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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA NUCLEAR BRUNO DA SILVA MOURA ANÁLISE DOS ESTUDOS E PROCEDIMENTOS DO GERENCIAMENTO DO ENVELHECIMENTO DEVIDO A CORROSÃO SOB TENSÃO (SCC) EM UNIDADE DE ARMAZENAMENTO COMPLEMENTAR A SECO DE COMBUSTÍVEIS IRRADIADOS (UAS) VISANDO À EXTENSÃO DE VIDA RIO DE JANEIRO 2021 BRUNO DA SILVA MOURA ANÁLISE DOS ESTUDOS E PROCEDIMENTOS DO GERENCIAMENTO DO ENVELHECIMENTO DEVIDO A CORROSÃO SOB TENSÃO (SCC) EM UNIDADE DE ARMAZENAMENTO COMPLEMENTAR A SECO DE COMBUSTÍVEIS IRRADIADOS (UAS) VISANDO À EXTENSÃO DE VIDA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Nuclear do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Nuclear. Orientador(es): Gladson da Silva Fontes, D.Sc. Pedro Luiz da Cruz Saldanha, D.Sc. Claudio Luiz de Oliveira, Ph.D. Rio de Janeiro 2021 ©2021 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270 Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento. É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e do(s) orienta- dor(es). da Silva Moura, Bruno. Análise dos Estudos e Procedimentos do Gerenciamento do Envelhecimento Devido a Corrosão Sob Tensão (SCC) em Unidade de Armazenamento Comple- mentar a Seco de Combustíveis Irradiados (UAS) Visando à Extensão de Vida / Bruno da Silva Moura. – Rio de Janeiro, 2021. 154 f. Orientador(es): Gladson da Silva Fontes, Pedro Luiz da Cruz Saldanha e Claudio Luiz de Oliveira. Dissertação (mestrado) – Instituto Militar de Engenharia, Engenharia Nuclear, 2021. 1. UAS. 2. Corrosão Sob Tensão. 3. Procedimentos. 4. Gerenciamento do Envelhecimento. 5. FMEA. i. da Silva Fontes, Gladson (orient.) ii. da Cruz Saldanha, Pedro Luiz (orient.) iii. de Oliveira, Claudio Luiz (orient.) iv. Título Dedicado aos meus pais Roberto e Italina, e minha esposa Rayssa por toda dedicação, incentivo, compreensão e apoio e a Jeová por me dar forças e sempre me acompanhar. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a minha família, meu pai Roberto, minha mãe Italina e meu irmão Raphael pelo apoio incondicional nesta jornada, agradeço por serem um exemplo, mesmo em dificuldades, superando todos os obstáculos como uma família, propagando o amor, compreensão, paciência e carinho dispendidos a mim, agradeço a minha querida esposa Rayssa pela compreensão, apoio incondicional, carinho e muita paciência em todos os momentos. Aos meus amigos, alunos e colegas, Luan, Rodrigo, Walinton, por empenho e dedicação em conjunto as horas compartilhadas em prol dos estudos, se portando como uma equipe, agradeço - lhes por todos os momentos de auxílio e companheirismo. Aos professores Gladson da Silva Fontes, Pedro Luiz da Cruz Saldanha e Cláudio Luiz de Oliveira, expresso minha imensa gratidão pelo acompanhamento, orientação e ao tempo desprendido em apoio ao discorrimento da pesquisa e incentivo empregados. Meus agradecimentos ao Exército Brasileiro, ao Instituto Militar de Engenharia, em especial a Seção de Ensino em Engenharia Nuclear (SE-7), pelo apoio e oportunidade para desenvolvimento da pesquisa. Agradecimento a todos os funcionários e professores pelo apoio empregado e seus esforços para manterem com vigor a área nuclear, fomentando a pesquisa. Em especial agradeço a Jeová por nos abençoar e dar forças para seguir em frente em todas as circunstância. "Consagre a Jeová tudo o que você faz, e os seus planos serão bem sucedidos." (Bíblia Sagrada, Provérbios 16, 3) RESUMO A integridade do canister empregado no armazenamento a seco de combustíveis nucleares irradiados, destaca-se por desempenhar a função de armazenar e manter a atmosfera controlada para elementos combustíveis irradiados retirados das piscinas de armazenamento de combustíveis usados. A utilização da UAS no Brasil é uma alternativa de extensão de vida para as plantas nucleares contidas na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, com proposta de descomissionamento. Considerando que aços inoxidáveis austeníticos são amplamente utilizados em UAS devido a peculiares características de resistências mecânica e à corrosão, o surgimento da corrosão sob tensão é um ponto crítico para o discorrer da vida útil da UAS. Durante 30 anos remanescentes, verificou-se que a corrosão sob tensão, outrora tem sido constatado sua ocorrência em regiões próximas a zonas fundida, intensificados à partir do calor proveniente do processo de soldagem para vedação do canister e condições ambientais adequadas podem oportunizar a sua ocorrência. As UAS foram empregadas no Brasil como alternativa do armazenamento intermediário até a destinação final dos elementos combustíveis irradiados. Devido a indefinição final e visando a operação ao longo dos 40 anos submetidos as condições ambientais, a tensão residual do processo de selagem da tampa do canister podem inviabilizar a extensão das UAS. Com vistas ao gerenciamento do envelhecimento, o estudo propõe apresentar um modelo de procedimentos com intuito de avaliar o desenvolvimento da corrosão sob tensão no canister e qualificar a vida útil das UAS através da aplicação da metodologia FMEA. A formação de procedimentos orientam a execução e avaliação de variáveis e condições do sistema de armazenamento para identificação de condições adversas que deteriorem a estrutura sistemas e componentes da instalação ou conduza a ocorrência de falha.A abordagem proposta norteia o corpo técnico e avaliadores sob os dados obtidos ao longo dos anos com a aplicação do procedimento com vistas ao gerenciamento do envelhecimento de unidades de armazenamento a seco de combustíveis irradiados, assim, auxiliando na tomada de decisão quanto às ações preventivas e corretivas necessárias, referenciadas na análise dos indicadores e tendências absorvidos com a implementação dos procedimentos. Desse modo, relatar a experiência operacional sob as circunstâncias ocorridas e incorporar à base técnica nacional. Ademais, os registros obtidos através da execução dos procedimentos auxiliam os avaliadores para a anuência do processo de renovação de licença para operação do sistema de armazenamento à seco à longo prazo. Palavras-chave: UAS. Corrosão Sob Tensão. Procedimentos. Gerenciamento do Envelhe- cimento. FMEA. ABSTRACT The integrity of the canister used in the dry storage of irradiated nuclear fuels stands out for performing the function of storing and maintaining a controlled atmosphere for irradiated fuel elements removed from spent fuel storage pools. The use of UAS in Brazil is a life-extending alternative for the nuclear units placed at the Almirante Álvaro Alberto Nuclear Power Plant, with a proposal for decommissioning. Considering that austenitic stainless steels are widely used in UAS, due to peculiar characteristics of mechanical and corrosion resistance, the stress corrosion cracking is a critical point to discuss the useful life of UAS. In the remaining 30 years, it was found that corrosion under tension, once found its occurrence in regions close to molten zones, intensified from the heat from the welding process to seal the canister and adequate environmental conditions can provide opportunities for its occurrence. The UAS were used in Brazil as an alternative for intermediate storage until the final destination of the irradiated fuel elements. Due to the final indefiniteness evising the operation over the 40 years subject to environmentalconditions, the residual tension of the sealing process of the canister cover can make the extension of the UAS unfeasible. Aiming to aging management, the study proposes a model of procedures in order to evaluate the development of stress corrosion in the canister and qualify the life cicle of the UAS through the application of the FMEA methodology. The formation of procedures guide the execution and evaluation of variables and system conditions of storage to identify adverse conditions that deteriorate the structure of the installation’s systems and components or lead to the occurrence of failure. The proposed approach guides the technical staff and evaluators on the data obtained over the years by the application of the procedure aiming at managing aging referenced in the analysis of the indicators and trends absorbed with the implementation of the procedures. Thus, reporting the operational experience under the circumstances that it occurred and incorporate the national technical base. Furthermore, the records obtained through the execution of the procedures help the evaluators in the approval of the license renewal of operation of the dry storage system in the long term. Keywords: UAS. Stress Corrosion Cracking. Procedures. Aging Management. FMEA. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Arranjo típico simplificado reator PWR. Adaptado de (1). . . . . . . . 25 Figura 2 – Representação de um elemento combustível. Adaptado de (2). . . . . . 26 Figura 3 – Piscina de armazenamento de elementos combustíveis irradiados de Angra 1 (3). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Figura 4 – Piscina de armazenamento de elementos combustíveis irradiados de Angra 2 (3). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Figura 5 – Representação esquemática da unidade de armazenamento complemen- tar a seco (UAS) da CNAAA (3). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Figura 6 – Representação do sistema de transferência de calor passiva do overpack (4). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Figura 7 – Secção de corte dos componentes do overpack vertical (4). . . . . . . . 30 Figura 8 – Canister multipropósito para 37 elementos combustíveis da usina de Angra 1 (3). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Figura 9 – Canister multipropósito para 32 elementos combustíveis da usina de Angra 2 (3). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Figura 10 – Disposição de armazenamento horizontal (5). . . . . . . . . . . . . . . 