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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira Questões 1. Construa a RMIT dos Impostos de Importação e de Exportação. Qual o conceito de produto para fins de incidência destes tributos? RMIT Imposto de Importação: Antecedente - Critério Material: Importação de produtos estrangeiros; - Critério Espacial: Em território nacional, nas repartições aduaneiras; - Critério Temporal: Momento da entrada da mercadoria em território nacional, no momento do registro da declaração de importação; Consequente - Sujeito Ativo: União; - Sujeito Passivo: Importador ou pessoa equiparada por lei - destinatário da remessa postal internacional, adquirente de mercadoria - Critério Quantitativo: - Base de Cálculo: quando a alíquota for ad valorem, a base de cálculo é o valor aduaneiro do produto apurado segundo as normas do art. 7º do Acordo sobre Tarifas e Comércio GATT, quando a alíquota for específica é a quantidade de mercadoria, expressa na unidade de medida indicada. - Alíquota: estabelecida pela natureza do produto, com base na NCM (Nomenclatura Comum do MERCOSUL). RMIT Imposto de Exportação: Antecedente Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira - Critério Material: Exportação de produto nacional ou nacionalizado para o estrangeiro; - Critério Espacial: Na saída das fronteiras do território nacional; - Critério Temporal: na saída do território nacional, no momento da expedição da Guia de Exportação ou documento equivalente. Consequente - Sujeito Ativo: União; - Sujeito Passivo: exportador de produto nacional ou nacionalizado ou pessoa a ele equiparada por lei; - Base de Cálculo: quando a alíquota for ad valorem, a base de cálculo é o preço normal do produto, ou seu similar, ao tempo da exportação, quando a alíquota for específica, é a quantidade de mercadoria, expressa na unidade de medida indicada; - Alíquota: estabelecida pela natureza do produto, com base na NCM (Nomenclatura Comum do MERCOSUL). Referente ao conceito de produto para a incidência dos impostos de importação e exportação, entendo ser o termo produto gênero, enquanto as espécies podem ser mercadoria ou bem móvel corpóreo. Para corroborar tal afirmação, leciona Lima1 que “Sabendo-se que produto é gênero do qual mercadoria é espécie e conceituados o primeiro com o sendo um bem móvel e corpóreo, enquanto que o segundo é um bem móvel, corpóreo e destinado ao comércio”. Dito isso, podemos entender que produto é o objeto da operação, tanto de importação quanto exportação, que deverá possuir valor econômico expresso em moeda, a fim de possibilitar a aplicabilidade dos consequentes da RMIT, principalmente no que se refere a base de cálculo. 2. A empresa “X” firmou contrato de fornecimento, formalizando a aquisição de bem do exterior, datado de 10/05/2017. Os produtos transpuseram a fronteira brasileira, por via marítima em 15/06/2017, chegaram ao porto de Santos em 18/06/2017, em 25/06/2017 a empresa registrou a operação junto ao 1 LIMA, Sebastião de Oliveira. O fato gerador do imposto de importação na legislação brasileira. São Paulo: Resenha Tributária, 1981, p. 45-46 Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira SISCOMEX e os produtos foram desembaraçados em 02/07/2017. No momento da realização do contrato a alíquota do referido imposto era de 10%. No entanto, em 01/06/2017 o Governo Federal publicou decreto que aumentou a alíquota aplicável à importação do referido bem para 20%, em 16/06/2017 houve outro aumento de alíquota para 30%, em 22/06/2017 para 35% e em 01/07/2017 para 38%. Pergunta-se: qual é a alíquota aplicável à operação de importação em análise? Fundamente. (Vide anexo I e II) No caso em tela, verifica-se que a data do registro da operação ocorreu em 25/06/201, por ocasião do registro realizado junto ao SISCOMEX. O marco temporal para a ocorrência do fato gerador é o do efetivo registro da declaração de importação, momento que deve ser considerado como a entrada da mercadoria em território nacional, conforme art. 19 do CTN c/c art. 23 do Decreto-Lei nº 37/1966: “Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional.” “Art. 23 - Quando se tratar de mercadoria despachada para consumo, considera-se ocorrido o fato gerador na data do registro, na repartição aduaneira, da declaração a que se refere o artigo 44.”