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Módulo Controle da Incidência Tributária ALUNO: LEANDRO TAKEO ALVES WATANABE TURMA: 2022.02-CIT-BSB Seminário V - TRIBUTAÇÃO ADUANEIRA Questões 1. Construa a RMIT dos Impostos de Importação e de Exportação. Qual o conceito de produto para fins de incidência destes tributos? A Regra Mariz de Incidência Tributária do Imposto de Importação se compõe da seguinte maneira: Antecedente Critério material: constituído pelo verbo “importar”, tendo como complemento “produtos estrangeiros”; Critério espacial: no território nacional, nas repartições aduaneiras; Critério temporal: considera-se ocorrido no átimo da entrada do produto em território nacional, todavia, para efeitos de cálculo de imposto considera- se o momento do registro da declaração de importação. Consequente Critério pessoal: sujeito ativo – União; sujeito passivo – importador, ou pessoa a ele equiparada por lei, de produto estrangeiro. Critério quantitativo: base de cálculo – considera-se o valor aduaneiro do produto nos casos em que a alíquota for ad valorem, porém, nos casos de alíquota específica, considera-se a quantidade de mercadoria, descrita na unidade de medida indicada. Alíquota – determinada de acordo com a natureza do produto. Já a Regra Matriz de Incidência Tributária do Imposto de Exportação é composta da seguinte forma: Antecedente Critério material: formado pelo verbo “exportar”, tendo como complemento “produtos nacionais ou nacionalizados para o exterior”; Critério espacial: nas fronteiras do território nacional, transposição do Módulo Controle da Incidência Tributária território nacional com destino a outro país; Critério temporal: saída do produto do território nacional, no momento da expedição da Guia de Exportação ou documento equiparado. Consequente Critério pessoal: sujeito ativo – União; sujeito passivo – exportador, ou pessoa a ele equiparada por lei, de produto nacional ou nacionalizado. Critério quantitativo: base de cálculo – considera-se o valor normal do produto ao tempo da exportação nos casos em que a alíquota for ad valorem, todavia, nos casos de alíquota específica, considera-se a quantidade da mercadoria, expressa na unidade de medida indicada. Alíquota – determinada de acordo com a natureza do produto. Importante salientar que o art. 153, I, da CF/88, bem como o art. 19, do CTN mencionam produtos, ao passo que o art. 1º do Decreto Lei 37/66 cita a expressão mercadoria ao abordar o objeto da importação. Nesse sentido, assim destaca a autora Misabel Derzi: A Constituição de 1988 (art. 153) e o art. 19 do CTN utilizam-se da expressão produto, mais ampla do que mercadoria, enquanto o Decreto-lei nº 37/1966, no art. 1º, emprega o termo mercadoria. Mas a doutrina não vê nisso, com razão, qualquer limitação da lei ordinária de caráter isencional ou não exercício pleno de sua competência. (...) Na importação não é relevante que haja negócio jurídico ou transferência de propriedade. Basta considerar que os bens e objetos de uso pessoal do importador (bagagem) podem se sujeitar a imposto”. (DERZI, 2015, p. 282-283) O conceito de produto abrange tanto mercadorias, estas com caráter comercial, como outros bens, estes destinados ao uso ou consumo pelo importador. Veja-se que mercadoria tem significado mais restrito que produto, de modo que remete somente aos bens direcionados ao comércio. Por outro lado, produto abrange todo bem material advindo de um processo de produção. Nesse sentido, o Decreto Lei acima mencionado não teve o condão de alterar o fato gerador do imposto, mesmo porque não poderia modificar o que constitucionalmente estabelecido para determinar o fato gerador. Sendo Módulo Controle da Incidência Tributária assim, até os objetos importados que não possuam finalidade comercial poderão ser suficientes para identificar o critério material da RMIT no imposto em discussão. Da mesma maneira, tal conceito mais amplo de produtos também se aplica ao imposto de exportação. 2. A empresa “X” firmou contrato de fornecimento, formalizando a aquisição de bem do exterior, datado de 10/05/2017. Os produtos transpuseram a fronteira brasileira, por via marítima em 15/06/2017, chegaram ao porto de Santos em 18/06/2017, em 25/06/2017 a empresa registrou a operação junto ao SISCOMEX e os produtos foram desembaraçados em 02/07/2017. No momento da realização do contrato a alíquota do referido imposto era de 10%. No entanto, em 01/06/2017 o Governo Federal publicou decreto que aumentou a alíquota aplicável à importação do referido bem para 20%, em 16/06/2017 houve outro aumento de alíquota para 30%, em 22/06/2017 para 35% e em 01/07/2017 para 38%. Pergunta-se: qual é a alíquota aplicável