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E-BOOK DO I WORKSHOP DE GEOMORFOLOGIA E GEOARQUEOLOGIA DO
NORDESTE. VOL I.
Book · April 2017
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Zoneamento de Processos Morfodinâmicos para o Estado de Pernambuco: Banco de dados georreferenciado das áreas de ocorrência de erosão e deslizamentos de
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Fabrizio de Luiz Rosito Listo
Federal University of Pernambuco
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https://www.researchgate.net/profile/Fabrizio-Listo?enrichId=rgreq-13ee9c22c7c89bbde1642ebfbf2986b1-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMxNjMyMjA2ODtBUzo0ODU2MzM4NDkzMzU4MDhAMTQ5Mjc5NTU0MDUyMA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf
 
 
 
 
E-BOOK DO I WORKSHOP DE GEOMORFOLOGIA E GEOARQUEOLOGIA DO NORDESTE 
VOL I 
Copyright© Grupo de Estudos do Quaternário do Nordeste Brasileiro – GEQUA 
Texto© 2016 diversos autores 
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. 
Patrocinadores 
UFPE; PPGEO; PPGArq; GEQUA; FACEPE; INAPAS; MAP-UFPE; LMRI-DEN/UFPE; CAPES; CNPq 
Organizadores 
Fabrizio de Luiz Rosito Listo, Demétrio Mützenberg e Bruno de Azevedo Cavalcanti Tavares 
Projeto Gráfico 
Amanda de Azevedo Cavalcanti Tavares 
Editoração eletrônica 
Daniela Cisneiros e Larissa Monteiro Rafael 
Capa 
Amanda de Azevedo Cavalcanti Tavares 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E-book do I Workshop de Geomorfologia e Geoarqueologia do Nordeste. 
Volume I. Fabrizio de Luiz Rosito Listo, Demétrio da Silva Mützenberg, Bruno de 
Azevedo Cavalcanti Tavares (Orgs.). Recife: GEQUA, 2016. 268 f. 
 
Vários colaboradores 
ISBN: 978-85-922143-0-2 
 
1.Geomorfologia. 2.Geoarqueologia. 3.Quaternário. 4.Dinâmicas 
Superficiais. 5.Geotecnologias. 6.Paleoambientes. 7. Nordeste – Brasil. 
I.LISTO, Fabrizio. II.MUTZENBERG, Demétrio. III.TAVARES, Bruno. 
I WORKSHOP DE GEOMORFOLOGIA E GEOARQUEOLOGIA DO NORDESTE 
COMISSÃO ORGANIZADORA 
Antônio Carlos de Barros Corrêa 
Coordenador do Evento 
Departamento de Ciências Geográficas da UFPE 
 
Demétrio Mutzenberg 
Vice-Coordenador do Evento 
Departamento de Arqueologia da UFPE 
 
Bruno de Azevedo Cavalcanti Tavares 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Arqueologia da UFPE 
 
Daniel Rodrigues de Lira 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Geografia da UFS 
 
Daniela Cisneiros 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Arqueologia da UFPE 
 
Danielle Gomes da Silva 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Ciências Geográficas da UFPE 
 
Fabrizio de Luiz Rosito Listo 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Ciências Geográficas da UFPE 
 
Jonas Otaviano Praça de Souza 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Geografia da UFPB 
 
Kleython de Araújo Monteiro 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Geografia da UFAL 
 
Lucas de Souza Cavalcanti 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Ciências Geográficas da UFPE 
 
Osvaldo Girão da Silva 
Comissão Científica do Evento 
Departamento de Ciências Geográficas da UFPE 
 
 
SUMÁRIO 
A (DES) CONECTIVIDADE DA PAISAGEM EM AMBIENTE SEMIÁRIDO: BACIA DO RIACHO GRANDE, 
SERTÃO CENTRAL PERNAMBUCANO 13 
Joana D’arc Matias de Almeida, Antonio Carlos de Barros Corrêa, Jonas Otaviano Praça de Souza 
ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E COBERTURA DO SOLO DA ZONA COSTEIRA DE EXTREMOZ - 
RN, BRASIL (2006-2016) 23 
Ivaniza Sales Batista, Hudson Domingos Teixeira, Zuleide Maria Carvalho Lima, Joyce Clara Vieira 
Ferreira e Antônia Vilaneide Lopes Costa de Oliveira 
AS DEFICIÊNCIAS NA ABORDAGEM GEOMORFOLÓGICA NOS ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL 
NO ESTADO DA PARAÍBA E A BUSCA POR METODOLOGIAS APLICADAS AOS EMPREENDIMENTOS 
DE MINERAÇÃO 37 
Henrique Elias Pessoa Gutierres, Camilla Jerssica da Silva Santos, Jessika de Oliveira, Neles Rodrigues e 
Valdeniza Delmondes Pereira 
DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS HIDROLÓGICOS, MORFOMÉTRICOS E PROBLEMAS 
AMBIENTAIS EM SETOR URBANO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MUNDAÚ – MUNICÍPIO DE 
RIO LARGO (AL) 49 
John W. F. Marques, José H. M. da Silva, Damião S. Cordeiro, Roseildo F. da Silva e Genisson P. da Silva 
PLANALTOS RESIDUAIS DO RIO GRANDE DO NORTE: ASPECTOS TEÓRICOS E CARACTERIZAÇÃO 
FISIOGRÁFICA 57 
Jacimária Fonseca de Medeiros e Luiz Antonio Cestaro 
PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO DA ÁREA DO PROJETO GEOPARQUE CARIRI PARAIBANO 67 
Leonardo Figueiredo de Meneses e Bartolomeu Israel de Sousa 
ANÁLISE DA VULNERABILIDADE A PROCESSOS EROSIVOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO 
BEBERIBE 79 
José Fabio Gomes da Silva e Manuella Vieira Barbosa Neto 
ANÁLISE DO SISTEMA FLUVIAL FRENTE AO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NA BACIA DO RIO TEJIPIÓ 
– REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE 89 
Carla Suelania da Silva, Carlos de Oliveira Bispo, Sérgio Bernardes da Silva e Osvaldo Girão 
CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO TRAÍRAS COM O APOIO DE 
SIG 101 
Alexandre Herculano de Souza Lima e Ronaldo Missura 
MAPEAMENTO DAS UNIDADES LITOESTRATIGRÁFICAS E GEOMORFOLÓGICAS DO MUNICÍPIO DE 
SERRINHA DOS PINTOS-RN 107 
Jacimária Fonseca de Medeiros e Larissa Silva Queiroz 
DETECCIÓN DE MINERALES CON USO DE IMÁGENES LANDSAT 8 EN LA REGIÓN DE VALPARAÍSO, 
PROVINCIA DE LOS ANDES, COMUNA DE SAN ESTEBAN, LUGAR CAMPOS AHUMADA ALTO – CHILE
 117 
Nathaly Grau Perez, Keyla Manuela Alencar da Silva Alves e Juan Toledo Ibarra 
INVENTÁRIO DE ESCORREGAMENTOS RASOS EM ÁREAS URBANAS E PARÂMETROS 
TOPOGRÁFICOS: UMA ANÁLISE INICIAL NO BAIRRO DE NOVA DESCOBERTA, RECIFE (PE) 129 
John KennedyRibeiro de Santana, Ana Márcia Moura da Costa, Victor da Silva Santa Rosa, Maria Rafaela 
da Silva Cruz e Fabrizio de Luiz Rosito Listo 
FEIÇÕES COSTEIRAS: ATRATIVOS PARA O GEOTURISMO COMO APLICABILIDADE PARA A 
GEOCONSERVAÇÃO 137 
Brenda Rafaele Viana da Silva e Elisabeth Mary de Carvalho Baptista 
ANÁLISE FISIOGRÁFICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIACHO DO PONTAL-PE 145 
Pedro Barbosa de Souza, Paulo Lucas Cândido Farias, Joaquim Pedro de Santana Xavier; Victor Pina 
Figueiredo e Arthur Felipe de Melo Teixeira 
COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA-ESTRUTURAL DE CAMPINA GRANDE- PB: UMA 
RELAÇÃO ENTRE FEIÇÕES DO MODELADO E PADRÕES DE DRENAGEM ATRAVÉS DA 
FOTOINTERPRETAÇÃO 153 
Jônatas Nascimento da Costa e Sérgio Murilo Santos de Araújo 
PROPRIEDADES MORFOMÉTRICAS COMO INDICATIVO DE SUBSIDÊNCIA E CRIAÇÃO DE ESPAÇOS 
DE ACUMULAÇÃO SEDIMENTAR NO OESTE PERNAMBUCANO 163 
Drielly Naamma Fonsêca, Bruno Araújo Torres, Daniel Rodrigues de Lira, Rhandysson Barbosa Gonçalves 
e Antonio Carlos de Barros Corrêa 
ANÁLISE DOS ÍNDICES RDE NA BACIA DO RIO MAMANGUAPE, PARAÍBA 177 
Rhandysson Barbosa Gonçalves, Drielly Naamma Fonsêca eAntônio Carlos de Barros Corrêa 
ANÁLISE MORFOESTRUTURAL PRELIMINAR DO RELEVO A PARTIR DA APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE 
HACK: UM ESTUDO DE CASO NO MACIÇO DE JOÃO DO VALE (RN-PB) 189 
George Pereira de Oliveira, Bruno de Azevedo Cavalcanti Tavares, Clístenes Teixeira Batista e Marco Túlio 
Mendonça Diniz 
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS LINEAMENTOS NO MACIÇO ESTRUTURAL DE ÁGUA BRANCA/AL 
UTILIZANDO O SOFTWARE MICRODEM 201 
Larissa Furtado Lins dos Santos, Ítalo Rodrigo Paulino de Arruda, Rhaissa Francisca Tavares de Melo e 
Danielle Gomes da Silva 
EXTRAÇÃO DE LINEAMENTOS DE RELEVO PARA INTERPRETAÇÃO MORFOESTRUTURAL DA BACIA 
DO RIO PARAÍBA DO MEIO 211 
Priscilla Emmanoelle Claudino da Silva, João Paulo da Hora Nascimento, Paulo de Tarso Barbosa Leite, 
Kadja Monaysa Mendonça de Paula e Kleython de Araújo Monteiro 
MAPEAMENTO DOS LINEAMENTOS DE DRENAGEM E DE RELEVO COMO CONDICIONANTES NA 
COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE SALGUEIRO – PE 217 
Viviane Trajano da Silva, Ítalo Rodrigo Paulino de Arruda, Débora Albuquerque Meira Coelho Ramos, 
Danielle Gomes da Silva 
DINÂMICA COSTEIRA E REGISTRO ARQUEOLÓGICO NA PRAIA DE JERICOACOARA, JIJOCA DE 
JERICOACOARA – CEARÁ – BRASIL 227 
Verônica Viana, Thalison dos Santos, Cristiane Buco e João Moreira Cavalcante 
GEOFÍSICA APLICADA À ARQUEOLOGIA HISTÓRICA: UM BREVE ESTUDO DE CASO NO ENGENHO 
INHAMÃ, IGARASSU, PERNAMBUCO, BRASIL 241 
Carlos Magnavita, Luiz Severino da Silva Jr, Demétrio Mutzenberg, Bruno Tavares e Cláudia Oliveira 
RECONSTITUIÇÃO PALEOAMBIENTAL RECENTE (HOLOCENO) DA LAGOA URI DE CIMA 
(SALGUEIRO, PE): UMA CONTRIBUIÇÃO DA PALEONTOLOGIA 257 
Andrea Maria Francesco Valli e Demétrio Mutzenberg 
 
