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1 GESTÃO DE CUSTOS NA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL – UNIDADE I É claro que a análise do custo possui aplicação em todos os empreendimentos e investimentos humanos, na era contemporânea. Saber de antemão o quantum, com a certeza de que é o melhor preço a ser pago, indubitavelmente é fator preponderante. Todavia, como se sabe, essa prática ainda não é uma realidade no âmbito do setor público municipal. Em especial, tratando-se desse tema como um ramo da Contabilidade, visando a produção de informações gerenciais, para planejamento e deliberações. O objetivo essencial é alocar criteriosamente os custos a serem aplicados na produção de bens e serviços. Isso, com a compilação de dados internos e externos. Com esse curso, o egresso estará apto a atuar com competência na Gestão de Custos na Administração Municipal, realizando com maior facilidade e segurança as relevantes tarefas que lhes sejam afetas na Gestão Pública, além de pontuar para progressão em sua carreira, pelo conhecimento adquirido. Ou, caso pretenda, participar com chances nos concursos públicos para a área e/ou outras correlatas. A Gestão de Custos relaciona-se com os princípios da Administração Pública ao fornecer as informações para o gestor, possibilitando controlar os gastos, otimizá-los, saber da viabilidade de possíveis investimentos, a fim de atender as necessidades coletivas, com qualidade, transparência e respeito aos cidadãos. 2 ÍNDICE TÓPICOS PÁGINA 1. GOVERNANÇA E GESTÃO MUNICIPAL 3 1.1 Funções de Governança e Gestão 6 1.2 A Gestão Municipal 7 1.3 A Questão Social 12 1.4 Políticas Públicas e Sustentabilidade 13 1.5 Ciclo das Políticas Públicas 14 1.6 Sustentabilidade 15 1.7 Planejamento Estratégico 18 2. GESTÃO ESTRATÉGICA DA INFORMAÇÃO 20 2.1 Gestão Digital Estratégica 26 3. GOVERNANÇA E SUSTENTABILIDADE 28 3.1 A Implantação da Gestão 32 3.2 A Verificação da Gestão 36 3.3 A Gestão Pública Ambiental 36 3.4 Governo e Sustentabilidade 38 3.5 Sustentabilidade 44 4. CONTABILIDADE PÚBLICA MUNICIPAL 49 4.1 Peculiaridades Contábeis, Financeiras e Orçamentárias 49 4.2 Estágios ou Etapas da Receita Orçamentária 49 4.3 Conciliação Bancária 59 4.4 Retenções de Tributos nos Órgãos Públicos Municipais 61 4.5 Instrução Normativa 971/2009 62 4.6 Composição da Receita de Fonte Livre 64 4.7 Empenho, Liquidação e Pagamento 69 4.8 O Detalhamento da Despesa 71 5. PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO ESTRATÉGICO 73 5.1 O Planejamento e o Orçamento na Constituição Federal de 1988 (CRFB/88) 73 5.2 O Modelo de Planejamento, Execução e Controle na LRF 74 5.3 A Classificação da Despesa Orçamentária 75 5.4 Modelo de Decisão Governamental 79 5.5 Contabilidade Aplicada ao Setor Público (CASP) 79 5.6 A Escrituração da Contabilidade Pública 80 5.7 Similaridade entre os Conceitos da Contabilidade Pública e os da Contabilidade de Custos 81 5.8 Sistema de Informação de Custos do Setor Público - SICSP 83 5.9 Sistema de Custos do Setor Público 86 5.10 Sistema de Custos do Setor Público e os Demais Sistemas de Informação 90 6. BIBLIOGRAFIA 95 3 1. GOVERNANÇA E GESTÃO MUNICIPAL No que se refere ao setor público, a governança começou a ser discutida com a crise fiscal dos anos 1980 que exigiu um novo arranjo político e econômico com a intenção de tornar o Estado mais eficiente. Nesse contexto oportunizou o debate sobre a governança na esfera pública e resultou no estabelecimento de princípios básicos que norteiam as práticas de governança nas organizações públicas nas esferas federal, estadual e municipal: transparência, integridade e prestação de contas (IFAC, 2001). Com o passar dos anos uma série de estudos internacionais sobre a boa governança no setor público foram publicados que reafirmaram os três princípios inicialmente preconizados pelo International Federation of Accountants (IFAC) e acrescentaram outros três: liderança, compromisso e integração. Já o Decreto Nº. 9.203, de 22 de novembro de 2017, define em seu Art. º os seguintes princípios da governança pública: I. capacidade de resposta; II. integridade; III. confiabilidade; IV. melhoria regulatória; V. prestação de contas e responsabilidade; VI. transparência Ainda, para melhor atender aos interesses da sociedade é fundamental garantir um comportamento ético, responsável, comprometido e transparente de liderança; reprimir a corrupção; implementar efetivamente um código de conduta e de valores éticos, garantir a adesão das organizações às regulamentações, normas e padrões; garantir a transparência, equilibrar interesses e envolver cada vez mais os stakeholders (cidadãos, usuários dos serviços, iniciativa privada). Assim, podemos entender que uma boa governança no setor público permite: garantir a entrega de benefícios econômicos, sociais e ambientais para os cidadãos; garantir que a organização tenha credibilidade e responsabilidade para com os cidadãos; ter clareza de quais são os serviços prestados para cidadãos e usuários; proporcionar transparência, mantendo a sociedade informada acerca das decisões tomadas e dos problemas envolvidos; dispor e utilizar informações de qualidade e mecanismos sólidos de apoio a tomada de decisões; 4 dialogar, compartilhar e prestar contas à sociedade; garantir a qualidade e continuidade dos serviços públicos prestados; promover o desenvolvimento contínuo dos líderes e dos colaboradores; definir claramente os processos, responsabilidades, limites de poder e de autoridade; selecionar a liderança tendo por base critérios como conhecimento, habilidades, competências e atitudes individuais; avaliar o desempenho da organização, da liderança e dos colaboradores; garantir a existência de uma gestão de riscos concreta; utilizar-se de controles internos para manter a gestão adequada; controlar as finanças de forma responsável; fornecer aos cidadãos dados e informações confiáveis, tempestivas, relevantes e compreensíveis. AMPLIANDO SEU CONHECIMENTO http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/XIVCongresso/078.pdf No Brasil, diversas leis e decretos foram publicados para institucionalizar direta ou indiretamente condições de governança. A Constituição Federal de 1988 estabelece, no caput do art. 1º, que “a República Federativa do Brasil […] constitui-se em Estado Democrático de Direito”. Em relação a governança, isso quer dizer que o cidadão tem poder para escolher seus representantes e que o poder emana do povo e por isso, não está concentrado apenas no governo. Ainda na Constituição de 1988 em seus Art. 5º foi fixado direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, com vistas a criar as condições básicas necessárias à governança do Estado. A Assembleia Nacional Constituinte de 1988 também organizou político administrativamente a República Federativa do Brasil, que compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos. Além da Constituição de 1988, outros instrumentos surgiram para fortalecer a governança pública. Podemos destacar: o Código de Ética do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal (Decreto 1.171, de 22 de junho de 1994), a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101, de 04 de maio de 2000), o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GesPública) instituído em 2005 e revisado em 2009 e em 2013. A Lei 12.813, de 16 de maio de 2013, que dispõe sobre o conflito de interesse no exercício de cargo ou emprego do Poder Executivo Federal; os instrumentos de http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/XIVCongresso/078.pdf 5 transparência, como a Lei de Acesso à informação (Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011), que asseguram o direito fundamental de acesso à informação e facilitam o monitoramento e controlede atos e condutas da administração pública e o recente e já citado Decreto 9.203, de 22 de novembro de 2017 que dispõe sobre a política de governança da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Apesar do avanço que esses instrumentos significam para a melhoria da capacidade de governança do setor público e gestão do Estado brasileiro, é preciso reconhecer que para atender a constantes demandas econômicas, sociais e ambientais é necessário fortalecer ainda mais os mecanismos de governança como forma de reduzir o distanciamento entre o Estado e os cidadãos. A sociedade deve exercer seu papel de principal interessado nos resultados do Estado, monitorando e propondo ações de interesses coletivos e, demandando novas estruturas de governança que possibilitem cada vez mais aprimorar isso de forma profissional, buscando o atendimento das expectativas da sociedade. Diante do exposto e como base em vários referenciais como artigos científicos, códigos, programas e guias de diversos países, podemos conceituar governança no setor público como sendo: Mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a atuação da gestão, visando a condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse e necessidades da sociedade. A governança assegura que os interesses dos administradores estejam alinhados aos interesses da comunidade. Ela garante que os processos e as estratégias estão sendo corretamente seguidos, além de promover uma cultura de prestação de contas e de controle. 