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Produção e maturação de eritrócitos Local: medula óssea Objetivos: manter nível fisiológico/massa de eritrócitos normal Quando: - reposição de hemácias senescentes (envelhecidas) - em caso de estresse, em resposta ao estado anêmico Duração: 7-8 dias Como ocorre É um mecanismo dependente da detecção do oxigênio: diminuição de oxigênio (hipóxia) incentiva os rins a produzirem a citocina eritropoietina - estimula produção (multiplicação e maturação) dos eritrócitos, em 7-8 dias - feedback negativo cessa sua produção Hipóxia tecidual → liberação de eritropoetina pelos rins Desenvolvimento da eritropoiese Medula óssea, estimulada por: • Eritropoetina • IL-3 – interleucina 3 • FEC-GM – fator estimulante de colônio granulocítica monocítica Transforma a célula tronco (stem cell) em BUF-E (burst de unidade formadora eritroide) que se diferencia em UFC-E (unidade formadora de colônia eritroide) e após, em rubriblasto. O rubriblasto realiza diversas mitoses e diferencia-se em diversos precursores eritroides até formar as hemácias Stem cell → BUF-E → UFC-E → rubriblasto → pró- rubrícito → rubrícito → rubricito policromático → metarrubrícito → reticulócito → eritrócito Fase de multiplicação (2-3 dias), com 4 mitoses sequenciais Fase de maturação (3-5 dias), em que ocorre: - enucleação (perda do núcleo) nos mamíferos* - perda do RNA - diminuição do tamanho da célula *peixes, aves, anfíbios, répteis → eritrócitos nucleados Metarrubrícito, reticulócito e eritrócito são vistos na circulação. Para ver as outras células, faz-se um aspirado medular. ↓ O2 tecidual ↑ produção eritropoetina ↑ O2 tecidual ↓ produção eritropoetina Aspirado medular Necessidades da eritropoiese Para multiplicação do eritrócito, necessita-se de: • Vitamina B12 • Ácido fólico • Cobalto • Ácido nicotínico Para maturação do eritrócito, necessita-se de: • Ferro • Cobre • Vitamina B6 (piridoxina) Controle da eritropoiese Influenciada por órgãos endócrinos e hormônios → elevam consumo de oxigênio celular • Adrenal → adrenocorticotrófico (ACTH) • Tireoide → T4 • Adeno-hipófise → GH • Gônadas → andrógenos e estrógenos (reduzem eritropoiese) Células diferenciadas a partir do metarrubrícito, já são anucleadas Sintetizam 20% de hemoglobina Contagem de reticulócitos Objetivos: • Mensurar a eritropoiese • Avaliar resposta medular frente à anemia • Assegurar transfusões sanguíneas Nomenclatura Conforme a coloração utilizada, os reticulócitos recebem nomenclaturas diferentes: Particularidades - espécies Possuem reticulócitos normalmente na circulação: Gatos: possuem reticulócitos agregados e pontilhados, maiores que hemácias maduras, com menos Hb e resquícios de RNA ribossômico • Agregados: meia-vida de 12 h • Pontilhados: maturação de 10 dias Apenas os agregados são contados, são melhores indicadores da liberação medular ativa. Não possuem normalmente: Equinos: não apresentam reticulócitos mesmo em caso de anemia! Fórmula Reticulócitos corrigidos (%) = % 𝑟𝑒𝑡𝑖𝑐𝑢𝑙ó𝑐𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑥 𝑉𝐺 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑉𝐺 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 VG = volume globular/hematócrito Grau de resposta - % de reticulócitos Caninos Felinos Ruminantes/ Equinos Normal 0 – 1 0 – 0,4 Ausente Leve 1 – 4 0,5 – 2 Raros - sinal regenerativo Moderada 5 – 20 3 – 4 Intensa 21 – 50 > 5 Corante supravital → reticulócito Corante de rotina → eritrócito policromatofílico Resposta medular/regenerativa – fórmula Reticulócitos são os melhores indicativos da eritropoiese. % reticulócitos 