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Química Orgânica Prof. Dr. André Luiz Cazetta Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação Carlos Eduardo Firmino de Oliveira 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP C386q Cazetta, André Luiz Química orgânica / André Luiz Casetta. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 95 p. : il. Color. 1. Química. 2. Química orgânica. 3. Hidrocarbonetos. 4. Compostos organometálicos. 5. Catálise. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23 ed. 547 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTOR Professor Dr. André Luiz Cazetta ● Pós-doutor em Química pela Universidade Estadual de Maringá. ● Doutor em Ciências (área de concentração: Química) pela Universidade Estadual de Maringá. ● Mestre em Química pela Universidade Estadual de Maringá. ● Licenciado em Química pela Universidade Estadual de Maringá. ● Ranqueado pela AD Scientific Index (https://www.adscientificindex.com/) entre os melhores pesquisadores da América Latina. ● Citado pela PLOS Biology como um dos cinco pesquisadores mais influentes do Brasil e o 1.069º do mundo na área de Eng. Química em 2019. ● Docente nos cursos de graduação presenciais de Biomedicina, Farmácia, Fisio- terapia, Estética e Cosmética e Engenharia de Produção da UniFatecie. Tem experiência na área de química de materiais, concentrando-se os estudos na síntese de materiais nanoporosos baseados em carbono e carbono dopado com heteroátomos (nitrogênio, enxofre, fósforo, etc.) para aplicação, principalmente, em processo de adsorção e eletrocatálise. Tem experiência também na aplicação de ferramentas quimiométricas para otimização de processos associados à regeneração de carbonos saturados com compostos orgânicos, bem como na otimização da síntese de materiais adsorventes. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/2350079239944108 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo (a)! Prezado (a) aluno (a), gostaria de convidá-lo (a) a embarcar nessa nova experiência a fim de aprofundar seus conhecimentos sobre Química Orgânica. Conhecida como Ciência da Vida, a Química Orgânica é de fundamental importância para compreensão do nosso entorno. Os conceitos estudados nesta disciplina são fundamentais para sua melhor compreensão desde as moléculas que compõem nosso corpo ou de qualquer outro ser vivo, até as características observadas nos diferentes combustíveis que utilizamos. Agora, você deve estar com a impressão de que se trata de uma disciplina extremamente complexa, mas não se preocupe, por meio desse material você terá acesso ao conteúdo preparado de forma didática e objetiva para te ajudar a compreender essa área fascinante da Química. Na Unidade I, abordaremos os conceitos iniciais da disciplina, pontuando o que diferencia um composto orgânico de um inorgânico, bem como os postulados de Kekulé em relação ao átomo de carbono. Por se tratar, basicamente, da química do carbono, vamos nos aprofundar neste elemento, discutindo sua estrutura atômica e as ligações que ele pode estabelecer. Por fim, veremos as estruturas orgânicas, que são características que nos permitem classificar os compostos orgânicos em diferentes classes. Na Unidade II, começaremos a nos aprofundar nas diferentes funções orgânicas. A primeira que estudaremos serão os hidrocarbonetos. Essa classe de compostos está muito presente no nosso dia a dia, como na gasolina, querosene, gás de cozinha, etc. Além disso, discutiremos uma propriedade extremamente importante dos compostos orgânicos: a quiralidade de moléculas. Conhecer a estereoquímica de uma molécula é de fundamental importância, pois, enquanto um enantiômero pode possuir atividade farmacológica, o outro pode atuar como um veneno. Encerrando esta unidade, discutiremos as reações de substituição nucleofílica e eliminações sofridas por essa classe de compostos. Já na Unidade III, vamos nos dedicar a entender uma classe de compostos orgânicos de extremo interesse: os organometálicos. Essas moléculas constituídas por átomos de não metais e metais apresentam grande poder catalítico, sendo de grande interesse da indústria. Nesta unidade estudaremos sua estrutura, propriedades e principais reações sofridas. Para finalizar, na Unidade IV discutiremos três classes de compostos orgânicos: álcoois, ésteres e nitrilas. As duas primeiras classes compreendem os compostos oxigenados de carbono, enquanto a última os compostos nitrogenados, sendo estes de grande importância em nosso dia a dia. Chegando a este ponto, você deve estar preocupado com os vários termos e nomes complexos apresentados. Mas não se preocupe, aproveite esse material para compreender estes termos e muitos outros, o que, sem dúvida, ampliará em muito seu conhecimento. Espero, de verdade, que esse material possa contribuir para sua formação profissional. Muito obrigado e bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 Química Orgânica: A Química da Vida UNIDADE II ................................................................................................... 26 Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados UNIDADE III .................................................................................................. 53 Organometálicos e Catálise UNIDADE IV .................................................................................................. 72 Compostos Orgânicos Oxigenados e Nitrogenados 4 Plano de Estudo: ● Introdução à Química Orgânica; ● Teoria Estrutural das Moléculas Orgânicas; ● Representação Estrutural e Classificação das Moléculas Orgânicas. . Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a Química Orgânica; ● Compreender os tipos de estruturas orgânicas e suas classificações; ● Estabelecer a importância destes conceitos para a compreensão do comportamento químico destas moléculas. UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida Professor Dr. André Luiz Cazetta 5UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida INTRODUÇÃO Caros acadêmicos, bem-vindos (as) à primeira unidade. Nessa unidade, iniciaremos nossos estudos sobre a QuímicaOrgânica. Para tanto, iniciaremos nossas discussões com um olhar histórico, ou seja, veremos quais foram os subsídios utilizados para o desenvolvimento de uma nova área de estudo dentro da Química e em que estas moléculas orgânicas se diferenciavam das demais. Como veremos, essas moléculas apresentam estruturas mais complexas que as demais (chamadas de inorgânicas), sendo necessário desenvolver teorias que explicariam como os fatos observados experimentalmente poderiam ser explicados. Neste contexto, as pesquisas realizadas por Friedrich August Kekulé, Archibald Scott Couper e Alexander Butlerov foram de extrema importância na construção estrutural destas moléculas. Compreender a estrutura de uma molécula, significa compreender suas propriedades química e físicas, portanto, nessa unidade vamos abordar a teoria de hibridização e ressonância, as quais explicam as ligações efetuadas pelo carbono, bem como a estabilidade de inúmeras moléculas. Por fim, iremos nos dedicar a estudar as diferentes maneiras de escrever as moléculas por meio de fórmulas químicas. Além disso, discutiremos as diferentes classificações tanto do átomo de carbono, quanto das estruturas por ele formadas. Assimilar esses conceitos serão de fundamental importância para o bom andamento dos estudos nas unidades subsequentes. Desejo ótimos estudos a você. 6UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 1. INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA 1.1 A Química Orgânica como Ciência A Ciência Química estudar a matéria e suas transformações. Assim, ela se torna extremamente abrangente, sendo necessário subdividi-la em áreas. Dentre as diferentes áreas, a Química Orgânica se encarrega de estudar as propriedades, composição e reações dos compostos orgânicos (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). Mas como sabemos se um composto é orgânico ou inorgânico? Para isso, temos que olhar um pouco para o desenvolvimento histórico desta área científica da Química. Por volta de 1780, alguns cientistas começaram a propor distinções entre compostos orgânicos e inorgânicos. A primeira ideia surgiu com Torbern Olof Bergman, o qual propôs o conceito de química orgânica e definiu com o ramo que estudava as substâncias que poderiam ser extraídas de seres vivos. Em 1807, Jöns Jacob Berzelius formulou a “Teoria da Força Vital” ou “Vitalismo”, sugerindo que haveria uma força maior – a vida – responsável por produzir essas moléculas e que, portanto, não seriam sintetizadas em laboratórios, por exemplo. No entanto, em 1828, Friedrich Wöhler sintetizou o composto orgânico ureia a partir da decomposição térmica de uma solução aquosa de cianeto de amônio, derrubando as teorias de Bergman e Berzelius (KLEIN, 2016). 7UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida FIGURA 1 – REAÇÃO DE SÍNTESE DA UREIA PROPOSTA POR WÖHLER Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. Atualmente, você facilmente encontrará a definição de que compostos orgânicos são aqueles que possuem o átomo de carbono em sua estrutura, enquanto os inorgânicos são aqueles que não o possuem (KLEIN, 2016). No entanto, moléculas como do dióxido de carbono (CO2) e monóxido de carbono (CO), bem como do ácido carbônico (H2CO3), apresentam átomos de carbono, porém, são classificadas como inorgânicas. De modo geral, os compostos orgânicos apresentam como propriedades a baixa estabilidade (menor que 600ºC), baixas temperaturas de fusão e ebulição, predominância de ligações covalentes e combustibilidade. Embora menos estáveis que as moléculas inorgânicas, as moléculas orgânicas nos cercam, sendo as que constituem desde o DNA das células, até as roupas que usamos ou os materiais que utilizamos em nosso dia a dia, ou seja, está em todo lugar. Mesmo a química orgânica sendo conhecida como a química do carbono, é necessário que esse elemento estabeleça ligações com outros elementos para formar as mais distintas moléculas. Dentre os elementos da tabela periódica, os mais comuns encontrados nas moléculas orgânicas são o hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N), enxofre (S) e halogênios (flúor (F), cloro (Cl), bromo (Br) e iodo (I)). A esses elementos, damos o nome de organógenos (PAVANELLI, 2019). 8UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 2. TEORIA ESTRUTURAL DAS MOLÉCULAS ORGÂNICAS 2.1 Construção da teoria molecular Entre os anos de 1858 e 1861, nem as teorias atômicas ou que descrevem as ligações químicas eram completamente compreendidas. No entanto, de maneira independente, Friedrich August Kekulé, Archibald Scott Couper e Alexander M. Butlerov desenvolveram as bases de uma das teorias fundamentais da Química: a teoria estrutural. Em relação ao carbono, Kekulé propôs quatro postulados (PAVANELLI, 2019): A) O carbono é tetravalente. Isso significa dizer que o carbono realiza quatro ligações covalentes, conforme exemplos a seguir. FIGURA 2 – CARBONO REALIZANDO QUATRO LIGAÇÕES COVALENTES E SUAS FÓRMULAS ESTRUTURAL E MOLECULAR Fonte: PAVANELLI, 2019. 9UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida B) O carbono possui as quatro valências equivalente, ou seja, um átomo liga-se em qualquer posição. Não há preferência. FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO DAS POSIÇÕES QUE O ÁTOMO DE FLÚOR (F) PODE ASSUMIR NA MOLÉCULA Fonte: PAVANELLI, 2019. C) O carbono possui capacidade de encadeamento, ou seja, pode se ligar entre si ou com outros átomos e formar cadeias. FIGURA 4 – ENCADEAMENTO DOS ÁTOMOS DE CARBONO Fonte: PAVANELLI, 2019. D) O carbono é capaz de formar ligações simples, duplas ou triplas. FIGURA 5 – POSSIBILIDADES DE LIGAÇÃO DOS ÁTOMOS DE CARBONO ENTRE SI OU COM OUTROS ELEMENTOS Fonte: PAVANELLI, 2019. Como você pode perceber, o conceito de ligação química é determinante para entender como as moléculas orgânicas assumem determinadas características que estudaremos no decorrer desta unidade, sendo de grande importância retomar algumas informações acerca do conceito de ligação. 10UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 2.1.1 Ligações químicas e a regra do octeto Quando átomos estabelecem ligações químicas, eles buscam um estado de menor energia, caso contrário, permaneceriam da forma como estavam. De acordo com Lewis e Kössel, os átomos que não apresentam a configuração de um gás nobre (oito elétrons na camada de valência – com exceção do hélio), sofrem reação, estabelecendo ligações químicas com o objetivo de alcançarem essa configuração eletrônica. A essa tendência de os átomos buscarem a configuração de um gás nobre, dá-se o nome de regra do octeto (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). Como forma de representar essas ligações, Lewis desenvolveu o que chamamos de estruturas de Lewis, em que os elétrons da camada de valência de cada átomo são distribuídos em seu entorno e as ligações representadas, conforme mostrado a seguir. FIGURA 6 – REPRESENTAÇÕES DAS LIGAÇÕES NAS MOLÉCULAS DE GÁS METANO (A) E AMÔNIA (B) Fonte: KLEIN, 2016. A partir das observações realizadas por Lewis e Kössel, dois tipos principais de ligações químicas foram propostos (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018): A) Ligação iônica: baseada na interação entre cargas de sinais opostos (negativas e positivas), é estabelecida entre um elemento eletronegativo e outro eletropositivo. FIGURA 7 – ELETRONEGATIVIDADE DE ALGUNS ELEMENTOS E REPRESENTAÇÃO DE UMA LIGAÇÃO IÔNICA Fonte: SOLOMONS e FRYHLE, 2018. 11UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida B) Ligação covalente: neste caso, elementos de eletronegatividades semelhantes interagem. Como eles possuem características eletrônicas semelhantes, não ocorre doação do elétron, como na ligação iônica, mas sim um compartilhamento. FIGURA 8 – LIGAÇÃO COVALENTE ENTRE ÁTOMOS DE HIDROGÊNIO Fonte: GARCIA, LUCAS e BINATTI, 2015. 2.1.2 Hibridização (hibridação) eletrônica Embora Kekulé tenha postulado que o carbono é tetravalente, com o aperfeiçoamento do conhecimento sobre as características atômicasdos elementos, percebeu-se que o carbono não poderia realizar quatro ligações. Veja a distribuição eletrônica a seguir. Com base nessa distribuição e na figura a seguir, verificamos que há dois elétrons emparelhados no subnível 2s e, portanto, não há orbitais livres para estabelecer quatro ligações. FIGURA 9 – DIAGRAMA DE DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA PARA O CARBONO NO ESTADO FUNDAMENTAL Fonte: GARCIA, LUCAS e BINATTI, 2015. Para que as observações verdadeiras de Kekulé serem explicadas, os átomos de carbono sofrem um efeito denominado de hibridização ou hibridação. Para o carbono realizar quatro ligações, durante uma reação química o átomo é excitando, e um dos elétrons do orbital 2s migra para o orbital 2pz, resultando agora, em quatro orbitais híbridos com elétrons desemparelhados, conforme figura abaixo. FIGURA 10 – DIAGRAMA DE DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA PARA O CARBONO NO ESTADO EXCITADO Fonte: GARCIA, LUCAS e BINATTI, 2015. 12UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida A partir da interação destes orbitais com os orbitais do outro ou outros elementos que irão realizar a ligação química, teremos três possibilidades, que também foram previstas por Kekulé. O primeiro tipo que vamos discutir é a hibridização sp³, em que os quatro orbitais atômicos s, px, py e pz hibridizam, dando origem a quatro novos orbitais que são denominados de sp³. FIGURA 11 – ORBITAIS HÍBRIDOS SP³ PARA A MOLÉCULA DE METANO Fontes: GARCIA, LUCAS e BINATTI, 2015 e KLEIN, 2016. Nesta hibridização, todas as ligações realizadas são simples e, portanto, denominadas de sigma (s). Nesta configuração, os orbitais apresentam geometria tetraédrica, ângulo de ligação de 109,5º, além de as ligações possuírem rotação livre (KLEIN, 2016). Como vimos anteriormente, Kekulé previu a possibilidade da realização de ligações duplas e triplas pelos átomos de carbono. As ligações simples são denominadas de sigma (s), enquanto que as ligações duplas e triplas são denominadas de pi (π) e realizadas por meio de orbitais do tipo p puro (GARCIA; LUCAS e BINATTI, 2015). No caso das ligações duplas, o átomo precisa estabelecer ligações com três átomos e, portanto, apenas os orbitais s, px e py são hibridizados, dando origem aos orbitais híbridos sp². O orbital pz permanece intacto com seu elétron, formando a ligação π, conforme os esquemas a seguir. 13UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida FIGURA 12 – ORBITAIS HÍBRIDOS SP² PARA A MOLÉCULA DE ETENO Fontes: GARCIA, LUCAS e BINATTI 2015 e SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. Nesta hibridização, cada átomo de carbono estabelece três ligações sigmas e uma ligação pi, sendo esta última o resultado da interação lateral entre os orbitais p puros. Como resultado, os orbitais apresentam geometria trigonal planar, ângulos de ligação de 120º e ausência de rotação da ligação devido às interações laterais que a “enrijece” (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). Por fim, temos a hibridização sp. Esta configuração é adotada quando o carbono estabelece ligações triplas e, portanto, cada átomo de carbono se ligará a apenas outros dois átomos. Assim, apenas os orbitais s e px sofrem hibridização, enquanto os orbitais py e py permanecem inalterados com seus elétrons, dando origem a dois orbitais do tipo p puro, conforme esquema a seguir. FIGURA 13 – ORBITAIS HÍBRIDOS SP PARA A MOLÉCULA DE ETINO Fontes: GARCIA, LUCAS e BINATTI, 2015 e SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. 14UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida Como resultados, verificamos que cada átomo de carbono estabelece duas ligações sigma e duas ligações pi. Nestes casos, os orbitais híbridos aprestam geometria linear, com ângulo de ligação de 180º. Assim como nos híbridos sp², as ligações também são rígidas (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). 2.2 Estruturas de ressonância Como podemos observar a partir das estruturas de Lewis anteriormente discutidas, a forma que ele sugeriu para representar as ligações impõem uma localização específica para os elétrons. No entanto, sabemos que os mesmos não estão fixos em uma ligação e, dependendo do arranjo estrutural desta molécula, pode haver uma deslocalização dos elétrons ao longo das ligações (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). Vamos tomar inicialmente como exemplo o íon nitrato (NO3-). É possível escrever três estruturas equivalentes para ele, conforme mostrado abaixo. FIGURA 14 – ESTRUTURAS EQUIVALENTES PARA O ÍON NITRATO (A) E SEU HÍBRIDO DE RESSONÂNCIA (B). Fontes: CESAR, P. Módulo II: A visão “clássica” da ligação covalente. 2011. Disponível em: https://www. profpc.com.br/Liga%C3%A7%C3%B5es%20Qu%C3%ADmicas/Aula3.htm. Acesso em: 18 fev. 2022. WIKIMEDIA COMMONS. Nitrate anion. 