33 Figura 11 – Fluxograma operacional de estocagem dos overpacks (6). . . . . . . . . 33 Figura 12 – Seções de choque de discordâncias em função da energia dos nêutrons (7). 39 Figura 13 – Tensão cíclica reversa (8). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Figura 14 – Curva S-N materiais não ferrosos (9). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Figura 15 – Curva S-N (Aço CC) (9). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Figura 16 – Corrosão por frestas no apoio da tubulação (10). . . . . . . . . . . . . 46 Figura 17 – Zonas termicamente afetadas (11). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Figura 18 – Classificação dos processos de soldagem (12). . . . . . . . . . . . . . . 52 Figura 19 – Distorção ocasionada por processo de soldagem entre aços inoxidáveis (13). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Figura 20 – Tensões longitudinais formadas ao longo da direção transversal de uma solda de topo (13). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Figura 21 – Evolução de tensões residuais longitudinais ao longo do processo de soldagem por fusão (13). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Figura 22 – Seção transversal macroestrutural de uma junta soldada com referência as temperaturas de pico (13). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Figura 23 – Fluxograma para duração / renovação da licença. Adaptado de (14). . 61 Figura 24 – Temperatura média anual registrado em Angra dos Reis. Adaptado de (3). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Figura 25 – Temperatura máxima, mínima e média por mês coletado na estação meteorológica de Angra dos Reis durante o período de 1931 à 2010. Adaptado de (15). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Figura 26 – Umidade relativa média por mês coletado na estação meteorológica de Angra dos Reis durante o período de 1931 à 2010. Adaptado de (16). . 64 Figura 27 – Umidade relativa de Angra dos Reis no período de 2001 à 2007 (3). . . 64 Figura 28 – Fluxograma do plano de revisão padrão da NUREG 1567. Adaptado de (17). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Figura 29 – Fluxograma do processo de renovação de licença segundo a NUREG 1927. Adaptado de (18). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 Figura 30 – Formação dos condicionais para identificação da corrosão sob tensão em unidades de armazenamento a seco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Figura 31 – Procedimento Ambiental - Temperatura. . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Figura 32 – Procedimento Ambiental - Umidade Relativa. . . . . . . . . . . . . . . 118 Figura 33 – Procedimento Ambiental - Deposição na superfície do canister. . . . . . 119 Figura 34 – Procedimento Ambiental - Deposição de poeiras e métodos de coleta. . 120 Figura 35 – Procedimento Ambiental - Deposição de poeiras e métodos de coleta - Tempo de Armazenamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 Figura 36 – Procedimento Ambiental - Deposição de poeiras e métodos de coleta - Tipologia da poeira depositada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 Figura 37 – Procedimento de Estruturas Sistemas e Componentes - Selagem da tampa do canister. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 Figura 38 – Procedimento de Estruturas Sistemas e Componentes - Superfície do canister. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 Figura 39 – Procedimento de Estruturas Sistemas e Componentes - Confinamento verificação de dose. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Figura 40 – Procedimento de Estruturas Sistemas e Componentes - Confinamento verificação de dispersão radiológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Figura 41 – FMEA - Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos - Gerenciamento do Envelhecimento das UAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Figura 42 – FMEA - Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos - Gerenciamento do Envelhecimento das UAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 Figura 43 – Localização de trincas no canister modelo Castor-V 21. Adaptado de (19).132 Figura 44 – Tensão residual da tampa do canister. (a) medição de raios-x (n◦1); (b) método Strain Gauge (n◦1); (c) linha de solda e posições medida. Adaptado de (20). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 Figura 45 – Método para avaliar a integridade do canister contra SCC. (a) Calor da superfície, TL: temperatura mais baixa para SCC, (b) a umidade relativa varia com o tempo ao redor da superfície do canister, RHL: Umidade relativa mais baixo para SCC, (c) definição de TL utilizando propriedades eletroquímicas do aço inoxidável, assumindo a corrosão da fenda como local de início da trinca. Adaptado de (21). . . . . . . . . . 136 Figura 46 – Relação entre umidade relativa, temperatura da superfície do canister e condições de deliquescência para deposição de sais (22). . . . . . . . . 143 Figura 47 – Configuração das amostra de aço inoxidável austenítico simples e dupla de curvatura em "U". Adaptado (23). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Figura 48 – Estrutura de risco e organização. Adaptado de (24). . . . . . . . . . . . 153 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Capacidade de armazenamento de piscinas de combustíveis utilizados (3). 20 Tabela2 – Previsibilidade de esgotamento das PCUs de Angra 1 e Angra 2 (4). . 20 Tabela 3 – Características dos elementos combustíveis de Angra 1 e Angra 2 (4). . 25 Tabela 4 – Ocorrência da Falha (EF). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 Tabela 5 – Gravidade/Severidade da Falha (G). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 Tabela 6 – Detecção da falha (DF). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Tabela 7 – Risco Calculado (RC). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Tabela 8 – Mecanismos de Falha e Degradação. Adaptado (4). . . . . . . . . . . . 92 Tabela 9 – Licença, vida útil e expectativa da UAS CNAAA. Adaptado (4). . . . . 93 Tabela 10 – Analise típica da composição da água do mar (25). . . . . . . . . . . . 96 Tabela 11 – Salinidade da água do mar (25). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 Tabela 12 – Produtos de fissão U235 (26) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 Tabela 13 – Banco de dados por variável, análise e condição de ocorrência. . . . . . 106 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMR Revisão do Gerenciamento do envelhecimento APS Análise Probabilística de Segurança CAP Programas de Ação Corretiva CCF Common Cause Failure CLP Controlador Lógico Programável CNAAA Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto CNEN Comisão Naconal de Energia Nuclear CoC Certificate of Compliance ECI Elemento Combustível Irradiado ESC Estruturas, Sistemas e Componentes ETA Análise de Árvore de Eventos FTA Análise de Árvore de Falhas GRAFCET Graphe Fonctionnel de Commande, Étapes Transitions GWd/MUT Giga Watt dia por Tonelada Métrica de Urânio (Burnup) Holtec Holtec International INMET Instituto Nacional de Meteorologia PWR Pressurized Water Reactor IAEA International Atomic Energy Agency IGSCC Intergranular Stress Corrosion Cracking IHM Interface Homem Máquina MCS Minimal Cut Set MPC CanisterCasco Multipropósito MTTF Mean Time to Failure MTTR Mean Time to Repair NPP Nuclear Power Plant NRC Nuclear Regulatory Commission NUREG Nuclear Regulatory PCU Piscina de Combustível Utilizado pdf Probability Density Function PRA Probabilistic Risk Assessment PSA Probabilistic Safety Assessment PSAR Preliminary Safety Analysis Report PWR Pressurized Water Reactor QA Quality Assurance RAS Relatório de Análise de Segurança RFAS Relatório Final de Análise de Segurança RG Regulatory Guide RPAS Relatório Preliminar de Análise de Segurança SCC Stress Corrosion Cracking SNF Spent Nuclear Fuel TGSCC Transgranular Stress Corrosion Cracking UAS Unidade de Armazenamento a Seco SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 1.2 MOTIVAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.3 OBJETIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2 ASPECTOS CONCEITUAIS DOS REATORES DE POTÊNCIA E DAS UNIDADES DE ARMAZENAMENTO A SECO . . . . . . . . 24 2.1 REATOR TIPO PWR - REATOR A ÁGUA PRESSURIZADA . . . . . . . . 24 2.1.1 ELEMENTO COMBUSTÍVEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.1.2 PISCINAS DE COMBUSTÍVEIS UTILIZADOS - PCU . . . . . . . . . . . . . 26 2.2 ARMAZENAMENTOS DE ELEMENTOS COMBUSTÍVEIS IRRADIADOS A SECO - UAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.2.1 COMPONENTES PRINCIPAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.2.1.1 CASCO (CANISTER) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.2.1.2 CASCO DE PROTEÇÃO (OVERPACK ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 2.2.1.3 MODOS DE ARMAZENAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.2.2 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS DO ARMAZENAMENTO DE ELEMEN- TOS COMBUSTÍVEIS IRRADIADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3 MECANISMOS DO ENVELHECIMENTO . . . . . . . . . . . . . . 35 3.1 FRAGILIZAÇÃO E IMPERFEIÇÕES MICROESTRUTURAIS PROVOCA- DOS PELA AÇÃO DA RADIAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 3.1.1 FRAGILIZAÇÃO PROVOCADA PELA IRRADIAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . 36 3.1.2 TIPOS DE REAÇÕES NUCLEARES QUE PROMOVEM OS DEFEITOS EM MATERIAIS EMPREGADOS EM REATORES NUCLEARES . . . . . . . . . . 