à operação de importação em análise? Fundamente. (Vide anexo I e II) Inicialmente, para elucidar a questão deve-se diferenciar dois momentos que ocorrem na operação, quais sejam, momento do fato e momento no fato. O primeiro se trata daquele em que o fato gerador será vertido em linguagem competente, isto é, será constituído por norma individual e concreta. Em relação ao segundo momento, se trata daquele descrito na RMIT como bastante para que aconteça a tributação. Conforme descrito na questão anterior, a RMIT do imposto de importação, em seu critério temporal, define que ocorre o fato gerador no momento da entrada do produto no território nacional, porém, para efeito de cálculos de imposto considera-se o momento do registro da declaração de importação. Nesse sentido, entende-se que a alíquota aplicável ao caso em tela é a de 35%, pois era a vigente entre 22/06/2017 e 01/07/2017, sendo que o registro da declaração de importação ocorreu em 25/06/2017. Ressalta-se Módulo Controle da Incidência Tributária também que a alteração para 35% aconteceu antes do fato gerador, portanto senda ela a aplicável ao caso. Dessa forma, conforme disposição do Regulamento Aduaneiro, Decreto nº 6.759/09, reforça tal entendimento. Preceitua seu art. 72 que o fato gerador do imposto de importação se dá com a entrada da mercadoria estrangeira no território nacional. O art. 73, I, do mesmo Decreto complementa que para efeitos de cálculo do imposto considera-se o fato gerador a data do registro da declaração de importação. Os anexos I e II refletem julgados com casos semelhantes ao da presente questão. Em análise aos casos explica-se que o imposto de importação é de competência da União, conforme previsto no art. 153, I, da CF/88, sendo que tal imposto possui caráter extrafiscal em sua função, e assim, não está submetido à observância das anterioridades de exercício e nonagesimal mínima previstas no art. 150, III, “b” e “c”, da CF/88. Nesse sentido, é facultado ao Poder Executivo alterar a alíquota do imposto de importação, desde que atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, nos termos do art. 153, § 1º, da CF/88. 3. A reimportação de mercadoria exportada em caráter definitivo se equipara à importação, ou seja, a mercadoria exportada perde a condição de nacional, devendo se submeter ao Imposto de Importação ao ser reimportada? (Vide anexo III) Em relação ao tema em questão, revela-se que ainda há grandes discussões. Todavia, o entendimento aplicado atualmente, na maioria dos casos, tratando-se de reimportação de mercadoria exportada em caráter definitivo, é de que incide a tributação à uma importação em geral. O imposto de importação incide sobre mercadoria estrangeira, incluindo- se a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, que retorne ao país. Assim dispõe o caput do art. 70 do Regulamento Aduaneiro sobre mercadoria estrangeira: “Considera-se estrangeira, para fins de incidência do imposto, a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, que retorne ao País...” Módulo Controle da Incidência Tributária Todavia, no mesmo dispositivo constam incisos que excepcionam tal regra docaput, quando observados alguns requisitos, inclusive que por si já caracterizam exportação temporária ou outra questão prevista na legislação, de modo que ao retornar para o território nacional, nessa mercadoria não incidirá o imposto de importação. Vejamos o que dispõem os incisos do art. 70 do Decreto nº 6.759/09, Regulamento Aduaneiro, referentes a reimportação sem incidência do imposto de importação: Art. 70. Considera-se estrangeira, para fins de incidência do imposto, a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, que retorne ao País, salvo se: I - enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado; II - devolvida por motivo de defeito técnico, para reparo ou para substituição; III - por motivo de modificações na sistemática de importação por parte do país importador; IV - por motivo de guerra ou de calamidade pública; ou V - por outros fatores alheios à vontade do exportador. Nesse sentido, importante a observância dos critérios expostos no dispositivo supracitado, devendo-se vigiar os procedimentos exigidos pela aduana brasileira para fins da não exação, quanto a reimportação, do imposto de importação que poderiam incidir na hipótese de uma importação comum. O anexo III traz julgado com entendimento já pacificado, refletindo casos de reimportação de mercadoria exportada em caráter temporário. Nesses casos, como o do referido anexo, no que tange a apresentação de guia de importação, não se constata qualquer previsão legal, nas hipóteses de reimportação e, dessa forma, é incabível a incidência com base na legislação referente à importação, portanto, configura afronta ao princípio da legalidade. No caso em exame não há qualquer previsão legal para a apresentação de guia de importação, nas hipóteses de reimportação e, assim sendo, é incabível a sua exigência com base na legislação atinente à importação, porquanto configura ofensa ao princípio da legalidade. 