Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Distúrbios hematológicos APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, iremos estudar os distúrbios relacionados ao tecido sanguíneo. O sangue é um líquido extremamente complexo, constituído de elementos figurados (eritrócitos, leucócitos e plaquetas) e a porção líquida (plasma). Os eritrócitos (hemácias) transportam o oxigênio para as células do corpo; os leucócitos atuam como mediadores das respostas imunes a infecções e a estímulos inflamatórios; as plaquetas participam da coagulação e o plasma é composto por água, eletrólitos e proteínas plasmáticas. Como o sangue possui funções essenciais e circula por todo o corpo, as alterações na sua fisiologia normal, seja nos elementos celulares ou nas proteínas plasmáticas, podem provocar distúrbios graves no organismo. Estudaremos alguns destes distúrbios e suas interferências na homeostase. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os distúrbios relacionados aos componentes do hematócrito.• Especificar os distúrbios relacionados aos componentes plasmáticos.• Relacionar sintomas de hipercoagulação com a tríade de Virchow.• DESAFIO Leia o seguinte caso, pesquise e responda as perguntas. Caso: Mulher de 24 anos chega à unidade de emergência com dores intensas abdominais. Nega a ocorrência de febre, calafrios, tosse ou outros sintomas respiratórios. Não esteve doente, nem acamada ou imobilizada por um período prolongado de tempo. Não fuma e não ingere bebidas alcoólicas. Teve gestação com parto normal há um ano. Tem estado com boa saúde e, no momento, não está tomando nenhum medicamento. Usou contraceptivo oral desde os 18 anos e parou desde o nascimento de seu filho. A história familiar revela que a mãe teve trombose venosa profunda. Após ultrassonografia, foi diagnosticado trombose mesentérica. A partir de seu histórico familiar, suspeita-se de um estado de hipercoagulação. 1) De acordo com o quadro clínico, qual dos componentes da tríade de Virchow podem ser encontrados neste caso? Justifique sua resposta. 2) O fato de a paciente ter usado contraceptivo oral (pílula anticoncepcional) pode ter alguma relação com o desenvolvimento de trombose ou formação de coágulos? Por quê? 3) Qual a importância do histórico familiar na suspeita de um caso de trombose venosa profunda? INFOGRÁFICO O esquema mostra o que será estudado nesta unidade de aprendizagem: CONTEÚDO DO LIVRO O sangue é composto pelas células sanguíneas (hemácias ou eritrócitos, plaquetas e leucócitos) e pelo plasma. O hematócrito é um marcador da concentração de hemácias do sangue e é um dos indicadores da capacidade de transporte de oxigênio para os tecidos. O plasma contém todas as substâncias que serão transportadas pelo sangue para os tecidos e inclui as proteínas plasmáticas e os fatores de coagulação. No capítulo Distúrbios Hematológicos da obra Genética e Patologia, você vai conhecer quais os principais distúrbios que afetam o hematócrito, compreenderá a formação dos componentes do plasma e quais os distúrbios que afetam a sua composição e entenderá como funciona a hemostasia e a tríade de Virchow para os estados de hipercoagulação. Boa leitura. GENÉTICA E PATOLOGIA Laura Silveira Ayres Distúrbios hematológicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os distúrbios relacionados aos componentes do hematócrito. Especificar os distúrbios relacionados aos componentes plasmáticos. Relacionar sintomas de hipercoagulação com a tríade de Virchow. Introdução Entre os elementos formadores do sangue estão as células sanguíneas e o plasma, que contêm os fatores de coagulação e as proteínas plasmáticas. Para o equilíbrio do organismo, é necessário que haja uma adequada distribuição de oxigênio para os tecidos pelas hemácias. Também é preciso que a concentração das substâncias que fluem dissolvidas no plasma esteja dentro dos valores ideais, suprindo as necessidades orgânicas e mantendo o funcionamento adequado do metabolismo. Neste capítulo, você vai estudar os distúrbios relacionados ao hema- tócrito, que representa a concentração de eritrócitos na circulação. Você também vai verificar quais são os principais constituintes do plasma e quais patologias podem gerar alterações na sua composição. Por fim, você vai compreender as causas da hipercoagulação e como elas foram descritas por Virchow. 1 Distúrbios do hematócrito Hematócrito é defi nido como o volume da massa de eritrócitos do sangue, sendo expresso como um percentual do volume sanguíneo. Antigamente, as contagens de eritrócitos realizadas no hemograma não eram muito precisas, então, utilizava-se o hematócrito como uma forma mais fi dedigna de estimar a fração eritrocitária (FAILACE; FERNANDES, 2015). O método original para a determinação do hematócrito foi desenvolvido por Maxwell Wintrobe e utilizava 1 mL de sangue, que era centrifugado por 30 a 60 minutos em tubos de vidro com diâmetro padronizado. Esse método, atualmente chamado de macro-hematócrito, acabou sendo substituído pelo micro-hematócrito, que é mais rápido. Para a realização do micro-hematócrito, aspira-se em um tubo capilar não graduado (75 mm de comprimento por 1,2 mm de diâmetro) um pequeno volume de sangue, deixando um espaço de 15 mm