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3823-Apostila Neuro (1)

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380 
 
 
 
 
 
 
381 
 
Neuropsiquiatria 
 
A psiquiatria é a especialidade da medicina que estuda e trata os transtornos ou 
distúrbios mentais. Usa o conhecimento de diversas áreas do saber como a fisiologia, a 
anatomia, a bioquímica, a psicologia, a antropologia e a filosofia. 
O conceito de saúde mental considera o contexto de tempo e espaço, a capacidade 
de adaptação ao meio ambiente, com a pessoa recorrendo a mecanismos de defesa sadios 
e buscando soluções satisfatórias para suas dificuldades. O indivíduo considerado 
mentalmente saudável costuma possuir habilidades, como: 
– perceber a realidade de modo acurado; 
– exibir certo domínio sobre o ambiente; 
– engajar-se em pensamentos e ações independentes; 
– aceitar as próprias qualidades e limitações; 
– obter uma visão unificadora e integradora sobre a vida. 
O Transtorno mental tem definição complexa, mas considerando a perspectiva 
colocada, pode ser entendido como a perda de algumas das habilidades citadas. As 
neurociências e os estudos sobre o comportamento apontam o transtorno mental 
composto de fatores biológicos, psicológicos, ambientais e sociais, cujas proporções 
variam nas pessoas e tipos de transtornos. 
 
Explicações para o transtorno mental 
Algumas causas foram apontadas para explicar os transtornos mentais: 
 
Os espíritos, deuses e demônios 
Os espíritos, deuses e demônios historicamente foram responsabilizados por 
comportamentos alterados do ser humano. Essa causa foi bem aceita no mundo 
ocidental, no período grego-romano e na Idade Média. 
O tratamento proposto era intervenções religiosas, mágicas e exorcismo. 
 
O organismo 
O mau funcionamento do organismo pode ser responsável por alterações 
comportamentais. Nesse caso, a causa é orgânica e as intervenções recomendadas são 
biológicas. 
 
O ambiente 
O ambiente desfavorável pode causar comportamentos desajustados. 
Aprender a lidar com o ambiente e tomar consciência do papel social são soluções 
indicadas. 
 
A história de vida 
Problemas nas etapas da vida, principalmente infância e adolescência, 
envolvendo família e relacionamentos complicados podem ser causas para dificuldades 
emocionais. Nesse caso, propõem-se intervenções psicológicas, através delas o indivíduo 
382 
 
elabora as situações vividas, aprende a lidar com problemas e relacionar-se com outras 
pessoas2. 
 
História da psiquiatria 
No Brasil, final do século XIX, os médicos alienistas (psiquiatras), como em 
alguns outros países europeus, começam a cuidar dos “alienados” (portadores de 
transtornos mentais). Nas cidades maiores, a população passou a incomodar-se com 
comportamentos alterados que, anteriormente, eram bem aceitos. 
Em 1852, no Rio de Janeiro, foi inaugurado o Hospício D. Pedro II, marco 
histórico, para abrigar pacientes alienados. Pouco tempo depois, as duas primeiras 
cátedras, Psiquiatria e Doenças Nervosas, respectivamente no Rio de Janeiro e Bahia, 
foram criadas. Em 1911, a psiquiatria passou a ser especialidade médica autônoma. 
O modelo vigente, na época, era assistencialista, com os pacientes internados em 
hospitais distantes das cidades, especialmente em colônias agrícolas, que utilizavam o 
trabalho como instrumento terapêutico. 
O Hospital Psiquiátrico de Juqueri, na cidade de Franco da Rocha (São Paulo), foi um 
exemplo. 
A responsabilidade legal do paciente com transtorno mental foi determinada 
pela Lei Federal 3.071, de 1916, que diz: “os loucos devem ser submetidos à curatela, 
internados os inconvenientes e sujeitos à interdição dos furiosos”. 
Na primeira metade do século XX surge o estabelecimento de conexão entre 
doença mental e delito, e a proposta de medidas de prevenção em saúde mental. 
Na década de 1970, ganhou força a crítica ao modelo hospitalocêntrico (o hospital 
como modelo assistencial hegemônico), com a internação, causando afastamento do 
convívio familiar e social, e a assistência centrada no modelo médico. Houve denúncias 
de maus tratos em instituições asilares, onde os pacientes eram privados de direitos de 
cidadania. 
A década de 1980 foi um período de efervescência. Alguns grupos de 
profissionais ligados à saúde mental propuseram modalidades de atenção alternativas à 
internação. 
A Constituição de 1988 enfatiza a importância da cidadania, criando o Sistema 
Único de Saúde (SUS) e dando força ao movimento antimanicomial (luta contra 
internação em instituição psiquiátrica asilar). 
Em 1990, o projeto-lei do deputado Paulo Delgado solicitou, entre outros, a 
substituição do hospital psiquiátrico por outras formas de atendimento,alegando sua má 
utilização. 
A “Segunda Conferência Nacional de Saúde Mental”, de 1992, propôs que a 
doença mental fosse compreendida como “processo saúde-doença” e que a assistência 
englobasse a pessoa por inteiro, considerando origem, modo de vida, referências e 
diferenças. A conferência destacou a importância da cidadania e recomendou atender a 
“existência-sofrimento”, com a percepção de toda a vida da pessoa e não apenas sua 
situação de doença. 
A Lei 3.657-D, de 1989, aprovada em 2001, redirecionou o modelo assistencial em 
saúde mental no Brasil. 
383 
 
A reforma psiquiátrica brasileira e a política de saúde mental 
A humanidade convive com a loucura há séculos e, antes de se tornar um tema 
essencialmente médico, o louco habitou o imaginário popular de diversas formas. De 
motivo de chacota e escárnio a possuído pelo demônio, até marginalizado por não se 
enquadrar nos preceitos morais vigentes, o louco é um enigma que ameaça os saberes 
constituídos sobre o homem. 
Na Renascença, a segregação dos loucos se dava pelo seu banimento dos muros 
das cidades européias e o seu confinamento era um confinamento errante: eram 
condenados a andar de cidade em cidade ou colocados em navios que, na inquietude do 
mar, vagavam sem destino, chegando, ocasionalmente, a algum porto. 
No entanto, desde a Idade Média, os loucos são confinados em grandes asilos e 
hospitais destinados a toda sorte de indesejáveis – inválidos, portadores de doenças 
venéreas, mendigos e libertinos. Nessas instituições, os mais violentos eram 
acorrentados; a alguns era permitido sair para mendigar. 
No século XVIII, Phillippe Pinel, considerado o pai da psiquiatria, propõe uma 
nova forma de tratamento aos loucos, libertando-os das correntes e transferindo-os aos 
manicômios, destinados somente aos doentes mentais. Várias experiências e tratamentos 
são desenvolvidos e difundidos pela Europa. 
O tratamento nos manicômios, defendido por Pinel, baseia-se principalmente na 
reeducação dos alienados, no respeito às normas e no desencorajamento das condutas 
inconvenientes. Para Pinel, a função disciplinadora do médico e do manicômio deve ser 
exercida com firmeza, porém com gentileza. Isso denota o caráter essencialmente moral 
com o qual a loucura passa a ser revestida. 
No entanto, com o passar do tempo, o tratamento moral de Pinel vai se 
modificando e esvazia-se das idéias originais do método. Permanecem as idéias 
corretivas do comportamento e dos hábitos dos doentes, porém como recursos de 
imposição da ordem e da disciplina institucional. No século XIX, o tratamento ao doente 
mental incluía medidas físicas como duchas, banhos frios, chicotadas, máquinas 
giratórias e sangrias. 
Aos poucos, com o avanço das teorias organicistas, o que era considerado como 
doença moral passa a ser compreendido também como uma doença orgânica. No 
entanto, as técnicas de tratamento empregadas pelos organicistas eram as mesmas 
empregadas pelos adeptos do tratamento moral, o que significa que, mesmo com uma 
outra compreensão sobre a loucura, decorrente de descobertas experimentais da 
neurofisiologia e da neuroanatomia, a submissão do louco permanece e adentra o século 
XX. 
A partir da segunda metade do século XX, impulsionada principalmente por 
Franco Basaglia, psiquiatra italiano, inicia-se uma radical críticae transformação do 
saber, do tratamento e das instituições psiquiátricas. Esse movimento inicia-se na Itália, 
mas tem repercussões em todo o mundo e muito particularmente no Brasil. 
Nesse sentido é que se inicia o movimento da Luta Antimanicomial que nasce 
profundamente marcado pela ideia de defesa dos direitos humanos e de resgate da 
cidadania dos que carregam transtornos mentais. 
Aliado a essa luta, nasce o movimento da Reforma Psiquiátrica que, mais do que 
denunciar os manicômios como instituições de violências, propõe a construção de uma 
rede de serviços e estratégias territoriais e comunitárias, profundamente solidárias, 
inclusivas e libertárias. 
384 
 
No Brasil, tal movimento inicia-se no final da década de 70 com a mobilização 
dos profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes com transtornos mentais. 
Esse movimento se inscreve no contexto de redemocratização do país e na mobilização 
político-social que ocorre na época. 
Importantes acontecimentos como a intervenção e o fechamento da Clínica 
Anchieta, em Santos/SP, e a revisão legislativa proposta pelo então Deputado Paulo 
Delgado por meio do projeto de lei nº 3.657, ambos ocorridos em 1989, impulsionam a 
Reforma Psiquiátrica Brasileira. 
Em 1990, o Brasil torna-se signatário da Declaração de Caracas a qual propõe a 
reestruturação da assistência psiquiátrica, e, em 2001, é aprovada a Lei Federal 10.216 
que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais 
e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. 
Dessa lei origina-se a Política de Saúde Mental a qual, basicamente, visa garantir 
o cuidado ao paciente com transtorno mental em serviços substitutivos aos hospitais 
psiquiátricos, superando assim a lógica das internações de longa permanência que 
tratam o paciente isolando-o do convívio com a família e com a sociedade como um todo. 
A Política de Saúde Mental no Brasil promove a redução programada de leitos 
psiquiátricos de longa permanência, incentivando que as internações psiquiátricas, 
quando necessárias, se dêem no âmbito dos hospitais gerais e que sejam de curta 
duração. Além disso, essa política visa à constituição de uma rede de dispositivos 
diferenciados que permitam a atenção ao portador de sofrimento mental no seu 
território, a desinstitucionalização de pacientes de longa permanência em hospitais 
psiquiátricos e, ainda, ações que permitam a reabilitação psicossocial por meio da 
inserção pelo trabalho, da cultura e do lazer. 
Antes, destituídos da própria identidade, privados de seus direitos mais básicos 
de liberdade e sem a chance de possuir qualquer objeto pessoal (os poucos que possuíam 
tinham que ser carregados junto ao próprio corpo), esses sobreviventes agora vivem. 
 
