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UNICATHEDRAL 
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATHEDRAL 
CURSO DE DIREITO 
 
 
GEOVANE OLIVEIRA DE MORAES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RACISMO ESTRUTURAL NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Barra do Garças - MT 
Outubro – 2022
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GEOVANE OLIVEIRA DE MORAES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RACISMO ESTRUTURAL NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO 
 
 
 
 
Artigo Cientifico elaborado sob a orientação de 
conteúdo da Profª. Esp. Gricyella Alves Mendes 
Cogo, para obtenção de título de Bacharel do curso 
de Direito, do Unicathedral - Centro Universitário 
Cathedral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Barra do Garças - MT 
Outubro – 2022
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UNICATHEDRAL 
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATHEDRAL 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
A Banca Avaliadora, abaixo assinada, _______________________, 
com a nota _____, o Artigo: 
 
 
 
 
 
 
 
RACISMO ESTRUTURAL NA JUSTIÇA BRASILEIRA 
 
 
 
GEOVANE OLIVEIRA DE MORAES 
 
como requisito parcial para obtenção do grau 
de Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA AVALIADORA 
 
 
_______________________________________ 
Prof. Esp. Gricyella Alves Mendes Cogo 
 
 
_________________________________________ 
(Assinatura por extenso do Membro Convidado) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Barra do Garças - MT 
Outubro – 2022 
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RACISMO ESTRUTURAL NA JUSTIÇA BRASILEIRA 
 
 
 
Geovane Oliveira de Moraes1 
Gricyella Alves Mendes Cogo 2 
 
RESUMO: Este artigo tem como tema o racismo estrutural na justiça brasileira cuja reflexão 
inclui no debate da desigualdade racial no Brasil decorrente do racismo estrutural que permeia 
a sociedade brasileira. Objetiva- se com este estudo, analisar o racismo estrutural que afeta o 
acesso à justiça no judiciário brasileiro. Para tanto foi utilizado como metodologia a pesquisa 
qualitativa de natureza básica para desenvolver conhecimento acerca do objeto estudado. Desta 
forma, foi utilizado o método exploratório para familiarizar-se com o tema, e assim 
compreender se há o racismo estrutural dentro do judiciário. Ademais, utilizou-se como 
procedimento técnico, o bibliográfico para averiguar os resultados obtidos. Para que os 
resultados da pesquisa fossem fundamentados, utilizou se autores como Crelier (2018), Freitas 
(2008) e Silva (2019), trazendo - se assim o cunho científico e realista que se espera. E, por fim, 
utilizou-se o método monográfico que possibilitou desenvolver um estudo mais profundo sobre 
o tema. O que resultou é que o racismo estrutural é um problema real enfrentado no judiciário 
brasileiro, por isso busca-se assim inibir o problema por meio de campanhas e conscientizações 
a fim de que tal realidade mude, o que apresenta ser um significante passo para erradicar toda 
as formas de preconceito, ainda mais nos lugares onde deveriam garantir que não ocorressem. 
 
PALAVRAS – CHAVE: Racismo Estrutural. Acesso à Justiça. Racismo. 
 
 
 
1 Acadêmico do curso de Direito, do Centro Universitário Cathedral - UniCathedral. E-mail: 
logamb13@hotmail.com. 
2Especialista em Docência do Ensino Superior para Educação a Distância, Gestão para Instituição do 
Ensino Superior, Direito e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário. Professora do Centro 
Universitário Cathedral - UniCathedral. E-mail: gricyella.cogo@unicathedral.edu.br. 
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1 INTRODUÇÃO 
 