 
 
 
PREFÁCIO 
Ao longo de quatro dias do mês de dezembro de 2016, o Grupo de Estudos do Quaternário do 
Nordeste Brasileiro (GEQUA) conjuntamente com o Programa de Pós-Graduação em 
Geografia (PPGEO), o Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e os Departamentos de 
Ciências Geográficas (DCG) e de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco 
(UFPE) promoveram o I Workshop de Geomorfologia e Geoarqueologia do Nordeste. Embora 
essa sobreposição temática seja largamente reconhecida pelos acólitos das pesquisas sobre o 
Quaternário, arqueologia da paisagem e dinâmica dos sistemas de superfície terrestre ainda não 
ocorrera no Nordeste do Brasil um fórum comum entre essas áreas voltado para a discussão e 
compartilhamento de pontos de vista teóricos, metodológicos e procedimentais. Desta forma, 
este volume surge como parte do registro das contribuições apresentadas durante o Evento, no 
qual se buscou construir pontes entre essas ciências sabidamente afins mediante a promoção de 
oficinas dialógicas abrangendo um conjunto de áreas tais como a geografia física, a 
geomorfologia, a geofísica, a geologia, além da geoarqueologia e seus múltiplos enfoques. 
Os frutos dos trabalhos de pesquisa reunidos neste e-book representam um espelho das práticas 
acadêmico-científicas contemporâneas dos profissionais do Nordeste brasileiro nas áreas 
supracitadas. Como em um panóptico ora debruçado sobre a observação dos esforços de 
investigação de profissionais, acadêmicos e diversos grupos de estudo, compila-se neste volume 
esforços de pesquisa que transitam entre as abordagens já tradicionais, como as voltadas ao 
estabelecimento de inventários fisiográficos, àquelas ainda em vias de difusão e preocupadas 
com a aferição de processos ou testagem de novas narrativas teóricas sobre a paisagem; como 
o conceito de conectividade para a compreensão das morfologias de estocagem e transmissão 
de sedimentos em modelados de agradação. 
Destacam-se dentre as contribuições um resgate sui generis de pontos de vista analíticos sobre 
a dinâmica dos sistemas físicos de superfície que, ao aparentemente contraporem tempo e 
dinâmica, clima e tectônica, bacia hidrográfica e paisagem, de fato nos oferecem uma gama de 
opções de escolha dentre o estado-da-arte dos métodos e técnicas atualmente disponíveis para 
o tratamento e apresentação da informação geoespacial. 
Assim, embora sem pretender esgotar o cotejamento das linhas de trabalho correntes na região 
com aquelas já consolidadas sobretudo pela literatura formativa, livros texto e manuais, esse 
volume nos serve antes de mais nada como apontamento para a compreensão dos rumos que 
vêm sendo perseguidos pela pesquisa e eventuais lacunas que ainda se fazem presentes, e cuja 
confrontação, por parte daqueles que se engajam na pesquisa na interface entre as ciências ditas 
da terra e as humanidades, seja premente para os avanços futuros. Ainda em uma era na qual o 
status quo da pesquisa científica reflete uma profissão de fé sobre os paradigmas vigentes e em 
desuso, a possibilidade de se debruçar sobre a ciência que se pratica em uma região em um dado 
recorte de tempo constitui um exercício válido para o avanço do conhecimento e sua continuada 
aferição. Boa leitura. 
Antonio Carlos de Barros Corrêa 
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE 
 
 
 
A (DES) CONECTIVIDADE DA PAISAGEM EM AMBIENTE 
SEMIÁRIDO: BACIA DO RIACHO GRANDE, SERTÃO CENTRAL 
PERNAMBUCANO 
Joana D’Arc Matias de Almeida, Antonio Carlos de Barros Corrêa, Jonas 
Otaviano Praça de Souza 
 
INTRODUÇÃO 
As atividades antrópicas constituem-se 
elementos de destaque na modificação do 
caráter e comportamento do sistema fluvial, 
portanto, intervenções por meio de projetos 
de gestão fluvial somam esforços para 
minimizar os seus crescentes impactos. Tais 
medidas devem considerar a compreensão 
do comportamento desses sistemas em sua 
complexidade. Neste âmbito, a 
geomorfologia fluvial tem se destacado por 
sua aplicabilidade nos estudos atrelados ao 
planejamento e gestão ambiental, de modo 
integrador, considerando as diversas 
relações e dinâmicas da paisagem através 
do papel dos rios na sua modelagem, a partir 
de análises em diferentes escalas espaciais e 
temporais dentro da perspectiva de 
sistemas. 
Assim, utiliza-se a abordagem de sistemas 
complexos para elucidar a dinâmica dos 
sistemas fluviais, sobretudo no que se refere 
à transferência de fluxos e sedimentos 
dentro de uma bacia (Bracken et al., 2015). 
Nesta perspectiva, Brunsden & Thornes 
(1979) inserem a ideia de conectividade na 
geomorfologia com base na aplicação aos 
sistemas fluviais a partir da postulação do 
conceito de sensitividade da paisagem, 
nesta a ideia de ligação é proposta com base 
na ideia de resistência do sistema. Assim, o 
sistema pode permanecer ligado (coupled), 
quando há livre transmissão de energia e 
matéria entre os seus compartimentos; 
desligado (decoupled), quando a 
transmissão é interrompida 
temporariamente devido à existência de 
alguma forma de barramento/impedimento, 
que pode vir a ser rompido; e nãoligado 
(not coupled), quando não há ligação entre 
os compartimentos do sistema, em razão de 
descontinuidades entre os processos 
(Harvey, 2002; Souza, 2014). Deste modo, 
a conectividade da paisagem é entendida 
como a possibilidade de interação de 
energia e matéria entre os compartimentos 
que a integram. 
A conectividade da paisagem como o 
controle primário entre os fluxos de água e 
sedimento em bacias fluviais apresentam 
distintas ligações determinadas por 
diferentes processos em cada 
compartimento do sistema. As ligações 
podem ser trabalhadas em diferentes escalas 
14 
 