A enfermagem psiquiátrica e de saúde mental 
A enfermagem psiquiátrica e de saúde mental é a especialidade que presta 
cuidados ao paciente, família e comunidade com ações de promoção, prevenção, 
assistência e reabilitação. Algumas definições costumam ser: 
É uma arte curativa que auxilia pessoas que necessitam de cuidados de saúde e 
processo interpessoal que envolve interação entre enfermeiro e paciente. 
Processo interpessoal no qual o enfermeiro ajuda uma pessoa (ou família) a 
prevenir ou enfrentar a experiência da doença, sofrimento e, se possível, descobrir um 
sentido para essa experiência. 
Processo no qual o enfermeiro auxilia as pessoas, individualmente ou em grupos, 
a obterem padrões gratificantes de relacionamentos interpessoais e papéis satisfatórios 
na sociedade. 
Processo no qual o enfermeiro auxilia o paciente a promover e manter comportamentos 
que contribuam para seu funcionamento integrado. 
O paciente pode ser o indivíduo, a família, o grupo, a organização ou a 
comunidade. Os três domínios da prática de enfermagem psiquiátrica são: os cuidados 
diretos, a comunicação e o gerenciamento. 
Conceitos e crenças 
385 
 
O enfermeiro psiquiátrico e de saúde mental proporciona a assistência de 
enfermagem embasado em seus conhecimentos, conceitos e crenças sobre o ser humano 
e seu comportamento: 
– o ser humano é único e de valor inerente pelo simples fato de pertencer à humanidade, 
valor herdado da tradição judaico-cristã; 
– é um ser holístico, com o todo maior do que a soma de suas partes; 
– apresenta numerosas necessidades interrelacionadas e interdependentes, e diferenças 
em seu modo de ser e agir; 
– tem qualidades e potenciais para crescimento, dentro de suas possibilidades; 
– deve ser enfatizado em seus recursos e habilidades e não em suas dificuldades; 
– é um ser de relações, capaz de manter relacionamentos interpessoais efetivos com os 
demais; 
– seu comportamento é aprendido e representa, naquele momento, a melhor adaptação 
possível. O enfermeiro precisa ajudar a modificar os disfuncionais; 
– o comportamento sinaliza uma mensagem que pode ser sobre uma necessidade básica 
afetada e para a qual o enfermeiro precisa estar atento, preparado para compreender e, 
se possível, atender.3 
O papel e o papel do Técnico de Enfermagem 
Técnico: o profissional, que deve manter conhecimentos atualizados em farmacologia, 
observa, interpreta e avalia reações diante das terapias somáticas, colabora com os 
membros da equipe para administração segura de tratamentos e orienta o paciente sobre 
aspectos relacionados aos mesmos. 
Saúde Mental 
Os transtornos mentais vêm sendo bastante estudados nos últimos anos e 
cada vez mais compreende-se a importância do preparo adequado da equipe de 
enfermagem que assiste pacientes internados em unidades psiquiátricas, em 
centro de atenção psicossocial (CAPS), ambulatórios e hospitais-dia. 
O objetivo da enfermagem psiquiátrica é prevenir as doenças mentais e 
reabilitar indivíduos acometidos por qualquer distúrbio psiquiátrico. 
Atualmente, esses transtornos são encarados, no mundo todo, como 
multicausais, pois envolvem fatores biológicos, psicológicos e sociais. 
No passado, se um indivíduo fosse portador de alguma doença mental, 
era excluído da sociedade. Segundo Mello (1996), durante a história da 
humanidade algumas interpretações surgiram para explicar o comportamento 
diferente e os pensamentos confusos que manifestavam as pessoas hoje 
denominadas “doentes mentais” ou “portadoras de distúrbios psiquiátricos”. Os 
espíritos, deuses ou demônios, eram responsáveis pelo comportamento alterado 
da pessoa. Nesse caso, o tratamento costumava ser religioso. Envolvendo magia 
e exorcismo. Era explicação foi bastante aceita durante o período greco-romano 
e durante a Idade Média. 
386 
 
Posteriormente, acreditou-se que um mau funcionamento do organismo 
era a causa dos distúrbios comportamentais. Neste caso, era importante descobrir 
a origem orgânica, e costumava-se indicar um tratamento farmacológico. 
Também houve um período em que se acreditava que as pessoas podiam 
ser vítimas do ambiente, que poderia transformar um homem saudável em um 
desequilibrado. A conscientização do papel social do indivíduo e como lidar com 
o ambiente era as soluções mais indicadas naquela época. 
Até a segunda metade do século XIX, os doentes mentais no Brasil não era 
assistidos por médicos especializados ou qualquer profissional da área 
psiquiátrica. Eles eram abandonados em prisões, encarcerados por vadiagem ou 
levados para os grandes asilos de longa permanência, com o intuito de não 
atrapalharem o bom andamento dos centros urbanos. 
Nesse período, até mesmo no Brasil já existia a preocupação de se criar 
uma legislação que regulamentasse esses problemas. Em 1841, D. Pedro II 
assinou um decreto para fundar o primeiro hospital psiquiátrico, cuja 
inauguração aconteceu em 1852, no Rio de Janeiro. 
Posteriormente, em São Paulo, foi inaugurado o hospital de Franco da 
Rocha com as mesmas características. Com o decorrer do tempo, a instituição 
chegou a concentrar milhares de pessoas com problemas mentais,mas nem todas 
necessitavam de internação. 
Esse período é marcado por muitas dificuldades terapêuticas. Segundo 
Crus (1974), os recursos terapêuticos utilizados na clínica psiquiátrica eram 
muito pobres, geralmente eméticos, e eram oferecidos purgantes aos pacientes. 
Havia apenas alguns sedantes, entre eles os brometos, além do ópio e das 
anfetaminas, que eram usados para o tratamento da depressão. 
O mesmo autor ainda cita que naquela época também surgiram os 
precursores dos tratamentos biológicos: a insulinoterapia e a convulsoterapia, 
tanto por agente químico (pentametilenotetrazol (para tratamento da 
esquizofrenia) por via intravenosa) como por corrente elétrica 
(eletroconvulsoterapia). 
Por volta de 1950 surgira, os psicotrópicos – esse fato foi tão importante 
para a psiquiatria como a descoberta dos anestésicos, para cirurgia. A psiquiatria, 
no mundo inteiro, passou por uma revolução; com o uso desses agentes o 
confinamento dos pacientes dentro de hospitais foi sendo eliminado e eles 
puderam voltar ao convívio social. 
As três décadas seguintes foram de significativas mudanças. Em 1966, foi 
criado o INPS, havendo uma centralização dos recursos da saúde. Esse momento 
foi de privatização máxima para toda a saúde. Praticamente todos os recursos 
387 
 
financeiros destinados à saúde mental no país foram empregados na construção 
de hospitais psiquiátricos. 
No final da década de 1960, começou a surgir um forte movimento social 
no Brasil, questionando a internação em instituições hospitalares, principalmente 
com características manicomiais. Entendeu-se que o fato de permanecer 
hospitalizado levava o paciente à institucionalização, causando mais danos do 
que benefícios à sua saúde. 
Em 1980, eclodiu a crise da saúde mental. Muitas pessoas procuravam 
internação psiquiátrica sem a devida indicação, para sobreviver ou para receber 
pensão por invalidez. Entre os anos de 1989 e 1995, surgiu uma política de 
redução de leitos e de institucionalização na área de saúde mental, que culminou 
com a eliminação de cerca de 20 mil leitos e todo o país. 
Em 1990, foi apresentado o projeto de lei do deputado Paulo Delgado, 
propondo uma reforma psiquiátrica que, entre outras questões, incluía a extinção 
dos hospitais psiquiátricos, alegando o mau uso desde sua criação. O projeto, no 
entanto, não foi aprovado. E nasceu, então, o projeto substitutivo Portela que, 
dentre as propostas, sugeria que a assistência ao doente mental fosse de 
responsabilidade do Estado com a devida participação da sociedade e da família 
e fosse prestada em estabelecimentos de saúde mental, buscando sempre a 
reabilitação e a reinserção social do paciente. 
Esse projeto foi aprovado e regulamentado pela Lei n. 10.216, de 6 de abril 
de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de 
transtornos mentais, redirecionando o modelo assistencial em saúde mental. No 
parágrafo único dessa lei fica estabelecido que são considerados os seguintes 
tipos de internação psiquiátrica: internação voluntaria (com o consentimento do 
usuário); internação involuntária (sem o consentimento do usuário e a pedido de 
terceiro); internação compulsória (determinada pela justiça). 
Ainda falta muita coisa para ser mudada na área de saúde mental, mas o 
atendimento aos usuários no decorrer de sua história evoluiu, e à medida que a 
sociedade for se instruindo sobre essa especialidade, maior será a aceitação do 
doente mental nos diversos setores da comunidade. 
Epidemiologia dos Transtornos Mentais 
Hoje é amplamente aceito que as doenças psiquiátricas aparecem por 
fenômenos biológicos, psicológicos e ambientais. A história das investigações 
epidemiológicas na população do Brasil ainda é limitada, principalmente na área 
de saúde mental. Nas últimas décadas, no entanto, um número crescente de 
388 
 
pesquisas epidemiológicas foram conduzidas no Brasil. Os transtornos 
psiquiátricos são descritos por suas características psicopatológicas. 
Muitas doenças psiquiátricas ainda não tem cura. Enquanto algumas tem 
curso breve e poucos sintomas, outras são condições crônicas que apresentam 
importante impacto na qualidade de vida do paciente, necessitando de 
tratamento em longo prazo ou por toda a vida. A efetividade do tratamento 
também varia em cada paciente. Uma pesquisa recente em São Paulo mostrou 
que 45,6% das pessoas com mais de 18 anos entrevistadas, no decorrer de sua 
vida já haviam sido diagnosticadas com patologias psiquiátricas. Dentre as 
patologias informadas, destacam-se: dependência química, transtorno 
depressivo, transtorno ansioso, transtorno somatoforme (“histeria”) e transtorno 
psicóticos (esquizofrenia e bipolar). 
Segundo o Ministério da Saúde, no ano de 2005, de todas as internações 
registradas no Brasil, 2,67% foram atribuídas a transtornos mentais e 
comportamentais. Esse mesmo órgão contabilizou e, 2006 aproximadamente 
5.300.000 de atendimentos de pessoas com problemas mentais. Também foi 
apontada uma crescente procura em todo o território nacional de atendimento 
nos prontos-socorros por pessoas em emergências psiquiátricas. 
Diante desses números, entende-se, que o Brasil precisa de melhores 
investimentos na área de saúde mental, principalmente em pesquisa de ponta e 
infraestrutura nos diversos aparelhos gestores de atendimento à população. Não 
é apenas com a diminuição de leitos nos hospitais psiquiátricos que se pode sanas 
problemas de tal abrangência, como os vivenciados hoje na saúde mental. 
 
