criança se encontra em um momento do seu desenvolvimento que é base para a formação de sua subjetividade, “construída por meio da relação que estabelece com outros (pares e adultos) e pela vivência de diversos fatos no ambiente escolar juntamente com aconteci- mentos que experimentam fora da escola, por meio da linguagem” (LODI, 2010, s/pg)� A educação bilíngue desde cedo torna-se importan- te, ainda, pois muitas crianças surdas irão ter con- tato com a língua somente quando ingressam na escola, sendo primordial, quando acontecer, que a escola promova um contato efetivo com a língua� Abordamos aqui algumas questões sobre o currículo do ensino bilíngue, entretanto, muitos surdos frequen- tam escolas inclusivas� Para saber mais sobre esse assunto, acesse o Podcast 2� Podcast 2 8 https://famonline.instructure.com/files/1108552/download?download_frd=1 MOMENTO PRÁTICO: FLEXÃO, DERIVAÇÃO E FENÔMENOS LEXICAIS NA LIBRAS Vamos começar este estudo prático da Libras com a morfologia� A morfologia estuda a estrutura e a formação das palavras� As palavras podem ser for- madas ou modificadas por processos de derivação e flexão� Vamos entender, primeiramente, o proces- so de flexão. A flexão modifica palavras já existen- tes, estabelecendo diferentes relações gramaticais� Como isso ocorre? Pensemos em um substantivo do português, como menino. Podemos modificá-lo flexionando o gênero (masculino e feminino: menino e menina), o número (singular e plural: menino e me- ninos) e o grau (aumentativo e diminutivo: meninão e menininho)� O radical dessa palavra é menin- e a sua flexão vai depender do contexto gramatical. Já no processo de derivação, há a formação de novas palavras por meio de afixação (colocação de sufi- xos, prefixos e infixos) ou por composição (junção de palavras para formação de novas palavras com sentido diferente). Como exemplo de afixação, no português, temos as palavras pedreiro, pedregulho, empedrado etc�, todas derivadas de pedra. Como exemplos de palavras compostas, podemos citar sofá-cama, guarda-chuva etc� 9 Segundo Xavier e Neves, sabe-se muito pouco a respeito de fenômenos semelhantes a esses nas línguas de sinais. Entretanto, observa-se nessas línguas a ocor- rência de processos através dos quais certos sinais sofrem alteração para veicular signifi- cados tipicamente gramaticais (quantidade, negação, pessoa do discurso, intensidade, etc.), bem como outros através dos quais no- vos sinais são criados (XAVIER; NEVES, 2016, p. 131). Estudaremos alguns desses processos a seguir� Flexão na Libras Ainda segundo Xavier e Neves, “os processos que resultam na modificação da forma de alguns sinais da Libras se assemelham ao que se chama de flexão nas línguas orais, justamente por não resultarem na formação de uma nova palavra” (2016, p� 131)� Conforme verificamos no processo de flexão, não há a formação de uma nova palavra, mas sim novas formas da mesma palavra� A mesma coisa acontece na flexão dos sinais. O que ocorre é a constituição de novas formas do mesmo sinal� Segundo os auto- res acima mencionados, na Libras observa-se esse processo quando há a incorporação de elementos que vão alterar o sinal� A incorporação pode ser de 10 quantidade, negação e de argumento� Observemos exemplos de cada um� Incorporação de quantidade Anteriormente, você já aprendeu os numerais na Libras� Esses numerais podem ser incorporados a determinados sinais para modificar a ideia de tem- po� Por exemplo, o sinal de MÊS (para relembrá-lo, observe a Figura 1) pode ser modificado para alterar o sentido. O sinal UM MÊS é realizado com a con- figuração de mão do numeral UM. O sinal de DOIS MESES com a configuração de mão do numeral DOIS e assim sucessivamente� Observe a Figura 2� Figura 1: Realização do sinal MÊS genérico na Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. 11 Figura 2: Incorporação de numeral ao sinal MÊS. Fonte: PEREIRA et al., 2011. O mesmo ocorre com o sinal de HORA, SEMANA, etc. O numeral é incorporado para modificar o sinal e dar a ele um sentido diferente� A incorporação do numeral também ocorre nos pronomes pessoais� Você deve se lembrar do módulo anterior, quando estudamos pronomes. Utiliza-se a incorporação de numeral para indicar os pronomes NÓS DOIS, NÓS TRÊS, NÓS QUATRO, etc� (Figura 3)� Figura 3: Incorporação de numeral aos pronomes pessoais. Fonte: Felipe, 2007. 