6 1.1 FUNÇÕES DE GOVERNANÇA E GESTÃO Agora que já conhecemos o conceito de governança e como ela se aplica no setor público é importante sabermos diferencia-la do conceito e das funções da gestão. Governança associa-se com o processo de comunicação, análise e avaliação, liderança, tomada de decisão e direção, controle, monitoramento e prestação de contas, a Gestão, de forma complementar, refere-se ao funcionamento do dia a dia de programas e de ações no contexto de estratégias, políticas, processos e procedimentos que foram determinados pelo órgão, preocupando –se com a eficácia (cumprir ações priorizadas) e a eficiência (realizar as ações da melhor forma possível e com menos custos). A principal diferença entre os conceitos é que enquanto a governança provê direcionamento, monitora, supervisiona e avalia a atuação da gestão com vistas ao atendimento das necessidades e expectativas dos cidadãos, a gestão e demais stakeholders, a gestão é incorporada aos processos organizacionais, sendo responsável pelo planejamento, execução, controle, ação, enfim, pela execução dos recursos e poderes colocados à disposição para o alcance de seus objetivos. A gestão parte da premissa de que já existe um encaminhamento superior e que os mesmos devem ser executados da melhor forma possível em termos de eficiência. O quadro a seguir apresenta as principais funções da governança e da gestão: FUNÇÕES DA GOVERNANÇA FUNÇÕES DA GESTÃO ➢ Definir o planejamento estratégico ➢ Implementar programas; ➢ Supervisionar a gestão ➢ Garantir a conformidade com as regulamentações ➢ Envolver os stakeholders ➢ Revisar e reportar o progresso das ações ➢ Gerenciar riscos estratégicos ➢ Garantir a eficiência administrativa ➢ Gerenciar conflitos internos ➢ Manter a comunicação com os stakeholders ➢ Auditar e avaliar o sistema de gestão e controle ➢ Avaliar o desempenho e aprender ➢ Promover o accountability (prestação de contas e responsabilidade e a transparência) DESTAQUE: Diferente de Governança, Governabilidade é o conjunto de condições necessárias ao exercício do poder. Compreende a forma de governo, suas relações entre os poderes e o sistema partidário. Diz respeito a capacidade política de decidir e expressa a possibilidade em abstrato de realizar políticas públicas. 7 1.2 A GESTÃO MUNICIPAL A palavra município é derivada do francês municipalité e do latim municipium, antiga denominação romana. Significa um território dotado de personalidade jurídica, autônoma, constituída por órgãos políticos e administrativos e que podem se diferenciar em três tipos: urbanos – que são os municípios constituídos por território urbanizado; rurais – são os constituídos, por vários núcleos populacionais de pequenas dimensões e por território não urbanizado e, misto – municípios que compreendem quantidades tanto de território urbano como de território rural. No nosso país, o município é a menor unidade político-administrativa existente. Todo o território nacional é dividido em municípios, menos o Distrito Federal e o arquipélago de Fernando de Noronha, que é um distrito do estado de Pernambuco. Os municípios são formados pelo poder executivo (Prefeitura) e pelo poder legislativo (Câmara Municipal). A partir da Constituição de 1934, os municípios começaram a ter alguma autonomia, naquilo que respeitasse ao seu interesse peculiar, falou-se pela primeira vez em autonomia política, ou seja, eleições para Prefeitos e Vereadores; autonomia financeira (impostos, taxas e outras rendas) e autonomia administrativa (organização dos serviços públicos). Surgia assim a Gestão Municipal. Porém foi a partir do início da década de 90, que se ampliaram os estudos e a atenção sobre os municípios, notadamente no que se refere à gestão municipal. Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, os municípios adquiriram status de 'entes federativos' além de terem estendidas suas competências e estabelecidos os processos de descentralização de ações e do poder decisório. A descentralização possibilitou, aos municípios, acesso a maiores parcelas de recursos públicos, mas, ao mesmo tempo, a atuação direta foi expandida a áreas que antes eram de responsabilidade do governo estadual ou federal. Com as novas responsabilidades e atribuições específicas assumidas pelos municípios, aumentaram tanto as exigências de profissionalização da gestão municipal quanto a necessidade de instituição de controles democrático-populares da ação pública (CAIADO, 2003). Na administração pública municipal, mais do que no governo federal ou estadual, é que se tem influência direta no dia a dia das pessoas, as quais exigem mudanças constantes, e reivindicam o 8 aumento da qualidade dos serviços públicos oferecidos, como transporte urbano, coleta de lixo, manutenção de áreas públicas, saúde, educação, segurança, transparência, entre outros. Pode-se assim, entender que, essa exigência pelo aumento da qualidade de vida individual e coletiva, obriga os gestores a repensar os seus modelos e processos de gestão, a fim de aumentar a efetividade dos serviços públicos prestados. Observa-se também, a ampliação, o compartilhamento e a transferência para o âmbito do governo municipal de responsabilidades que antes estavam restritas a outras esferas de governo (REZENDE; CASTOR, 2006). A gestão de municípios é uma tarefa desafiadora. Vai além da necessidade de se conciliar os mais diversos interesses e de atingir resultados com grande complexidade de mensuração; implica na busca pelas melhores informações em tempo ágil e a utilização dessas informações de forma efetiva, alinhando-as, por fim, aos anseios dos cidadãos e aos processos controlados e efetivos (CASTELLS, 2000; PFEIFFER, 2000; REZENDE, 2005). O Município detém competências legislativas em três níveis: 1) exclusiva, a ser exercida na fórmula do “interesse local”, (art. 30, I, da CF); 2) suplementar, na forma de suprir os vazios e indeterminações da legislação federal e estadual no que couber, ou seja, naquilo que for compatível, o que significa dizer naquilo que a norma superior não regulou, sobretudo nos aspectos ligados às condições locais (art. 30, II, da CF); e 3) comum, na forma prevista na Constituição, que se pode realizar também por meio de cooperaçãotécnica, nos termos de lei complementar federal (art. 23). Como já foi dito, a parcela de competência que cabe ao Município, na distribuição feita pela Constituição, está consubstanciada nos atributos de sua autonomia e de sua condição como pessoa de direito público interno. No que diz respeito ao seu Governo, cabe aos eleitores eleger os seus responsáveis, ou seja, o Prefeito, o Vice-Prefeito e os Vereadores. De forma geral podemos dizer que aos Municípios compete, enfim, prover a tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse e ao bem estar da sua população, cabendo-lhe, entre outras, as seguintes atribuições: I - Elaborar o seu orçamento anual, o plano plurianual de investimentos e a lei de diretrizes orçamentárias, no que observará a Lei Complementar nº 101/2000 e os prazos; II - Instituir e arrecadar tributos; III - Fixar, fiscalizar e cobrar preços; IV - Dispor sobre a organização, a administração e a execução de seus serviços; 9 V - Organizar os quadros de servidores e instituir o regime jurídico; VI - Dispor sobre a administração e a utilização dos serviços públicos locais; VII - Planejar o uso e a ocupação do solo em seu território, especialmente em sua zona urbana; VIII - Estabelecer normas de construção, de loteamento, de arruamento e de zoneamento urbano, bem como as limitações urbanísticas convenientes à ordenação do seu território, respeitadas a legislação federal e estadual pertinentes, especialmente a Lei nº 10.257, de 10/07/01, conhecida como Estatuto da Cidade; IX - Conceder licença para localização e funcionamento de estabelecimentos industriais, comerciais, prestadores de serviços e quaisquer outros, renovar a licença concedida e determinar o fechamento de estabelecimentos que funcionem irregularmente; X - Estabelecer servidões administrativas necessárias aos seus serviços, inclusive aos dos seus concessionários; XI - Regulamentar a utilização dos logradouros públicos e determinar o itinerário e os pontos de parada dos transportes coletivos; XII - Fixar os locais de estacionamento de táxis e demais veículos; XIII - Regulamentar, conceder, permitir ou autorizar os serviços de transporte coletivo e de táxis, fixando as respectivas tarifas; XIV - Fixar e sinalizar as zonas de silêncio e de trânsito e tráfego em condições especiais; XV - Disciplinar os serviços de carga e descarga e fixar a tonelagem máxima permitida a veículos que circulam em vias públicas municipais; XVI - Tornar obrigatória a utilização da estação rodoviária, quando houver; XVII - Sinalizar as vias urbanas e as estradas municipais, bem como regulamentar e fiscalizar sua utilização; XVIII - Realizar, direta ou indiretamente, a limpeza de vias e logradouros públicos, a remoção e o destino do lixo domiciliar e de outros resíduos de qualquer natureza; XIX - Ordenar as atividades urbanas, fixando condições e horários para funcionamento de estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços, observadas as normas federais pertinentes; XX - Dispor sobre os serviços funerários e de cemitérios; XXI - Regulamentar, licenciar, permitir, autorizar e fiscalizar a afixação de cartazes e anúncios, bem como a utilização de quaisquer outros meios de publicidade e propaganda, exercendo o seu poder de polícia administrativa; 10 XXII - Cassar a licença que houver concedido, quanto a estabelecimento que se tornar prejudicial à saúde, à higiene, ao sossego, à segurança ou aos bons costumes, fazendo cessar a atividade ou determinando o fechamento do estabelecimento; XXIII - Organizar e manter os serviços de fiscalização necessários ao exercício do seu poder de polícia administrativa; XXIV - Dispor sobre o depósito e a venda de animais e mercadorias apreendidos