A História da Loucura no Brasil 
 Santas Casas de Misericórdia passam a receber e acolher os doentes psiquiátricos 
nos meados do século XIX. 
 1808 -> Transferência da Corte Real portuguesa para a cidade doo Rio de Janeiro. 
 1829 -> Fundação da Sociedade de Medicina no Rio de Janeiro. 
 1931 -> Publicação do 1º escrito de valor cientifico sobre doenças mentais; 
“Insônia Loquaz” de José Martins da Cruz Jobim. 
 1935 -> Cruz Jobim denuncia a insalubridade dos porões da Santa Casa de M. 
 1852 -> Inauguração do 1º Hospício Brasileiro chamado Hospício D. Pedro II 
(Palácio dos Loucos). “Aos loucos, o hospício” 
 1856 -> Relatórios acusam superlotação Prontuários revelam divisão de classes 
dentro do Hospício. 
 1881 -> Cadeira de Doenças Nervosas e Mentais nas faculdades do RJ e da BA. 
 1890 -> Queda do Império/ Instituição da República. 
-Hospício D. Pedro II – Hospital Nacional de alienados 
-Administração pública (Estado) 
389 
 
-Criação das Colónias destinadas ao tratamento de pacientes incuráveis. 
 Nos anos 30 -> Eletrochoque (180w – 450w) nas têmporas e Lobotomia (será 
abolida em 1955) 
 Nos anos 50 -> Clorpromazina (Protótipo do tratamento de pacientes 
esquizofrênicos atuando como tranquilizante) Fortalecimento do processo de 
Psiquiatrização. 
 
Os direitos do paciente e as diretrizes assistenciais 
Os portadores de transtornos metais dispõem de proteção e direitos, conforme 
modelo assistencial em saúde mental vigente no país. 
Os direitos do paciente 
• Acesso ao melhor tratamento no sistema de saúde, conforme suas necessidades. 
• Benefício para sua saúde e garantia de sua inserção na família, trabalho e comunidade. 
• Proteção contra abuso e exploração. 
• Garantia de sigilo. 
• Acesso aos meios de comunicação. 
• Orientações sobre sua doença e tratamento. 
• Tratamento em ambiente terapêutico. 
• Tratamento preferencial em serviços comunitários de saúde mental. 
 
A INTERNAÇÃO 
 
Os tipos de internação autorizados são: 
Voluntária: ocorre com concordância do paciente, que assina o “termo de 
consentimento” e pode pedir alta da instituição quando quiser. 
Involuntária: ocorre por solicitação de terceiros e sem concordância da pessoa. Nesse 
caso, em até 72 horas, o responsável técnico da instituição deve comunicar o Ministério 
Público Estadual. 
Compulsória: determinada pela justiça. 
A internação só deve ocorrer devidoà insuficiência de outros recursos 
terapêuticos, objetivar a inserção social e ocorrer com assistência integral, como serviços 
médicos, psicológicos e de assistência social, e contar com lazer, recreação e outros. 
 
Diretrizes e normas assistenciais para hospitais psiquiátricos 
Uma Portaria do Ministério da Saúde estabeleceu diretrizes e normas para a 
assistência hospitalar em psiquiatria, classificou os hospitais psiquiátricos, definiu a 
estrutura, a porta de entrada para as internações psiquiátricas na rede do SUS e orientou 
outras providências. 
Principais diretrizes SUS: 
• Consolidação da implantação da atenção comunitária de base extra hospitalar, 
articulada, territorial e com preocupação de inserção social. 
• Organização de serviços com bases na universalização, hierarquização, regionalização 
e integralidade das ações. 
• Asseguramento de continuidade de atenção. 
• Asseguramento de multiprofissionalidade. 
390 
 
• Garantia de participação social na formulação e controle da execução das políticas de 
saúde mental. 
• Articulação de planos diretores de regionalização. 
• Definição dos órgãos gestores responsáveis pela regulamentação local, normas, 
controle e avaliação dos serviços prestados. 
 
Conceitos e orientações assistenciais para hospitais psiquiátricos: 
• Hospital psiquiátrico é definido como aquele cuja maioria de leitos é destinada aos 
tratamentos psiquiátricos especializados, em regime de internação. 
• O hospital deve articular-se com a rede comunitária de saúde mental. 
• A porta de entrada para atenção deve estar situada no território de referência para o 
hospital. 
• O uso de espaços restritivos (celas fortes) é proibido. 
• A correspondência do paciente é inviolável. 
• O registro adequado dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos realizados no 
paciente deve ser em prontuário único. Todo profissional assistencial de nível superior 
tem de registrar seu atendimento no mínimo uma vez por semana. 
• A equipe de enfermagem deve fazer anotação diária. 
• O paciente deve receber, de acordo com suas necessidades, as avaliações médica, 
psicológica e social, e atendimento diário de pelo menos um membro da equipe 
profissional, conforme o plano terapêutico. 
• As modalidades de atendimento individual previstas são: medicamentos, psicoterapia 
breve, terapia ocupacional e outras. 
• As modalidades de atendimento grupal previstas são: grupo operativo, psicoterapia 
em grupo, atividade socioterápicas e outras. 
• O preparo para a alta hospitalar e garantia de continuidade do atendimento na 
modalidade pertinente, como ambulatório, hospital-dia, centro de atenção psicossocial, 
residência terapêutica, com objetivos de reintegração social e familiar, e prevenção de 
novas internações são necessários. 
• O projeto terapêutico escrito do paciente precisa ser encaminhado à instituição de 
referência, visando continuidade do tratamento. Paciente de longa permanência (mais 
de um ano) requer projeto terapêutico específico. 
• A família do paciente deve receber esclarecimentos sobre doença, tratamento e outros. 
• A presença de quarto de intercorrências clínicas com o material para atendimento de 
urgência clínica, como cama Fowler, oxigênio, aspirador de secreções, vaporizador, 
nebulizador, carro (ou bandeja) de curativo e carro (ou bandeja) para atender parada 
cardiorrespiratória é obrigatória. 
• A área externa para caminhada ou prática de esportes, assim como salas de jogos e de 
estar, televisão, música ambiente e outros são necessários. 
Quadro (mínimo) de pessoal assistencial para hospitais psiquiátricos: 
– 01 médico plantonista nas 24 horas; 
– 01 enfermeiro, das 19h às 7h, para cada 240 leitos; 
– 01 médico para cada 40 pacientes; 
– 01 enfermeiro para cada 40 pacientes; 
– 01 assistente social, 01 psicólogo, 01 terapeuta ocupacional para cada 60 pacientes; 
– 04 auxiliares de enfermagem para cada 40 leitos; 
– 01 clínico geral para cada 120 pacientes; 
391 
 
– 01 nutricionista e 01 farmacêutico para cada 240 leitos. 
 
Os locais e a equipe assistencial 
 
Locais 
Os locais onde os pacientes com transtornos mentais costumam ser atendidos no 
Brasil são: 
 
 
Unidade Básica de Saúde (UBS) 
 
A Unidade Básica de Saúde (UBS) tem a missão de prestar atendimento ao 
portador de transtorno mental na atenção primária, atuando na área da promoção, 
prevenção e tratamento de transtornos psiquiátricos de baixa complexidade. Idealmente, 
a UBS é a porta de entrada no sistema de saúde. 
 
Ambulatório especializado 
O ambulatório especializado desenvolve ações mais complexas do que a UBS. 
Após recepção e triagem do paciente, realiza-se diagnóstico e tratamento. 
Atualmente, as organizações psiquiátricas e de saúde mental que possuem 
melhores infra-estruturas, incluindo recursos humanos e equipamentos, tendem a 
manter grupos de profissionais especializados em diferentes transtornos mentais, como 
do humor, da ansiedade e alimentares. 
 
Unidade de internação 
A unidade de internação é utilizada quando a gravidade do quadro do paciente 
é incompatível com outras formas de atenção, objetivando protegê-lo dando-lhe o 
necessário suporte terapêutico. 
 
Assistência básica em enfermagem psiquiátrica e de saúde mental 
 
A assistência 
O conjunto de cuidados (assistência) dispensados pela equipe de enfermagem ao 
portador do transtorno mental deve levar em consideração características da pessoa e 
quadro e, conforme preconiza a abordagem holística, contemplar aspectos biológico, 
psicológico, ambiental, social e espiritual. 
Nessa modalidade de assistência, as necessidades básicas afetadas precisam ser 
atendidas com os direitos de cidadania respeitados. 
As necessidades físicas (ou fisiológicas), por serem fundamentais para a 
sobrevivência, são as primeiras a serem atendidas, o que não significa falta de atenção 
às demais. 
 