37 3.1.2.1 REAÇÕES (N,γ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3.1.2.2 REAÇÕES (N, α) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3.1.2.3 REAÇÕES FOTONUCLEARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3.2 DEFEITOS E IMPERFEIÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.3 FADIGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.3.1 FADIGA POR TENSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 3.3.2 FADIGA POR DEFORMAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.3.3 CONCENTRAÇÃO DE DANOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.4 CORROSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.4.1 CORROSÃO PUNTIFORME (PITTING) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.4.2 CORROSÃO POR FRESTAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.4.3 CORROSÃO INTERGRANULAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.4.4 CORROSÃO SOB TENSÃO - STRESS CORROSION CRACKING - (SCC) . . . 48 3.4.5 CORROSÃO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICO . . . . . . . . . . . . . 50 3.4.6 INFLUÊNCIA DA DEPOSIÇÃO DE SAIS EM CANISTER . . . . . . . . . . . 50 3.5 PROCESSOS DE SOLDAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.5.1 PROCESSO DE SOLDAGEM POR FUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 3.5.1.1 SOLDAGEM ARCO SUBMERSO - SAW . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 3.5.2 EFEITO DA SOLDA EM AÇOS INOXIDÁVEIS . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 3.5.3 VISÃO MACROESTRUTURAL DE SOLDAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4 PESQUISAS ALUSIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 4.1 REGULAMENTAÇÃO BRASILEIRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.2 PLANO DE REVISÃO PADRÃO PARA INSTALAÇÕES DE ARMAZENA- MENTO A SECO DE COMBUSTÍVEL IRRADIADO - NUREG 1567 . . . . 67 4.3 GUIA REGULATÓRIO (RG - 3.48) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 4.4 10 CFR 71 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 4.5 10 CFR 72 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 4.6 ANSI N14.5, 2014 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 4.7 GUIA REGULATÓRIO (RG - 7.4) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 5 GERENCIAMENTO DO ENVELHECIMENTO PARA ANUÊNCIA DA LICENÇA DE OPERAÇÃO DE UMA UAS . . . . . . . . . . . . 73 5.1 ANÁLISE DE ENVELHECIMENTO LIMITADO PELO TEMPO - TLAA . . 74 5.2 PROGRAMAS DE GERENCIAMENTO DE ENVELHECIMENTO (AGING MANAGEMENT PROGRAMS - AMP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 5.2.1 ESCOPO DO PROGRAMA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 5.2.2 AÇÕES PREVENTIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 5.3 MANUTENÇÃO PREVENTIVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 5.4 PERIODICIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 5.4.1 PARÂMETROS MONITORADOS OU INSPECIONADOS . . . . . . . . . . . 79 5.4.2 DETECÇÃO DE EFEITOS DO ENVELHECIMENTO . . . . . . . . . . . . . . 79 5.4.3 MONITORAMENTO E TENDÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 5.4.4 CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 5.4.5 AÇÕES CORRETIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 5.4.6 PROCESSO DE CONFIRMAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 5.4.7 CONTROLES ADMINISTRATIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 5.4.8 EXPERIÊNCIA OPERACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 5.4.9 INSPEÇÕES EM PERÍODO OPERACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 5.4.10 ADVERSIDADES NO PROCESSO DE INSPEÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . 83 6 METODOLOGIA . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 6.1 FMEA (FAILURE MODE AND EFFECT ANALYSIS - ANÁLISE DE MODOS DE FALHAS E EFEITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 6.2 APLICAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 6.3 DEFINIÇÃO DOS ÍNDICES DE CRITICIDADE . . . . . . . . . . . . . . . 88 6.3.1 EVENTUALIDADE DA FALHA (EF) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 6.3.2 GRAVIDADE/SEVERIDADE DA FALHA (G) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 6.3.3 DETECÇÃO DA FALHA (DF) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 6.3.4 RISCO CALCULADO (RC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 6.3.5 PLANO DE AÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 6.4 CRITICIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 6.5 PERIODICIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 7 RESULTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 7.1 ELABORAÇÃO DOS CONDICIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 7.2 VARIÁVEIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 7.2.1 AMBIENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 7.2.2 TENSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 7.2.3 SELAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 7.2.4 CONFINAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 7.3 GERENCIAMENTO DAS INFORMAÇÕES COLETADAS . . . . . . . . . . 104 8 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 9 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS . . . . . . . . . . . . 109 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 ANEXO A – PROCEDIMENTOS PARA GERENCIAMENTO DO ENVELHECIMENTOS DE UNIDADES DE ARMA- ZENAMENTO À SECO . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 A.1 PROCEDIMENTO AMBIENTAL - TEMPERATURA . . . . . . . . . . . . 117 A.2 PROCEDIMENTO AMBIENTAL - UMIDADE RELATIVA. . . . . . . . . . 118 A.3 PROCEDIMENTO AMBIENTAL - DEPOSIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . 119 A.4 PROCEDIMENTO TENSÃO - ESTRUTURA SISTEMAS E COMPONEN- TES - SELAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 A.5 PROCEDIMENTO TENSÃO - ESTRUTURA SISTEMAS E COMPONEN- TES - SUPERFÍCIE DO CANISTER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 A.6 PROCEDIMENTO TENSÃO - ESTRUTURA SISTEMAS E COMPONEN- TES - CONFINAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 ANEXO B – ESTUDOS DOS MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO EM UNIDADES DE ARMAZENAMENTO À SECO . 129 B.0.0.1 KENNEALLY E KESSLER (2001) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 B.0.0.2 A. KOSAKI (2008) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 B.0.0.3 TANI, MAYUZUMI E HARA (2008) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 B.0.0.4 BRYAN E ENOS (2014) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 B.0.0.5 ENOS E NORMAN (2013) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 B.0.0.6 XIE E ZHANG (2015) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 B.0.0.7 HE TODD S. MINTZ (2014) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 B.0.0.8 CASERES E MINTZ (2010) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146 B.0.0.9 NUREG 1536 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 B.0.0.10 MALLIAKOS (2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 19 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização Todas as usinas ou centrais de geração de energia que utilizam matérias primas para a geração de energia como, carvão, gás e especificadamente a nuclear, possuem como características comum, sua determinada vida útil, onde não se faz por necessário, e viável a sua operação, ocasionando o seu descomissionamento. A matriz energética brasileira é extremamente, diversificada e rica de fontes limpas de geração de energia, utilizando centrais hidrelétricas e termoelétricas. Considerando as mudanças climáticas, o Brasil, outrora estruturado demasiadamente em usinas hidrelétricas, considerando um regime incerto de chuvas e dificuldades de licenciamentos, se faz necessário o fomento a construção e preservação de usinas termoelétricas. Utilizadas em períodos de escassez e baixos níveis de reservatórios de água, o melhor custo benefício é a geração de energia elétrica limpa, oriundo de centrais termoelétricas, utilizando combustível nuclear, mostrando-se promissor a possíveis impactos ambientais e inserção no sistema interligado brasileiro. O Brasil é detentor da matéria prima, o urânio e todo ciclo tecnológico de produção de elementos combustíveis, tendo por volta de 1/3 do seu território prospectado, sendo detentor da sexta reserva mundial na classe Razoavelmente Assegurada (da ordem de 177.000 t) e a terceira reserva na classe Recursos Adicionais Estimados (cerca de 132.000 t), um total aproximado de 309.000 t U3O8(27). A subsidiária da Eletrobrás, a estatal Eletronuclear, foi concebida em 1997 com a finalidade de construir e operar usinas nucleares no território brasileiro. No município de Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro, encontra-se o berço das usinas nucleares, Angra 1 com capacidade atual de geração de 640 MWe, Angra 2 de 1350 MWe e Angra 3 que encontra-se em fase de construção com previsibilidade de operação em 2024 e capacidade de geração de 1405 MWe (3). Aproximadamente 1/3 da energia consumida no estado do Rio de Janeiro, é proveniente das usinas nucleares da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), após a conclusão da usina nuclear de Angra 3, será incumbida , somente, por gerar a energia equivalente a 50 % do consumo médio do estado do Rio de Janeiro, promovendo mais de 12 milhões de MW/h por ano. As usinas nucleares utilizam elementos combustíveis para produção de energia térmica, para, posteriormente, transformando em energia elétrica. Após a queima do urânio enriquecido no núcleo do reator, os elementos combustíveis irradiados (ECI), seguem para etapa de armazenamento em piscinas construídas especialmente para locação de ECI, denominadas de piscinas de combustíveis utilizadas (PCUs), com intuito de realizar a transferência de calor residual e de decaimento dos ECI. Após 10 anos de permanência Capítulo 1. Introdução 20 nas PCUs, os ECIs possuem uma quantidade de materiais reutilizáveis e calor residual considerável, gerando perspectiva de serem reprocessados ou armazenados para possibilitar futuras decisões. Destarte, a tratativa brasileira desconsidera o gerenciamento de ECIs para execução de reprocessamento e