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11 • • • • • • • Obtenção de uma Nova Sequência de Comportamentos com o Encadeamento Comportamental Objetivos do aprendizado Definir cadeia comportamental Diferenciar uma cadeia comportamental de uma sequência de comportamentos Comparar os três métodos principais de encadeamento Comparar encadeamento com desvanecimento e modelagem Descrever os fatores que influenciam a efetividade do encadeamento Fazer uma análise de tarefa Explicar como o encadeamento pode ser desvantajoso para aqueles que não o conhecem. Steve, a sua rotina de treino de tacadas é inconsistente. Ensinando Steve a seguir uma rotina de treino de tacadas consistente* 1. 2. 3. 4. 5. 6. Steve era um jovem jogador de golfe profissional, então na Canadian PGA Tour, que jogava bem, mas ainda não ganhara um torneio profissional devido, em parte, às suas tacadas inconsistentes. Steve sabia que os jogadores de golfe profissionais tinham uma rotina de treino de tacadas mais consistente do que a dos jogadores amadores habilidosos, os quais, por sua vez, tinham uma rotina de treino mais consistente que a dos jogadores amadores menos habilidosos. Steve sabia que seu treino de tacadas não era tão consistente quanto poderia ser. Ele nem sempre checava a inclinação do gramado do campo de golfe a partir de ambos os lados da bola, antes de dar a tacada. Quando uma tacada era especialmente importante, Steve se posicionava junto à bola por um período de tempo maior do que o usual, antes de golpeá-la na direção do buraco. Também ocorreram outras inconsistências de uma tacada para outra, durante uma rodada competitiva. Steve concluiu que sua rotina inconsistente de treinos de tacada poderia estar contribuindo para as jogadas inconsistentes. O primeiro passo para estabelecer uma sequência consistente de respostas durante seu treino foi elaborar uma lista de etapas que Steve queria seguir em cada ocasião. Ao se aproximar da bola, esquecer dos pontos e se concentrar somente na tacada. Ir para trás do buraco, olhar de volta para a bola e checar a inclinação do gramado, a fim de estimar a velocidade e o trajeto da tacada. Mover-se atrás da bola, olhar na direção do buraco e verificar a inclinação novamente. Em pé, atrás da bola, escolher um ponto para alvo, simular o golpe duas vezes e visualizar a bola rolando no buraco. Mover-se ao lado da bola, ajustar o taco de golfe atrás dela e mirar o ponto desejado. Posicionar os pés em paralelo à linha de tacada. Segurar o taco da 7. maneira usual e dizer “Golpear de leve”. Olhar para o buraco, olhar para a bola, olhar para o alvo, olhar novamente para a bola e dar a tacada. O procedimento envolvia 10 tentativas. Steve seguiu todas as sete etapas, enquanto praticava uma tacada curta em um campo de golfe de treinamento. O motivo que o levou a praticar a rotina de tacadas curtas em vez das longas foi seu desejo de que cada sequência fosse acompanhada pelo reforço de dar a tacada. Em cada tentativa, um amigo checava as etapas, conforme iam sendo executadas. Caso Steve pulasse uma delas, seu amigo o fazia executá-la novamente antes de seguir para a próxima. Após completar 10 tentativas, Steve e seu amigo jogaram uma rodada de treino, na qual Steve teve que completar a rotina de treino de tacadas em toda tacada. Subsequentemente, durante as rodadas do torneio, Steve pediu ao carregador de tacos para lembrá-lo de seguir sua rotina de treino de tacadas. Passadas três semanas, Steve venceu seu primeiro evento na turnê. Embora alguns fatores sem dúvida tenham contribuído para sua vitória, Steve sentia que um deles foi o aprimoramento de suas tacadas, resultante da rotina de treino mais consistente. ENCADEAMENTO COMPORTAMENTAL Uma cadeia comportamental, também chamada cadeia de estímulo-resposta, é uma sequência consistente de estímulos e respostas que ocorrem em estreita proximidade entre si ao longo do tempo, e na qual a última resposta é normalmente seguida de um reforçador. Em uma cadeia comportamental, cada resposta produz um estímulo que serve de SD para a resposta seguinte (e, como será discutido adiante, de reforçador condicionado para a resposta anterior). Ao aprender a seguir uma rotina de treino de tacada consistente, Steve adquiriu uma cadeia comportamental. O primeiro estímulo (SD1) para toda a sequência foi a visão de sua bola na grama de golfe, enquanto caminhava em sua direção. A resposta (R1) a esse estímulo foi: “Eu me concentrarei somente nesta tacada”. Essa afirmação foi a deixa (prompt) (SD2) para ir para trás do buraco, olhar de volta para a bola e checar a inclinação do gramado, a fim de estimar a velocidade e o trajeto da tacada (R2). Os estímulos visuais resultantes (e, talvez, certos estímulos internos que poderíamos chamar “imagem da tacada e