espaciais, podendo ser locais, zonais ou 
regionais. A escala local compreende as 
ligações dentro de uma ou entre duas zonas 
adjacentes no sistema fluvial, estando 
relacionada às interações entre as ligações 
internas das encostas, entre a encosta e o 
canal, os tributários e o canal principal e as 
ligações no próprio canal. Atribuem-se as 
ligações zonais às relações entre duas zonas 
do sistema fluvial; e as ligações regionais 
aos elementos que afetam todo o sistema 
(Souza, 2014). Portanto, os controles nas 
ligações locais estão relacionados a 
mudanças ambientais que afetam a 
transmissão, enquanto que na escala zonal, 
o controle é exercido por mudanças 
climáticas, alterando o nível de base, 
enquanto na escala regional os controles são 
de ordem tectônica (Harvey, 2002). Logo, 
compreendem-se as ligações a partir de três 
dimensões espaciais: ligações longitudinais 
(entre a rede de canais), laterais (entre a rede 
de canais e encosta) e verticais (superfície e 
sub-superfície). Estas ligações podem ser 
interrompidas por diferentes bloqueios: os 
buffers, barriers, blankets; ou 
impulsionadas através dos boosters, que são 
feições que podem impulsionar a 
transmissão de energia e matéria numa 
bacia fluvial. Estes 
bloqueios/impedimentos tratam-se de 
feições geomorfológicas naturais e/ou 
antrópicas, que dificultam a conexão de 
fluxo e sedimento entre os compartimentos 
do sistema fluvial. O entendimento da 
dinâmica e dos processos fluviais que 
geram estas formas auxilia na solução de 
problemas relacionados ao transporte e 
deposição de sedimentos, contribuindo à 
gestão de recursos hídricos e ambientais em 
âmbito local, sobretudo em regiões 
semiáridas, em que o fluxo de água e 
sedimentos na rede de canais é influenciado 
pela conectividade da paisagem. 
Tal que, Souza (2014) destaca a 
complexidade de trabalhar a conectividade 
da paisagem em ambientes semiáridos, 
devido aos reduzidos eventos chuvosos 
capazes de fornecer fluxo de escoamento 
superficial, e por consequência o transporte 
de água e sedimentos. O autor discorre 
sobre o modo como os impedimentos 
determinarão a capacidade de cada 
compartimento do sistema transmitir o 
fluxo por determinado intervalo de tempo, 
considerando que mudanças na distribuição 
e características dos impedimentos 
provocam alterações na transmissão de 
fluxo de sedimentos (Souza, 2014). Em 
vista disso, a aplicação de estudos que 
tenham a conectividade da paisagem como 
foco de análise em regiões de terras secas, 
como o semiárido nordestino, faz-se 
necessária para a eficácia do gerenciamento 
e planejamento dos recursos hídricos, 
compreendendo a dinâmica e a 
complexidade do sistema fluvial, sobretudo 
no que se refere à transmissão de fluxo e 
sedimentos, e identificação de ambientes de 
retenção de sedimentos. Neste sentido, 
estudos têm sido desenvolvidos no 
semiárido brasileiro por diversos autores, 
tais como Souza (2011), Souza e Corrêa 
(2012), Souza (2014), Almeida & Corrêa 
(2014), Barros et al. (2014) e Almeida, 
Souza e Corrêa (2016). 
Pensando nisso, aplicou-se tal abordagem a 
bacia do Riacho Grande, com área de 316 
km², situada na microrregião do Pajeú, 
Sertão Central Pernambucano, visando dar 
destaque a aplicação de estudos que tenham 
a conectividade da paisagem como foco de 
análise em regiões de terras secas, como o 
semiárido nordestino, ressaltando a 
necessidade de tais estudos para a eficácia 
do gerenciamento e planejamento dos 
recursos hídricos, compreendendo a 
dinâmica e a complexidade do sistema 
fluvial, sobretudo no que se refere à 
transmissão de fluxo e sedimentos, e 
identificação de ambientes de retenção de 
sedimentos. 
ÁREA DE ESTUDO 
A Bacia do Riacho Grande, com área de 316 
km², situa-se na microrregião do Pajeú, 
Sertão de Pernambuco, englobando em 
15 
 
partes os municípios de Serra Talhada, 
Calumbi e Flores (Almeida, Souza & 
Corrêa, 2016). A bacia do Riacho Grande 
está inserida entre o contexto das seguintes 
unidades de paisagem: Depressão 
Interplanáltica do Pajeú e Horst de 
Mirandiba (Figura 1). 
A Depressão Interplanáltica do Pajeú, que 
se desenvolve como uma depressão 
alongada para nordeste está confinada entre 
os Maciços Remobilizados do Domínio da 
Zona Transversal e a Encosta Ocidental do 
Planalto da Borborema (Corrêa et al., 
2010). Neste compartimento de aspecto 
aplainado instalou-se a bacia do Rio Pajeú, 
ao qual se encontra inserida a bacia do 
Riacho Grande, como um de seus 
tributários. O aspecto aplainado dá destaque 
aos maciços residuais, que são distribuídos 
nesta unidade de paisagem com aspecto de 
cristas alongadas (plútons Terra Nova, Suíte 
Intrusiva Tipo Itaporanga, Recanto/Riacho 
do Forno, Suíte Intrusiva Prata), seguindo 
os controles estruturais da Zona de 
Cisalhamento Afogados da Ingazeira de 
direção NE-SW e falhamentos com sentido 
E-W (Sampaio, 2005). 
Nesta unidade desenvolvem-se atividades 
agropecuárias, sobretudo aquelas voltadas à 
subsistência, com a distribuição de 
pequenos sítios, que aproveitam as áreas de 
plaino aluvial para o cultivo de lavouras de 
ciclo curto. Diante da semiaridez na região, 
o desenvolvimento dessas atividades é 
propiciado pela instalação de pequenas 
barragens e perfuração de poços rasos. 
 
Figura 1: Unidades de Paisagem na Bacia do Rch. Grande. 
 
O Horst de Mirandiba é representado na 
paisagem como um remanescente 
sedimentar formado por arenitos da 
Formação Tacaratu – Bacia de Fátima. 
Portanto, predominantemente arenoso, 
apresenta um alto potencial hidrogeológico, 
constituindo o principal sistema aquífero 
intersticial da bacia. Nesta unidade de 
paisagem, o uso restringe-se ao 
desenvolvimento da caatinga arbustiva. 
16 
 
MATERIAIS E MÉTODOS 
A metodologia e os procedimentos 
metodológicos do presente trabalho foram 
fundamentados com o objetivo de 
identificar os elementos de desconexão da 
paisagem na bacia do Riacho Grande. 
Assim, as etapas metodológicas foram 
sistematizadas em: mapeamento 
geomorfológico de detalhe, mapeamento de 
uso e cobertura da terra, e por fim, 
mapeamento da conectividade da paisagem. 
Mapeamento Geomorfológico de Detalhe 
Esta etapa consiste na identificação da 
morfologia e morfometria das formas de 
relevo, introduzindo a declividade ao 
mapeamento e deste modo integrando a 
análise qualitativa com dados quantitativos 
importantes na avaliação dos processos 
geomorfológicos (Rodrigues & Brito 2000). 
Neste mapeamento são considerados 
também os fatores antropogênicos que 
modificam formas e processos vigentes na 
área, contribuindo com fluxos de energia e 
matéria ao sistema. O mapeamento utilizou 
dados de Modelos Digitais de Elevação 
(MDE) e dados secundários, como mapa 
geológico, perfis topográficos, curvas de 
nível, declividade, além de informações 
obtidas nos trabalhos de campo e a partir de 
imagens de alta resolução como as dos 
satélites Quickbird e RapidEye, essas 
cedidas pela Universidade Regional do 
Cariri (Urca) em convênio com o Ministério 
do Meio Ambiente. O tratamento dos dados 
foi realizado por meio do uso do SIG Arcgis 
10.1, em escala de 1:25.000, seguindo o 
Manual da UGI (União Geográfica 
Internacional) (Demek, 1972). Apesar deste 
trabalhonão seguir todos os parâmetros 
descritos no manual, como legenda e padrão 
hierárquico, de acordo com Lima et al., 
2015, é importante tê-lo como um guia para 
universalizar algumas questões básicas do 
mapa geomorfológico descrito adiante. 
O manual de mapeamento geomorfológico 
de detalhe (Demek, 1972) é fruto de 
pesquisas da Comissão de pesquisa e 
mapeamento geomorfológico, da União 
Geográfica Internacional (UGI). De acordo 
com esta proposta, um mapeamento 
geomorfológico de detalhe pode ser 
caracterizado com escalas entre 1:25.000 e 
1:50.000, ou mesmo 1:100.000 em regiões 
com poucas informações. Nesta proposta, o 
conteúdo do mapa geomorfológico de 
detalhe deve apresentar: a) propriedades 
morfológicas e morfométricas, tal como 
tamanho, forma, declividade, rugosidade 
etc; b) estrutura material/ tipo de rocha e 
arranjo das formas; c) processos dinâmicos 
que condicionam outros atributos (Lima et 
al., 2015). 
Mapeamento da dinâmica de uso e 
cobertura da terra 
O mapeamento em questão teve por 
objetivo identificar a atual configuração do 
uso da terra nas áreas consideradas neste 
trabalho, de modo a identificar a 
contribuição dos diferentes padrões de uso 
sobre a produção de sedimentos. Para isto, 
essa etapa conta com uma base de dados de 
campo obtidos com o auxílio de GPS (GPS 
Garmim Etrex Vista Hcx, e o GPS 
topográfico PRO-XH –Trimble), como 
também imagens Quickbird (período de 
junho/2013 a setembro/2014, resolução 
espacial de 2,4 m) e RapidEye (período de 
maio/2013 a agosto/2013, resolução 
espacial de 5 m), essas cedidas pela 
Universidade Regional do Cariri (Urca) em 
convênio com o Ministério do Meio 
Ambiente. 
O tratamento dos dados realizou-se a partir 
do SIG Arcgis 10.1, em escala de 1:10.000. 
Uma das especificidades é usar imagens de 
diferentes períodos do ano, para que seja 
possível identificar as diferenças intra-
anuais de uso, como a relação cultura de 
ciclo curto, pasto e solo nu, que ocorre em 
grande parte das áreas utilizadas na bacia 
(Souza, 2011), focando nos usos que afetam 
diretamente o fornecimento de sedimento 
no sistema. O mapeamento seguiu o padrão 
17 
 
de legenda da Fao (Food and Agriculture 
Organization of the United Nations). 
No presente trabalho optou-se por adaptar a 
legenda da Organização das Nações Unidas 
para Alimentação e Agricultura (Fao) em 
virtude desta atender melhor ao nível de 
detalhamento para cada modalidade de 
classificação, além de sua plasticidade 
tipológica. A legenda do mapeamento de 
uso e cobertura da terra é definida pela 
Organização das Nações Unidas para a 
Agricultura e Alimentação pelo critério 
funcional, ou seja, considera-se que o 
conceito de uso está relacionado à 
finalidade para a qual a terra é usada pela 
população local (Fao, 1995). 
A adaptação à legenda da FAO se deu a 
posteriori (Quadro 1). A priori foram 
definidas as classes a serem mapeadas 
seguindo o nivelamento sistemático de 
classes de uso e cobertura da terra da Fao 
(Fao, 2005), a partir do conhecimento 
prévio da área de estudo, e em seguida fez-
se as adaptações a partir das classes 
identificadas e reconhecidas em trabalho de 
campo, realizado em novembro/2015 e 
maio/2016. 
Quadro 1: adaptação da legenda de uso e cobertura 
da terra da FAO para a bacia do Riacho Grande 
 