reciclagem de elementos remanescentes para produção de energia. A capacidade de locação de ECI das piscinas das usinas nucleares da CNAAA, previsto no ato de concebimento, é limitada. De acordo com prerrogativas os ECIs estocados há mais tempo devem ser removidos, de modo a subvencionar o armazenamento de elementos combustíveis recentemente recolhido dos núcleos dos reatores. A Tabela 1 demonstra as referidas capacidades de armazenamento inaugural de Angra 1, Angra 2. Tabela 1 – Capacidade de armazenamento de piscinas de combustíveis utilizados (3). Usina Capacidade de Armazenamento de ECI Angra 1 1252 Angra 2 1084 Angra 3 1084 Em virtude da capacidade de locação de ECIs de cada usina, apresenta-se as previsões de esgotamento da estocagem nas piscinas de Angra 1 e Angra 2, tangível no número de ciclos e na quantidade de elementos combustíveis substituídos nos núcleos dos reatores em cada ciclo. Segundo a Eletrobrás (2013) (4) a previsibilidade de esgotamento da capacidade de armazenamento de ECIs nas piscinas de Angra 1 e Angra 2, é demonstrada na Tabela 2 abaixo: Tabela 2 – Previsibilidade de esgotamento das PCUs de Angra 1 e Angra 2 (4). Usina Ocupação Atual E.C. no Núcleo do Reator Esgotamento Previsto Angra 1 945 121 12/2021 Angra 2 656 193 07/2021 Vide que o esgotamento do armazenamento das piscinas (PCUs) das usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2 possui data prevista,encontrando-se em alinhamento a capacidade total de estocagem, a devida situação acarretará a interrupção da operação das referentes usinas nucleares. A deliberação adotada foi à construção de unidades de armazenamento complementar a Seco (UAS), adotadas em outros países detentores de usinas nucleares como Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Espanha, Bélgica, Japão entre outros, alguns utilizando a referida tecnologia há mais de 30 anos. A UAS será incorporada na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA). Inicialmente serão instalados 15 módulos. Conforme Eletrobrás (2013) (4) informou, na primeira transferência, em 2021, 288 elementos combustíveis serão relocados de Angra 2 e Capítulo 1. Introdução 21 222, de Angra 1, o que ocasionará vacâncias nas piscinas das usinas de Angra 1 e Angra 2, de forma a promover mais cinco anos de operação. Em sua totalidade, a UAS poderá comportar até 72 módulos, com capacidade para armazenar o combustível usado de Angra 1 e 2 até 2045. 1.2 Motivação No Brasil, o projeto de implementação das UAS é caracterizado no cenário atual como imprescindível à continuação da operação das usinas nucleares da CNAAA devido à restrição do espaço nas atuais PCUs. Portanto, torna-se necessário o fomento à pesquisa sobre o assunto e conhecimento técnico sobre o gerenciamento do envelhecimento e possíveis falhas, causas e efeitos do armazenamento a seco não só sob o ponto de vista de medidas a serem adotadas como também o conhecimento dos fatos para o processo de licenciamento, também sob a perspectiva da operação em longo prazo. Entretanto, ressalta-se que as implementações de UAS foram primordialmente concebidas como um recurso transitivo, de modo redundante como armazenamento com- plementar semelhante a PCUs. Enquanto isso a solução definitiva pode ser calmamente definida, como citado o reprocessamento ou repositórios finais de material radioativo, destinando-se os materiais dispensados de forma final. Outro fato motivador do presente estudo é que alguns anos decorridos do início da operação dos primeiros cascos de armazenamento a seco nos EUA foi verificada a necessidade de se avaliar o envelhecimento dos materiais e componentes agrilhoados ao projeto dos canister de armazenamento devido ao fato de que as primeiras interações da licença para operação desses sistemas já estavam sendo requeridas no início dos anos 2000 (28). Desta forma considerar possíveis falhas por corrosão sob tensão, suas causas e efeitos em unidades de armazenamento a seco que se encontram em processo de desenvolvimento no Brasil com intuito de relocar combustíveis irradiados de usinas nucleares no sítio da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, contribui para a avaliação da extensão da operação de suas usinas nucleares. 1.3 Objetivo O presente estudo, criteriosamente, abrange o desenvolvimento de procedimentos para avaliar o gerenciamento do envelhecimento de canister relacionado a ação da corrosão sob tensão (SCC) em unidades de armazenamento de combustíveis irradiados. Este estudo busca realizar uma revisão crítica das condições ambientais, o surgi- mento de tensões residuais e o material empregado na construção dos canister em serviço, incluindo variáveis que atuam ao longo do período de operação de uma UAS, como: Capítulo 1. Introdução 22 • Temperatura; • Umidade relativa; • Localização da instalação; • Período de armazenamento; • Tensões; • Deposição de poeiras, entre outros. Resultados experimentais divulgados de publicações e pesquisas operacionais re- lacionados à à corrosão sob tensão induzida por cloretos (CISCC) serão utilizados para avaliar a possível ocorrência do CISCC em unidades de armazenamento a seco a serem instaladas no sítio da CNAAA. A análise sugere que a distribuição do estresse residual possui um grande impacto sobre o tempo projetado até a falha e que as tensões residuais de tração na zona afetada pelo calor da solda e a contribuição do CISCC sejam suficientes para resultar em trincas no aço inoxidável austenítico. Assim, pretende-se com esse trabalho avaliar e reconhecer os condicionais que expõe a UAS a causas e efeitos que possam impossibilitar o processo de renovação de licença operacional das usinas, uma vez que possuem como principal finalidade manter o confinamento dos combustíveis depletados. Simultaneamente, propõe-se um estudo considerando uma das principais lacunas técnicas que impossibilitam o processo de renovação de licença. 1.4 Estrutura do Trabalho De forma a albergar os objetivos, a seguinte dissertação, encontra-se estruturada da seguinte forma: O capítulo 2 contempla um reexame bibliográfico caracterizando a fundamentação teórica indispensável para o progresso desse estudo. São demonstrados os conceitos referidos aos reatores de potência refrigerados a água leve denominados de pressurized water reactor (PWR), tal como o conceito de unidade de armazenamento a seco. O capítulo 3 tem por objetivo expor mecanismos pelo qual o envelhecimento demonstra seus métodos de ação tais como, fadiga e corrosão, e seus modos de propagação. Demonstra os processos de soldagem por fusão, influência da deposição de poeiras em aços inoxidáveis. O capítulo 4, relata de modo sucinto pesquisas, trabalhos, artigos, normativas internacionais e nacionais. As pesquisas demonstram métodos e artifícios utilizados para Capítulo 1. Introdução 23 detecção de efeitos simulados e condições realistas do surgimento de trincas na superfície do canister. Neste capítulo, de modo complementar, verificou-se o processo de renovação de licença operacionais das UAS e suas etapas. O capítulo 5 apresenta as etapas do gerenciamento do envelhecimento de unidades de armazenamento a seco de combustíveis irradiados e as premissas regulatórias para anuência da licença operacional da instalação com vistas ao armazenamento a longo prazo. De modo complementar, serão avaliados os programas vigentes, como a análise do envelhecimento limitado pelo tempo (TLAA) e o programa do gerenciamento do envelhecimento (AMP), que por sua vez possuem a finalidade de prevenir, mitigar e detectar condições adversas durante o período de licença operacional da instalação. O capítulo 6 apresenta a metodologia empregada, tangível em referências (Anexo B), apresentando procedimentos para a investigação e monitoramento dos modos de degradação, auxiliando no processo de renovação da licença operacional e tomada de decisão quanto a condições adversas detectadas nas estruturas, sistemas e componentes de uma UAS. Para sua realização foram considerados alguns aspectos específicos e favoráveis ao surgimento da corrosão sob tensão sob armazenamento à longo prazo. O capítulo 7 apresenta os a estrutura definida dos procedimentos a serem aplica- dos durante o período de licença operacional da UAS no Brasil, baseados na aplicação metodológica e referenciados nas pesquisas inclusas no trabalho. O capítulo 8 reflete as conclusões tomadas, referenciadas em pesquisas sobre o envelhecimento e gerenciamento a longo prazo do modo de armazenamento de combustíveis irradiados com vistas a renovação de licença. Os procedimentos firmados possuem por finalidade construir base técnica e fornecer dados referente a ação de variáveis que possam impedir o devido confinamento e simultaneamente impossibilitar a renovação da licença operacional da UAS. Destarte aos capítulos antecessores, o capítulo 9 contempla as principais apreciações, tangíveis nos resultados evidenciados, e expor o desenvolvimento de novas ideias para trabalhos futuros. 