4. O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema monista ou dualista? Em Módulo Controle da Incidência Tributária face da resposta ao item anterior, defina os critérios para solução de conflitos entre tratados e lei interna, no Direito Tributário Brasileiro. Há hierarquia entre tratados e lei interna? Diversos já foram os debates referentes à relação que há entre a ordem jurídica internacional e a ordem jurídica interna de cada Estado. Para alguns o direito interno era fruto do direito internacional, ou seja, compreendia-se que não existia diferença alguma entre aquelas duas ordens, ficando conhecido tal compreensão como Monismo. Outros entendiam que existia independência entre tais ordens, restando conhecido esse entendimento como Dualismo. Aqueles que defendem a teoria Monista apregoam que as origens de direito interno e de direito internacional é a mesma. Nesse sentido, Alberto Xavier1 compreende que “Para a construção monista, o direito constitui uma unidade de que a ordem interna como a ordem internacional constituem meras manifestações.” Nessa linha Monista, existem aqueles que entendem que quando do conflito de normas, pela prioridade das normas de direito interno sobre as de direito internacional e aqueles que defendem a posição inversa. Os defensores do primeiro entendimento confirmam que na ausência de uma norma reguladora internacional, os tratados seriam regulados pelo direito interno. Noutro ponto, aqueles que defendem a posição inversa, sustentam a vigência e aceitação das normas de direito internacional diretamente no sistema interno, sendo desnecessária sua modificação. Já na teoria Dualista, os doutrinadores que defendem essa corrente entendem que a dessemelhança das origens faz surgir duas normas jurídicas diversas, quais sejam, o direito interno e o direito internacional. O direito interno surge da vontade do Estado, ao passo que o direito internacional é resignado pela concordância de vontade de diversos Estados. Explanada toda a discussão acima sobre o tema, entende-se, conforme 1 SILVA, Felipe Ferreira. Tratados internacionais – procedimento de produção, recepção por direito interno e questões correlatas”, In: SANTI, Eurico Marcos Diniz. Curso de especialização em direito tributário: Estudos analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 3. Módulo Controle da Incidência Tributária lecionado por Felipe Ferreira2, que são as próprias Constituições dos Estados que estabelecem qual o modo de recepção das ordens de direito internacional no direito interno, isto é, não se pode dizer que é a doutrina que decidirá se uma dada norma jurídica é Monista ou Dualista, mas sim a Constituição de cada país. Dito isso, conclui-se que o Brasil adotou a teoria Dualista, restando as normas de direito internacional, para que possam ser aplicadas no direito interno, dependentes da construção de normas de igual conteúdo neste plano. Em relação a posição hierárquica, as normas jurídicas que assumem conteúdo igual às dos tratados quando validamente recepcionados na ordem interna, entende-se que ficam no mesmo grau hierárquico das normas de leis complementares e ordinárias, estando abaixo somente da Constituição Federal. Assim, pois, discutir hierarquia é falar do fundamento da validade das normas e, em relação aos tratados, tal fundamento está no texto constitucional. 5. Sobre os tratados, responda: a) Defina o conceito de “tratado internacional”, descrevendo como se dá seu ingresso no ordenamento jurídico, seu momento de vigência no direito interno e sua posição hierárquica no sistema jurídico (vide §2º do art. 5º da Constituição e o art. 98 do Código Tributário Nacional e o entendimento exposto pelo STF anexo IV). Conforme preceitua José Franciso Rezek3, “tratado é o acordo formal concluído entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a produzir efeitos jurídicos.” O Decreto nº 7.030/09, o qual promulga a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, em seu art. 2º assim define tratados: “’tratado’ significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou 2 SILVA, Felipe Ferreira. Tratados internacionais – procedimento de produção, recepção por direito interno e questões correlatas”, In: SANTI, Eurico Marcos Diniz. Curso de especialização em direito tributário: Estudos analíticos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p.4-5. 