Mapeamento de Conectividade da 
Paisagem 
O mapeamento da conectividade da 
paisagem consistiu em identificar os 
elementos naturais ou artificiais que 
influenciam na transmissão de energia e 
matéria entre os compartimentos da 
paisagem, tanto impedindo ou diminuindo o 
fluxo, quanto incrementando-o (Fryirs, 
2007b). Esses elementos são divididos em 
quatro tipos: buffers, barriers, blankets e 
boosters (Fryirs, 2007b). A identificação 
destes elementos desconectantes se 
realizou, inicialmente a partir dos dados de 
declividade, do mapa geomorfológico e do 
mapeamento da dinâmica de uso e cobertura 
da terra (Fryirs, 2007a). Posteriormente 
foram incluídas na análise, elementos e 
informações obtidas em trabalhos de 
campo. 
RESULTADOS E DISCUSSÕES 
A dinâmica da paisagem muito está atrelada 
às interações entre os elementos naturais e 
aos usos antrópicos em apropriação, 
influenciando a modificação dos processos 
(erosivos e deposicionais), e suas 
morfologias resultantes. Nesse sentindo 
insere-se a perspectiva da conectividade da 
paisagem, que relaciona as diferentes 
interações nos usos e a cobertura da terra, 
capazes de gerar impedimentos na livre 
circulação de energia e matéria entre os 
compartimentos da paisagem. 
Pensando na proposta dos elementos 
capazes de impedir a transmissão de fluxo e 
sedimento entre o sistema, mapearam-se 
inicialmente os diferentes padrões de uso e 
cobertura da terra (Figura 2), buscando 
identificar os elementos que compõem a 
paisagem atual e entre eles, os bloqueios 
naturais ou antrópicos na bacia do Riacho 
Grande. 
Entre os elementos que compõem e afetam 
a dinâmica da paisagem na bacia, 
predominam as áreas de vegetação 
arbustiva, que se apresentam esparsas, com 
espécies caducifólias, típicas da região 
semiárida do Nordeste, que em períodos de 
estiagem apresentam-se desnudas, 
denominando-se de “matas-branca” 
(Maciel & Pontes, 2016). Em exceção 
encontram-se as manchas de vegetação 
arbustiva densa, que ocorrem nas áreas mais 
18 
 
elevadas da bacia. Este tipo de vegetação 
ocupa a maior porção da área total da bacia, 
enquanto a vegetação do tipo arbórea 
representa a menor área, essencialmente 
representada pelas espécies frutíferas nos 
pequenos assentamentos rurais e ou como 
ornamentação nas vilas e distritos. A 
vegetação herbácea corresponde às áreas 
em regeneração ou em períodos de pousio. 
Estas áreas também são muito utilizadas 
para pastagem. 
A cobertura vegetal mantém um 
significativo papel na estabilização do solo 
frente aos processos erosivos, conservando 
as encostas e margens dos canais fluviais. 
Contudo, na bacia do Riacho Grande, as 
margens dos rios encontram-se voltadas às 
atividades agropecuárias, com exposição do 
solo, sobretudo ao longo do canal principal 
e seus tributários, devido ao aproveitamento 
da água armazenada em subsuperfície em 
leito arenoso, o que resulta na 
remobilização dos sedimentos encosta-
canal e no entulhamento das confluências. 
Por tratar-se de uma bacia fluvial 
exclusivamente rural, as atividades 
agropecuárias são responsáveis pela 
dinâmica econômica na área, portanto as 
áreas de solo exposto devem-se ao 
desenvolvimento de atividades como o 
preparo do solo às lavouras de ciclo curto e 
criação de animais de médio a pequeno 
porte. 
 
 Figura 2: Uso e cobertura da terra, Bacia do Riacho Grande, PE. 
 
Apesar da menor proporção, destaca-se na 
bacia a extração mineral. Localizada entre 
os maciços residuais, a mineração de 
granito para britagem, contribui à 
intensificação dos processos erosivos 
locais, com a supressão da vegetação 
natural, modificando o aporte de 
sedimentos carreados pelos canais, 
alterando, do ponto de vista ambiental, a 
qualidade dos recursos hídricos 
superficiais. 
O mapeamento de uso e cobertura da terra 
forneceu a base primordial para a 
19 
 
identificação dos elementos de desconexão, 
juntamente com os mapas de declividade e 
geomorfológico, tendo em vista a ideia 
central proposta pela abordagem da 
conectividade da paisagem, 
complementando os dados enfatizados por 
Almeida, Souza e Corrêa (2016). 
À vista disso, foram identificados os 
seguintes elementos de desconexão (Figura 
3): as planícies de inundação e tributários 
aprisionados, como bloqueios naturais; 
barramentos (barragens), aglomerados de 
distritos, vilas e povoados, rodovias 
pavimentadas e não pavimentadas, e 
ferrovia (Transnordestina), como bloqueios 
antrópicos. 
 
 
Figura 3: Elementos de desconexão, Bacia do RiachoGrande, PE. 
 
Notou-se, principalmente, a expressiva 
quantidade de barragens ao longo da bacia 
do Riacho Grande, constituindo as formas 
de impedimento responsáveis pelas maiores 
alterações nos processos de transmissão 
dentro da bacia. As mesmas atuam como 
impedimentos longitudinais (barriers), 
impedindo a livre circulação do fluxo entre 
o canal principal e os tributários, rompendo 
a conexão entre canais (interação canal 
principal-tributário). Esses barramentos são 
frequentes nos canais tributários, e sua 
construção dá-se pela urgência em medidas 
alternativas de abastecimento de água para 
a manutenção das lavouras e para pecuária 
diante da escassez hídrica no Semiárido 
nordestino. Por se tratarem de modelos 
rústicos, sem o devido aparato estrutural e 
tecnológico, são bastante comuns durante 
os eventos de alta magnitude os 
rompimentos destas barragens, alterando o 
cenário de conectividade dentro da bacia 
(Almeida, Souza & Corrêa, 2016). Uma 
exceção a este cenário são as barragens de 
concreto, como a construída ao longo do 
Riacho Grande (Figura 4). 
20 
 
 
Figura 4: Barragem de concreto, canal principal – 
Riacho Grande. 
Em relação à transmissão de fluxo, as 
barragens de concreto interrompem quase 
drasticamente o fluxo de sedimento de 
fundo, depositando-os em planície de 
inundação à montante, bem como 
contribuindo para o incremento dos 
processos erosivos à jusante do barramento. 
As estradas, pavimentadas ou não, estão 
entre os impedimentos longitudinais 
(barriers) e laterais (buffers), ora 
impedindo a transferência entre o fluxo de 
sedimentos na própria rede de canais, ora, 
impedindo os sedimentos de alcançarem os 
próprios canais, quando provenientes das 
encostas. No decorrer dos eventos de baixa 
magnitude, quando o fluxo não tem 
competência suficiente para ultrapassá-las, 
o sedimento fica retido nas laterais das 
estradas, ou seguem-nas paralelamente 
modificando a rede de canais (Almeida, 
Souza & Corrêa, 2016). No caso da rodovia 
federal BR-232, a mesma constitui um 
elemento de desconexão permanente, 
devido à impossibilidade de rompimento e 
livre circulação canal-canal/encosta-canal 
imposta pela solidez da construção, mesmo 
em eventos de alta magnitude, o que resulta 
no entulhamento dos sedimentos sob as 
pontes e nas suas laterais. Assim como as 
estradas, a ferrovia Transnordestina insere-
se como elemento de desconexão 
longitudinal/lateral, alterando a dinâmica 
entre a rede de canais. 
Os aglomerados populacionais foram 
incluídos no mapeamento de conectividade 
da paisagem, pois os mesmos atuam de 
forma diferenciada na transmissão de 
energia e matéria no sistema de drenagem, 
alterando a morfologia natural dos rios, do 
relevo e das relações entre superfície e 
subsuperfície, devido à impermeabilização 
dos solos. Portanto, os aglomerados 
humanos atuam nas três esferas de 
conectividade. Trata-se de impedimentos 
laterais, devido à modificação entre a 
transferência encosta-canal, através de 
obras para a viabilização das mesmas, 
alterando a morfologia das encostas, 
modificando também a relação escoamento 
superficial e infiltração de água no solo e a 
obstrução dos cursos naturais. Essas 
morfologias construídas podem atuar ainda 
como impedimentos longitudinais, como no 
caso da instalação de vias de acesso, e 
mesmo como impedimentos verticais, com 
a diminuição da capacidade de infiltração 
de água no solo, devido à ampliação de 
atividades que vedam a camada superficial, 
evitando a livre circulação superfície-
subsuperfície, reduzindo, portanto a oferta 
de água aos aquíferos aluviais livres. 
Os elementos de desconexão naturais 
correspondem a formas deposicionais, e se 
localizam ao longo do canal principal e nas 
confluências entre os tributários. Tratam-se 
das planícies de inundação e dos tributários 
aprisionados. Ambos se formam a partir dos 
processos agradacionais relacionados à 
dinâmica do próprio canal fluvial ou entre o 
canal e a encosta. 
As planícies de inundação representam as 
formas deposicionais geradas a partir do 
extravasamento do fluxo, presentes em 
canais parcialmente confinados e 
lateralmente não confinados. Entre os 
canais lateralmente não confinados, 
encontram-se os vales preenchidos 
conservados (Figura 5). De aparência 
aplainada, têm seu processo evolutivo 
relacionado à alternância entre fases de 
preenchimento e incisão. Seu 
preenchimento está relacionado, além da 
transmissão de sedimentos entre canais, à 
transferência de materiais das encostas. 
21 
 