Alimentação 
A alimentação adequada é indispensável para a recuperação e boa saúde 
do organismo. 
Algumas alterações do padrão alimentar são encontradas diante de 
determinados transtornos mentais: 
392 
 
– o portador de transtorno do humor, fase depressão, tende a comer menos. Cabe à 
equipe de enfermagem estimular e oferecer alimentos em ambiente agradável e 
descobrir preferências alimentares. O portador de depressão grave, às vezes, precisa 
receber alimento na boca; 
– o portador de transtorno do humor, fase mania, tem dificuldade de sentar-se para 
comer, devido à aceleração causada pelo excesso de energia. 
Deve receber alimentos calóricos e fáceis de serem ingeridos; 
– o portador de transtorno de ansiedade pode não comer, comer compulsivamente e 
manter rituais para alimentar-se. Necessita de variados graus de supervisão; 
– o paciente com quadro psicótico, principalmente com delírio persecutório, pode julgar 
que a comida está envenenada e recebe ordens para não comer. Uma abordagem verbal 
adequada, além de testar o alimento na sua presença costumam tranqüilizá-lo; 
– o portador de um transtorno orgânico pode estar confuso e desorientado. 
É necessário colocar o alimento em sua boca. Essa mesma estratégia pode ser necessária 
para criança pequena e idoso; 
– o paciente que faz uso de psicofármacos pode ter dificuldades para mastigar e deglutir, 
devido aos efeitos colaterais. É preciso aguardar com calma que se alimente ou ajudar; 
– o portador de transtornos alimentares tem padrões alimentares peculiares. 
 
Preferencialmente, deve ser abordado por programa elaborado pela equipe 
multidisciplinar que realiza seu tratamento. 
Os profissionais de enfermagem devem observar dificuldades relacionadas a 
aspectos como: 
– hábitos culturais; 
– apetite caprichoso; 
– necessidade de dietas especiais, como líquida ou pastosa; 
– presença de patologias orgânicas, como diabetes e hipertensão arterial; 
– comportamento de manipulação para obter ganhos. 
O paciente sempre se beneficiará de cuidados como:– local limpo e agradável para comer; 
– pratos saborosos e de boa qualidade calórica; 
– companhia de outras pessoas durante a refeição; 
– horários adequados e organizados para alimentação; 
– respeito por hábitos alimentares; 
– observação e anotação do que ingeriu; 
– programa de exercícios físicos, de acordo com sua condição. 
Não se recomendam medidas como: 
– uso de alimento como prêmio ou castigo; 
– introdução forçada de alimento na boca, devido ao risco de traumatismo; 
– uso de manipulação ou falsas promessas para que coma. 
 
Sono 
O sono é fundamental para o organismo restabelecer equilíbrio físico e 
emocional. 
A criança recém-nascida dorme a maior parte do dia, mas diminui 
gradativamente o tempo gasto com o sono. O adulto dorme em média oito horas por dia. 
393 
 
Os distúrbios no sono podem ser causados por alterações ambientais, problemas 
clínicos e transtornos mentais. 
Os quadros psiquiátricos mais comuns que causam alterações no sono são os 
transtornos do humor, da ansiedade e do pensamento (esquizofrenia). 
As drogas psicoativas também podem causar alterações. 
 
A “Associação dos Distúrbios do Sono” classifica os transtornos em quatro 
grupos: 
De iniciação e manutenção (insônia): caracterizado por falta de sono. 
A ansiedade e a depressão são causas importantes. 
De sonolência excessiva (hipersonia): caracterizado por excesso do sono. Inclui a 
narcolepsia, a apnéia do sono e os transtornos noturnos do movimento ( Exemplo, a 
síndrome das pernas inquietas). 
Do horário sono-vigília: caracterizado por um sono normal, mas em horário errado. 
Costuma ser temporário e circunscrito. É associado às mudanças de fuso horário 
(viagens aéreas e alterações de turno de trabalho). Geralmente, com o tempo, o 
organismo se adapta. 
Associado com estágios do sono (parassonias): caracterizado por anomalias 
(sonambulismo, terror noturno, pesadelo e enurese). As crianças podem apresentar 
distúrbios do sono com efeitos significativos sobre o funcionamento de seus organismo. 
 
A equipe de enfermagem deve proporcionar condições para o repouso e orientar 
quanto às medidas de “Higiene do sono”. 
– manter horários regulares de dormir e despertar; 
– não usar cafeína, álcool e cigarro em horário de dormir; 
– evitar a utilização excessiva de hipnóticos; 
– manter refeições e exercícios regulares, que não sejam próximos ao horário de dormir; 
– usar a cama apenas para dormir e manter atividade sexual. Não ler, assistir televisão e 
realizar outras atividades nela; 
– evitar dormir durante o dia; 
– usar hipnóticos apenas quando estritamente necessário (curto prazo, 
1 a 2 semanas, sob prescrição médica) para ajudar em dificuldade para dormir; 
– manter quarto escuro, sem ruídos e na temperatura preferida da pessoa; 
– recorrer às técnicas de relaxamento e de formação de imagens sensoriais combinadas. 
 
Aparência pessoal e higiene 
Os cuidados com higiene e boa aparência pessoal são medidas que favorecem a 
saúde e ajudam a manter a auto-estima, pois a pessoa se percebe e é percebida como 
melhor quando está bem-cuidada. 
Para o portador de transtorno mental, esse aspecto é fundamental, pois é comum 
que tenha a auto-estima afetada pelo estigma da doença. 
Caso não consiga manter os cuidados pessoais deve ser estimulado a: 
– tomar banho todos os dias; 
– manter cabelos arrumados, de acordo com gosto e preferência; 
– fazer barba e depilação; 
– cuidar da pele; 
– cortar unhas e usar esmalte, caso goste; 
394 
 
– cuidar dos dentes; 
– usar roupas e calçados, de acordo com local, clima e moda; 
– usar desodorante; 
– usar adereços, perfume e maquiagem, de modo adequado, caso aprecie. 
 
Ocupação e lazer 
Ocupação e lazer são elementos indispensáveis na vida do ser humano. 
Usados com objetivos terapêuticos aumentam a auto-estima, a independência e evitam 
incapacidade social e mental. 
Os estudiosos da saúde mental afirmam que o ócio é pernicioso ao fornecer 
oportunidade de preocupação excessiva, inclusive com a doença. 
A ocupação proporciona oportunidades de aquisição de habilidades que mantêm 
a competitividade no mercado de trabalho e ajuda no desenvolvimento pessoal. 
Atividades que proporcionam movimento ajudam a mobilizar emoções, causam 
relaxamento e diminuem a sensação de opressão no organismo. 
No aspecto social, as atividades relacionadas à recreação e ao lazer permitem 
contatos e envolvimentos com outros seres humanos. 
As principais atividades desenvolvidas em unidades de saúde mental estão a 
seguir: 
– plásticas e artísticas: modelagem, pintura, escultura e redação; 
– danças e jogos que treinam a competição; 
– exercícios corporais; 
– leitura, música e apresentação de filmes; 
– trabalhos manuais: bordado, carpintaria e tricô; 
– decoração de ambientes; 
– culinária. 
A equipe de enfermagem, ao oferecer atividades de ocupação e lazer, deve 
considerar e enfatizar determinados aspectos: 
– danças e jogos treinam a competição; 
– que estejam de acordo com capacidade, aptidão e preferência de cada paciente; 
– que tenham preferencialmente objetivo pedagógico; 
– que estimulem o crescimento e a participação pessoal; 
– que tenham graus de dificuldades gradativos, e que o paciente seja positivamente 
recompensado à medida que cumpre tarefas; 
– que as tarefas tenham características de profissão, preferencialmente, visando 
desenvolver habilidades e treinamento profissional. 
Observar que algumas tarefas são em grupos e outras individuais. 
Em relação à atividade física, existe estudo, em nosso meio, que demonstra a importância 
de atividade física para o portador de transtorno mental, incluindo essa atividade no 
tratamento. 
 
Sexualidade 
A bíblia foi o primeiro livro a abordar a questão da sexualidade humana. 
Orientou a prática sexual com o objetivo de procriação e estabeleceu padrões de 
comportamento considerados corretos em seu tempo. O homossexualismo masculino e 
a prostituição foram as duas condições que mais interditou. 
395 
 
A psiquiatria, por ter sofrido influências da religião e de grupos sociais, em 
diversos momentos posicionou-se contra atos da área da sexualidade, como 
masturbação e homossexualidade. Usou julgamentos morais não fundamentados na 
ciência, obstruindo a compreensão e o desenvolvimento do ser humano. 
No século XX, estudiosos da área da sexualidade entenderam que a identidade 
sexual depende de uma série complexa de fatores: os cromossomos, a anatomia, a 
morfologia e os aspetos psicológicos. 
Na área da enfermagem, existem poucos estudos relacionados à sexualidade. 
Há evidências de que seus profissionais têm dificuldades em lidar com esse 
aspecto. 
Um estudo de enfermagem sobre a sexualidade do portador do transtorno 
mental mostrou o enfermeiro: negando-a, circunscrevendo-a na relação de desvios, 
transgressões e doenças, e agindo de acordo com as expectativas institucionais e sociais. 
Recomenda-se aos elementos da equipe de enfermagem que, ao lidarem com 
aspectos ligados à sexualidade: 
– reflitam sobre o modo como a abordam; 
– analisem como a encaram: de forma positiva ou negativa; 
– revejam os conhecimentos sobre o corpo humano; 
– analisem se há preconceitos relacionados ao tema. 
Alguns tópicos devem ser usados no preparo dos elementos da equipe de 
enfermagem: 
– semelhanças e diferenças entre os gêneros; 
– conhecimentos sobre os genitais, formas de prazer sexual, tipos de relações sexuais, 
masturbação, jogos sexuais, namoro, gestação, parto e amamentação. 
 
O entendimento e dimensionamento de todos os aspectos relacionados ao corpo 
humano, como estrutura, funcionamento e reprodução, ajudam os profissionais da 
saúde a perceberem a sexualidade de modo amplo, colocando-a na proporção que 
merece na vida do ser humano. 
 
Assistência espiritual 
Em uma unidade de saúde mental o paciente pode requerer assistência 
espiritual. 
Nem sempre os profissionais da saúde mental estãopreparados para atender. 
Nesses casos, recomenda-se usar os recursos disponíveis no serviço ou comunidade. 
Acredita-se que a assistência espiritual possa ser dada por qualquer profissional 
de saúde, quando entendida como “compreensão e conforto em relação ao sofrimento 
que a pessoa está vivendo, não como evangelização”. 
Algumas considerações são importantes em relação à espiritualidade e sua assistência: 
– buscar a espiritualidade é uma necessidade humana básica; 
– as diferenças entre as pessoas na busca da espiritualidade são enormes; 
– a pessoa que está com problemas sérios de saúde geralmente tem sentimentos de medo 
e insegurança; 
– a dor, a perda e a enfermidade fazem parte do processo da vida e podem ser ajudadas 
por atitudes positivas por outro ser humano. 
396 
 
As habilidades necessárias para prestar assistência espiritual ao paciente são: 
saber ouvir atentamente para depois falar, envolver-se emocionalmente, aprender com 
a pessoa e saber proporcionar esperança. 
 