3 REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público. São Paulo: 1989, p. 14. Módulo Controle da Incidência Tributária mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica.” Nesse sentido, vale dizer que tratado internacional trata-se de acordo formal e escrito, consubstanciado entre dois ou mais Estados ou organizações internacionais, com a finalidade de gerar efeitos jurídicos de ordem internacional. Conforme visto na questão de nº 4, já houve grandes discussões sobre a teoria Monista e Dualista, entendendo-se que no Brasil, apesar que majoritariamente a doutrina defender a primeira teoria, o país adota o Dualismo. Também se discutiu quanto a hierarquia das ordens do direito internacional quanto ao direito interno, concluindo-se pelo entendimento de que as ordens jurídicas que acolhem teor igual às dos tratados quando validamente recepcionados na norma interna, compreende-se que se alocam no mesmo nível hierárquico das normas de leis complementares e ordinárias, estando abaixo somente da Constituição Federal. Adiante, de acordo com o texto constitucional, os tratados internacionais adentram em nosso ordenamento jurídico a partir de procedimento envolvendo participação do Congresso Nacional, por meio de decreto legislativo e do presidente da República, o qual detém competência para celebrar tratados internacionais, bem como promulgá-los por intermédio de decreto,tudo forte nos arts. 5º, § 2º; 21, I; 49, I; 59, VI e 84, VII, da CF/88. Ao fazer leitura do art. 98, do CTN, resta aparente que os tratados possuem superioridade em relação as leis internas. Todavia, cumpre esclarecer, conforme já demonstrado, que estão em alocação inferior à Constituição Federal, salvo os tratados internacionais que discutem sobre direitos humanos aprovados nos termos do art. 5, § 3º, da CF/88, compondo- se de status de emenda constitucional. Diante do exposto, os tratados internacionais, na finalidade de gerar efeitos no Estado brasileiro, devem cumprir procedimento específico para alcance da vigência interna, vejamos: (i) negociação e assinatura do tratado pela pessoa competente, qual seria o Presidente da República, conforme Módulo Controle da Incidência Tributária art.84, VIII, CF/88; (ii) homologação pelo Poder Legislativo mediante decreto legislativo; (iii) ratificação pelo chefe do Executivo, estabelecida pela mudança ou depósito dos seus instrumentos constitutivos; (iv) promulgação via expedição de decreto presidencial e; (v) publicação oficial do inteiro teor do texto internacional celebrado. b) Pode a União, visando a regular a política tarifária, versar sobre a isenção de tributo de competência estadual? Conforme se depreende do art. 151, III, da CF/88, é vedado à União instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Todavia, quando celebrados tratados internacionais que determinam obrigações aos entes federados, entende-se que não há violação ao pacto federativo. Importante esclarecer que a CF/88, quando faz referência à política tarifária e as isenções de tributos estaduais, direciona as hipóteses em que a União poderá conferir benefícios fiscais, assim seriam as imunidades outorgadas à exportação. No que se refere à exação de tributos nas relações internacionais, destaca-se que a União poderá exercer tal competência, de modo que atuará na seara dos tributos estaduais, como exemplo nos casos do art. 155, § 2º, XII, “e”, CF/88 isenção do ICMS na exportação e art. 156, § 3º, II, CF/88, ISS na prestação de serviços ao exterior, ressaltando, que somente por lei complementar. Nesse sentido, entende-se que na discussão em tela não há usurpação de competência tributária, tendo em vista que se trata de comércio exterior, o qual a competência legislativa é privativa da União, vejamos o art. 22, VIII, da CF/88, o qual dispõe que compete privativamente à União legislar sobre comércio exterior e interestadual. Nesse diapasão, isenções atribuídas aos tributos estaduais e municipais discutem benefícios inerentes às exportações e que necessitam de políticas que aumentem os laços do comércio exterior, não afrontando o pacto Módulo Controle da Incidência Tributária federativo, porém, salientando que demandem dentro das imposições já dispostas na Constituição Federal. c) Os tratados podem revogar ou suspender a eficácia das normas tributárias inseridas no ordenamento jurídico brasileiro pelos Estados e Municípios? Haveria violação ao princípio federativo e ao princípio da autonomia dos Municípios consagrados na CF/88? (Vide anexos V e VI). Em relação a possibilidade de tratado internacional revogar ou suspender a eficácia das normas tributárias inseridas no ordenamento