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1 Louyse Jerônimo de Morais Otite média aguda Referência: aula da prof. Maria José Anatomia da orelha O temporal é muito complexo, as estruturas são muito complexas, e precisamos ver várias vezes. A orelha média começa na membrana timpânica e termina na platina do estribo, a nível da janela oval. Dentro dessa região, temos estruturas muito importantes, como o complexo de ossos: martelo, bigorna e estribo. Embaixo, temos a janela redonda, que é quem vai fazer a descompressão, já que quando a onda sonora gira dentro da cóclea volta com pressão para explodir o sistema. Não esquecer também da tuba auditiva, que tem uma função primordial no desenvolvimento das otites médias. Em cima, temos a mastoide e sua cavidade. A distância entre a cavidade da mastoide e a fossa média é muito pequena. Contudo, isso também vai variar de acordo com o tamanho da mastoide. Se ela for grande, muitas vezes, projeta-se para a ponta da mastoide. Podemos ter uma mastoide muito celularizada ou ebúrnea, mas nenhuma das duas é boa para operar, pois a ebúrnea fica muito próxima e é muito mais dura, enquanto a celularizada é muito ampla e você não sabe para onde vai, trabalhando perto do seio cavernoso e da mastoide. Atrás, tem-se o nervo facial. Estruturas A orelha média é essa parte fatiada da imagem a seguir. Os ossículos são suspensos por ligamentos, para que eles fiquem articulados e móveis ao mesmo tempo. • Otoesclerose: corresponde à calcificação da platina do estribo, que normalmente é membranosa, dificultando o movimento de pistão. Então, o paciente vai ter uma perda de audição condutiva. É a única rigidez que se vê nesse processo articular, pois ele não faz artrose, artrite, etc. Membrana timpânica Sempre faz como o relógio para ver o lado. Na membrana timpânica da orelha direita, o triângulo luminoso se localiza às 5h. Já na orelha esquerda, ele se localiza às 8h. Nos processos infecciosos, tal estrutura tende a desaparecer. 2 Louyse Jerônimo de Morais Anatomia depois de arrancar a membrana Na figura a seguir, vê-se a articulação da bigorna com o estribo, a janela redonda e o cabo do martelo dissecado. Por trás de onde vocês veem o estribo, passa o nervo corda do tímpano – o qual muitas vezes precisa ser cortado em uma cirurgia em que se precisa trabalhar o estribo. Ele dá sensibilidade aos 2/3 anteriores da língua e no pós-operatório, o paciente tem dormência nessa região. Dividimos a membrana timpânica em quadrantes, o que é importante para localizar os processos. São 4 quadrantes: anteroinferior, posteroinferior, anterossuperior e posterossuperior. O quadrante anteroinferior é o de escolha para fazer paracenteses – por trás desse quadrante tem-se o promontório, que é um enrolamento ósseo duro e em cima dele só tem uma mucosa, então o máximo que pode fazer é feri-la. Caixa do tímpano A presença de líquido na cavidade caracteriza a otite média aguda (OMA). Quando a orelha média está completamente cheia, ela estufa a membrana, sendo este o principal sinal de OMA. Introdução às otites médias agudas A OMA é uma das doenças mais frequentes na infância e é definida pela presença de efusão na cavidade da orelha média. 3 Louyse Jerônimo de Morais • Incidência: máxima de 6 a 24 meses. É lógico que crianças que não foram amamentadas são mais suscetíveis, porque a sucção é terapêutica. • Sexo masculino • Raça: esquimós, índios americanos, crianças africanas e australianas. • Estação do ano: inverno [51%] dos episódios. Resumindo-se as etapas para o desenvolvimento da OMA temos: produção inicial de efusão causa pressão negativa na orelha média, a qual leva à obstrução funcional da tuba auditiva. O único espaço mole que temos nessa estrutura é a membrana do tímpano. A tuba é a única entrada de ar para a orelha média, então quando ocorre obstrução a caixa sofre – a obstrução nasal gera obstrução na tuba. Isso começa a fazer pressão negativa. Tal situação, além de fazer