 
Figura 5: Vale preenchido conservado, Foz do 
Riacho Grande, PE. 
Os tributários aprisionados, como barriers, 
ocorrem quando da deposição de 
sedimentos na confluência entre canais, 
entulhando o exutório dos canais 
tributários. Na bacia do Riacho Grande, dos 
36 tributários diretos ao canal principal, 16 
encontram-se aprisionados. Parte disso se 
deve à relação entre a energia do fluxo e a 
sedimentação à montante das planícies de 
inundação no canal principal, ou devido à 
acreção de diques marginais, ou ainda a 
controles estruturais. 
Apesar de interromperem a conexão entre 
os diferentes compartimentos na paisagem, 
considerando os impedimentos naturais 
como formas deposicionais que retém o 
fluxo de água e sedimento, esses constituem 
elementos da paisagem relevantes ao 
abastecimento alternativo de pequenas 
comunidades rurais, a partir da utilização 
desses depósitos para a perfuração de poços 
rasos, aproveitando a oferta de água 
acumulada em subsuperfície. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A proposta da conectividade da paisagem, 
dentro da geomorfologia fluvial, apresenta 
elevado potencial na aplicabilidade aos 
estudos atrelados ao gerenciamento de 
pequenas bacias hidrográficas, sobretudo 
no Semiárido Nordestino, que necessita de 
novas metodologias que garantam a 
compreensão da complexidade de seus 
processos geomorfológicos locais 
influenciando na real oferta de transferência 
de água e sedimentos ao longo dos canais. 
Tal estudo aplicado a Bacia do Riacho 
Grande foi de suma importância na 
identificação dos elementos de desconexão, 
muito influenciados pelos processos 
erosivos e deposicionais impulsionados 
pelo desenvolvimento das atividades 
antrópicas na região. A identificação desses 
elementos permite também assinalar as 
áreas de grande retenção de sedimentos, que 
apresentam potencial ao abastecimento 
alternativo de água com a possibilidade de 
perfuração de poços rasos e instalação de 
barragens subterrâneas. Para isso, são 
necessários estudos mais detalhados e que 
sejam direcionados para este fim. Porém, o 
que se pode garantir é que a proposta da 
conectividade da paisagem tem total 
eficácia na identificação de tais depósitos, e, 
portanto, pode ser utilizada como uma 
primeira etapa de trabalho, buscando não 
apenas a identificação dos depósitos 
aluviais, mas também dos elementos que 
contribuem ou não para a conectividade 
entre os compartimentos da paisagem, 
compreendendo a totalidade do sistema 
fluvial, e não apenas ao que se restringe aos 
usos da água. 
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ANÁLISE MULTITEMPORAL DO USO E COBERTURA DO SOLO 
DA ZONA COSTEIRA DE EXTREMOZ - RN, BRASIL (2006-2016) 
Ivaniza Sales Batista, Hudson Domingos Teixeira, Zuleide Maria Carvalho Lima, 
Joyce Clara Vieira Ferreira e Antônia Vilaneide Lopes Costa de Oliveira 
 
INTRODUÇÃO 
Configurado na interface entre o oceano, 
continente e atmosfera, o ambiente costeiro 
constitui-se como um espaço bastante 
dinâmico e diverso, proporcionando 
condições ideais para o abrigo e 
desenvolvimento de distintas espécies 
faunísticas e florísticas. Trata-se de áreas 
significativamente instáveis e de elevada 
fragilidade natural, com feições 
geomorfológicas diversificadas e em 
permanente processo de (re) modelagem de 
suas formas, gerando configurações 
paisagísticas variadas ao longo da costa. 
As distintas formas de uso e cobertura do 
solo nesses espaços têm corroborado no 
crescente desencadeamento de mudanças na 
paisagem, bem como, na dinâmica do 
ambiente costeiro, tendo em vista que as 
ações antrópicas podem interferir nos 
processos e interações dos sistemas 
ambientais, a depender de como se dá a 
relação sociedade-natureza. Salienta-se, 
que as maiores pressões de ocupação 
humana no mundo estão concentradas ao 
longo dos litorais como bem ressalta Souza 
(2005). 
Dessa forma, observamos muitas das vezes, 
a constatação de impactos ambientais 
negativos, concebidos como alterações 
adversas ao meio em decorrência das 
atividades humanas (Sánchez, 2013), dentre 
eles, pode-se destacar a descaracterização e 
o desaparecimento de campos dunares; 
acentuação dos processos erosivos; 
degradação e compactação dos solos; 
assoreamento de canais fluviais; e a 
contaminação dos lençóis freáticos, como 
consequências danosas ao ambiente 
costeiro. 
ÁREA DE ESTUDO: ZONA 
COSTEIRA DO MUNICÍPIO DE 
EXTREMOZ-RN 
É nesse contexto, que se insere a zona 
costeira de Extremoz que abrange as praias 
de Redinha Nova, Santa Rita, Jenipabu, 
Barra do Rio, Graçandu e Pitangui. Tal 
município está situado no estado do Rio 
Grande do Norte (Figura 1) entre as 
coordenadas geográficas 
5° 42′ 21″ S, 35° 18′ 25″ W e integra a 
Região Metropolitana de Natal, pertencente 
à Microrregião de Natal e Mesorregião 
Leste Potiguar pelo Instituto Brasileiro de 
24 
 
Geografia e Estatística (IBGE), com área 
territorial de 139,575 km², onde se distribui 
24.569 habitantes, com densidade 
demográfica de 176 hab/km² (IBGE, 2010). 
A problemática deste trabalho está pautada 
no crescente processo de expansão urbana 
irregular da zona costeira do município de 
Extremoz, mesmo considerando que parte 
deste município está situada na Área de 
Proteção Ambiental de Jenipabu (APAJ). A 
APAJ foi criada em 1995 e, por isso, possui 
usos controlados, uma vez que as APA"s 
são consideradas como: unidades de 
conservação, destinadas a proteger e 
conservar a qualidade ambiental e os 
sistemas naturais ali existentes, visando a 
melhoria da qualidade de vida da população 
local e também objetivando a proteção dos 
ecossistemas regionais. (Ministério do 
Meio Ambiente, Conama, 1988). 
Desse modo, acreditamos que a expansão 
crescente e desordenada da malha urbana, 
pode desencadear uma série de impactos 
ambientais negativos e vir a comprometer a 
manutenção dos ecossistemas naturais e a 
qualidade de vida da população de 
Extremoz. Diante dessa realidade, 
propõem-se, como objetivo central, analisar 
a evolução multitemporal do processo de 
uso e cobertura do solo na zona costeira de 
Extremoz, localizada no estado do Rio 
Grande do Norte, no período entre 2006 e 
2016. 
Para tanto, caracterizamos os aspectos 
físico-naturais e socioeconômicos da zona 
costeira de Extremoz; apresentamos a 
evolução multitemporal do processo de uso 
e cobertura do solo na zona costeira de 
Extremoz, entre 2006 e 2016; identificamos 
os principais impactos negativos 
decorrentes do processo evolutivo de uso e 
cobertura do solo na zona costeira de 
Extremoz; e elucidamos os principais 
desafios brasileiros para o planejamento, 
gestão e gerenciamento da zona costeira de 
Extremoz. 
Contudo, utilizamos a abordagem 
geossistêmica proposta por Sotchava (1977) 
e o conceito de paisagem como categoria de 
análise geográfica. A realização dessa 
pesquisa justifica-se diante do relevante 
papel desempenhado pelos estudos 
sistêmicos de análise multitemporal do uso 
e cobertura do solo. Seus resultados 
fornecem subsídios relevantes para o 
planejamento e gerenciamento racional da 
área de estudo. Além de configurar-se como 
um instrumento colaborador para a 
construção de indicadores ambientais e 
avaliação da capacidade de suporte 
ambiental. E, por fim, promover o 
equacionamento de conflitos e a 
maximização das potencialidades naturais 
locais. 
MATERIAIS E MÉTODOS 
O desenvolvimento dessa pesquisa foi 
embasado no uso de técnicas de 
sensoriamento remoto e de 
geoprocessamento de imagens, assim como, 
a utilização de um Sistema de Informações 
Geográficas(SIG) para tratamento e análise 
dos dados espaciais. O sensoriamento 
remoto é definido como “uma ciência que 
visa o desenvolvimento da obtenção de 
imagens da superfície terrestre por meio da 
detecção e medição quantitativa das 
respostas das interações da radiação 
eletromagnética com os materiais 
terrestres” (Meneses, 2012: 3). 
Já o termo geoprocessamento faz referência 
a uma tecnologia transdisciplinar, que 
permite a integração de dados geográficos, 
a partir da coleta, tratamento, análise e 
apresentação de informações associadas a 
mapas digitais georreferenciados (Rocha, 
2002). Por fim, os SIGs são entendidos 
como sistemas computacionais capazes de 
armazenar e processar informações 
geográficas, constituindo-se como 
ferramentas que potencializam a eficiência 
e a efetividade do tratamento dessas 
informações, utilizados para os mais 
distintos fins. (Longley et al, 2013). 
25 
 
 
Figura 1: Mapa de localização da zona costeira do município de Extremoz. 
 