vazio. A extremidade vazia é selada por calor ou com massa de modelar. O capilar é, então, centrifugado por 5 a 10 minutos em uma centrífuga específica para capilares, em uma velocidade de 10.000 a 15.000 g. A leitura do hematócrito é feita visualmente, com uma escala graduada. O sangue é separado em eritrócitos e plasma, com uma camada composta por leucócitos e plaquetas na divisão entre as camadas (buffy coat). A leitura na escala é feita excluindo-se a buffy coat (Figura 1) (BAIN, 2016). Figura 1. Método do micro-hematócrito, mostrando a coluna de sangue com a separação do plasma, a camada de leucócitos e plaquetas (buffy coat) e a camada de eritrócitos (hematócrito). Fonte: Bain (2016, p. 20). A epidemia do vírus da imunodeficiência humana (a partir de 1982) e a descoberta do vírus da hepatite C (1989) provocaram maiores preocupações com a manipulação do sangue e com a biossegurança. Como os tubos capilares são muito frágeis e frequentemente quebram, colocando em risco os técnicos e Distúrbios hematológicos2 analistas, e também geram aerossóis durante a centrifugação, foi desenvolvida a determinação automatizada do hematócrito nos contadores hematológicos. Nos contadores eletrônicos, o hematócrito é calculado como um parâmetro derivado, sendo definido pelo volume corpuscular médio multiplicado pela contagem de eritrócitos, que hoje em dia é muito precisa. A fórmula do hematócrito é: Htc = VCM × E onde: Htc: hematócrito; VCM: volume corpuscular médio; E: eritrócitos. O hematócrito calculado costuma ser 1 ponto percentual menor do que o obtido pelo micro-hematócrito, pois, por melhor que seja a centrifugação, sempre fica uma pequena quantidade de plasma retida na coluna de eritrócitos (FAILACE; FERNANDES, 2015). Atualmente, para os laboratórios que ainda desejam realizar eventualmente o exame de micro-hematócrito, até para realizar um ajuste do equipamento automatizado, existem capilares de plástico, que são mais seguros (BAIN, 2016). Os valores de referência para o hematócrito são: 47 ± 7% para homens e 42 ± 6% para mulheres (FAILACE; FERNANDES, 2015). Em algumas situações, embora a contagem de eritrócitos, o volume corpuscular médio e o hematócrito estejam corretamente determinados pelo analisador, pode haver uma determinação não fidedigna desses parâmetros por questões do paciente, como as descritas a seguir. Aumento isolado da volemia (hemodiluição), causando uma pseudoane- mia (diminuição falsa das contagens de eritrócitos e do hematócrito por diluição). Ocorre de forma fisiológica durante a gravidez e em atletas de treinamentointensivo. Também está presente em pacientes com retenção de líquidos, por problemas cardíacos ou renais, e após a infusão intravenosa de grandes quantidades de líquidos oncoticamente ativos. Diminuição isolada da volemia por desidratação — nesse caso, há um aumento irreal de eritrócito e hematócrito por hemoconcentração. Pode ocasionar uma pseudopoliglobulia ou o mascaramento de uma anemia. Pode estar presente em casos de uso excessivo de diuréticos, em 3Distúrbios hematológicos queimaduras extensas, na diarreia ou na sudorese excessiva. Também ocorre em casos de edema de membros inferiores. Diminuição harmônica da volemia. Ocorre na perda sanguínea não compensada, havendo uma diminuição da volemia e dos glóbulos san- guíneos paralelamente, mantendo as contagens inalteradas (FAILACE; FERNANDES, 2015). Doenças que causam alterações no hematócrito A maioria dos distúrbios na contagem e na morfologia dos eritrócitos, que alteram o hematócrito, pode ser classifi cada como anemias ou eritrocitoses. A anemia é caracterizada por uma diminuição na capacidade de transporte sanguíneo de oxigênio. Como consequência, o paciente não consegue obter a oxigenação tecidual adequada e apresenta cansaço, palidez, respiração curta e sensação maior de frio (FAILACE; FERNANDES, 2015). As anemias podem ser causadas por três condições, descritas a seguir. 1. Diminuição na contagem de eritrócitos: são situações em que há perda de sangue, aumento na destruição das hemácias ou diminuição na produção de eritrócitos. ■ Anemias hemorrágicas: podem ser causadas por ferimentos ou acidentes ou por perdas leves e persistentes de sangue, como nos sangramentos gastrintestinais. Quando solucionado o problema de base, o organismo consegue restabelecer as contagens normais de eritrócitos e de hemoglobina. ■ Anemias hemolíticas: situações que provocam um rompimento pre- maturo dos eritrócitos. Exemplos são: as hemoglobinopatias, em que uma hemoglobina anormal gera alterações no formato dos eritrócitos e uma destruição precoce das hemácias alteradas pelo baço; as trans- fusões de sangue incompatível, em que as hemácias doadas sofrem hemólise; e algumas infecções bacterianas ou parasitárias, em que os mecanismos de defesa do organismo destroem as células infectadas. ■ Anemia aplástica: ocorre uma destruição da medula óssea que pode ter causa desconhecida ou pode ser causada por alguns fármacos, substâncias químicas, radiação ionizante ou viroses. Na anemia aplástica, a produção de todos os elementos figurados do sangue é prejudicada, e o tratamento se dá por meio de transfusões sanguíneas, até que se possa realizar um transplante de medula óssea (FAILACE; FERNANDES, 2015). Distúrbios hematológicos4 2. Diminuição na hemoglobina: a molécula de hemoglobina produzida é normal, mas sua quantidade é menor. A causa de base costuma ser nutricional. ■ Anemia ferropriva: diminuição na ingestão ou na capacidade de absorção do ferro. A anemia ferropriva costuma ser microcítica (hemácias menores) e hipocrômica (coloração pálida, por diminuição no conteúdo de hemoglobina). O tratamento é com suplementação de ferro, mas podem ser necessárias transfusões nos casos decorrentes de hemorragia crônica. ■ Anemia perniciosa: causada pela deficiência da vitamina B12. Pode ser causada por uma deficiência na dieta, no caso dos vegetarianos estritos, pois a vitamina B12 está presente em produtos de origem animal, como carnes, ovos e leite. Porém, na maioria dos casos, é originada de problemas de absorção. O fator intrínseco, produzido na mucosa gástrica, é o responsável pela absorção da vitamina B12 pelas células da mucosa intestinal. Na maioria das vezes, a anemia perniciosa acontece por uma deficiência na produção de fator intrín- seco. Como a vitamina B12 auxilia o processo de divisão celular, são formadas hemácias que crescem, mas não se dividem, gerando macrócitos (hemácias grandes). O tratamento é feito com a suple- mentação de vitamina B12, que pode ser feita pela via intramuscular quando há problemas de absorção (FAILACE; FERNANDES, 2015). 3. Hemoglobina alterada: algumas doenças genéticas induzem a produção de um tipo alterado de hemoglobina, que se condensa no citoplasma e promove alterações morfológicas nas hemácias, dificulta o transporte de oxigênio para os tecidos e causa a remoção precoce dessas hemácias da circulação pelo baço. ■ Talassemias: comuns em pessoas de origem grega e italiana, as talassemias produzem cadeias globínicas alteradas ou ausentes, pro- vocando uma deficiência de hemoglobina nos eritrócitos. Dependendo do grau da doença, pode ser grave e necessitar de transfusões mensais. ■ Anemia falciforme: ocorre a formação da hemoglobina S, resultante da alteração de um aminoácido na cadeia β. Em baixas tensões de oxigênio, as cadeias β alteradas se unem, formando bastões e dei- xando as hemácias com a forma de foice. Esses eritrócitos rígidos se rompem com facilidade e podem obstruir pequenos vasos, causando episódios muito dolorosos. Sequelas comuns são dores nos ossos e acidente vascular encefálico. O tratamento é feito com hidroxiureia, que aumenta a produção de hemoglobina fetal, que não altera o 5Distúrbios hematológicos formato das hemácias, aliviando os sintomas. Nas crises, podem ser necessárias transfusões e, em alguns casos mais graves, o transplante de medula óssea (FAILACE; FERNANDES, 2015). Além das anemias, a alteração oposta — o aumento na contagem de eritró- citos, denominado eritrocitose ou policitemia — também pode ser observada. O excesso de hemácias promove o aumento da viscosidade sanguínea e dificulta a circulação. Entre as patologias que induzem uma eritrocitose está a policite- mia vera, que é uma neoplasia que gera um aumento expressivo na contagem de eritrócitos, ficando entre 8 a 11 milhões de células/µL. O hematócrito, nesses casos, pode chegar a 80%, dificultando muito a circulação e causando tontura (FAILACE; FERNANDES, 2015). Outras causas de eritrocitose são o aumento na produção de hemácias, como resposta à altitude e à baixa tensão de oxigênio, e também o aumento na produção de eritropoetina pelos rins ou por tumores. O tratamento dessas condições se baseia na remoção de uma porção de sangue e na substituição por solução salina, para diluir o excesso de eritrócitos (FAILACE; FERNANDES, 2015). A eritropoiese (produção de eritrócitos pela medula óssea) é regulada pela glicopro- teína eritropoetina, acompanhada por outras citocinas. A eritropoetina é produzida principalmente pelos rins, tendo como principal estímulo a hipóxia, ou seja, os baixos níveis de oxigênio tecidual. Em situações de hipóxia, é produzido o fator induzível por hipóxia, um fator de transcrição que induz a produção de eritropoetina. O au- mento na síntese de eritrócitos possibilita um maior transporte de oxigênio para os tecidos (SILVERTHORN, 2017). Pacientes com doença renal grave, em especial os que necessitam de hemodiálise, costumam ter diminuição na produção de eritropoetina e, consequentemente, desenvolvem anemia. 2 Distúrbios do plasma O sangue é composto de células suspensas em uma matriz fl uida, denominada plasma. O plasma corresponde a ¼ do líquido extracelular, que é o intermediário entre as células e o meio externo. O volume sanguíneo de um homem de 70 kg corresponde a 7% do seu peso. Considerando-se que 1 kg corresponde ao volume de 1 L, um homem de 70 kg apresenta aproximadamente 5 L de sangue, sendo 2 Distúrbios hematológicos6 L de células e 3 L de plasma (SILVERTHORN, 2017). O principal componente do plasma é a água, correspondendo a 92% do seu volume. Um volume de 7% é composto pelas proteínas plasmáticas, e o 1% restante é correspondente a moléculas orgânicas (aminoácidos, glicose, lipídeos e resíduos nitrogenados), íons, vitaminas, oxigênio, dióxido de carbono e elementos-traço. A composição do plasma é basicamente a mesma do líquido intersticial, porém, contendo