24 2 ASPECTOS CONCEITUAIS DOS REATORES DE POTÊNCIA E DAS UNIDADES DE ARMAZENAMENTO A SECO 2.1 Reator Tipo PWR - Reator a Água Pressurizada Os reatores a água pressurizada (pressurized water reactor - PWR) enquadram- se na classe de reatores refrigerados à água leve (light water reactor - LWR), visto que utilizam a água leve como fluido refrigerante assim como moderador de nêutrons. Conforme Lamarsh e Baratta (2001) (29) é definido pelo fato do fluido utilizado como moderador e refrigeranteser condicionado a um nível elevado de pressão, para que não haja a ebulição do fluido refrigerante, então o denominado circuito primário é mantido com aproximadamente 15 MPa ou 2250 psi. Os reatores nucleares do tipo PWR funcionam respeitando um conceito típico de reator utilizado comercialmente para produção de energia elétrica, ocorrendo o seguinte processo1, demonstrado na Figura 1. • O calor é gerado dentro do núcleo do reator, oriundo das reações em cadeia, concebidas a partir da interação de nêutrons com átomos de Urânio 235. • O fluido pressurizado contido no circuito de refrigeração primária é conduzido para o gerador de vapor. • No gerador de vapor, o calor contido no líquido de arrefecimento do primário, modifica-se de estado, vaporizado em um circuito secundário. • O vapor é dirigido as turbinas, ocasionando o seu volver, simultaneamente acoplada ao gerador da turbina, posteriormente produzindo eletricidade. O vapor dissipado é retornado ao condensador em estado líquido. A água bombeada, passando pelo processo de reaquecimento e conduzida novamente para o gerador de vapor. O núcleo do reator contém conjuntos de elementos combustíveis que são resfriados pelo refrigerante. No entanto alguns sistemas, componentes e dispositivos, como, bombas, transformadores, válvulas, utilizam o fornecimento de energia da rede elétrica. Com o ocasionamento da interrupção do fornecimento proveniente de fonte externa, entra o sistema de refrigeração de emergência que é fornecido por outro sistema de bombeamento específico, podendo ser mantido por geradores a diesel in situ. Outros sistemas de segurança, como de refrigeração da contenção, também necessitam de energia elétrica da rede. 1 Processo simplório de funcionamneto de um reator PWR Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco25 Figura 1 – Arranjo típico simplificado reator PWR. Adaptado de (1). 2.1.1 Elemento Combustível Os reatores PWRs contidos na CNAAA utilizam o dióxido de urânio (UO2) enriquecido cerca de 5 % em foma de pastilhas cilíndricas de 1 cm de diâmetro por 1 cm de altura, acondicionadas em tubos constituídos de Zircaloy-42 fechados por soldagem, altamente pressurizados, sendo as pastilhas de UO2 enriquecido em U-235 confinadas sob compressão por meio de molas helicoidais de inconel e o tubo é pressurizado com gás inerte3. As varetas de combustível e tubos guia são mantidos por meio de espaçadores também constituído de Zircaloy-4 e inconel ordenado uniformemente, concebendo parcialmente o elemento combustível como demonstrado na Figura 2. Verifica - se na Tabela 3 o quantitativo de varetas e elementos combustíveis nas usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2 da CNAAA. Tabela 3 – Características dos elementos combustíveis de Angra 1 e Angra 2 (4). Usina Varetas por E.C Nº de Elementos Combustíveis Angra 1 235 121 Angra 2 236 193 2 Liga de Zircônio. 3 Gás Hélio. Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco26 Figura 2 – Representação de um elemento combustível. Adaptado de (2). 2.1.2 Piscinas de Combustíveis Utilizados - PCU Ao longo do período de operação de um reator nuclear, a composição originária de isótopos do elemento combustível sofrem variações, sendo consumíveis e simultaneamente, produzindo produtos de fissão, caracterizando o Burnup4 (30). Dessa forma, se faz necessária a substituição após um determinado período em operação, realizando a troca dos EC localizados ao centro e rearranjando os EC locados nas extremidades, de modo que mantenha a planta produzindo um nível de potência desejado, até a próxima substituição, caracterizando um ciclo. Os ECI retirados do núcleo do reator emitem, após alguns dias de operação, radiações beta e gama provenientes dos produtos de fissão, ocasionando o decaimento e liberação de energia. Elencaram-se como forma de promover a devida remoção de calor residual dos elementos combustíveis irradiados em piscinas de decaimento como demonstrado nas Figuras 3 e 4 das usinas de Angra 1 e Angra 2 respectivamente. 4 É caracterizado como a medida quantitativa de energia consumida de uma fonte primária de energia nuclear,dado em Giga-Watt dia (GWd). Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco27 Figura 3 – Piscina de armazenamento de elementos combustíveis irradiados de Angra 1 (3). Figura 4 – Piscina de armazenamento de elementos combustíveis irradiados de Angra 2 (3). As piscinas são preenchidas com aguá deionizada de acordo com o tipo de combustí- vel a ser utilizado no armazenamento, o pode utilizar água com ou sem aditivos. Conforme Romanato (2005) (31) o princípio ALARA é respeitado quanto aos níveis de atividade no interior da piscina, utilizando sistemas de substituição dos íons no interior da piscina ou externo ou também pelo limiar de liberação da atividade no interior da piscina em massa. Algumas piscinas utilizam como forma de operação o controle de pH e da concen- tração de boro na piscina para manter o devido controle de criticalidade, impedindo a ocorrência de organismos microbiológicos (32). Após a permanência dos ECI por determinado tempo dentro da PCU, os elementos combustíveis irradiados reduzem de forma considerável o seu calor residual, podendo ser relocado para outro modo de armazenamento, como referido a seguir. Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco28 2.2 Armazenamentos de Elementos Combustíveis Irradiados a Seco - UAS Atualmente, de modo a albergar os ECI, a proposta de utilização de unidades de armazenamento a seco encontra-se em fase de implementação no Brasil sendo uma alternativa viável para alocar os elementos contidos em suas PCUs (3). As unidades de armazenamento a seco têm por finalidade de albergar os primeiros elementos combustí- veis oriundos das usinas de Angra 1 e Angra 2, sendo a Eletrobras Termonuclear S.A.- Eletronuclear (ETN) responsável por sua construção e operação. Preliminarmente, a Eletronuclear submeteu junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) o processo de licenciamento de 15 overpack em sua totalidade, sendo 6 unidades destinadas a ECI de Angra 1 e 9 unidades para Angra 2 (3). UAS são estruturadas com alguns componentes típicos, conforme representados esquematicamente no sítio da CNAAA e demonstrados na Figura 5; • Local de armazenamento: Área com intuito de nortear a proteção radiológica, área para estocagem, contendo proteções físicas constituídas por um portão de controle de acesso de veículos e tangenciando a instalação, a duplicidade de cercas, como meio agregado a proteção física da instalação; • Um almoxarifado, possuindo áreas para guardar veículos de transferência de overpack, guarda dos cascos de transferência e guarda de equipamentos utilizados na área destinada a estocagem; • Guarita de controle patrimonial e acesso. Figura 5 – Representação esquemática da unidade de armazenamento complementar a seco (UAS) da CNAAA (3). Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco29 A integridade do armazenamento seco ou úmido de elementos combustíveis deve ser acompanhada e tratada quanto ao manuseio e exposição a corrosão. A degradação do ECI deve ser cautelosamente verificada, configurando a plena funcionalidade do sistema de arrefecimento, mantendo sua subcriticalidade em condições aceitáveis. Os componentes que formam a blindagem devem amparar os indivíduos ocupacionalmente expostos (IOE), indivíduos do público e o meio ambiente, de forma a atenuar a liberação de radioisótopos para o ambiente externo e adjacentes às instalações. O resfriamento dos elementos combustíveis irradiados é realizado de forma passiva, caracterizando-se pela condução de calor por materiais sólidos e convecção natural ou radiação térmica utilizando o ar como meio de transporte para o calor oriundo do decai- mento do ECI para o meio ambiente como demonstrado na Figura 6.Conforme Romanato (2005) (31) tais características são possíveis, pelo fato de serem projetados para armazenar elementos combustíveis irradiados antigos, oriundos das piscinas de armazenamento de elemento combustível e por possuírem um calor consideravelmente reduzido em comparação com um elemento combustível retirado recentemente do núcleo do reator. Figura 6 – Representação do sistema de transferência de calor passiva do overpack (4). 2.2.1 Componentes principais As características principais dos dispositivos de armazenamento dos elementos combustíveis irradiados findados a armazenar e assegurar o confinamento dos elementos Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco30 combustíveis retirados das PCU, são compostos pelo canister e overpack como referenciados na Figura 7. A imagem apresenta o modelo do fabricante Holtec (2015) (6) o HI-STORM FW (Holtec International Storage Module Flood and Wind). Observa - se a seção de corte do overpack e seus componentes adjacentes: Figura 7 – Secção de corte dos componentes do overpack vertical (4). Cabe salientar que todas as menções relacionadas ao sistema de armazenamento de combustível nuclear a seco serão referentes ao modelo aludido da Holtec International. Ressaltamos que há disponibilidade de outros fabricantes de sistemas de armazenamento a seco de combustíveis irradiados e/ou danificados (33). Abaixo encontram-se listados alguns fabricantes de sistemas de armazenamento a seco de combustíveis irradiados: • General Nuclear Systems, Inc. • NAC International, Inc. • Transnuclear, Inc. • Westinghouse Electric Co. LLC. • TN Americas LLC. 2.2.1.1 Casco (Canister) O canister é um vaso cuja função é confinar ECI e manter a subcriticalidade, acrescido de gás hélio inerte pertinente ao armazenamento inicial, contendo interiormente Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco31 um cesto reticulado, utilizado para manter o controle da criticalidade dos elementos combustíveis, assim, garantindo a segurança. As Figuras 8 e 9 a seguir, representam o modelo de canister que será utilizado nas usinas de Angra 1 e Angra 2 da CNAAA, respectivamente. A tampa é soldada com intuito de vedar os elementos combustíveis contidos em seu interior, podendo ser parafusada no corpo do casco de proteção, também fornecendo proteção para radiação eletromagnética. Encontram - se como parâmetro de projeto de construção de canister os aços inoxidáveis tipo 304, 304L, 304LN, 316, 316L e 316 LN com as dimensões de 4,6 m de altura, 2 m de diâmetro e 25mm de espessura (34). A utilização dos referidos aços inoxidáveis se dá pelo fato de manterem suas características como intensidade de estresse do projeto, resistência a tração, estresse de rendimento, coeficiente de expansão térmica e condutividade térmica, mantendo suas propriedade equiparadas quando submetidas a variação de temperatura (4). Figura 8 – Canister multipropósito para 37 elementos combustíveis da usina de Angra 1 (3). 