Destarte, o uso das técnicas de 
geoprocessamento e a apreciação de dados 
geográficos foram primordiais para análise 
integrada do processo evolutivo do uso e 
cobertura do solo na zona costeira de 
Extremoz, ao possibilitar o tratamento e a 
interpretação de informações 
georreferenciadas com significativa 
eficiência. 
Em termos operacionais, inicialmente foi 
realizada uma pesquisa bibliográfica de 
caráter exploratório, descritivo e 
explicativo sobre a temática proposta, assim 
como, sobre o objeto de estudo. Paralela a 
essa fase, realizou-se pesquisa de campo, 
que deram suporte a análise multitemporal 
do processo evolutivo do uso e cobertura do 
solo na zona costeira de Extremoz, as 
26 
 
produções cartográficas e a análise 
integrada dos impactos negativos 
desencadeados na área de estudo. 
Culminando na posterior sistematização dos 
resultados e obtenção desse artigo como 
produto final. 
Na pesquisa de campo foi realizado o 
reconhecimento das características 
geoambientais da zona costeira de 
Extremoz (climatologia, hidrologia, 
geologia, geomorfologia, pedologia e 
cobertura vegetal), da ocupação do solo e 
observados alguns impactos ambientais 
negativos ocasionados pelas ações 
antrópicas. Como instrumentos de apoio, 
utilizamos bússola, câmara digital e um 
Global Positioning System (GPS - Sistema 
de Posicionamento Global, na língua 
vernácula), modelo 79CSX, Garmim. 
Para a elaboração dos mapas que 
subsidiaram a análise multitemporal do 
processo evolutivo do uso e cobertura do 
solo na zona costeira de Extremoz, fez-se 
uso das ortofotos 023 e 027, do ano de 2006, 
na escala de 1:25.000, concernentes ao 
levantamento do Litoral Oriental pelo 
Programa de Desenvolvimento do Turismo 
(Prodetur).Também foi utilizada uma 
imagem extraída do Google Earth Pro 
(Digital Globe) considerada de alta 
resolução espacial, referente ao ano de 
2016, na mesma escala sob um sistema de 
coordenadas UTM (Universal Transversa 
de Mercator) e o datum de referência 
SIRGAS 2000, zona 25 Sul. 
Posteriormente, os produtos gerados foram 
comparados, sendo possível realizar uma 
classificação pelo método da interpretação 
visual e observar as mudanças ocorridas na 
zona costeira de Extremoz no decorrer do 
período estudado. Ressalta-se que as 
imagens utilizadas foram georreferenciadas 
e vetorizadas na plataforma ArcGIS 10.3.1 
versão trial (ESRI), instalada nos 
computadores do Laboratório de 
Geoprocessamento do Departamento de 
Geografia (DGE) da Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte (UFRN) (Santos et 
al, 2010). 
A nomenclatura e terminologias das classes 
utilizadas nesse artigo foram baseadas no 
Manual Técnico de Uso e Cobertura da 
Terra do IBGE. As áreas urbanizadas 
correspondem às superfícies não agrícolas, 
com estrutura de edificações e sistema 
viário. A cultura permanente abrange o 
cultivo de plantas com ciclo vegetativo de 
longa duração. A classe Florestal engloba as 
formações arbóreas com porte superior a 5 
m, inclui as áreas remanescentes primárias 
estágios evoluídos de recomposição 
florestal, desconsiderando os 
reflorestamentos. Os corpos d’água 
continentais não apresentam origem 
marinha (rios, lagoas de água doce, canais, 
açudes). Os corpos d’água costeiros são 
corpos de água salgada e salobra, 
englobando a faixa costeira de praias e 
águas abrigadas. Asáreas descobertas são 
compreendidas as áreas de praias, dunas e 
extensões de areias ou seixos no litoral ou 
no continente, incluindo dunas com 
vegetação esparsa ou sem cobertura vegetal 
(IBGE, 2013). 
RESULTADOS E DISCUSSÕES 
Percurso teórico-conceitual 
As zonas costeiras são áreas conformadas 
no tríplice contato com o oceano, o 
continente e a atmosfera, apreendida como 
“a borda oceânica das massas continentais e 
das grandes ilhas, que se apresenta como 
área de influência conjunta de processos 
marinhos e terrestres, gerando ambientes 
com características específicas e identidade 
própria” (MMA, 2006, p. 22). Esses 
espaços estão em constante processo de 
transformação de suas feições 
geomorfológicas, em decorrência da 
reconhecida dinâmica dos seus 
condicionantes geoambientais (clima, 
geologia, relevo, pedologia, hidrologia), 
assim como, da ação antrópica que ocasiona 
27 
 
a remodelagem das suas formas e a 
modificação dos seus processos. 
Nessa perspectiva, essas espacialidades 
"por constituírem ambientes de formação 
geológica recente e de grande variabilidade 
natural, [...] apresenta ecossistemas em 
geral fisicamente inconsolidados e 
ecologicamente imaturos e complexos" 
(Carvalho e Fontes, 2006:2), de modo, a 
conferir significativa fragilidade natural 
mediante as ações sociais, uma vez que “os 
sistemas ambientais naturais, face às 
intervenções humanas, apresentam maior 
ou menor fragilidade em função de suas 
características genéticas.” (Ross, 
1998:291). 
Esses espaços são classificados 
ecodinâmicamente por Tricart (1977) como 
meios fortemente instáveis, prevalecendo a 
morfogênese e do condicionamento 
bioclimático. Nesses meios, o sistema 
natural e os demais elementos ficam 
subordinados a morfogênese e são 
influenciados pela geodinâmica interna 
configurando a paisagem costeira. 
Diante disso, evidencia-se a necessidade de 
compreender e analisar esses espaços sobre 
a ótica geossistêmica, originada a partir da 
Teoria Geral dos Sistemas, formulada por 
Bertalanffy (1977), difundida na Geografia 
por Sotchava (1977), disseminada por 
Bertrand (1972), Tricart (1977) e 
Christofoletti (1999). A abordagem 
geossistêmica proporcionou consideráveis 
avanços na Geografia Física, ao possibilitar 
uma análise contundente das relações 
mútuas e integradas entre os aspectos 
naturais e sociais. 
Bertrand (1972) destaca que o 
geossistema apresenta dados ecológicos 
com estabilidade relativa. Resultado da 
combinação entre os fatores 
geomorfológicos, climáticos e hidrológicos 
(“potencial ecológico” do geossistema), 
certo tipo de exploração biológica do 
espaço (vegetação, solo e fauna) e as 
intervenções antrópicas. 
Os geossistemas são uma classe peculiar de 
sistemas dinâmicos abertos organizados 
hierarquicamente (Bertalanffy, 1977). 
Sotchava (1977:06) esclarece que "embora 
os sistemas sejam fenômenos naturais, 
todos os fatores econômicos e sociais, 
influenciando sua estrutura e peculiaridades 
espaciais, são tomados em consideração 
durante seu estudo e descrições verbais ou 
matemáticas". Nesse sentido, a apreensão 
do geossistema perpassa tanto pela análise 
dos elementos naturais, quanto da 
apreciação das imposições 
socioeconômicas. 
Destarte, para apreender a área de estudos 
sobre a ótica geossistêmica, adotou-se como 
categoria geográfica de análise a paisagem. 
Conforme explana Ab'Saber (2003:9), a 
paisagem é a "herança de processos 
fisiográficos e biológicos, e patrimôniocoletivo dos povos que historicamente as 
herdaram como território de atuação de suas 
comunidades". A paisagem está em um 
contínuo processo de modelagem de suas 
formas, exprimindo características antigas e 
recentes. 
Bertrand (1972) afirma que a paisagem é 
um espaço produzido a partir da associação 
dinâmica, dialética e evolutiva dos agentes 
físicos, biológicos e antrópicos, resultando 
espacialmente uma síntese das imposições 
antrópicas sobre o meio natural. As 
paisagens costeiras estão em contínuo 
processo de (re) modelagem de suas formas 
e estruturas, em decorrência tanto da 
dinâmica do lugar (processos oceânicos, 
atmosféricos e continentais) quanto da ação 
humana (usos e ocupação do solo). 
Salienta-se que elas originam-se de 
processos erosivos e deposicionais e 
dependem da atividade tectônica regional, 
da geologia, do clima, da vazão fluvial, 
altura das ondas, amplitude das marés, 
dentre outras variáveis, formando distintos 
cenários, de beleza singular (Bloom; Petri; 
Ellert, 1988). Nesse sentido, no litoral de 
Extremoz, verifica-se a conformação 
paisagística de campos de dunas móveis, 
28 
 