. Dito isso, não há que se negar que a data de 25/06/2017 deverá ser considerada como a da ocorrência do fato gerador. Em relação a aplicação do princípio da anterioridade, é sabido que não se aplica ao imposto de importação, por possuir este a função extrafiscal, conforme art. 150 § 1º da CF/88. Com base na leitura do Anexo I do presente seminário, é possível verificar que a Constituição exige, no art. 150, III, a, que a lei que institua ou que majore tributos seja anterior ao fato gerador. No caso concreto, o Decreto que instituiu a alíquota de 35% ocorreu em 22/06/2017, anterior a data do registro no SISCOMEX, que ocorreu em 25/06/2017. Sendo assim, o decreto que alterou a alíquota para 35% é o que deve ser considerado, por ser anterior ao fato gerador do imposto de importação. Como se não bastasse, estabelece o Anexo II do presente seminário que o fato gerador do imposto de importação ocorre na data do registro da declaração de importação. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira 3. A reimportação de mercadoria exportada em caráter definitivo se equipara à importação, ou seja, a mercadoria exportada perde a condição de nacional, devendo se submeter ao Imposto de Importação ao ser reimportada? (Vide anexo III) Em relação a reimportação de mercadoria exportada em caráter definitivo, faz-se necessário analisar alguns detalhes. No caso de bens que retornem ao país em virtude de não efetivação da venda no prazo autorizado, quando enviados ao exterior em consignação; defeito técnico, para reparo ou substituição, alteração nas normas aplicáveis à importação do país importador; ou guerra ou calamidade pública, não há que se falar em incidência do imposto de importação, sendo necessário o preenchimento da Declaração Simplificada de Importação, com fulcro no art. 3º, VI, da IN SRF nº 611/2006. Para reforçar essa ideia, o STF, no RE 104.306-7/SP, entendeu que: Não se poderia, pois, sem ferir o artigo 21, I da Constituição Federal, entender a expressão "produto estrangeiro", como igualmente abrangendo as mercadorias nacionais retiradas temporariamente do Brasil, para a exposição em feiras no Exterior, numa prática habitual de incentivo à exportação. No Anexo III do presente seminário apresenta um caso concreto em que o sujeito passivo enviou produtos para serem beneficiados no exterior, com a intenção de retorno ao país de origem. Nesse caso, foi decidido que não deveria incidir o imposto de importação. Foi decidido por meio do REsp n. 662.882/RJ: Importa ressaltar que, conforme reconhece a própria Fazenda Nacional, a situação fática não configura hipótese de incidência de tributo a reimportação de fitas de vídeo exportadas para fins de dublagem pelo regime de exportação temporária, nos termos dos artigos 369, do Regulamento Aduaneiro, e 92, do Decreto-lei 37/66, respectivamente. Já em relação à reimportação de mercadorias exportadas em caráter definitivo, tanto a Constituição Federal quanto o Código Tributário Nacional são omissos neste ponto. O art. 1º, § 1º do Decreto-Lei 37/1996 leciona que será considerada também estrangeira a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira que retornar ao País, com exceção das que retornarem ao país pelas condições presentes nas alíneas de a até e, quais sejam: a) enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado; (Incluído pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988) b) devolvida por motivode defeito técnico, para reparo ou substituição; (Incluído pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988) c) por motivo de modificações na sistemática de importação por parte do país importador; (Incluído pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988) d) por motivo de guerra ou calamidade pública; (Incluído pelo Decreto-Lei nº 2.472, de 01/09/1988) e) por outros fatores alheios à vontade do exportador. Tanto a Constituição Federal, no art. 153, quanto o CTN, no art. 19, disciplinam que o imposto será sobre importação de produtos estrangeiros. Dito isso, faz-se necessário recorrer à jurisprudência para melhor entendimento. De acordo com o RE nº 662.882/RJ, é possível verificar o entendimento de que a reimportação de mercadoria anteriormente exportada a título definitivo não se confunde com a importação de mercadoria estrangeira, tendo em vista que na reimportação a mercadoria é nacional, não é estrangeira. Sendo assim, não há que se falar em incidência de imposto de importação. Ante o exposto, entendo que não restam dúvidas quanto à não incidência de imposto de importação sobre produtos enviados para o exterior a título transitório e que posteriormente retornarão ao território nacional. Já em relação a reimportação de produtos que foram anteriormente exportados em caráter definitivo, entendo também não ser passível de incidência de imposto de importação, tendo em vista que a Constituição Federal afirma que os tributos somente podem ser exigidos de produtos estrangeiros. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira Dito isso, não cabe à lei infraconstitucional ampliar o conceito de mercadoria estrangeira, disciplinando que é considerada estrangeira a mercadoria nacional quando retornar ao País, conforme redação do art. 1º do Decreto-Lei nº 37/1966. 4. O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema monista ou dualista? Em face da resposta ao item anterior, defina os critérios para solução de conflitos entre tratados e lei interna, no Direito Tributário Brasileiro. Há hierarquia entre tratados e lei interna? O sistema monista defende que o direito é unitário, independentemente de se apresentar nas relações de um estado ou relações internacionais, entendendo que ambas são partes integrantes do mesmo ordenamento. Em relação ao sistema dualista, o entendimento é de que o direito interno e o direito internacional são ordens jurídicas totalmente distintas e independentes, sendo necessário um processo de incorporação interno de um estado para que a norma internacional seja válida no País. No Brasil, o sistema adotado é o dualista moderado, pois, para que tratado internacional crie direitos e deveres no nosso ordenamento jurídico pátrio, é imprescindível a figura do decreto legislativo e promulgação presidencial, por meio de decreto, como foi feito recentemente com a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, promulgado pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 6.949, de 25.08.2009. Referente à solução de conflitos entre tratados e lei interna, no Direito Tributário Brasileiro, o art. 98 do CTN estabelece que os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha. Nos ensina Carvalho2 que havendo disciplinamento do mesmo assunto por lei interna e tratado internacional veiculado por decreto legislativo, verifica-se o fenômeno da ineficácia técnica da lei interna, resultando em obstáculo de ordem sintática. Sendo assim, no caso de conflito entre lei interna e tratado internacional, deverá prevalecer o tratado internacional, tendo em vista que o decreto legislativo que inseriu o referido tratado no ordenamento jurídico interno suspende a eficácia 2 CARVALHO, Paulo de Barros. Revista tributária das Américas. 2010, p. 353 Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira técnica das normas com ele conflitantes, resultando em uma inibição da incidência da lei interna. Por fim, no tocante a hierarquia entre tratados e lei interna, faz-se necessário observar se a lei interna é de caráter federal ou nacional. Caso seja a lei de caráter federal, esta vincula somente o aparelho administrativo da União. Como é a República Federativa do Brasil que celebra os tratados, não há que se falar em norma editada por um de seus componentes, como a União, suprimir o tratado internacional. Nesse caso, o tratado internacional será hierarquicamente superior à lei interna federal. Caso seja a lei de caráter nacional, esta vincula todos os entes federativos. Tendo em vista que a República Federativa do Brasil que celebra um tratado internacional, entendo também esse ocupar posição hierarquicamente superior a norma nacional, observando o disposto no art. 98 do CTN. Em relação a segurança jurídica, a lei nacional deve estar em consonância com a Constituição Federal e também observar os tratados internacionais que o estado seja signatário e que introduziu o mesmo no nosso ordenamento interno, não podendo lei posterior contrariar tais matérias. 5. Sobre os tratados, responda: a) Defina o conceito de “tratado internacional”, descrevendo como se dá seu ingresso no ordenamento jurídico, seu momento de vigência no direito interno e sua posição hierárquica no sistema jurídico (vide §2º do art. 5º da Constituição e o art. 98 do Código Tributário Nacional e o entendimento exposto pelo STF anexo IV). De forma resumida, tratado internacional pode ser conceituado como instrumento jurídico que traz eficácia quanto a proteção ou fortalecimento de interesses em determinadas áreas, resultando na criação de direitos e deveres entre diferentes Estados, que se comprometem de forma mútua para o alcance dos objetivos determinados. Em virtude da globalização, é cada vez maior o relacionamento entre Estados diversos, nas mais diversas