em decorrência de transgressão de legislação municipal; XXV - Estabelecer e impor penalidades por infração de suas leis e regulamentos; XXVI - Promover, entre outros, os seguintes serviços: a) mercados, feiras e matadouros; b) construção e conservação de estradas e caminhos municipais; c) transportes coletivos estritamente municipais; d) iluminação pública; XXVII - Assegurar a expedição de certidões requeridas às repartições administrativas municipais, para defesa de direitos e esclarecimento de situações, estabelecendo os prazos de atendimento; XXVIII - Instituir a Guarda Municipal destinada à proteção de seus bens, serviços e instalações. A gestão municipal, tem se voltado para as questões relacionadas ao desenvolvimento local, contudo, cabe ainda aos agentes municipais, a gestão de outros temas complexos e importantes que versão sobre a sociedade: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social, desenvolvimento urbano, desenvolvimento sustentável, gestão democrática, participação popular e controle social, gestão dos serviços públicos, entre outros. É importante, no entanto, que as ações municipais não sejam pensadas 11 de forma isolada, e sim através de programa que contemple medidas para superar os diversos entraves existentes no âmbito local. Após conhecer um pouco sobre a gestão municipal, é importante entender sobre a importância da necessidade do fortalecimento institucional dos Municípios na esfera Federal Brasileira, pois isso pode ser interpretado como facilitador das ações da gestão em favor da democratização, fortalecimento da cidadania e melhor qualidade de vida. A primeira cidade organizada do Brasil foi São Vicente, localizada no Litoral Sul de São Paulo. Ela foi fundada pelo militar português Martim Afonso de Souza em 22 de janeiro de 1532 e foi a capital dos paulistas por 177 anos. SAIBA MAIS: http://www.ibam.org.br/media/arquivos/estudos/manual_prefeito15ed2017_2.pdf http://www.ibam.org.br/media/arquivos/estudos/manual_prefeito15ed2017_2.pdf 12 1.3 A QUESTÃO SOCIAL De forma geral, Questão Social é o conjunto de expressões de definem as desigualdades da sociedade e os fenômenos que ressaltam a diferença entre trabalhadores e capitalistas, no que concerne ao acesso de bens socialmente produzidos como direitos sociais e condições apropriadas de vida. São consideradas expressões da questão social fenômenos como o desemprego, a pobreza, a violência, o analfabetismo, a falta de serviços de saúde, a falta de moradia, entre outras. A Questão Social surgiu na Europa, no século XX com o objetivo de exigir a formulação e implementação de políticas sociais em prol da classe operária que estava em crescente fenômeno de pobreza. Esse fenômeno de pobreza teve sua origem principalmente com o processo de urbanização e industrialização, que conscientizou a classe operária das suas reais condições de trabalho, onde a questão social acabou atingindo contornos problemáticos para outras classes, em especial para a burguesia que viu-se obrigada e implementar políticas sociais. Como podemos perceber a questão social é muito vinculada a desigualdade social e nesse contexto foi surgindo o Terceiro Setor na sociedade, a fim de elaborar programas e projetos para amparar os necessitados e também auxiliar nos assuntos referentes a política. A questão social é o tema primário e central para o profissional de Serviço Social, cuja essência é a ciência social aplicada com foco na integração dos cidadãos à sociedade. Já na esfera da gestão das cidades ou municípios, as mudanças políticas e institucionais sobre o tema se tornaram visíveis, também, a partir da promulgação da Constituição de 1988, que apesar de 13 todos os seus limites, avançou nas definições e extensões de direitos sociais e políticos. Mais tarde em 2010, o Estatuto da Cidade, reafirmou a função social da cidade, da propriedade urbana e do interesse público. O princípio da função social da cidade assegura a atuação do poder público para o atendimento das necessidades de todos os cidadãosquanto a qualidade de vida, a justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, não deixando de observar as exigências fundamentais da ordenação da cidade. Pensar na questão social é reconhecer a necessidade de se respeitar o ser humano, para que este possa respeitar o território em que vive, pois ele próprio é a parte mais importante do meio ambiente. 1.4 POLÍTICAS PÚBLICAS E SUSTENTABILIDADE Com o aprofundamento e expansão da democracia, as responsabilidades dos representantes populares e dos governos se diversificaram. É comum dizer que a principal função do Estado é promover e melhorar a qualidade de vida do cidadão. A qualidade de vida da população de uma cidade está relacionada ao atendimento de suas necessidades em áreas como saúde, educação, habitação, transporte, meio ambiente, assistência social, segurança. A partir desse contexto e, para oferecer produtos e serviços públicos que contemplem as diferentes áreas, os governos (federal, estadual e municipal) se utilizam das políticas públicas. Podemos conceituar políticas públicas como um conjunto de programas, ações e decisões tomadas pelos governos (nacional, estadual ou municipal) com a participação direta ou indireta da população e 14 de entes públicos ou privados, que objetivam atender determinado direito ou demanda da sociedade ou de determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico, diminuindo a desigualdade social. Os programas, ações e decisões precisam ser estruturados de modo funcional e sequencial para que possam ser colocados em prática. Esse processo é chamado de Ciclo das políticas públicas. 1.5 CICLO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Também chamado de processo de formulação das políticas públicas, o ciclo das políticas públicas é composto de diversas fases. A primeira fase é a formação da agenda que se caracteriza pelo planejamento, que consiste em reconhecer o problema público que merece maior atenção no cenário real em que a população se encontra. Nessa fase são analisados: custo benefício; cenário local e suas necessidades; recursos disponíveis, urgência do problema; necessidade política. A segunda fase é a formulação da política propriamente dita, é a apresentação de soluções ou alternativas, caracterizada pelo detalhamento das alternativas definidas na agenda. Nesse momento organizam-se as ideias, alocam-se os recursos e consideram-se a opinião de especialistas na definição de objetivos e resultados que se pretende alcançar com as estratégias que são definidas. Os atores estabelecem suas propostas e as defendem. A terceira fase é a fase do processo de tomada de decisão. Nesse ponto é definido qual será o curso da ação que será colocado em prática, são definidos recursos e prazos para a ação da política. A quarta fase é chamada implementação da política, é o momento em que o planejamento e as escolhas são transformados em atos, ou seja, o planejamento é transformado em ação, por meio dos disponibilizados recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos disponibilizados para a executar a política pública. A avaliação é a quinta fase, ela deve ser realizada em todas as fases do ciclo, de forma a contribuir com possíveis correções de falhas e variações cabíveis para o sucesso da ação e de melhores resultados. 15 Veja exemplos de políticas públicas na área de Educação: http://www.fnde.gov.br/portal/arquivos/category/45- projetosarquitetonicos?download=10373:quadra-coberta-vestiario-modelo-2- pdf-projetoeletrico&start=20 De acordo com o nível de sucesso ou insucesso da política, o poder público decide se reinicia o ciclo das políticas públicas com as alterações cabíveis, se o projeto é mantido da mesma forma ou se simplesmente é extinto. A política pública é considerada boa, quando cumprir, ao menos, as seguintes funções: promover e melhorar a colaboração entre os atores; constituir-se em um programa implementável. http://www.fnde.gov.br/portal/arquivos/category/45-projetosarquitetonicos?download=10373:quadra-coberta-vestiario-modelo-2-pdf-projetoeletrico&start=20 http://www.fnde.gov.br/portal/arquivos/category/45-projetosarquitetonicos?download=10373:quadra-coberta-vestiario-modelo-2-pdf-projetoeletrico&start=20 http://www.fnde.gov.br/portal/arquivos/category/45-projetosarquitetonicos?download=10373:quadra-coberta-vestiario-modelo-2-pdf-projetoeletrico&start=20 16 1.6 SUSTENTABILIDADE Voltando a citar o documento Estatuto da Cidade, sobre o qual já comentamos no tema questão social, é importante destacar que ele estabelece, ainda, outras diretrizes sobre a política urbana para o alcance do desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade. Uma delas é a garantia do direito a cidades sustentáveis, ou seja, o direito de todo o cidadão à terra urbana, à moradia, ao saneamento básico, a infraestrutura, ao transporte, ao lazer e a outros serviços públicos, não só para as gerações atuais, como também para as futuras. Sobre o tema, o Estatuto da Cidade apresenta caminhos e estabelece objetivos em sintonia com acordos decorrentes de Conferências Mundiais de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orienta que a adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana, devem ser compatíveis com os limites de sustentabilidade ambiental. Mas o que é sustentabilidade? Sustentabilidade é um conceito relacionado ao desenvolvimento sustentável, formado por um conjunto de ideias, estratégias e demais atitudes ecologicamente corretas, economicamente viáveis, socialmente justas e culturalmente diversas. Serve como alternativa para garantir a sobrevivência dos recursos naturais do planeta, ao mesmo tempo que permite aos seres humanos e sociedades soluções ecológicas de desenvolvimento. O desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem colocar em risco a capacidade de atender as gerações futuras. Por isso, a definição está vinculada aos termos “legado” e “continuidade”. Desenvolver-se de forma sustentável, seja em pequena esfera (no contexto de uma empresa, por exemplo), ou em larga esfera (no contexto de um país), pressupõe possibilitar às pessoas, agora e futuramente, atingir um nível satisfatório de desenvolvimento socioeconômico e cultural, fazendo uso razoável dos recursos naturais de forma a não esgotá-los para as próximas gerações. 