as proteínas plasmáticas(Quadro 1). Dentre as proteínas plasmáticas, a com maior concentração é a albumina, correspondendo a 60%. O fibrinogênio e a transferrina também são proteínas em alta concentração, juntos correspondendo a 30%. A maioria das proteínas plasmáticas é produ- zida pelo fígado. Já as imunoglobulinas (anticorpos) que circulam no plasma são produzidas pelas células de defesa. As proteínas plasmáticas permitem a manutenção da pressão osmótica, que atrai a água do líquido intersticial para o interior dos vasos e proporciona a manutenção do volume plasmático e da circulação sanguínea normal, além de evitar a formação de edema intersticial (SILVERTHORN, 2017). Elementos Descrição Água Compõe aproximadamente 90% do plasma; é o solvente para os solutos do plasma; conduz o calor pelo corpo. Solutos Proteínas plasmáticas Correspondem a aproximadamente 8% do plasma; mantêm a pressão osmótica e têm funções específicas, atuando como hormônios, enzimas e proteínas de transporte. Albumina Corresponde a 60% das proteínas; produzida pelo fígado; faz o transporte de substâncias. Globulinas (alfa, beta) Correspondem a 36% das proteínas; produzidas pelo fígado; a maioria são proteínas transportadoras de lipídeos, íons metálicos e vitaminas lipossolúveis. Globulinas (gama) São anticorpos liberados nas respostas imunológicas. Fibrinogênio Corresponde a 4% das proteínas; é produzido pelo fígado; participa da coagulação sanguínea. Quadro 1. Composição do plasma (Continua) 7Distúrbios hematológicos As células atuam ativamente removendo e adicionando substâncias ao plasma. Por esse motivo, existem vários mecanismos homeostáticos para a manutenção da composição plasmática em níveis adequados. Por exemplo, quando há redução na concentração de proteínas plasmáticas, o fígado produz proteínas para a manutenção da pressão osmótica. Outro exemplo é a redução do pH sanguíneo, que ativa o sistema respiratório, aumentando a frequência respiratória para eliminar o CO2 e reequilibrar o pH. Além da função do transporte de substâncias e células pelo organismo, o plasma também é responsável pela distribuição do calor gerado pelo metabolismo celular (SILVERTHORN, 2017). Distúrbios relacionados aos componentes do plasma A seguir, serão apresentadas as principais patologias que alteram a composição do plasma. Fonte: Adaptado de Marieb e Koehn (2008). Elementos Descrição Substâncias nitrogenadas São produtos do metabolismo celular, como ureia, ácido úrico, creatinina e sais de amônia Nutrientes (orgânicos) São absorvidos pelo trato gastrintestinal, como glicose e outros carboidratos simples, aminoácidos, ácidos graxos, glicerol e triglicerídeos, colesterol e vitaminas Eletrólitos Cátions como sódio, potássio, cálcio e magnésio; ânions como fosfato, cloreto, sulfato e bicarbonato; auxiliam na manutenção da pressão osmótica e do pH Gases respiratórios O2 e CO2; o O2 é principalmente ligado à hemoglobina dos eritrócitos, e o CO2 é ligado à hemoglobina ou dissolvido como íon bicarbonato ou CO2 livre Hormônios Hormônios da tireoide e hormônios esteroides transportados ligados a proteínas Quadro 1. Composição do plasma (Continuação) Distúrbios hematológicos8 Patologias hepáticas Como o fígado é o principal produtor dos constituintes do plasma, veremos a seguir como as patologias hepáticas podem infl uenciar gravemente a compo- sição do plasma e a homeostase do organismo (HAMMER; MCPHEE, 2016). Metabolismo dos carboidratos: doenças hepáticas graves podem gerar hipo- glicemia ou hiperglicemia, pois o fígado retira a glicose do sangue e armazena na forma de glicogênio. Metabolismo dos lipídeos: o fígado empacota os lipídeos, agrupando-os com lipoproteínas, para circulação e distribuição aos tecidos. Nas doenças hepáticas, os lipídeos que não conseguem ser empacotados acabam se acumulando no tecido hepático. Metabolismo das proteínas: o fígado também é responsável pela desintoxicação e eliminação dos compostos nitrogenados provenientes do metabolismo das proteí- nas. Quando o fígado não consegue exercer essa função de eliminação de maneira apropriada, a amônia se acumula, causando dano cerebral e encefalopatia hepática. Secreção biliar desordenada: a falha na secreção da bile, presente nas he- patopatias, prejudica a solubilização de lipídeos e vitaminas, causando falhas na sua absorção e carências nutricionais. Destoxifi cação de fármacos: o fígado metaboliza e conjuga os metabólitos de fármacos para a sua segura eliminação. Na função hepática comprometida, baixas doses de medicamentos, que normalmente não são tóxicos, já são capazes de causar altos graus de dano celular. Lipoproteínas e dislipidemias: como comentado anteriormente, o fígado conjuga o colesterol e os ácidos graxos a lipoproteínas, para o seu transporte na circulação. Quando há defi ciência na produção das lipoproteínas, o coles- terol e os ácidos graxos se acumulam na circulação, gerando aterosclerose e doença arterial coronariana. Funções de ligação e armazenamento: o fígado tem a capacidade de arma- zenamento de diversas substâncias, para que sua liberação para a circulação ocorra de forma lenta e regulada, de acordo com as necessidades do organismo. 