12 Incorporação de negação A incorporação de negação é bastante produtiva na Libras e ocorre em vários sinais, principalmente em verbos� A negação de um sinal pode ser incorporada pela alteração do movimento do sinal e da orienta- ção da palma� É importante destacar que os verbos negativos são acompanhados de expressões não manuais negativas, como o balanço da cabeça e expressões faciais de negação� Vamos observar na Tabela 4 exemplos de incorporação de negação nos verbos NÃO QUERER; NÃO GOSTAR; NÃO TER; NÃO ENTENDER; e NÃO CONHECER� Verbo sem negação Negação do verbo 13 Verbo sem negação Negação do verbo Tabela 1: Incorporação de negação nos verbos da Libras. Fonte: adap- tado de PEREIRA et al., 2011. Observe que a mudança de movimento pode ocorrer, mas não é obrigatória� Nos sinais NÃO CONHECER e NÃO ENTENDER há apenas a negação representada 14 nos aspectos não manuais, com o balanço da cabeça para os lados e expressões faciais� Nos sinais NÃO QUERER, NÃO GOSTAR e NÃO TER, além dos aspec- tos não manuais, observamos também a alteração do movimento do sinal� Incorporação de argumento A incorporação de argumento ocorre por conta dos elementos visuais e espaciais da Libras� Um sinal incorpora o argumento daquilo que está sendo sina- lizado. Vamos pensar no verbo LAVAR, por exemplo. Dependendo do objeto que sofre a ação de LAVAR, o sinal é produzido de maneira diferente, de modo a incorporar aquele elemento imageticamente, varian- do, então, os parâmetros fonético-fonológicos para adaptação do objeto a ser sinalizado. Caso não tenha ficado claro, observe a Figura 4. Perceba que o mes- mo verbo está sendo realizado de modo diferente, pois os objetos que estão sendo lavados são dife- rentes� Isso é a incorporação de argumento� Outros exemplos de sinais que incorporam argumento são CORTAR e PEGAR� Pense que, no verbo CORTAR, o sinal irá variar a realização, dependendo do que está sendo cortado: se é o cabelo, um pedaço de carne ou uma folha de papel, por exemplo� O mesmo ocorre com o verbo PEGAR: que objeto está sendo pego? A sinalização vai ser feita de maneira a adaptar o objeto a que me refiro. Você deve se lembrar dos classifi- cadores. A utilização de classificadores auxiliam na sinalização e na incorporação de argumento do sinal. 15 Figura 4: Incorporação de argumento ao sinal LAVAR. Fonte: PEREIRA et al., 2011. Derivação Agora que você entendeu o processo de flexão, va- mos analisar a formação de sinais pelo processo de derivação� A derivação pode ocorrer por meio da alteração de parâmetros de um sinal para a formação de outro sinal; ou por meio da composição de dois sinais já existentes na Libras para a constituição de um novo sinal� Observemos cada um desses proces- sos nos itens a seguir� Derivação por alteração de um sinal Um processo bastante comum na Libras para a criação de novos sinais é o que deriva de nomes de verbos e vice-versa, por meio da mudança de movi- mento� O movimento dos nomes repete e encurta o movimento dos verbos. Exemplos: CADEIRA (curto 16 e repetido) e SENTAR; OUVIR e OUVINTE (curto e repetido) (PEREIRA et al., 2011). Observe a Figura 5: Figura 5: Exemplos de derivação por mudança de parâmetros na Libras. Fonte: PEREIRA et al., 2011. Derivação por composição Outro processo utilizado na Libras na criação de no- vos sinais é a composição� Nesse processo, dois sinais se combinam, dando origem a um novo sinal� Como exemplo, podemos citar a junção dos sinais 17 CASA e ESTUDAR, dando origemao sinal ESCOLA� Outro exemplo de ocorrência da composição dos sinais CASA e CRUZ dando origem ao sinal IGREJA� Observe a Figura 6: Figura 6: Exemplos de derivação por composição na Libras. Fonte: PEREIRA et al, 2011. 18 Perceba que, tanto na derivação por mudança de parâmetros como por composição, novos sinais são formados, ao contrário da flexão, em que ocorre a constituição de novas formas de um mesmo sinal� No próximo item estudaremos alguns fenômenos lexicais na Libras� SAIBA MAIS Caso você tenha interesse em aprofundar seus conhecimentos sobre a morfologia da Libras e os processos de formação de sinais, o artigo de Xavier e Neves (2016) presente nas referências bibliográficas apresenta um quadro bastante completo sobre esse assunto� Fenômenos lexicais na Libras O significado das palavras leva em consideração as relações de sinonímia, antonímia, homonímia, paro- nímia e polissemia� Analisaremos essas relações a seguir e observaremos que elas se manifestam