Modelo de anamnese e exame psíquico para avaliação e planejamento em 
psicoterapia breve. 
Anamnese 
O termo vem do grego ana (remontar) e mnesis (memória). Para nós, a anamnese é a 
evocação voluntária do passado feita pelo paciente, sob a orientação do médico ou do 
terapeuta. 
 O objetivo dessa técnica é o de organizar e sistematizar os dados do paciente, de 
forma tal que seja permitida a orientação de determinada ação terapêutica com a 
respectiva avaliação de sua eficácia; o fornecimento de subsídios para previsão do 
prognóstico; o auxílio no melhor atendimento ao paciente, pelo confronto de registros 
em situações futuras. 
 Não podemos deixar de lado o fato de que essa técnica advém de uma relação 
interpessoal, na qual ao terapeuta cabe, na medida do possível, não cortar o fluxo da 
comunicação com seu paciente, assim como, paralelamente, não deixar de ter sob sua 
mira aquilo que deseja saber. 
 O roteiro para sua execução pode sofrer algumas poucas variações, em 
função daquilo a que se propõe, porém a estrutura básica que aqui será colocada é 
aquela da anamnese médica clássica. Nele constam: a identificação do paciente; o 
motivo da consulta ou queixa que o traz ao médico ou terapeuta; a história da doença 
atual; a história pessoal; a história familiar (estas duas poderão vir sob o mesmo título – 
“História Pessoal e Familiar”); a história patológica pregressa; um exame psíquico; 
uma súmula psicopatológica; uma hipótese de diagnóstico nosológico. 
 
 Alguns cuidados terão que ser tomados ao se fazer uma anamnese: 
- As informações fornecidas pelo paciente devem constar como de sua 
responsabilidade. Daí, na redação, serem usados verbos como relatar, declarar, 
informar, tendo o paciente como sujeito deles. 
Ex: Paciente informa ter medo de sair à rua sozinho... Outras expressões como: 
“conforme relato do paciente...”, “de acordo com declarações do paciente...” são 
usadas, sempre com o intuito de aclarar que o que estiver sendo registrado é baseado 
no que é informado pelo entrevistado. 
- Sempre que forem usadas expressões do entrevistado, estas virão entre aspas. 
- Depois de identificado o paciente, no item I da anamnese, aparecerão apenas as suas 
primeiras iniciais ao longo do registro. 
Na medida do possível, ao longo deste trabalho, tentaremos apontar outros cuidados. 
 Cabe lembrar que não é objetivo deste trabalho um curso de psicopatologia, mas 
sim, a tentativa de uniformizar as informações colhidas nas entrevistas iniciais com os 
397 
 
pacientes, para que delas se tire maior proveito no auxílio terapêutico a tais pacientes. 
 A próxima etapa será o desenvolvimento da anamnese propriamente dita. 
I. Identificação 
Os dados são colocados na mesma linha, em seqüência (tipo procuração).Dela constam 
os seguintes itens: 
 
- Somente as iniciais do nome completo do paciente, uma vez que, por extenso, 
constará o mesmo do seu prontuário ou ficha de triagem (ex: R.L.L.P.); 
- Idade em anos redondos (ex. “35 anos”); 
- Sexo; 
- Cor: branca, negra, parda, amarela; 
- Nacionalidade; 
- Grau de instrução: analfabeto, alfabetizado, primeiro, segundo ou terceiro grau 
completo ou incompleto; 
- Profissão; 
- Estado civil – não necessariamente a situação legal, mas se o paciente se considera ou 
não casado, por exemplo, numa situação de coabitação; 
- Religião; 
- Número do prontuário. 
II. Queixa principal (QP) 
Neste item, explicita-se o motivo pelo qual o paciente recorre ao Serviço em busca de 
atendimento. Caso o paciente traga várias queixas, registra-se aquela que mais o 
incomoda e, preferencialmente, em não mais de duas linhas. 
 Deve-se colocá-la entre aspas e nas palavras do paciente. 
Ex: “Tô sem saber o que faço da minha vida. Acho que é culpa do governo”. 
III. História da doença atual (HDA) 
Aqui se trata apenas da doença psíquica do paciente. Registram-se o sintomas mais 
significativos, a época em que começou o distúrbio; como vem se apresentando, sob 
que condições melhora ou piora. 
 Indaga-se se houve instalação súbita ou progressiva, se algum fato desencadeou a 
doença ou episódios semelhantes que pudessem ser correlacionados aos sintomas 
atuais. 
 Alguma coisa fazia prever o surgimento da doença? 
 Houve alguma alteração nos interesses, hábitos, comportamento ou 
personalidade? 
 Quais as providências tomadas? 
 Averigua-se se já esteve em tratamento, como foi realizado e quais os resultados 
obtidos, se houve internações e suas causas, bem como o que sente atualmente. Pede-se 
ao paciente que explique, o mais claro e detalhado possível, o que sente. 
 É importante lembrar que ao se fazer o relato escrito deve haver uma cronologia 
dos eventos mórbidos (do mais antigo para o mais recente). 
398 
 
 Aqui também são anotados, se houver, os medicamentos tomados pelo paciente 
(suas doses, duração e uso). Caso não tome remédios, registra-se: “Não faz uso de 
medicamentos”. 
 Neste item busca-se, com relação à doença psíquica, “como” ela se manifesta, com 
que freqüência e intensidade e quais os tratamentos tentados. 
Iv. História pessoal (HP) 
Coloca-se, de forma sucinta, separando-se cada tópico em parágrafos, dados sobre a 
infância, educação, escolaridade, relacionamento com os pais, relacionamento social, 
aprendizado sobre sexo..., enfim, tudo o que se refere à vida pessoal do paciente. Não 
se titulam esses tópicos, apenas relata-se a que se refere cada um deles. 
 Apreciam-se as condições: 
- De nascimento e desenvolvimento: gestação (quadros infecciosos, traumatismos 
emocionais ou físicos, prematuridade ou nascimento a termo), parto (normal, uso de 
fórceps, cesariana), condições ao nascer. Se o paciente foi uma criança precoce ou lenta, 
dentição, deambulação (ato de andar ou caminhar), como foi o desenvolvimento da 
linguagem e a excreta (urina e fezes). 
Ex: “Paciente declara ter nascido de gestação a termo, parto normal...”. 
- Sintomas neuróticos da infância: medos, terror noturno, sonambulismo, sonilóquio 
(falar dormindo), tartamudez (gagueira), enurese noturna, condutas impulsivas 
(agressão ou fuga), chupar o dedo ou chupeta (até que idade), ser uma criança modelo, 
crises de nervosismo, tiques, roer unhas. 
Ex: “A.F. informa ter tido muitos pesadelos e insônia, além de ser uma criança isolada 
até os 9 anos...”. 
- Escolaridade: anotar começo e evolução, rendimento escolar, especiais aptidões e 
dificuldades de aprendizagem, relações com professores e colegas, jogos mais comuns 
ou preferidos, divertimentos, formação de grupos, amizades, popularidade, interesse 
por esportes, escolha da profissão. 
Ex: “Afirma ter ido à escola a partir dos 10 anos, já que não havia escolas próximas à 
sua casa...” ou “Afirma ter freqüentado regularmente a escola, sempre com idade e 
aprendizado compatíveis...”. 
- Lembrançasignificativa: perguntar ao paciente qual sua lembrança antiga mais 
significativa que consegue recordar. O objetivo é observar a capacidade de estabelecer 
vínculos, além do auxílio à compreensão da ligação passado-presente. 
Ex: “Foi quando minha mãe estava limpando uma janela, bateu com a cabeça e caiu no 
chão. Era tanto sangue que pensei que ela estava morta. Nessa época, eu tinha 3 anos”. 
- Puberdade: época de aparição dos primeiros sinais; nas mulheres, a história 
menstrual (menarca: regularidade, duração e quantidade dos catamênios; cólicas e 
cefaléias; alterações psíquicas, como nervosismo, emotividade, irritabilidade, 
depressão; menopausa, última menstruação). 
399 
 
Ex: “Paciente relata que os primeiros sinais da puberdade ocorreram aos onze anos e 
que obteve informações sobre menstruação...”. 
- História sexual: aqui se registram as primeiras informações que o paciente obteve e de 
quem; as primeiras experiências masturbatórias; início da atividade sexual; jogos 
sexuais; atitude ante o sexo oposto; intimidades, namoros; experiências sexuais 
extraconjugais; homossexualismo; separações e recasamentos; desvios sexuais. 
Ex: “Teve sua primeira experiência sexual aos 18 anos com seu namorado, mantendo, 
desde então, relacionamentos heterossexuais satisfatórios com outros namorados...”. 
- Trabalho: registrar quando o paciente começou a trabalhar, diferentes empregos e 
funções desempenhadas (sempre em ordem cronológica), regularidade nos empregos e 
motivos que levaram o paciente a sair de algum deles, satisfação no trabalho, ambições 
e circunstâncias econômicas atuais, aposentadoria. 
Ex: “Conta que aos 20 anos obteve seu primeiro trabalho como contador numa 
empresa transportadora...”. 
 