100 x n° de eritrócitos μL Valores de referência Hematócrito normal: Cães: 0 - 80000 células/μL Gatos: 0 - 60.000 células/μL Ruminantes: 0 células/μL Equinos: não liberam reticulócitos Em anemia: Anemia não regenerativa: 0 - 10.000 células/ μL Anemia não regenerativa mínima regeneração: 10.000 - 60.000 células/ μL Anemia regenerativa com liberação discreta: 60.000 - 200.000 células/ μL Regeneração máxima: 200.000 - 500.000 células/ μL Índices hematimétricos VCM – Volume corpuscular médio VCM = Ht x 10 n° eritrócitos (fL) Ht – hematócrito Classificações: Hemácia normocítica - volume normal Hemácia macrocítica - volume aumentado - indica: presença de reticulócitos Hemácia microcítica - volume diminuido - indica: anemia ferropriva CHCM – concentração de hemoglobina corpuscular média 𝐶𝐻𝐶𝑀 = 𝐻𝑏 𝑥 100 𝐻𝑡 (%) Hb – hemoglobina Classificações: Hemácia normocrômica Hemácia hipocrômica Valores de referência VCM (fL) CHCM (%) Caninos 60 -77 32 - 36 Felinos 39 - 55 30 -36 Bovinos 40 - 55 30 - 36 Equinos 34 - 58 31-37 Tamanho ou volume dos eritrócitos Anisocitose Indica diferença de tamanho entre eritrócitos. Macrocitose: predominam eritrócitos grandes Causas: • Eritropoese acelerada (reticulocitose) • Metarrubrícitos • Hipertireoidismo • Deficiência de fatores de multiplicação • Determinadas raças • Animais jovens Microcitose: predominância de eritrócitos pequenos Causas: • Deficiência de ferro • Insuficiência hepática • Deficiência de cobre RDW – Red Cell Distribution Width Mede intensidade da anisocitose - mais sensível que VCM 𝑅𝐷𝑊 = 𝑑𝑝 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑎𝑠 ℎ𝑒𝑚á𝑐𝑖𝑎𝑠 𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑎𝑠 ℎ𝑒𝑚á𝑐𝑖𝑎𝑠 (𝑉𝐶𝑀) Valor normal: 11 – 14% Pode ser usado na avaliação de anemias em equinos - pois equinos não liberam reticulócitos - avalia-se também hematócrito, punção da medula óssea Coloração dos eritrócitos Hemácia normocrômica: coloração normal, vermelho-claro Hemácia hipocrômica: “hemácia fantasma”, coloração reduzida, centro pálido Causa: deficiência de ferro Policromasia: coloração acentuada que ocorre nos reticulócitos, devido ao RNA residual Causa: anemia regenerativa Hemácia hipercrômica: ocorre em casos de hemólise intravascular, lipemia → CHCM aumenta e há aparente hipercromia Espécie: canina Idade: 10 anos História clínica: está ficando muito magra, apresentando forte halitose e está apática. Anamnese: emagrecimento, úlceras gengivais e lingual, vômito, poliúria, polidipsia, rins pequenos à palpação. Desidratação 4%. Eritrograma Referência Hemácias 3,44 x106 5,5 – 8,5 Hemoglobina 8 g/dl 12 – 18 Hematócrito 24 % 37 – 55 VCM 69,7 fl 60 – 77 CHCM 33,3 % 32 – 36 PPT 8,8 g/dl 6 – 8 Leucograma Referência L. totais 7000 6,000 –17,000 Bastonete 140 0 – 300 Neutrófilos segmentados 5.460 3.000 –11.500 Linfócito 1050 1.000 – 4.800 Monócito 350 150 – 1.350 Eosinófilo 0 150 – 1.250 Basófilo 0 raros Bioquímica sérica Referência Creatinina 9 mg/dL 0,5 – 1,5 Ureia 590 mg/dL 21 – 60 Sexo: fêmea castrada Raça: Beagle Urinálise Exame físico: Exame químico: Volume: 12 ml pH: 4,5 Cor: amarelo palha Proteína: + Odor: sui generis Glicose: - Aspecto: límpido Corpos cetônicos: - Densidade: 1010 Urobilinogênio: normal Bilirrubina: - Sangue oculto: - Sais biliares: - Sedimento: sem sedimento significativo Bactérias: discreta Há anemia? He, Ht, Hb baixos VCM: normal → normocítica CHCM: normal → normocrômica Conclusão: paciente com insuficiência renal crônica (não há produção de eritropoetina) + anemia normocítica normocrônica Presença de metarrubrícitos na circulação Rubricitose apropriada Presença de