17 Etimologicamente, a palavra sustentável tem origem no latim sustentare, que significa "sustentar", "apoiar" e "conservar". Existem alguns tipos de sustentabilidade, entre os mais significativos, podemos destacar: a) Sustentabilidade Ambiental e Ecológica: é a manutenção do meio ambiente do planeta, mantendo a qualidade de vida e os ecossistemas em harmonia. Em ações práticas, significa não poluir as águas, separar o lixo, evitar desastres ecológicos como queimadas e desmatamentos, entre outras ações; b) Sustentabilidade Social: é o conjunto de medidas estabelecidas para promover o equilíbrio e o bem estar da sociedade, por meio de diversas iniciativas que devem ter o objetivo de contribuir para os membros da sociedade que enfrentam condições desfavoráveis. Como exemplos práticos estão o incentivo aos programas de inclusão social, investimento em saneamento básico, incentivo a projetos de qualificação profissional, incentivo a programas culturais gratuitos e de educação pública de qualidade para pessoas com baixa ou sem renda, entre outras; c) Sustentabilidade Econômica: é procurar garantir o desenvolvimento econômico considerando estratégias que não provoquem impactos ambientais ou que prejudiquem a qualidade de vidas das pessoas. Entre algumas das ações que são consideradas economicamente sustentáveis, merecem destaque a utilização de energias renováveis, fiscalização ampla e constante para evitar abusos e arbitrariedades, bem como,para evitar que empresas ou pessoas cometam crimes ambientais. O tripé da sustentabilidade também é conhecido como Triple Bottom Line ou People, Planet, Profit: DIMENSÃO ECOLÓGICA DIMENSÃO SOCIAL DIMENSÃO ECONÔMICA Educação ambiental Valorização Direitos Humanos Competitividade de mercado Conservação dos recursos naturais Envolvimento comunitário Transparência Redução do desperdício Valorização do bem-estar social Prosperidade econômica Uso de energia limpa e renovável Bases éticas Criar laços de respeito com funcionários, fornecedores e sociedade Biodiversidade Investimento em políticas públicas e de inclusão social Estratégias de crescimento com base na preservação ambiental e bem-estar social Eliminar impactos ambientais 18 Dada a importância da questão ambiental, também a Constituição Federal, definiu no art. 225, a definição de meio ambiente exprime o conceito central do desenvolvimento sustentável ao firmar o direito comum de todos de usufruir de ambiente ecologicamente equilibrado e ao conferir ao Poder Público e a coletividade o dever de defende-lo para as gerações futuras. No art. 23 fica definido como competência comum à União, Distrito Federal e Municípios a proteção e o combate a poluição em todas as suas formas. Assim, de modo a evitar e corrigir distorções do crescimento urbano e da gestão da cidade e seus negativos efeitos sobre o meio ambiente, deve existir e ser respeitada uma cooperação entre os governos federal, estadual e municipal, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização e no atendimento do interesse social. 1.7 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A concepção de planejamento estratégico para cidades não foi resultado de consenso entre urbanistas e gestores. Suas bases e princípios, pelo contrário, tiveram origem na prática empresarial, que, por sua vez, fundamentou-se em experiências de ordem militar. Foi após a Segunda Guerra Mundial que as empresas privadas compreenderam que o “longo prazo” tinha um grande impacto sobre suas finanças. Por isso, muitas delas migraram do orçamento anual para o quinquenal e procuraram ampliar o mercado e diversificar os produtos, dando origem ao que se chamou de 'orçamento-controle'. O passo seguinte, denominado 'planejamento de longo prazo', foi decorrente da necessidade de adaptar as empresas para um crescimento previsível, preparando-as técnica e administrativamente. No final dos anos 50, a "Escola de Negócios de Harvard" deu origem à estratégia corporativa global como resposta às novas tendências da gestão empresarial, aumentando a importância de se considerar o entorno do mercado, os consumidores e a concorrência (FERNANDEZ, 1997). Sobre a base da Escola de Harvad buscavam-se ações de articulação entre a organização e seu entorno, dessa forma, o planejamento estratégico passou a ser ferramenta no planejamento das cidades a partir da década de 80. Considera-se assim que, o primeiro Planejamento Estratégico Municipal iniciou-se na cidade de São Francisco, Estados Unidos. Devido à forte crise econômica local, os empresários, prevendo o agravo da crise, formularam um plano visando melhorar a situação do setor público, por meio de iniciativas como apoio a moradias e densificação do solo urbano. Os resultados foram positivos; todavia, a prefeitura 19 daquela cidade não participou da formulação do Plano Estratégico do Município (PEM) por isso, em 1983, foi elaborado um segundo documento, desta vez com a participação do poder público. Em meados da mesma década, outras 25 cidades americanas tinham seguido e aperfeiçoado a experiência (PASCUAL, 1999; REVENTOS, 2005). No Brasil, a partir da Constituição de 1988, iniciou-se um processo de descentralização que resultou em maior autonomia para os municípios brasileiros, porém o que também se verificou foi que as suas competências técnicas e administrativas se mostraram insuficientes diante das novas responsabilidades e demandas. Neste ponto constatou se que os tradicionais instrumentos de planejamento urbano, além de não serem adequados para as novas dinâmicas, não ofereciam apoio para as decisões e orientações necessárias para as ações e tomadas de decisões, resultando em uma gestão mais burocrática do que gerencial. Assim, para lidar com essa nova situação, faz-se faz necessário conceitos e instrumentos capazes de levar em consideração as transformações e desenvolvimentos que estão ocorrendo, pois, sem uma orientação clara de desenvolvimento que tome como base o potencial do município e sem flexibilidade de enfrentar as influências externas, o desenvolvimento do município pode ser bastante prejudicado. O Planejamento Estratégico pode ser um dos instrumentos para lidar com esses processos dinâmicos de mudanças e transformações. Vale ressaltar que o planejamento estratégico desenvolvido para setor privado não deve ter seu método diretamente transferido para o setor público, tendo em vista que trata-se de dois setores com características muito diferentes. IMPORTANTE: As Nações Unidas definiram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como parte de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável, onde os Estados-membros e a sociedade civil negociam suas atribuições. Conheça mais sobre os ODS: https://nacoesunidas.org/pos2015/ https://nacoesunidas.org/pos2015/ 20 2. GESTÃO ESTRATÉGICA DA INFORMAÇÃO Informação vem da palavra latina informarem, que significa “dar forma”. Assim, podemos definir informação como sendo o conjunto de dados aos quais os seres humanos deram forma para torná-los significativos e úteis, de modo a terem valor adicional, além do valor dos fatos propriamente ditos. Já a “gestão da informação”, se consolidou em meados do século XX. Davenport (1988) é um dos autores pioneiros a identifica-la, afirmando que o tema ganhou mais destaque em 1986, depois de uma empresa trocar o nome do seu setor de marketing por Consultoria em Administração da Informação. Porém foi a partir do surgimento da Gestão do Conhecimento, na segunda metade da década de 1990, que a gestão da informação passou a ser encarada como uma grande área do saber, já responsável pelos estudos das formas e uso do conhecimento nas empresas e ganhou notoriedade entre os pesquisadores, principalmente aqueles dedicados a Teoria Organizacional (TO). Gestão da Informação refere-se a um ciclo de atividade organizacional, ou seja, a aquisição de informações a partir de uma ou mais fontes, a detenção e a distribuição de informações para aqueles que precisam e a sua distribuição através de arquivamento ou até mesmo eliminação. A gestão da informação no âmbito do setor público tem como principal objetivo assegurar que a informação seja gerida de forma efetiva e eficiente para promover a qualidade da governança local. Além deste objetivo a gestão da informação no setor público objetiva: Prestação de contas, mediante justificativa de decisões e ações; Transparência, mediante fluxo confiável e tempestivo de informações a todos os interessados. 