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Sobral/2016 Bruna Vieira Gomes Otávia Cassimiro Aragão José Jeová Mourão Netto Michelle Alves Vasconcelos Ponte 2ª Edição Sobral/2016 Bruna Vieira Gomes Otávia Cassimiro Aragão José Jeová Mourão Netto Michelle Alves Vasconcelos Ponte PRIMEIROS SOCORROS Primeiros Socorros 5 INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica Diretor-Presidente das Faculdades INTA Dr. Oscar Rodrigues Júnior Pró-Diretor de Inovação Pedagógica Prof. PHD João José Saraiva da Fonseca Coordenadora Pedagógica e de Avaliação Profª. Sonia Henrique Pereira da Fonseca Professores Conteudistas Bruna Vieira Gomes Otávia Cassimiro Aragão José Jeová Mourão Netto Michelle Alves Vasconcelos Ponte Assessoria Pedagógica Sonia Henrique Pereira da Fonseca Transposição Didática Adriana Pinto Martins Evaneide Dourado Martins Design Instrucional Sonia Henrique Pereira da Fonseca Revisora de Português Neudiane Moreira Félix Revisora Crítica/Analista de Qualidade Anaisa Alves de Moura Diagramadores Fábio de Sousa Fernandes Fernando Estevam Leal Diagramador Web Luiz Henrique Barbosa Lima Produção Audiovisual Francisco Sidney Souza de Almeida (Editor) Operador de Câmera José Antônio Castro Braga Pesquisadora Infográfica Anacléa de Araújo Bernardo Ilustrador Gerardo David Sumário 1 2 Palavra do Professor-autor ................................................................................... 09 Sobre os autores ..................................................................................................... 13 Ambientação ........................................................................................................... 15 Trocando ideias com os autores ........................................................................... 17 Problematizando ................................................................................................... 19 ETAPAS BÁSICAS EM PRIMEIROS SOCORROS Primeiros Socorros ............................................................................................................................22 Habilidades e Atitudes do Socorrista .........................................................................................22 Avaliação da cena do acidente .....................................................................................................24 Avaliação do acidentado .................................................................................................................25 ABORDAGEM PRIMÁRIA E ATENDIMENTO PRÉ- -HOSPITALAR Abordagem primária ........................................................................................................................35 Abertura das Vias Aéreas com estabilização da Coluna Cervical ....................................36 Boa respiração .....................................................................................................................................37 Circulação com controle de hemorragias ................................................................................40 Déficit neurológico ............................................................................................................................40 Exposição com controle ambiental .............................................................................................42 Transporte .............................................................................................................................................42 Parada cardiorrespiratória ..............................................................................................................49 Trauma de tórax e abdome ............................................................................................................55 Conduta do trauma ...........................................................................................................................56 Ferimentos ............................................................................................................................................57 Entorses, luxações e fraturas .........................................................................................................61 Entorses .................................................................................................................................................61 Conduta nas entorses ......................................................................................................................62 Luxações ................................................................................................................................................62 Primeiros Socorros8 Leitura Obrigatória...........................................................................................99 Revisando..........................................................................................................101 Autoavaliação...................................................................................................105 Bibliografia......................................................................................................109 Bibliografia Web.............................................................................................111 Fraturas ..................................................................................................................................................63 Como imobilizar ? ..............................................................................................................................64 Choque ...................................................................................................................................................66 Condutas no Choque .......................................................................................................................67 Hemorragias ........................................................................................................................................68 Principais causas de hemorragias ................................................................................................70 Condutas gerais na hemorragia ...................................................................................................71 Torniquetes ...........................................................................................................................................74 Hipertermia ..........................................................................................................................................74 Conduta na hipertermia ..................................................................................................................75 Insolação ...............................................................................................................................................75 Conduta na insolação .......................................................................................................................75 Queimaduras .......................................................................................................................................76 Convulsão .............................................................................................................................................79 Afogamento .........................................................................................................................................81 Corpo estranho ...................................................................................................................................82 Cólica renal ...........................................................................................................................................85 Coma diabético ...................................................................................................................................85 Descarga elétrica ................................................................................................................................87Desmaio .................................................................................................................................................88 Embriaguez ...........................................................................................................................................88 Acidente com animais ......................................................................................................................90 Serpentes ..............................................................................................................................................90 Escorpiões .............................................................................................................................................92 Envenenamento ..................................................................................................................................93 Primeiros Socorros 9 Palavra do Professor autor Caro estudante! Seja bem vindo à disciplina de PRIMEIROS SOCORROS. O que você entende por primeiros socorros? Vamos ver o que significa? Os primeiros socorros são os primeiros cuidados prestados ao paciente logo após ter sofrido um acidente ou um ferimento até a chegada de ajuda profissional. São pro- cedimentos simples que visam manter as funções vitais do acidentado e evitar com- plicações ou até mesmo o óbito. As ocorrências mais comuns são atendimento de vítimas de acidentes automobilísticos, incêndios, afogamentos, catástrofes naturais, acidentes industriais, tiroteios ou atendimento de pessoas que passem mal, vítimas de ataque cardíaco, ataques epilépticos, convulsões, etc. Mesmo sabendo que os primeiros socorros são procedimentos simples, é ne- cessário um mínimo de treinamento para realizar um atendimento seguro para o socorrista e para