com a língua em uso, considerando o contexto linguístico� Sinonímia A sinonímia é a relação que as palavras estabelecem quando apresentam significados semelhantes para itens lexicais (grosso modo, palavras) diferentes� 19 Como exemplo do português, podemos citar bondoso e caridoso, bonito e belo. Perceba que, embora os itens lexicais sejam diferentes, o significado dessas palavras é semelhante� Na Libras, podemos citar, como exemplos de sinonímia, os sinais VELHO (pes- soa) e VELHO (objeto), conforme Figura 7: Figura 7: Realização dos sinais sinônimos VELHO (para objeto, em cima, e para pessoa, embaixo) na Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. Antonímia O antônimo é uma palavra que tem um significado oposto em relação à outra palavra� São palavras di- ferentes com significados opostos. Como exemplo do português, podemos citar bem e mal, bonito e feio� Na Libras podemos citar os mesmos exemplos� Observe a Figura 8 com exemplos dos antônimos BONITO e FEIO na Libras: 20 Figura 8: Realização dos sinais antônimos BONITO (em cima) e FEIO (embaixo) na Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. Homonímia Homônimos são vocábulos que se pronunciam, se escrevem ou se sinalizam da mesma forma, mas têm sentidos diferentes. Os itens lexicais são iguais, mas os significados são diferentes. Como exemplo do português, podemos citar a palavra manga� A manga pode se referir a uma parte da camisa, mas pode se referir também à fruta� Na Libras, os sinais SEXTA- FEIRA e PEIXE são homônimos� Observe a Figura 9� 21 Figura 9: Realização dos sinais homônimos SEXTA-FEIRA e PEIXE na Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. Outro exemplo de homônimo na Libras são os sinais LARANJA e SÁBADO (Figura 10)� Perceba que os sinais, que possuem significados completamente diferentes, são realizados da mesma forma. Figura 10: Realização dos sinais homônimos SÁBADO E LARANJA na Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. 22 Paronímia Parônimos são vocábulos que têm grafia e pronúncia semelhantes/parecidas, mas possuem significados distintos� No português temos, como exemplos de parônimos, as palavras comprimento e cumprimento� Perceba que são palavras com grafias parecidas, porém seus significados são distintos. Na Libras podemos citar os parônimos ÁGUA e PÊNIS (Figura 11)� Observe que esses sinais apenas diferem no movimento� Figura 11: Realização dos sinais parônimos PÊNIS (esquerda) e ÁGUA (direita) na Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. Polissemia Uma palavra polissêmica é uma palavra que pos- sui vários significados. Você pode estar se perguntan- do qual é a diferença entre polissemia e homonímia, afinal os conceitos são parecidos. Quando duas ou mais palavras com origens e significados distintos têm a mesma grafia e fonologia, estamos diante de uma homonímia� Assim, como sabemos, manga é uma palavra homônima do português, pois pode se 23 referir à manga da camisa ou à fruta� Não é polisse- mia porque os diferentes significados para a palavra manga têm origens diferentes� Já a palavra letra no português é polissêmica� Letra pode se referir ao elemento básico do alfabeto, o texto de uma música ou a caligrafia de uma pessoa. Perceba que, nesse caso, os diferentes significados estão interligados, pois remetem para o mesmo conceito� Na Libras, po- demos citar o sinal DOCE, que pode significar DOCE ou AÇÚCAR, dependendo do contexto em que é re- alizado (Figura 12). Figura 12: Realização dos sinais DOCE/AÇÚCAR na Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. O mesmo ocorre com os sinais BOI e FAZENDA (Figura 13): é no contexto que esses sinais vão ser diferenciados, pois são parônimos� Note que a ori- gem desses sinais é a mesma, pois BOI e FAZENDA, do mesmo modo que DOCE e AÇÚCAR, possuem uma relação semântica (de significado). 24 Figura 13: Realização dos sinais DOCE/ AÇÚCAR (em cima) e BOI/ FAZENDA (embaixo) na Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. Perceba que muitos dos sinais estudados aqui são distinguidos apenas no contexto de sinalização. É somente com a língua em uso que poderemos sa- ber o que os interlocutores estão comunicando� O contexto de proferimento da sentença vai guiar os interlocutores para o seu entendimento, permitindo inferências e pressuposições e promovendo uma comunicação efetiva� 25 VAMOS PRATICAR? Vamos agora praticar a formulação de questões na Libras. Comecemos estudando como sinalizamos palavras-chave na elaboração de questões� Como sinalizamos ONDE? POR QUÊ? QUAL? QUANDO? COMO? Observe a Tabela 2� ONDE? POR QUÊ? O QUE? QUEM? QUAL? QUAL? (dentre duas opções) 26 QUANDO? QUANTOS? (no sentido de quantidade) QUANTO? (no sentido de preço) COMO? Tabela 2: Sinais de perguntas em Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. 