- Hábitos: uso do álcool, fumo ou quaisquer outras drogas. Caso não faça uso, 
assinalar: “Não faz uso de álcool, fumo ou quaisquer outras drogas”. 
V. História familiar (HF) 
O item deve abrigar as relações familiares (começa-se pela filiação do paciente). 
- Pais: idade; saúde; se mortos; causa e data do falecimento; ocupação; personalidade; 
recasamentos, se houver, de cada um deles. Verificar se há caso de doença mental em 
um deles ou ambos. 
Ex: “A.F. é o quinto filho de uma prole de dez. Seu pai, J.C., falecido, em 1983, aos 70 
anos, de infarto...”. 
- Irmãos: idade; condições maritais; ocupação; personalidade. Indagar se há caso de 
doença mental. Apenas referir-se por iniciais. 
Ex: “Seus irmãos são: A.M., 34 anos, solteiro, desempregado, descrito como violento, 
não se dá com ele”. 
- Cônjuge: idade, ocupação e personalidade; compatibilidade; vida sexual; frigidez ou 
impotência; medidas anticoncepcionais. 
Ex: A.F. coabita maritalmente com G., 39 anos, do lar, descrita como carinhosa e 
“boazinha”. 
- Filhos: número; idades; saúde; personalidade. Também referir-se apenas pelas 
iniciais. 
Ex: “Tem dois filhos: J., de 8 anos, cursando a 2ª série do 1º grau, apontado como 
“carinhoso, mas cobra demais de mim e da minha mulher”. 
- Lar: neste quesito, descreve-se, em poucas palavras, a atmosfera familiar, os 
acontecimentos mais importantes durante os primeiros anos e aqueles que, no 
momento, estão mobilizando toda a família; as relações dos parentes entre si e destes 
400 
 
com o paciente. 
Ex: “Quanto ao seu lar, diz não se adaptar muito bem à filha mais velha, que é muito 
desobediente...” ou “Não gosta do ambiente familiar, pois nele há muitas pessoas 
doentes...”. 
Nunca é demais lembrar que se evite o estilo romanceado e opiniões pessoais por parte 
de quem faz a anamnese. Frases curtas e objetivas, contendo dados essenciais, 
facilitarão a apreensão do caso. A utilização das palavras do paciente será produtiva na 
medida em que se queira explicitar, de maneira objetiva e clara, alguma situação ou 
característica relevante. 
VI. História patológica pregressa (HPP) 
Nesta etapa, investigam-se os antecedentes mórbidos do paciente. Devem constar 
somente as doenças físicas. 
 Viroses comuns da infância, desmaios, convulsões e sua freqüência, doenças, 
operações, acidentes, traumatismos (sintomas, datas, duração), internações e 
tratamentos. 
VII. Exame psíquico (EP) 
Até aqui, tivemos um relato feito pelo paciente e, em alguns casos, outros dados 
colhidos por familiares ou pessoa que o acompanha à entrevista. Nosso trabalho foi o 
de registrar e organizar tais informações. 
 Neste ponto da anamnese, cessa esse relato do paciente e passa-se a ter o registro 
da observação do entrevistador ou terapeuta, no momento da(s) entrevista(s). 
 No exame psíquico, as anotações deverão ser feitas de forma que alguém de fora 
da área “Psi” possa compreendê-las. 
 A sua organização deve obedecer a determinados quesitos que, obrigatoriamente, 
serão respondidos pelo entrevistador. 
 Nunca é demais lembrar que tudo o que não é observado no momento da 
entrevista ficará na HDA ou HPP. Exemplo: se o paciente diz ter insônia, isso constará 
da HDA. 
 Os tópicos seguintes apontam para os diferentes aspectos da vida psíquica do 
indivíduo e devem ser investigados. A coleta desses dados, bem como a de todos os 
outros, poderá ser feita na ordem em que melhor parecer ao entrevistador. Porém, no 
texto final, será mantida uma ordem preestabelecida, com a finalidade de facilitar o 
acesso ao material. 
 Para melhor organização, usa-se a forma de parágrafo para cada um dos assuntos, 
sem porém titulá-los. 
 No exame psíquico, não se usam termos técnicos; o que se espera que seja 
registrado aqui são aspectos objetivos que justifiquem os termos técnicos que serão 
empregados posteriormente na súmula. 
Ex: “Paciente apresenta-se inquieto, demonstrando desassossego, mas podendo ainda 
controlar sua agitação.” Isso corresponde ao que se chama de “hipercinesia 
moderada”. Esse termo não será aqui utilizado. Ele aparecerá somente na súmula 
401 
 
quando se estiver apontando o termo técnico indicativo da psicomotricidade do 
paciente. 
Em seguida, apontamos os diversos aspectos que integram o exame psíquico. 
1. Apresentação 
Refere-se à impressão geral que o paciente causa no entrevistador. Compreende: 
a. Aparência: tipo constitucional, condições de higiene pessoal, adequação do 
vestuário, cuidados pessoais. Não confundir com a classe social a que pertence o 
indivíduo. 
Ex: “Paciente é alto, atlético e apresenta-se para a entrevista em boas condições de 
higiene pessoal, com vestes adequadas, porém sempre com a camisa bem aberta...”. 
b. Atividade psicomotora e comportamento: mímica – atitudes e movimentos 
expressivos da fisionomia (triste, alegre, ansioso, temeroso, desconfiado, esquivo, 
dramático, medroso, etc.); gesticulação (ausência ou exagero); motilidade – toda a 
capacidade motora (inquieto, imóvel, incapacidade de manter-se em um determinado 
local); deambulação – modo de caminhar (tenso, elástico, largado, amaneirado, 
encurvado, etc.). 
Ex: “Sua mímica é ansiosa, torce as mãos ao falar, levando-as à boca para roer as 
unhas...” ou “Seu gestual é discreto...”. 
c. Atitude para com o entrevistador: cooperativo, submisso, arrogante, desconfiado, 
apático, superior, irritado, indiferente, hostil, bem-humorado, etc. 
Ex: “Mostra-se cooperativo, mas irrita-se ao falar de sua medicação...”. 
d. Atividade verbal: normalmente responsivo às deixas do entrevistador, não-
espontâneo (tipo pergunta e resposta), fala muito, exaltado ou pouco e taciturno. 
Ex: “É normalmente responsivo às deixas do entrevistador, mas torna-se hostil quando 
algo é anotado em sua ficha...”. 
2. Consciência 
Não se trata de consciência como capacidade de ajuizar valores morais, mas, 
sim, num sentido amplo, uma referência a toda atividade psíquica, ou seja, é a 
capacidade do indivíduo de dar conta do que está ocorrendo dentro e fora de si 
mesmo. 
 Exemplo de como descrever paciente lúcido nas entrevistas: “Paciente apresenta-
se despertodurante as entrevistas, sendo capaz de trocar informações com o meio 
ambiente...”. 
3. Orientação 
Pode-se definir orientação como um complexo de funções psíquicas, pelo qual 
tomamos consciência da situação real em que nos encontramos a cada momento de 
nossa vida. 
 
402 
 
 A orientação divide-se em: 
a. Autopsíquica: paciente reconhece dados de identificação pessoal e sabe quem é; 
b. Alopsíquica: paciente reconhece os dados fora do eu; no ambiente: 
- Temporal: dia, mês, ano em que está; em que parte do dia se localiza (manhã, tarde, 
noite); 
- Espacial: a espécie de lugar em que se encontra, para que serve; a cidade onde está; 
como chegou ao consultório; 
- Somatopsíquica: alterações do esquema corporal, como, por exemplo, os membros 
fantasmas dos amputados, negação de uma paralisia, a incapacidade de localizar o 
próprio nariz ou olhos... 
Ex: “Sabe fornecer dados de identificação pessoal, informar onde se encontra, dia, mês 
e ano em que está...”. 
4. Atenção 
A atenção é um processo psíquico que concentra a atividade mental sobre determinado 
ponto, traduzindo um esforço mental. É resultado de uma atividade deliberada e 
consciente do indivíduo – foco da consciência – a fim de inserir profundamente nossa 
atividade no real. 
 Investiga-se assim: 
- atenção normal: ou euprossexia; normovigilância; 
- hipervigilância: ocorre num exagero, na facilidade com que a atenção é atraída pelos 
acontecimentos externos; 
- hipovigilância: é um enfraquecimento significativo da atenção, onde é difícil obter a 
atenção do paciente; 
- hipertenacidade: a atenção se adere em demasia a algum estímulo ou tópico; 
concentração num estímulo; 
- hipotenacidade: a atenção se afasta com demasiada rapidez do estímulo ou tópico. 
 
Ex: “Concentra-se intensamente no entrevistador e no que lhe é dito, abstendo-se 
completamente do que se passa à sua volta...”. 
5. Memória 
“É o elo temporal da vida psíquica (passado, presente, futuro). A memória permite a 
integração de cada momento. Há cinco dimensões principais do seu funcionamento: 
percepção (maneira como o sujeito percebe os fatos e atitudes em seu cotidiano e os 
reconhece psiquicamente), fixação (capacidade de gravar imagens na memória), 
conservação (refere-se tudo que o sujeito guarda para o resto da vida; a memória 
aparece como um todo e é um processo tipicamente afetivo), evocação (atualização dos 
dados fixados – nem tudo pode ser evocado). Ex: “A.F. é capaz de fornecer dados com 
cronologia correta; consegue lembrar de informações recentes, como a próxima 
consulta com seu psiquiatra...”. 
6. Inteligência 
403 
 
O que se faz nessa avaliação da inteligência não é o que chamamos “uma 
avaliação fina”, realizada por meio de testes. É mais para se constatar se o paciente está 
dentro do chamado padrão de normalidade. Interessa a autonomia que o paciente 
tenha, a sua capacidade laborativa. 
 Uma alteração de consciência pode indicar um quadro organocerebral agudo. 
Uma alteração de inteligência e memória pode indicar uma síndrome organocerebral 
crônica. 
7. Sensopercepção 
É o atributo psíquico, no qual o indivíduo reflete subjetivamente a realidade objetiva. 
Fundamenta-se na capacidade de perceber e sentir. 
 Neste ponto, investigam-se os transtornos do eu sensorialmente projetados, 
simultâneos à percepção verdadeira, ou seja, experiências ilusórias ou alucinatórias 
que são acompanhadas de profundas alterações do pensamento. 
Algumas perguntas são sugeridas: “Acontece de você olhar para uma pessoa e 
achar que é outra?”; “Já teve a impressão de ver pessoas onde apenas existam sombras 
ou uma disposição especial de objetos?; “Você se engana quanto ao tamanho dos 
objetos ou pessoas?”; “Sente zumbidos nos ouvidos?”; “Ouve vozes?”; “O que 
dizem?”; “Dirigem-se diretamente a você ou se referem a você como ele ou ela?”; 
“Falam mal de você?”; “Xingam?”; “De quê?”; “Tem tido visões?”; “Como são?”; “Vê 
pequenos animais correndo na parede ou fios”; “Sente pequenos animais correndo 
pelo corpo?”; “Tem sentido cheiros estranhos?”. 
Ex: Relata sentir um vazio na cabeça, mas que “é bom, pois não ligo pros problemas da 
vida” e “ouvir uma voz que lhe diz ser um deus...”. 
 Caso o paciente não apresente nenhuma situação digna de nota neste item, pode-se 
registrar: “Não apresenta experiências ilusórias ou alucinatórias”. 
8. Pensamento 
Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser humano é capaz de manifestar suas 
possibilidades de adaptar-se ao meio. É por ele que se elaboram conceitos, articulam-se 
juízos, constrói-se, compara-se, solucionam-se problemas, elaboram-se conhecimentos 
adquiridos, idéias, transforma-se e cria-se. 
 Este item da anamnese é destinado à investigação do curso, forma e conteúdo do 
pensamento. 
Ex: “A.F. muda de assunto a todo instante e subitamente. Reconhece que já ficou “bem 
ruim, mas nunca fiz sadomasoquismo, porque isso é coisa de judeu de olhos azuis. 
Mas, graças a Deus, nunca pisei numa maçonaria. Não influencio ninguém, mas sou 
influenciado. Sou o deus A., defensor dos fracos e oprimidos...”. 
9. Linguagem 
A comunicação é o meio que permite ao indivíduo transmitir e compreender 
mensagens. A linguagem é a forma mais importante de expressão da comunicação. A 
linguagem verbal é a forma mais comum de comunicação entre as pessoas. 
404 
 