 
O racismo é um tema bastante emblemático, uma vez que mesmo após mais de 500 anos 
da colonização do Brasil, e com tantas mudanças sociais, tecnológicas e legislativas, a cor de 
pele ainda é um fator determinante para muitos no que tange a formação antecipada de caráter, 
mérito ou mesmo de capacidade. 
Não há como negar que a sociedade já sofreu um potencial avanço no combate ao 
preconceito racial, contudo o racismo ainda precisa ser hostilizado, e não se fala aqui apenas 
daquele escancarado, mas também do velado, o racismo enraizado na cultura brasileira, contudo 
pouco é admitido, mas ainda assim é deplorável. 
Espera-se que um dia o racismo seja apenas uma tragédia histórica e seus reflexos já 
tenham se extinguido, mas enquanto é uma realidade utópica, debater sobre o preconceito racial 
é necessário, quiçá quando estes rótulos inibem o exercício dos direitos básicos da pessoa 
humana como, por exemplo, o acesso à justiça, e é por esse aspecto que esta investigação terá 
como tema o racismo estrutural na justiça brasileira, o que restará questionar: o racismo 
estrutural está presente no judiciário brasileiro? 
A hipótese inicial é que sim, uma vez que a sociedade em sua totalidade persiste no 
racismo, no entanto, a justiça tem o dever de eliminar quaisquer resquícios disto, contudo é 
fundamental que ela não esteja contaminada para executar com plenitude sua função, a de 
equilibrar os interesses, e neste caso, é a do respeito e igualdade social. 
Além do mais, para realização do estudo com o intuito de descrever de maneira clara e 
sucinta uma meta, tem-se o objetivo geral, analisar se o racismo estrutural afeta o acesso ao 
direito na justiça brasileira. Para isso, foi utilizada uma pesquisa básica, a fim de explorar sobre 
o racismo estrutural, um assunto que de fato é um problema social, com enfoque na justiça 
brasileira e ainda em relação aos objetivos, tem-se a pesquisa exploratória, uma vez que por 
meio do estudo, procurou familiarizar-se com a cultura racista enraizada. 
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Sendo assim, foi realizada uma abordagem qualitativa, para compreender se o sistema 
judiciário superou o preconceito racial ou se ainda existem reflexos em sua estrutura de modo 
a afetar o acesso à justiça, sem qualquer distinção ou diferença, por conta de sua raça. 
Para isto, foram empregados os procedimentos técnicos advindos das fontes 
bibliográficas; além de análise do comportamento social, e condutas de diversos órgãos da 
esfera judicial, o que proporcionou uma apuração mais profunda, ampliando desta forma a visão 
do problema. 
Nesse viés, foi abordado o método dedutivo para que se entendesse o contexto histórico 
do racismo até que se pudesse identificar sua eminência, ou não, na atualidade jurídica. Por fim, 
foi utilizado como método de procedimento, o Monográfico e assim, foi desenvolvida a 
pesquisa de forma bem elaborado 
As fontes bibliográficas que foram indispensáveis para a execução desta pesquisa foi a 
Constituição Federal do Brasil de 1988, uma vez que é a Carta Magna do País, sendo ela a 
mantenedora de todas as outras legislações, resoluções e conteúdos jurídicos, além dos dados 
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE para ser possível provar os resultados 
que se encontrou durante a investigação. E para fornecer bases para o estudo realizado, são 
apresentados os seguintes autores: Crelier (2018), Freitas (2008) e Silva (2019), 
Foi então, por meio dessas indispensáveis fontes que se tornou possível apontar durante 
o artigo, a origem dos afrodescendentes como nasceu o preconceito racial, o que possibilitou 
fazer uma breve retrospectiva sobre a história do negro no Brasil, para que pudesse se falar do 
racismo e demonstrar o que é o racismo estrutural e se ele é refletido no acesso à justiça. 
Por fim, ressalta-se que este artigo é de intensa relevância social e jurídica, uma vez que 
o racismo deve ser eliminado da prática social, e a justiça é capaz de proporcionar tamanha 
evolução, contudo, ela não poderá estar também manchada com os reflexos de tamanha 
barbaridade, e só poderá ser limpa se houver uma severa análise por parte dos órgãos 
judiciários. 
 