velocidade da tacada”) foram a deixa (prompt) (SD3) para andar atrás da bola e olhar na direção do buraco, para observar a inclinação do gramado a partir daquele ângulo (R3). Nesse sentido, cada resposta produziu a deixa ou estímulo para a resposta seguinte, até que toda a cadeia fosse completada e Steve experimentasse o reforço de executar a tacada. O motivo para chamar essa sequência de cadeia de estímulo-resposta pode ser visualizado ao representá-lo por escrito, da seguinte forma: SD1→R1→S D 2→R2→S D 3→R3...S D 7→R7→S + As conexões estímulo-resposta são os “elos” que mantêm a cadeia unida: como se diz; “Uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco”. Do mesmo modo, se uma resposta qualquer for tão fraca a ponto de falhar em ser evocada pelo SD que a precede, o restante da cadeia não ocorrerá. A cadeia será quebrada no ponto do seu elo mais fraco. A única forma de reparar a cadeia é fortalecer a conexão estímulo-resposta mais fraca usando um procedimento de treinamento efetivo. O símbolo S+ no extremo direito do diagrama simboliza o reforçador positivo que se segue à última resposta na cadeia. Designa o “óleo” que deve ser regularmente aplicado para manter a cadeia forte e livre de ferrugem. O reforçador no final de uma cadeia mantém os estímulos em forma de SD efetivos para as respostas que os sucedem (e será descrito adiante, na forma de reforçadores condicionados para as respostas que os precedem). Nem todas as sequências de comportamento são cadeias comportamentais Muitas sequências de comportamento que você realiza no dia a dia são cadeias comportamentais: tocar um instrumento musical, escovar os dentes, amarrar o 1. 2. 3. 4. 5. cadarço do sapato e preparar um sanduíche. Entretanto, nem todas as sequências de comportamento são cadeias de comportamento. Estudar para uma prova, fazer a prova e comparecer na próxima aula para ganhar nota representam uma sequência de comportamentos executada por um estudante universitário. Essa sequência, todavia, consiste em várias atividades (ler, memorizar, escrever etc.) com numerosas interrupções da ação (estudar, depois dormir e então ir assistir à aula etc.). Não é feita de uma série consistente de estímulos e respostas que ocorrem em estreita proximidade e para a qual cada estímulo (exceto o último) é um SD para a resposta seguinte. Questões para aprendizagem Descreva brevemente o procedimento de encadeamento usado para ensinar Steve a realizar uma rotina de treino de tacadas consistente. Descreva ou defina cadeia comportamental, e dê um exemplo que não tenha sido mencionado neste capítulo. Na sua opinião, por que a cadeia comportamental foi assim denominada? Diferencie entre uma sequência de comportamento que é uma cadeia e outra que não é uma cadeia. Dê um exemplo de uma sequência de comportamentos (não citada neste capítulo) que não seja uma cadeia, e explique por que não é uma. MÉTODOS PARA ENSINAR A CADEIA COMPORTAMENTAL Os três métodos principais para ensinar uma cadeia comportamental são o método da apresentação de tarefa total; o método do encadeamento para trás (backward chaining); e o método do encadeamento para frente (forward chaining). Com o método da apresentação de tarefa total, um indivíduo passa por todas as etapas,desde o início até o fim da cadeia, em cada tentativa, e continua com as tentativas de tarefa total até aprender a cadeia (Figura 11.1). O comando é fornecido a cada etapa, conforme a necessidade, e um reforçador se segue à conclusão correta da etapa final. Usando essa estratégia, Steve aprendeu a seguir uma rotina de treino de tacadas consistente. Em outro exemplo, Hoerner e Keilitz (1975) usaram a apresentação de tarefa total para ensinar adolescentes com falta de habilidade de desenvolvimento a escovarem os dentes. Com o método do encadeamento para trás, a última etapa é ensinada primeiro, então a etapa anterior à última é ensinada e conectada à última, para então a terceira etapa em relação à última ser ensinada e conectada às duas últimas etapas, e assim por diante, avançando retrogradamente para o início da cadeia (Figura 11.1). O encadeamento para trás constrói gradativamente a cadeia em uma ordem invertida daquela em que a cadeia é realizada, tendo sido usado em numerosos programas, inclusive no ensino de comportamentos como vestir-se, arrumar-se, trabalhar e comunicar-se verbalmente com indivíduos com falta de habilidade de desenvolvimento (p. ex., Martin et al., 1971). Para ensinar Craig, um menino com essa condição, a vestir a calça, por exemplo, o instrutor dividiu a tarefa nas sete etapas ilustradas na Figura 11.2. O instrutor então conduziu uma avaliação inicial para determinar o tipo de comando necessário para Craig realizar cada etapa corretamente. O treino começou pela última etapa (7). O instrutor de