metarrubrícitos em anemias regenerativas Espécies: cães, gatos, bovinos e suínos Rubricitose inapropriada Presença de metarrubrícitos quando não há anemia Causas: • Necrose da medula óssea (lesão do endotélio sinusoide) • Inflamação • Endotoxemia • Neoplasia • Hipóxia • Contração esplênica - libera eritrócitos que ainda não maturaram • Intoxicação por chumbo Rouleaux Empilhamento das hemácias - devido à alteração (↓) na carga de superfície da membrana + excesso de proteína Espécies: equinos (sádios), felinos, suínos - ruminantes saudáveis e doentes: raro - equinos anêmicos, caquéticos: ausente Causas: • Inflamações• Desidratação • Doenças neoplásicas Inclusões Corpúsculo de Lentz Corpúsculo eosinofílico Local: leucócitos Ocorrência: cinomose canina - presente apenas na fase de viremia Corpúsculo de Heinz Desnaturação da hemoglobina Causas: • Anemia hemolítica • Azul de metileno • Paracetamol • Cebola e alho • Propilenoglicol • Propofol • Fenotiazina (equinos) Coloração: corante de rotina ou supravital Diferenciação: ecentrócito - é modificação na membrana, e não falta de hemoglobina Corpúsculo de Howell-Jolly Inclusões esféricas de restos nucleares - devido à resposta da medula óssea à anemia Causa: função esplênica reduzida Pontilhado basofílico Resposta a anemias regenerativas Espécies: + bovinos; - cães, gatos Causa (além da anemia regenerativa): • Intoxicação por chumbo (saturnismo) - chumbo inibe enzima que degrada RNA Poiquilócitos Qualquer eritrócito alterado na morfologia Causas: • Perda crônica de sangue • Deficiência de ferro Acantócitos Eritrócitos com projeções irregulares, variadas Patogenia: desconhecida Espécie: cão Causas: • Hemangiossarcoma, hemangioma • Distúrbios em baço, fígado, rim • Desvios portossistêmicos • Dietas ricas em colesterol Equinócitos Eritrócitos espiculados, com projeções regulares Causas: • Artefato de técnica - amostras antigas, com excesso de EDTA, secagem indevida • Crenação • Uremia • Desidratação • CID • Hemangiossarcoma *bovinos: fisiológico Esquizócitos Eritrócitos fragmentados Causas: • CID • Vasculite • Anemia ferropriva Queratócito Eritrócito com duas projeções em forma de chifre - devido à dano na membrana celular Causas: • Anemias hemolíticas • Determinados fármacos • Fibrina na microcirculação Excentrócito Eritrócito com área pálida periférica - devido à lesão oxidativa à membrana Torócito Eritrócito com área pálida central Causa: artefato de técnica Ovalócito “Eliptócitos” – eritrócitos de formato oval Causas: • Distúrbios mieloproliferativos, mielofibrose, mieloptise *camelídeos, aves, répteis: fisiológico Alterações relacionadas a processos imunomediados Aglutinação Aglomeração dos eritrócitos Causa: anemia mediada por anticorpo (IgM) Esferócitos Eritrócitos sem “luz”, com área pálida central Espécie: cão - difícil identificar no gato, pois é do mesmo tamanho do eritrócito Causa: • Anemia hemolítica imunomediada • Pós transfusões Mecanismo: hemólise extravascular → antígeno* estimula anticorpo → ligação à hemácia → no fígado, baço, ocorre eritrofagocitose (macrófago fagocita membrana com anticorpos) Células fantasmas Membrana remanescente de eritrócitos - devido à hemólise intravascular Mecanismo: ligação anticorpo-antígeno → hemólise → rompimento da membrana → hemoglobina escapa → não cora plasma Localização: capilares → ponta de orelha, cauda - ficam dentro do eritrócito ou na superfície Mais comuns: • Mycoplasma haemofelis • Mycoplasma haemocanis • Anaplasma marginale • Babesia caballi • Babesia canis - apenas dentro do eritrócito • Rangelia vitalii - dentro de eritrócito e