relações, sejam Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira comerciais ou colaborativas, resultando em um assertivo cumprimento de metas e planos em âmbito internacional por parte dos Estados. Para corroborar tal conceito, leciona Varella3 que: Tratado é um acordo internacional concluído por escrito entre Estados ou entre Estados e Organizações Internacionais, regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica. Trata-se da principal fonte de direito internacional porque representa a vontade dos Estados ou das Organizações Internacionais, em um determinado momento, que aceitam regular uma relação jurídica por meio de uma norma comum entre si. E a fonte mais democrática, pois a priori sua vigência incide apenas sobre os sujeitos de direito que desejam submeter-se ao mesmo. Quanto ao ingresso e a vigência do tratado internacional no ordenamento jurídico interno, é necessário observar o preenchimento dos seguintes requisitos: (a) negociação pelo Estado brasileiro no plano internacional; (b) assinatura do instrumento pelo Estado brasileiro; (c) mensagem do Poder Executivo ao Congresso Nacional para discussão e aprovação do instrumento; (d) aprovação parlamentar mediante decreto legislativo; (e) ratificação do instrumento; (f) promulgação do texto legal do tratado mediante decreto presidencial. Sendo assim, conforme art. 84, VIII da CF/84, compete ao Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional. Isso posto, entendo que o tratado internacional é efetivado no nosso ordenamento jurídico e passa a ter vigência após a promulgação do texto legal do tratado mediante decreto presidencial. Quanto à posição hierárquica no sistema jurídico dos tratados internacionais, importante mencionar a exceção dos tratados e convenções internacionais que versem sobre direitos humanos e que sejam submetidos ao rito previsto no art. 5º,§ 3º da CF/88, que forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, os quais serão equiparados às emendas constitucionais com hierarquia superior às leis ordinária. Superada a exceção do art. 5º, § 3º da CF/88, entendo que os tratados internacionais ocupam posição superior ao ordenamento jurídico infraconstitucional. 3 VARELLA, Marcelo Dias. Revista de Direito Internacional, V. 12, N. 1. 2015. Brasília: p. 37 Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira Para ratificar tal afirmação, o art. 5º, § 2º da CF determina que os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. (grifo nosso), combinado com o art. 98 do CTN, ao estabelecer que os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha. Dito isso, entendo que os tratados internacionais devidamente inseridos em nosso ordenamento jurídico ocupam posição hierárquica superior à legislação infraconstitucional. Sendo assim, no caso de conflito entre lei interna e tratado internacional, deverá prevalecer o tratado internacional, tendo em vista que o decreto legislativo que inseriu o referido tratado no ordenamento jurídico interno suspende a eficácia técnica das normas com ele conflitantes, resultando em uma inibição da incidência da lei interna. Em relação ao anexo IV do presente seminário, com a máxima vênia, discordo da posição adotada pelo STF ao estabelecer que os tratados internacionais situam-se, no sistema jurídico brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade em que se posicionam as leis ordinárias, havendo, em consequência, entre estas e os atos de direito internacional público, mera relação de paridade normativa. Isso porque, em caso de conflito entre norma interna e tratado internacional, como previsto pelo art. 98 do CTN, os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha. b) Pode a União, visando regular a política tarifária, versar sobre a isenção de tributo de competência estadual? Quando a União regula a política tributária e versa sobre isenção de tributo de competência estadual, é necessário observar se estamos diante de uma lei complementar de caráter nacional ou federal. Caso seja de caráter federal, entendo não ser possível, tendo em vista que vincula somente a União e seus administrados. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira Caso seja uma lei complementar de caráter nacional, vejo ser totalmente legal, tendo em vista a obrigatoriedade de ser observada por todos os entes tributantes. Um exemplo disso é o disposto nos art. 155, § 2º, XII, alínea e, e 156, § 3º, II, ambos da CF/88, que autoriza a lei complementar (de caráter nacional) o estabelecimento de isenções de ICMS na exportação de serviços e produtos semi-elaborados e do ISS por ocasião de exportação de serviços. Como se não bastasse, o art. 146 da CF/88 atribui a lei complementar (caráter nacional) a possibilidade de dispor sobre conflitos de competência entre os entes federados. c) Os tratados podem revogar ou suspender a eficácia das normas tributárias inseridas no ordenamento jurídico brasileiro pelos Estados e Municípios? Haveria violação ao princípio federativo e ao princípio da autonomia dos Municípios consagrados na CF/88? (Vide anexos V e VI) Em relação a revogação ou suspensão da eficácia das normas tributárias inseridas no ordenamento jurídico pelos tratados internacionais para Estados e Municípios, cumpre ressaltar que o tratado internacional inserido no ordenamento nacional fora firmado pela República Federativa do Brasil. Conforme art. 1º e 4º da CF/88, que dispões sobre a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Município e do Distrito Federal, além dos princípios das relações internacionais. Como se não bastasse, a redação do art. 98 do CTN estabelece que o tratado ocupa posição hierarquicamente superior à norma nacional. Sendo assim, não restam dúvidas quanto a não violação ao princípio federativo e ao princípio da autonomia dos Municípios consagrados na CF/88, tendo em vista que as relações internacionais de interesse do País são representadas pela União na condição de República Federativa do Brasil, e não como União ente tributante. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira Conforme Carvalho4, quanto a incompatibilidade entre tratado internacional e o ordenamento interno, aqueles terão prevalência sobre esses, justificando que suspende a eficácia técnica das normas com ele conflitantes, conforme segue: O decreto legislativo que introduz normas de direito internacional contrária ao direito interno suspende a eficácia técnica das normas com ele conflitantes, as quais permanecem válidas e vigentes, porém sem poder atuar, em razão da presença de outra norma inibidora da sua incidência. Ainda, por seu caráter nacional, eventuais normas federais supervenientes não têm o condão de alterar o conteúdo veiculado pelos decretos legislativos. Como é a República Federativa do Brasil quem celebra o tratado, não pode um de seus componentes (União) pretender suprimi-la do ordenamento. Editada lei federal posterior ao tratado, este permanece intacto, havendo revogação apenas da lei interna anterior, ficando a lei revogadora, se antagônica às disposições do tratado, também com sua eficácia suspensa. Para ratificar tal entendimento, recorreremos ao anexo VI do presente seminário, por meio do AI n. 764.951 AgRg/BA. A Suprema Corte assentou-se pela constitucionalidade da desoneração tributária estabelecida por meio de tratado internacional referente à isenção de ICMS, referente às mercadorias importadas de países signatários do GATT, das isenções de ICMS concedidas às similares nacionais. Como se não bastasse, no anexo V - RE n. 627.280/RJ - RG foi reconhecida a repercussão geral sobre a incidência do IPI sobre operações com bacalhau (peixe seco e salgado), à luz do GATT, dos princípios da isonomia, da seletividade e da extrafiscalidade e do conceito de industrialização. 6. Ao realizar a classificação aduaneira de um produto, a Receita Federal pode divergir das normas e de entendimentos técnicos de órgãos especializados? Fundamente sua resposta. (Vide anexos VIII e IX). Em relação a possibilidade de a Receita Federal poder divergir das normas e de entendimento técnicos de órgãos especializados quanto à classificação aduaneira de um determinado produto, é importante mencionar que a legislação brasileira determina o cumprimento das normas internacionais sobre classificação fiscal de mercadorias. No Brasil, foi introduzido em 1985 o "Sistema Harmonizado 4 CARVALHO, Paulo de Barros. Revista tributária das Américas. 