jurídico brasileiro pelos Estados e Municípios, se faz de grande importância ressaltar que os tratados internacionais são normas introduzidas em nosso ordenamento jurídico por meio de uma decisão constitucional. Nesse sentido, sua eficácia começa a fazer parte do ordenamento jurídico interno com força de lei ordinária, podendo, inclusive, suspender regra interna que a contrarie. O art. 98, do CTN dispõe expressamente a admissibilidade de que os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna. Todavia, Luciano Amaro ataca tal dispositivo, lecionando que tal possibilidade é questão de natureza constitucional e não caberia ao CTN, assim explica o autor: A eficácia dos tratados e sai inserção no ordenamento jurídico nacional é questão de natureza constitucional. Não é com preceito infraconstitucional que se haverá de resolver se o tratado pode ou não modificar a lei interna, ou se esta poderá ou não alterá-lo. Assim sendo, não cabia ao Código Tributário Nacional nem negar nem afirmar (como parece ter pretendido art. 98) o primado dos tratados.4 Dessa forma, lembra-se que o CTN é lei editada antes da CF/88 e não possui competência em reprimir ou relaxar o alcance dos tratados internacionais, de certo que só a Carta Magna pode exercer tal função. Assim, sigo o entendimento do professor Paulo de Barros, no que diz respeito ao tema, ensina ele que para revogar ou suspender a eficácia das 4 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 47. Módulo Controle da Incidência Tributária normas tributárias, não são os próprios tratados que revogam ou modificam, e sim os decretos legislativos que acatam a ordem externa e ratificam seu teor ao abraçar a norma em nosso direito tributário. 6. Ao realizar a classificação aduaneira de um produto, a Receita Federal pode divergir das normas e de entendimentos técnicos de órgãos especializados? Fundamente sua resposta. (Vide anexos VIII e IX). A classificação de mercadorias se trata de processo administrativo- tributário criado e regulado pelos governos dos países. Através desse procedimento se garante melhor controle sobre a produção, comercialização, importação e exportação de produtos. No Brasil, a classificação de mercadorias é regulamentada pela Receita Federal. No que diz respeito a tributação aduaneira, a legislação brasileira estabelece o cumprimento das normas internacionais sobre classificação fiscal de mercadorias. Assim, o Brasil adotou o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, Sistema Harmonizado. Conhecido como SH, se refere à um código internacional de mercadorias que se funda como base para criação de tarifas aduaneiras e de fretes. Esse sistema foi criado em 1983, pela Organização Mundial das Alfândegas (OMA), e aderido pelo Brasil em 1986. Logo, em 1988 ele alcançou validade internacional. Nesse sentido, a partir do momento que países que internalizaram em seu ordenamento jurídico a Convenção Internacional sobre o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, a interpretação das normas que regulam a classificação fiscal de mercadorias é de competência de autoridades tributárias e aduaneiras. Todavia, apesar da classificação ser regulamentada pela RFB e de competência de autoridades tributárias, existem mercadorias que se direcionam à saúde pública. De acordo com o art. 8º, da Lei 9.782/99, cabe à Agência (ANVISA) regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam risco à saúde pública. Dessa forma, a autoridade aduaneira é Módulo Controle da Incidência Tributária incompetente para classificação de alguns produtos, pois não detém conhecimento técnico-específico para tal função. Inclusive, assim, entende a jurisprudência do STJ (anexo VIII), ao julgar o REsp n. 1.555.004/SC, caso mercadoria sabão anti acne, onde restou o entendimento de que a classificação refoge à competência da autoridade aduaneira, sendo atribuição privativa da autoridade sanitária, justamente por esta possuir conhecimento técnico-científico exigido para esse fim. Por outro lado, o anexo IX, traz Parecer Normativo da Cosit, com entendimento diverso, ficando assentado que “para fins tributários e aduaneiros, os entendimentos resultantes da aplicação da legislação do Sistema Harmonizado devem prevalecer sobre definições que tenham sido adotadas por órgãos públicos de outras áreas de competência, como, por exemplo, a proteção da saúde pública ou a administraçãoda concessão de incentivos fiscais.” Diante das explanações supramencionadas, conclui-se que se trata de assunto que depende de análise de cada caso. Isso porque, certo é, que a autoridade aduaneira não possui capacidade e conhecimento técnico- específico, o legislador também não o tem, ao menos o necessário, ainda mais quando a legislação está antiga e defasada. Sendo assim, entende-se que nem sempre deverá prevalecer a classificação feita pela RFB, mesmo que somente para fins tributários e aduaneiros. 