 
2 OS AFRODESCENDENTES E O NASCIMENTO DESTE PRECONCEITO RACIAL 
 
 
Quando o mundo ainda era um único continente, a Pangeia, as primeiras raças foram se 
formando, já que, seguindo a Teoria da Evolução de Darwin, as características físicas foram 
sendo moldadas no passo em que os organismos foram se adaptando ao ambiente ou as 
necessidades que surgiram ao longo dos anos. 
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Segundo essa premissa, as raças foram sendo criadas conformea necessidade que o 
corpo teve para se adaptar, com as dificuldades de sobrevivência que foram surgindo nas 
diferentes regiões do grande continente, e ainda depois que foi se dividindo em outros cinco 
identificáveis na atualidade. 
Nesse sentido, quando antes, as aparências físicas e semelhanças eram associadas aos 
macacos, caso se considere a Teoria de origem das espécies, hoje se consegue identificar a 
origem dos antepassados de maneira mais simples, observando apenas seu continente e se 
atentando para suas características físicas, mesmo com toda miscigenação. 
Ocorre que essa diferença física, que não deveria significar nada além da história 
antepassada do indivíduo, foi ao longo da cronologia da humanidade, objeto de grande 
exclusão, exploração e preconceito, embora em menores proporções, causam sofrimentos até 
os dias atuais, especialmente contra o afrodescendente. 
Em sentido amplo, afrodescendentes são aqueles que nasceram no continente africano, 
ou mesmo os que carregam consigo características físicas herdadas de seus antepassados, e sua 
origem também se dá naquela região. 
As principais particularidades físicas da raça que são comumente definidas como 
negros, pardos, e a alta pigmentação de melanina na pele, os lábios robustos, o porte corporal 
geralmente forte e de musculatura bastante desenvolvida, e foram considerados por vezes, 
motivos para que essas pessoas fossem cruelmente exploradas, uma vez que eram usados como 
ferramenta de trabalho, em atividades que levavam à exaustão e, muitas vezes, à morte. E assim, 
foram reféns de práticas desumanas e abusivas, de modo a serem escravizados, pela simples 
razão da raça. 
A escravidão sempre foi um dos maiores pontos de discussões do mundo. Algumas 
teorias defendem que boa parte da responsabilidade das práticas escravistas, foram ocasionadas 
pelos próprios escravizados, como aponta Freitas: 
 
As teses sobre uma nova Abolição, em que o branco tem uma dívida material 
e moral da escravidão, não deve ter sustentação, pois, desde a antiguidade e, 
principalmente, depois da conquista árabe no norte da África, a partir do 
século VII, os africanos vendiam escravos em grandes caravanas, que 
cruzavam o deserto do Saara. Na época em que o colonialismo português 
trouxe a maioria dos escravos para o Brasil, vindos da região do Congo e de 
Angola, naquela região havia reis venerados como se fossem divinos. Muitos 
deles se aliaram aos portugueses e enriqueceram com a venda dos súditos 
destinados à escravidão. (FREITAS, 2008, p. 2) 
 
De modo controverso, outros afirmam que a culpa deve ser atribuída a alguns países do 
continente europeu, que para expandir suas riquezas, muitas vezes, se valiam da mão de obra 
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escrava. 
 
Os europeus não se limitaram a introduzir escravatura nas Américas criando 
regimes escravistas no Novo Mundo quando aquela instituição era já recusada 
em solo europeu, ainda que, aí, existissem escravos africanos, mas não 
sociedades escravistas. Os europeus vão nas Américas dotar a escravatura de 
uma nova escala derivada da intensidade do tráfico de escravos africanos, que 
contribuirá para que as estruturas das sociedades escravistas adquiram 
acentuada vertente racial. (SILVA, 2019, p. 37) 
 
Independentemente do motivo, o fato é que os negros, ao longo do tempo, sofreram um 
prejuízo no mundo e até hoje é pauta de questionamento e discussão, já que as consequências 
desse período, não findaram, pois ainda existem reflexos dos danos físicos, emocionais, 
psicológicos, culturais e sociais, causados. 
O que se sabe é que, boa parte da história do mundo, a mão de obra dos escravos 
afrodescendentes, foi usada para o serviço pesado em grande parte dos continentes. Tal fator se 
tornou crucial para a forma como o cidadão negro era tratado, mesmo após a abolição da 
escravidão, vindo a sofrer com condutas ofensivas e, muitas vezes, agressivas por parte de 
pessoas de outras raças. 
Assim, a desumana prática de exploração e o preconceito aos negros, são observados 
em infinitos lugares do mundo, inclusive no Brasil, mesmo perante o avanço dos 
reconhecimentos dos direitos humanos debatidos ao redor do globo. Condutas racistas e 
preconceituosas se fazem presente no dia a dia, seja em ambiente de trabalho ou até mesmo no 
esporte e demais partes da sociedade, onde pessoas, trabalhadores negros, são diariamente 
atacados por essas pessoas ofensivas e intolerantes. 
 