a vítima. Caso uma pessoa despreparada realize os primeiros so- corros em uma situação de emergência, pode agravar a situação do paciente e até mesmo colocar-lhe a vida em risco. Como resultado desta aprendizagem você estará apto a realizar uma aborda- gem adequada, rápida e com segurança, em situações de primeiros socorros. O nosso livro é composto de dois capítulos. No primeiro, abordaremos as ha- bilidades e atitudes necessárias a um socorrista, como realizar a observação do ce- nário do acidente, e como agir de forma segura, evitando assim agravamento da situação do acidentado. O segundo capítulo discorre sobre a realização da avaliação primária, como o transporte do paciente pode ser realizado de forma segura para uma unidade de pronto atendimento, tendo em vista sua gravidade e o número de socorristas disponíveis e sobre as principais situações em que há necessidade de primeiros socorros. Ao finalizar o estudo dessa disciplina, o estudante estará apto a realizar uma abordagem adequada, rápida e com segurança em situações que exigem primeiros socorros. É importante todas as pessoas terem o mínimo de conhecimento em primeiros socorros, pois qualquer um pode passar por situações adversas e necessitar prestar primeiros socorros a alguma pessoa. Com conhecimento e segurança poderemos prestar um socorro adequado. Os autores. Primeiros Socorros 11 Sobre os autores Bruna Vieira Gomes, mestre em Saúde da Família pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialista em Saúde Pública e Saúde da Família pela Universidade Castelo Branca (2006). Especialista em Educação a Distância pelas Faculda- des INTA (2012). Graduada em Enfermagem pela Universi- dade Estadual Vale do Acaraú (2004). Experiência na área de Enfermagem, atuando principalmente nos seguintes segui- mentos: saúde pública, saúde coletiva, saúde da família e saúde mental. Na Educação atuou na produção de material didático e multimídia para Cursos de Enfermagem, como Coordenadora de Curso Técnico em Enfermagem, Docen- te e como preceptora de estágios do Curso de Graduação em Enfermagem das Faculdades INTA. Atualmente está na Assessoria da Coordenação do Curso de Medicina das Fa- culdades INTA, coordena o Curso Técnico em Vigilância em Saúde da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia - EFSFVS. Otávia Cassimiro Aragão, mestre em Ciências da Edu- cação na área Educação em Saúde. Possui formação em En- fermagem. Especialista em Saúde Pública e Saúde da Família e em Obstetrícia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA (2001). Especialista também em Educação a Distância pelas Faculdades INTA. Exerceu a função de Coordenado- ra do Curso Técnico de Enfermagem em EAD e foi revisora científica da produção de material didático da enfermagem, em EAD do NITEAD/INTEC/INTA. Atuou como docente res- ponsável pelas Disciplinas de Introdução à Enfermagem e Primeiros Socorros do Curso Técnico de Enfermagem do IN- TEC. Primeiros Socorros12 José Jeová Mourão Netto, mestre em Saúde da Fa- mília (FIOCRUZ/UVA). Enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família (Sobral/CE). Especialista em Saúde do Adolescente (UVA) e em Saúde da Família (UFC). Experiência profissional nos níveis de atenção primária, secundária e terciária bem como na docência em nível técnico, graduação e pós-gradu- ação na área de Enfermagem e Saúde da Família. Michelle Alves Vasconcelos Ponte, doutoranda em Ciências da Educação na linha de Educação e Saúde pela UTAD/ Portugal. Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará (2012). Especialista em Educação, Profissão e Enfermagem Clínico-Cirúrgica. Possui graduação em En- fermagem pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (1998). Na área da Docência atua há 17 anos, destacando-se nas atividades de professora dos cursos de graduação em en- fermagem na Universidade Estadual Vale do Acaraú e Facul- dades INTA. Atualmente ocupa o cargo de Pró-diretora do Instituto Superior de Teologia Aplicada - Faculdades INTA, desempenhando atividades nas áreas de urgência/emer- gência e hemoterapia, como enfermeira. Orienta e desen- volve pesquisas nas áreas da Saúde Pública, Enfermagem e Tecnologias da Saúde, com ênfase em uso de substâncias psicoativas: crack, urgência/ emergência e hemoterapia. Par- ticipa do grupo de pesquisa em Violência e Acidentes: ação pela paz (diretório dos grupos - CNPq) e coordena o grupo de pesquisa em substâncias psicoativas (Faculdades INTA). Primeiros Socorros 13 aAMBIENTAÇÃO À DISCIPLINAEste ícone indica que você deverá ler o texto para ter uma visão panorâmica sobre o conteúdo da disciplina. Primeiros Socorros 15 Os acidentes são acontecimentos que advém independente da vontade das pessoas, e a necessidade de socorro imediato é algo que depende de profissionais aptos e prontos a ajudarem, cabem às vítimas um pouco de paciência até o socorro chegar ao local necessário. A proteção da saúde e do bem estar são prioridades e desde cedo, crianças, jovens e adultos podem ser instruídos sobre a maneira correta de proceder mediante situações inesperadas, como por exemplo, uma simples picada de inseto. Com o aumento significante da violência urbana, do estresse, dos acidentes de trânsito e de muitos outros adventos adversos à manutenção da vida nas últimas décadas capazes de desencadear situações de urgência e emergência, se faz necessário aprimorar a abordagem de temas práticos na solução de situações críticas, onde o cidadão comum pode auxiliar nos cuidados enquanto aguarda o socorro médico. Ressaltamos que a aplicação de primeiros socorros a acidentados está focada não somente na preservação dos sinais vitais, como também não agravar os ferimentos das vítimas, para que recebam posteriormente os devidos cuidados especializados. Como indicação sugerimos que leia o livro Drauzio Vallera – Guia Prático de Saúde e Bem-Estar – Primeiros Socorros – Acidentes, dos autores Drauzio Vallera e Carlos Jardim publicado em 2009. Neste livro os autores abordam de maneira clara e didática o papel do socorrista e os procedimentos de primeiros socorros em vítimas de acidentes domésticos, de trabalho e de transito. tiTROCANDOIDEIAS COM OS AUTORES A intenção é que seja feita a leitura das obras indicadas pelos(as) professores(as) autores(as), numa tentativa de dialogar com os teóricos sobre o assunto. Primeiros Socorros 17 Agora é o momento de você trocar ideias com os autores Sugerimos a leitura do livro Primeiros Socorros: Um Guia Prático de Drauzio Varella e Carlos Jardim, no qual trás uma série de possíveis acidentes que podem acontecer no dia a dia e ensinam a reconhecer o que aconteceu a sua gravidade, e indicam tanto o que fazer como o que não fazer na hora do socorro. No final do livro, fechando o volume, há uma lista de telefones úteis e um excelente glossário com os temos técnicos utilizados ao longo do guia. VARELLA, DRAUZIO; JARDIM, CARLOS. Primeiros socorros. São Paulo: Claro Enigma, 2011. 63 p. ISBN 978-85-61041-65-6 Após a leitura deste livro, sugerimos que trace as informações que mais lhe chamou atenção e dê sua opinião crítica sobre as mesmas, em seguida compartilhe no ambiente virtual. PLPROBLEMATIZANDOÉ apresentada uma situação problema onde será feito um texto expondo uma solução para o problema abordado, articulando a teoria e a prática profissional. Primeiros Socorros 19 Sabemos que os acidentes ocorrem de forma inesperada, esteja quem estiver por perto e nem sempre são necessários procedimentos complicados no socorro ao acidentado. Na literatura especializada e atualizada dos procedimentos primários em pri- meiros socorros nos mostra a maneira correta do como fazer quando os acidentes ocorrem como também o que não fazer para não agravar o estado de saúde da vítima. Imagine este questionamento: Como de costume, nos finais de semana a turma bate uma bolinha no cam- pinho do bairro e durante o jogo deste final de semana um jogador é atingido pela bola com força no rosto e cai. Levanta e sente-se tonto e uma das narinas sangra. A bola não tem peso suficiente para causar maiores danos à saúde do jo- gador? Sangrar após uma pancada no rosto é bom, pois sai o sangue ruim? Se o sangramento fosse pela boca o trauma seria mais grave? Ou sentaria a vítima com a cabeça abaixada, aplicaria uma compressa fria no nariz e depois chamaria uma ambulância? Após os questionamentos reflita sobre quais respostas daria caso as perguntas acima fossem feitas e disponibilize na sala virtual. ApAPRENDENDO A PENSARO estudante deverá analisar o tema da disciplina em estudo a partir das ideias organizadas pelos professores autores do material didático. Primeiros Socorros 21 1 ETAPAS BÁSICAS EM PRIMEIROS SOCORROS CONHECIMENTOS Compreender as principais etapas ao prestar os primeiros socorros a uma vítima de acidente clínico ou traumático; Conhecer os perigos do trabalho no atendimento adotando medidas de biossegurança. HABILIDADES Posicionar-se criticamente em relação ao conhecimento científico adquirido enquanto espaço de aprendizagem; Analisar os processos de atendimento adotados durante o estudo desta unidade. ATITUDES Realizar uma abordagem adequada, rápida e segura em situações de Primeiros Socorros; Ter ética, domínio dos conteúdos, habilidade manual, equilíbrio emocional e agilidade. Primeiros Socorros22 Primeiros Socorros São uma série de procedimentos simples e imediatos que devem ser prestados rápida e adequadamente a uma vítima de acidente ou mal súbito. Tais cuidados têm como finalidade manter as funções vitais em situações de emergência e evitar o agravamento das condições da vítima e lesões, podendo ser aplicados por pessoas treinadas para esta finalidade, até a chegada da assistência especializada. Habitualmente os primeiros socorros são aplicados às vítimas de acidentes de trânsito, de afogamentos, de incêndios, de acidentes com armas, de mal súbito (ataques