7. Considerando o despacho aduaneiro de importação, responda (Vide anexo X): a) Quais as modalidades de lançamento tributário são aplicáveis ao imposto de importação? Atualmente, conforme se depreende do anexo X, o qual apresenta recente julgamento sobre o tema, verifica-se o entendimento do STJ que o lançamento no imposto de importação, após a revogação do Decreto nº 91.030/85, passou a ser na modalidade por homologação. Isso porque, com o advento do Decreto nº 4.543/2002, a classificação da mercadoria passou a Módulo Controle da Incidência Tributária ser ato praticado pelo contribuinte importador na Declaração de Importação, passando a se caracterizar, portanto, a modalidade do autolançamento ou lançamento por homologação e não mais o lançamento por declaração que vigorava anteriormente na vigência do Decreto revogado acima citado, pois o contribuinte passou a apontar todos os elementos constitutivos do fato gerador e a antecipar o pagamento. Todavia, analisando os canais de verificação ou parametrização (serão tratados adiante na questão c), entende-se que também poderá haver lançamento na modalidade por declaração, isso porque, em alguns canais de parametrização, haverá a atuação do importador na entrega das informações referentes à operação, bem como atuação da autoridade administrativa, que verifica as informações e os elementos comprobatórios no decorrer do despacho aduaneiro. b) A formalização de exigência no Siscomex tem natureza jurídica de lançamento de ofício? Qual é a natureza jurídica do ato do sujeito passivo que, cumprindo a exigência formalizada no Siscomex, retifica a declaração de mercadorias, recolhendo a diferença do crédito tributário e a multa? Quanto a Declaração de Importação registrada no SISCOMEX, caso sejam necessárias retificações de informações, estas serão praticadas pelo próprio contribuinte, uma espécie de autolançamento, no bojo da sistemática de lançamento por homologação, somente podendo da incidência do art. 146, do CTN, caso esses atos se tenham originado por motivo de orientação expressa concedida pelo fisco no tempo de sua elaboração. Nessa linha, entende-se que a formalização de exigência no SISCOMEX não se enquadra como lançamento de ofício, ao passo que tal exigência, bem como consequente retificação são apenas ramificações do procedimento. c) O desembaraço aduaneiro (liberação) constitui uma homologação do lançamento? Considerar os diferentes canais de conferência aduaneira (verde, amarelo, vermelho ou cinza); e Módulo Controle da Incidência Tributária O desembaraço aduaneiro alcança a conclusão do procedimento de verificação aduaneira, que tem a finalidade de resguardar a regularidade da operação de importação, de modo que a função principal é a nacionalização da mercadoria para sua circulação econômica. Entretanto, não é o último ato do procedimento de despacho aduaneiro, tendo em vista que o fisco ainda poderá utilizar o instituto da revisão aduaneira, conforme art. 54 do Decreto Lei 37/66, a fim de analisar a regularidade de todo o procedimento fiscal. A Declaração de Importação, registrada no SISCOMEX, será remetida para um dos canais de parametrização de conferência aduaneira, os quais se organizam de acordo com o nível de interferência e complexidade da análise das importações, sendo escolhidos conforme alguns parâmetros determinados pela RFB, conforme elementos dispostos no art. 21, § 1º, da IN 680/006 da SRFB. No canal de parametrização verde, no qual o desembaraço é automático e há ausência de interferência da autoridade administrativa, é totalmente cabível o instituto da revisão aduaneira disposta da legislação específica, de maneira que se tem a ausência do ato de lançamento. Sendo assim, nesse canal inviável considerar a ocorrência do ato de lançamento, pois, nos termos do art. 142 do CTN, trata-se de ato privativo da autoridade administrativa competente. Por outro lado, quando se trata dos outros canais de parametrização, amarelo, vermelho e cinza, não se deve, indefinidamente, fazer mudanças fundamentando-se nos dispositivos do art. 54, do DL 37/66 e art. 638 do Regulamento Aduaneiro. Assim, porque nesses canais, estamos frente ao lançamento por declaração, onde o importador atua na entrega das informações referentes à importação, bem como da autoridade administrativa, a qual analisa as informações e o elementos que comprovam no decorrer do despacho aduaneiro e a este cumpre à operação de aplicação do direito. Módulo Controle da Incidência Tributária