Craig o ajudou a colocar a calça, exceto na resposta da etapa 7. Várias tentativas de treino foram então conduzidas para ensinar Craig a fornecer a resposta da etapa 7. Como mostra a Figura 11.2, ao longo das tentativas, os comandos foram desaparecendo até que Craig conseguisse fechar o zíper da calça sozinho. Quando o menino aprendeu isso, seu instrutor passou à etapa 6 e o ensinou a terminar a partir daí. Quando Craig executou as duas últimas etapas sem cometer erros, passou-se para a etapa 5. Com a calça abaixada à altura dos tornozelos, ensinaram Craig a puxá-la para cima (etapa 5) e isso atuou como SD para o menino realizar a etapa 6, o que forneceu o SD para realizar a etapa 7. Em cada tentativa, Craig completava todas as etapas previamente aprendidas. O treino seguiu desse modo, uma etapa de cada vez, até Craig conseguir realizar todas elas. Ao longo do treino, as etapas individuais executadas corretamente foram reforçadas com elogio, e a conclusão da etapa 7 em cada tentativa foi seguida do fornecimento de uma guloseima como reforçador incondicionado ou primário (ver Capítulo 5). Figura 11.1 Três métodos principais de encadeamento. Estudantes de modificação de comportamento frequentemente estranham o encadeamento para trás ao lerem sobre o assunto pela primeira vez, aparentemente porque o nome sugere que, por esse método, o indivíduo aprende a realizar a cadeia de trás para frente. Isso não é verdade. Há uma ótima lógica teórica para o uso do encadeamento para trás. Considere o exemplo de Craig. Começando pela etapa 7, a resposta de “fechar o zíper” era reforçada quando o fecho estava abotoado acima do zíper. Portanto, a visão do fecho abotoado se tornou um SD para a etapa 7, que é fechar o zíper. Além disso, a visão do fecho abotoado foi pareada com os reforçadores (elogio e guloseima) que Craig recebeu após fechar o zíper. Sendo assim, com base no princípio do reforço condicionado, a visão do fecho abotoado também se tornou um reforçador condicionado para qualquer coisa que o precedesse. Após várias tentativas na etapa 7, o instrutor de Craig seguiu para a etapa 6. O comportamento de abotoar o fecho produziu o estímulo da visão do fecho abotoado, que se tornou um reforçador condicionado imediato à execução da etapa 6. Assim, ao usar o encadeamento para trás, o reforço da última etapa na presença do estímulo apropriado, ao longo das tentativas, estabelece esse estímulo como um estímulo discriminante para a última etapa e também como um reforçador condicionado para a etapa imediatamente precedente à última. Quando a etapa que antecede a última é adicionada, o SD nessa etapa também se torna um reforçador condicionado, e assim por diante. Dessa forma, o poder do reforçador positivo apresentado no final da cadeia é transferido para cada SD, conforme este é adicionado à cadeia. Nesse sentido, o encadeamento para trás tem uma vantagem teórica de ter sempre um reforçador condicionado acumulado para fortalecer cada nova reposta adicionada à sequência. Nas cadeias ensinadas por apresentação de tarefa total e encadeamento para frente, cada estímulo (subsequente ao primeiro) também acaba funcionando como um SD para a próxima resposta e como reforçador condicionado para a resposta anterior.1 No encadeamento para trás, todavia, essas duas funções são desenvolvidas de maneira bastante sistemática. Figura 11.2 Análise simples de tarefa e planilha de dados para ensinar uma pessoa com dificuldade de desenvolvimento a vestir a calça. O método do encadeamento para frente ensina primeiro a etapa inicial da sequência para ensinar e unir a primeira e a segunda etapas, e então juntando as três primeiras etapas, e assim por diante, até toda a cadeia ter sido adquirida (ver Figura 11.1). Por exemplo, Mahoney et al. (1971) usaram o encadeamento para frente para treinar crianças com desenvolvimento típico e crianças com dificuldade de desenvolvimento a irem ao banheiro. Os componentes da cadeia incluíram andar até o banheiro, abaixar a calça, sentar ou ficar em pé de frente para o vaso sanitário (conforme apropriado), urinar e puxar a calça para cima. O treino começou com a primeira etapa e, depois que uma etapa era dominada, a próxima etapa era introduzida. Cada etapa era reforçada até a etapa seguinte ser introduzida. Ao menos em parte, como o encadeamento para trás parece uma inversão da ordem natural das coisas, o encadeamento para frente e a apresentação de tarefa total são usados com mais frequência nas situações cotidianas, por indivíduos não treinados em modificação de comportamento. Entre os numerosos exemplos que podem ser citados para ilustrar o enca-deamento para frente, considere o modo como uma criança poderia ser ensinada a pronunciar uma palavra como leite. A criança primeiramente poderia ser ensinada