2010, p. 353 Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira de Designação e de Codificação de Mercadorias", ou simplesmente "Sistema Harmonizado". Seu objetivo maior foi a criação de um sistema único mundial de designação e de codificação de mercadorias, podendo ser utilizado na elaboração das tarifas de direitos aduaneiros e de frete, das estatísticas do comércio de importação e de exportação, de produção e dos diferentes meios de transporte de mercadorias, entre outras aplicações.5 Com base na leitura do anexo IX do presente seminário, Parecer Normativo Cosit nº 06/2018, a interpretação das normas que regulam a classificação fiscal de mercadorias é de competência das autoridades tributárias e aduaneiras. No Brasil, tal atribuição é exercida pelos Auditores-Fiscais da RFB. Estabelece o referido parecer que os entendimentos resultantes da aplicação da legislação do SistemaHarmonizado devem prevalecer sobre definições que tenham sido adotadas por órgãos públicos de outras áreas de competência, como, por exemplo, a proteção da saúde pública ou a administração da concessão de incentivos fiscais. Sendo assim, com base no referido parecer, no caso de divergências de entendimento entre a classificação da RFB e o de outros órgãos técnicos especializados, deverá prevalecer o entendimento da RFB. Noutro giro, com base na leitura do anexo VIII, REsp n. 1.555.004/SC, foi decidido que incube ao órgão regulador a correta classificação do produto, considerando que este detém o poder de regulamentar, controlar e fiscalizar os referidos produtos. Como se não bastasse, resolveu que não pertence às atribuições fiscais e aduaneiras, alterar a classificação de um produto, inclusive porque os seus agentes não dispõem do conhecimento técnico-científico exigido para esse mister. Diante dessas posições antagônicas, refletindo sobre o caso concreto, entendo que, em caso de divergência entre a classificação de determinado produto, temos de um lado a RFB, possuidora de conhecimento técnico ímpar sobre o assunto tributação, enquanto os órgãos técnicos especializados possuem o 5 Disponível em: https://www.gov.br/siscomex/pt-br/servicos/aprendendo-a-exportarr/planejando-a-exportacao-1/sistem a-harmonizado, acessado em 13/10/2022. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira conhecimento técnico-científico suficiente para opinar sobre a classificação de um determinado produto. Sendo assim, com a máxima vênia, entendo que deverá prevalecer o entendimentos técnicos do órgãos especializados, por dispor de uma maior relevância quanto ao conhecimento técnico-científico exigido para esse mister. 7. Considerando o despacho aduaneiro de importação, responda (Vide anexo X): a) Quais as modalidades de lançamento tributário são aplicáveis ao imposto de importação? Dentre as modalidades de lançamento tributário, conforme arts. 147 a 150 do CTN, temos três modalidades de lançamento tributário, quais sejam: o lançamento de ofício, o lançamento por declaração e o lançamento por homologação. Em relação ao imposto de importação, entendo que a modalidade de lançamento seja por homologação, com base no art. 54 do Decreto Lei nº 37/1966, art. 638 do Decreto 6.759/2009. Sendo assim o contribuinte precisa disponibilizar todas as informações necessárias na Declaração Única de Importação (DUIMP) e recolher o valor do imposto. Além disso, ele faz o pagamento da DUIMP antes de qualquer análise da autoridade administrativa. Caso seja homologado pelo sujeito ativo, ocorrerá a extinção do direito de lançamento do tributo, conforme art. 156, VII do CTN. Para corroborar tal entendimento, o item 7 do anexo X, REsp n. 1.576.199/SC, entendeu o STJ que a partir do advento do Decreto n. 4.543/2002 (RA-2002), a classificação da mercadoria passou a ser ato praticado pelo contribuinte importador na “Declaração de Importação”, o que passou a caracterizar portanto, a figura do lançamento por homologação e não mais o lançamento por declaração que vigorava anteriormente na vigência do Decreto n. 91.030/85 (RA-85), pois o contribuinte passou a apontar todos os elementos constitutivos do fato gerador e a adiantar o pagamento. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira b) A formalização de exigência no Siscomex tem natureza jurídica de lançamento de ofício? Qual é a natureza jurídica do ato do sujeito passivo que, cumprindo a exigência formalizada no Siscomex, retifica a declaração de mercadorias, recolhendo a diferença do crédito tributário e a multa? Como o lançamento do imposto de importação ocorre por homologação, de acordo com os art. 54 do Decreto Lei nº 37/1966, art. 638 do Decreto 6.759/2009, entendo que exigência no Siscomex e a posterior retificação da declaração, não equipara o lançamento ao de ofício, mantendo-se como lançamento por homologação, sendo a exigência e a retificação meros desdobramentos da operação. Para ratificação dessa informação, colaciono trecho do anexo X do presente seminário, do REsp n. 1.576.199/SC, quanto a natureza da retificação pelo contribuinte: as retificações de informações constantes da Declaração de Importação - DI são atos praticados pelo próprio contribuinte na condição de “autolançamento”, dentro da sistemática de lançamento por homologação, apenas se cogitando da incidência do art. 146, do CTN (modificação de “critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa”), se esses atos se deram em razão de orientação expressa dada pelo fisco no momento de sua feitura. c) O desembaraço aduaneiro (liberação) constitui uma homologação do lançamento? Considerar os diferentes canais de conferência aduaneira (verde, amarelo, vermelho ou cinza); e Entendo que o desembaraço aduaneiro constitui uma homologação do lançamento, onde se libera a mercadoria importada (art. 51, do Decreto-Lei n. 37/66) e pode ter sua conclusão submetida a condição resolutória por 5 (cinco) anos, em razão da homologação (“Conclusão do Despacho” via “Revisão Aduaneira”) prevista no art. 54, do Decreto-Lei n. 37/66 e art. 638, do Decreto n. 6.759/2009 - RA-2009). Em relação aos canais de parametrização da DIUMP e da DI, temos os canais verde, amarelo, vermelho e cinza. No canal verde o sistema registra o desembaraço automático da mercadoria, dispensados o exame documental e a Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira verificação física da mercadoria. No canal amarelo, deve ser realizado o exame documental e, não sendo constatada irregularidade, efetuado o desembaraço aduaneiro, dispensada a verificação física da mercadoria. No canal vermelho, a mercadoria somente é desembaraçada após a realização do exame documental e da verificação física da mercadoria. Por fim, no canal cinza deve ser realizado o exame documental, a verificação física da mercadoria e a aplicação de procedimento especial de controle aduaneiro, para verificar indícios de fraude, inclusive no que se refere ao preço declarado da mercadoria. Contudo, nada impede que seja realizada posterior revisão do lançamento. Como a classificação aduaneira é realizada pelo contribuinte importador, cabe ao fisco realizar a conferência da documentação e da mercadoria, conforme o canal de conferência selecionado, para realização da homologação do lançamento. Para ratificar tal entendimento, cito trecho do REsp n. 1.576.199/SC, do anexo X do presente seminário: Em caso de divergência entre a classificação do produto realizada pelo importador e a real situação do produto, caberá ao fisco a reclassificação do lançamento, podendo resultar em diferentes desfechos, como o recolhimento complementar de imposto e até mesmo sanções tributárias, devendo ser considerado se trata-se de erro de direito ou erro de fato. d) A revisão aduaneira tem natureza de revisão de lançamento? Entendo que a revisão aduaneira não tem a natureza de revisão de lançamento, mas sim uma ratificação da homologação realizada pelo fisco, respeitado o prazo de decadencial de 5 anos pelo fisco. A autorização da revisão aduaneira, conforme art. 149 do CTN, deverá ser realizada em caso de efetiva comprovação de falsidade, erro ou omissão de elementos definidos na legislação. No caso de revisão aduaneira que resulte em reclassificação do produto, a fundamentação legal encontra abrigo nos arts. 54, do Decreto-Lei n. 37/66, 638, do Decreto n. 6.759/2009 (RA-2009), 150, §4º, do CTN e nos incisos I, IV e V, do art. 149, do CTN. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira 8. Um importador, ao registrar a declaração de mercadorias (DI - Declaração de Importação - no Siscomex ou DUIMP - Declaração Única de Importação – no Portal Único de Comércio Exterior), classificou determinado produto como equipamento de raio X para uso médico não destinado especificamente para diagnóstico (NCM 9022.14.901).A declaração foi parametrizada no canal vermelho de conferência aduaneira. A liberação (desembaraço) ocorreu sem oposição da Receita Federal em relação ao enquadramento tarifário adotado. Entretanto, após quatro anos, outro Auditor-Fiscal entendeu que, naquela oportunidade, houve uma interpretação equivocada das regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (Decreto Legislativo nº 71/1988; Decreto nº 97.409/1988). Assim, em sede de revisão aduaneira, promoveu a reclassificação do produto para a NCM 9022.14.192, relativa aos aparelhos de raios X destinados a diagnósticos, lavrado auto de infração e lançamento para a constituição da diferença de crédito tributário e cominação das penalidades. Diante disso, pergunta-se (Vide anexos X e XI): a) Esse lançamento de ofício deve observar o art. 146 do CTN? Há diferença se a parametrização, ao