2.2.1.2 Casco de proteção (Overpack) Os cascos de proteção são geralmente fabricados utilizando concreto, aço ou de forma mista. São constituídos de aços inoxidáveis, ferro fundido, chumbo e cobre. A associação de tais materiais cuja finalidade e a proteção contra a exposição indesejada à radiação é imposta pelo atendimento às NRC (10CFR72.106 (35) e NRC 10CFR72.104(36)). Embora ocorra variação quanto aos tipos de combustíveis armazenados e quantidade de ECI, o overpack independentemente da origem dos elementos combustíveis, como PWR, Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco32 Figura 9 – Canister multipropósito para 32 elementos combustíveis da usina de Angra 2 (3). BWR, respeitam dimensões típicas de 2,5 metros de diâmetro e 6 metros de altura de acordo com cada fabricante. O overpack pode superar 100 toneladas quando carregado e suportar um range de temperatura de -40◦C à 400◦C, considerando modos de operação convencionais e a longo prazo. A curto prazo de operação considerando modos adversos, o limite de temperatura pode alcançar até 570◦C 5. A superfície externa do overpack contem gancho olhal permitindo o içamento do equipamento. A principal atribuição do overpack é acomodar e garantir proteção estrutural, física e blindagem para as radiações provenientes dos ECIs contidos no canister, garantindo a devida transferência de calor de forma passiva ao meio ambiente (3). 2.2.1.3 Modos de Armazenamento Os overpacks podem ser dispostos verticalmente e horizontalmente, entretanto no sistema de armazenamento vertical possuem modos de armazenamento em cavidades abaixo do solo ou acima do solo. O sistema de armazenamento horizontal possui modos de armazenamento em cavidades de concreto, onde os overpack utilizam o casco de transferência vertical, diversi- ficando somente o modo de armazenamento complementar como demonstrado na Figura 10. 5 Para utilização de EC de alta queima em curto prazo, são impostas restrições de operação com a finalidade de impor um limiar para excursão de temperatura à 65◦C (37). Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco33 Figura 10 – Disposição de armazenamento horizontal (5). 2.2.2 Procedimentos Operacionais do Armazenamento de Elementos Com- bustíveis Irradiados O procedimento operacional utilizado para estocagem de ECI retirados da PCU são executados conforme representação da Figura 11, onde, demonstra-se de forma simplificada o processo de retirada dos elementos combustíveis irradiados das PCUs até a estocagem dos overpack, seguindo as recomendações da Holtec International (6). Figura 11 – Fluxograma operacional de estocagem dos overpacks (6). Inicialmente, considera-se o processo de transferência do canister vazio e do casco Capítulo 2. Aspectos Conceituais dos Reatores de Potência e das Unidades de Armazenamento a Seco34 de transferência para dentro do local de armazenamento dos elementos combustíveis irradiados locados na PCU. Antes de ocorrer a submersão do casco de transferência, o mesmo é submetido a jatos d’água utilizando água purificada com finalidade de prevenir a contaminação da superfície do casco. A seguir, ocorre o posicionamento do canister no interior do casco de transferência, é submergido o conjunto para dentro da piscina de combustíveis irradiados. O conjunto devidamente locado na PCU irá receber o carregamento de ECI dentro do reticulado como demonstrado nas Figuras 8 e 9, respeitando a tipologia e geometria dos EC. Ressaltando que a tipologia de um elemento combustível originário de Angra 1 (reator PWR) será posicionado no MPC de 37 elementos combustíveis, respeitando o armazenamento de até 12 combustíveis caracterizados como danificados em locais específicos no reticulado contido no canister. Após o carregamento dos ECIs no canister, ainda dentro da PCU, é colocada a tampa superior para fechamento do mesmo então ocorre a movimentação do conjunto para realização da soldagem da tampa no canister. Posteriormente, realiza-se a drenagem da água contida dentro do casco, posteriormente, inserção do gás inerte, sendo utilizado o gás hélio (He) com a finalidade de prevenir a oxidação dos elementos combustíveis e promover a transferência de calor entre o interior no canister e ambiente externo. Após a selagem da tampa ao casco, ocorre o transporte do casco de transferência até o casco de proteção complementar o overpack. Em seguida, o conjunto constituído pelo canister e overpack é transportado até a disposição final, a unidade de armazenamento complementar a seco. A seguir, serão abordados os mecanismos de envelhecimento que podem ocorrer ao longo do período de licenciamento de uma unidade de armazenamento a seco, enfatizando os modos mais comuns, e recorrentes em aços inoxidáveis austeníticos, os ambientes que potencializam o surgimento de corrosão e os processos de tensão residual que podem ocorrer durante os anosde armazenamento de combustíveis irradiados. 35 3 MECANISMOS DO ENVELHECIMENTO No propósito de verificar os sistemas nucleares a longo prazo ou sob o processo de extensão de vida, a análise dos mecanismos do envelhecimento é indispensável à compreensão dos mecanismos atuantes que podem afetar os materiais, sistemas, estruturas e componentes de uma planta nuclear. O Envelhecimento, em geral, é definido como sendo a degradação de sistemas, estruturas e componentes de uma central nuclear, de natureza cumulativa e dependente do tempo, que quando não reduzida pode comprometer sua segurança, seu desempenho ou mesmo diminuir a sua vida útil estabelecida em projeto (38). Todos os materiais de uma planta nuclear são susceptíveis a diversos níveis de degradação provenientes do envelhecimento, ocasionando a degradação funcional dos ESC de uma planta nuclear. As experiências operacionais absorvidas de plantas nucleares demonstram que falhas na funcionalidade dos Elementos, Sistemas e Componentes (ESC) são decorrentes de processos de degradação, tal como, fragilidade induzida pela radiação e o calor, a fadiga, fluência o desgaste pelo regime de trabalho e principalmente pela ação da corrosão, sendo de forma geral ou localizada. Verificamos a ação desses processos de degradação citados anteriormente em plantas de primeira geração, justamente pelo resultado do envelhecimento a longo prazo e proximidade ao descomissionamento do projeto, não sendo reveladas durante o licenciamento inicial (39). De modo a realizar o acompanhamento do processo do envelhecimento, é funda- mental o conhecimento dos principais mecanismos de degradação que ocorrem em plantas nucleares. Os principais mecanismos do envelhecimento avaliados em plantas nucleares são descritos a seguir (40). 3.1 Fragilização e Imperfeições Microestruturais Provocados pela Ação da Radiação As fragilizações são oriundas de diversas ações. A radiação no aço, é requisito da Comissão Reguladora de Assuntos Nucleares dos Estados Unidos (USNRC) e o código para a inspeção e análise da Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos (ASME) foi elaborado com finalidade de asseverar que os equipamentos constituintes de uma usina nuclear sejam capaz de suportar ao trincamento, caso seja cometido a tensões e choques Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 36 térmicos sobe pressão. Independentemente dos estudos anteriores precedentemente sobre o efeito da inclusão do cobre e níquel que venha ocasionar a fragilidade de um vaso de pressão ou equipamentos que sejam submetidos a tais esforços, numerosas usinas foram construídas utilizando soldas atribuídas ao cobre e níquel (39). Existem dois tipos de fragilização que podem afetar componentes estruturas e sistemas de reatores nucleares: • Fragilização devido a ação da radiação - Quando cometido a tal ação, afeta os componentes estruturas e sistemas internos, comumente ocasionado no interior do núcleo de um reator nuclear. Após anos de bombardeio do núcleo do reator, o aço do vaso de pressão do reator pode gradualmente perder parte de sua tenacidade. Este processo é ocasionado por nêutrons e intensifica - se quando o aço ou material utilizado no processo de soldagem contém traços de cobre ou níquel; • Fragilidade Térmica - Afeta estruturas sistemas e componentes fabricados em ferro fundido e aços inoxidáveis. No Núcleo do reator nuclear quando cometido ao choque térmico sob pressão, constitui-se como maior problema de vasos de pressão fragilizados, onde pode acarretar a ocorrência de trinca. O choque térmico pode ocorrer durante certos eventos anormais na planta, como por exemplo, quando água fria é introduzida no vaso de pressão sob alta pressão após um acidente por perda de refrigerante comumente conhecido como LOCA (Loss of Coolant Accident) (39). A fragilidade, decorrente de efeitos térmicos ou quando cometido a ação da radiação diretamente, não caracteriza como causa direta para a ocorrência de trincas nos ESC. No entanto, ocorre a redução do limiar de segurança quanto a propagação de trincas provenientes no processo de fabricação, fadiga ou corrosão sob tensão. O significado da fragilidade para uma estrutura, sistema ou componente depende da probabilidade do surgimento de trincas e da carga à qual o componente está submetido (39). 