d) A revisão aduaneira tem natureza de revisão de lançamento? O instituto da revisão aduaneira está estabelecido no art. 54 do DL 37/66 e no art. 638 do Decreto 6.759/09, Regulamento Aduaneiro: Art.54 - A apuração da regularidade do pagamento do imposto e demais gravames devidos à Fazenda Nacional ou do benefício fiscal aplicado, e da exatidão das informações prestadas pelo importador será realizada na forma que estabelecer o regulamento e processada no prazo de 5 (cinco) anos, contado do registro da declaração de que trata o art.44 deste Decreto-Lei. Art. 638. Revisão aduaneira é o ato pelo qual é apurada, após o desembaraço aduaneiro, a regularidade do pagamento dos impostos e dos demais gravames devidos à Fazenda Nacional, da aplicação de benefício fiscal e da exatidão das informações prestadas pelo importador na declaração de importação, ou pelo exportador na declaração de exportação Conforme se verifica dos dispositivos acima, tal revisão tem a finalidade de assegurar a regularidade do pagamento do tributo e demais ônus devidos ao fisco, assim como a veracidade das informações declaradas pelo importador ou exportador no prazo de 5 anos contados do registro da Declaração de Importação. Há de ressaltar ainda, conforme dito anteriormente, que a revisão aduaneira ocorre posteriormente ao desembaraço aduaneiro e pode ser entendida como a revisão do procedimento de despacho aduaneiro. Por fim, esclarece que o instituto da revisão aduaneira não se refere a revisão de lançamento, mas a revisão específica do procedimento do despacho aduaneiro. 8. Um importador, ao registrar a declaração de mercadorias (DI - Declaração de Importação - no Siscomex ou DUIMP - Declaração Única de Importação – no Portal Único de Comércio Exterior), classificou determinado produto como equipamento de raio X para uso médico não destinado especificamente para diagnóstico (NCM 9022.14.905). A declaração foi parametrizada no canal 5 “9022.1 - Aparelhos de raios X, mesmo para usos médicos, cirúrgicos, odontológicos ou veterinários, incluindo os aparelhos de radiofotografia ou de radioterapia: [...] 9022.14 -- Outros, Módulo Controle da Incidência Tributária vermelho de conferência aduaneira. A liberação (desembaraço) ocorreu sem oposição da Receita Federal em relação ao enquadramento tarifário adotado. Entretanto, após quatro anos, outro Auditor-Fiscal entendeu que, naquela oportunidade, houve uma interpretação equivocada das regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (Decreto Legislativo nº 71/1988; Decreto nº 97.409/1988). Assim, em sede de revisão aduaneira, promoveu a reclassificação do produto para a NCM 9022.14.196, relativa aos aparelhos de raios X destinados a diagnósticos, lavrado auto de infraçãoe lançamento para a constituição da diferença de crédito tributário e cominação das penalidades. Diante disso, pergunta-se (Vide anexos X e XI): a) Esse lançamento de ofício deve observar o art. 146 do CTN? Há diferença se a parametrização, ao invés do canal vermelho, tivesse ocorrido no canal verde? O CTN, em seu artigo 146 dispõe que quando ocorre modificação, de ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade no exercício do lançamento, só poderá ser efetivada tal modificação, em relação a um mesmo sujeito passivo, quando o fato gerador ocorrer após à sua introdução. O STJ recentemente, por meio do julgamento do REsp 1.826.124 assentou entendimento no sentido de que a primeira oportunidade (conferência) não ilide a segunda (revisão) — que surge após o desembaraço aduaneiro —, na qual o Fisco revisitará todos os atos praticados no primeiro procedimento, ou seja, é possível a revisão aduaneira em qualquer canal de parametrização. Todavia, apresento discordância, explica-se. Conforme já abordado no presente seminário, quando ocorrido o para usos médicos, cirúrgicos ou veterinários [...] 9022.14.1 De diagnóstico; [...] 9022.14.90 Outros”. 6 “9022.1 - Aparelhos de raios X, mesmo para usos médicos, cirúrgicos, odontológicos ou veterinários, incluindo os aparelhos de radiofotografia ou de radioterapia: [...] 9022.14 -- Outros, para usos médicos, cirúrgicos ou veterinários [...] 9022.14.1 De diagnóstico; [...] 