a dizer “le”, então “lei” e, por fim, “leite”. Uma variação de um procedimento de encadeamento para frente similar foi usada para ensinar crianças com autismo a repitir palavras (Tarbox et al., 2009). Os três métodos principais de encadeamento são destacados na Tabela 11.1. Qual método é o mais efetivo? Alguns estudos (p. ex., Ash e Holding, 1990; Hur e Osborne, 1993; Slocom e Tiger, 2011; Smith, 1999; Spooner e Spooner, 1984; Walls et al., 1981; Weiss, 1978) compararam os encadeamentos para frente e para trás com diferentes categorias de indivíduos e comportamentos. De modo geral, não foi encontrada nenhuma diferença clara em termos de efetividade entre esses dois procedimentos. Em um estudo rigorosamente controlado, Slocom e Tiger (2011) constataram que os encadeamentos para frente e para trás apresentaram quase a mesma efetividade no ensino de crianças com dificuldades de aprendizado e falta de habilidade do desenvolvimento a realizarem sequências motoras arbitrárias específicas (p. ex., tocar a cabeça, bater palmas, tocar o nariz) de diferentes extensões. Além disso, nenhum procedimento teve maior preferência pelas crianças. Tabela 11.1 Destaque dos três métodos principais de encadeamento. Para todos os métodos Fazer uma análise da tarefa Apresentação de tarefa total O aprendiz experimenta cada etapa de cada tentativa, de tal modo que todas as etapas não dominadas são ensinadas ao mesmo tempo O instrutor fornece comandos e elogio por todas as etapas não dominadas Um reforçador é apresentado em seguida à última etapa O treino prossegue nesse sentido, até todas as etapas serem dominadas Encadeamento para frente A começar pela primeira, aetapa deve ser dominada antes de seguir para a próxima O instrutor fornece comandos e um reforçador para a etapa que está sendo ensinada Em cada tentativa, todas as etapas previamente dominadas são exigidas Nesse sentido, uma etapa é aprendida de cada vez, avançando rumo à última Encadeamento para trás Começando pela última etapa, é preciso dominá-la antes de seguir para a etapa imediatamente anterior O instrutor fornece comandos para a etapa que está sendo ensinada Em cada tentativa, todas as etapas previamente dominadas são exigidas e a última etapa é seguida do reforçador Nesse sentido, uma etapa é aprendida de cada vez, avançando retrogradamente para a primeira Há um número consideravelmente menor de estudos científicos comparando a apresentação de tarefa total a outros métodos de encadeamento. No entanto, vários estudos demonstraram que a apresentação de tarefa total é pelo menos tão boa, se não ainda melhor, do que o encadeamento para trás ou para frente para ensinar várias tarefas a indivíduos com dificuldade de desenvolvimento (Martin et al., 1981; Spooner, 1984; Yu et al., 1980). Além disso, Bellamy et al. (1979) sugeriram que a apresentação de tarefa total oferecia diversas vantagens práticas, em comparação aos formatos de encadeamento para a aprendizagem desses mesmos indíviduos. A apresentação de tarefa total requer que o instrutor dedique menos tempo na montagem parcial ou desmontagem para a preparação da tarefa de treino; enfoca simultaneamente a topografia da resposta ao ensino e a sequência de respostas, e assim, de maneira intuitiva, deve produzir resultados com maior rapidez; além disso, também parece maximizar a independência do aprendiz precocemente no decorrer do treinamento, sobretudo se já estiver familiarizado com algumas etapas. Qual é o método de escolha para indivíduos sem falta de habilidade do desenvolvimento? Para tarefas com um número pequeno de etapas que podem ser concluídas em um curto prazo (no máximo em alguns minutos), a apresentação de tarefa total é provavelmente o método de escolha. Existem muitos exemplos desse tipo de tarefa em esportes, como a rotina de treino de Steve ou o saque everhand no vôlei (p. ex., Velentzas et al., 2011). Entretanto, para tarefas mais complexas, tanto o encadeamento para trás como o encadeamento para frente provavelmente são mais efetivos. Por exemplo, ao ensinar bombardeio de mergulho, uma manobra complexa de voo, Bailey et al. (1980) constataram que o encadeamento para trás era mais efetivo do que a apresentação de tarefa total. Em um experimento para ensinar estudantes de Psicologia Introdutória a realizar uma tarefa musical no teclado pela qual receberiam pontos conforme os erros de melodia e tempo, os encadeamentos para trás e para frente foram mais efetivos do que a apresentação de tarefa total, sendo que o encadeamento para frente foi ainda mais efetivo do que o encadeamento para trás na maioria das medidas (Ash e Holding, 1990). Além disso, usar o encadeamento para trás para ensinar certas tarefas pode ser mais prático. Ao fornecer instruções de direção, por exemplo, é altamente recomendável ensinar o uso do freio antes de ensinar o do acelerador. 