cardíacos, epilépticos, convulsivos, etc.) ou de tentativas de suicídio. Essas inúmeras situações de perigo às quais estamos expostos poderiam ser minimizadas se a primeira pessoa a ter contato com o paciente tivesse bons conhecimentos em primeiros socorros. Muitas vezes essa provisão é decisiva para o futuro e a sobrevivência da vítima. Qualquer pessoa habilitada poderá ser socorrista, devendo proceder com serenidade e confiança. Além de conservar o domínio próprio, é igualmente importante, durante o socorro, ajudar as pessoas a manter o autocontrole. Em virtude das circunstâncias de cada acidente, devem-se evitar o pânico e a confusão, procurar a colaboração de outros, dar ordens claras e objetivas, manter afastados os curiosos e ampliar o espaço para atuação. Habilidades e Atitudes do Socorrista Os requisitos básicos para ser um socorrista são: a iniciativa, o dinamismo, o poder de liderança, o fácil discernimento, rapidez, sentimento de segurança e atitudes eficazes. É sua função evitar erros na prestação da assistência e assegurar qualidade no atendimento, através de etapas que incluem a observação e avaliação de riscos potenciais, a obtenção de dados de interesse diagnóstico, a neutralização de riscos, a promoção da segurança para a remoção da vítima, a determinação de prioridades de cuidados, o acionamento de serviços se necessário, a correção Primeiros Socorros 23 ou redução da gravidade de lesões na vítima e a sua condução ao tratamento especializado. Considera-se atribuição de um socorrista a aptidão para ministrar atendimentos de emergência, estabelecendo um tratamento imediato e eficiente às vítimas. Dentre os princípios básicos deste tipo de atendimento destacam-se: A agilidade do socorrista, o reconhecimento do perigo da cena e a reparação das lesões do acidentado; A assistência pode ser dividida em etapas que permitam maior organização e resultados mais eficazes; Recomenda-se a quem presta assistência que procure conhecer a história do acidente, solicite ou mande solicitar um resgate especializado enquanto executa os procedimentos básicos, sinalize e isole o local do acidente (quando no trânsito) e durante o atendimento utilize Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Em situações de emergência as ações dispensadas à vítima devem promover tranquilidade. A calma do acidentado é de grande importância. Suas condições podem se agravar se ele estiver com medo, ansioso e desconfiado do cuidador. Um tom de voz confortante, produzido pelo socorrista, estimula na vítima a sensação de confiança. O profissional deve estar focado na relevância de uma assistência eficiente, mantendo o paciente com vida até a chegada do socorro especializado ou até a sua remoção para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). São procedimentos indispensáveis em primeiros socorros: avaliação da cena, exame primário, exame secundário, monitorização e reavaliação. Vamos agora conhecer um pouco mais sobre cada um desses procedimentos: Nunca tente transportar um acidentado ou medicá-lo sem suporte especializado e prescrição médica. Importante ! Primeiros Socorros24 Avaliação da cena do acidente A avaliação do local do acidente é a etapa inicial em prestação de socorro. Ao chegar ao local onde se encontra um acidentado, deve-se realizar uma rápida e acautelada avaliação da ocorrência e tentar obter o máximo de informações possíveis sobre o acidente. A coleta de informações inclui a observação de familiares e testemunhas e a aparência do local do incidente (a impressão criada influencia a avaliação do socorrista). Há uma abundância de dados a serem coletados olhando, ouvindo e listando o maior número de informações sobre o ambiente, os mecanismos do trauma, a situação pré-incidente e as condições gerais de segurança. Ao se aproximar do paciente, o socorrista deve ser ágil e objetivo, observando rapidamente se existem perigos para o acidentado e/ou para a equipe nas proximidades da ocorrência, primando sempre pela segurança de ambos. A segurança da equipe é prioridade na aproximação de toda cena. Não deve tentar um salvamento sem estar habilitado, sob pena de tornar-se uma nova vítima. Se a cena está insegura, o socorristase manterá resguardado até a chegada de equipes apropriadas que garantam a proteção de todos. O socorrista deve retirar a vítima em condição de perigo para um local seguro, tanto para si, como para o paciente antes de começar sua avaliação e o tratamento. Deve-se impedir que testemunhas ou pessoas com autocontrole afetado, prejudiquem a assistência, desloquem ou manejem o acidentado, causando novas lesões ou agravando as já existentes. São exemplos de perigos potenciais: fogo, fios elétricos soltos e desencapados, explosivos, armas, inundações, condições ambientais desfavoráveis, tráfego de veículos, andaimes, vazamento de gás, máquinas funcionando, dentre outros. Observar se familiares ou outras pessoas presentes são os possíveis agressores, portanto, um risco potencial. O socorrista deve, ainda, identificar pessoas que possam ajudar a desligar a corrente elétrica, evitar chamas, faíscas e fagulhas, retirar a vítima, evacuar área em risco iminente de explosão ou desmoronamento, entre outras providências. Primeiros Socorros 25 Há vários questionamentos que poderão ajudar na abordagem da situação. • O que verdadeiramente ocorreu? • Por que foi solicitado socorro? • Qual o mecanismo do trauma? • Quais as forças e energias que causaram as lesões no paciente? • Quantas pessoas estão envolvidas e suas faixas etárias? • São necessários outros recursos (ambulância, polícia, bombeiro, companhia elétrica, equipamento especial para retirada de ferragens, transporte aéreo)? • Precisa-se de um médico para colaborar na triagem ou na assistência das vítimas? Um problema clínico às vezes como um ataque cardíaco ou um desmaio pode resultar numa colisão. Todas as informações sobre o local do acidente devem ser verificadas anteriormente à avaliação individual da vítima, sabendo-se que a avaliação da cena redunda em benefício da avaliação do acidentado. A avaliação do acidentado O conhecimento das condições do traumatizado é a base para as decisões de atendimento e transporte. Busca-se prioritariamente avaliar seu estado geral e a funcionalidade dos seus sistemas vitais: respiratório, circulatório e neurológico. Devem ser imediatamente assistidas quaisquer condições que mereçam atenção anterior à remoção para a Unidade de Pronto Socorro. A avaliação deve acontecer na posição em que o acidentado for achado. As mobilizações devem ser realizadas com segurança, sem aumentar o trauma e os riscos. Manter a vítima deitada, calma, sempre que possível, passando apoio psicológico e sempre se identificando com nome e que está ali para ajudar até que seja examinado e se saiba quais os agravos sofridos. Não fazer quaisquer Primeiros Socorros26 alterações na postura da vítima, sem antes definir cautelosamente a melhor conduta e transporte apropriado para o caso. A vítima com traumatismo em vários órgãos e sistemas corpóreos é considerada grave. A máxima prioridade, neste caso, é a identificação e a assistência urgente às necessidades que ponham em risco a vida. Para esses acidentados o socorrista deve realizar apenas o exame primário. O foco está na avaliação rápida, começando em seguida a reanimação e o transporte para o hospital, prestando o atendimento pré-hospitalar no percurso. A avaliação geral do paciente consiste em: verificar o estado respiratório, circulatório e neurológico do doente para constatar se há problemas exteriores evidentes e significativos, ligados a deficiência na oxigenação e presença de hemorragias ou deformidades óbvias. Ao abordar a vítima pode-se verificar: Se ela tem uma respiração normal ou forçada, se faz uso da musculatura acessória, se respiração taquicardia, bradicardia ou respiração em gasping, ou movimentos torácicos regulares ou irregulares; O estado de consciência (se alerta ou inconsciente, ver a coerência das respostas às indagações, se orientado em tempo e espaço); Consegue se movimentar espontaneamente; Se o pulso está presente, qual a qualidade e frequência cardíaca; enchimento capilar; temperatura (observação e coloração da face e extremidades); Cor e umidade da pele. Perguntar a vítima “o que aconteceu e onde dói”. A resposta indica se o paciente pode localizar a dor e identificar os pontos mais prováveis de lesão. A verbalização do paciente fornece ao socorrista informações sobre o estado das vias aéreas, a atividade mental, a urgência da situação e sobre as pessoas envolvidas. Na sequência, examina-se com atenção a vítima no sentido cefalocaudal (da cabeça aos pés), buscando sinais e sintomas de sangramento ou hemorragia (se presente, avaliar o volume e a qualidade do sangue que se perde, se arterial ou venoso), e coletando todos os dados necessários ao exame primário. Primeiros Socorros 27 Em seguida realizar uma breve análise das diversas partes do corpo, evitando exposição e movimentos desnecessários do acidentado. Os elementos do exame primário e secundário devem ser memorizados na sua sequência lógica a fim de facilitar a assistência e a correção das gravidades. No exame secundário, aborda-se o histórico e o exame físico completo e detalhado, como complemento do exame primário, identificando e tratando todas as lesões potencialmente fatais. É nessa fase que se determina a necessidade de transporte rápido e mais adequado para o hospital (vítimas instáveis), ou se é possível completar o exame secundário no local ou no percurso. É imprescindível, em primeiros socorros, ter domínio da aferição dos sinais vitais por serem úteis na avaliação do estado físico de uma pessoa. São eles: temperatura, pulso, respiração e pressão arterial. Vejamos agora cada um dos sinais vitais e o que observar no paciente em casos de emergência: Temperatura A variação térmica humana ideal oscila entre 35,9 e 