sucção do líquido para dentro da caixa, é rica em gás carbônico. Este último é irritante, então ele irrita a mucosa, a qual passar a secretar em resposta a isso. Veja que é um ciclo. Epidemiologia • Irmãos • Menor tempo de aleitamento: fisioterapia, imunidade pelas imunoglobulinas presentes. A tuba da criança é larga, curva e horizontal. Se a criança deglutir quando deitada, faz otite de leite, que geralmente é por estafilococo. O certo é deixar em pé, porque a deglutição ocorre na vertical e assim o leite não vai para o ouvido. A otite do leite, muitas vezes, fica esbranquiçada. • Creches: ir para creche precocemente deixa a criança mais suscetível a IVAS. • Fumantes passivos: a combustão do cigarro pode ser pior que o que a própria pessoa engole. Etiopatogenia • Disfunção tubária: é a mais importante. • Deficiência imunológica • Infecção: respiratória é mais frequente e mais comum. Superestrutura da tuba A otite média é uma inflamação do ouvido médio. O ouvido médio, que é normalmente cheio de ar, poderá acumular fluido, restringindo o movimento da membrana timpânica e diminuindo a audição. As bactérias poderão sair da nasofaringe e, através da tuba auditiva, chegar no ouvido médio, causando infecção. O músculo tensor do palato puxa para cima, o elevador do palato, quando engole, faz a tuba abrir, entrar ar e fecha. A tuba normal do adulto é fina e verticalizada. É por isso que tem que ter cuidado com os bebês. Criança com tuba grande, fenda palatina ou que não tem musculatura para levantar e fechar, ao amamentá-la deitada é como se estivesse colocando líquido no ouvido com um funil. Leite no ouvido apodrece e faz otite. Se a criança golfar leite, é bom lavar, porque o resto que ficar 4 Louyse Jerônimo de Morais pode irritar. Não pode dar mamadeira para criança porque senão ela perde o reflexo de sucção. Lúmen da tuba Bem mais fina e verticalizada no adulto. Mecanismo normal e patológico O normal é ter absorção de gás na orelha média, com pressão negativa intratimpânica → descolamento gradual passivo da membrana timpânica → encurtamento passivo do músculo tensor do véu do palato com contração reflexa → contração reflexa do músculo tensor do véu do palato → abertura tubária → normalização da pressão intratimpânica. • Mecanismo patológico: a produção inicial da efusão causa pressão negativa na orelha média, a qual leva à obstrução funcional da tuba auditiva. Se tiver ponto de necrose, é geralmente nesse local que faz paracentese, porque a necrose não dói. Agentes infecciosos • Pneumococo • H. Influenza: o capsulado é responsável pela epiglotite e meningite, o de ouvido é não capsulado. O capsulado tem vacina, o não capsulado não tem. De qualquer maneira, dê vacina ao seu filho. • M. catarrhalis • S. pyogenes • Staphylococcus Obs.: Mnemônico “PH Médio Salvou Sara”. Bactérias e betalactamase Os produtores de betalactamase deixam o profissional com receio de fazer amoxicilina pura, porque ele quebra o anel betalactâmico, inativa o ATB e, consequentemente, não tem a resposta fisiológica esperada. Sintomatologia • Após surto de IVAS • Dor • Febre: a criança tem a febre da IVAS, mas ela passa e, depois de alguns dias, retorna. É uma febre em torno de 38 e 38,5°C. Como não está perto de algum tronco arterial, a febre não se difunde com tanta potência. • Irritabilidade • Choro à sucção ou à mastigação • Hipoacusia • Plenitude auricular: a pessoa sente o ouvido cheio. • Zumbido Balançar a criança estimula o labirinto e faz a criança vomitar. A mãe se desespera achando que é uma piora, mas na verdade é apenas um mau posicionamento da criança. Diagnóstico • Otoscópico Nas imagens abaixo, vemos um abaulamento da membrana timpânica, que está prestes a romper.Está 5 Louyse Jerônimo de Morais cheia de secreção amarela – chamamos isso de otite média em teta de vaca. A paracentese deve ser feita com ou sem anestesia? Melhor fazer sem, embora seja doloroso. Enquanto tiver secreção, o corte não fecha. Se