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APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 1 APG 28 – Coceira danada 1) COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO (INCLUIR DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL) E TRATAMENTO DA DERMATITE ATÓPICA A dermatite atópica (DA) é um distúrbio cutâneo agudo, subagudo ou crônico e recidivante. É mais comum na infância, sendo nos primeiros 3 meses de vida e nos primeiros anos em 60% dos casos. 30% até os 5 anos de idade, e apenas 10% entre 6 e 20 anos, ou seja, raramente tem início na vida adulta. É mais comum no sexo masculino. Sinônimos: eczema atópico, prurigo disseminado e prurigo diatésico. Trata-se de doença genética, de herança poligênica, com evidentes alterações imunológicas, fortemente influenciada por fatores ambientais e, eventualmente, emocionais. E, frequentemente associada a uma história pessoal ou familiar de DA, rinite alérgica e asma (marcha atópica). A marcha atópica refere-se à história natural de evolução das doenças alérgicas. As doenças alérgicas começam a se manifestar por meio da DA (crianças nos primeiros meses de vida), seguida de asma e/ou rinite alérgica. FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO O padrão de herança genética ainda não está definido, porém, em um estudo, 60% dos adultos com DA tinham filhos doentes. Sendo a prevalência maior em que ambos genitores têm DA. Fatores desencadeantes da DA: Inalantes: aeroalérgenos específicos, particularmente ácaros da poeira e pólens. Agentes microbianos: exotoxinas de S. aureus, que atuam como superantígenos, Streptococcus do grupo A e raramente fungos (Candida). Autoalérgenos: anticorpos IgE direcionados contra proteínas humanas. A liberação desses autoalérgenos por tecidos lesionados pode desencadear a produção de IgE ou as respostas das células T, sugerindo a manutenção da inflamação alérgica. Alimentos: lactentes e crianças apresentam exacerbações da DA com a ingestão de ovos, leite, amendoim, soja, peixe e trigo. Roupas: o prurido é agravado após a remoção das roupas. A lã é um importante fator desencadeante (roupas, pelos de animais, tapetes, etc). Estresse emocional: resulta da doença, ou o próprio estresse constitui um fator agravante nas exacerbações da doença. Na dermatite atópica ocorre uma ineficiência da barreira cutânea e uma hiper-reatividade da mesma. A disfunção da barreira é principalmente por uma mutação no gene da Filagrina, que codifica proteínas estruturais que são essenciais para a formação da barreira cutânea. Essa barreira cutânea alterada leva à uma desregulação do metabolismo lipídico da epiderme e redução das ceramidas o que acaba fazendo com que a barreira não funcione mais e, também, comece a perder água que está contida na pele. Isso tudo permite que os antígenos entrem na pele e desenvolva a DA. Além disso, terá uma disbiose na microbiota cutânea (predomínio de S. aureus e Malassezia furfur), em que o sistema imune inato estará alterado (desregulação imune) nos pacientes com DA, o que reduz os peptídios microbianos e contribui pro aumento de infecções virais e bacterianas na pele, influenciando também no desenvolvimento da DA. A diminuição da resposta aos agentes externos leva à um aumento das citocinas pró-inflamatórias que levam a produção de IgE. Haverá uma reação de hipersensibilidade tipo I (mediada por IgE) que ocorre em consequência da liberação de substâncias vasoativas dos mastócitos e dos basófilos (2ª exposição ao antígeno), que foram sensibilizados (1ª exposição) pela interação do antígeno com a IgE (anticorpo reagínico ou sensibilizante da pele). A alta afinidade dos receptores de IgE nas células de Langerhans pode mediar uma reação tipo eczema (alteração da pele). Nesses pacientes, os níveis de AMP-cíclico (AMPc) intracelulares estão diminuídos nos macrófagos, basófilos e linfócitos, o que é responsável por: Aumentar a liberação de histamina; Diminuir os linfócitos T supressores; Aumentar a produção de IgE.: ocorre em 80% e parece ter correlação com a extensão e gravidade da doença e APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 2 com asma e/ou rinite alérgica. Além disso, existe aumento dos níveis séricos de IgE com especificidade a antígenos alimentares e, principalmente, inalantes. A inflamação aguda na DA está associada a um predomínio na expressão de: IL-4: é liberado pelo linfócito T, do subtipo Th2, que induz o linfócito B à produção de IgE nos linfonodos aferentes. A IL-4 também parece estimular a síntese de IgG4, a produção de histamina pelos mastócitos e inibe a produção do IFN-gama, o que explica a maior suscetibilidade à infecção, uma vez que sua função é ativar macrófagos. Portanto, na pele do portador de DA, parece ocorrer um somatório de reações tipo I e tipo IV, que podem ser induzidas pelo mesmo antígeno. IL-13; Enquanto a inflamação crônica na DA está associada a níveis aumentados de IL-5, do fator de estimulação de colônias granulocíticas e macrofágicas, da IL-12 e do interferon (IFN- gama). Por conseguinte, a inflamação cutânea na DA exige um padrão bifásico de ativação das células T. Dessa forma, é caracterizada principalmente por pele seca e prurido, a consequente coçadura leva a aumento da inflamação e liquenificação (pele espessa), agravando o prurido e a escoriação: ciclo de prurido-escoriação: terá uma disfunção da barreira cutânea, com isso terá uma resposta Th2 alterada que leva à uma alergia (produção de IL-31, TLSP e histamina) que estimula o prurido. Esse prurido faz com que haja disfunção da barreira cutânea. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Trata-se de dermatose crônica com recidivas, podendo ocorrer em qualquer idade a partir do 3º mês de vida. *<3 meses pensar na dermatite seborreica O prurido é intenso e está sempre presente, piora à noite e com suor. Todos os pacientes apresentam ressecamento (xerose) de toda pele. TRÍADE: prurido + eczema (dermatite) + xerose Outros sintomas de atopia: rinite alérgica, obstrução das vias nasais, prurido conjuntival e faríngeo, e lacrimejamento sazonal quando associada ao pólen. As lesões cutâneas (eczemas) podem ser: AGUDAS: máculas eritematosas mal definidas, pápulas e placas, com ou sem descamação, a pele parece “congestionada” e edemaciada. As erosões são úmidas e crostosas. A pele é seca, rachada e descamativa. CRÔNICAS: liquenificação (espessamento da pele com acentuação dos sulcos cutâneos), liquenificação folicular (pardos e negros), fissuras dolorosas (áreas flexoras = palmas e dedos das mãos e nas plantas). A morfologia e a distribuição das lesões variam com a idade, tentando a ser mais exsudativas na 1ª infância e liquenificadas nas faixas etárias mais avançadas. Fases da DA: (podem evoluir de uma fase para outra, ou iniciar-se em qualquer uma delas) DA INFANTIL (até 2 anos): surge entre os 3 e 6 meses como áreas eritematocrostosas, inicialmente nas regiões malares (poupando a região central), disseminando-se, principalmente, para o couro cabeludo, pescoço, fronte, punhos, face de extensão de membros (movimento de engatinhar) e área das fraldas. As lesões apresentam-se na forma de eritema cutâneo, vesículas minúsculas em uma superfície “congestionada”. Descamação, exsudação com crostas úmidas e rachaduras (fissuras); DA PRÉ-PUBERAL: ao término do 2º ano de vida, observa-se resolução espontânea em menos da metade dos casos, na maioria, as lesões tornam-se menos exsudativas, mais papulosas e com tendência a liquenificação (lesões crônicas), comprometendo principalmente as dobras antecubitais e poplíteas, punhos, pálpebras, face e pescoço. APG – SOI IIIEmilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 3 DA PUBERAL OU ADULTA: as lesões são liquenificadas e mais frequentes nas pregas flexoras dos braços, pescoço e pernas. Pode haver acometimento isolado da face, do dorso das mãos e dos pés, punhos e tornozelos. Manifestações associadas: Dermografismo “branco”: a aplicação de pressão suave sobre a pele acometida não provoca eritema, como a pele normal, mas empalidecimento; Conjuntivite vernal com hipertrofia papilar ou aspecto em “pedras de calçamento” da conjuntiva da pálpebra superior. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é basicamente clínico, corroborando muitas vezes por uma história pessoal ou familiar de atopia. Eosinofilia e aumento da IgE total circulante podem reforçá-lo. A confirmação diagnóstica é feita por meio dos critérios apresentados na tradicional classificação de Hanifin e Rajka. É necessária a associação de um mínimo de 3 critérios maiores a 3 menores. 0 a 14: dermatite atópica leve 15 a 40: dermatite atópica moderada acima de 41: dermatite atópica grave. O diagnóstico diferencial é feito com base na dermatite por contato alérgica ou por irritante, dermatite seborreica, psoríase e sarna (sendo que, nesse último caso, o envolvimento das dobras cutâneas e a presença de vesicopústulas nas palmas e na sola sugerem o diagnóstico de sarna. A demonstração de ácaros ou ovos por raspagem da pele, dermatoscopia ou teste de fita adesiva pode confirmar o diagnóstico). TRATAMENTO O tratamento consiste em orientações ao paciente e à família de cuidados. Os principais objetivos são evitar a coçadura, a xerodermia e afastar os agravantes (sabões, lã, extremos de temperatura, baixa umidade ambiente, exposição a antígenos inalantes, banhos demorados e quentes, roupas sintéticas, substâncias irritantes à pele (suor excessivo) etc.). É importante recomendar o corte das unhas semanalmente, visando assim diminuir as escoriações. A hidratação da pele com hidratantes, especialmente óleo de amêndoas doces, vaselina ou alfa-hidroxiácidos, associados ou não a cremes de corticosteroide de potência variável segundo a área, o tipo de lesão a ser tratada e a idade do paciente; Anti-histamínicos sedativos são indicados para controle do prurido; Corticoides tópicos são as medicações efetivas no tratamento, porém não devem ser usados * * * * * * * APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 4 indiscriminadamente. Como alternativa aos corticosteroides tópicos, pode-se usar pastas e cremes com coaltar 2 a 4%. Inibidores de calcineurina (pimecrolimo e tacrolimo) são imunomoduladores de uso recente no arsenal terapêutico da dermatite atópica. Tem ação semelhante aos corticosteroides, sendo anti-inflamatórios e inibindo a liberação de interleucinas, sem causar efeitos colaterais indesejáveis conhecidos. Nos casos que existam lesões com infecções secundárias, o uso de antibiótico efetivo contra S. aureus é fundamental para melhora do quadro. REFERÊNCIAS Azulay, RD., Azulay-Abulafia, L. Dermatologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Wolff, K., Johnson, R.A., Saavedra, A. P. Dermatologia de Fitzpatrick. 8. ed. 2019.
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