37,2ºC, porém em algumas situações de emergências a temperatura pode se alterar subitamente. A seguir tem-se a Tabela 1 com as variações normais de temperatura por região do corpo verificada. Tabela 1: Valores esperados para temperatura do corpo humano por região examinada. Região Axilar 36 a 36,8 36 a 36,8 36,2 a 37 36,4 a 37,2 Inguinal Bucal Retal Celsius (ºC) Temperatura em graus Primeiros Socorros28 Verifica-se a temperatura nas regiões axilar, inguinal, bucal e retal. Contraindica-se a verificação da temperatura quando está sendo influenciada por agentes externos ou quando, para sua aferição são necessárias mobilizações que possam agravar a condição do paciente ou causar alguma lesão. Eis algumas dessas situações: após ingestão de líquidos quentes ou frios, principalmente em crianças; pacientes inconscientes; queimaduras nas áreas de verificação; fratura dos membros; exposição a calor intenso ou a ambientes excessivamente frios. A temperatura também pode ser afetada por infecções, pela presença de tumores, em casos de acidente vascular e traumático ou por qualquer mecanismo que desajuste a regulação térmica do corpo. Os extremos de temperatura corpórea, por longo período de tempo, podem causar danos irreversíveis. Segue, na Tabela 2, a nomenclatura usada para as variações de temperatura que o corpo humano pode apresentar. Tabela 2: Correlação entre o estado térmico e a temperatura corporal verificada. Na condução da hipertermia, devem ser colocadas compressas úmidas em áreas de maior calor, como testa, axilas, virilhas, mãos e pés ou coberta fria no corpo todo; pode, ainda, ser dado um banho frio. Na hipotermia, utilizar compressas quentes e infusão de soluções cristaloides (soro) aquecidas, se prescrito. Em primeiros socorros devemos nos ocupar em tratar a sintomatologia da febre e suas complicações, pois não há tempo suficiente para atender as suas causas. Estado Temperatura (°C) Hipotérmico 34-36 Normotérmico 36-37 Febril 39-39 Febre 38-39 Pirexia 39-40 Hiperpirexia 40-41 Primeiros Socorros 29 Tabela 3: Variações da frequência cardíaca do pulso, conforme a idade. Além da variação esperadada frequência, o pulso pode sofrer alterações quanto ao ritmo e volume. Quanto ao ritmo classifica-se em: Taquicárdico (acelerado); Normal; Bradicárdico (lento); Sinusal (regular); Arrítmico (irregular). Quanto ao volume pode ser considerado cheio ou filiforme. A técnica para verificar o pulso do paciente consiste em, com o dedo indicador e médio, palpar a artéria desejada, acomodando o membro escolhido em posição adequada. Em casos emergenciais, verificar preferencialmente os pontos centrais e radial. Imprimir uma pressão suficiente para sentir a pulsação sob os dedos sem causar restrição do fluxo sanguíneo no local. Identificar, além da frequência, outros Variação de Pulso por Idade (PPM) Crianças Lactentes 110 a 130 Crianças menores de 7 anos 80 a 120 Crianças maiores de 7 anos 70 a 90 Puberdade 80 a 85 Homem 60 a 70 Mulher 65 a 80 Adultos maiores de 60 anos 60 a 70 Pulso Onda gerada pela pressão do sangue sobre uma artéria, regularmente ritmada pelos batimentos cardíacos, sendo de fácil palpação. Ele pode sofrer alterações conforme a idade, como veremos na Tabela 3. Primeiros Socorros30 parâmetros citados na tabela anterior. O dedo polegar, por apresentar pulsação própria, pode confundir o examinador e deve ser evitado ao se palpar uma artéria. A frequência do pulso deve ser contada em minuto. São permitidas verificações em frações de tempo menores para pacientes com ritmo regular. A regularidade pode ser verificada de 5 em 5 segundos, ou seja, contar quantas vezes o pulso é sentido neste período para determinar se a cada 5 segundos o paciente apresenta o mesmo número de batidas. Exemplificando uma pessoa que apresenta em 5 segundos 8 pulsações, nos 5 segundos seguintes mais 8, nos seguintes mais 8, mostra uma regularidade de ritmo. Veja nas figuras que seguem os locais para verificação de pulso. Primeiros Socorros 31 Conta-se a frequência respiratória observando a elevação do tórax e abdome ou verificando as saídas de ar das narinas. São fatores que alteram o ritmo respiratório: atividade física, frio, calor, sono, doenças nervosas, coma diabético, problemas cardíacos, estresse emocional e drogas depressoras. A respiração pode ser classificada quanto a sua frequência em: • Bradpneia (diminuída); • Eupneia (regular); • Taquipneia (acelerada); • Hiperpneia (acelerada e profunda); • Dispneia (irregular); • Apneia (ausente). Tabela 4: Variações da frequência respiratória conforme a idade. Respiração A conduta basal em primeiros socorros, durante o exame físico do paciente, é averiguar seu padrão respiratório. A respiração varia quanto ao tipo e frequência (veja Tabela 4) e é facilmente alterada por doenças, acidentes, vias aéreas obstruídas pela língua da própria vítima, ou pela presença de secreções, corpos estranhos, edema (inchaço) e vômito aspirado. A asfixia produzida por obstrução da passagem de ar, quando prolongada, poderá evoluir para uma parada cardiorrespiratória, se não revertida a tempo. Frequência Respiratória (RPM)Idade 30 a 40Lactantes 20 a 25Criança 16 a 18Homem 18 a 20Mulher Primeiros Socorros32 Pressão Arterial É conceituada como a força que o sangue impulsionado pelo coração exerce sobre as paredes dos vasos. A pressão arterial (PA) varia normalmente, conforme a Tabela 5 a seguir: A PA pode sofrer alterações pela ingestão de alimentos ricos em sal, período menstrual, gravidez, emoção, sono, convulsão, hipotireoidismo e hipertireoidismo, hemorragia, arteriosclerose e anemia. É prudente investigar os antecedentes pessoais e familiares para hipertensão. Em caso de pico hipertensivo (PA elevada) manter o paciente com a cabeça elevada, calmo, restringir o consumo de sal e líquidos e observá-lo rigorosamente até o atendimento especializado ou transporte para unidade de referência. Se o paciente estiver hipotenso (PA baixa), incentivar o consumo de líquido salgado, mantê-lo com a cabeça em um nível mais baixo que os membros inferiores e transportá-lo para unidade de referência. A medição da pressão arterial pode ser realizada com o paciente sentado, deitado ou em pé. Continue verificando frequentemente o nível de consciência e a respiração da vítima, palpe com cautela o crânio a procura de fratura, sangramento ou depressão óssea. Continuar pelo pescoço, buscando verificar o pulso na artéria carótida, observando frequência, ritmo e amplitude. Passar os dedos pela coluna cervical, da base do crânio aos ombros, procurando alguma anormalidade. Solicitar que o acidentado mova o pescoço lentamente, de um lado para o outro, se houver dor nessa região, parar qualquer movimentação. Considerando a natureza do acidente, verificar a sensibilidade e a capacidade de movimentação dos membros inferiores e superiores do corpo para confirmar ou descartar suspeita de fratura na coluna cervical. Tabela 5: Valores médios normais de pressão arterial por idade. Primeiros Socorros 33 Correr a mão pela espinha dorsal do acidentado, da região da nuca à região sacral. Perguntar-lhe se apresenta dorsalgia, que pode indicar lesão. Averiguar se existem lesões no tórax, se dói ao respirar ou quando o tórax é comprimido levemente. Verificar no abdome se há algum tipo de ferimento ou dor. Ferimentos de bala são comumente pequenos, profundos, não sangram e têm graves consequências. Apertar com cuidado ambos os lados da bacia para sondar se há lesões. Estimular o acidentado a movimentar vagarosamente os braços e pernas e expressar a presença de dor ou incapacidade funcional. Localizar a dor e buscar deformidades, edema e marcas. Manter imóvel o acidentado de choque elétrico ou traumatismo violento, para um rápido exame. A vítima deve ficar em posição dorsal ou na que achar mais confortável. No exame do acidentado inconsciente, os cuidados devem ser maiores, pois a resposta a estímulos verbais e dolorosos são parâmetros que poderão estar diminuídos ou inexistentes. Além das limitações dos dados sobre o seu estado, a própria inconsciência pode gerar complicações. Manter as vias aéreas superiores (VAS) estáveis e o principal cuidado. Deve-se limpar a cavidade bucal e fazer estender a cabeça ou mantê-la lateralizada para prevenir aspiração de vômito. A mobilização deverá ser mínima. A observação das seguintes situações deve ter prioridade acima de qualquer outra iniciativa: parada cardiorrespiratória, hemorragia abundante, envenenamento, estado de choque, comas, convulsões, infarto do miocárdio e queimaduras extensas do corpo. Primeiros Socorros34 2 ABORDAGEM PRIMÁRIA E ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR CONHECIMENTOS Conhecer os cuidados de enfermagem na abordagem em primeiros socorros; Entender os procedimentos que serão feitos na abordagem primária. HABILIDADES Realizar a abordagem primária no atendimento pré-hospitalar, prestando uma assistência técnica e sistematizada de enfermagem à vítima de acidente clínico ou traumático; ATITUDES Aplicar os conhecimentos adquiridos nos procedimentos dos cuidados de enfermagem na abordagem primária e atendimento pré-hospitalar. Primeiros Socorros 35 Abordagem primária As primeiras horas após um acidente é de vital importância para a vítima, tendo possibilidades de sobrevivência se este tempo for otimizado. Quanto mais precocemente uma vítima for estabilizada, maiores as possibilidades de recuperação. Algumas estatísticas determinam que, para cada minuto perdido, as chances de êxito decrescem 1%. Os primeiros 10 minutos devem ser utilizados para alarme, deslocamento, reconhecimento e estratégias dos socorristas. Os 10 minutos seguintes servem para estabilização da vítima. Os próximos para acessos venosos, se necessários, com reavaliação constante e transporte ao pronto socorro mais próximo. Para a abordagem inicial é necessário um acesso seguro à vítima, com identificação