a membrana explodir, arranca tudo e não fecha mais, mas o corte no sentido das fibras fecha depois que não tiver mais líquido. Quando faz paracentese, cria-se uma pressão positiva para a tuba, o que melhora a fisiologia normal. • Otite bilateral com muita febre em lactentes com menos de um ano: é maior a probabilidade de pneumococo. • Otite do lactente de 15 a 24 meses, acompanhada por conjuntivite e tímpano muito bojudo ao exame otoscópico: é maior a probabilidade de Haemophilus. • Situações assim tão características raramente são encontradas. Tímpano perfurado Quando o tímpano rompe, pus, e algumas vezes sangue, escoam no canal auditivo. A dor usualmente desaparece. Com tratamento médico imediato, o tímpano normalmente cicatriza sem qualquer perda auditiva. Estes “buracos” no tímpano (perfurações) permanecem mesmo depois que a infecção desapareceu. O pequeno orifício central pode cicatrizar-se por si só; entretanto, os dois orifícios maiores precisarão de correção cirúrgica. OMA – pequena perfuração no quadrante anteroinferior Fluxograma de tratamento 6 Louyse Jerônimo de Morais • A primeira escolha é a amoxicilina. • Não esqueça de: analgésico, antitérmico, lavagem nasal com soro fisiológico, hidratação, miringotomia (paracentese) se necessário. Otite média latente do lactente • Sintomatologia polimorfa: temperatura alta, diarreia aquosa rebelde, vômito, perda de peso, quadro broncopulmonar ou septicêmico, irritação meníngea, rigidez da nuca, agitação, insônia e convulsão. • Diagnóstico é clínico • Tratamento: miringotomia; prednisolona 5d. Esse paciente já vem de um tratamento prévio, que não está dando certo. Os fenômenos gástricos ocorrem porque a criança está engolindo secreção, que está irritando. Otite média aguda recorrente [OMAR] A OMAR é definida por três episódios em 6 meses ou 4-5 em 12 meses. • Quimioprofilaxia: TPM-SMX – amoxicilina 20 mg 1x/dia ao deitar 4 a 6 meses. o Não faz muito hoje em dia. • Alternativa: carretel (tubo de ventilação) + adenoidectomia • Imunoprofilaxia: vacina influenza, antipneumococo, anti-haemophilus B. • Complicações: mastoidite Otite média serosa secretora [OMS] Permanência de efusão na caixa do tímpano provocadas por várias causas – disfunção tubária, aumento das adenoides, alergias etc. • Sintomas: perda auditiva condutiva, sensação de orelha tapada. • Diagnóstico: otoscópico complementado por timpanometria com curva de nível líquido. • Tratamento: identificar a causa e tratar. Não havendo resposta, tubo de ventilação (TV). 7 Louyse Jerônimo de Morais • Miringotomia (paracentese): procedimento cirúrgico por meio do qual se faz uma pequena incisão no quadrante anteroinferior da membrana timpânica, para tratar certas condições patológicas da otite média. Em geral, para aliviar a pressão, arejar a caixa do tímpano e forçar a abertura da tuba auditiva. O fluido no ouvido médio foi aspirado através de um pequeno corte no tímpano. Um tubo de ventilação [carretel] inserido no tímpano permite que o ar retorne ao ouvido médio. A audição volta ao normal, uma vez que o tímpano pode, agora, novamente vibrar apropriadamente. O carretel não é tratamento, mas um estímulo à normalidade da caixa, aeração e abertura da tuba. • Ouvido em cola: o líquido é tão espesso, que quando faz paracentese para colocar carretel, só consegue retirar líquido com pinça. A paracentese simples não induz a uma internação. Tubo de ventilação ou carretel 8 Louyse Jerônimo de Morais Barotrauma de orelha média • Etiologia: mudança brusca de pressão – provocando sucção da orelha média, de líquido ou sangue. • Sintomatologia: dor intensa, sensação de orelha cheia. • Tratamento: o Corticoide de 7 a 10d o Analgésico o Em casos extremos, miringotomia. • Hemotímpano: a membrana fica preta. Mastoidite • Apagamento do sulco retroauricular, mastoide protusa. Essa é a complicação mais comum, as outras são paralisia facial, perda de audição, meningite, abscesso cerebral, abscesso cerebelar.