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FAHESP - Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí. IESVAP - Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba LTDA. Curso: Medicina - Disciplina: Sistemas Orgânicos Integrados II Aluna: LUIZA MARIA FARIAS BARBOZA MOURA FÉ 3º Período – T12 Quais as manifestações clínicas das vasculites de acordo com o tamanho do calibre do vaso acometido? As vasculites, como o próprio nome as define, são inflamações vasculares, podendo ser localizadas ou sistêmicas e, em sua maioria, idiopáticas. Vasos de qualquer tipo virtualmente em qualquer órgão podem ser afetados; a maioria das vasculites envolve pequenos vasos, de arteríolas a capilares a vênulas. Várias das vasculites tendem a afetar apenas vasos de um tamanho em particular ou de leitos vasculares em particular. Há entidades vasculíticas que afetam primariamente a aorta e artérias de calibre médio, enquanto outras afetam principalmente apenas arteríolas menores (GONÇALVES, 2019). O quadro clínico das várias vasculites é diverso e depende muito do leito vascular afetado. Além dos achados referíveis ao(s) tecido(s) específico(s) envolvido(s), as manifestações clínicas tipicamente incluem sinais e sintomas constitucionais, como febre, mialgias, artralgias e mal-estar (ROBBINS, 2010). São reconhecidas umas 20 formas primárias de vasculites, e os esquemas de classificação tentam agrupá-las de acordo com o calibre do vaso, o papel de imunocomplexos, a presença de autoanticorpos específicos, a formação de granuloma, a especificidade dos órgãos e até a demografia da população. A tabela 1 a seguir mostra a classificação mais usual, definida no Consenso de Chapel Hill de 2012, que classificou as vasculites de acordo com o calibre do vaso acometido em grande, médio, pequeno e microvasos (ROBBINS, 2010). Tabela 1. Classificação de Chapel Hill (ROBBINS, 2010). Nesse sentido, classificam-se: VASCULITES COM PREDOMÍNIO EM GRANDES VASOS ARTERITE DE TAKAYASU: Conhecida como síndrome do arco aórtico ou “doença sem pulso”, essa vasculite que acomete grandes vasos, rara, de etiologia desconhecida, tem predomínio no sexo feminino em idade reprodutiva. Trata-se de uma poliarterite granulomatosa, que agride preferencialmente a aorta e seus maiores ramos (carótida, subclávia, renal), além da artéria pulmonar (ROBBINS, 2010). ARTERITE TEMPORAL OU DE CÉLULAS GIGANTES: É uma vasculite de grandes vasos, sendo a mais comum em adultos na faixa etária acima de 50 anos. Acomete os ramos extracranianos da artéria carótida, com temida complicação visual (amaurose irreversível), podendo ser prevenido através do diagnóstico e tratamento precoce. O American College of Rheumatology define cinco critérios clínicos para o diagnóstico da arterite de células gigantes: 1) desenvolvimento de sintomas ou achados iniciais aos 50 anos de idade ou mais; 2) presença de uma nova cefaleia; 3) anormalidade (dolorimento ou diminuição do pulso) da artéria temporal; 4) velocidade de hemossedimentação (VHS) acima de 50 mm/h, e 5) biópsia da artéria temporal positiva (predominância de infiltrado celular mononuclear ou inflamação granulomatosa, geralmente com células multinucleadas) (GONÇALVES, 2019). VASCULITES COM PREDOMÍNIO EM MÉDIOS VASOS: DOENÇA DE KAWASAKI: A doença de Kawasaki é uma das vasculites primárias mais comuns na infância e a principal causa de cardiopatias adquiridas. Trata-se de uma vasculite aguda, multissistêmica, de etiologia desconhecida e autolimitada, que ganhou notoriedade durante a pandemia do novo coronavírus. A febre alta e persistente por mais de cinco dias, associada ao exantema polimórfico, conjuntivite bilateral, eritema da língua com proeminência papilar (“língua em morango”), edema de extremidades e linfonodomegalia cervical são características clínicas típicas da doença, mas que também foram encontradas em alguns pacientes diagnosticados com COVID-19 e na síndrome inflamatória multissistêmica, assim como suas principais complicações: estenoses e aneurismas de coronárias, miocardite, insuficiência cardíaca e choque (CARVALHO 2020). POLIARTRITE NODOSA CLÁSSICA: A poliarterite nodosa clássica acomete vasos de médio e pequeno calibre, sendo um diferencial das outras vasculites, por poupar