9Distúrbios hematológicos Quando seu armazenamento fi ca comprometido, ocorrem situações carenciais, como a defi ciência de ácido fólico e vitamina B12, gerando a anemia megalo- blástica, com maturação nuclear anormal nas células precursoras das hemácias. Síntese e secreção das proteínas plasmáticas: a diminuição na produção das proteínas plasmáticas afeta todo o equilíbrio do organismo. Por exemplo, a albumina, que mantém a pressão oncótica e se liga a diversas moléculas lipossolúveis para permitir seu transporte, quando em baixas concentrações, gera edema generalizado para o líquido extracelular. Outras proteínas ex- tremamente relevantes produzidas pelo fígado são os fatores de coagulação e as proteínas ligadoras de hormônios, podendo causar, respectivamente, hemorragias e distúrbios hormonais quando sua produção não é adequada. Depuração de bactérias e endotoxinas: as bactérias intestinais, que auxiliam na digestão, também podem gerar endotoxinas e devem se manter em um número adequado para o equilíbrio do organismo. O fígado é responsável pelo controle da fl ora intestinal e pela eliminação de algumas bactérias e de suas endotoxinas. Com a função hepática prejudicada, essas bactérias podem atingir a corrente sanguínea e causar a sepse, condição possivelmente fatal. Metabolismo da amônia: a redução na eliminação da amônia em forma de ureia, realizada pelo tecido hepático, gera a encefalopatia hepática, com estado mental alterado. A ingestão elevada de proteínas, o sangramento gastrintes- tinal e graves infecções bacterianas podem gerar um excesso de compostos nitrogenados, superando a capacidade do fígado de converter a amônia em ureia e de a eliminar, gerando também um acúmulo de amônia na circulação e suas consequências tóxicas. Depuração de hormônios: o fígado é responsável pela remoção da circu- lação dos hormônios esteroides livres. Na doença hepática, os androgênios circulam livremente em maiores concentrações e são convertidos nos tecidos a estrogênios. Em pacientes do sexo masculino, ocorre uma feminização e a supressão dos hormônios hipofi sários, gerando hipogonadismo. Equilíbrio hidroeletrolítico: a doença hepática induz alterações na pressão sanguínea, pela difi culdade na circulação pelo sistema porta hepático. Isso induz uma difi culdade no funcionamento renal, prejudicando a eliminação do sódio e gerando, consequentemente a retenção de água. Como resultado, aumenta a geração de edema. Distúrbios hematológicos10 Patologias renais Outros órgãos que exercem uma função extremamente relevante para a home- ostase dos constituintes do plasma são os rins. Eles removem da circulação os compostos nitrogenados e mantêm o equilíbrio hidroeletrolítico, dentre outras funções que veremosa seguir, que estão prejudicadas nas nefropatias. Regulação do equilíbrio acidobásico: juntamente com os pulmões, os rins exercem o papel de controlar a manutenção do pH sanguíneo na estreita faixa de 7,35–7,45 (HAMMER; MCPHEE, 2016). O sistema de tamponamento do excesso de ácido ou de base envolve o CO2 e o bicarbonato (H2CO3 –), por meio da seguinte fórmula: H+ + CHO3– ⇌ H2CO3 ⇌ H2O + CO2 Quando ocorre uma queda no pH (aumento na concentração de H+ no sangue), a resposta mais rápida (de segundos a minutos) é proporcionada pelos pulmões, que, devido ao consequente aumento na produção de CO2, aumentam a frequência respiratória para eliminar esse gás. O tamponamento do H+ também exaure as reservas de H2CO3 do organismo; então, a médio e longo prazo (horas a dias), os rins trabalham para eliminar o H+ que está em excesso, resolvendo a origem do problema. O mesmo ocorre na situação inversa, de alcalose, com redução da frequência respiratória e eliminação de H2CO3 – pelos rins. Os pulmões produzem uma ação mais rápida, mas, como somente são capazes de eliminar ácidos voláteis, os rins permitem a eliminação de ácidos não voláteis (fixos). Nas patologias renais graves, essa capacidade de regulação renal fica comprometida, deixando o organismo somente na dependência da resposta respiratória aos desequilíbrios de pH (HAMMER; MCPHEE, 2016). Em uma dieta normal, ocorre a produção de ácidos decorrentes do meta- bolismo das proteínas. Os rins são responsáveis pela eliminação do excesso de ácido pela conjugação do H+ com a amônia (NH3), para formar o íon amô- nio (NH4), que é eliminado na urina. Os rins também reabsorvem o H2CO3, impedindo que ele seja eliminado na urina e mantendo as suas reservas para agir como tampão (HAMMER; MCPHEE, 2016). A acidose metabólica é muito comum e pode ocorrer por um aumento na produção de ácidos que exceda a capacidade de eliminação dos rins, como no caso da insuficiência renal, em que a capacidade de geração de amônio dos rins está diminuída. Outra causa de acidose é quando há um excesso de ingestão de ácidos, como nas intoxicações por metanol ou etilenoglicol. Além 11Distúrbios hematológicos disso, pode haver uma produção excessiva de ácidos pelo metabolismo, como na cetoacidose diabética, e também pode ocorrer um dano renal que leve à perda de H2CO3 na urina, como nas doenças que afetam a reabsorção nos túbulos proximais dos rins (HAMMER; MCPHEE, 2016). Regulação do equilíbrio do potássio: os rins regulam a concentração de potássio (K+), promovendo a sua secreção no túbulo