6. 7. 8. 9. 10. 11. Questões para aprendizagem Descreva brevemente o método de encadeamento de apresentação de tarefa total. Descreva brevemente o método de encadeamento para trás. Descreva brevemente o método de encadeamento para frente. Descreva como cada um dos três métodos de encadeamento principais poderia ser usado para ensinar uma pessoa a arrumar a cama. Em uma cadeia, um dado estímulo é SD e também um reforçador condicionado. Como isso é possível? Explique com um exemplo. Qual dos principais métodos de encadeamento é recomendado pelos autores para o ensino de indivíduos com dificuldade de desenvolvimento? Por quais motivos? COMPARAÇÃO DE ENCADEAMENTO COM DESVANECIMENTO E MODELAGEM Encadeamento, desvanecimento e modelagem comportamental por vezes são denominados procedimentos de modificação gradativa, uma vez que cada um deles envolve o avanço gradual por uma série de etapas para produzir um novo comportamento, um novo controle de estímulo sobre um comportamento ou uma nova sequência de etapas de estímulo-resposta. É importante conhecer claramente as distinções entre esses três procedimentos de modificação gradativa. A Tabela 11.2 resume algumas similaridades e diferenças dos três procedimentos, ao serem tipicamente aplicados. Tabela 11.2 Similaridades e diferenças entre modelagem, desvanecimento e encadeamento. Aspectos Modelagem Desvanecimento Encadeamento Comportamento- alvo Novo comportamento ao longo de uma dimensão física, como topografia, quantidade ou intensidade Novo controle de estímulo de um comportamento em particular Nova sequência consistente de estímulos e respostas Ambiente de treinamento Muitas vezes, envolve um ambiente não estruturado em que o aprendiz tem oportunidade de emitir diversos comportamentos Envolve tipicamente um ambiente estruturado, porque os estímulos devem ser precisamente controlados Envolve tipicamente um ambiente estruturado, porque os estímulos devem ser precisamente controlados Outras considerações sobre procedimento Envolve sucessivas aplicações de reforço e extinção Envolve aplicações sucessivas de reforço; caso use extinção, o desvanecimento não ocorre de modo ideal Frequentemente, envolve comandos (prompts) verbais e físicos, e/ou orientação combinada com desvanecimento e/ou modelagem em algumas etapas FATORES QUE INFLUENCIAM A EFETIVIDADE DO ENCADEAMENTO COMPORTAMENTAL Análise de tarefa Para a máxima efetividade do encadeamento comportamental, a sequência de comportamentos deve ser dividida em componentes controláveis e a ordem apropriada desses componentes mantida. A divisão de uma tarefa em etapas menores ou respostas componentes para facilitar o treinamento é chamado análise de tarefa. Alguns exemplos de habilidades complexas que passaram por análises de tarefa são as de manutenção residencial (Williams e Cuvo, 1986), cuidados menstruais (Richman et al., 1984), tênis (Buzas e Ay llon, 1981), defesa ofensiva em um time de futebol americano juvenil (Komali e Barnett, 1977), lazer (Schleien et al., 1981), e caminhar com segurança em meio ao trânsito (Page et al., 1976). Assim como na seleção das etapas de modelagem (discutida no Capítulo 7), a seleção das etapas ou componentes do encadeamento é algo subjetiva. Os componentes devem ser simples o suficiente para serem aprendidos sem grande dificuldade. Se você quer que uma criança aprenda a escovar os dentes corretamente, seria um erro considerar que a tarefa deva ser aprendida colocando a pasta dental na escova, escovando os dentes e enxaguando. Para a criança dominar a cadeia, cada um desses componentes deve ser subdividido em componentes menores. Os componentes também devem ser selecionados de modo a propiciar um estímulo nítido que sinalize a conclusão de cada um deles. Esses estímulos então se tornarão reforçadores condicionados para as respostas que os precedem, bem como SD para as respostas subsequentes na cadeia. Por exemplo, para ensinar a lavar corretamente as mãos, você poderia selecionar como um dos componentes a ação de colocar água na pia. Seria importante especificar um nível de água na pia – talvez, até fazer uma marca (ao menos temporariamente) –, a fim de fornecer um estímulo bastante claro que estabeleça o fim desse componente (que poderia ser definido como controlar a vazão até a água atingir o nível desejado). Depois de completar a análise de tarefa, você deve rever cada um dos estímulos de controle ou SD para cada resposta na sequência. De modo ideal, cada SD deve ser claramente distinto dos demais. Quando estímulos similares controlam respostas diferentes, aumentam as chances de erro e confusão para o aprendiz. Se houver dois estímulos de controle bastante parecidos na sua análise de tarefa e, aparentemente, não