2015. Disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nitra- te_anion.svg. Acesso em: 18 fev. 2022. Se observarmos as estruturas acima, todos os elementos satisfazem a regra do octeto, ou seja, apresentam oito elétrons na camada de valência nas três estruturas apresentadas. Observando essa característica, Pauling introduziu a teoria de ressonância. Segunda ele, quando um íon puder ser escrito por duas ou mais estruturas de Lewis, onde elas se diferem apenas pela posição dos elétrons, duas considerações são verdadeiras (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018): ● Independente do número de estruturas de ressonância que possam ser escritas, nenhuma delas será a representação correta da estrutura da molécula ou íon. ● A molécula ou íon será melhor representada por meio de uma média, um híbrido de ressonância. O híbrido de ressonância (Figura 14b), é uma estrutura intermediária demonstrando que os elétrons estão deslocalizados ao longo das ligações químicas, com igual probabilidade de estarem em qualquer uma das posições. 15UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida A ressonância é demostrada por meio da seta dupla («), a qual é diferente daquela utilizada para demostrar o estado de equilíbrio químico ( ). Neste momento, você deve estar se questionando: por que destas estruturas se elas são equivalentes? Como já discutimos, as estruturas de ressonância demostram o “espelhamento” das cargas. Essa deslocalização gera uma estabilidade na molécula, uma vez que essa liberdade da carga em se mover ao longo da estrutura, não gera uma densidade em região específica. Podemos pensar que esse efeito da presença de cargas é diluído por toda estrutura, gerando maior estabilidade a ela (KLEIN, 2016). Para compreender reações orgânicas, é de fundamental importância o conceito de ressonância. 16UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 3. REPRESENTAÇÃO ESTRUTURAL E CLASSIFICAÇÃO DAS MOLÉCULAS ORGÂNICAS 3.1 Fórmulas químicas Não só em Química Orgânica, mas em todas as áreas da Química, podemos repre- sentar moléculas de diferentes maneiras, sendo elas apresentadas a seguir. 3.1.1 Fórmula estrutural plana Nesta representação, todas as ligações estabelecidas pelos átomos são mostradas na forma de traços. Quando houver ligações duplas ou triplas, haverá um traço representado cada uma das ligações, conforme mostrado na figura abaixo. FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO DE MOLÉCULAS POR MEIO DA FÓRMULA ESTRUTURAL PLANA Fonte: LIMA, C. Fórmula estrutural. 2020. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/ quimica/formula-estrutural. Acesso em: 18 fev. 2022. 3.1.2 Fórmula estrutural de linhas Nesse tipo de representação, o mais comum na química orgânica, os átomos de carbono e hidrogênio não são escritos na representação. Considere as moléculas mostradas na Figura 16 abaixo. 17UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO DE MOLÉCULAS POR MEIO DA FÓRMULA ESTRUTURAL DE LINHAS Fonte: GARCIA, LUCAS e BENATTI, 2015. Como pode ser observado acima, cada extremidade ou vértice representa um átomo de carbono, como mostrado na Figura 16a. Os átomos de hidrogênio não são evidenciados na estrutura, sendosua quantidade estimada por meio da tetravalência do carbono, ou seja, sabendo que cada átomo estabelece quatro ligações, na estrutura da Figura 16a, podemos concluir que em cada extremidade haverá três hidrogênios, uma vez que esses carbonos estão realizando apenas uma ligação com outro carbono, enquanto o carbono do meio possuirá dois hidrogênios ligados a ele, pois, já realiza duas ligações com os carbonos adjacentes. Assim, a estrutura da Figura 16a possui um total de oito hidrogênios implícitos. No caso de haver ligações duplas ou triplas, o número de átomos de hidrogênio será menor, pois, o carbono realiza apenas quatro ligações. Na Figura 16b-c, percebemos que um átomo de hidrogênio é explicitado ao fim da cadeia ou ligado a outro elemento. No primeiro caso, isso ocorre quando a molécula não possui o carbono como elemento terminal, mas sim, o hidrogênio ou outro átomo. Ademais, todos os elementos organógenos serão explicitados na representação estrutural por linhas; sendo que, nos casos em que o hidrogênio estabelecer ligações com eles, também será representado (Figura 16c). 3.1.2 Fórmula molecular Nas fórmulas moleculares, as ligações entre os átomos não são explicitadas, apresenta-se apenas a quantidade de cada elemento químico presente na estrutura. Geralmente, elas derivam das fórmulas estruturais plana e de linhas. No caso da Figura 15a, temos a molécula de metanol, um álcool que pode ser representado pela fórmula molecular CH3O. Na Figura 15b, se considerarmos o grupo R sendo um grupo metila (CH3), teríamos o ácido etanoico (vinagre), com fórmula molecular C2H4O2, enquanto que, para o etino (Figura 15c), teríamos a fórmula C2H2. Já na Figura 16a-c, temos os compostos propano, propanal e pentan-2-ol, os quais possuem as fórmulas moleculares C3H8, C3H6O e C5H12O, respectivamente. Na apresentação da fórmula estrutural, sempre o carbono aparece primeiro, seguido do hidrogênio e demais organógenos. 18UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 3.2 Classificação do carbono e de suas ligações Embora até o momento tenhamos tratando de moléculas orgânicas com arranjos simples, no decorrer desta disciplina, estruturas mais complexas serão apresentadas, sendo que, identificar a classificação dos átomos de carbono na cadeia, será indispensável para compreender a reatividade das estruturas. Em uma cadeia orgânica, pode haver quatro classificações distintas para o átomo de carbono, as quais serão apresentadas a seguir (GARCIA; LUCAS e BENATTI, 2015). ● Carbono metílico: é a forma mais simples. Neste caso, o átomo de carbono não está diretamente ligado a outro átomo de carbono. Um exemplo deste tipo de carbono pode ser observado na molécula do álcool metílico (metanol) apresentado na Figura 15a. ● Carbono primário: neste caso, os átomos de carbono estão diretamente ligados a apenas um outro átomo de carbono. Correspondem aos carbonos nas extremidades da cadeia. Como exemplo, podemos colocar os dois grupos –CH3 terminais da molécula de propano mostrada na Figura 16a. ● Carbono secundário: estes carbonos se caracterizam por estarem ligados diretamente a dois outros átomos de carbono. Um exemplo que podemos observar, é o carbono central na molécula de propano (Figura 16a). ● Carbono terciário: como o próprio nome sugere, o átomo de carbono estará ligado diretamente a outros três átomos de carbono. ● Carbono quaternário: por fim, nesta configuração estrutural, o átomo de carbono estará ligado diretamente a quatro outros átomos de carbono. Abaixo, é apresentado um resumo das possíveis classificações do átomo de carbono, de acordo com sua disposição na estrutura. FIGURA 17 – CLASSIFICAÇÃO DOS ÁTOMOS DE CARBONO DE ACORDO COM SEU ARRANJO ESTRUTURA Fonte: DESCOMPLICA. Introdução a química orgânica: classificação do carbono, hibridização, fórmulas (estru- tural, bastão e molecular) classificação de cadeia carbônica. [s.d.]. Disponível em https://dex.descomplica.com.br/ enem/quimica/intensivo-enem-introducao-a-quimica-organica-classificacao-do-carbono-hibridizacao-formulas-es- trutural-bastao-e-molecular-classificacao-de-cadeia-carbonica/explicacao/1. Acesso em: 18 fev. 2022. 19UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida Como vimos anteriormente, o carbono estabelece tanto ligações simples (sigma), quanto duplas e triplas (pi). A presença destas ligações na estrutura carbônica, leva a uma outra classificação do carbono. Quando átomos de carbono se ligam via ligações sigma, dizemos que eles são carbonos saturados (s), enquanto que, átomos de carbono ligados via ligações pi, são classificados como insaturados (i). A figura a seguir mostra as diferentes classificações do carbono com base no tipo de ligação que estabelece. FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO DOS CARBONOS SATURADOS E INSATURADOS PRESENTES NA MOLÉCULA Fonte: GARCIA, LUCAS e BENATTI, 2015. 3.3 Classificação das cadeias carbônicas Na Química Orgânica, trabalhamos com moléculas que apresentam um número e variedade grande de elementos em sua constituição, o que permite que elas apresentam diferentes características. A seguir, iremos prover a classificação das cadeias carbônicas, de acordo com algumas características estruturais que elas apresentam. 3.3.1 Cadeias homogêneas e heterogêneas Como já discutido, o átomo de carbono pode realizar ligações químicas não só com ele mesmo, mas com uma vasta gama de outros elementos, sendo os mais recorrentes classificados como organógenos. Quando uma cadeia orgânica é composta apenas por carbono e hidrogênio, podemos classificá-la como homogênea. No entanto, a presença de outros elementos (heteroátomos) na cadeia, não nos permite classificá-la prontamente como sendo uma cadeia heterogênea (DA SILVA e COELHO, 2018). Para isso, precisamos analisar a estrutura química. Tome como exemplo as moléculas a seguir. FIGURA 19 – CADEIAS CARBÔNICAS HOMOGÊNEA A HETEROGÊNEA Fonte: GARCIA, LUCAS e BENATTI, 2015. 20UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida Como podemos observar acima, ambas as cadeias possuem um heteroátomo, o oxigênio. No entanto, ele aparece em posições distintas nas cadeias da Figura 19a e 19b. No primeiro caso, o oxigênio está ligado à dois outros átomos de carbono. Quando o heteroátomo aparecer nessa posição (“cercado” por carbonos), classificamos a cadeia como heterogênea. Já no caso em que o heteroátomo esteja ligado a apenas um carbono, iremos classificar a cadeia como homogênea. Portanto, o etoxietano possui cadeia heterogênea, enquanto o butan-1-ol cadeia homogênea (GARCIA; LUCAS e BENATTI, 2015). 