 
3 HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL 
 
 
A escravidão surgiu no Brasil com a chegada dos portugueses no ano de 1.530, quando 
iniciaram as primeiras medidas efetivas de colonização. Inicialmente tentaram escravizar os 
índios nativos da terra, porém sem sucesso, uma vez que tinham amplo conhecimento territorial, 
o qual possibilitava suas escapadas, mas muitos acabaram sendo massacrados em confrontos. 
Essa resistência fez com que os portugueses buscassem mão de obra escrava em outro 
continente, o africano. 
Os africanos eram transportados em navios e essa prática ficou conhecida como tráfico 
negreiro. As condições precárias de viagem vivida pelos escravizados acarretavam doenças 
como infecções gastrointestinais, depressão, que na época se dava o nome de banzo, que, muitas 
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vezes, levavam ao suicídio, além de serem mortos em rebeliões, na tentativa de fugir dos navios, 
que eram comparados e equipados como verdadeiras fortalezas aquáticas. 
Essa atividade tirou cerca de doze milhões e meio de pessoas negras, escravizadas de 
seu continente ao longo de trezentos e cinquenta anos, com destino à América do Sul, destes 
cinco milhões chegaram ao Brasil e cerca de um milhão e oitocentas mil pessoas não resistiram 
a viagem de travessia do oceano Atlântico e jamais chegaram à América. 
Com a descoberta de riquezas como: ouro, diamante e madeira como o pau-brasil e com 
o cultivo do café e açúcar, a presença escrava passou a ser cada vez mais frequente no Brasil e 
perdurou por quase 5 (cinco) séculos. O senador Rodrigo Augusto da Silva apresentou ao 
Senado Imperial brasileiro, um projeto de Lei com a proposta de extinção da escravidão. 
A votação entre os senadores foi rápida e no dia 13 de maio de 1888 a Lei 3.353 foi 
sancionada pela princesa Isabel, na ocasião, princesa regente, uma vez que, Dom Pedro II não 
se encontrava no país. Esta norma ficou conhecida como Lei Áurea até hoje, considerada por 
muitos brasileiros uma das mais importantes do ordenamento jurídico que fora criada. 
Este foi o primeiro passo para a tentativa de reparar um dano causado a uma grande 
parcela da sociedade brasileira. Mesmo com a abolição da escravidão e os negros “livres”, o 
sofrimento não parou por aí. Completamente esquecidos pelo Estado e pela outra parcela do 
povo, os afrodescendentes foram abandonados à própria sorte, viviam de maneiras 
improvisadas e desumanas. 
Fadados à mendicância, explorações ilegais e miséria, muitos viram a criminalidade 
como opção de sobrevivência, e aqueles que de algum modo diverso, conseguiram sobreviver 
geralmente com as sobras dos burgueses que eram majoritariamente brancos. E é diante desta 
lúgubre história que o racismo no Brasil ainda toma espaço, onde os afrodescendentes são, 
muitas vezes, marginalizados, discriminados e apedrejados. 
Comparando o Brasil anos atrás sobre a questão do racismo, observa-se um avanço 
significativo no que tange ao combate ao racismo, já que foi o último país da América do Sul e 
Norte a pôr fim a escravidão, e somente após 70 anos foi feita a primeira legislação no combate 
contra o racismo e os efeitos da escravidão, a Lei 1.390 de julho de 1951, mas que não teve 
eficácia, posteriormente outras mais foram constituídas as quais resultaram nas melhorias 
atuais, tais como: 
 
A Lei Afonso Arinos, em 1951, proibiu qualquer tipo de discriminação racial 
no País, mas não era aplicada nem mesmo em casos claros de discriminação. 
A Constituição de 1988 considerou a prática de racismo como crimeinafiançável e imprescritível. A Lei Caó, de 1989 tipificou o crime de racismo 
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no Brasil, estabelecendo penas que vão até cinco anos de reclusão. Em 2003, 
uma lei incluiu no Código Penal o crime de injúria racial, com pena de 
reclusão de um a três anos e multa. Em 2010, foi aprovado o Estatuto da 
Igualdade Racial. Em 2012, foi aprovada a Lei de Cotas de Ingresso nas 
Universidades. Em 2014, foi aprovada a Lei de Cotas Raciais no Serviço 
Público. (AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS, 2018. p.1) 
 