27 Vamos analisar dois exemplos de perguntas em Libras com esses sinais (Figura 14 e Figura 15)� Lembre-se de que, nas sentenças interrogativas da Libras, os elementos não manuais são muito impor- tantes� E, também, que a ordem dos constituintes na sentença pode variar� Exemplo 1 - Pergunta: Onde você mora? (Sinal MORAR + Sinal ONDE) Figura 14: Pergunta “onde você mora?” em Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. 28 Exemplo 2- Pergunta: Você encontrou com quem? (Sinal VOCÊ + Sinal ENCONTRAR + Sinal QUEM) Figura 15: Pergunta “Você encontrou quem?” em Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. Você deve ficar muito atento ao fato de que a Libras não é uma versão sinalizada do português. Então, por exemplo, se você deseja perguntar a alguém “qual é o seu nome?”, você não vai sinalizar cada um desses itens lexicais (qual+seu+nome)� Uma pergunta como essa é feita com a realização do sinal NOME e as expressões não manuais de dúvida, com uma ligeira inclinação da cabeça para frente e as sobrancelhas franzidas. Observe a diferença entre uma sinalização 29 inadequada (Figura 16) e uma sinalização correta (Figura 17) da pergunta “qual seu nome”? em Libras� Do mesmo modo, se você deseja perguntar a idade de alguém, basta sinalizar o sinal IDADE, com a ex- pressão facial e corporal de dúvida� Sinalização errada (Sinal QUAL + Sinal SEU + Sinal NOME): Figura 16: Pergunta “Qual seu nome?” feita de maneira inadequada em Libras. Fonte: CAPOVILLA, RAPHAEL MAURÍCIO, 2013. 30 Sinalização correta (Sinal SEU NOME + expressões faciais de dúvida): Figura 17: Pergunta “Qual seu nome?” feita de maneira correta em Libras. Fonte: www.ces.org.br. SAIBA MAIS Observe a realização da pergunta “qual é o seu nome” em vídeo neste link� Essas especificidades da língua vão sendo percebi- das pelo aprendiz pouco a pouco. Por isso, mais uma vez, incentivamos e ressaltamos aqui a importância do contato com a comunidade surda� 31 http://www.ces.org.br/site/vamos-aprender-libras.aspx https://www.youtube.com/watch?v=9gLxjSU6mKg CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste e-book, discutimos algumas questõesa res- peito do ensino bilíngue para surdos� Descobrimos que existem desafios para a construção de um currículo escolar para o ensino de Libras como L1� Entendemos, também, a importância da presença do professor surdo para o ensino da Libras� No momento prático, avaliamos questões sobre a morfologia da Libras, analisando os processos de flexão e derivação para a formação dos sinais� Aprendemos também fenômenos no âmbito lexical da Libras, como sinais sinônimos, antônimos, homônimos, parônimos e polissêmicos. Por fim, praticamos a formulação de questões na Libras� Espero que você tenha aproveitado todo o con- teúdo aqui compartilhado e enriquecido seus conhecimentos! 32 SÍNTESE Fenômenos lexicais na Libras: sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia e polissemia na Libras. Derivação na Libras ocorre por: alteração de parâmetros de um sinal ou por composição; Flexão na Libras ocorre por: incorporação de quantidade, incorporação de negação, incorporação de argumento; Processo de formação de palavras ocorre por flexão e derivação; Morfologia: estrutura e formação das palavras; O professor surdo é fundamental como modelo linguístico para os alunos surdos; O bilinguismo proporciona desenvolvimento e aprendizagem do surdo similar ao dos ouvintes que tem a línguas orais como L1; O método bilíngue para surdos exige um currículo específico para o ensino de Libras como L1; ENSINO BILÍNGUE, MORFOLOGIA E LÉXICO DA LIBRAS LIBRAS Referências Bibliográficas & Consultadas ALBRES, N� A�; SARUTA, M� V� Por uma política de ensino da Libras como parte do currículo bilíngue de escolas de surdos� In: Libras em estudo: polí- tica educacional. pp. 97-118. São Paulo: Feneis, 2013� BAGGIO, M� A�; NOVA, M� G� C� Libras. 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Considerações finais Síntese
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