rápida das situações de comprometimento, ou seja, vias aéreas e sistema circulatório, com início imediato dosprocedimentos. Daí a importância dos treinamentos em primeiros socorros. Este treinamento fundamenta-se no Suporte Básico de Vida (SBV), que se constitui na ordenação e sistematização dos cinco principais itens responsáveis pelo controle da vida do doente acidentado que devem ser continuamente verificados na avaliação e representam: Primeiros Socorros36 As vias aéreas devem ser vistas rapidamente para garantir sua permeabilidade. Se necessário for, realizar sua abertura e limpeza. O seu comprometimento por obstrução deve ser evitado através de método manual, ao inclinar cuidadosamente a cabeça para trás e levantar o queixo. Para, além disso, verifique se existem corpos estranhos dentro da cavidade bucal (por exemplo: existência de secreções, sangue, próteses, comida, etc). Se houver tempo e recurso, pode-se progredir para os meios mecânicos, através de cânula orofaríngea e tubo endotraqueal. O controle da coluna cervical deve ser realizado sempre que houver suspeita de lesão da medula espinhal e mantida imobilizada até a conduta final do especialista no hospital. O socorrista não pode esquecer que, enquanto tenta permeabilizar as vias aéreas, pode causar uma lesão na coluna cervical ou agravar danos causados pelo acidente, com consequentes complicações neurológicas, devido à compressão óssea (se houver fratura). O ideal é tentar manter o pescoço em posição neutra, durante a abertura das vias aéreas e a oferta de suporte ventilatório necessário. Abertura das vias aéreas com estabilização da coluna cervical Abertura das vias aéreas superiores (VAS) com estabilização da coluna cervical. • Avaliação das vias aéreas com estabilização da coluna vertebral; • Boa respiração; • Circulação com controle de hemorragias; • Déficit neurológico; • Exposição com controle de hipotermia. Primeiros Socorros 37 Boa respiração Após conseguir a permeabilidade das vias aéreas, verifica-se a qualidade e quantidade da ventilação do paciente. O socorrista deve proceder com os seguintes passos: Procedimentos básicos para se obter uma boa respiração: 1. Avaliação e desobstrução das vias aéreas com cautela, pois pode haver danos na cervical; 2. Afastar curiosos e afrouxar roupas; 3. Inicie uma respiração de resgate. Se houver apneia, iniciar imediatamente ventilação assistida com ressuscitador manual e suporte de oxigênio. Quando necessário auxiliar a equipe especializada na inserção de uma cânula orofaríngea, entubação traqueal ou outros meios de manutenção do suporte ventilatório. Se o paciente estiver respirando, verificar a frequência e a profundidade da ventilação, oferecendo oxigênio por máscara. Observar a elevação torácica (movimentos respiratórios), se o paciente for capaz de falar, observar se apresenta alguma dificuldade. Na tabela segue a nomenclatura relacionada à frequência respiratória. Tabela 6: Valores encontrados na frequência respiratória por minuto verificado. Frequência Respiratória (RPM) Estado Frequência Ventilatória (RPM) Apneia Ausência de respiração Bradipneia 12 ou menos Eupneia 13 – 20 Taquipneia 21 – 30 Taquipneia grave Acima de 30 Dispneia Ritmo irregular Primeiros Socorros38 Como a desobstrução das Vias Áreas Superiores é de importância vital, vamos nos deter mais neste tema... Em algumas situações as vias aéreas podem ficar obstruídas por sangue, vômitos, corpos estranhos (pedaços de dente, próteses dentárias, terra) ou pela queda para trás da própria língua do acidentado, como acontece nos casos de convulsões e inconsciência. Em crianças são comuns obstruções por alimento, balas e moedas. Vias Aéreas Superiores (VAS) A assistência começa pela desobstrução das vias aéreas, removendo corpos estranhos. O socorrista deve colocar a vítima deitada, com a cabeça e o pescoço alinhados no mesmo plano do corpo. Abrir a boca do paciente com o dedo polegar tracionando o queixo, observar a obstrução, e quando possível e de forma que não venha agravar cada vez mais, fazer a retirada rapidamente do corpo estranho, com material rígido ou metal, tornando as vias aéreas pérvias novamente. Primeiros Socorros 39 Nos casos de bebês, deve-se colocar a cabeça levemente mais baixo que o corpo e iniciar cinco golpes na região dorsal (entre omoplatas) com a mão espalmada. Em crianças maiores, deitá-las sobre os próprios joelhos, inclinando o tronco e a cabeça para baixo, proceder do mesmo modo indicado no caso anterior. Essa etapa somente será encerrada quando corpo estranho for expelido totalmente. O procedimento será alternado e intercalado com tapas na região dorsal e manobras de compressões torácicas no local indicado da linha intermamilar, no total de cinco compressões, caso o objeto não saia e a criança venha a ficar inconsciente o tratamento será através de manobras de ressuscitação cardiopulmonar. Proceder com uma relação de 02 ventilações para 30 compressões, a oferta de oxigênio se dá pela técnica do C e E e sempre observar a expansão torácica. Criança acima de um ano e adulto, a conduta será manobra de heimlich. Se a respiração não voltar espontaneamente em poucos minutos, o paciente pode ter sequelas irreversíveis ou evolui para óbito, porque o oxigênio é indispensável ao cérebro. A inexistência de frequência respiratória, com o coração em funcionamento é conhecida como asfixia, cujas principais causas estão listadas na Tabela 7. Tabela 7: Classificação da asfixia segundo a causa. Primeiros Socorros40 A asfixia tem como sinais e sintomas: respiração arquejante, acelerada ou ofegante, face, lábios e extremidades cianóticos (azulados), dilatação das pupilas, déficit de consciência, agitação psicomotora e até convulsões. As condutas realizadas visam a recuperação da passagem de ar das vias aéreas superiores (boca e narinas), desobstruindo-as, mantendo-as pérvias e sob observação rigorosa até o restabelecimento do paciente. Prevenir hipotermia, evitar ingestão de líquidos (risco para broncoaspiração), evitar o esforço físico imediatamente após o retorno à respiração normal. Sempre haverá necessidade extrema de remoção. Circulação com controle de hemorragias O socorrista deve tratar hemorragias externas, ainda no exame primário, de acordo com as etapas que seguem: Pressão manual direta no local do sangramento, com gases ou compressa ou pano limpo; Se não conseguir controlar o sangramento, elevar a extremidade afetada, tendo o cuidado com fraturas e luxações; Aplicar pressão profunda sobre a artéria proximal da lesão; Pensar em torniquete em último caso e caso seja capacitado para o procedimento. Déficit neurológico Posteriormente à avaliação e correção dos fatores relativos à oxigenação pulmonar e à circulação corpórea, o próximo passo é verificar a função cerebral. A escala de Glasgow é bastante utilizada nessa avaliação. Se o paciente estiver inconsciente, desorientado e incapacitado para responder a comandos, devem ser avaliadas as pupilas se fotorreagente ou outros achados. Primeiros Socorros 41 Pupila é a abertura central na íris (olhos), contraindo-se e dilatando-se conforme a exposição à luz. Sua dilatação total indica hipóxia cerebral, exceção nos casos de envenenamento e utilização de colírios midriáticos. Outros fatores que causam reações nas pupilas são: vivências estressantes, conflito, atemorização, pré-choque, parada cardiorrespiratória, traumatismo craniano. As pupilas devem ser examinadas colocando-se uma fonte de luz na lateral do olho para avaliar sua dilatação, reatividade e simetria. As pupilas fornecem indício do estado neurológico. Veja a seguir a Escala de Coma de Glasgow, muito utilizada para a avaliação neurológica. Você terá oportunidade de vivenciar na prática profissionais de saúde utilizando-a, especialmente nas unidades de urgência e emergência. Primeiros Socorros42 A miose é a contração da pupila reagindo à luminosidade (fotorreagente). A midríase é a dilatação da pupila, se completa emtorno de 1 min e 45 segundos após a PCR. Exposição com controle ambiental Realizadas as primeiras quatro etapas do ABCDE, prosseguimos agora com a exposição do corpo da vítima, tendo sempre em mente o risco da evolução do quadro para hipotermia, principalmente se a vítima estiver com hemorragia importante. É nesta etapa que analisamos cautelosamente o corpo da vítima, identificando áreas lesionadas e possíveis lesões internas. Observamos a presença de traumas torácicos, abdominais, escoriações, perfurações, hematomas, fraturas expostas, edemas, equimoses e qualquer tipo de outro sinal que possa indicar trauma. Atente para o risco de hipotermia: desligue condicionadores de ar e ventiladores, evite lugares frios ou líquidos gelados em contato com a vítima. Tirar as roupas do paciente é fundamental para a avaliação de lesões. A quantidade de roupa a ser tirada vai depender das condições e das lesões encontradas. Em alguns casos esta etapa é desnecessária. O socorrista não deve ter receio de remover as roupas da vítima se esta for a única maneira de realizar uma completa avaliação. Transporte Nos casos em que se evidencia risco de morte, logo após o começo das atividades na cena, ainda no exame primário, deve-se transportar o paciente para uma Unidade de Pronto Atendimento mais próxima. No entanto, é necessário Primeiros Socorros 43 averiguar se o paciente respira e tem pulso, se ausentes iniciar as manobras de reanimação; identificar a presença de hemorragia externa, devendo ser contida; prevenir estado de choque; se há evidências de lesões, fraturas ou traumatismo, que devam ser resguardadas; e se está inconsciente ou consciente, mas impossibilitado de deambular. O socorrido deve ser reavaliado continuamente até a chegada à unidade de destino e sanadas suas necessidades na medida do possível. O transporte exige um grau elevado de atenção, discernimento, criatividade e praticidade, por ser crucial