3.3.2 Cadeias normais e ramificadas A classificação das cadeias em normais ou ramificadas leva em consideração o tipo de carbono presente na cadeia. A cadeia será normal quando possuir carbonos metílicos ou primários em suas extremidades e carbonos secundários em seu interior. Por outro lado, quando houverem carbonos terciários ou quaternários na estrutura, está será classificada como ramificada (GARCIA; LUCAS e BENATTI, 2015). Veja os exemplos a seguir. FIGURA 20 – CADEIAS CARBÔNICAS NORMAIS (A-B) E RAMIFICADAS (C-D) Fonte: FONSECA, B. T. Cadeia carbônica. c2006-2022. Disponível em: https://www.infoescola.com/quimica/ cadeia-carbonica. Acesso em: 18 fev. 2022. Vale ressaltar que, para classificação das cadeias em normal ou ramificada, leva- se em consideração as ligações carbono-carbono, portanto, a presença de heteroátomos não altera a classificação do carbono e assim, do tipo de cadeia. Exemplo disso, temos a molécula do hex-5-en-2-ol (Figura 20b) que, embora apresente um grupo hidroxila (OH) ligado ao carbono, ainda é classificada como uma cadeia normal. 3.3.3 Cadeias abertas, fechadas e mistas Está classificação se baseia em analisar a forma que as cadeias orgânicas podem assumir. Cadeias abertas, também conhecidas como acíclicas, são aquelas que apresentam duas extremidades. Todos os exemplosmostrados até aqui são de cadeias acíclicas. Já as cadeias fechadas ou cíclicas (podem ser chamadas de aliciclícas também), não aparentam extremidades, ou seja, assumem a forma de um sólido geométrico, conforme pode ser observado na Figura 21a-b abaixo. 21UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida FIGURA 21 – CADEIAS CARBÔNICAS CÍCLICAS (A-B) E MISTAS (C-D) Fonte: GARCIA, LUCAS e BENATTI, 2015. Já na Figura 21c-d, temos exemplos de cadeias orgânicas mistas. Neste caso, as cadeias fechadas possuem ramificação(ões). Portanto, sua identificação é fácil, pois, quando houver uma cadeia linear ligada à porção cíclica, em que o carbono seja terciário ou quaternário, temos a caracterização de uma ramificação. 3.4 Compostos orgânicos aromáticos Além das classificações para as cadeias acima mencionadas, há uma subclasse de moléculas cíclicas insaturadas denominadas de aromáticas. Devido a sua importância, iremos dedicar um tópico só a elas. O termo aromático provém das fontes que essas moléculas eram obtidas: bálsamos, resinas ou óleos essenciais, portanto, eram moléculas associadas à odores. Hoje em dia, embora a nomenclatura tenha sido mantida, não necessariamente todas as estruturas estejam associadas à odores. A primeira molécula dessa classe (que hoje conhecemos como benzeno) foi descoberta em 1825 por Michael Faraday e sintetizada em laboratório por Eilhardt Mitscherlich, em 1834, a partir da reação mostrada abaixo (SOLOMONS e FRYHLE, 2005). O estudo desta molécula mostrou que ela apresentada características muito distintas das semelhantes até então conhecidas: ela possuía o mesmo número de átomos de carbono e hidrogênio. Com base na teoria de Kekulé, isso sugeria que está molécula deveria possuir um alto grau de insaturação. Kekulé dedicou-se a estudar essa estrutura e, em 1865, propôs a estrutura que até hoje utilizamos para representar o benzeno. De acordo com suas observações experimentais, Kekulé propôs que os átomos de carbono estavam em um anel, ligados entre si por meio de ligações simples e duplas alternadas, havendo ainda um hidrogênio ligado a cada átomo de carbono (SOLOMONS e FRYHLE, 2005). A estrutura é mostrada a seguir. FIGURA 22 – FÓRMULAS DE KEKULÉ PARA O BENZENO Fonte: ARAÚJO, L. B. M. Benzeno. [s.d.]. Disponível em: https://www.manualdaquimica.com/quimica- organica/benzeno.htm. Acesso em: 18 fev. 2022. 22UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida Embora o benzeno seja o expoente dos compostos aromáticos e talvez o mais citado, há diversas outras moléculas que também são aromáticas. Em 1931, Erich Hückel realizou uma série de cálculos matemáticos e estabeleceu uma regra para compostos que possuem um anel plano na qual cada átomo possui um orbital p. Ele concluiu que, para anéis monocíclicos contendo 4n + 2 elétrons pi, em que n = 0, 1, 2, 3, ..., haverá 2, 6, 10, 14,.., elétrons desemparelhados, ou seja, haverá ligações simples e duplas alternadas e, portanto, esses compostos devem ser aromáticos (SOLOMONS e FRYHLE, 2005). FIGURA 23 – ESTRUTURAS DOS COMPOSTOS AROMÁTICOS NAFTALENO (A), FURANO (B) E INDOL (C) Fonte: ASHENHURST, J. Rules for aromaticity. 2020. Disponível em https://www.masterorganicchemistry. com/2017/02/23/rules-for-aromaticity/. Acesso em: 18 fev. 2022. SAIBA MAIS Dizem que a compreensão de Kekulé de que o átomo de carbono poderia formar anéis surgiu de um sonho em que viu uma cobra morder sua própria cauda. Embora não há certeza nessas informações, não deixa de ser uma possibilidade, uma vez que a estrutura do benzeno remete a essa alusão. Fonte: FOGAÇA, J. R. V. Descoberta da estrutura do benzeno. [s.d.]. Disponível em: https://brasilescola. uol.com.br/quimica/descoberta-estrutura-benzeno.htm. Acesso em: 18 fev. 2022. REFLITA “O sucesso consiste em ir de derrota em derrota sem perder o entusiasmo”. Winston Churchill Fonte: SANTOS, R. O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo. c2016-2022. Disponível em: https://www.souempreendedor.com/2018/11/20/o-sucesso-consiste-em-ir-de-fracasso- em-fracasso/. Acesso em: 18 fev. 2022. 23UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da primeira unidade sobre Química Orgânica. Com isso, você pode observar quão densa e detalhista é essa área da Química. Nessa unidade, discutimos o surgimento da Química Orgânica como Ciência, bem como os principais experimentos que embasaram as conclusões dos cientistas. Tão importante quanto saber qual o objetivo de estudo desta área, é imprescindível para as demais unidades que você compreenda agora as diferentes classificações que o carbono pode assumir a partir do tipo de ligação, disposição na molécula, com quais elemento ele está ligado, etc. Ter bem fixado o conceito de orbitais híbridos, sua configuração na formação das ligações sigma e pi (geometria assumida na molécula), bem como o conceito de ressonância e aromaticidade, facilitará muito sua compreensão acerca da estereoquímica e reações orgânicas que discutiremos nas unidades subsequentes. Espero que você tenha aproveitado da melhor maneira possível essa unidade e nos vemos na Unidade II para continuarmos buscando e aprofundando ainda mais nosso conhecimento. 24UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida LEITURA COMPLEMENTAR Embora hoje em dia a Química seja estudada a partir de áreas, as descobertas com relação a matéria, seu arranjo e suas transformações, foram realizadas de forma conjunta. Muitas vezes, nem se conhecia um composto químico ou uma propriedade de fato, mas se propunha uma teoria ou postulado que posteriormente eram validados ou não. Neste sentido, os estudos realizados com as moléculas que hoje classificamos como pertencentes à Química Orgânica, foram de fundamental importância para consolidação dos conceitos de átomo e molécula. Para compreender melhor a importância das moléculas orgânicas neste contexto, acesse o artigo científico “A química orgânica na consolidação dos conceitos de átomo e molécula” escrito por CARMEL et al. (2009). 25UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Os botões de Napoleão: As 17 moléculas que mudaram a história Autores: Penny Le Couteur e Jay Burreson. Editora: Zahar. Sinopse: Procurando explicar o fracasso da campanha de Napoleão na Rússia, em 1812, por conta de um botão de estanho -quando exposto a temperaturas baixas, o estanho se esfarela. Os autores fazem uma análise de 17 grupos de moléculas que, como o estanho daqueles botões, influenciaram o curso da história. Através de histórias, a obra procura mostrar que essas moléculas produziram grandes feitos na engenharia e provocaram importantes avanços na medicina e no direito. FILME Título: Sherlock Holmes 3: a última investigação Ano: 2021 Sinopse: Após enfrentarem Lorde Blackwood e Moriarty, Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) e seu fiel companheiro John H. Watson (Jude Law) voltam a se deparar com misteriosos crimes que ameaçam o dia a dia da sociedade da Inglaterra. Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=s1s-XbvncNg. 26 Plano de Estudo: ● Hidrocarbonetos; ● Estereoquímica; ● Haletos de alquila e reações orgânicas. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e nomear hidrocarbonetos; ● Compreender o conceito de estereoquímica; ● Estabelecer a importância da identificação de estereoisômeros; ● Identificar a importância das reações orgânicas; ● Correlacionar as características do meio reacional com o tipo de mecanismo esperado. UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados Professor Dr. André Luiz Cazetta 27UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 27UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados INTRODUÇÃO Caros acadêmicos (as), bem-vindos (as) à segunda unidade. Dando continuidade aos estudos da Química Orgânica, nessa segunda unidade começaremos a abordar as principais classes de compostosorgânicos. A primeira delas que estudaremos serão os hidrocarbonetos. Esse grupo de moléculas se caracteriza por apresentar apenas átomos de carbono e hidrogênio na estrutura, sendo famoso pelo fato de os combustíveis fósseis (derivados do petróleo) pertencerem a esse grupo. Neste ponto, também introduziremos um conceito extremamente importante: a nomenclatura da compostos orgânicos. É a partir destas regras para nomear cadeias que podemos em qualquer lugar do mundo saber de qual estrutura química estamos tratando. Por serem estruturas compostas por ramificações e, mais adiante, veremos que por diferentes grupos orgânicos, os compostos orgânicos apresentam características estruturais próprias, que chamamos de isomeria. Ela pode ser constitucional ou estereoisomérica, sendo esta última nosso objeto de estudo. Nos estereoisômeros, temos compostos que se destacam por apresentarem um centro assimétrico, sendo este responsável por desviar a luz plano polarizada. Saber identificar centros de