invés do canal vermelho, tivesse ocorrido no canal verde? O art. 146 do CTN estabelece critérios para a homologação do lançamento. Como o lançamento do imposto de importação é feito por homologação, pode o fisco no prazo de 5 anos efetuar a revisão do lançamento, conforme art. 149 do mesmo código, quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória, ou seja, quando há erro de direito. Dito isso, não entendo ser esse lançamento de ofício, mas sim a ratificação da homologação. Para ratificar tal entendimento, cito trecho do anexo X do presente seminário, REsp n. 1.576.199/SC, onde se fixou o seguinte entendimento: São inconfundíveis a “Conferência Aduaneira” e o “Desembaraço Aduaneiro” e a “Conclusão do Despacho” (“Revisão Aduaneira”) que pode se dar 5 (cinco) anos depois, tendo em vista a condição resolutória prevista tanto no art. 54, do Decreto-Lei n. 37/66, quanto no art. 150, §4º, do CTN, e no art. 638, do Decreto n. 6.759/2009 Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira (RA-2009) que adotaram a sistemática do lançamento por homologação. Em relação aos canais de parametrização da DIUMP e da DI, temos os canais verde, amarelo, vermelho e cinza. No canal verde o sistema registra o desembaraço automático da mercadoria, dispensados o exame documental e a verificação física da mercadoria. No canal amarelo, deve ser realizado o exame documental e, não sendo constatada irregularidade, efetuado o desembaraço aduaneiro, dispensada a verificação física da mercadoria. No canal vermelho, a mercadoria somente é desembaraçada após a realização do exame documental e da verificação física da mercadoria. Por fim, no canal cinza deve ser realizado o exame documental, a verificação física da mercadoria e a aplicação de procedimento especial de controle aduaneiro, para verificar indícios de fraude, inclusive no que se refere ao preço declarado da mercadoria. Dito isso, caso a parametrização do produto em questão tivesse sido realizada no canal verde, onde o sistema registra o desembaraço automático da mercadoria, dispensados o exame documental e a verificação física da mercadoria, a possibilidade de reclassificar o produto seria muito menor. Sendo necessário a realização de diligência para proceder tanto o exame documental quanto a verificação física do produto. Diante disso, o entendimento diverso da classificação feita pelo importador pela RFB seria mais improvável. b) A reclassificação foi assentada no alegado equívoco de interpretação das regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias. Porém, as consequências seriam as mesmas se a reclassificação fiscal tivesse se baseado na constatação de que o equipamento importado apresenta características diferentes das identificadas na conferência anterior? Avaliar, nas duas hipóteses, se há erro de direito ou erro de fato. No caso em tela, entendo que a reclassificação foi assentado no alegado equívoco de interpretação das regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias, estamos diante de um erro de direito, onde não resta comprovado o dolo por parte do sujeito passivo de Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Seminário V - Tributação Aduaneira prestar informações falsas com o intuito de redução indevida do ônus tributário (evasão fiscal). Sendo assim, em caso de reclassificação por parte da RFB, resultando em posterior cobrança de valores complementares, não há que se falar em incidência de multa, devendo essa ser relevada. Nesse caso, entendo que eventuais multas por irregularidade na classificação fiscal e inobservância normativa não se aplicam ao presente caso. Para corroborar tal entendimento, vejamos um precedente constante no anexo X do presente seminário, TRF 4, Apelação/Reexame Necessário Nº 5008656-93.2012.404.7208: O art. 149 do CTN autoriza a revisão do lançamento, dentre outras hipóteses, quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória, ou seja, quando há erro de direito. Se a autoridade fiscal não teve acesso à mercadoria importada, deixando de examinar a sua qualidade, quantidade, marca, modelo e outros atributos, é possível a revisão aduaneira, nos termos do art. 570 do Regulamento Aduaneiro - Decreto nº 4.543/2002, combinado com o art. 149 do CTN. Ante o exposto, entendo que a reclassificação e cobrança de tributos e penalidades subsequentes só seriam legalmente possíveis em caso de comprovada má-fé e dolo por parte do importador, ou seja, erro de fato.
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