planície de deflação e praias com dunas 
frontais e dunas fixas, cujas formas estão 
em permanente processo de (re) 
modelagem, condicionadas pelos processos 
oceânicos, atmosféricos e continentais, 
somadas a ação humana no processo de uso 
e cobertura do solo. 
Compreende-se, por solo a camada 
superficial formada por partículas minerais 
e orgânicas, distribuídas em sessões 
verticais com profundidade variável, 
resultante da ação de agentes intempéricos 
sobre as rochas e da adaptação aos 
condicionamentos do meio em que se 
encontram expostas ao intemperismo 
(Embrapa, 2006). Já a expressão “uso do 
solo”, refere-se “uma série de operações 
desenvolvidas pelos homens, com a 
intenção de obter produtos e benefícios, 
através do uso dos recursos da terra.” (Bie; 
Leeuwen; Zuidema, 1996 apud IBGE, 
2013:43). E, por fim, o termo “cobertura do 
solo”, faz referência aos elementos que 
constituem a natureza (vegetação (natural 
ou não), recursos hídricos e o aporte físico 
(geologia e seu recobrimento superficial)) e 
as construções antrópicas que recobrem a 
superfície terrestre. 
Nesse sentido, ressalta-se a importância dos 
estudos geográficos integrados das formas 
de uso e cobertura do solo na zona costeira 
de Extremoz, uma vez que fornecem 
subsídios para o seu planejamento e 
gerenciamento, visando minimizar conflitos 
sociais, impactos ambientais negativos e a 
conservação dos recursos naturais. 
Caracterização socioambiental da zona 
costeira do município de Extremoz-RN 
A zona costeira de Extremoz caracteriza-se, 
sobretudo, pela diversidade dos seus 
aspectos naturais, pelos cenários 
paisagísticos exuberantes e pela exploração 
de seus recursos para os mais variados fins. 
Extremoz e, por conseguinte, a área de 
estudo apresenta clima classificado como 
As’ tropical chuvoso com verão seco, de 
acordo com a classificação de W. Köppen 
(Vianello e Alves, 1991), com média anual 
de precipitação de 1.500 mm e temperaturas 
entre 30°C e 24°C. De março e julho, 
vislumbram-se os maiores índices 
pluviométricos, com ocorrência de chuvas 
torrenciais e esparsas entre março e maio. 
Em contrapartida, os meses menos 
chuvosos correspondem aos meses de 
setembro e dezembro (meses estivais) 
(Nunes, 2000). 
Em termos hidrográficos, 49,45% do 
território de Extremoz está inserido na 
Bacia Hidrográfica do Rio Ceará - Mirim, 
28,53% na Faixa Litorânea Leste de 
Escoamento Difuso e 22,02% na Bacia 
Hidrográfica do Rio Doce (CPRM, 2005). 
Configurando-se o Aquífero Barreiras 
(hidrogeologicamente confinado, semi-
confinado e livre em algumas áreas) e o 
Aquífero Aluvião (apresenta-se disperso 
sendo composto por sedimentos 
predominantemente arenosos, com 
deposição nos leitos e terraços dos rios e 
riachos de maior porte) (Idema, 2013). 
Em termos geológicos, a área de estudo 
caracteriza-se pela configuração de 
sedimentos do Grupo Barreiras, arenitos 
praiais e ferruginosos, depósitos flúvio-
marinhos e litorâneos de praias dunas. A 
geomorfologia da área está representada por 
campos de dunas móveis, praias e dunas 
frontais, planícies de deflação, estuário, 
recifes e terraço de abrasão. 
Pedologicamente, ressalta-se a 
conformação de Neossolos Quartzarênicos 
(solos de praias e dunas; essencialmente 
quartzosos, profundos, com fertilidade 
natural muito baixa, elevada porosidade e 
permeabilidade), Latossolos (com horizonte 
B latossólico abaixo de um horizonte 
diagnóstico superficial, exceto hístico), 
Gleissolos Tiomórficos (solo de mangue; 
compostos por material mineral, 
apresentando horizonte glei nos primeiros 
150 cm, seguido por um horizonte A ou E, 
ou de horizonte H), solos Aluviais (solo de 
várzea, constituídos por material mineral ou 
29 
 
orgânico pouco espesso, com pouca 
expressividade de alterações ao material 
originário) (Embrapa, 2006; Batista, 2014). 
A cobertura vegetal predominante na área 
de estudo está associada aos campos de 
praias e dunas, com destaque para as 
espécies Cynodon dactilon (capim - de - 
burro), Paspalum maritimum (capim – 
gengibre), Paspalum vaginatum (capim – 
praturá), Remirea marítima (alecrim de 
praia) e Ipomoea pes –caprae (salsa - de – 
praia). Vislumbra-se também a vegetação 
de mangue (representadas pela Rhizophora 
mangle (mangue sapateiro), Avicenia 
schaueriana (mangue branco), 
Laguncularia recemosa (mangue manso), 
Acrostrichum aureum (avenção ou 
samambaia-do-mangue) e Conocarpus 
erecta (mangue-ratinho ou mangue-botão)), 
restingas arbustiva – arbórea (destacando-se 
o Chrysobalanus icaco (guajiru), 
Chamaecrista ensiformis (pau-ferro), 
Eugenia sp. (camboim), Pilosocereus 
hapalacanthus (cardeiro-grande), Capparis 
flexuosa (feijão- bravo)) e vestígios de Mata 
Atlântica nas planícies sedimentares e ao 
longo do curso do Rio Ceará - Mirim, 
denominados como matas de galeria 
(Batista, 2014; Nunes, 2000). 
Esses condicionantes geoambientais vêm 
atraindo historicamente pessoas (turistas, 
residentes e mão de obra trabalhadora) e 
investimentos turísticos ao longo te todo 
litoral, ocasionando o crescente 
adensamento urbano local e as 
consequentes pressões sócio-espaciais. 
Atualmente, constata-se em Extremoz, o 
número crescente de domicílios particulares 
não ocupados (ocupados ocasionalmente ou 
vagos), evidenciando uma expressiva 
parcela de população flutuante (veranistas) 
que o município abriga. 
Vale ressaltar, que enquanto as economias 
predominantes em Extremoz associavam-se 
ao setor primário (pesca artesanal, 
agricultura de subsistência e pecuária), o 
processo de organização e ocupação do 
litoral estava em harmonia com os 
condicionamentos naturais do ambiente. A 
partir da década de 1970 foi implementada 
a carcinicultura em seu litoral por meio do 
Projeto Camarão, contribuindo para o 
surgimento de pequenos aglomerados. 
Na década de 1980, inicia-se o 
parcelamento do solo para fins de 
loteamento, servindo predominantemente 
de segunda residência às classes média e 
alta da sociedade de Natal, RN. Nos anos de 
1990 e após o ano 2000, observou-se uma 
maior expansão urbana local, a partir da 
instalação de restaurantes, hotéis, pousadas, 
equipamentos de lazer e comércios, 
somados a investimentos de ordem pública 
- na infraestrutura básica - e de ordem 
privada- atrelados, principalmente, ao 
turismo. (Nascimento, 2008). 
O Programa de Desenvolvimento do 
Turismo (Prodetur) contribuiu 
significativamente para a expansão da 
infraestrutura turística em Extremoz. 
Aguiar (2013) elucida que o programa 
ofereceu crédito ao setor público, visando a 
criação de condições propícias para a 
expansão e melhoria da qualidade da 
atividade turística. Atualmente, o turismo é 
um dos mais importantes pilaresda 
economia de Extremoz, o setor de serviços 
é o que mais contribui na composição do 
Produto Interno Bruto (PIB), contribuindo 
com 109,343 mil reais do total municipal de 
1641,149 mil reais (IBGE, 2010). 
Dentre os mais relevantes atrativos 
turísticos observados na área de estudo, 
destacamos o Aquário Natal (em Redinha 
Nova), os passeios de dromedários, jegues e 
buggys nas dunas, vendas de produtos 
artesanais, a travessia de balsa e descidas 
radicais sobre as dunas, somadas ao 
desfrute de lagoas e praias (onde são 
encontrados serviços de bar e restaurante). 
No entanto, as imposições antrópicas vêm 
corroborando na constatação de alterações 
adversas e problemas sócio-espaciais na 
zona costeira de Extremoz, tais como, a 
segregação sócio-espacial, insuficiente 
30 
 