21 Cabe ressaltar que os processo de definição e racionalização das informações são de fundamental importância para o alcance dos objetivos estratégicos da organização, seja ela do setor público ou privado e, consequentemente para a promoção de uma boa governança. Segundo Wilson (1999), a gestão imprópria da informação pode gerar problemas de ordem diversas: de uma simples ineficiência até uma responsabilidade legal ou até mesmo um escândalo. Assim, a informação pode ser percebida como um produto que adquire valor agregado. O gerenciamento da informação, conforme Davenport (1997) é um conjunto estruturado de atividades que espelha a forma na qual uma organização captura, distribui, e usa informação e conhecimento, definir a gestão da informação como um processo ressaltamedição e busca de melhorias. Processo pode ser qualquer atividade ou conjunto de atividades que recebe uma entrada, adiciona valor e fornece um resultado a um cliente ou cidadão específico. Pode ser definido também como um conjunto de operações que transforma recursos em produtos (entradas e saídas) e que possui mecanismos de controle e monitoramento de qualidade. O processo de gestão da informação é constituído de várias etapas ou fases, variando de acordo da abordagem com a qual se está trabalhando. Na definição de Davenport (1997) um processo de gestão da informação é composto por quatro fases: 1) Determinação dos requisitos ou necessidades da informação; 2) Captura da informação; 3) Distribuição da informação; 4) Uso da informação A seguir, uma representação do processo da gestão da informação: 22 O processo de gestão da informação em organizações públicas guarda peculiaridades com relação à esfera privada. As empresas privadas costumam iniciar processos informacionais baseada nas necessidades e anseios do seu negócio. Os stakeholders de uma organização pública podem ser todos os cidadãos (pessoas físicas) e ainda pessoas jurídicas constituídas no país. Um processo de informação numa instituição pública pode ser iniciado por diversos motivos: melhorar a efetividade de sua missão, assegurar o acesso de um cidadão ou empresa com relação a determinadas informações de interesse público, prestar contas a sociedade sobre os programas do governo, preservar os registros sociais, econômicos e históricos do país, etc. Cada motivo desse pode trazer diferenças e particularidades à gestão da informação tanto com relação aos objetivos quanto em relação a análise custo/benefício dos processos informacionais. Por consequência, podemos concluir que a gestão da informação numa organização pública focar: a visão do futuro, a missão e os objetivos institucionais expressos por lei e regulamentos aos quais a instituição deve obedecer. No que corresponde a leis, podemos citar a LAI – Lei de Acesso à Informação, Lei nº. 12.527, de 16 de maio de 2012. Esta lei regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas. Além de regulamentar a constituição, criou também mecanismos que possibilitaram, a qualquer pessoa, física ou jurídica, o recebimento de informações públicas dos órgãos e entidades, sem a necessidade de apresentar motivo ou justificativa. Especificamente o art. 8 da LAI dispõe sobre a obrigação dos órgãos e entidades públicas a promover, independentemente de qualquer tipo de solicitação ou requerimento, a divulgação em local de fácil acesso e circulação, de informação de interesse público coletivo ou geral eles produzidos. Essas informações divulgadas devem apresentar como conteúdo, no mínimo: I. registro das competências e estrutura organizacional, endereços e telefones das respectivas unidades e horários de atendimento ao público; II. registros de quaisquer repasses ou transferências de recursos financeiros; III. registros das despesas; IV. informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os respectivos editais e resultados, bem como a todos os contratos celebrados; V. dados gerais para o acompanhamento de programas, ações, projetos e obras de órgãos e entidades; e VI. respostas a perguntas mais frequentes da sociedade. 23 Para cumprir com o disposto no referido artigo, os órgãos públicos deverão utilizar todos os meios legítimos que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação dos atos praticados e demais informações, em sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet). Esses sítios (sites) deverão atender entre outros, os seguintes requisitos: I. Conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão; II. Possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações; III. Possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina; IV. Divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da informação; V. Garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para acesso; VI. Manter atualizadas as informações disponíveis para acesso; VII. Indicar local e instruções que permitam ao interessado comunicar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou entidade detentora do sítio; e VIII. Adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de conteúdo para pessoas com deficiência Todo o conteúdo expresso na LAI vale para os três Poderes da União (legislativo, executivo e judiciário), Estados, Distrito Federal e Municípios, inclusive para os tribunais de Contas e Ministério Público. Instituições sem fins lucrativos também são obrigadas a dar publicidade a informações referentes ao recebimento e a destinação dos recursos públicos por elas recebidos. DESTAQUE: Os servidores públicos devem ser permanentemente capacitados para atuarem na implementação de políticas de acesso à informação. SAIBA MAIS: Para conhecer um pouco mais sobre a Lei da Informação acesse https://youtu.be/HiVKTKkI3nE 24 Quanto ao uso da informação, Miranda (2007) sugere que a mesma está diretamente relacionada com a estrutura organizacional da organização, ou seja, pela forma com a qual se organizam os elementos de uma organização em relação as suas atribuições, responsabilidades e relacionamentos. As organizações mais complexas padronizam as informações, conservam as informações relevantes com o uso de ferramentas formais de documentação. Em estruturas menores, a organização inteira pode estar envolvida na interpretação do ambiente, na discussão e em todo o processo. Em instituições mais mecânicas, é comum a utilização de mídias menos ricas, porque o processo de redução de imprecisão é feito de cima para baixo, permitindo processos de comunicação mais verticais. As organizações burocráticas: podem ser consideradas similares a estruturas mecânicas, e as organizações públicas são normalmente burocráticas. Isso sugere que os processos de gestão da informação nas organizações públicas seguem, geralmente, a uma estrutura de decisão vertical e definida, dividida em funções, este formato costuma ser o tradicional organograma, que especifica uma estrutura mais ou menos piramidal. 25 A figura ao lado apresenta uma maneira pela qual o uso da informação de acordo com a “pirâmide de decisão”. Podemos observar que diferentes níveis de decisão utilizam diferentes quantidades de informações para propósitos específicos Quantidade de informações x hierarquia organizacional x uso da informação Analisando a pirâmide de decisão, podemos constatar que a estrutura organizacional de uma organização pública ou privada, é responsável por projetar e organizar os relacionamentos entre os níveis hierárquicos, e, de maneira primordial, atuar no fluxo das informações essenciais da organização de maneira a: melhorar a comunicação Inter processos; equilibrar os centros de decisão; racionalizar o fluxo de informações; otimizar as atividades. DESTAQUE: O Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão (e-SIC) permite que qualquer pessoa, física ou jurídica, encaminhe pedidos de acesso à informação, acompanhe o prazo e receba a resposta da solicitação realizada para órgãos e entidades do Executivo Federal. https://esic.cgu.gov.br/sistema/site/index.aspx Fontes: Moresi, 2001; Daft e Lengel, 1996; Urdaneta, 1992; Taylor, 1996 Ação Estratégica – Nível Organizacional Inteligência – Nível Organizacional; Processo Decisório; Estratégias, incerteza, subjetividade. GerênciaSênior. Conhecimento – Nível intermediário ; Aval iação e Apoio à Decisão; Tática, monitoramento, incerteza. Gerência média e intermediária. Informação – Nível operacional; Estruturação de significado. Profissionais da informação. Dados – Nível operacional ; Produção e serviços, tecnologias, regras, ob jetividade Operação - ação imediata. 26 SAIBA MAIS: Gestão eficaz - planejamento na gestão pública, https://www.youtube.com/watch?v=5fVsJeWWniI Saiba um pouco mais sobre obter Resultados no livro https://books.google.com.br/books?id=XnmADwAAQBAJ&pg=PT223&dq=pir%C3% A2mide+de+decis%C3%A3o&hl=pt- BR&sa=X&ved=0ahUKEwiEhLXHsIzkAhWIDrkGHXlgB_QQ6AEIKDAA#v=onepage &q=pir%C3%A2mide%20de%20decis%C3%A3o&f=false 2.1 GESTÃO DIGITAL ESTRATÉGICA Muitos autores acreditam que a humanidade está vivendo uma espécie de segunda revolução industrial capaz de provocar mudanças significativas no que se refere ao papel dos governos frente às suas comunidades e do papel destas na relação com as instâncias do poder público. Essas mudanças estão diretamente ligadas à sociedade da informação e a gestão digital estratégica. Gestão Digital Estratégica pode ser entendida como o gerenciamento de todos os recursos de uma organização, seja ela pública ou privada, para alcançar todos os objetivos e metas definidos. Como sugere o nome, a gestão digital estratégica representa uma maneira de gerir toda a organização, priorizando a utilização de planos e projetos estratégicos e tecnologias disponíveis, que devem ser elaborados por toda a estrutura organizacional necessária, bem como, com a participação dos stakeholders. 