Tais legislações são consideradas progresso do Estado no combate ao preconceito e o 
distanciamento social que sofrem os negros e pardos, já que o Estado possui a obrigação de 
zelar pela população menos favorecida, no intuito de amenizar um dano que se arrasta ao longo 
dos séculos, causado pela escravidão, não com o intuito de saldar uma dívida, até porque não 
há essa possibilidade, pois não se pode dar valor ao sangue derramado pelos escravizados. 
Porém, algumas políticas públicas para acesso à educação e profissionalização se fazem 
essenciais, uma vez que seus antecedentes ainda sofrem reflexos dessa monstruosa realidade da 
história, não só ao que tange ao preconceito, mas também a pobreza, tanto é que, ainda 
recentemente, em “2018, os brancos ganhavam em média 73,9% mais do que pretos ou pardos. 
E a desigualdade se mantém mesmo quando verificada a remuneração por horas trabalhadas.” 
(CRELIER, 2018. p. 1) 
Com um país cuja maior parte da população é descendente de quarta, terceira ou mesmo 
de segunda geração dos escravos, oriunda de uma vida de miséria, sofrimento e disparidade, é 
necessário que haja instrumentos que possam minimizar o distanciamento social, até que possa 
ser extinto, para ser possível equiparar as chances entre a população branca e o povo negro. 
Para que haja uma real mudança, muitas condutas e comportamentos devem ser 
diferentes. Debates pontuais e discursos prontos sobre toda uma luta contra o racismo, não são 
suficientes para que aconteça algo verdadeiramente relevante. O projeto para tais melhorias 
devem sair do papel para serem aplicados na prática. 
 
 
4 RACISMO 
 
 
Etimologicamente racismo é o “preconceito e discriminação direcionada a alguém tendo 
em conta sua origem étnico-racial, geralmente se refere à ideologia de que existe uma raça 
melhor que outra” (RACISMO, 2022. p.1). Deste modo, o racismo genericamente é a ofensa 
sofrida por conta de uma característica visual, podendo ser essa agressão física ou até mesmo 
psicológica. 
O Brasil, apesar de ser composto por uma grande variação étnica, é comum presenciar 
em noticiários e até mesmo no dia a dia, ofensas racistas. Essa conduta é alarmante, por se tratar 
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de um pensamento retrógrado, que vai na contramão, nos tempos de modernização e a 
conscientização de Direitos Humanos e individuais. 
O racismo sofrido pelo negro e pelo pardo no país é incoerente, uma vez que, segundo 
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística confirma: 
 
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2019, 42,7% 
dos brasileiros se declaram como brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como 
pretos e 1,1% como amarelos ou indígenas”. (IBGE, 2019. p. 1) 
 