houver nada que possa ser feito a respeito disso, considere então a possibilidadede codificar artificialmente um dos estímulos, de modo a tornar a aquisição da cadeia mais fácil. Uso independente de prompts pelo aprendiz Assim como Steve, muitos indivíduos podem usar prompts de maneira independente, para orientar o domínio de uma cadeia de comportamentos. Para indivíduos conseguirem ler, uma análise de tarefa escrita poderia servir efetivamente de prompts para que eles completassem as cadeias comportamentais (p. ex., Cuvo et al., 1992). Se os aprendizes não conseguirem ler, uma série de comandos de imagem poderia orientá-los. Thierman e Martin (1989), por exemplo, prepararam um álbum de imagens para orientar adultos com grave dificuldade intelectual a completarem cadeias comportamentais que melhoraram a qualidade da limpeza doméstica. Os aprendizes foram ensinados a olhar a imagem de uma etapa apropriada, executar essa etapa e, então, transferir um ponto adesivo de automonitoramento para indicar que a etapa foi concluída. A estratégia se mostrou efetiva. Outra estratégia que envolve o uso independente de prompts para guiar a conclusão de cadeias comportamentais envolve recitar autoinstruções. Indivíduos com falta de habilidade do desenvolvimento têm sido ensinados a recitarem autoinstruções que servem de comando para a conclusão correta de tarefas (Salend et al., 1989), a resolução correta de problemas de matemática (Albion e Salzburg, 1982) e o reconhecimento correto de letras e do alfabeto (Whitman et al., 1987). Tentativa de modelagem preliminar Em alguns casos, como o de pessoas com falta de habilidade do desenvolvimento ou crianças pequenas, pode ser desejável moldar a sequência inteira enquanto é feita a descrição verbal do desempenho de cada etapa (p. ex., Griffen et al., 1992). (As diretrizes de modelagem são descritas no Capítulo 18.) Se uma única amostra de tarefa de treinamento estiver disponível, esta deve ser desmontada após a tentativa de modelagem e seus componentes deverão ser reagrupados para que o aprendiz realize a tarefa. De outro modo, o aprendiz pode ser ensinado usando amostras alternativas da tarefa. Treinamento da cadeia comportamental O treinamento deve começar com uma solicitação para iniciar o trabalho e completar a(s) etapa(s) da tarefa. A(s) etapa(s) a ser(em) iniciada(s) depende(m) do método utilizado, seja apresentação de tarefa total, encadeamento para trás ou encadeamento para frente. Se em qualquer etapa o aprendiz parar de responder ou parecer distraído, você deverá primeiramente fornecer um comando, como “Qual é a próxima?” ou “Continue”. Se o aprendiz der uma resposta incorreta ou não responder em uma dada etapa qualquer dentro de um período de tempo razoável, você deverá dar prosseguimento à correção do erro. Forneça a instrução ou orientação física necessária para ajudar o aprendiz a realizar a etapa corretamente. Corrigido o erro, siga para a próxima etapa. Reforçadores sociais amplos e outros Às vezes, um reforçador natural que se segue à conclusão de uma cadeia será suficiente para mantê-la. Foi o que aconteceu no caso de Steve. Ao ensinar cadeias comportamentais a indivíduos com falta de habilidade do desenvolvimento ou crianças pequenas, todavia, muitas vezes é desejável elogiar imediatamente após a conclusão correta de cada etapa durante o treinamento (p. ex., Koop et al., 1980). Além disso, é desejável também fornecer um reforçador primário ou incondicionado (como uma guloseima) contingente à conclusão bem-sucedida da última etapa na cadeia. Conforme o aprendiz se torna mais habilidoso na execução das etapas, elogios e outros reforçadores podem ser gradualmente eliminados. Estratégias adicionais para manter cadeias 12. 13. 14. comportamentais dominadas são descritas no Capítulo 16. Assistência nas etapas individuais Dependendo dos detalhes da análise de tarefa, pode ser necessário fornecer alguma instrução extra ou assistência física na correção de erros. Ao longo de sucessivas tentativas, essa assistência extra deve deixar de ocorrer o mais rápido possível. Não forneça assistência a ponto de criar dependência no aprendiz. Ou seja, tenha cuidado para não reforçar erros nem fazê-lo esperar pela sua ajuda em etapas particulares. ARMADILHAS DE ENCADEAMENTO COMPORTAMENTAL Aplicação errada acidental Assim como o comportamento supersticioso pode se desenvolver por meio de reforço acidental, como discutido no Capítulo 4, cadeias com um ou mais componentes indesejados podem se desenvolver sem que alguém tenha consciência nem perceba que isso está acontecendo. Uma cadeia comportamental que tem alguns componentes funcionais na produção do reforçador e pelo menos um componente (chamado componente supersticioso) não funcional é chamada cadeia acidental. Questões para aprendizagem Distinguir entre os tipos de comportamento-alvo normalmente estabelecidos por modelagem, desvanecimento e encadeamento. Suponha que você queira ensinar alguém a trocar o pneu de um carro. Você usaria modelagem ou encadeamento? Justifique sua escolha. O que se entende pelo termo “análise de tarefa”? Descreva uma análise de tarefa plausível e adequada para ensinar uma criança de 3 anos a amarrar os sapatos. 