coletor distal simultanea- mente à reabsorção de sódio (Na+) estimulada pela aldosterona. A diminuição na concentração sérica de K+ (hipocalemia) pode ser causada por diarreias ou por perdas renais. O aumento na concentração de Na+ nos túbulos distais levará a um consequente aumento na eliminação de K+ na urina, sendo sua causa mais comum o uso de diuréticos. Outra causa de hipocalemia é o hipe- raldosteronismo gerado por tumores das suprarrenais (HAMMER; MCPHEE, 2016). Já a hipercalcemia (excesso de K+ no sangue) é observada em casos de hemólise (rompimento das hemácias com liberação do K+ intracelular) e na insufi ciência renal, com excreção diminuída de K+. Alguns fármacos também podem difi cultar a excreção de K+ (HAMMER; MCPHEE, 2016). Regulação do metabolismo do Ca2+: os rins efetuam a conversão do precursor hepático da vitamina D na sua forma ativa, que atua aumentando a absorção de Ca2+ nos intestinos. Além disso, é nos rins que age o paratormônio, que induz a reabsorção do Ca2+ em troca da eliminação do fosfato. Por esses motivos, distúrbios na capacidade de reabsorção de Ca2+ e na conversão da vitamina D na sua forma ativa, presentes nas doenças renais graves, podem impactar diretamente o metabolismo do cálcio, infl uenciando em diversas atividades, como a contração muscular, a transmissão de impulsos nervosos e o metabolismo ósseo (HAMMER; MCPHEE, 2016). Outros órgãos e sistemas também estão diretamente envolvidos com a manutenção da homeostase plasmática, como pulmões e o sistema endócrino. Porém, os com um maior impacto são realmente o fígado e os rins. 3 Hipercoagulação e tríade de Virchow O sistema hemostático tem a função de proteger o organismo contra as hemor- ragias. Ele apresenta como agentes os fatores de coagulação plasmáticos, as plaquetas e o endotélio vascular. A interação dos seus componentes permite a formação de um coágulo ou trombo, que terá a função de vedar um vaso rompido e evitar o sangramento. Porém, a formação desse trombo deve ocor- Distúrbios hematológicos12 rer de maneira equilibrada, para evitar que sejam formados muitos trombos e que eles ocluam os vasos, impedindo a circulação (trombose), ou que os trombos se desloquem e atinjam órgãos vitais, ocluindo vasos desses órgãos (êmbolos). Para que esse equilíbrio ocorra, o organismo possui mecanismos de retroalimentação que induzem a coagulação e que encerram o processo de coagulação quando ela já foi sufi ciente, por meio da fi brinólise (que dissolve a rede de fi brina) e do sistema inibitório da coagulação como um todo. Esse equilíbrio é chamado de hemostasia (SILBERNAGL; LANG, 2016). O sistema de coagulação é composto por diversos fatores, incluindo: fator I (fibrinogênio); fator II (protrombina); fator III (tromboplastina tecidual); fator IV (Ca2+); fatores VII-XIII; pré-calicreína (fator Fletcher); cininogênio de alto peso molecular (fator Fitzgerald). Também é composto por fatores inibitórios, como (SILBERNAGL; LANG, 2016): antitrombina III; α2-macroglobulina; α1-antitripsina; proteína Ck; proteína Sk. Com exceção do Ca2+, os demais fatores são proteínas globulares, a maioria sendo produzidas pelo fígado (I, IIk, V, VIIk, IXk, Xk, XIII, cininogênio). A vitamina K é necessária para a síntese dos fatores marcados com a letra k (SILBERNAGL; LANG, 2016). Trombose A trombose venosa profunda e a embolia pulmonar são distúrbios classifi ca- dos como tromboembolismos venosos. O tromboembolismo venoso é uma condição frequente na população. Já a trombose arterial costuma ocorrer em pacientes que apresentam lesões ateroscleróticas, sendo um evento agudo 13Distúrbios hematológicos causado por uma doença crônica e silenciosa (aterosclerose crônica). Esse evento agudo pode ser fatal, gerando infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico e isquemia de extremidades (FOCHESATTO FILHO; BARROS, 2013). A trombose venosa é um processo de coagulação anormal que se desenvolve sem que haja perda sanguínea ou lesão do vaso, podendo causar a oclusão parcial ou total. Essa ativação patogênica da coagulação ocasiona a formação de um trombo de fibrina. Esse trombo pode se desprender e ser transportado pelo sangue, sendo denominado êmbolo, no caso da tromboembolia venosa. Sabe-se que o endotélio vascular expressa substâncias pró-coagulantes e anticoagulantes, impedindo ou desencadeando a coagulação intravascular (MENNA-BARRETO, 2013). Entre os agentes anticoagulantes, estão: trombomodulina e proteína C; sulfato de heparan e sulfato de dermatan, que aceleram a atividade antitrombina; via de inibição do fator tecidual; ativador do plasminogênio tecidual e ativador do plasminogênio tipo uroquinase; óxido nítrico, prostaciclina e interleucina 10, que inibem a adesão leucocitária e a sua ativação e promovem a vasodilatação. Já nos distúrbios endoteliais, há um estado de vasoconstrição, ativando agentes pró-coagulação e pró-inflamatórios. Ao mesmo tempo que o fator de ativação plaquetária e a endotelina-1 induzem a vasoconstrição, o fator de von Willebrand, o fator tecidual e o fator V estimulam a formação do trombo. As células endoteliais ativadas produzem também a P-selectina e a E-selectina, que estimulam a adesão de leucócitos. Todos esses processos iniciam e am- plificam