para a sobrevivência das vítimas em ocorrências graves. Quando bem realizado, com metodologia e cientificamente compatível com cada caso, pode evitar danos ou agravos irreversíveis à integridade física das vítimas. Exige na sua realização: prática, destreza e quase sempre o auxílio de outras pessoas, orientadas pelo socorrista, adotando como princípio a segurança e proteção do paciente. Outra característica valiosa para o socorrista é a capacidade de improvisar materiais indispensáveis para sua ação, utilizando como fonte o próprio local do acidente. Veja a seguir os modelos de macas improvisadas para transporte da vítima. Maca 01 – Com varas e duas camisas. As mangas deverão ser viradas ao avesso. As camisas deverão ser abotoadas. Maca 02 – Cordas de tamanho adequado poderão ser traçadas entre duas varas para formar uma rede flexível e esticada. Primeiros Socorros44 Maca 04 – Manta sem bastões O transporte do paciente é uma ação na qual devemos ter o máximo de cautela. Recomenda-se a transferência para o hospital das vítimas que estejam inconscientes, em estado de choque, eletrocutadas, com queimaduras de terceiro grau (grande queimado), com hemorragia profusa, envenenadas, picadas por animal peçonhento, com fratura da coluna vertebral, bacia ou membros inferiores. O motorista deve ser habilitado e evitar manobras bruscas, além do excesso de velocidade. Não se dispensa o cinto de segurança sempre que possível. Fazer o registro (em papel) dos sinais e sintomas verificados e da assistência prestada e passá-lo para a equipe que irá receber o paciente. O número indicado de socorristas necessários ao transporte varia conforme as circunstâncias locais, o tipo de incidente, o número de profissionais ou expectadores disponíveis para ajudar e a complexidade das lesões. Veja nas tabelas abaixo os tipos de transporte de vítima e sua relação com o número de socorristas. Estas informações são baseadas no Curso de Formação de Monitores de Primeiros Socorros, Cruz Vermelha Brasileira, Caderno nº 2, Capítulo 10, 1973. Maca 03 – Manta dobrada em duas varas Primeiros Socorros 45 Primeiros Socorros46 Como visto o número de socorristas para transportar um paciente acidentado depende principalmente da gravidade da ocorrência. Para transportar, por exemplo, um acidentado inconsciente por conta de afogamento, asfixia e envenenamento, o número ideal é de um a dois socorristas. Já a imobilização de pacientes com suspeita de politraumatismo deve ser realizada com o auxílio de três pessoas, agindo simultaneamente e movimentando a vítima em três blocos: Primeiros Socorros 47 Primeiro bloco: um socorrista mantém firme cabeça e pescoço do acidentado; Segundo bloco: outro apoia a região da bacia; Terceiro bloco: o último segura os membros inferiores, evitando que o socorrido dobre as pernas. Realizar os três uma movimentação sincronizada tirando o paciente do chão e alocando-o nivelado numa superfície firme. Restringir o movimento do pescoço com colar cervical ou similar, e dos braços e das pernas com contenção, antes de transportá-lo. Na suspeita de fratura da coluna cervical só transportar com orientação médica, exceto em urgência extrema ou perigo iminente para a vítima e socorrista. Nos veículos, observar se a cabeça e corpo do paciente estão alinhados e seguros, em superfície firme e acolchoada. Primeiros Socorros48 Primeiros Socorros 49 Se durante a reavaliação da vítima, for percebida alteração no sistema cardiovascular, como má perfusão associada à hipovolemia, levando em consideração que tipagem sanguínea e hemoderivados não estão disponíveis, em geral, no ambiente pré-hospitalar, dar preferência à reposição volêmica por infusão de ringer lactato aquecido (quando possível) durante o transporte. Puncionar acesso periférico na cena só retarda o processo. Em primeiros socorros há dois contextos que necessitam de triagem (seleção). O primeiro é quando há insuficiência de recursos para atendimento das vítimas. Quando isso acontece, se dá preferência ao transporte dos pacientes mais graves. O segundo refere-se a acidente com muitas vítimas, as quais são classificadas em categorias para serem atendidas. Parada cardiorrespiratória A parada cardíaca é uma interrupção brusca do bombeamento de sangue promovido pelo coração, evidenciado pelo cessar de suas batidas. A parada cardíaca pode ser verificada pela ausculta (ausência de batimento evidenciada através do estetoscópio ou simplesmente encostando o ouvido na região torácica anterior da vítima), pela palpação do pulso carotídeo (ausente) e pela observação da reatividade das pupilas (dilatadas após 45 segundos). A parada respiratória, por sua vez, é a suspensão total da respiração ou a respiração arquejante, incapaz de promover a troca efetiva de gases, ou seja, a absorção de oxigênio para o sangue e a eliminação do acúmulo de gás carbônico para o meio. A parada cardiorrespiratória tem como causa fatores que podem atuar isoladamente ou em associação, ou ter causa indeterminada. Estão na sua origem: alterações na condução elétrica do coração (fibrilação ventricular e descargas elétricas), oxigenação insuficiente (por interrupção do fluxo coronário, isquemia, hemorragia grave, estado de choque) ou obstrução de vias aéreas (doenças pulmonares, intoxicação por monóxido de carbono e drogas). Quando identificar que a vítima está imóvel, pálida, inconsciente, irresponsiva aos estímulos verbais, solicitar ajuda especializada imediatamente, pois estes podem ser sinais de PCR. Sempre se certificar se a respiração e o pulso estão muito fracos, respiração em gasping ou ausentes, antes de iniciar as manobras de reanimação. Primeiros Socorros50 Para o atendimento de vítimas de parada cardiorrespiratória seguiremos as diretrizes da Sociedade Americana de Cardiologia (American Heart Assosciation – AHA) de 2015. Veremos a seguir a nova cadeia de sobrevivência e seus elos para atendimento extra-hospitalar de um adulto 1. Reconhecimento imediato da PCR e acionamentodo serviço de emergência/urgência; 2. Em seguida inicia-se a reanimação cardiorrespiratória (RCP) de alta qualidade, com ênfase nas compressões torácicas; 3. Rápida desfibrilação; 4. Atendimento pelos Serviços médicos básicos e avançados de emergência; 5. Suporte avançado de vida e cuidados pós-PCR. A Sociedade Americana de Cardiologia fez algumas modificações na ordem do atendimento do Suporte Básico de Vida visualizando a simplificar o treinamento do profissional de saúde e enfatizar a aplicação da RCP de alta qualidade. Cadeia de sobrevivência de ACE adulto da AHA - 2015 Primeiros Socorros 51 Primeiros Socorros52 Veja a seguir, o novo algorítimo de suporte básico de vida para o adulto simplificado: O profissional de saúde deve verificar rapidamente se há respiração ou se a mesma é anormal ao mesmo tempo em que avalia a capacidade de resposta da vítima; Em seguida, deve acionar o serviço de emergência/urgência e buscar o desfibrilador; O profissional não deve levar mais do que 10 segundos verificando o pulso, caso não o sinta deve iniciar RCP e usar o desfibrilador, se este estiver disponível; Para a realização de uma RCP de alta qualidade tem-se dado maior ênfase as compressões torácicas que devem ser realizadas com frequência e profundidades adequadas conforme veremos a seguir. O socorrista que atua sozinho deve iniciar as compressões torácicas antes de aplicar ventilações de resgate. COMPRESSÕES E VENTILAÇÕES 1. No atendimento utilize a sequência C – A – B. Iniciando pelas compressões torácicas, via área e respiração. 2. Para oferecer compressões torácicas efetivas, deve-se “comprimir com força e velocidade”. O tórax deve ser comprimido de 100 a 120 vezes por minuto em todas as vítimas, com exceção dos recém-natos. 3. Deve-se permitir que o tórax recue à sua posição normal após cada compressão, usando igual tempo para compressão e descompressão. Primeiros Socorros 53 4. Limitar ao máximo as interrupções das compressões, pois toda vez que se param as compressões, o fluxo de sangue cessa. 5. O socorrista que atua sozinho deve iniciar a RCP com 30 compressões torácicas seguidas por duas respirações. 6. A frequência das compressões deve ser de 100 a 120/minuto. 7. A recomendação confirmada para a profundida das compressões torácicas em adultos é de, pelo menos, 2 polegadas ou 5 cm, mas não superior a 2,4 polegadas ou 6 cm. 8. É aconselhável que os socorristas forneçam compressões torácicas que comprimam, pelo menos, um terço do diâmetro anteroposterior do tórax de pacientes pediátricos (bebês (com menos de 1ano) e crianças até o início da puberdade). Isso equivale a cerca de 1,5 polegada ou 4 cm em bebês e até 2 polegadas ou 5 cm em crianças. Para adolescentes utiliza-se a mesma recomendação para adultos. 8. Em bebês e crianças iniciar a RCP com compressões torácicas, em vez de ventilações de resgate. Inicie a RCP com 30 compressões (socorrista atuando sozinho) ou 15 compressões (para ressuscitação de bebês e crianças por dois socorristas), em vez de 2 ventilações. 