Desse modo, um país com tamanha miscigenação, não poderia ter uma prática 
corriqueira de discriminação, teoricamente falando, uma vez que, a soma dos pretos e pardos 
configuram 56,2% da população brasileira, ou seja, o Brasil é constituído por uma maioria de 
afrodescendentes. 
Com isso, o que teoricamente por conta das características físicas que compõe a maioria 
da população brasileira, o racismo e demais preconceitos em questão, deveriam ser casos 
isolados e com pena bastante dura, para aqueles que insistissem em cometer esses crimes, mas 
não é o que acontece. Na prática, pessoas diariamente sofrem preconceitos raciais no Brasil e 
no mundo todo. 
A mídia em diversas oportunidades se manifesta sobre acontecimentos racistas onde 
existe repercussão ou comoção social. Porém, muitas vezes, esses acontecimentos não resultam 
em condenação ou a penalização é branda. 
A República Federativa do Brasil é mundialmente conhecida como o país do futebol. 
Os jogadores da seleção sempre estão nos melhores clubes, melhores equipes, geralmente 
pertencem ao velho continente. Mesmo com todos esses prestígios, volta e meia sofrem com 
condutas racistas, seja por parte dos colegas de profissão, torcedores ou até mesmo por 
comentaristas. 
A modo de exemplificar, pode se analisar o fato ocorrido com o lateral direito da seleção 
canarinho, Daniel Alves, quando atuou pelo Barcelona da Espanha, time que defendeu por mais 
de oito anos. Em uma partida pelo campeonato espanhol da temporada de 2014 contra o 
Villarreal, quando se preparava para a cobrança de um escanteio., arremessaram uma banana 
em sua direção. Em protesto, o atleta na ocasião, comeu a banana. 
Em outra ocasião na temporada em andamento do campeonato espanhol, dias antes de 
ir a campo, o atacante Vinicius Junior do Real Madrid da Espanha, teve sua forma de 
comemorar gols (dançando), chamadas de “macaquices” por um empresário espanhol em 
entrevista na Tv. 
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Ambas as situações, apesar da grande repercussão, não acarretaram em pesadas 
punições para aqueles que usaram da cor da pele, para ofender outro ser humano. Isso prova 
que, muitas vezes, o agressor sai impune, se tornando desta forma, uma certa motivação, para 
que os incidentes racistas continuem. 
A falta de punição ou aplicação de pequenas penas, acabam por servir, como incentivo 
para a continuidade desses comportamentos, quando na verdade, deveriam barrar ações desse 
gênero, para em tese, tornar a sociedade mais tolerante, objetivando proporcionar igualdades 
para todos. 
A certa normalização com que parte da sociedade enxerga essas atitudes, acaba por 
dificultar a penalização por esses delitos. Termos como racismo inverso, por exemplo, são 
usados como escudos por alguns preconceituosos, que, muitas vezes, cometem ações racistas e 
se camuflam em conceitos como este. 
Isso porque o racismo não é somente aquela ofensa ou diferenciação explícita, há 
também o racismo velado, aquele que está enraizado na sociedade, mas que pouco se percebe, 
como por exemplo, homens negros serem mais vítimas de abordagens agressivas por parte de 
policiais, pois já os consideraram suspeitos. 
Está presente também o preconceito racial na forma de escrever ou até mesmo de falar 
usada no Brasil, termos como “lista negra”, “ovelha negra”, entre outros bordões sociais, que 
relacionam a cor negra a algo ruim, ainda são constantemente utilizados nos dias de hoje, seja 
em escola ou até mesmo em sentenças judiciais. 
Para mais, a palavra denegrir, que vem do latim, e significa tornar negro, ou escuro, é 
um dos maiores exemplos, de que termos preconceituosos fazem parte da rotina brasileira, seja 
por um real preconceito ou mesmo por falta de conhecimento ou até mesmo de informação 
sobre o assunto. 
O fato é que se trata de algo real que deve ser dada toda atenção devida, com seriedade 
e respeito, com intuito de conscientizar o máximo possível as pessoas, com a intenção de mudar 
essa concepção, podendo desta forma, amenizar o problema em pauta e diminuir o preconceito 
e os que cometem por questões culturais ou de maneira inconsciente possam estar atentos a 
questão evitando que o preconceito continue existindo no país. 
 
13 
 
Outro ponto a ser observado, por exemplo, é a quantidade de negros e pardos atuantes 
no judiciário brasileiro, conforme o Censo do Poder Judiciário de 2013 aponta “que 15,6% dos 
magistrados brasileiros eram negros, onde deste conjunto 14,2% se declaram pardos e 1,4% 
preto” (CNJ, 2018. p.1). 
Nesse sentido, resta entender que há resquícios de preconceito no sistema judicial que 
afetam negros e pardos em função da cor da pele ao longo da história da humanidade, até os 
dias atuais. Existe o preconceito em váriosramos da sociedade, inclusive no sistema judicial. 
Assim, até mesmo em oportunidade de escolha, seja no sentido criminoso, como 
população carcerária ou até mesmo na presença em órgãos judiciais, como serventuários da 
justiça demonstra desta forma que, o negro em se tratando de isonomia social, no que diz 
respeito ao poder judiciário, já se encontra em desvantagem social. 
 