27 Geralmente, as organizações utilizam um “sistema” para realizar a gestão estratégica, que possa gerir as informações e contribuir para o processo de decisão estratégica. De acordo com Certo e Peter, são cinco as etapas para a elaboração de um sistema de gestão estratégica que devem ser observados: Analisar o ambiente – realizar um monitoramento do meio ambiente interno e externo a fim de identificar seus riscos ou ameaças, oportunidades, forças e fraquezas; Estabelecer a diretriz organizacional – determinar a meta ou metas da organização, juntamente com a missão e os objetivos; Formular estratégias – definir como as ações organizacionais alcançarão seus objetivos; Implementar estratégias – executar as estratégias desenvolvidas; Elaborar o controle estratégico – monitorar e avaliar todo o processo para melhorá-lo e assegurar um funcionamento adequado. De fato, as últimas décadas do século XX apresentaram mudanças nos paradigmas da gestão pública, com a necessidade de novos modelos com ênfase gerencial, controle dos resultados e transparência. Essas mudanças não ocorreram por acaso na administração pública. O mesmo período de tempo foi marcado com novas experiências e técnicas de gestão no setor privado também. Novos temas surgiram com o tratamento de informações em grandes volumes e profundidade, a preocupação da excelência no atendimento ao cidadão, a redução de desperdícios e retrabalhos, a automação de produção de bens e serviços, entre outros. Ao mesmo tempo, o processo de redemocratização estimulou uma relevante pressão da sociedade por maior transparência nos governos, acompanhada pelo aumento da demanda da sociedade por melhor qualidade dos serviços públicos e de vida. Dentre as condições ambientais desse processo, não podemos deixar de valorizar as possibilidades proporcionadas pela tecnologia da informação e da comunicação, que hoje proporcionam aos municípios, utilizar a gestão digital estratégica, aproveitando as mudanças dos acontecimentos sociais e alterações da cultura local, resultantes do uso das tecnologias. No campo da tecnologia da informação, podemos destacar três tendências importantes a afetar a gestão pública: A disseminação da tecnologia da informação; O aumento da conectividade das pessoas; Convergência de várias tecnologias. 28 A disseminação da tecnologia da informação, que em levado a uma popularização do uso dos recursos disponíveis, ou seja, cada vez mais a população assume a tecnologia como elemento fundamental para o funcionamento da sociedade e da administração pública. GESTÃO PÚBLICA DIGITAL https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/primeiros-passos- para-a-transformacao-digital-na-gestao-publica/ 3. GOVERNANÇA E SUSTENTABILIDADE A evolução histórica das questões ambientais repercute desde a Revolução Industrial, que iniciou no século XVIII, na Inglaterra. Foi um marco importante na intensificação dos problemas ambientais, que logo atingiu vários espaços no planeta, promovendo o crescimento econômico e as perspectivas de riqueza com prosperidade e qualidade de vida, acompanhadas de um grande uso de energia e de recursos naturais, provocando em demasia a degradação ambiental. Vários problemas ambientais vieram com a urbanização em decorrência da Revolução Industrial, tais como: concentração populacional; consumo excessivo de recursos renováveis e não renováveis; contaminação das águas, solo e ar, desmatamentos, dentre outros. Vale ressaltar, que como a Inglaterra foi pioneira na Revolução Industrial a matéria prima utilizada pelas fábricas era o carvão mineral, como principal fonte de energia para movimentar as máquinas, pois este país possuía grandes reservas deste em seu subsolo. Contudo, a queima deste combustível fóssil emite grandes quantidades de gases tóxicos, intensificando o efeito estufa e causando a chuva ácida. Frente a essa realidade, as consequências dessa poluição começaram a serem denunciadas de forma intensiva por meio de documentos oficiais, livros, reportagens e outros meios de comunicação, desta forma, os líderes políticos de diversos países iniciaram a discussão sobre como lidar e reverter os problemas ambientais que já atingia todo o mundo. Assim, a primeira grande conferência realizada no mundo relacionada ás questões ambientais, foi a Conferência de Estocolmo, na Suécia em 1972. https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/primeiros-passos-para-a-transformacao-digital-na-gestao-publica/ https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/primeiros-passos-para-a-transformacao-digital-na-gestao-publica/ 29 Vinte anos após essa reunião de chefes de estado, em 1992 foi realizado no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento, também conhecida como Eco-92. Neste evento, metas mundiais foram estabelecidas para a diminuição das emissões de carbono na atmosfera além de alguns documentos como a Carta da Terra e a Agenda 21. Com o intuito de renovar e acompanhar os compromissos estabelecidos na Eco- 92, foi realizada novamente no Rio de Janeiro, a Conferência Rio+20 no ano de 2012. Os temas principais dessa conferência foram: A economia verde e o desenvolvimento sustentável. Para cumprir com os acordos estabelecidos e também para acompanhar as mudanças tecnológicas das indústrias e empresas, profissionais especializados para atender a novas demandas foram surgindo. Nesse contexto, pesquisas e estudos foram nascendo e se ampliando devido à crescente demanda, por parte dos ecologistas, empresas e legisladores, por políticas que alinhem a visão ambientalista à exploração racional dos recursos naturais. Mas, afinal, o que é a Gestão Ambiental? É uma área de conhecimento e trabalho que visa planejar e aplicar ações ambientalmente corretas em conjunto com as pessoas e empresas. Seu principal objetivo é pesquisar, pensar, idealizar e colocar em prática atividades humanas e empresariais que utilizem de maneira racional os recursos naturais do no planeta. Assim, é preciso primeiramente compreender como funciona a natureza e a sua importância, para entendermoso mundo em que vivemos. Sendo assim, explica-se que a natureza tem um princípio muito explícito de sobrevivência, cabendo à geração atual assegurar aos seus sucessores as mesmas condições ambientais, que receberam de seus 30 antepassados. Com isto devem manter as condições necessárias para a sobrevivência do meio ambiente. Desta forma, fica estabelecido o conceito de sustentabilidade quando se fala em ambientes naturais, significa que as trocas, as interrelações, a construção dos ambientes propícios, os pequenos detalhes que permitem a milhares de formas de vida, desde microrganismos até os mamíferos, se sustentarem sucessivamente, geracionalmente. Quais são os principais objetivos da Gestão Ambiental? Uso de recursos naturais de forma racional. Aplicação de métodos que visem à manutenção da biodiversidade. Adoção de sistemas de reciclagem de resíduos sólidos. Utilização sustentável de recursos naturais. Tratamento e reutilização da água e outros recursos naturais dentro do processo produtivo. Criação de produtos que provoquem o mínimo possível de impacto ambiental. Uso de sistemas que garantam a não poluição ambiental. Exemplo: sistema carbono zero. Treinamento de funcionários para que conheçam o sistema de sustentabilidade da empresa, sua importância e formas de colaboração. Criação de programas de pós-consumo para retirar do meio ambiente os produtos, ou partes deles, que possam contaminar o solo, rios, dentre 4 outros. Exemplo: recolhimento e tratamento de pneus usados, pilhas, baterias de telefones celulares, peças de computador, dentre outros. Neste sentido, o Brasil elaborou uma legislação muito rica, do ponto de vista ambiental, porque, são as primeiras leis que levantam questionamentos de interesse público, acima das questões do interesse privado. Relata-se ainda, que em 1965, o Código Florestal Brasileiro deliberava sobre o interesse coletivo, a conveniências de todos os cidadãos está acima do direito da propriedade. Não é à toa que demorou um pouco, porque essa lei irritava quem era dono de terra. Dizia que aquilo que interessava ao povo estava acima daquilo que interessava ao fazendeiro. No entanto, com a edição 31 da Lei nº 6.938/81 o país passou a ter formalmente uma Política Nacional do Meio Ambiente, uma espécie de marco legal para todas as políticas públicas de meio ambiente, a serem desenvolvidas pelos entes federativos. Anteriormente, a esse fato cada Estado ou Município tinha autonomia para eleger as suas diretrizes políticas em relação ao meio ambiente de forma independente, embora na prática poucos realmente demonstrassem interesse pela temática. Em 1988 foi aprovada a Constituição Federal vigente, um documento extremamente importante que preconiza no caput do art. 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as futuras gerações” (BRASIL, 1988) [grifos nossos]. Dessa forma, estabeleceu-se o instrumento legal da Política Nacional do Meio Ambiente que tem como objetivo, tornar efetivo o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como prevê o princípio matriz contido na Carta Magna/88. E por meio ambiente ecologicamente equilibrado se entende a qualidade ambiental propícia à vida das presentes e das futuras gerações. Como mencionamos anteriormente, a urbanização foi um dos mais importantes subprodutos da Revolução Industrial, e criou um ambiente sem precedentes nas cidades. Por volta de 1850, havia mais cidadãos britânicos morando em cidades do que no campo, e quase um terço da população total vivia em cidades com mais de 50.000 (cinquenta mil) habitantes. Essas cidades eram cobertas de fumaça e impregnadas de imundice, e os serviços públicos básicos como o abastecimento de água, esgoto sanitários, espaços abertos, dentre outros, não acompanhavam a migração maciça de pessoas (DIAS, 2006). No começo deste processo histórico, a configuração territorial era simplesmente o conjunto dos complexos naturais. À medida que a história se desdobrou, a configuração territorial é dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades, dentre outros (SANTOS, 1988). Refletindo sobre esta perspectiva, podemos observar em termos de área territorial, no mundo atual, e a preservação do meio ambiente, no qual o espaço rural é bem mais amplo do que o espaço urbano. Isso ocorre porque o primeiro exige um maior espaço para as práticas nele desenvolvidas, como a agropecuária (espaço agrário), o extrativismo mineral e vegetal, além da delimitação de áreas de preservação ambiental e florestas em geral. No entanto, em termos populacionais e em atividades produtivas no contexto econômico e capitalista, a cidade, atualmente, vem se sobrepondo ao campo. Para tanto, observe o gráfico na sequência. 