leucócitos • Theileria equi • Anaplasma marginale • Babesia bigemina • Babesia bovis • Raça Poodle: aparecimento fisiológico de hemácia macrocítica (sem anemia) Akita: aparecimento fisiológico de hemácia microcítica (sem anemia) • Idade Filhotes: ↑ VCM • Sexo Machos: testosterona aumenta eritropoese ↑ hemoglobina ↑ hematócrito ↑contagem de eritrócitos Fêmeas: gestação aumenta volume plasmático ↓ eritrograma • Temperamento • Manejo nutricional • Atividade física Equinos: diferença de parâmetros hematológicos em repouso, esteira, treinamento e prova • Atitude elevada ↑ número de eritrócitos Espécie Número (μL) Tamanho (μm) Vida média (dias) Canino 6 – 8 7,0 100 Felino 5 – 10 5,8 70 Equino 9 – 12 5,7 150 Bovino 5 – 10 5,5 150 Ovino 9 – 15 4,5 100 Caprino 8 – 18 4,0 100 Suíno 5 - 8 6,0 65 Existem 2 rotas para remover eritrócitos senescentes da circulação: Hemólise extravascular No baço, sistema fagocítico mononuclear (macrófago) degrada hemácia → libera grupo heme + globina (G) + ferro (Fe) Ocorre conversão do grupo heme → biliverdina → bilirrubina não conjugada (Bnc) tristeza parasitária bovina Hemácia Heme Fe G Heme Biliver dina Bnc Bnc liga-se à albumina na circulação Entra no fígado → liga-se ao ácido glicurônico (AG) → Bilirrubina conjugada (Bc) → passa pelo ducto biliar → chega no intestino No intestino, é degradada em Eb (cor às fezes) + Ub (circulação enterohepática) Bc + Ub → vão aos rins → saem na urina - urina ictérica - mucosas ictéricas Hemólise intravascular Dentro dos vasos, macrófago degrada hemácia → libera hemoglobina na circulação (hemoglobinemia) Parte da hemoglobina liga-se à Haptoglobina Parte da hemoglobina é eliminada pelos rins (hemoglobinúria) Restante da hemoglobina vai para o fígado Hemólise extravascular acompanha intravascular! Icterícia Mecanismos: • Pré-hepática • Hepática • Pós-hepática Causas: Pré-hepática: hemólise exuberante, bilirrubina não é conjugada - em caso de doença hemolítica → presença de esferócitos, corpúsculo de Heinz Hepática: disfunção hepática - FA, GGT aumentam → sugerem colestase Pós-hepática: obstrução de ducto biliares Bc Bnc/ Alb + AG Bc Eb Ub Canino Maior eritrócito entre os animais domésticos (VCM: 60 – 77 fL) Pequena anisocitose fisiológica Situações que levam a perda de sangue desencadeiam respostas rápidas da medula óssea com um aumento de células jovens. Felino Presença esporádica de eritrócitos nucleados - devido ao grande nível de estresse (esplenocontração durante coletas) Presença frequente de Corpúsculos de Heinz - nem sempre representam alterações - baço felino é ineficiente em removê-los Equino Formação de Rouleaux fisiológica Rápida hemossedimentação fisiológica Plasma mais amarelado Medula óssea não libera reticulócitos Microcitose é frequente em potros até 1 ano de idade - devido à deficiência fisiológica de ferro Bovino Em anemias, veem-se reticulócitos + eritrócitos nucleados Crenação de eritrócitos é comum Bezerros (menos de 3 meses): poiquilocitose acentuada + trombocitose + microcitose Microcitose pode permanecer por 1 ano - devido à deficiência fisiológica de ferro Ovino Possui eritrócitos pequenos - esfregaços devem ser confeccionados delicadamente para evitar hemólise Presença de reticulócitos é rara - comum em anemias parasitárias Caprino Menor eritrócito entre os animais domésticos Mais resistentes às anemias provocadas por parasitoses Menor resposta de reticulócitos Suíno Leitoas possuem baixos níveis de ferro - anemias ferroprivas são muito comuns pouco tempo após o nascimento do filho - necessária suplementação de Ferro Anisocitose frequente Helena D. C. Bandas