 
5 RACISMO NA ESTRUTURA JUDICIAL BRASILEIRA 
 
 
Como observado ao longo do artigo, o racismo, seja ele velado ou explícito está presente 
em toda e qualquer parte da sociedade, isto é, tanto no passado quanto no presente, deixando 
evidente a dimensão do problema social. No poder judiciário não seria diferente, uma vez que 
é constituído por cidadãos comuns, passíveis a erros e acertos. 
Com intenção de exemplificar sobre o assunto, se pode observar a composição da 
suprema corte de justiça do Brasil. O supremo tribunal federal é composto por onze ministros. 
Destes, apenas três são pardos em relação as suas características físicas. Todos os demais são 
brancos. 
São pequenas analogias, sim, mas se observadas em grandes proporções, representam 
um número expressivo e significativo. Isso não quer dizer que o poder judiciário de maneira 
geral, não tenha conhecimento de tal causa, muito pelo contrário, o mesmo adota diversos 
procedimentos, com a intenção de impedir esse comportamento. 
De fato, essa convergência não é suficiente para ser usada como um parâmetro basilar, 
para condenar uma instituição de tamanha magnitude e relevância social, mas por outro lado 
serve como alerta sobre as barreiras e oportunidades profissionais que o jurista negro encontra 
no âmbito profissional. 
As dificuldades encontradas por pessoas negras, ao longo do caminho, independente da 
área ou ramo de trabalho, são enormes. Porém, em relação à justiça e suas instituições, essas 
distinções são duramente combatidas, para de fato proporcionar simetria, entre aquilo que se 
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defende que é a igualdade e justiça para todos, e aquilo que se pratica. 
É interessante ressaltar a conduta adotada pelo poder judiciário para conduzir tais 
situações racistas ou discriminatórias, não só na área externa, mas também no que tange a 
estrutura e comportamento interno do órgão diante do assunto. 
As instituições judiciárias reconhecem tal deficiência e, muitas delas, adotam medidas, 
a fim de corrigir e inibir tais atitudes, com a intenção de vetar um comportamento interno 
equivocado, para que desta forma, possa corrigir uma conduta social de dentro para fora, para 
então aplicar na esfera externa. 
A Justiça Eleitoral, por exemplo, na figura do Tribunal Superior Eleitoral e Tribunal 
Regional Eleitoral de Mato Grosso, promoveram em conjunto com outras instituições 
judiciárias, no dia 8 de junho de 2022, o curso de Comunicação Institucional Inclusiva no 
Processo Eleitoral, que teve como propósito, combater o uso de linguagens discriminatórias. 
A oficina foi coordenada pela servidora Sabrina Braga, mestra em Direito Político, 
juntamente com Kelsen de França Magalhães e Elder Goltzman, que abordaram iniciativas 
ligadas a participação de grupos menorizados no processo eleitoral e contou com a presença de 
juízes, promotores e servidores, não só do estado de Matogrosso, mas também de diversos 
estados do país. 
Iniciativas de instituições e servidores, como o exemplo mencionado da Justiça 
Eleitoral, são passos gigantescos para o judiciário. Essas ações mostram que o poder público 
tem consciência dessas condutas racistas ou preconceituosas, e que se tornam empecilhos e por 
isso, precisam ser combatidas, retiradas, não só no serviço público judicial, mas sim, de toda a 
sociedade. 
No entanto, a legislação evoluiu para se tornar mais humana, inclusiva e adequada ao 
seu tempo, a comunicação precisa passar pelo mesmo processo de adequação, inclusão e 
humanização, o que certamente proporcionará novos avanços, é o que defende o servidor da 
Justiça Eleitoral Kelsen Magalhães. 
Assim, o comentário deixa claro que as mudanças devem acontecer não só nas leis, mas 
também nas coisas simples, na linguagem, como o falar do dia a dia, o escrever, para que de 
forma gradativa, as condutas preconceituosas praticadas constantemente pela população, sejam 
completamente extintas. 
Mostra também que os passos para o fim do racismo estão sendo dados, que muitas 
pessoas trabalham diariamente com a justiça tomam diversas atitudes, para acabar com esses 
comportamentos racistas e preconceituosos, com a intenção de tornar a sociedade um lugar 
melhor para todos, independentemente de suas características físicas. 
15 
 