arteríolas, capilares e vênulas, não causando glomerulonefrite, nem capilarite pulmonar. A sintomatologia da PAN clássica dependerá do local afetado, podendo se manifestar como doença leve até acometer quase todos os sistemas do organismo. É comum a presença de febre, perda ponderal, mialgias, poliartralgias, lesões cutâneas (úlceras, púrpuras, livedo reticular e nódulos subcutâneos), polineuropatia, vasculite renal, vasculite mesentérica e mais raramente, orquite (ROBBINS, 2010). VASCULITES COM PREDOMÍNIO EM PEQUENOS VASOS: GRANULOMATOSE COM POLIANGIITE: É uma vasculite necrotizante associada à produção de anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), classificada como de pequenos vasos, por acometê-los na maior parte das vezes, mas também vasos de médio calibre podem ser afetados. A granulomatose com poliangiíte pode surgir tanto em circulação arterial quanto em circulação venosa. Consiste me uma doença multissistêmica, podendo acometer trato respiratório superior cursando com rinite, faringite, laringite, mastoidite e trato respiratório inferior com consequente hemorragia alveolar, pleurite, cavitações, infiltrado, nódulos pulmonares e traqueobronquite (GONÇALVES, 2019). POLIANGIÍTE MICROSCÓPICA (PAM): A poliangiíte microscópica é uma doença rara, que afeta indivíduos de ambos os sexos, na sexta década de vida, no entanto com predominância do sexo masculino na proporção de 2:1. É uma vasculite sistêmica de pequenos vasos, com frequente associação a positividade do ANCA-P, que pode acometer médios vasos e microvasculatura como glomerulonefrite e capilarite pulmonar. A PAM manifesta se com sintomas constitucionais como mialgia, poliartralgia, perda ponderal, febre e anorexia; sintomas musculoesqueléticos como artrite do tipo migratória, de variados padrões articulares (poliartrite de pequenas articulações, pauciarticular com grandes articulações), não ocorrendo lesões destrutivas; acometimento cutâneo como púrpura palpável, livedo reticularis, úlceras, necrose digital e nódulos subcutâneo; manifestações nasal, oral e ocular (rinite, úlceras orais, esclerouveíte); alterações no sistema nervoso periférico, mononeurite múltipla sensorial ou motora; glomerulonefrite e capilarite pulmonar (ROBBINS, 2010). SÍNDROME DE CHURG-STRAUSS: A síndrome de Churg-Strauss (também chamada de granulomatose e angiite alérgicas) é uma vasculite necrosante de pequenos vasos classicamente associada a asma, rinite alérgica, infiltrados pulmonares, hipereosinofilia periférica e granulomas necrosantes extravasculares relativamente rara (aproximadamente um milhão de pessoas). As lesões vasculares podem ser histologicamente semelhantes à poliarterite nodosa ou à poliangiite microscópica, mas também são caracteristicamente acompanhadas por granulomas e eosinófilos (GONÇALVES, 2019). GRANULOMATOSE DE WEGENER: A granulomatose de Wegener é uma vasculite necrosante caracterizada por uma tríade de: Granulomas necrosantes agudos do trato respiratório superior (orelha, nariz, seios da face, orofaringe) ou do trato respiratório inferior (pulmão) ou ambos; Vasculite necrosante ou granulomatosa afetando vasos pequenos a médios (p. ex., capilares, vênulas, arteríolas e artérias), mais proeminente nos pulmões e vias aéreas superiores, mas afetando outros locais também; Doença renal sob a forma de glomerulonefrite necrosante focal, muitas vezes rapidamente progressiva (crescêntica) (ROBBINS, 2010). Referências: Frumholtz L, Laurent-Roussel S, Lipsker D, Terrier B. Cutaneous Vasculitis: Review on Diagnosis and Clinicopathologic Correlations. Clin Rev Allergy Immunol. 2021. Carvalho HT,Thomazi L, Cilia R, Fioretto JR, Carpi MF. Manifestações graves da doença de Kawasaki em tempos de COVID-19: relato de caso. Resid Pediatr. 2020. Robbins & Cotran - Patologia - Bases Patológicas das Doenças, 8ª ed., Elsevier/Medicina Nacionais, Rio de Janeiro, 2010. RODRÍGUEZ-CRIOLLO, Jairo Alonso; JARAMILLO-ARROYAVE, Daniel. Fenómeno de Raynaud. Revisión. Revista de la Facultad de Medicina, v. 62, n. 3, p. 455-464, 2014. GONÇALVES, Mellina Silva. Vasculites: desafio diagnóstico e terapêutico. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 48, n. 4, p. 174-190, 2019.
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