acesso aos serviços públicos, inundações 
sazonais, ausência de saneamento básico e 
estação de esgoto, destinação inadequada de 
lixo, o uso indevido de recursos naturais 
pela construção civil e a presença de 
construções irregulares. 
Nesse sentido, destaca-se a importância da 
atuação dos mecanismos legais de 
regulação de uso e cobertura do solo que 
atuam na escala local. Através destes, foi 
instituída a APAJ por meio do decreto 
estadual nº 12.620 de 17 de maio de 1995, 
onde seu objetivo consiste em promover o 
ordenamento do uso e proteção dos 
ecossistemas (dunas, mata atlântica, 
manguezal e praias, rios e lagoas) e da 
biodiversidade local. É válido ressaltar que 
parte da área de estudo, mais precisamente 
a porção sul, encontra-se inserida na APAJ. 
Portanto, as relações sócio-espaciais na área 
de estudo, vêm corroborando na 
constatação de impactos ambientais 
negativos de magnitude e importância 
variável, em função da fragilidade natural - 
intrínseca aos seus condicionantes 
geoambientais - e das imposições 
antrópicas. Desse modo, torna-se evidente 
sua ineficiente fiscalização e 
acompanhamento técnico-administrativo 
local, visando a conservação dos recursos 
naturais e o equacionamento dos conflitos 
sociais. 
Análise multitemporal do uso e cobertura 
do solo na zona costeira de Extremoz: 
implicações e desafios 
Nos últimos tempos, têm-se observado um 
crescente adensamento urbano ao longo das 
regiões litorâneas no mundo, sobretudo, em 
decorrência do aumento expressivo da 
valorização imobiliária nesses espaços 
resultantes, principalmente, do 
desenvolvimento de atividades econômicas 
variadas (pesca, carcinicultura, extração de 
sal, indústria, comércio, turismo, entre 
outras). Esse fator, corrobora 
progressivamente no desencadeamento de 
mudanças expressivas na conformação 
paisagística e na própria dinâmica do 
ambiente costeiro, contribuindo para a 
eclosão de alterações adversas e sua 
consequente deturpação, perante as 
imposições antrópicas. 
Nessa perspectiva, salienta-se a relevância 
desempenhada pelos estudos geográficos 
sistêmicos e o uso das técnicas de 
geoprocessamento para apreensão e análise 
integrada desses espaços, ao suscitar 
conhecimentos relevantes para subsidiar o 
planejamento e gestão adequada do 
território costeiro, visando à conservação 
dos seus recursos naturais e a mitigação dos 
impactos adversos. 
Desse modo, o mapeamento das classes de 
uso e cobertura do solo na zona costeira de 
Extremoz, entre os anos de 2006 e 2016, 
apresentou modificações espaciais 
relevantes nos últimos dez anos (Figura 2). 
De maneira mais ampla, observamos o 
expressivo aumento do percentual de áreas 
urbanizadas e a consequente diminuição de 
áreas descobertas ao longo de toda a costa 
do município. Houve também a diminuição 
de corpos d’águas continentais, mas 
também o acréscimo das classes florestal e 
de culturas permanentes. 
Quantitativamente, a área de estudo 
apresentou 21,62 km2 de extensão territorial 
(Tabela 1). Deste total, em 2006 pouco mais 
de 17% estava urbanizada, conforme a 
tendência mundial dos países litorâneos 
observou-se o crescente adensamento 
urbano local, perpassando o valor dos 25% 
da área total no ano de 2016, ou seja, houve 
um crescimento de 8% de área urbana. Este 
aumento está associado ao desenvolvimento 
de atividades turísticas, mediante seu 
potencial em atrair populações residente, 
imigrante e flutuante ao longo dos anos. 
 
 
31 
 
 
 
Figura 2: Mapa da evolução do uso e cobertura do solo na zona costeira de Extremoz, entre 2006 e 2016. Fonte: 
Mapeamento do ano de 2006 por Batista (2014). 
 
32 
 
Tabela 1: Classes de mapeamento da cobertura e uso do solo na área de estudo, entre os anos de 2006 e 2016. 
Fonte: mapeamento do ano de 2006 por Batista (2014). 
CLASSES 
MAPEAMENTO DE 2006 MAPEAMENTO DE 2016 
Área (km²) Percentual (%) Área (km²) Percentual (%) 
Áreas descobertas 13,47 62,3 11,63 53,79 
Áreas urbanizadas 3,75 17,35 5,61 25,95 
Corpos d’água continentais 0,79 3,65 0,1 0,46 
Corpos d’água costeiros 1,94 8,97 1,95 9,02 
Cultura permanente 0.05 0,23 0,06 0,28 
Florestal 1,62 7,5 2,27 10,5 
TOTAL 21,62 100 21,62 100 
 
Vale também destacar, que a expansão das 
áreas urbanizadas na área de estudo ocorre, 
espacialmente, sob os campos de dunas 
móveis e em planícies de deflação, ou seja, 
em Áreas de Preservação Permanente 
(APP), conforme estabelecido pela 
Resolução Conama 303, tendo em vista sua 
função ambiental de manter o equilíbrio e a 
estabilidade da paisagem local, além de 
assegurar o fluxo gênico da fauna e flora, 
visando o bem-estar das populações 
humanas. Desse modo, o avanço urbano 
nessas áreas acaba contribuindo para a sua 
descaracterização e deturpação (Figura 3). 
 
Figura 3: Residência instalada em dunas. Foto: 
Ivaniza Sales (Nov/2014) 
A construção de edificações nesses espaços 
implica na modificação estética da 
paisagem, interfere no processo de 
transporte dos sedimentos modificando o 
balanço sedimentar, além de diminuir e 
descaracterizar os sedimentos dos campos 
dunares; ocasiona a contaminação do lençol 
freático devido ao fluxo de águas servidas, 
contribui para o assoreamento de corpos 
hídricos, na devastação da vegetação e na 
conformação de problemas sociais 
decorrentes do soterramento de 
equipamentos urbanos no processo de 
migração dunar (Figura 4). 
 
Figura 4: Soterramento de equipamentos urbanos 
no processo de migração dunar. Foto: Luiz Eduardo 
(Ago/2014). 
33 
 
Ademais, ressalta-se que há uma 
incompatibilidade entre as formas de uso e 
cobertura do solo e as características 
geoambientais dos campos de dunas, pois se 
tratam de ambientes bastante dinâmicos e 
complexos, de formação geológica com 
idades recente, de grande variabilidade 
natural, compostos fisicamente por 
sedimentos inconsolidados, ecologicamente 
imaturos e de reconhecida fragilidade 
natural. O grande número de residências em 
campos dunares sem um sistema eficiente 
de destinação dos esgotos resulta em sérios 
problemas ambientais relacionados à 
qualidade dos recursos hídricos e drenagem 
urbana, agravados em função da segregação 
social no espaço e dos diversos conflitos de 
interesses (políticos, econômicos e 
ambientais). 
No que se refere a disparidade dos valores 
obtidos no mapeamento da classe corpos 
d'água continentais nos dois anos 
observados (Tabela 1), faz-nos refletir a 
respeito da sua considerável diminuição 
percentual em 2016, equiparando-se com o 
ano de 2006. Uma possível explicação para 
esses valores está no afloramento do lençol 
freático em algumas áreas, deixando-as 
alagadas temporariamente. Os resultados 
obtidos por Batista (2014) reforçam essa 
ideia, pois o percentual de corpos d'água 
continentais obtido no mapeamento do ano 
de 1970, na área de estudo, foi de 
apenas1,39 % de sua área total, 
substanciando essa hipótese. Assim no 
período em que foi realizado o 
levantamento do litoral oriental pelo 
Prodetur, em 2006, estavam aflorando 
lagoas efêmeras, enquantoque na imagem 
do Google Earth Pró - datada do ano de 
2016 - revela o desaparecimento das 
mesmas e o surgimento de vegetação onde 
elas localizavam-se, o que evidencia ainda 
mais a dinamicidade dos ambientes 
costeiros. 
Salienta-se também, o aumento da 
distribuição espacial das classes "florestal", 
"cultura permanente" e "corpos d'água 
costeiros", essas duas últimas classes 
obtiveram uma expansão espacial muito 
pequena em relação as demais (somente 
0,01 km²). A classe florestal, por sua vez, 
apresentou um crescimento expressivo no 
período observado (3%), cuja 
espacialização se dá, sobretudo, na porção 
norte da área de estudo (Praia de Pitangui) e 
às margens da Lagoa de Jenipabu, dentro 
dos limites espaciais da APAJ (Tabela 1). 
Podemos associar o aumento espacial da 
área de floresta com a instituição do Plano 
de Manejo da APAJ e do seu Zoneamento 
Ecológico Econômico (ZEE), através da Lei 
Estadual 9.254/ 2009, ao promover 
legalmente a preservação e conservação dos 
recursos naturais locais. Evidenciando 
assim, a importância desempenhada pela 
criação de áreas legalmente protegidas para 
a manutenção da biodiversidade na Terra. 
Diante do exposto, evidencia-se que os 
principais desafios para o planejamento e 
gerenciamento da área de estudo associam-
se com a busca pela conciliação entre os 
condicionantes físico-naturais locais e as 
práticas sociais a materializar-se 
espacialmente, visando à manutenção dos 
ecossistemas locais e a diminuição de 
conflitos. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
As regiões litorâneas são espaços dinâmicos 
e complexos de reconhecida fragilidade 
natural. No entanto, constata-se uma 
tendência mundial de adensamento urbano 
ao longo da costa dos países litorâneos, de 
modo a desencadear no surgimento de 
impactos negativos ao meio e, 
consequentemente, a população nele 
inserida. 
Esse é o cenário da zona costeira do 
município de Extremoz, seu processo 
histórico de uso e cobertura do solo 
apresenta íntima relação com a composição 
paisagística e o desenvolvimento de 
atividades turísticas. Embora haja 
34 
 
mecanismos legais de restrição de uso e 
ocupação do solo na área de estudo, essa 
espacialidade tem apresentado, na última 
década, um considerável aumento 
populacional. Esse crescimento extrapola a 
natureza dos valores quantitativos e 
corroboram em mudanças qualitativas nos 
ecossistemas locais. 
Dentre os impactos constatados sócio-
espaciais observados na área de estudo, 
sobressai-se a descaracterização dos 
campos dunares, a acentuação dos 
processos erosivos, a degradação dos solos, 
o assoreamento de canais fluviais, somados 
a segregação social e problemas de 
soterramento de equipamentos urbanos no 
processo de migração dunar. 
Portanto, torna-se válido o aumento e/ou 
intensificação da fiscalização e 
acompanhamento técnico-administrativo na 
zona costeira de Extremoz, tendo em vista 
sua dinâmica peculiar e sua incontestável 
relevância na manutenção dos recursos 
naturais disponíveis e da qualidade de vida 
população local. Neste contexto, destacam-
se os estudos geossistêmicos no tocante ao 
entendimento das dinâmicas das zonas 
costeiras para subsidiar o planejamento e 
gerenciamento em escala local. 
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