9022.14.19 Outros” Módulo Controle da Incidência Tributária desembaraço pelo canal verde, no qual não há verificação pela autoridade administrativa e a entrega ao importador se dá de forma automática, é aceitável possível incidência da revisão aduaneira. De outro modo, nos casos de desembaraço nos canais amarelo, vermelho e cinza, entende-se pela modalidade do lançamento por declaração, modificável apenas com a observância aos dispositivos remetentes a revisão do lançamento prevista no CTN. Nesse sentido, o lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo é revestido de definitividade. Entretanto, o CTN em seu art. 145, revela excepcionalidade e dispõe as hipóteses de alteração do lançamento: Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alterado em virtude de: I - impugnação do sujeito passivo; II - recurso de ofício; III - iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no artigo 149. Nesse diapasão, o lançamento vincula a autoridade que o efetivou e só poderá ser modificado nos termos do dispositivo acima mencionado. b) A reclassificação foi assentada no alegado equívoco de interpretação das regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias. Porém, as consequências seriam as mesmas se a reclassificação fiscal tivesse se baseado na constatação de que o equipamento importado apresenta características diferentes das identificadas na conferência anterior? Avaliar, nas duas hipóteses, se há erro de direito ou erro de fato. Diversas vezes, na seara da revisão aduaneira, deparamos com grandes discussões que norteiam a possibilidade ou não da reclassificação de mercadorias, determinando-se diferença ou similitude quanto a erro de fato e erro de direito. Em relação a esse tema, o professo Paulo de Barros7 explica com 7 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31 ed. São Paulo: Noeses, 2021. Módulo Controle da Incidência Tributária clareza, lecionando que erro de fato está na direção de um problema intranormativo, do qual se verifica uma inexatidão interna do enunciado, que pode ser por insuficiência dos dados linguísticos ou pela elaboração imprópria da linguagem. Já no erro de direito decorre de problemas de ordem semântica, internormativa. Diante de tal ensinamento, vale dizer que erro de fato corresponde à incorreção dos dados fáticos que servirão de embasamento à constituição da obrigação tributária. Noutro modo, erro de direito corresponde aos critérios jurídicos de subsidiarão o ato, isto é, erro na aplicação do legal da norma. No caso em tela, verifica-se que estamos diante de erro de direito, pois a reclassificação foi assentada no alegado equívoco interpretação das regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias. Diante desse cenário, nos deparamos com um problema muito rotineiro no comércio exterior, qual seja a reclassificação fiscal de mercadorias, isso porque, nesses casos, após o desembaraço aduaneiro, o fisco autua o importador impondo nova classificação fiscal quanto ao produto importado, acarretando muitas vezes no aumento do imposto que deve ser pago aos cofres públicos. Também, a reclassificação pode gerar a alteração da alíquota anteriormente aplicada e mais, aplicação de multas e mora. Veja que consequentemente, estaremos diante de alteração de alíquota adotada e mudança no valor a ser recolhido pelo contribuinte, resultando em modificação da estrutura normativa da norma individual e concreta. E nesse sentido, bem ensina Paulo de Barros8: “Como particularidade das normas jurídicas tributárias, qualquer desalinho com relação a “alíquota” ou ao “sujeito passivo” será sempre erro de direito, porquanto são esses os únicos fatores compositivos da estrutura normativa que não podem ser encontrados na contextura do fato jurídico tributário.” Dessa forma, considerando as operações de importações no canais de 8 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31 ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 203. Módulo Controle da Incidência Tributária verificação com presença de conferência aduaneira, seja física ou documental (amarelo, vermelho e cinza), inclusive como no caso da presente questão, quando ocorre a classificação os fatos já estão delineados no tempo da conferência aduaneira, sobrando ao agente fiscal a concordância ou não da classificação elencada. Inclusive, caso reste dúvida, ainda haverá a possibilidade de reenviar o produto a outro canal com análise mais severa, orientando o importador que faça a modificação constante na DI. Nesse raciocínio, após todo o processo de conferência com a materialização do desembaraço aduaneiro, entende-se que não poderá reanalisar o lançamento efetuado modificando a classificação da mercadoria, de maneira que acarretará a mudança do valor jurídico de certo fato que já estava presente e disponível ao tempo da conferência fiscal. Cabe ressaltar que ao fisco cabe o emprego do direito, a legislação deve ser conhecida e corretamente imposta no ato do lançamento, seja qual for o desacerto na valoração jurídica que embasa a prática do ato administrativo não pode facultar a alteração da situação individual e concreta que já havia sido estabelecida.
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