Ex: “Expressa-se por meio de mensagens claras e bem articuladas em linguagem 
correta...”. 
10. Consciência do Eu 
Este item refere-se ao fato de o indivíduo ter a consciência dos próprios atos psíquicos, 
a percepção do seu eu, como o sujeito apreende a sua personalidade. 
 As características formais do eu são: 
- sentimento de unidade: eu sou uno no momento; 
- sentimento de atividade: consciência da própria ação; 
- consciência da identidade: sempre sou o mesmo ao longo do tempo; 
- cisão sujeito-objeto: consciência do eu em oposição ao exterior e aos outros. 
11. Afetividade 
A afetividade revela a sensibilidade intensa da pessoa frente à satisfação ou frustração 
das suas necessidades. 
Ex: É sensível frente à frustração ou satisfação, apresentando ligações afetivas fortes 
com a família e amigos...”. 
12. Humor 
O humor é mais superficial e variável do que a afetividade. É o que se pode 
observar com mais facilidade numa entrevista; é uma emoção difusa e prolongada que 
matiza a percepção que a pessoa tem do mundo. É como o paciente diz sentir-se: 
deprimido, angustiado, irritável, ansioso, apavorado, zangado, expansivo, eufórico, 
culpado, atônito, fútil, autodepreciativo. 
 Os tipos de humor dividem-se em: 
- normotímico: normal; 
- hipertímico: exaltado; 
- hipotímico: baixa de humor; 
- distímico: quebra súbita da tonalidade do humor durante a entrevista; 
No exame psíquico, descreve-se o humor do paciente sem, no entanto, colocá-lo sob 
um título técnico. Ex: “O paciente apresenta uma quebra súbita de humor, passando de 
um estado de exaltação a um de inibição...”. 
13. Psicomotricidade 
Todo movimento humano objetiva satisfação de uma necessidade consciente ou 
inconsciente. 
 A psicomotricidade é observada no decorrer da entrevista e se evidencia 
geralmente de forma espontânea. Averigua-se se está normal, diminuída, inibida, 
agitada ou exaltada, se o paciente apresenta maneirismos, estereotipias posturais, 
automatismos, flexibilidade cérea, ecopraxia ou qualquer outra alteração. 
Ex: “Apresenta tique, estalando os dedos da mão direita...”. 
 
405 
 
14. Vontade 
Está relacionada aos atos voluntários. É uma disposição (energia) interior que tem por 
princípio alcançar um objetivo consciente e determinado. 
Ex: “Apresenta oscilações entre momentos de grande disposição interna para conseguir 
algo e momentos em que permanece sem qualquer tipo de ação...”. 
15. Pragmatismo 
Aqui, analisa-se se o paciente exerce atividades práticas como comer, cuidar de sua 
aparência,dormir, ter autopreservação, trabalhar, conseguir realizar o que se propõe e 
adequar-se à vida. 
Ex: “Exerce suas tarefas diárias e consegue realizar aquilo a que se propõe...”. 
16. Consciência da doença atual 
Verifica-se o grau de consciência e compreensão que o paciente tem de estar enfermo, 
assim como a sua percepção de que precisa ou não de um tratamento. 
 
VIII. Súmula psicopatológica 
Uma vez realizado e redigido o exame psíquico, deverão constar na súmula os termos 
técnicos que expressam a normalidade ou as patologias observadas no paciente. Trata-
se de um resumo técnico de tudo o que foi observado na entrevista. 
 Aconselha-se seguir-se uma determinada ordem, assim como na redação do 
exame psíquico. A disposição da súmula deverá constar de um único parágrafo, com 
cada item avaliado limitado por ponto. 
 Costuma-se não usar a palavra “normal” para qualificar qualquer um dos itens, 
evitando-se, assim, possíveis distorções com relação ao conceito de normalidade. 
 Com o objetivo de melhor esclarecer, apresentamos um exemplo de súmula de um 
paciente que apresentava uma hipótese diagnóstica de “quadro maníaco com sintomas 
psicóticos”. 
 “Lúcido. Vestido adequadamente e com boas condições de higiene pessoal. 
Orientado auto e alopsiquicamente. Cooperativo. Normovigil. Hipertenaz. Memórias 
retrógrada e anterógrada prejudicadas. Inteligência mantida. Sensopercepção alterada 
com alucinação auditivo-verbal. Pensamento sem alteração de forma, porém 
apresentando alteração de curso (fuga de idéias e descarrilamento) por ocasião da 
agudização do quadro e alteração de conteúdo (idéias deliróides de perseguição, 
grandeza e onipotência). Linguagem apresentando alguns neologismos. Consciência 
do eu alterada na fase aguda do quadro. Nexos afetivos mantidos. Hipertimia (excesso 
de sentimentos). Psicomotricidade alterada, apresentando tiques. Hiperbúlico(ingestão 
exagerada). Pragmatismo parcialmente comprometido. Com consciência da doença 
atual”. 
 Com a súmula, é possível a outro profissional da área, em poucos minutos, 
inteirar-se da situação do paciente. 
 
406 
 
Atenção Psicossocial 
Centro de Atenção Psicossocial – CAPS 
 CAPS são serviços da Rede de Atenção Psicossocial - RAPS abertos destinados 
a prestar atenção diária a pessoas com transtornos mentais. 
 Os CAPS oferecem atendimento à população, realizam o acompanhamento 
clínico e a reinserção social dos usuários pelo: 
 acesso ao trabalho, 
 lazer, 
 exercício dos direitos civis 
 fortalecimento dos laços familiares e comunitários. 
 Os CAPS também atendem aos usuários em seus momentos de crise. 
 Dispõe de equipe multiprofissional. 
 Existe uma rede nacional de CAPS 
 
Portaria MS nº 336-02 
 Estabelecer que os Centros de Atenção Psicossocial poderão constituir-se nas 
seguintes modalidades de serviços: 
 CAPS I, 
 CAPS II 
 CAPS III 
 Definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência 
populacional, conforme disposto nesta Portaria 
CAPS I 
 CAPS I – Serviço de atenção psicossocial com capacidade operacional para 
atendimento em municípios com população entre 20.000 e 70.000 habitantes 
 funcionar no período de 08 às 18 horas, em 02 (dois) turnos, durante os cinco 
dias úteis da semana 
 
ATIVIDADES DO CAPS I 
 atendimento individual 
 atendimento em grupos 
407 
 
 atendimento em oficinas terapêuticas 
 visitas domiciliares 
 atendimento à família 
 atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na comunidade 
 os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma refeição diária, os 
assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas refeições diárias. 
 
RECURSOS HUMANOS CAPS I 
 PODE ATENDER 20 PACIENTES POR TURNO TENDO COMO LIMITE 
MAXIMO 30 PACIENTES POR DIA. 
 01 (um) médico com formação em saúde mental; 
 01 (um) enfermeiro; 
 03 (três) profissionais de nível superior entre as seguintes categorias 
profissionais: 
 psicólogo, 
 assistente social, 
 terapeuta ocupacional 
 04 (quatro) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem 
 
CAPS II 
 CAPS II – Serviço de atenção psicossocial com capacidade operacional para 
atendimento em municípios com população entre 70.000 e 200.000 habitantes 
 funcionar de 8:00 às 18:00 horas, em 02 (dois) turnos, durante os cinco dias úteis 
da semana, podendo comportar um terceiro turno funcionando até às 21:00 
horas. 
 
ATIVIDADES DO CAPS II 
AS ATIVIDADES DO CAPS 2 SÃO AS MESMAS DO CAPS I 
 
RECURSOS HUMANOS CAPS II 
 PODE ATENDER 30 PACIENTES POR TURNO TENDO COMO LIMITE 
MAXIMO 45 PACIENTES POR DIA. 
408 
 
 01 (um) médico com formação em saúde mental; 
 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental 
 04 (três) profissionais de nível superior entre as seguintes categorias 
profissionais: 
 psicólogo, 
 assistente social, 
 terapeuta ocupacional 
 06 (quatro) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem 
CAPS III 
 Serviço de atenção psicossocial com capacidade operacional para atendimento 
em municípios com população acima de 200.000 habitantes 
 Constituir-se em serviço ambulatorial de atenção contínua, durante 24 horas 
diariamente, incluindo feriados e finais de semana; 
ATIVIDADES DO CAPS III 
AS ATIVIDADES DO CAPS III SÃO AS MESMAS DO CAPS I E II 
COM EXCEÇÃO PARA O acolhimento noturno, nos feriados e finais de semana, com 
no máximo 05 (cinco) leitos, 
RECURSOS HUMANOS CAPS III 
 PODE ATENDER 40 PACIENTES POR TURNO TENDO COMO LIMITE 
MAXIMO 60 PACIENTES POR DIA. 
 02 (um) médico com formação em saúde mental; 
 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental 
 05 (três) profissionais de nível superior entre as seguintes categorias 
profissionais: 
 psicólogo, 
 assistente social, 
 terapeuta ocupacional 
 08 (quatro) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem 
 