quiralidade é de fundamental importância, pois, enantiômeros apresentam propriedades químicas distintas. Assim, enquanto um estereoisômero pode apresentar efeito farmacológico, o outro pode ser carcinogênico ou mesmo apresentar efeitos toxicológicos. Por fim, vamos estudar as reações orgânicas de substituição (SN1 e SN2) e eliminação (E1 e E2) nucleofílicas. Essas reações são de fundamental importância para obtenção de moléculas de elevado interesse para as mais diversas áreas. Essas reações acontecem por meio de diferentes mecanismos, que são priorizados de acordo com o meio reacional que se esteja trabalhando. Portanto, abordaremos os principais fatores que levam à obtenção de produtos SN1/E1 ou SN2/E2. Desejo ótimos estudos a você. 28UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 28UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados 1. HIDROCARBONETOS 1.1 Conceito de funções orgânicas Como já pudemos observar, a Química Orgânica é uma área da Química bastante abrangente em termos de moléculas. De acordo com o Chemical Abstracts, existem mais de 30 milhões de compostos orgânicos conhecidos (MCMURRY, 2016). Com base nesta informação, podemos verificar que estudar individualmente cada uma das moléculas seria extremamente trabalhoso. Com o passar dos anos, os químicos perceberam similaridades nas características estruturais das moléculas, o que refletia em propriedades químicas e físicas relativamente parecidas. Assim, percebeu-se que seria possível agrupar estas moléculas semelhantes em famílias, que dão origem às funções orgânicas. Do ponto de vista estrutural, as moléculas mais simples são dos hidrocarbonetos, os quais passaremos a estudar a seguir. 1.2 Hidrocarbonetos Por outro lado, se houver ao longo da cadeia carbonos ligados via uma ligação dupla, essa estrutura passa a ser subclassificada como um alceno ou alqueno (olefinas). Da mesma forma, quando a estrutura for cíclica alifática, chamamos de cicloalceno ou cicloalqueno. Por fim, se a estrutura carbônica apresentar uma ligação tripla, a estrutura é subclassificada como um alcino ou alquino (GARCIA; LUCAS e BENATTI, 2015). Na Figura 1a-c são mostrados exemplos de alcanos, alcenos e alcinos, enquanto que na Figura 1d-f exemplos dos correspondentes ciclos. 29UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 29UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados Vale ressaltar que, no caso dos cicloalcinos, eles são estruturas instáveis e sintetizadas apenas em laboratório, não sendo encontradas na natureza e possuindo uso extremamente restrito. Ademais, além das subclasses acima mencionadas, não podemos esquecer dos hidrocarbonetos aromáticos, os quais satisfazem as condições mencionadas na Unidade I. FIGURA 1 – HIDROCARBONETOS DE CADEIAS ABERTAS E CÍCLICAS Fontes:GRATISPNG. Cycloalkyne, Hidrocarbonetos, Química PNG. c2020. Disponível em: https://www. gratispng.com/png-pmkoop/. Acesso em: 18 fev. 2022. https://mundoeducacao.uol.com.br/quimica/classe-hidrocarbonetos.htm O petróleo, sendo a principal fonte destes compostos, é caracterizado como uma mistura complexa de compostos orgânicos, muitos dos quais são alcanos e hidrocarbonetos aromáticos. No entanto, podem haver também compostos nitrogenados, oxigenados e sulfurados. A origem do petróleo é baseada, principalmente, na decomposição de matéria orgânica a milhões de anos atrás que, sob efeito de pressão e temperatura, deram origem a essa mistura complexa de moléculas. Porém, estudos recentes sugerem que pode ter havido a incorporação de materiais interestelares à medida que a Terra foi se formando. Após extraído, o líquido denso e preto, denominado de petróleo, é submetido ao processo de refino, em que, a partir do uso de colunas de destilação fracionada (Figura 2), os componentes são separados com base nos pontos de ebulição (SOLOMONS e FRYHLE, 2005). Embora a gasolina corresponda a uma das frações obtidas da destilação do petróleo, a quantidade gerada é muito inferior à consumida. Assim, é necessário realizar o craqueamento do petróleo. Esse processo consiste em submeter a fração de alcanos contendo doze ou mais carbonos na estrutura a uma reação de quebra, para obtenção de moléculas contento de cinco e dez átomos de carbono na estrutura. 30UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 30UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados Essa reação ocorre a temperaturas da ordem de 500ºC, sob efeito de catalisadores, sendo conhecido como craqueamento catalítico (SOLOMONS e FRYHLE, 2005). FIGURA 2 – FRAÇÕES DO PETRÓLEO OBTIDAS POR MEIO DA DESTILAÇÃO FRACIONADA Fonte: https://www.infoescola.com/quimica/destilacao-fracionada/ 1.2.1 Nomenclatura de hidrocarbonetos A forma de nomear moléculas orgânicas é padronizada pela IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry), o qual foi criado em 1892 e sua atual versão data de 2013 (FAVRE e POWELL, 2013). A partir das regras estabelecidas, quando uma nova molécula é descoberta, seu nome pode ser facilmente “construído”, enquanto que, para moléculas já conhecidas, a partir do nome IUPAC, a estrutura pode ser deduzida. Para nomenclatura de hidrocarbonetos, teremos como estrutura básica para nomeá-los a seguinte sequência: a) Prefixo: indica a quantidade de carbonos na cadeia principal; b) Infixo: indica o tipo de ligação presente na estrutura; c) Sufixo: indica a função orgânica. Para os hidrocarbonetos, a terminação é “o”. Com base na sequência acima, percebemos que haverá prefixos e infixos específicos para cada situação (molécula). O quadro abaixo apresenta alguns prefixos (os mais comuns) e os infixos utilizados na nomenclatura, bem como o sufixo que caracteriza a função orgânica hidrocarbonetos. 31UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 31UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados QUADRO 1 – PREFIXOS, INFIXOS E SUFIXOS UTILIZADOS NA NOMENCLATURA DE HIDROCARBONETOS Fonte: O autor (2022). Por serem as estruturas orgânicas mais simples, a nomenclatura dos alcanos não é difícil de ser compreendida. Os alcanos possuem fórmula geral CnH2n+2, e são conhecidos como parafinas por serem pouco reativos. Com base no quadro acima, vamos nomear as moléculas mostradas na figura a seguir. FIGURA 3 – MOLÉCULAS DE ALCANOS Fontes: https://mundoeducacao.uol.com.br/quimica/alcanos.htm A partir das regras de nomenclatura, percebemos que a molécula da Figura 3a possui apenas um átomo de carbono, ligado via ligações sigma e composto apenas por carbono e hidrogênio. Portanto, com base nas informações do Quadro 1, temos que seu nome será metano. Da mesma forma, a molécula da Figura 3b podemos nomear com pentano e da Figura 3c como octano. No entanto, os alcanos podem ter cadeias ramificadas, sendo necessário nomear essa ramificação e determinar quem é a cadeia principal e quem é a ramificação no arranjo estrutural.Quando alcanos sofrem a remoção de um átomo de hidrogênio da estrutura, ele passa a ser conhecido como haleto de alquila. Os haletos gerados não são estáveis, porém, são parte integrante de moléculas maiores, atuando como ramificações. Sua nomenclatura consiste na substituição da terminação -ano do alcano por -ila. Prefixo Infixo Sufixo 1 C = MET 1 ligação simples = AN 1 ligação dupla = EN 1 ligação tripa = IN 2 ligações duplas = DIEN 2 ligações triplas = DIIN O 2 C = ET 3 C = PROP 4 C = BUT 5 C = PENT 6 C = HEX 7 C = HEPT 8 C = OCT 9 C = NON 10 C = DEC 32UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 32UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados Por exemplo, para o metano (CH4), se um hidrogênio for removido, ocorrerá a formação do haleto de alquila denominado de metila (–CH3) (DA SILVA e COELHO, 2018). A Tabela a seguir apresenta a estrutura dos haletos de alquila e sua respectiva nomenclatura. TABELA 1 – ESTRUTURA E NOMENCLATURA DOS HALETOS DE ALQUILA Fonte: GARCIA, LUCAS e BENATTI, 2015. Assim, quando a molécula de um alcano possuir uma ramificação, a nomenclatura seguirá as seguintes regras (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018): a) Localize a maior cadeia, ou seja, aquela que possui o maior número de átomos de carbono contínuos (cadeia principal). Perceba no exemplo abaixo, que há duas possibilidades de cadeias principais, sendo ambas corretas. 33UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 33UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados FIGURA 4 – REPRESENTAÇÕES DA CADEIA PRINCIPAL EM UMA ESTRUTURA RAMIFICADA Fonte:https://dex.descomplica.com.br/enem/quimica/hidrocarbonetos-radicais-e-nomenclatura-de-cadeias- -ramificadas-5/explicacao/1 b) Numere a cadeia mais longa a partir do carbono mais próximo da ramificação. Perceba que, em ambos os casos, a ramificação se encontra no carbono 2. Caso isso não ocorresse, verifique a numeração ou as moléculas não se tratam do mesmo composto em termos estruturais. FIGURA 5 – AMBAS AS POSSIBILIDADES DE NUMERAÇÃO PARA CADEIA PRINCIPAL DA MOLÉCULA DE 2-METIL-PENTANO Fonte: adaptado; https://pt.wikipedia.org/wiki/2-Metil-pentano#/media/Ficheiro:2-Methylpentane.svg c) Usando a numeração da cadeia para indicar a posição e o respectivo nome para a ramificação, dá-se nome à molécula que, neste caso, seria o 2-metil-pentano; d) Quando houver mais de um substituinte, dê a cada um deles o respectivo número considerando a cadeia principal. Os nomes são citados em ordem alfabética, e não numérica. Para a estrutura a seguir, temos o 4-etil-2-metil-hexano. FIGURA 6 – CADEIA ORGÂNICA COM MAIS DE UMA RAMIFICAÇÃO Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. 34UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 34UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados e) Quando dois substituintes iguais estão no mesmo carbono ou em carbonos distintos, use os prefixos di-, tri-, etc. No caso de os substituintes estarem no mesmo carbono, mas serem diferentes, repita o número. FIGURA 7 – CADEIAS ORGÂNICAS COM MAIS DE UMA RAMIFICAÇÃO E SUA NOMENCLATURA Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. f) Havendo duas cadeias passiveis de serem a principal, escolha aquela com maior número de substituintes. Nos casos em que a primeira ramificação for equidistante de ambas as extremidades da cadeia principal, escolha a sequência que forneça o número mais baixo na primeira divergência numérica. FIGURA 8 – NOMENCLATURA DE CADEIAS ORGÂNICAS COM MAIS DE UMA RAMIFICAÇÃO Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. Com base nessa sequência, você é capaz de nomear qualquer cadeia que apresente uma ou mais ramificações citadas na Tabela 1. Para nomenclatura de cicloalcanos, basta inserir o prefixo ciclo- antes da nomenclatura do respectivo alcano linear. No caso do pentano, por exemplo, seria ciclopentano. No caso de ciclos ramificados, basta seguir as regras acima, numerando os carbonos do ciclo de forma que os menores índices sejam atribuídos às ramificações (GARCIA; LUCAS e BENATTI, 2015). 35UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 35UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados FIGURA 9 – NOMENCLATURA DE CADEIAS ORGÂNICAS CÍCLICAS COM UMA OU MAIS RAMIFICAÇÕES Fontes: (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018) (GARCIA; LUCAS e BENATTI, 2015). Além dos alcanos, vimos que há os alcenos e cicloalcenos. Sua nomenclatura, em muito, se assemelha a dos alcanos. Devido a presença da dupla ligação, o infixo an é substi- tuído por en. Por exemplo, se o pentano (alcano) apresentar uma dupla ligação na estrutura, ele passa a ser chamado de penteno. Uma diferença é que, a partir de quatro carbonos na estrutura, é necessário indicar a posição da dupla na cadeia. Neste caso, você irá numerá-la de forma que a dupla permanece do carbono de menor índice. Veja os exemplos a seguir. FIGURA 10 – NOMENCLATURA DE ESTRUTURAS INSATURADAS DE HIDROCARBONATOS Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. No caso de hidrocarbonetos insaturados ramificados, a cadeia principal será aquela com o maior número de carbonos e que contenha a insaturação. FIGURA 11 – NOMENCLATURA DE ESTRUTURAS INSATURADAS E RAMIFICADAS DE HIDROCARBONATOS Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. 36UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 36UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados Para os cicloalquenos ramificados, a numeração deve se iniciar na posição da insaturação, de forma que os radicais apresentem os menores índices possíveis. FIGURA 12 – NOMENCLATURA DE ESTRUTURAS CÍCLICAS, INSATURADAS E RAMIFICADAS DE HIDROCARBONATOS Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e BENATTI, 2018. Para nomear alcinos, promovemos a substituição do infixo an do alcano pelo infixo in. As demais regras de nomenclatura já mencionadas também se aplicam aos alcinos, conforme você pode verificar nos exemplos a seguir. FIGURA 13 – NOMENCLATURA DE ESTRUTURAS INSATURADAS (TRIPLA LIGAÇÃO) E RAMIFICADAS DE HIDROCARBONATOS Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e BENATTI, 2018. No caso de haver mais de uma insaturação, os infixos devem ser usados de acordo com as denominações apresentas no Quadro 1. Ademais, lembre-se que os alcinos cíclicos são instáveis e, portanto, sua nomenclatura não é abordada. 37UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 37UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados 2. ESTEREOQUÍMICA Para compreender o conceito de estereoquímica, temos que retomar alguns conceitos associados a isomeria. Isômeros são compostos que apresentam a mesma fórmula molecular, porém, estruturas diferentes. Eles são, basicamente, divididos em isômeros constitucionais e estereoisômeros. Nos isômeros constitucionais, há uma diferença na maneira com que os átomos estão conectados (BRUICE, 2014). Veja os exemplos (a-b) e (c-d) a seguir. FIGURA 14 – EXEMPLOS DE ISÔMEROS CONSTITUCIONAIS Fontes: http://mundodabioquimica.blogspot.com/2012/09/isomeros-constitucionais.html Para os estereoisômeros, as diferenças observadas estão relacionadas com a disposição espacial dos átomos (BRUICE, 2014). Nessa classe, há os isômeros cis-trans, conhecidos como isômeros geométricos e os isômeros que contém um centro assimétrico, sendo esses o nosso objeto de estudo aqui. 38UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 38UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados 2.1 Quiralidade e os centros assimétricos O conceito de quiralidade pode ser facilmente observado ao nosso redor. Como definição, algo quiral é todo objeto que não possui sua imagem sobreponível. Isso pode ser facilmente verificado colocando um objeto frente a um espelho. Quando a imagem resultante é idêntica ao objeto, ou seja, mentalmente é possível você colocar um sobre o outro (são sobreponíveis), dizemos que ele é aquiral. No entanto, se não for possível mentalmente sobrepor a imagem especular do objeto com o real, ele é chamado de quiral. Veja os dois exemplosa seguir que demostram essa capacidade de certos objetos (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). FIGURA 15 – OBJETOS QUIRAL (A) E AQUIRAL (B) Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. Para uma molécula, a ideia é a mesma. Neste caso, o responsável pela quiralidade será o centro assimétrico. Um centro assimétrico nada mais é que um átomo ligado a quatro outros grupos distintos (BRUICE, 2014). Veja o exemplo a seguir. FIGURA 16 – CENTRO QUIRAL. VEJA QUE A IMAGEM ESPECULAR DA MOLÉCULA NÃO É SOBREPONÍVEL Fonte: Adaptado de: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. Por não serem imagens especulares sobreponíveis, as moléculas são chamadas de enantiômeros, sendo cada uma um estereoisômero. Uma dica importante para diferenciar um centro quiral de um aquiral é considerar que, num átomo tetraédrico, se houver dois ou mais ligantes idênticos, a molécula não possuirá centro de quiralidade (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). 39UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 39UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados 2.2 Nomenclatura R, S de enantiômeros Embora os enantiômeros apresentem estruturas iguais, sendo imagens especulares não sobreponíveis, eles são compostos diferentes, precisando assim de um sistema de nomenclatura que nos permita nomear cada estereoisômero, tornando possível a distinção. Para tanto, utiliza-se as letras R e S. Para qualquer par de enantiômeros, um membro terá a configuração R e o outro a configuração S (BRUICE, 2014; SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). Vejamos, a seguir, as regras para nomear o composto. a) Deve ser estabelecida a ordem de prioridade para os grupos (ou átomos) ligados ao centro assimétrico. Em primeira instância, a prioridade será avaliada com base no número atômico. Quanto maior o número atômico, maior a prioridade. FIGURA 17 – REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA ORGÂNICA QUIRAL E SUA ORDEM DE PRIORIDADE Fonte: O autor (2022). b) Quando a prioridade não puder ser atribuída por meio do número atômico, analisa-se o grupo de átomos das prioridades não estabelecidas ainda. Quanto maior o número atômico da diferença entre os grupos, maior a prioridade. FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA ORGÂNICA QUIRAL E ESTABELECIMENTO DA ORDEM DE PRIORIDADE Fonte: O autor (2022). 40UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 40UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados c) Estabelecidas as prioridades, giramos a molécula de forma que o grupo de menor prioridade fique longe do observador. Se o caminho a, b, c for percorrido em sentido horário, temos o estereoisômero R, enquanto que, se o sentido for anti-horário, teremos o estereoisômero S. No exemplo abaixo, temos o (R)-2-bitanol. FIGURA 19 – ORDEM DE PRIORIDADE DOS GRUPOS NA UMA ESTRUTURA ORGÂNICA QUIRAL Fonte: O autor (2022). d) No caso de grupos que contenham duplas ou triplas ligações, a prioridade é atribuída como se os átomos fossem duplicados ou triplicados. No exemplo abaixo, vemos que o grupo vinila (–C=CH2) teria prioridade sobre o isopropila (–CH(CH3)2). FIGURA 20 – ORDEM DE PRIORIDADE PARA RAMIFICAÇÕES CONTENDO INSTAURAÇÕES Fonte: O autor (2022). \ 41UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 41UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados 2.3 Atividade óptica Do ponto de vista físico e químico, os enantiômeros puros apresentam as mesmas propriedades, como ponto de fusão, ebulição, solubilidade, índices de refração, etc. Entretanto, as propriedades de uma mistura de enantiômeros são diferentes das amostras puras de cada um. Um exemplo disso são o enantiômeros do ácido tartárico. O estereoisômero natural (+) - ácido tartárico e seu correspondente sintético (-) - ácido tartárico apresentam ponto de fusão na faixa de 168-170ºC. Já a mistura entre ambos, apresenta ponto de ebulição de 210-212ºC. Isso ocorre, pois, cada estereoisômero apresenta um comportamento diferente quando interage com outra substância quiral, incluindo seu próprio enantiômero (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). Uma propriedade que nos permite distinguir cada estereoisômero do par enantiomérico, é analisar seu comportamento frente à luz plano-polarizada. O físico Jean-Baptiste Biot (1815) foi o primeiro a perceber que certas substâncias orgânicas como a cânfora e o óleo de terebintina eram capazes de girar o plano da luz plano-polarizada. Ele observou que algumas giravam a luz no sentido horário, outras no sentido anti-horário e algumas, não giravam a luz em sentido algum. Frente a isso, ele percebeu que haveria alguma assimetria nas moléculas que atribuía essa capacidade (BRUICE, 2014). A luz é um fenômeno eletromagnético, em que a oscilação de um campo magnético perpendicular a um campo elétrico gera um feixe de luz. Essas oscilações ocorrem em todos os planos possíveis perpendiculares à direção de propagação. Veja a ilustração a seguir. FIGURA 21 – COMPONENTES ELÉTRICA E MAGNÉTICA DA ONDA (A) E SEUS PLANOS DE PROPAGAÇÃO (B) Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. 42UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 42UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados Quando esse feixe de radiação é submetido a um polarímetro, o polarizador interage com o campo elétrico de tal modo que, após passar por ele, a oscilação ocorre em apenas um plano, sendo essa radiação denominada de luz plano-polarizada. Com base nesse conceito, para medir os efeitos da luz plano-polarizada sobre as amostras opticamente ativas, utiliza-se um polarímetro, o qual é apresentado a seguir. Os componentes principais de um polarímetro são (1) uma fonte de luz (em geral, uma lâmpada de sódio), (2) um polarizador, (3) um tubo para manter a substância opticamente ativa (ou solução) no feixe de luz, (4) um analisador e (5) uma escala para medir o ângulo (em graus) de rotação (desvio) do plano da luz plano-polarizada (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). FIGURA 22 – ESQUEMA DE UM POLARÍMETRO UTILIZADO NA MEDIDA DO DESVIO DA LUZ PLANO-POLARIZADA Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. De acordo com o giro define-se a característica da molécula. Para uma substância opticamente inativa, o analisador receberá a intensidade máxima do feixe a um ângulo de 0º, ou seja, sem qualquer desvio. No caso de haver um enantiômero na solução, ocorrerá o desvio da luz. Se esse giro for em sentido horário, o sinal adotado será o positivo (+), enquanto que, se o giro for anti-horário, o sinal adotado será o negativo (–). Compostos que giram o plano da luz polarizada no sentido horário são denominados de dextrorrotatório (ou dextrogiro), enquanto os que giram no sentido anti-horário são conhecidos como levorrotatório (levogiro) (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). 43UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 43UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados FIGURA 23 – EXEMPLOS DE INTERAÇÃO DA LUZ PLANO-POLARIZADA COM UMA SOLUÇÃO AQUIRAL E QUIRAL Fonte: BRUICE, 2014. Quando a amostra é composta exatamente pelo mesmo número de moléculas dextrorrotatória e levorrotatória (mistura equimolar), não haverá rotação líquida da luz plano-polarizada, uma vez que, cada estereoisômero desviará a mesma fração de luz para cada um dos sentidos. A essa mistura, dá-se o nome de mistura racêmica (ou racemato) (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). 44UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 44UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados 3. HALETOS DE ALQUILA E REAÇÕES ORGÂNICAS 3.1 Haletos de alquila Haletos de alquila são moléculas em que há um halogênio (Cl, F, I e Br) ligado a um átomo de carbono com hibridização sp³. Devido as características dos halogênios (eletronegatividade), a ligação com o carbono é polarizada, sendo que o átomo de halogênio tende a apresentar uma densidade de carga negativa ( –), enquanto o átomo de carbono uma densidade de carga positiva ( +). Como o flúor (F) é o elemento mais eletronegativo,esse dipolo será mais pronunciado em um haleto contendo flúor. Por outro lado, para o iodo (I), esse efeito será menor. Veja os mapas de densidade de cargas abaixo (Figura 9), em que está característica fica evidente (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). Devido a essas características, os haletos de alquila são passiveis de sofrerem reações de substituição e eliminação. Na reação de substituição, o átomo eletronegativo ou o grupo retirador de elétrons (que contém um átomo eletronegativo) é substituído por outro átomo ou grupo. Já na reação de eliminação, o átomo ou grupo é eliminado, levando um hidrogênio do carbono adjacente. Perceba que o a molécula que sofre reação, possui uma carga parcial positiva, portanto, essas reações são denominadas de nucleofílicas (BRUICE, 2014). Lembre-se, o núcleo de um átomo possui cargas positivas, portanto, o reagente deve possuir uma densidade de cargas negativas (nucleófilo), pois assim, haverá interação: nucleófilo = “gosta de núcleo”. 45UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 45UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados FIGURA 24 – MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO DE DENSIDADE DE CARGAS PARA OS COM- POSTOS HALOGENADOS. Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. A maioria dos haletos de alquila apresentam baixa solubilidade em água, porém, são miscíveis entre si ou com outros solventes apolares. Os cloroalcanos (CH2Cl2, CHCl3, CCl4) tem toxicidade cumulativa e são carcinogênicos (SOLOMONS; FRYHLE e SNYDER, 2018). 3.2 A reação SN2 A classificação de uma reação como SN2 é realizada por meio da análise de sua cinética. Neste caso, tanto a concentração do haleto de alquila, quanto do nucleófilo, interferem na velocidade da reação, ou seja, ela é bimolecular e, portanto, a denominação SN2 (BRUICE, 2014). Um nucleófilo é qualquer íon negativo ou molécula neutra que tem, no mínimo, um par de elétrons não compartilhados (base de Lewis), como os íons hidróxidos (HO–) ou moléculas de água e gás amônia. Sendo que, quando mais forte a base, melhor nucleófilo ela será (SOLOMONS e FRYHLE, 2005). Essa reação foi estudada por Hughes e Ingold, os quais propuseram o mecanismo SN2 a partir das seguintes evidências experimentais (BRUICE, 2014): ● A velocidade da reação depende da concentração do haleto de alquila (substrato) e do nucleófilo, sendo que ambos participam da etapa limitante da reação. ● Quando os hidrogênios do haleto de alquila são sucessivamente substituídos por grupos metila, a velocidade torna-se progressivamente mais lenta. ● Quando o halogênio está ligado a um centro assimétrico, há formação de apenas um estereoisômero, sendo sua configuração invertida em relação ao substrato. ● Tomando a reação do brometo de metila com o íon hidróxido, temos: Em termos mecanísticos, ela é representada da seguinte forma (BRUICE, 2014): 46UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 46UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados ou ainda: Como descrito por Hughes e Ingold, a presença de grupos volumosos, ou seja, de grupos substituindo o hidrogênio causa uma diminuição da velocidade da reação, uma vez que esses grupos impedem a aproximação do reagente, como demostrado a partir dos mapas de densidade de cargas abaixo. Podemos observar que o haleto metílico não apresenta impedimento algum à aproximação do grupo –OH, enquanto que, no terciário, o halogênio fica protegido por esses grupos. FIGURA 25 – DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS DO NUCLEÓFILO E DOS SUBSTRATOS DE ACORDO COM O GRAU DE SUBSTITUIÇÃO DO CARBONO LIGADO AO HALOGÊNIO. Fonte: BRUICE, 2014. No entanto, não é apenas o grau de substituição que altera a velocidade da reação. Se tomarmos como exemplo o iodeto, brometo, cloreto, fluoreto de alquila frente ao mesmo nucleófilo, perceberemos que a reação ocorrerá mais rapidamente com o iodeto de alquila e mais lentamente com o fluoreto de alquila. Isso se deve a basicidade do grupo de saída. Quando mais fraca a basicidade do grupo de saída, mais estável ele será e por isso comportará mais facilmente os elétrons antes compartilhados na ligação (BRUICE, 2014). Isso está relacionado com o tamanho dos átomos, sendo o iodo maior que o átomo de flúor. 3.3 A reação SN1 De acordo com mecanismo SN2 estudado por Hughes e colaboradores, a reação do cloreto de terc-butila com a água deveria ser extremamente lenta, pois, a água é um nucleófilo fraco e o cloreto de terc-butila estericamente impedido. No entanto, essa reação ocorre supreendentemente rápida, demonstrando que ela deve seguir um mecanismo diferente da SN2. No caso de uma reação SN1, a entrada no nucleófilo e saída do grupo abandonador não ocorre simultaneamente, mas com a formação de um intermediário com carga positiva, chamado de carbocátion, conforme mecanismo abaixo (BRUICE, 2014). 47UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 47UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados A estabilidade do carbocátion provem de um efeito chamado hiperconjugação, que envolve a deslocalização de elétrons de um orbital ligante preenchido para um orbital não preenchido adjacente. Como o carbocátion terciário possui três carbonos com ligação C–H, o efeito de hiperconjugação é muito eficiente, permitindo que esse intermediário seja está- vel o suficiente para sofrer reação. Conforme o grau de substituição diminui, a estabilidade do carbocátion também diminui, conforme mostrado abaixo. FIGURA 26 – ESTABILIDADE DOS CARBOCÁTIONS Fonte: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. Como essa reação depende da estabilidade do carbocátion, sua velocidade é de- pendente apenas da concentração do haleto de alquila, no entanto, ela ocorre em etapas conforme mostrado no mecanismo anterior. Dessa forma, o mecanismo SN1 é conhecido como unimolecular, sendo e etapa limitante aquela que possui menor velocidade que, neste caso, é a formação do carbocátion. Além disso, semelhante à SN2, no mecanismo SN1, quando mais fraca a base de saída (grupo abandonador), maior será a reatividade do haleto (BRUICE, 2014). Abaixo, temos um resumo comparando as diferenças entre um mecanismo SN1 e SN2. 48UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 48UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados TABELA 2 – COMPARAÇÃO ENTRE OS MECANISMOS SN1 E SN2 Fonte: Adaptado de: SOLOMONS, FRYHLE e SNYDER, 2018. 3.4 Reações de eliminação Quando um haleto de alquila sofre uma substituição, há a possibilidade de uma reação de eliminação também ocorrer. Neste caso, o halogênio é removido de um carbono e um hidrogênio é removido do carbono adjacente, formando uma ligação dupla (alceno). Em uma reação do tipo E1, as etapas iniciais do mecanismo se assemelham à SN1, no entanto, com formação do alceno como produto (BRUICE, 2014). Veja o exemplo a seguir. Em moléculas mais complexas, podemos classificar os carbonos da cadeia como sendo alfa (α) e beta (β). O carbono α é aquele ligado diretamente ao halogênio, enquanto os carbonos β são aqueles adjacentes ao carbono α. Em moléculas em que os carbonos β são estruturalmente diferentes, haverá duas possibilidades de produtos. O produto majoritário será aquele que segue a regra proposta por Zaitsev: “o alceno mais estável (majoritário) é obtido quando um hidrogênio é removido do carbono β que está ligado ao menor número de hidrogênios” (BRUICE, 2014). Fato este que você pode verificar nos mecanismos a seguir. Fator SN1 SN2 Substrato Terciário (carbocátion estável). Metila > primário > secundário (sem impedimento). Nucleófilo Base de Lewis fraca (pode ser o solvente). Base de Lewis forte (quanto mais forte, maior a velocidade). Solvente Prótico polar (álcoois, água, etc.). Aprótico polar (DMF, DMSO). Grupo de saída I > Br > Cl > F I > Br > Cl > F. 49UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 49UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados No entanto, a eliminação pode ocorrer via um mecanismoE2, a qual segue a cinética de uma reação SN2, conforme esquema abaixo (BRUICE, 2014). Como você pode perceber, tanto a E1 quanto a E2 ocorrem de acordo com a regra de Zaitsev. O que as diferenciam a característica da base. Embora na E1 a força da base não altere a velocidade, para a E2, quanto mais forte a base, maior a velocidade. A reação E1 irá competir com a SN1 e a E2 com a SN2. Mas como saber qual será priorizada? Abaixo temos um resumo dos produtos majoritários de acordo com as condições experimentais. TABELA 3 – PRODUTOS MAJORITÁRIOS DE ACORDO COM AS CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS Fonte: Adaptado de: BRUICE, 2014. SAIBA MAIS Alguma vez que você tenha ido ao posto de combustível, já observou que há mais de um tipo de diesel disponível? Atualmente, os óleos diesel disponíveis no mercado são nomeados de S-500 e S-10. Mas você sabe o porquê dessa denominação e qual seu significado? Para descobrir, acesse a publicação a seguir. Fonte: Bonfá, 2011. REFLITA O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete. -Aristóteles- Fonte: PENSADOR. Frases para refletir. c2005-2022. Disponível em: https://www.pensador.com/frases_ para_refletir/. Acesso em: 21 fev. 2022. Haleto de alquila Produto SN2/E2 Produto SN1/E1 Haleto primário Produto majoritário de substituição Não sofre reação Haleto secundário Produto de substitui- ção e eliminação Produto de substituição e eliminação Haleto terciário Apenas eliminação Produto de substituição e eliminação 50UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 50UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro acadêmico (a), chegamos ao final da segunda unidade. Nela, você já pôde perceber o quão abrangente são as classes de compostos orgânicos e como elas são importantes em nosso dia a dia. Os hidrocarbonetos na forma de alcanos são as moléculas responsáveis por grande parte dos combustíveis que usamos (gasolina, óleo diesel, gás de cozinha, etc.), bem como de inúmeros produtos, dentre eles o piche do asfalto e óleos lubrificantes. Além dos alcanos, alcenos e alcinos são usados como moléculas de partida (monômeros) para síntese de polímeros, como o poliestireno e polipropileno. Tão importante quanto saber as classes, é primordial identificar uma molécula a partir de seu nome, o que é possível por meio das regras de nomenclatura da IUPAC. Outro ponto principal é conhecer e saber identificar centros de quiralidade em moléculas orgânicas, pois à presença de enantiômeros em solução deve ser estudada com muito rigor, pois, embora sejam estruturalmente idênticas, opticamente são muito distintas e agem de forma bastante peculiar em sistemas biológicos, por exemplo. Por fim, compreender os mecanismos que nos permitem converter haletos orgânicos em hidrocarbonetos insaturados ou outras moléculas de interesse da sociedade é de fundamental importância na formação de profissionais. Espero que você tenha aproveitado da melhor maneira possível essa unidade e nos vemos na Unidade III para continuarmos buscando e aprofundando ainda mais nossos conhecimentos. 51UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 51UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados LEITURA COMPLEMENTAR Um dos grandes gargalos da sociedade moderna, será suprir as demandas por combustíveis. Embora haja fontes alternativas como o etanol, células combustível e etc., ainda os derivados de petróleo são os combustíveis mais utilizados em todo mundo. O grande problema associado a isso é o fato deste ser um combustível não-renovável. Na busca de formas para suprir essa necessidade, uma empresa canadense está fazendo um combustível que combina dióxido de carbono com hidrogênio líquido, obtendo como resultado a gasolina. Para maiores detalhes, acesse a reportagem a seguir. Fonte: LEAHY, S. Esta gasolina é feita de carbono tirado do ar. 2020. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2018/06/esta-gasolina-e-fei- ta-de-carbono-tirado-do-ar. Acesso em: 21 fev. 2022. 52UNIDADE I Química Orgânica: A Química da Vida 52UNIDADE II Hidrocarbonetos: A Química do Petróleo e Derivados MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Mecanismos de Reações Orgânicas. Autora: Teresa M.V.D. Pinhão e Melo. Editora: Lidel. Sinopse: Mecanismos de Reação é considerado, atualmente, um tópico essencial no ensino da química, em particular na área da química orgânica. A compreensão dos princípios mecanísticos constitui uma estratégia de aprendizagem que evita a simples memorização de um número infindável de reações orgânicas, dando lugar à tentativa de compreensão do que se passa a nível molecular durante uma transformação química. É um tema intelectualmente estimulante, pois permite a racionalização de processos complexos. O livro Mecanismos de Reações Orgânicas foi elaborado com a preocupação de introduzir, de uma forma acessível, um conjunto de conceitos essenciais para a compreensão das transformações químicas. Procura demonstrar a importância do entendimento de princípios mecanísticos que tornam possível, em muitos casos, a previsão do comportamento químico de determinados compostos. Pretende ainda dar a conhecer um leque alargado de estratégias que se podem adoptar para o estabelecimento dos mecanismos de reação. Esta obra é dirigida não só a Estudantes de Licenciaturas e de Pós-graduação nas áreas da Química, Engenharia Química e Farmácia, mas também a Professores destas áreas. FILME Título: O Óleo de Lorenzo Ano: 1992. Sinopse: Um drama real na vida de um pai e uma mãe que lutam para salvar a vida de seu filho. Augusto e Michaela Odone são pegos pelo destino: Lorenzo de cinco anos de idade é diagnosticado com uma rara e incurável doença, mas a persistência da família e sua fé os leva para a cura, salvando seu filho e mudando a história da medicina. Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=81YZS7IeDHA. 53 Plano de Estudo: ● Compostos organometálicos; ● Reações dos organometálicos; ● Catálise Orgânica. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar os organometálicos dentro da Química Orgânica; ● Compreender as propriedades e reatividade dos organometálicos; ● Conhecer as reações envolvendo organometálicos; ● Examinar a viabilidade de aplicação dos organometálicos de acordo com o meio reacional; ● Estabelecer os tipos de catalisadores e as reações promovidas por organometálicos. UNIDADE III Organometálicos e Catálise Professor Dr. André Luiz Cazetta 54UNIDADE III Organometálicos e Catálise INTRODUÇÃO Caros acadêmicos, bem-vindos (as) à terceira unidade. Após conceituarmos o que são compostos orgânicos, estudarmos algumas de suas classes e compreendermos as reações por eles sofridas, iremos nessa terceira unidade estudar uma classe de compostos orgânicos de grande interesse industrial: os organometálicos. Esses compostos se caracterizam por apresentarem, pelo menos, uma ligação carbono–metal, sendo este metal do grupo representativo ou de transição. O estudo dos compostos organometálicos é muito correlacionado à Química Inorgânica, uma vez que está interação metal-sítio de ligação se dá por meio de ligações coordenadas. Em Química Orgânica, os organometálicos são empregados como reagentes na conversão de moléculas, sendo os reagentes de Grignard um dos mais utilizados para este fim. No entanto, as moléculas organometálicas não se restringem a esses reagentes, podendo conter desde metais alcalinos (como organolítio e organosódio), que são extremamente reativos, até organochumbo, que era utilizado como antidetonantes na gasolina. O espectro de compostos é extremamente amplo, e de extremo interesse devido suas propriedades únicas. Nesse contexto, os organometálicos são muito utilizados em processos de catálise, que consiste no uso de espécies químicas que aceleram ou retardam (inibem) reações químicas, mas sem fazerem parte dela com reagente ou produto. Assim, nessa unidade, abordaremos
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