3.1.1 Fragilização Provocada pela Irradiação Os nêutrons produzem átomos de retrocesso ( Energia Primária) que desprendem um grande número de átomos de suas posições originárias na rede cristalina, fato ocorrido por colisões atômicas. O número de nêutrons que bombardeiam um dado local é medido pela fluência (nêutrons/cm2, com energia E > 1,0 MeV ) (41). A medida mais recente dos danos causados pela exposição a nêutrons é conhecida como deslocamentos, caraterizada por fluência ou número de deslocamentos por átomo e fornece algumas informações para analisar a fragilização ocasionada pela irradiação. Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 37 As perdas de tenacidade ocasionadas pela irradiação tendem a acumular com o incremento da fluência, ocorrendo a saturação em níveis superiores a 1,0 x 1021 n/cm2. As avaliações realizadas a partir de estudos sobre fraturas em aços inoxidáveis da família 304, 347 e 316, comumente utilizado na construção de reatores nucleares e unidades de armazenamento de combustível nuclear a seco demonstram altos valores de tenacidade à fratura para todos os valores de fluência avaliados (42). Testes demonstram que a resistência à propagação de trincas em materiais de internos do vaso de pressão diminui com o incremento da fluência neutrônica, assim a integridade do aço inoxidável de componentes internos do vaso de pressão pode ser efetiva- mente avaliada através da mecânica da fratura, necessitando de uma análise detalhada de elementos finitos e uma base de dados para fornecer as taxas de crescimento de trincas e a tenacidade à fratura para os materiais de interesse (39). A ação da radiação aplicada em aços inoxidáveis ocasionam lacunas intersticiais que se locomovem e os produtos radiolíticos da água na ponta da trinca são incumbidos pela fragilização por conseguinte ocasionando da propagação da trinca no material (41). 3.1.2 Tipos de Reações Nucleares que Promovem os Defeitos em Materiais Empregados em Reatores Nucleares Independente das doses de deslocamento acumuladas serem comumente baixas, inferiores a 1 deslocamentos por átomos, as transformações das propriedades mecânicas podem ser descomunais. Sendo assim, a fragilização ocorre quando há abruptas elevações na temperatura de transição dúctil-frágil. São fundamentadas por natureza microscópica, alicerçando-se nos obstáculos ao movimento de discordâncias, formação de centros de endurecimento, alterações na composição química e na estrutura em regiões interfaciais. A formação de centros de endurecimento pode incluir aglomerados de defeitos pontuais, interações defeitos-impurezas e precipitados ricos em cobre. Embora a coleção de efeitos apresentarem características e diversificadas, sua formação necessita de uma base comum, a criação de lacunas e auto-interstícios provenientes da irradiação com partículas. Esses endurecimentos pontuais, são as principais imperfeições na rede cristalina e podem ser ocasionada diretamente na forma de ciclos de discordâncias ou aglomerados tridimensionais (ηm) e podem ser criados pela agregação gradual de defeitos (39). A geração do defeito pontual pode ser ocasionada por inúmeros mecanismos, tais como: • Deslocamento causado por nêutrons rápidos; – Reações elásticas; – Reações Inelásticas; Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 38 – Reações (n,γ) - produzindo núcleos de recuo, reações com emissão de partículas carregadas (n, α) ou (n, p) - Onde as partículas emitidas ou núcleos de recuo poder ocasiona deslocamentos; – Interações originado por raios γ com altas energias, liberadas na fissão ou reação nêutron γ. Os mecanismos aludidos anteriormente, os nêutrons categorizados como rápido são considerados os maiores causadores de defeitos causadospela radiação em ESC de reatores nucleares. Contudo, existem outras reações que podem contribuir para a ocorrência de um deslocamento de átomos, conforme exposto a seguir. 3.1.2.1 Reações (n,γ) Reações de nêutrons térmicos com núcleos de recuo, cujo raios gama são emitidos, podem ocasionar deslocamentos de átomos na rede cristalina do material. A figura 12 demonstra a seção de choque de discordância do Ferro - Fe (CCC) em função da energia do nêutron, ou seja, ao multiplicar o valor de seção de choque de deslocamento pela fluência do nêutron, obtém - se a dose de deslocamento dado em deslocamentos por átomo. Energias próximas a 1 MeV (aproximadamente 103 barns - seção de choque) equipara-se ao valor de seção de choque ótimo para porção rápida do espectro misto de reatores. Verifica-se uma seção de choque de aproximadamente 0,1 barns para uma energia de até 1 KeV, conforme demonstrado na Figura 12. Observa-se que a seção de choque amplia com a diminuição da energia do nêutrons (7). 3.1.2.2 Reações (n, α) A reação com partículas carregadas, nêutron α, contribuem para o estudo do efeito do Hélio nas propriedades dos aços empregados na construção de vasos de pressão de reatores nucleares, como encontrado na presença de impurezas em aços, como o boro na reação 10B (n,α) 7Li. 3.1.2.3 Reações Fotonucleares A interação dos nêutrons rápidos ou lentos com o combustível nuclear e estruturas adjacentes contemplados no núcleo do reator podem causar danos devido ao deslocamento dos átomos sob ação da irradiação com raios γ originados pela fissão. O deslocamento de átomos na rede cristalina pode ser ocasionado pela transferência de energia gama para elétrons e a interação do núcleo atômico com raios γ (7). As reações fotonucleares que ocasionam danos por deslocamento são; Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 39 Figura 12 – Seções de choque de discordâncias em função da energia dos nêutrons (7). • Reações (γ, n) - Possibilita o incremento dos nêutrons com mair energia e átomos de recuo; • Reação de fissão fotoelétricas - E materiais fissionáveis esta reação induzida por raios γ liberta grande quantidade de energia que podem ocasionar no deslocamento de átomos na rede cristalina do material (7). A irradiação intensificada sob alta temperatura pode ocasionar a modificação das propriedades térmicas, mecânicas, físicas nucleares e térmicas dos materiais submetidos a longo tempo de operação. As modificações estruturais a longo prazo podem ocasionar falha das ESC e devem ser consideradas em fase de projeto do sistema nuclear. As principais radiações que afetam as estruturas, sistemas e componentes dos reatores nucleares são: • Fragmentos de fissão; • α, β, γ; • Nêutrons rápidos; Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 40 • Prótons. Os sólidos cristalinos sofrem efeitos diversos, dependendo do tipo de estrutura cristalina e à radiação. Os metais sofrem pequenas alterações quando cometido a ionização e excitação eletrônica por partículas β e raios-γ. De modo divergente, os metais cometidos às partículas densas (n, p, α e fragmentos de fissão) podem sofrer grandes alterações na rede cristalina. 3.2 Defeitos e Imperfeições Com o emprego da difração de raio x em cristais é possível ilustrar a estrutura de diversos sólidos auxiliando no exame e entendimento das propriedades dos materiais. As imperfeições têm sido utilizados para descrever desvios do arranjo estruturado de átomos em sólidos cristalinos, usualmente submetidos a trabalhos mecânicos, ou seja, o enrijecimento por deformação a frio e de radiação ou irradiação devido à partículas pesadas. Existe defeito pontual quando ocorre a divergência localizada no arranjo ordenado e são classificados como (43): • Defeito de Frenkel - Quando átomos são deslocados de suas posições no retículo para interstícios e assim criam vacâncias. • Defeito de lacuna - Defeito pontual evidenciado pela falta de um átomo no interior da rede cristalina do metal. Pode ser resultante de um empacotamento imperfeito durante a cristalização original ou podem se originar das vibrações térmicas dos átomos em temperatura elevada, onde o incremento de energia térmica, ocasiona no aumento da probabilidade dos átomos individuais se afastarem de suas posições de menor energia. • Defeito Schottky - Ocasionado quando os átomos são inexistentes na posição regular. • Defeitos Intersticiais - Aprisionamento de átomos extras dentro de cristais em pontos intermediários entre as posições normais da rede. O defeito intersticial em metais puros é resultante do bombardeamento com partículas nucleares de alta energia, classificando danos por radiação. Caso o desvio seja localizado por regiões microscópicas do cristal, ele é denominado imperfeição da rede em decorrência de ele produzir descontinuidade na rede cristalina do sólido (44). • Defeito de linha - Identificado através das discordâncias em forma de linhas ou na forma de rede bidimensional e podem ser classificadas como; Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 41 – Discordância em arestas - Representa a aresta de um plano de átomos inseridos no interior do metal. – Discordância em espiral - Apresenta-se em forma helicoidal apresentado em átomos coordenados e distorcidos devido ao movimento de discordâncias. A discordância espiral pode ser examinada em um plano tridimensional do cristal. • Defeitos de planos - Evidenciado quando os defeitos de linha agrupam-se em um plano e podem ser classificados: – Defeito de fronteira - As imperfeições cristalinas podem se alongar similar a uma fronteira. Os átomos superficiais não estão relacionados ao número máximo de vizinhos mais próximos, e estão, portanto, em um estado de maior energia quando comparado aos átomos internos. A fronteira mais indicada para ocorrência de defeitos é a externa. – Contornos de grãos - Referenciando um material, como o cobre caracterizado como um condutor elétrico, onde dispõe de uma fase, sua constituição é provido de muitos cristais de variadas orientações. Por sua vez os cristais individuais são denominados de grãos, onde, a sua forma sólida é normalmente controlada pela presença dos grãos circunvizinhos. Internamente a cada grão, os átomos estão arranjados segundo um mesmo modelo e uma única orientação. Entretanto, no contorno de grão ou a zona que tangencia os grãos, existe uma zona de transição, na qual não está ordenado com nenhum dos grãos. Dessa forma considera o contorno de grão como sendo bidimensional, embora, na realidade, tenha uma espessura finita de 2 a 10 ou mais distâncias atômicas (39). A divergência na orientação dos grãos adjacentes produz um empacotamento menos eficiente dos átomos ao longo do contorno ou seja, os átomos ao longo do contorno têm uma energia mais elevada do que aqueles do interior dos grãos, assim, justificando a ação corrosiva acelerada nos contornos de grãos dos materiais expostos a agentes corrosivos quando submetidos a operação. 