15. Descreva brevemente 3 estratégias para ajudar os indivíduos a usar prompts de maneira independente para orientar o domínio de uma cadeia comportamental. Um tipo comum de encadeamento acidental indesejado ocorre quando uma resposta inapropriada e não funcional precede uma ou mais respostas apropriadas que são reforçadas. Ambas as respostas – inapropriadas e apropriadas – são então fortalecidas. Um exemplo desse tipo de encadeamento é o hábito de dizer “tipo” ou “hum” durante uma conversa. Um exemplo parecido, ainda que um pouco mais sério, é fazer caretas antes de cada declaração. Outros exemplos de armadilha de aplicação errada acidental envolvem problemas de autocontrole que atormentam muitas pessoas. As cadeias comportamentais indesejadas que caracterizam problemas desse tipo não são cadeias acidentais, porque todos os componentes são funcionais na produção de reforço. Entretanto, são inadvertidas ou não intencionais no sentido de que um ou mais componentes da cadeia são indesejáveis. Considere o problema da reação exagerada. Embora haja sem dúvida uma variedade de possíveis razões que levam à reação exagerada, uma das causas mais frequentes pode ser o desenvolvimento não intencional de cadeias comportamentais indesejadas. Foi observado, por exemplo, que algumas pessoas com sobrepeso comem muito rápido (Spiegel et al., 1991). Um exame da sequência comportamental envolvida sugere a seguinte cadeia: encher o garfo de comida, colocar a comida na boca, colocar mais comida no garfo enquanto mastiga a comida, deglutir a comida enquanto leva a próxima garfada à boca, e assim por diante. Essa cadeia comportamental pode ser dividida sucessivamente estendendo-a e introduzindo intervalos (Stuart, 1967). Uma cadeia mais desejável poderia ser a seguinte: encher o garfo de comida, colocar a comida na boca, deixar o talher no prato, mastigar a comida, deglutir, aguardar 3 segundos, encher o garfo novamente e assim por diante. Em outras palavras, na cadeia indesejável, a pessoa fica pronta para consumir a próxima porção de comida antes de terminar de ingerir a que está na boca. Uma cadeia mais desejável se para esses componentes e introduz breves intervalos. Posteriormente, esses intervalos poderão desaparcer sem que o indivíduo volte a comer rapidamente como antes. Outra cadeia de comportamento indesejável manifestada por algumas pessoas consiste em assistir TV até a exibição dos comerciais, ir para a cozinha durante o intervalo, pegar um lanche e voltar a assistir ao programa (o que, aliado ao sabor da comida, reforça o comportamento de pegar um lanche). Vários procedimentos podem resolver esses problemas de autocontrole e serão discutidos em com mais detalhes no Capítulo 26. O ponto a ser destacado aqui é que os comportamentos indesejáveis frequentemente são componentes de cadeias comportamentais desenvolvidas de modo não intencional.Aplicação errada por conhecimento parcial Alguns procedimentos de modificação de comportamento aparentemente eficazes podem promover um encadeamento indesejável, se o modificador do comportamento for descuidado. Isso é ilustrado por um projeto conduzido por Olenick e Pear (1980), cujo objetivo era ensinar nomes de imagens a crianças com atrasos no desenvolvimento. As crianças receberam um questionário em que havia uma imagem para ser nomeada e a pergunta: “O que é isto?”. As respostas corretas eram reforçadas. Se as crianças errassem, recebiam um teste de imitação em que o instrutor apresentava a pergunta e, imediatamente em seguida, demonstrava o modelo de resposta (p. ex., “O que é isto? Gato”). Olenick e Pear observaram que algumas crianças cometiam um grande número de erros mesmo quando parecia que conseguiriam nomear corretamente as imagens. Os pesquisadores sugeriram que, nesses casos, havia ocorrido o desenvolvimento de uma cadeia em que os erros nos questionários eram reforçados pelos testes de imitação, porque uma resposta mais fácil (imitação) era reforçada nesses testes. Olenick e Pear resolveram esse problema diminuindo a frequência de reforço para as respostas corretas nos testes de imitação e, ao mesmo tempo, mantendo uma alta frequência de reforço para as respostas corretas nos questionários. DIRETRIZES PARA O USO EFETIVO DO ENCADEAMENTO COMPORTAMENTAL Observe as regras a seguir ao ensinar cadeias comportamentais. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Fazer uma análise de tarefa. Identifique as unidades da cadeia que são simples o bastante para o indivíduo aprender sem grande dificuldade. Considerar estratégias (p. ex., imagens) para o uso independente de prompts pelos aprendizes. Se necessário, fazer uma tentativa de modelagem preliminar. Decidir sobre o método de encadeamento (apresentação de tarefa total, encadeamento para trás ou encadeamento para frente) e ensinar as unidades na sequência apropriada. Para acelerar o aprendizado, usar um procedimento de desvanecimento para diminuir a ajuda extra que o aprendiz pode precisar para realizar algumas etapas. Ao usar o encadeamento para trás ou o para frente, garantir que em cada tentativa o indivíduo execute todo o conjunto de componentes aprendidos até aquele momento. No início do treinamento, usar reforço amplo para o desempenho correto em etapas individuais. Diminuir gradualmente esse reforço à medida que o aprendiz se tornar mais habilidoso. Garantir que o reforço fornecido ao final da cadeia esteja em conformidade com as diretrizes para a aplicação efetiva de reforço positivo fornecidas no Capítulo 4. Quanto mais efetivo for esse reforço terminal, mais estável será a cadeia de respostas. Entretanto, isso não significa que, uma vez desenvolvida uma cadeia, esta deve ser reforçada toda vez que ocorrer, a fim de que seja mantida. Depois que uma cadeia foi ensinada, é possível vê- la como uma resposta única que pode, quando desejado, ser submetida a qualquer esquema de reforço intermitente. Questões para aprendizagem 16. 17. 18. 1. 2. 3. 4. 1. O que é uma cadeia acidental? Dê um exemplo de cadeia que não tenha sido citado neste capítulo. Identifique claramente o componente supersticioso. Dê um exemplo de armadilha de aplicação errada acidental de encadeamento que não seja uma cadeia acidental. Explique como essa armadilha poderia ser evitada. Exercícios Exercícios envolvendo outros Descreva como você poderia usar o encadeamento comportamental para ensinar uma criança a amarrar o cadarço do sapato. Descreva como você poderia usar o encadeamento comportamental para ensinar uma criança a dar um nó. Descreva como você poderia usar o encadeamento comportamental para ensinar uma criança a fazer um laço. Aplique seus programas de encadeamento nos exemplos acima, e veja como funcionam. Exercício de automodificação Identifique um déficit de comportamento seu que possa ser respondente a um procedimento de encadeamento. Descreva em detalhes como você poderia usar as diretrizes de uso efetivo do encadeamento para superar esse déficit. Nota para aprendizagem A teoria de que os estímulos em uma cadeia atuam como reforçadores 1. condicionados para as respostas precedentes e como SD para a resposta subsequente atrai muitos analistas comportamentais, por sua simplicidade. Entretanto, a pesquisa básica com animais conduzida ao longo dos últimos 50 anos demonstrou que essa teoria é uma supersimplificação (Fantino, 2008). Os estímulos mais iniciais em uma cadeia comportamental longa assumem outra função, além da função de serem reforçadores condicionados e SD. Na verdade, se os reforçadores condicionados ocorrerem a um intervalo de tempo suficientemente longo antes do reforçador primário ou incondicionado (ver Capítulo 5) no fim da cadeia, de fato se tornam SΔ. Para ser mais preciso, à medida que aumenta a distância temporal (i. e., a distância no tempo) dos estímulos em uma cadeia comportamental em relação ao reforçador primário, maior será a diminuição de sua qualidade de serem SD e mais começarão a assumir a propriedade de SΔ. Isto ocorre porque, conforme aumenta sua distância temporal em relação ao reforço primário, mais eles se tornam associados à ausência de reforço primário. Em outras palavras, ao considerar a força de um SD com base no reforçador condicionado que o segue, também se deve considerar sua fraqueza como SD – ou, mais tecnicamente, seu potencial inibitório – como uma função de sua distância temporal em relação ao reforço primário. Essa função inibitória pode compensar qualquer vantagem que o encadeamento para trás possa proporcionar no fornecimento de reforço condicionado, e talvez seja por isso que os estudos aplicados tipicamente não têm encontrado nenhuma superioridade do encadeamento para trás em relação ao encadeamento para frente (Ash e Holding, 1990; Batra e Batra, 2005/2006; Hur e Osborne, 1993; Walls et al., 1981). Questão adicional Explique como a teoria de que os estímulos em uma cadeia comportamental são reforçadores condicionados para as respostas precedentes e SD para as respostas subsequentes é, na verdade, uma supersimplificação. ____________ * Este exemplo é baseado em uma consulta com G. Martin (1999).
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