a resposta inflamatória e a trombose, que estão inter-relacionadas (MENNA-BARRETO, 2013).O desequilíbrio entre os mecanismos trombogênicos e anticoagulantes é o fator causal do tromboembolismo. Os estímulos trombogênicos foram propostos por Rudolf Virchow, em 1856, que descreveu o que ficou conhecido como a tríade de Virchow (Figura 2): alterações no fluxo sanguíneo ou estase, lesão do endotélio vascular e alterações nos componentes do sangue, como um estado de hipercoagulabilidade de causa genética ou adquirida (FOCHESATTO FILHO; BARROS, 2013). Distúrbios hematológicos14 Figura 2. Tríade de Virchow apresentando os fatores de risco para a trombose venosa. Fonte: Menna-Barreto (2013, p. 49). Já entre os mecanismos protetores da trombose, estão (FOCHESATTO FILHO; BARROS, 2013): sistema antitrombina-heparan sulfato, proteína C e proteína S, respon- sáveis pela inativação dos fatores de coagulação; macrófagos e células do tecido hepático, que retiram os fatores de coagulação ativados e os polímeros de fibrina da circulação; lise da fibrina pelas enzimas fibrinolíticas. Existem algumas diferenças entre os trombos arteriais e venosos (Quadro 2). As principais diferenças estão na composição de plaquetas, fibrina e leucócitos e nos seus processos de formação (FOCHESATTO FILHO; BARROS, 2013). 15Distúrbios hematológicos Fonte: Adaptado de Fochesatto Filho e Barros (2013). Trombo arterial Trombo venoso Vasculatura local Vasculatura anormal (parede do vaso possui processo inflamatório) Aterosclerose Vasculite Trauma Vasculatura normal (endotélio vascular normal) Patologia do trombo Oclusivo ou não oclusivo (grandes artérias) “Trombo branco”, composição principal: plaquetas e leucócitos Oclusivo “Trombo vermelho”, composição principal: fibrina e hemácias Patogênese Estresse pela pressão de cisalhamento Superfície vascular trombogênica Estase e hipercoagulabilidade Quadro 2. Diferenças entre trombos arteriais e venosos Os principais fatores para a formação de trombose venosa descritos por Virchow são apresentados a seguir (MENNA-BARRETO, 2013). Anormalidades no fl uxo sanguíneo: o conceito de estase venosa descrito por Virchow não deve ser interpretado como uma estagnação (parada no movimento) circulatória, mas, sim, como uma desaceleração do retorno ve- noso. Esse fl uxo mais lento, por si só, já pode induzir a formação do trombo, mesmo sem lesão do endotélio, pois promove uma concentração dos fatores pró-coagulação. Além disso, a dessaturação da hemoglobina dos eritrócitos gera um estado de hipóxia. Ainda, a função prejudicada das valvas venosas, com menor esvaziamento, gera acúmulo de elemento celulares e de fi brina nos seios valvares. Há um aumento da adesão plaquetária pela concentração do fator de von Willebrand. A hipóxia estimula a síntese de fator tecidual pelos monócitos, e há um aumento na expressão de citocinas e outros fatores infl a- matórios. Quando o fl uxo sanguíneo é laminar, as células fl uem pelo centro do vaso. No caso da desaceleração desse movimento, o fl uxo deixa de ser laminar, e as plaquetas entram mais em contato com o endotélio, contribuindo para o Distúrbios hematológicos16 processo de formação do trombo. A diminuição da pulsatilidade do sangue também prejudica o funcionamento das valvas venosas. Dentre os fatores que favorecem a estase venosa estão o repouso prolongado no leito, a imobilização dos membros inferiores, a hipertensão venosa e a insufi ciência cardíaca. Os trombos venosos se dirigem ao coração, sendo menos fi rmemente aderidos ao vaso e mais propensos à formação de êmbolos e à tromboembolia pulmonar. Disfunção endotelial: as células endoteliais prejudicadas podem produzir mais fatores pró-coagulação e menos anticoagulantes naturais. Algumas causas de disfunção endotelial são: hipertensão venosa, alteração no fl uxo sanguíneo, hipoxemia, endotoxinas bacterianas, lesões por radiação, hipercolesterolemia e toxinas presentes no cigarro. É comum observar a formação de trombos em veias ricas em valvas, como as dos membros inferiores. Hipótese isquêmico-hipóxica: de acordo com essa hipótese, a redução ou a parada nos movimentos da bomba muscular dos membros inferiores (contra- ção dos músculos da panturrilha) gera uma circulação não pulsátil nas veias profundas. Como consequência, ocorre uma maior difi culdade na troca de gases entre a luz da veia e os seios das válvulas das veias, gerando hipóxia e ativação do endotélio valvar, induzindo à formação do trombo. Hipercoagulabilidade: é um desequilíbrio entre os agentes pró-coagulantes e anticoagulantes. Pode ser congênita ou adquirida. Exemplos de situações de hipercoagulabilidade congênita são as defi ciências na produção de antitrom- bina, proteína C e proteína S e do fator V de Leiden, assim como a mutação no gene da protrombina. Causas adquiridas: alguns exemplos são a hemoglobinúria paroxística no- turna, as doenças mieloproliferativas, a síndrome de anticorpos antifosfolipí- deos, a necrose induzida pela varfarina (anticoagulante inibidor da síntese dos fatores de coagulação dependentes da vitamina K), a púrpura trombocitopênica trombótica e a síndrome hemolítico-urêmica. Porém, a maioria dos casos de tromboembolismo venoso ocorre em pacientes com coagulação