9. Recomenda-se que ao final de 5 ciclos de compressões e ventilações os socorristas troquem de posição em razão do cansaço. Associação Americana de Cardiologia (American Heart Association), 2015. As manobras de reanimação podem determinar a vida ou a morte de uma vítima, no entanto são incapazes de evitar uma lesão cerebral se a parada se estender por período prolongado. As compressões torácicas são enfatizadas para os todos os socorristas, sejam eles treinados ou não. Caso o socorrista não seja treinado, ele deverá aplicar a RCP somente com as mãos com compressões rápidas e fortes até a chegada e preparação de um desfibrilador ou a chegada de profissionais do Serviço Móvel de Emergência que assumam o cuidado com a vítima. Nas compressões torácicas, para uma melhor eficácia a vítima deve ser Primeiros Socorros54 colocada em decúbito dorsal, sobre uma superfície plana e rígida. Inicie sempre com rápida avaliação das vias aéreas superiores (VAS) e reconhecimento da cessação dos batimentos cardíacos e ventilação apropriada. Palpe a região mediastinal do tórax, localizando o osso esterno. Ponha a palma de uma das mãos sobrepostas da outra espalmada e pressione a porção inferior do externo, mantendo os seus braços hiperestendidos (dobrar os braços, durante a massagem cardíaca, equivale ao efeito de uma dobradiça que reduz a força imprimida), siga comprimindo o tórax da vítima, impondo-lhe a pressão de seu peso. Em recém-nascidos, a compressão torácica deve ser realizada com a força de um único dedo polegar. Em criança maior, comprimir com dois dedos. A proporção entre ventilação e massagem cardíaca varia conforme o número de socorristas. Observe as figuras abaixo que demonstram a técnica correta de posicionamento das mãos para a realização das compressões torácicas. Primeiros Socorros 55 Para proceder com a ventilação boca a boca, posicione a cabeça da vítima corretamente (decúbito dorsal). Remova prótese dentária ou qualquer outro objeto que possa causar obstrução das vias aéreas superiores (VAS). Ponha uma mão debaixo da nuca da vítima e a outra sobre a testa, fazendo uma inclinação para trás (o queixo mais elevado que o nariz evita a queda da língua e a obstrução da passagem de ar), vale ressaltar que socorristas podem se recusar a fazer ventilação boca a boca e prosseguir apenas com a massagem cardíaca, caso não tenham dispositivo de ventilação no momento. Como já foi mencionado anteriormente, aperte (com os dedos da mão que foi posicionada na testa) as narinas do paciente para impedir que o ar saia e não chegue aos pulmões. Coloque sua boca sobre a boca do paciente, vedando-a completamente (em crianças pequenas, abarcar o nariz e a boca) e sopre verificando a elevação do tórax. Em seguida, iniciar novo ciclo de ventilação (08 a 10/min). Repetir o processo até a recuperação da vítima ou até receber assistência hospitalar. Trauma de tórax e abdome Traumas do tórax são lesões, fechadas ou abertas, situadas na região torácica e geralmente ocasionadas por acidentes de trânsito, ferimento por arma de fogo ou branca (faca), máquinas pesadas, ou até mesmo por agressão física. A gravidade do trauma irá depender da profundidade e das estruturas lesionadas, já que no tórax se localizam coração, pulmões, timo e vasos sanguíneos importantes. Um atendimento inadequado ou utilização de técnicas erradas pode levar o paciente à morte. Estes tipos de acidentes devem ser sempre considerados como em estados graves, mesmo sem sinais clínicos que o justifiquem. Os traumas de tórax podem ser fechados ou abertos. Traumas fechados ocorrem sem rompimento da pele, mas é comum estarem associados a hematomas Primeiros Socorros56 que indicam o local do trauma na parede abdominal e podem provocar lesões graves em órgãos internos, com risco de choque hemorrágico devido ao sangramento interno. A vítima deve ser levada com rapidez para serviço especializado. Os traumas abertos ocorrem de forma simples, como um ferimento de pequeno sangramento no abdome, ou de forma mais complexa levando até uma evisceração, que ocorre quando órgãos abdominais entram em contato com o meio externo. Estas perfurações podem atingir a caixa torácica e levar a complicações respiratórias e do metabolismo. Nos casos de evisceração, não se deve tocar a víscera ou tentar colocá-la para dentro da cavidade. Deve-se providenciar a ida imediata da vítima ao serviço especializado. A víscera deve ser coberta com material estéril ou pano limpo e umedecido com soro fisiológico a 0,9% ou água limpa. Não se recomenda oferecer comida ou água à vítima. Um atendimento inadequado pode aumentar a gravidade do quadro e por isso a seguinte orientação deve ser seguida: Conduta no trauma Avaliar a cena e as prioridades no atendimento; É necessário agir com cautela, rapidez e estar calmo; Uso adequado de EPIs; Pedir ajuda de serviços especializados;Realizar avaliação primária no tempo ouro; Tratar lesões graves; A vítima deve ser encaminhada rapidamente para serviço adequado. Trauma abdominal posição do acidentado Primeiros Socorros 57 Ferimentos Os ferimentos são lesões ou rompimentos na pele causados por algum tipo de trauma, podendo atingir várias camadas da pele. Classificam-se em: Primeiros Socorros58 ESCORIAÇÕES - São lesões simples da camada superficial da pele ou mucosas que apresentam solução de continuidade do tecido, sem que ocorra perda ou destruição do mesmo. Geralmente o sangramento é discreto, no entanto são ferimentos bastante dolorosos. Não representam risco à vítima quando isoladas. As escoriações, também chamadas de arranhões, são causadas em sua maioria por instrumento cortante ou contundente. A conduta neste tipo de ferimento é a assepsia com água e sabão. ESMAGAMENTOS - São lesões comuns em acidentes de trabalho, desabamentos e acidentes automobilísticos. Podem resultar em ferimentos fechados ou abertos. Os esmagamentos de tórax e abdome causam graves distúrbios circulatórios e respiratórios, por isso é importante considerar esse fato em vítimas de acidentes com trauma de tórax ou abdome. AMPUTAÇÃO - Lesões em que há a separação de um membro ou de uma estrutura protuberante do corpo. Podem ser causadas por objetos cortantes, por esmagamentos ou por forças de tração. Acontecem na grande maioria das vezes no trabalho e em acidentes automobilísticos. O tratamento inicial deve ser rápido, pois dependendo do local afetado pode levar a morte por hemorragia. Existe também a possibilidade de reimplantar o membro amputado. O controle da hemorragia é decisivo na primeira fase do atendimento de primeiros socorros. O membro amputado deve ser preservado sempre que possível, porém a maior prioridade é a manutenção da vida. Vejamos os três tipos de amputação: Primeiros Socorros 59 Durante a assistência é importante que não se toque no ferimento diretamente com a mão sem proteção. Estes ferimentos devem ser cobertos e comprimidos com panos limpos ou estéreis, para não correr o risco de infeccionar. Conduta no ferimento Lavar as mãos com água e sabão; Deitar o acidentado em posição neutra, dorsal, (em caso de inconsciência ou inquietação); Afrouxar as roupas do acidentado; Colocar compressa ou pano limpo sobre o ferimento (em caso de hemorragia); Prender a compressa com esparadrapo ou tira de pano; Se superficial, lavar abundantemente a ferida com água e sabão; Realizar tricotomia (corte dos cabelos e pelos), se necessário; Cuidado ao retirar as sujidades, não esfregar os ferimentos e não remover coágulos existentes; Utilizar gaze estéril para secar, realizando a assepsia no sentido de dentro para fora, para não trazer microrganismos para dentro do ferimento e não utilizar algodão, pois este se prende ao ferimento; Não retirar corpos estranhos, pois isto pode piorar a dor e provocar sangramentos; Proteger o ferimento com atadura, curativo estéril ou pano limpo. Vamos aprender como fazer uma bandagem: Proteja a ferida com pano limpo (ou compressa), cobrindo até ao redor do ferimento; Permita que a extremidade do membro ferido fique descoberta, verifique coloração; Bandagens Recurso de grande emprego pela praticidade facilidade de confeccionar. Suas dimensões devem ser de 100 x 60 cm. É utilizada na proteção de ferimentos, com o cuidado de usar apenas panos bem limpos. Primeiros Socorros60 Garanta a firme fixação da bandagem e o ajustamento do curativo; O curativo não deve ser muito apertado para permitir a circulação; nem frouxa demais, pelo risco de se soltar; Evite o atrito da pele com qualquer superfície; Posicione corretamente a vítima dependendo do tipo de lesão; Proteja a ferida (ou saliências) com gaze; Imobilize a parte do corpo onde está o ferimento. Primeiros Socorros 61 Entorses, luxações e Fraturas Quadro clínico diferencial Entorses As entorses, também conhecidas como torcedura ou mau jeito, são lesões dos ligamentos das articulações e acontecem quando as articulações se esticam de sua amplitude normal rompendo-se. Quando ocorre entorse há uma distensão dos ligamentos, mas não há o deslocamento completo dos ossos da articulação. Primeiros Socorros62 As causas mais frequentes de entorses são: Violências como puxões ou rotações, que forçam a articulação; Uso de calçados altos; No ambiente de trabalho a entorse pode ocorrer em qualquer ramo de atividade. Em suas formas graves produzem perda da estabilidade da articulação às vezes acompanhada por luxação. Conduta nas entorses Aplicar gelo ou compressas frias durante as primeiras 24 horas. Após este tempo aplicar compressas mornas. Imobilizar o local como nas fraturas. A imobilização deverá ser feita na posição que for mais cômoda para o acidentado. Luxações São lesões em que a extremidade de um dos ossos que compõem uma articulação é deslocada de seu lugar. O dano a tecidos moles pode ser muito grave, afetando vasos sanguíneos, nervos e cápsula articular. Nas luxações ocorre o deslocamento e perda de contato total ou parcial dos ossos que compõe a articulação afetada. Acontecem geralmente devido a traumatismos, golpes indiretos, movimentos articulares violentos. Mas, somente uma contração muscular é suficiente para causar a luxação. As articulações mais atingidas são o ombro, cotovelo, articulação dos dedos e mandíbula. Primeiros Socorros 63 Conduta nas luxações Imobilizar o local como nas fraturas. A imobilização deverá ser feita na posição que for mais cômoda para o acidentado. Não se deve fazer aplicações de compressas quentes nem massagens no local afetado. Fraturas Fratura é um tipo de lesão em que ocorre a quebra de um osso. Ela pode ser fechada (interna) ou aberta (externa). A fratura é considerada fechada quando não ocorre o rompimento da pele. Suspeita-se desse tipo de fratura quando a vítima apresenta: Dor intensa; Deformação no local afetado; Limitação ou incapacidade