 
 
409 
 
CAPS i 
 CAPS i II – Serviço de atenção psicossocial para atendimentos a crianças e 
adolescentes, constituindo-se na referência para uma população de cerca de 
200.000 habitantes 
 constituir-se em serviço ambulatorial de atenção diária destinado a crianças e 
adolescentes com transtornos mentais; 
 funcionar de 8:00 às 18:00 horas, em 02 (dois) turnos, durante os cinco dias úteis 
da semana, podendo comportar um terceiro turno que funcione até às 21:00 
horas. 
ATIVIDADES DO CAPS i 
 atendimento individual 
 atendimento em grupos 
 atendimento em oficinas terapêuticas 
 visitas e atendimentos domiciliares 
 atendimento à família 
 atividades comunitárias enfocando a integração da criança e do adolescente na 
família 
 desenvolvimento de ações inter-setoriais, principalmente com as áreas 
de assistência social, 
RECURSOS HUMANOS CAPS i 
 atendimento de 15 (quinze) crianças e/ou adolescentes por turno, tendo como 
limite máximo 25 (vinte e cinco) pacientes/dia 
 01 (um) médico psiquiatra, ou neurologista ou pediatra com formação em 
saúde mental; 
 01 (um) enfermeiro. 
 04 (quatro) profissionais de nível superior 
 05 (cinco) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem 
CAPS ad 
 Serviço de atenção psicossocial para atendimento de pacientes com transtornos 
decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas 
 Com capacidade operacional para atendimento em municípios com população 
superior a 70.000 
410 
 
 funcionar de 8:00 às 18:00 horas, em 02 (dois) turnos, durante os cinco dias úteis 
da semana, podendo comportar um terceiro turno funcionando até às 21:00 
horas. 
 manter de 02 (dois) a 04 (quatro) leitos para desintoxicação e repouso. 
ATIVIDADES DO CAPS ad 
AS ATIVIDADES DO CAPS ad SÃO AS MESMAS DO CAPS I ,II, II 
 COM EXCEÇÃO PARA FOCO PARA ATENDIMENTO PARA OS 
USUARIOS DE DROGAS 
RECURSOS HUMANOS CAPS ad 
 atendimento de 25 (vinte e cinco) pacientes porturno, tendo como limite 
máximo 45 (quarenta e cinco) pacientes/dia 
 01 (um) médico psiquiatra; 
 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental; 
 01 (um) médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e acompanhamento 
das intercorrências clínicas 
 04 (quatro) profissionais de nível superior 
 06 (seis) profissionais de nível médio 
 
Transtornos do pensamento (esquizofrenia) 
 
O conceito 
 
A esquizofrenia é um transtorno mental que se inicia, geralmente, no fim da 
adolescência ou início da idade adulta. 
É caracterizada pela presença de sintomas psicóticos: delírios, alucinações, 
desorganização do pensamento, além de discurso e comportamento inapropriados. 
Apresenta curso e padrão que variam consideravelmente. 
A sua prevalência na população geral é de aproximadamente 1%. O período 
prodrômico da esquizofrenia, também conhecido como “da doença não-tratada”, 
aparece antes do transtorno propriamente dito, caracterizado por deficiência nas 
funções pessoais e sociais, de difícil percepção pela família e duração média de 2 a 5 
anos. 
O começo da esquizofrenia aguda, que sucede o período prodrômico, 
costuma conter os sintomas positivos que são agrupados em positivos, negativos e 
desorganizados: 
Positivos: de influência persecutória. 
Negativos: estreitamento e redução das expressões emocionais, diminuições na 
produtividade do pensamento e da fala, retraimento social e diminuição dos 
411 
 
comportamentos direcionados a metas, tais como monotonia afetiva, alogia (falta de 
logica), anedonia (perda da capacidade de sentir prazer) e avolição (falta de 
vontade). 
Desorganizados: desorganização do pensamento e do comportamento, tais como 
agitação, aparência bizarra, catatonia. 
A esquizofrenia representa grande carga para a pessoa, reduzindo 
consideravelmente sua qualidade de vida devido aos prejuízos nas funções 
ocupacionais, sociais e pessoais. A família e o grupo social também costumam sofrer 
com a situação. 
Algumas situações e problemas médicos encontrados, com certa frequência, 
em portadores de esquizofrenia são: elevada taxa de mortalidade (principalmente 
suicídio), doenças cardiovasculares, respiratórias e infecciosas, acidentes, traumas e 
abuso de drogas. 
 
Os subtipos 
A esquizofrenia é categorizada por subtipos, considerando os sintomas 
predominantes: 
 
(1) Subtipo catatônico: presença de sintomas característicos, como por exemplo 
catatonia (movimentos são agitados, intensos, repetitivos e sem nenhum propósito.); 
(2) Subtipo desorganizado: presença de discurso e comportamento desorganizados, 
com afeto embotado (dificuldade de expressar sentimentos e emoções) ou 
inaproriado; 
(3) Subtipo paranóide: presença de sintomas como ilusão, alucinações auditivas e 
delírio persecutório; 
(4) Subtipo indiferenciado: há predominância de um tipo de sintoma; 
(5) Subtipo esquizofrenia simples: de curso constante, com ausência de sintomas 
positivos e predominância de sintomas negativos. 
 
Etiologia 
A esquizofrenia tem etiologia complexa. Vários estudos mostram a 
importância de fatores biológicos, psicológicos, ambientais e sociais na sua etiologia. 
Os fatores genéticos são apenas partes do risco de desenvolver esquizofrenia. 
A hipótese atualmente mais aceita para explicar a esquizofrenia é o 
“Modelo Vulnerabilidade-Estresse-Superação” que propõe que os sintomas da 
esquizofrenia dependem da presença de estressores ambientais e mecanismos falhos 
de enfrentamento. 
Outra hipótese, a do “Neurodesenvolvimento”, propõe que a esquizofrenia é 
determinada por um distúrbio do desenvolvimento cerebral durante os períodos pré 
e perinatal. A natureza da alteração cerebral e sua patogênese ainda não estão bem 
definidas. 
 
Diagnóstico 
O psiquiatra, diante de um quadro que leva à hipótese diagnóstica de 
esquizofrenia, analisa as circunstâncias clínicas e psicossociais e realiza extensa 
412 
 
investigação através de exames como: hemograma, dosagens de eletrólitos, glicose e 
lípidios sangüíneos, teste das funções hepática, renal e tireoideana, sorologias para 
HIV, hepatite e sífilis e triagem toxicológica na urina para avaliar o uso recente de 
drogas. 
Pode recorrer à tomografia computadorizada e à ressonância magnética para 
diferenciar entre a esquizofrenia e um quadro cerebral orgânico. Confirmado o 
diagnóstico, ele elabora um plano de tratamento com estratégias e metas que variam, 
de acordo com a fase e a gravidade da doença. 
 
Equipe de tratamento 
Os estudiosos desse transtorno mental recomendam que o atendimento dos 
pacientes seja realizado em equipe multidisciplinar devido a sua complexidade, pois 
uma abordagem dessa natureza possibilita: 
– reduzir a freqüência, duração e gravidade dos episódios; 
– diminuir a taxa de morbidade e mortalidade; 
– melhorar os aspectos psicossociais, independência e qualidade de vida do 
portador. 
Os profissionais envolvidos no tratamento devem conhecer bem os fatores 
que exercem influência na recuperação dos pacientes, enquanto os portadores, 
quando possível, devem entender os objetivos e recursos do tratamento. 
A cooperação entre profissionais de saúde, organizações, familiares, 
associações de familiares e de grupos de auto-ajuda são importantes nas estratégias 
de tratar esse grave problema de saúde. As associações que têm dado suporte aos 
portadores de esquizofrenia e seus familiares objetivam extinguir o estigma e o 
preconceito dos quais os mesmos são vítimas, com programas específicos. 
A facilidade de acesso dos portadores no sistema de saúde é indispensável. 
Os fatores preditivos de uma melhor evolução do transtorno são: início tardio, 
gênero feminino, estado civil casado, personalidade pré-mórbida sociável, bom 
ajuste e funcionamento pré-mórbido, quociente intelectual (QI) mais elevado, 
presença de fator desencadeante, início agudo, predominância de sintomas afetivos 
ou positivos, ausência de desorganização ou sintomas negativos na fase inicial, 
menor número de episódios prévios, ausência de história familiar de esquizofrenia 
e baixo nível de emoções expressas na família. 
 
Forma didática de explicar a esquizofrenia 
 
Presença de distúrbios no pensamento e dificuldade de comunicação 
A pessoa tem dificuldade de organizar o pensamento. Não consegue conectar 
as frases e, às vezes, até as palavras de modo lógico. Sua fala pode ser 
incompreensível. Nem sempre mantém a atenção focada no assunto. Por essas 
dificuldades, ela não consegue manter diálogos adequados. 
 
Presença de alucinações 
A pessoa pode apresentar vários tipos de alucinações. As mais comuns são as 
auditivas, em que ela ouve vozes que outros não escutam, comentando seu 
413 
 
comportamento e dialogando entre elas. Na presença de alucinações visuais, vê 
objetos que não existem. Na olfativa, sente cheiros que não estão no ambiente. Na 
gustativa, experimenta gostos estranhos. Na táctil, sente contatos no corpo. Esses 
fenômenos são vivenciados como estranhos e, às vezes, são assustadores. 
 
Presença de delírios 
A pessoa pode apresentar delírios. Os mais comuns são os de perseguição e 
grandeza. Na presença de um delírio de perseguição, julga, por exemplo, sem 
evidências contrárias, que seus vizinhos querem lhe fazer mal ou que o aparelho de 
televisão exerce controle sobre seu comportamento. 
Na presença do delírio de grandeza, pode ter uma noção grandiosa sobre si 
ou julgar que está no mundo para realizar uma grande missão. 
 
Forma de expressar as emoções 
A pessoa manifesta as emoções de forma incomum, conhecida como “afeto 
embotado ou inadequado”. O afeto é considerado inadequado quando a pessoa 
sente uma emoção, mas mostra outra, como exemplo, contar que a mãe morreu e ri 
da situação. O afeto é considerado embotado quando a pessoa passa a impressão de 
que não tem sentimentos, pois não consegue expressar as emoções. Nesse caso, fala 
em tom monótono e não apresenta expressão

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