normal, ou seja, sem diagnóstico de trombofi lias ou hipercoagulabilidade. Infl amação: é um fator que infl uencia muito o processo da trombose. O pro- cesso infl amatório pode lesar as válvulas venosas e predispor à formação de trombos. Além disso, o processo infl amatório pode ativar o endotélio e induzir a produção de agentes pró-coagulação. Desse modo, os estados infl amatórios 17Distúrbios hematológicos agudos, as infecções e a sepse, com a circulação de endotoxinas bacterianas, podem induzir estados de hipercoagulabilidade. Na trombose venosa profunda, os exames laboratoriais apresentam aumento nas concentrações de fibrinogênio e fator VIII, na contagem de leucócitos e plaquetas e nos sinais de ativação da coagulação, como os D-dímeros, que são produtos da degradação da fibrina. Outros exames essenciais para o diagnóstico são a ultrassonografia e a venografia. Para confirmação do diagnóstico, pode ser utilizada a cintilografia pulmonar e a angiotomografia (FOCHESATTO FILHO; BARROS, 2013). O tratamento para tromboembolismo venoso, trombose venosa profunda e embolia pulmonar é baseado no uso de anticoagulantes, heparina ou heparina de baixo peso molecular. A longo prazo, pode ser utilizada a varfarina para evitar as recorrências, de acordo com o caso. A vantagem da heparina de baixo peso molecular é que não há necessidade de monitorização laboratorial. Ela é indicada para pacientes que não podem fazer uso de antagonistas da vitamina K, como gestantes e pacientes com câncer. O tratamento com anticoagulan- tes a longo prazo evita recorrências. O indicado é utilizar por pelo menos três meses após o evento, podendo se tornar de uso contínuo, se necessário (FOCHESATTO FILHO; BARROS, 2013). BAIN, B. J. Células sanguíneas: um guia prático. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. FAILACE, R.; FERNANDES, F. Hemograma: manual de interpretação. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. FOCHESATTO FILHO, L.; BARROS, E. (org.). Medicina interna na prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2013. HAMMER, G. D.; MCPHEE, S. J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina clínica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. MENNA-BARRETO, S. S. Tromboembolia pulmonar. Porto Alegre: Artmed, 2013. SILBERNAGL, S.; LANG, F. Fisiopatologia: texto e atlas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Distúrbios hematológicos18 DICA DO PROFESSOR O vídeo apresenta as funções dos componentes sanguíneos e explica alguns distúrbios relacionados. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Os eritrócitospequenos, com baixo volume corpuscular médio, são denominados células microcíticas, enquanto as células maiores do que o normal são denominadas macrocíticas. Indique a anormalidade relacionada à produção de hemoglobina somente nas células microcíticas: A) Doenças de Graves. B) Anemia ferropriva. C) Somente talassemia. D) Anemia perniciosa. E) Gastrite atrófica crônica 2) Sobre as plaquetas, é correto afirmar que: A) As plaquetas são células multinucleadas presentes na medula óssea, denominadas megacariócitos B) As plaquetas não têm participação ativa na coagulação normal do sangue. C) A produção de plaquetas é estimulada por múltiplas citocinas, porém, depende principalmente da ação da trombopoietina. D) A trombopoiese é estimulada por uma alta contagem de plaquetas. E) Fagocitam bactérias com suas lisozimas. 3) Existem distúrbios de coagulação quantitativos e qualitativos. Os distúrbios quantitativos que mais comumente causam hemorragia são a hemofilia A e a hemofilia B. Indique a alternativa correta sobre a hemofilia A: A) Tem relação com a deficiência do fator IX e é transmitida como caráter recessivo ligado ao cromossomo Y B) Tem relação com a deficiência do fator VIII e é transmitida como caráter recessivo ligado ao cromossomo X C) Produz sangramento pós-traumático espontâneo e excessivo, particularmente nas articulações e nos músculos e é transmitida como caráter recessivo ligado ao cromossomo Y D) Tem relação com a deficiência do fator fator XI e é chamada de Síndrome de Rosenthal E) Tem relação com a deficiência de fibrinogênio e é transmitida como caráter recessivo ligado ao cromossomo Y 4) Indique a alternativa que tem relação somente aos distúrbios dos leucócitos: A) Trombocitopenia. B) Hemofilia A. C) Doença de von Willebrand. D) Neutropenia. E) Hipotireoidismo. 5) O tempo de protrombina e o tempo de tromboplastina parcial ativado são analisados para distúrbios relacionados à qual alternativa? A) Eritrócito. B) Linfócito. C) Proteínas plasmáticas. D) Monócito. E) Leucócito. NA PRÁTICA Você sabe o que o Ministério da Saúde no Brasil considera como fatores que impedem a doação de sangue? SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: TVP e Embolia Pulmonar ative a legenda automática Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Risco de Trombose Venosa Profunda Entre Usuárias de Anticoncepcionais Orais Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Biologia Molecular da Célula Fundamentos em Hematologia de Hoffbrand Anatomia e Fisiologia Casos Clínicos em Medicina Interna [Série Lange - Casos Clínicos] Fisiologia Humana - Uma Abordagem Integrada
Compartilhar