32 Podemos perceber, com a leitura do gráfico, que, pela primeira vez na história, a humanidade está se tornando majoritariamente urbana. Os dados após 2010 são apenas estimativas, mas revelam que a tendência desse processo é se intensificar nas décadas subsequentes. Note também, que a velocidade com que a urbanização acontece é cada vez maior, deixando a curva que representa a população urbana cada vez mais acentuada. Em geral, o que se observa, portanto, é a industrialização funcionando como um motor para a urbanização das sociedades. Em seguida, ampliam-se as divisões econômicas e produtivas, com o campo produzindo matérias-primas, e as cidades produzindo mercadorias industrializadas e realizando atividades características do setor terciário. Esse processo é acompanhado por um elevado êxodo rural, com a formação de grandes metrópoles e, em alguns casos, até de megacidades, com populações que superam os 10 (dez) milhões de habitantes. 3.1 A IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO O fato de o Brasil ter sediado a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92 contribuiu para reforçar e disseminar a consciência ambiental no país (GEO BRASIL, 2002), trazendo importantes discussões acerca da globalização dos problemas ambientais no âmbito das políticas públicas. Após os acontecimentos citados anteriormente, o homem entra num processo de sensibilização ambiental e o contingente de pessoas preocupadas com o meio ambiente, que já é significativo, tende a 33 crescer ainda mais à medida que as populações se dão conta de que estes problemas não só afetam a qualidade de vida atual, mas comprometem a sobrevivência do próprio homem. A partir desses eventos significativos, um conjunto de ações dos setores governamental, empresarial e da sociedade, foi empreendido no sentido de fomentar um novo modelo de gestão focado no desenvolvimento sustentável. Assim, o processo de descentralização da gestão ambiental que já estava presente na esfera estadual, estendeu-se no âmbito municipal. Entendemos que o Município é a instância mais adequada para resolver os problemas ambientais, visto que todo impacto ambiental é, antes de tudo, local, o que fortalece o slogan ambientalista “pensar globalmente, agir localmente”. Com a implantação da Política Nacional de Meio Ambiente, os Municípios passaram a desempenhar um importante papel na defesa do meio ambiente, reforçado na Constituição da República/88, que reconheceu o Município como ente federativo, que pode e deve legislar sobre assuntos de interesse local, portanto tomando para si decisões em defesa do patrimônio natural e cultural, e consequentemente, proporcionando bem-estar aos cidadãos. Para a efetividade esperada é necessário que os Municípios estejam estruturados e capacitados para o enfrentamento dos conflitos gerados por diversos interesses. Como consequência desseprocesso, o Município passou a integrar o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), cumprindo o dever de promover o equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser assegurado e protegido. Tendo em vista o uso coletivo e observando as normas e os padrões federais da matéria, poderá elaborar diretrizes que tratem da forma como se dará a fiscalização e a preservação em seu território. É importante ressaltar que os problemas ambientais que afligem a maioria dos Municípios brasileiros repercutem diretamente na saúde pública e na qualidade de vida da população local. Como exemplo, podemos citar a ausência de saneamento básico, coleta e destinação final dos resíduos sólidos urbanos. Para os Municípios, a descentralização traz uma perspectiva de maior efetividade na aplicação dos recursos ambientais, em nível local, devido à proximidade para aferir os impactos decorrentes da degradação ambiental, bem como valorizar e aproveitar o saber ambiental das comunidades locais, que, por muitas vezes, indicam o caminho a ser percorrido, tornando-se fundamental para a gestão ambiental dos governos municipais. Segundo Souza (2003, p. 8): 34 “No processo de descentralização da gestão ambiental devem ser trabalhadas ações que visem à integração dos aspectos ambientais, incluam a participação social e analisem o impacto ambiental resultante das atividades, evitando-se a adoção de procedimentos que possam desencadear o efeito da fragmentação tanto em nível institucional, científico e ambiental [grifos nossos]”. Pensar a descentralização da gestão ambiental nos remete a uma reflexão sobre a importância da articulação institucional, na qual a interação entre governo e sociedade deve ser uma constante. Enveredar esforços para que não haja fragmentação da gestão ambiental, deve ser também uma premissa básica para tratar os assuntos relacionados ao meio ambiente. Como forma de amenizar possíveis fragmentações da gestão ambiental, é que houve a incorporação pelos diversos setores que atuam nos assuntos relacionados ao meio ambiente dos conceitos de interdisciplinaridade e transversalidade. A interdisciplinaridade é entendida como a interrelação dos meios físicos, aspectos bióticos e antrópicos, enquanto a transversalidade permeia as diversas áreas do planejamento governamental. Contudo, ainda não existe uma organização ecológica e política que satisfaça a tomada de decisões no campo ambiental. Para esclarecer pode-se citar o licenciamento, que vem sendo tratado de forma isolada e não com uma visão sistêmica que busca a integração, principalmente entre os governos federal, estadual e municipal, fato que gera desconforto entre os entes federativos. Vale ressaltar que ações estão sendo estruturadas a exemplo das comissões técnicas tripartites. Para garantir a participação da sociedade nas deliberações acerca dos caminhos almejados para o desenvolvimento sustentável, os Conselhos de Meio Ambiente Nacional, Estaduais e Municipais, têm-se apresentado como a forma mais difundida de participação. Os conselhos têm caráter deliberativo, sendo a instância máxima das decisões ambientais. A participação da comunidade torna-se de fundamental importância no processo de tomada de decisões do modelo de desenvolvimento desejado para o seu Município. Para tanto, é necessário estabelecer políticas públicas com programas de educação ambiental formal e informal, aliados a um processo de comunicação ambiental que garanta o acesso às informações, visando a uma maior compreensão dos assuntos de meio ambiente. Assim, a comunidade poderá auxiliar nas tomadas de decisões e contribuir para melhoria do nível profissional e de participação e, ainda, na melhoria da qualidade ambiental e das condições de vida da 35 população. A representação dos Municípios no Conselho Nacional de Meio Ambiente se dá por meio da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (ANAMMA). A ANAMMA é uma instituição que representa os municípios nos assuntos relacionados ao meio ambiente, e desempenha importante papel ao fomentar a criação de órgãos ambientais municipais e apoiar as estruturações institucional, legal e operacional (PHILIPPI JÚNIOR et al, 1999, p. 13). Assim, a gestão ambiental começa com esse processo, estruturando os Conselhos Municipais de forma descentralizada, começando na periferia, em comitês que contribuam para se constituírem em um Conselho, virar ao contrário, olhar da periferia para o centro; fortalecer politicamente as administrações. Por sua vez, o Sistema Municipal de Meio Ambiente (SISMUMA), tem como órgão superior o Conselho Municipal de Meio Ambiente, cujo presidente é sempre o Secretário da pasta. Geralmente integram os SISMUMAs, os Conselhos Municipais de Meio Ambiente, os Códigos Municipais de Meio Ambiente e os Fundos de Meio Ambiente. Os objetivos dos Sistemas são: propor políticas públicas, normas e diretrizes; acompanhar a execução da política de meio ambiente e, ainda, desempenhar o poder de polícia administrativa. Desta forma, faz-se necessário aprimorar a relação entre a cidadania ambiental emergente e as empresas, discutindo os efeitos da ampliação do debate ecológico na tomada de posição das pessoas e as organizações não governamentais. Oliveira et al, diz que os sistemas de gestão ambiental (SGAs) têm sido uma das alternativas utilizadas pelas empresas para alcançarem estes objetivos. Eles exigem, em geral, a formalização dos procedimentos operacionais, instituem o seu monitoramento e incentivam a melhoria contínua, possibilitando a redução da emissão de resíduos e o menor consumo de recursos naturais. A nova formatação das relações empresariais tem demandado que as organizações sejam cada vez mais socialmente responsáveis e os SGAs têm sido uma das mais frequentes alternativas adotadas para este fim. 36 3.2 A VERIFICAÇÃO DA GESTÃO Após a implantação segue a fase de verificação, na qual se constatará até que ponto o desempenho do SGA foi o esperado e onde foi insuficiente, nessa etapa na qual se realizam auditorias. As auditorias são revisões estruturadas dos vários elementos do SGA, que indicam se os procedimentos e as práticas previstas foram corretamente implantados e identificam as não conformidades. As auditorias ajudam a organização perceber se está no caminho adequado, e na direção correta para de atingir os objetivos e metas definidos, como demonstra a figura a seguir. 