de movimento; Edema e/ou hematomas no local; Crepitação que é a sensação que se tem ao tocar o local afetado percebe-se um atrito entre os ossos fraturados. A fratura aberta ou exposta se caracteriza pela exposição do osso externamente. Primeiros Socorros64 Como imobilizar ? Importante frisar que ao tentar alinhar o corpo do paciente para imobiliza-lo, sob nenhuma justificativa deve-se tentar recolocar o osso fraturado de volta no seu eixo quando o mesmo tiver resistência ou a vitima relatar aumento da dor, nesse caso, procede a imobilização da maneira encontrado e essas manobras de redução de qualquer tipo de fratura só podem ser feitas por pessoal médico especializado. A imobilização deve ser feita dentro dos limites do conforto e da dor do acidentado; Quando se tratar de fratura de clavícula, omoplata ou braço, bem como lesões em cotovelo recomenda-se imobilizar o osso afetado colocando o braço na frente do peito e sustentando-o com uma atadura triangular dobrada; Observar o estado geral do acidentado, procurando lesões mais graves com ferimento e hemorragia; Ficar atento para prevenir o choque hipovolêmico; Controlar eventual hemorragia e cuidar de qualquer ferimento com curativo, antes de proceder a imobilização do membro afetado; Usar talas, caso seja necessário. As talas irão auxiliar na sustentação do membro atingido. As talas têm que ser de tamanho suficiente para ultrapassar as articulações acima e abaixo da fratura; O membro deve ser mantido numa posição o mais natural possível, não causando desconforto à vítima; Improvise talas com material disponível no momento: revista grossa, papelão, jornal grosso; Acolchoe as talas com panos ou algo macio para não ferir a pele; Amarre as talas com tiras de pano em torno do membro fraturado com cuidado para não provocar insuficiência circulatória. A vítima não deve ser deslocada, removida ou transportada sem que o membro ou local fratura esteja devidamente imobilizado. A única exceção é para oscasos em que o acidentado corre perigo iminente de vida. Mas, mesmo nestes casos, é necessário manter a calma, promover uma rápida e Primeiros Socorros 65 Tipos de fraturas: transversa, em galho verde, em espiral, cominutiva, oblíqua e impactada. precisa análise da situação, e realizar a remoção provisória com o máximo de cuidado possível, atentando para as partes do acidentado. Primeiros Socorros66 Choque O choque é emergência médica grave e exige um atendimento rápido e imediato. Veja no quadro os vários tipos de choque: O reconhecimento da iminência de choque é extremamente importante para o salvamento da vítima, mesmo que pouco possa fazer para reverter á síndrome. Vejamos a seguir os sinais e sintomas do choque: Primeiros Socorros 67 Existem inúmeras razões que poderão conduzir ao estado de choque. Dentre as principais causas temos: Hemorragias intensas (internas ou externas) Infarto Taquicardias Bradicardias Queimaduras graves Processos inflamatórios do coração Traumatismos do crânio e traumatismos graves de tórax e abdome Envenenamentos Afogamento Choque elétrico Picadas de animais peçonhentos Exposição a extremos de calor e frio Septicemia Na maioria das vezes o choque é de difícil reconhecimento, mas podemos em algumas situações adotar condutas para evitá-lo ou retardá-lo. Veja a seguir como prestar atendimento às vítimas de choque. Condutas no Choque Deitar a vítima em decúbito dorsal ou posição de segurança (caso não tenha suspeita de trauma); Afrouxar as roupas da vítima; Primeiros Socorros68 Aquecer a paciente; Verificar presença de prótese dentária, objetos ou alimento na boca e retirá-los; Verificar pulso e respiração, iniciando as técnicas necessárias para o reestabelecimento caso estejam ausentes; No caso da vítima estar inconsciente, ou se estiver consciente, mas sangrando pela boca ou nariz, deitá-la na posição lateral de segurança (PLS), para evitar asfixia; Manter a temperatura corporal, evitando hipotermia; Elevar membros inferiores em relação ao corpo, para levar o máximo de oxigênio ao cérebro, isto se não houver fraturas desses membros; Não oferecer líquidos a vítima, podendo molhar levemente os lábios; Dependendo do estado geral e da existência ou não de fratura, a vítima deverá ser deitada da melhor maneira possível; Tranquilizar a vítima, mantendo-a calma sem demonstrar apreensão quanto ao seu estado; Permanecer em vigilância junto à vítima oferecendo-lhe segurança e monitorando possíveis alterações em seu estado físico e de consciência. Hemorragias Hemorragia é uma perda copiosa de sangue devido à ruptura de vasos sanguíneos, que pode ser revertida com procedimentos básicos. A hemorragia é nomeada de acordo com a origem de suas manifestações: Otorragia (ouvido); Epistaxe (nariz); Primeiros Socorros 69 Estomatorragia (cavidade oral); Hemoptise (pulmões); Hematêmese (estômago); Metrorragia (vagina); Hematúria (aparelho urinário); Melena (aparelho digestivo alto); Enterorragia (aparelho digestivo baixo). Podem ser classificadas como arteriais (sangramento em jato pulsátil de cor vermelho vivo), venosas (o sangramento escorre da lesão continuamente, de cor vermelho escuro), espontânea (doença grave), traumática (acidente), externa (extravasa para o exterior do organismo) e interna (sangue no interior do corpo). A gravidade da hemorragia depende do tipo de vaso atingido (mais sério nas artérias), do calibre do vaso (quanto mais calibroso pior) e da velocidade do sangramento (quanto mais rápido maior a probabilidade de levar ao choque irreversível, parada cardiorrespiratória e morte). Podem ser de origem traumática ou clínica. Primeiros Socorros70 Principais causas de hemorragias Primeiros Socorros 71 No caso de trauma, os órgãos que produzem sangramentos mais graves são fígado, baço, bacia e fêmur. É sempre bom suspeitar de hemorragia interna quando é uma vítima de acidente violento, de queda de altura, de queda de objetos pesados sobre ela. As hemorragias espontâneas, por problemas clínicos, comumente estão associadas a uma doença grave, sendo a hemoptise a mais crítica. Sua sintomatologia envolve a ansiedade, sede, taquicardia, pulso radial fraco ou inexistente, sudorese fria, palidez, taquipneia, enchimento capilar lento, hipotensão, alterações mentais, agitação, confusão ou inconsciência, estado de choque, parada cardiorrespiratória e morte. A conduta varia conforme a área afetada. Vamos fixar as principais condutas nas hemorragias. Condutas gerais na hemorragia Acalmar o paciente; Aplicar compressão direta na própria ferida, ou artéria lesada, e curativo compressivo; Expor o paciente para que roupas não ocultem algum sangramento; Averiguar a quantidade de sangue perdido; Observar presença de feridas penetrantes, equimoses (sangue pisado) ou lesões na pele sobre estruturas vitais; Em hemoptise, hematêmese e melena, prestar suporte básico de vida e encaminhar ao hospital; Manter a vítima protegida com cobertas, evitando relação direta com chão frio. Negar líquido sempre, independente se inconsciente ou consciente; Conservar a vítima deitada com as pernas mais elevadas que a cabeça, exceto se lesão no cérebro ou crânio ou se dispneia; Sobrepor compressas frias no local onde há possibilidade de hemorragia interna; Sempre que possível fazer reposição volêmica. Primeiros Socorros72 Melena: fezes pastosas de cor escura e cheiro fétido. OTORRAGIA (sangramento no ouvido) Como os traumas de crânio (TC) podem originar sangramento que escorrem pelo ouvido, se estiver com líquor, evite estancar e procure um pronto socorro; Se descartado TC, utilize um pedaço de gaze, fixando-o até que estanque. EPISTAXE (sangramento do nariz) Afrouxar a roupa ao redor do pescoço ou tórax; Manter a vítima sentada (tórax encostado e cabeça erguida) em ambiente arejado; Verificar o pulso; Exercer compressão com os dedos sobre a área externa das narinas; Deixar a boca da vítima aberta; Colocar compressas frias (testa e nuca); Se necessário, por gaze ou similar na narina afetada; Advertir a vítima a evitar assuar por duas horas. HEMOPTISE (expectoração com sangue) Deitá-la em posição lateralizada em repouso; Hematêmese: vômitos com sangue. Hemoptise: expectoração sanguinolenta através da tosse Primeiros Socorros 73 Aconselhar que evite falar e se esforçar; Fornecer transporte urgente para unidade especializada. HEMATÊMESE (vômito com sangue) Manter o acidentado em repouso em decúbito dorsal (ou lateral se estiver inconsciente), não utilizar travesseiros; Suspender a ingestão de líquidos e alimentos; Aplicar bolsa de gelo ou compressas frias na área do estômago; Encaminhar o acidentado para atendimento especializado. MELENA E ENTERORRAGIA (fezes pastosas de cor escura e cheiro fétido e sangue eliminado pelo ânus) Deitar a vítima em decúbito dorsal; Colocar bolsa de gelo no abdome (sobre estômago e intestino) ou na região anal (se hemorroidas); Transferi-la com urgência para atendimento especializado. METRORRAGIA (sangramento uteríno abundante fora do período mestrual) Manter a paciente deitada e agasalhada; Prevenir qualquer esforço físico; Conservar se possível, a quantidade abolida de sangue e resultados da expulsão uterina (expor ao médico); Prevenir o estado de choque; Descartar uma possível gravidez; Oferecer absorvente íntimo; Concentrar bolsa de gelo no baixo ventre. Primeiros Socorros74 Hipertermia É a elevação da temperatura corporal superior a 40ºC, tendo como possíveis causas: infecção orgânica por doença febril, tumores, traumatismo craniano, acidente vascular cerebral, ou qualquer problema que afete o centro regulador HEMATÚRIA (presença de sangue na urina) Encaminhar ao pronto atendimento especializado. Torniquetes São utilizados somente para controlar hemorragias nos casos em que a vítima teve o braço ou a perna amputado traumaticamente ou esmagados e onde procedimentos normais de estancamento não
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