Portanto, trata -se de uma jornada lenta e onerosa, e que depende da atitude de toda e 
qualquer camada social. Seja por parte do cidadão que denuncia, do promotor que acusa ou até 
mesmo do magistrado que julga, com intenção de dar uma resposta a sociedade sedenta de 
justiça. 
 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
O racismo estrutural é aquele que, veladamente, acaba por abominar, excluir ou 
prejudicar pessoas devido a sua raça, e embora pareça absurdo existir essa prática em pleno 
século XXI, na verdade, é bem latente. Ocorre que, embora não devesse existir em nenhum 
lugar, em alguns lugares são inadmissíveis que tenham, como por exemplo, no judiciário. 
Isto pelo fato de que o judiciário deve justamente resguardar-se para que essas 
discriminações deixem de existir, então como poderia admitir que sua estrutura possa estar 
contaminada com essa bárbara discriminação? Nesse sentido, buscou – se compreender se a 
justiça brasileira está contaminada com o racismo estrutural. 
Diante de todo estudo realizado, a fim de chegar à resposta de tal questionamento, pode-
se dizer que não é possível afirmar que todo Poder Judiciário brasileiro é de fato complacente 
com racismo estrutural. Até porque, a conduta de muitos órgãos forense, é justamente contrária. 
Por outro lado, verifica-se que diversos elementos do judiciário brasileiro, reconhecem 
o problema e tratam-no como prioridade, seja por meio de campanhas internas no próprio órgão 
ou promovendo encontros e cursos que proporcionem a integração e conscientização do poder 
forense. 
Diversas entidades públicas de justiça possuem ou elaboram mecanismos, com intuito 
de combater o preconceito. Isso demonstra o quanto necessita de atenção e de medidas, que 
realmente funcione e alcance o objetivo que é tratar todos de forma igualitária, 
independentemente da cor que carrega em sua pele. 
É inegável que existe um enorme preconceito racial na sociedade, e que a justiça tenta 
de todas as formas, inibir e coagir, seja por meio de normas que penalizam com veemência 
aqueles que praticam e apoiam tais comportamentos, ou na tentativa de conscientizar os 
operadores da justiça. 
Não se trata de uma tarefa simples, com soluções fáceis, mas sim, de uma jornada árdua 
e extensa, repleta de estudos e debates, sempre voltados a proporcionar conhecimento e 
pensamento crítico sobre o assunto, não tratando como se faz no senso comum ou como um 
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questionamento qualquer a ser discutido em um momento futuro. 
Por fim, o racismo é um problema estrutural na sociedade brasileira e a solução está nas 
mãos de cada cidadãos, à medida que se tornam os olhos da justiça.com o intuito de proteger 
aqueles que sofrem com o racismo e punir aqueles que o praticam, propiciando dessa forma 
meios para uma sociedade unida, sem qualquer separação por raça ou cor. 
 
 
7 REFERÊNCIAS 
 
 
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Câmara dos Deputados, 2018. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/546214-a-
representacao-dos-negros-e-a-luta-contra-o-racismo/ . Acesso em 26 abr. 2022. 
 
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DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 09 mai..2022. 
 
CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Pesquisa do CNJ: Quantos juízes negros? Quantas 
mulheres?. CNJ, 2018. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/pesquisa-do-cnj-quantos-juizes-
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https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/25879-pretos-ou-pardos-representam-dois-tercos-dos-subocupados-em-2018. 
Acesso em 23 mar. 2022 
 
FREITAS, Carlos Alberto de Miranda. Nação Miscigenada ou nação multiétnica: qual você 
quer para o Brasil? 2008. Disponível em: 
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2256-8.pdf. Acesso em 14 mai. 
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IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Conheço o Brasil – População: cor ou 
raça. 2019. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-
brasil/populacao/18319-cor-ou-
raca.html#:~:text=De%20acordo%20com%20dados%20da,1%25%20como%20amarelos%20
ou%20ind%C3%ADgenas. Acesso em 16 mai. 2022 
 
RACISMO. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2022. Disponível em: 
https://www.dicio.com.br/racismo/. Acesso em: 25 jun. 2022. 
 
SILVA, Marta Alexandra Fernandes da. Da escravidão no espaço atlântico às reparações 
suscitadas por afrodescendentes. Porto: FLUP, 2019. Disponível em: 
file:///C:/Users/Administrador/Downloads/363828.pdf. Acesso em: 23 jun. 2022.

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