3.3 Fadiga Fadiga é um modo de falha mecânica ocasionada por ação periódica de carrega- mentos variáveis, tensão ou deformação. É caracterizada pelo surgimento de trincas que propagam-se, progressivamente e vagarosamente, posteriormente, motivando a falha e ruptura do material (45). O processo de fadiga é considerado um dos principais métodos de deterioração para ocorrência de falhas de sistemas estruturais e mecânicos, como vasos de pressão, reatores Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 42 nucleares e componentes. Estima-se que de 50 a 90% da falhas ocasionadas em estruturas metálicas sejam imputadas à fadiga (46). As fadigas podem ser ocasionadas por; • Carregamento e descarregamento; • Vibrações; • Compressão e descompressão; • Aquecimento e resfriamento, entre outros. Collins (1993) (46), investigou as falhas ocasionadas por fadigas e findou que o processo de fadiga alberga dois modos de controle: pela tensão e por deformação. 3.3.1 Fadiga por Tensão A fadiga controlada pela tensão é oriunda de uma falha quando um determinado material é sujeito à esforços comvariação no tempo, que a amplitude da tensão alternada (Equação 3.2) é aplicada, compreendida em um intervalo elástico. Segundo Meyers e Chawla (1982) (47) a fadiga pode ser definida como um fenômeno de ocorrência em estruturas submetidas a variação no carregamento ao longo do tempo, que a amplitude da tensão cíclica ocasiona deformações plásticas microscópicas que impacta diretamente na resistência do material ou no ocasionamento de uma fratura. Deste modo, a caracterização da fadiga por tensão é definida como a variação da tensão alternada entre os dois limiares. Esforços repetitivos em componentes mecânicos podem ocasionar tensões cíclicas, que por sua vez podem induzir a fadiga do material. Para definir alguns parâmetros de testes e ensaios, simulando a tensão em um material, será utilizado um espectro padrão, como demonstrado na Figura 13, em forma senoidal representando a alternância da tensão ao longo do tempo, de amplitude contante, média zero e frequência fixada, com definição pré estabelecidos de ciclos. Figura 13 – Tensão cíclica reversa (8). Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 43 Através da Figura 13 verificamos a SMax e SMin, respectivamente tensão máxima e mínima do ciclo, e os parâmetros de definição dos ciclos de fadiga: A tensão média (Sm), dado por: Sm = SMax + SMin 2 (3.1) A amplitude da tensão alternada (Sa), dado por: Sa = SMax − SMin 2 (3.2) A variação de tensão alternada (∆ S), dado por: ∆S = SMax − SMin (3.3) A razão da tensão em fadiga(Rf ) é exprimida por: Rf = SMin SMax (3.4) Por fim, a razão da amplitude (A), é exprimida por: Rf = Sa Sm = 1 −Rf1 +Rf (3.5) 3.3.2 Fadiga por Deformação A fadiga por deformação ou fadiga de baixo-ciclo é caracterizada pela deformação que varia entre as duas extremidades, ocasionadas por cargas cíclicas, provocando deforma- ções plásticas durante os ciclo, afetando a vida útil do material e reduzindo o quantitativo de ciclos de carga aplicadas repetidamente e de alta intensidade pelo qual o material em cargas moderadas poderia se manter inalterado (46). 3.3.3 Concentração de Danos O acúmulo ou concentração de danos pode ocasionar a nucleação e propagação de trincas no material até que ocorra a sua fadiga e ocasione a falha. As falhas podem ser inferida através de outras propriedades mecânicas e podem ser medidas através de ensaios mecânicos. Através dos ensaios mecânicos verifica-se pela curva de fadiga, ou curva S-N à vida total de um dado material (46). Essa metodologia é utilizada quando os níveis de tensão aplicada ao material são relativamente inferiores ao limite de escoamento do material. O método S-N empregado determina a vida do material ou o número de ciclos em que a falha pode ocorrer no material expressado por (N), em função da amplitude da tensão alternada (Sa) como demonstrado na Figura 14. Este método também pode ser conhecido por fadiga de alto ciclo ou fadiga em baixa tensão. Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 44 Determina-se a Curva S-N exercendo uma amplitude de tensão alternada no material até que ocorra a sua falha. Em observância a curva gerada, por exemplo, a Figura 14, verifica-se que quanto maior Sa aplicada ao material, menor será o número de ciclos em que o material irá suportar antes de alcançar a exaustão. Verifica-se na Figura 15 que para o aço a amplitude da tensão alternada mantêm-se em um limiar, chamado de limite de resistência a fadiga (Se). Quando os valores de tensão estiverem compreendidos abaixo deste limiar, não acarretará em falha (46). Figura 14 – Curva S-N materiais não ferrosos (9). Figura 15 – Curva S-N (Aço CC) (9). 3.4 Corrosão A corrosão possui características sob múltiplas situações, determinado pelo modo e exposição em que o material se encontra. É capaz de motivar um ataque destrutivo e Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 45 não intencional à degradação do material, ocasionando diversos modos de atenuação, a perda de massa e encolhimento, mudanças em propriedades mecânicas e físico-químicas do material, associada ou não a esforços mecânicos. As reações químicas de oxi-redução que consistem em ceder ou receber elétrons caracterizam o processo de corrosão devido a oxidação dos metais, isto é, o metal age como redutor, cedendo elétrons para uma substância, denominada oxidante, no meio corrosivo. A corrosão é um modo de desmantelamento do metal, agindo de modo progressivo através de sua superfície. A corrosão pode originar-se sob diferentes formas, localizada ou generalizada. Os principais modos de corrosão são apresentados considerando sua aparência, forma de ataque e diferentes causas e mecanismos (25). Assim pode-se ter os seguintes tipos de corrosão: 3.4.1 Corrosão Puntiforme (Pitting) A corrosão puntiforme, comumente conhecida como pitting, provavelmente uma das formas com maior capacidade destrutiva, devido a dificuldade de identificação, acarreta pequenos efeitos até ocorrer à falha, atuando de forma localizada e ocasionando uma pequena redução de peso da estrutura. Essa forma de corrosão penetra de forma superficial no interior do material, produ- zindo furos com formação de cavidades com profundidade superior ao diâmetro superficial do orifício se diferenciando da corrosão alveolar, que possui sua profundidade da corrosão menor em relação ao diâmetro da cratera formada. Pressupõe que a ação da gravidade intensifique os furos para baixo, consideravel- mente, concentrada e destrutiva conforme sua propagação. A presença de íons cloretos no ambiente, superfícies rugosas, trabalhos a frio e defeito superficial favorece o surgimento desse modo de corrosão. Foram observados em algumas amostras com superfície polida uma maior resistência se modo de corrosão, e verifica-se que a incorporação de aproximadamente 2% de molibdênio representa um incremento da resistência contra ação da corrosão desses aços (25). 3.4.2 Corrosão por Frestas A corrosão por fresta ocasiona produtos de corrosão que propicia a formação de aeração diferencial e a aglomeração de oxidantes. As corrosões por fresta ocorrem comumente quando há o contato de materiais metálicos com outros materiais de natureza orgânica como chapas arrebitadas, sendo um modo de corrosão grave devido a característica autocatalítica em resultado da acidificação em relação ao meio que se encontra o material (25). Capítulo 3. Mecanismos do Envelhecimento 46 A ocorrência da corrosão por frestas em uma chapa como demonstrado na Figura 16, é resultado da distinção da concentração dos íons dissolvidos na concentração eletrolítica entre as regiões contidas no seu emprego. Por consequência a corrosão ocorrerá na região com menor concentração, fato decorrente por exemplo, frestas com deposição de sujeira ou produtos de corrosão, onde preferencialmente há frestas largas suficientemente para que ocorra a penetração dos produtos de corrosão ou por solução. Os íons cloreto ou halogênicos se transformam em maiores contaminantes devido ao menor número atômico, que recorre a fácil absorção, e devido a sua facilitação ocorre o aumento da tensão superficial. Entretanto, verificamos a redução da pressão, resultando na produção da corrosão (10). Figura 16 – Corrosão por frestas no apoio da tubulação (10). A Corrosão por frestas pode ser prevenida por: • Permitir a limpeza periódica e ventilação para evitar a deposição e incrustações; • Fácil manutenção de junções; • Drenagem de fluídos acumulados; • Substituição por juntas soldadas em vez de aparafusadas e rebitadas; • Evitar frestas. 3.4.3 Corrosão Intergranular A corrosão intergranular ou intercristalina, ocorre entre os grãos da rede cristalina, sob certas condições ambientais e características específicas de algumas ligas. Os contornos se tornam muito reativos principalmente em aços inoxidáveis provocando a corrosão intergranular. Apresenta como principal característica a atenuação de suas propriedades mecânicas, ocasionando como resultado, a fratura do material ao ser submetido a esforços mecânicos. Uma determinada faixa crítica de temperatura