3.3 A GESTÃO PÚBLICA AMBIENTAL Segundo José Silva Quintas (2006), os trabalhadores de órgãos de gestão ambiental (prefeituras, órgãos estaduais e municipais de meio ambiente e o Ibama) e militantes de entidades da sociedade civil, que atuam na área (ONGs ambientalistas, movimentos sociais, associações comunitárias, entidades de classes dentre outros.), costumam tomar conhecimento diariamente de agressões e ameaças ao meio ambiente. De várias formas chegam denúncias e informações de desmatamentos ilegais, aterramento de manguezais, derramamento de óleo no mar, pesca predatória, tráfico de animais silvestres, lixões, lançamento de esgotos doméstico e industrial sem tratamento no mar e nos rios, destruição das 37 nascentes, e funcionamento de empreendimentos potencialmente poluidores sem licença ambiental e outras ocorrências, que põem em risco a integridade dos ecossistemas e interferem negativamente na qualidade de vida das populações afetadas. Por outro lado, José Silva Quintas (2006) nos explica que o poder público é o principal responsável pela proteção ambiental no Brasil, por meio de suas diferentes esferas, pode intervir no processo, de modo a evitar que os interesses de determinados atores sociais (madeireiros, empresários de construção civil, industriais, agricultores, moradores, dentre outros) provoquem alterações no meio ambiente que ponham em riscoa qualidade de vida da população afetada. Gestão ambiental pública, portanto, é vista como o processo de mediação de interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre atores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído, objetivando garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme determina a Constituição Federal de 1988. Quintas (2006) explica como mediador principal deste processo, o poder público é detentor de poderes e obrigações estabelecidos na legislação, que lhe permitem promover desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais, incluindo a criação de incentivos fiscais na área ambiental, até a reparação e a prisão de indivíduos pelo dano ambiental. Neste sentido, o poder público estabelece padrões de qualidade ambiental, avalia impactos ambientais, licencia e revisa atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplina a ocupação do território e o uso de recursos naturais, cria e gerencia áreas protegidas, obriga a recuperação do dano ambiental pelo agente causador, promove o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora. 38 3.4 GOVERNO E SUSTENTABILIDADE O principal desafio dos governos e da administração pública no mundo contemporâneo é promover o desenvolvimento econômico e social sustentável, num ambiente de mudanças de paradigmas, que estão impactando de maneira profunda na sociedade vigente, em especial nas áreas econômicas, sociais, ambientais culturais e tecnológicas. Este desafio impõe aos governos e às administrações públicas a necessidade de repensar a questão da governança e do modelo de gestão pública, ao mesmo tempo em que exige mecanismos inovadores de relacionamento com a coletividade. A questão que se levanta não é em relação às teorias que reservam certa coerência, na intenção pública de ofertar serviços com qualidade. Identifica-se, porém, algumas práticas que no cerne dos ideais acadêmicos e técnicos, o qual vislumbram propósitos na perspectiva de atendimento do princípio público do bem coletivo, que por meio da prática da participação social se enxerga o avanço da democracia e a construção da boa política, fatores essenciais para contrapor as práticas viciadas e reprodutivas de interesses parciais. Considerar igualmente a questão da sustentabilidade como fator preponderante e de pano de fundo, à formulação de políticas públicas, parece ser condição imprescindível no contexto atual e futuro. A sustentabilidade se impõe como condição essencial para o estabelecimento de planos institucionais de desenvolvimento urbano, e apresenta algumas questões reflexivas como: Somos na atualidade uma sociedade sustentável? Quais os fatores que estão ligados à sustentabilidade? E as gerações futuras, o que as esperam? 39 Frente a tantas indagações, há que se considerar que a atual sociedade urbana é um conjunto de relações sociais, e que, portanto, este tema não pode ser visto apenas do ponto de vista ambiental, mas também a partir de um estudo multidisciplinar e multifocal, e porque não dizer além dos muros da academia permeados por uma visão transdisciplinar. Assim, a própria definição e noção de desenvolvimento sustentável pressupõe um conjunto de aspectos complexos, pois segundo os pesquisadores Coutinho, Macedo Soares e Silva (2006 p. 766) asseveram que: “A noção de desenvolvimento sustentável integra as propostas do eco desenvolvimento e do desenvolvimento endógeno e local, abarcando as dimensões econômicas, política, tecnológica, ecológica e cultural, constitutivas de toda sociedade humana. Envolve, portanto, objetivos situados no tripé - equidade social-conservação ambiental e eficiência econômica [grifos nossos]”. Nesta mesma ótica, outros conceitos que impactam sobre a atividade de planejamento público, e estão também ligados pelas novas institucionalidades que envolvem o vínculo governamental e a sociedade, são relacionados ao significado de governança. Complementando essa ideia, é relevante refletirmos sobre a distinção do que significa governabilidade, pois na visão de Matias-Pereira (2009, p.67): “A governabilidade diz respeito ao exercício do poder e de legitimidade do Estado e do seu governo”. Ainda, para o mesmo autor, governança significa: “Governança é a capacidade que determinado governo tem para formular e implantar as suas políticas” (MATIAS-PEREIRA, 2009, p.67). Esta condição, 40 portanto, tem uma estreita relação com a formulação e execução de políticas públicas apropriadas às realidades urbanas. Outros autores, como Coutinho, Macedo Soares e Silva (2006, p. 766), entendem que a expressão governabilidade diz respeito às condições de legalidade de um determinado governo para atentarem para as transformações necessárias, enquanto que governança está relacionada à capacidade de colocar as condições da governabilidade em ação. Assim, governabilidade e governança dizem respeito à democracia e cidadania, não a um projeto de poder. Diante deste contexto, importante sabermos que o vocábulo governança, é originado do inglês governance, e tem o sentido de regulação social com vistas à governabilidade, vincula-se à probabilidade normativa de um “bom governo”, no sentido da participação, eficácia, inovação, confiabilidade, como condições para evitar métodos de pirataria nos governos, tais como: o clientelismo, favorecimentos imorais, corrupção, dentre outros. Seria então, no sentido de controlar as políticas do governo, sem ser incriminado de ingerência no plano político e social, transformar o ato governamental em ação pública, o ambiente governamental em espaço público, para articulação das ações do governo, questionando a governança por meio da demarcação do alcance da governabilidade, imperando aí o consenso controlado (COSTA; CARLEIAL, 2016). A capacidade de governabilidade resulta da afinidade de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, enquanto que governança é a capacidade abrangente financeira e administrativa de uma 41 organização de praticar políticas. Sem governabilidade é impossível governança (MATIAS-PEREIRA, 2009). Então, governança é o conjunto de normas, persuasão e procedimentos que são adequados à vida coletiva de determinada sociedade (MATIAS-PEREIRA, 2009). A democracia é um processo, é um viés que leva uma sociedade cada vez mais livre e participativa. A transparência da estrutura de poder estatal e o respeito aos interesses da sociedade são a única segurança de paz social. Do ponto de vista dos autores, os partidos políticos devem ser responsáveis pela governabilidade, pois somente assim existirá maior propriedade na governança. A Governança, portanto, é constituída por um conjunto de novos mecanismos do poder de controle, que existem para fazer com que uma organização atinja os objetivos estipulados pelos seus acionistas e demais participantes. Passam a ampliar a concepção restrita de gestão para a arte de governar, o que significa englobar o processo de participação (MATIAS-PEREIRA, 2009). Pode-se entender ainda que governança se refere a um processo de interação político-social, na qual se exige uma mudança na atuação pública, uma vez que se faz necessário reconhecer que os governos não possuem todas as respostas e, neste sentido, a participação social e a inteligência coletiva, são fatores determinantes em prol da concepção e implantação das políticas públicas (COSTA; CARLEIAL, 2016). Dentro dos conceitos importantes refletidos para esta pesquisa, a definição de Políticas Públicas, que para Kauchakje (2007, p.61): “[...] são formas de planejamento governamental que têm o objetivo de coordenar os meios e os recursos do Estado, e também do setor privado para a realização de ações