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Relações étnico-raciais, ensino de História e Culturas Afro-brasileira, Africana e Indígena APRESENTAÇÃO O Brasil é um país fortemente marcado pela diversidade étnico-racial decorrente da presença das matrizes indígena, europeia e africana ao longo da história. As Leis Federais ns. 10.639/2003 e 11.645/2008 constituem marcos na legislação brasileira e afirmam justamente a necessidade de se pensar uma educação que reconheça e valorize as diferentes visões de mundo, as experiências históricas e a contribuição dos diferentes povos na formação cultural da sociedade brasileira. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre a importância das matrizes indígena, europeia e africana na formação histórica e cultural do Brasil, além de conhecer as Leis ns. 10.639/2003 e 11.645/2008 e compreender de que forma o ensino de História pode se configurar numa importante via para a concretização da cidadania e do respeito às diferenças. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância das matrizes indígena, europeia e africana na formação histórica e cultural do Brasil. • Analisar o histórico das Leis ns. 10.639/2003 e 11.645/2008.• Identificar as possibilidades de trabalho acerca das culturas afro-brasileira, africana e indígena por meio do ensino de História. • DESAFIO Passados mais de 10 anos desde a criação da Lei nº 10.639/2003, o que se percebe na prática escolar, ainda, é o despreparo para trabalhar com as temáticas afro-brasileiras em sala de aula, juntamente com o desconhecimento, por parte dos professores, de uma historiografia que reconheça os negros em seu papel de protagonismo ou, então, a manutenção de materiais didáticos que os deixem à margem da História do Brasil. Em meados dos anos 1970, por exemplo, ocorreu no Brasil um fenômeno da juventude escolarizada pelo regime militar, dos jovens negros motivados pelos Direitos Civis conquistados nos Estados Unidos com o Movimento Black Power, as guerrilhas na África e o surgimento de novos países africanos de língua portuguesa. Esses jovens negros brasileiros empreenderam um esforço de apropriação das questões políticas e sociais dos negros norte-americanos e em diálogo com uma África – imaginada –, assim, diante do fracasso do projeto integrador dos anos 1960, organizaram-se em grupos que promoviam os Bailes Black. Artistas como Tony Tornado, Wilson Simonal e King Combo destacaram-se com suas performances musicais revestidas de cunho político, no que viria depois a ser conhecido como o Movimento Black Rio, conforme você pode ver no vídeo a seguir: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Você, professor de uma escola pública de Ensino Fundamental, sabe que a História do Brasil é marcada por diversos recortes historiográficos como esse, mas que, no entanto, continuam desconhecidos no contexto escolar e na sociedade. Além disso, o livro didático disponibilizado em sua escola não traz contextualizações para além daquelas do período colonial brasileiro. Dessa forma, escreva um texto, amparado pelo que é previsto na Lei nº 10.639/2003, que explique os seguintes pontos: 1. Como professor, qual o seu papel diante das histórias como a do Movimento Black Rio, abordada no vídeo? 2. Qual o seu papel junto ao corpo docente e à comunidade escolar? 3. Como desenvolver aulas que problematizem essa ausência historiográfica do livro didático? INFOGRÁFICO Com a Lei nº 10.639/2003, que posteriormente foi alterada para Lei nº 11.645/2008, pela primeira vez na história do ensino de História, Arte e Literatura, temáticas dedicadas aos africanos e aos afro-brasileiros perpassariam, ao menos oficialmente, para além da passividade e da escravidão, na medida em que foram enfatizados o ensino e a aprendizagem da “luta” do povo africano e de seus descendentes e suas contribuições para a formação social, política, cultural e econômica do Brasil. No Infográfico a seguir, clicando em cada um dos anos, é possível ver os eventos que contribuíram para a criação das Leis Federais ns. 10.639/2003 e 11.645/2008. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO O Brasil é um país marcado pela diversidade, a começar pelas suas características naturais, ou seja, a pluralidade dos povos que formam a sua população e a heterogeneidade dos aspectos históricos e culturais que formam o mosaico da sociedade brasileira. Em outros termos, pode-se dizer que a formação do povo brasileiro é decorrente da presença e das relações entre povos indígenas, africanos e imigrantes europeus. Para saber mais, acompanhe a leitura do capítulo Relações étnico-raciais, ensino de História e Culturas Afro-brasileira, Africana e Indígena, da obra Estudos culturais e antropológicos, que serve como base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. ESTUDOS CULTURAIS ANTROPOLÓGICOS Guilherme Marin Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância das matrizes indígena, europeia e africana na formação histórica e cultural do Brasil. Desenvolver uma abordagem sobre o histórico das Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008. Abordar as possibilidades de trabalho acerca da cultura afro-brasileira, africana e indígena através do ensino de história. Introdução O Brasil é um país fortemente marcado pela diversidade étnico-racial de- corrente da presença das matrizes indígena, europeia e africana ao longo da história. As Leis Federais nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 constituem marcos na legislação brasileira e afirmam justamente a necessidade de se pensar uma educação que reconheça e valorize as diferentes visões de mundo, as experiências históricas e a contribuição dos diferentes povos na formação cultural de nossa sociedade. Ao educador cabe conhecer os debates existente em torno de tais legislações e pensar um ensino que vise promover a igualdade no exercício da cidadania e, sobretudo, o respeito às diferenças. Concebemos que o ensino de história pode se configurar em importante via para a concretização das temáticas em pauta, conforme você vai ver ao longo deste texto. Relacoes_Etnico-raciais.indd 1 22/09/2017 14:27:01 A importância das matrizes indígena, europeia e africana na formação histórica e cultural do Brasil O Brasil é um país marcado pela diversidade, a começar pelas suas carac- terísticas naturais, a pluralidade dos povos que formam a sua população e a heterogeneidade dos aspectos históricos e culturais que formam o mosaico da sociedade brasileira. Em outros termos, podemos dizer que a formação do povo brasileiro é decorrente da presença e das relações entre povos indígenas, africanos e imigrantes europeus (TRENNEPOHL, 2014). Para acompanhar esse processo de formação, partiremos do aspecto retrospectivo, tecendo uma breve caracterização das diversas etnias que contribuíram para a constituição do povo brasileira, porém, sempre tendo em vista que nesse caminho não houve nada de pacífi co, pois os diversos grupos sociais se relacionaram de maneiras diferenciadas. A costa atlântica, ao longo de milênios, foi percorrida e ocupada por inume- ráveis povos indígenas que disputavam os melhores lugares para se alojarem. Nos últimos séculos, porém, os índios de fala tupi, bons guerreiros, instalaram- -se ao longo de toda a costa atlântica pelo Amazonas acima, subindo pelos rios principais, como o Paraguai, o Guaporé e o Tapajós até suas nascentes. Configuraram, desse modo, a ilha Brasil, prefigurando o que viria a ser o nosso país (RIBEIRO, 1995). O legado indígena começou com a inspiração para a construção das pri- meiras casas portuguesas, seguindo com a rede para dormir, o banho de rio, o uso da mandioca na alimentação, cestos de fibras de vegetais e um numerosovocabulário nativo, principalmente tupi, associado às coisas da terra: no nome dos lugares, nos vegetais e na fauna (FRANTZ; TRENNEPOHL, 2014). Mas as contribuições indígenas não param por aí. A primeira contribuição dos povos indígenas teve início logo após a chegada dos portugueses, uma vez que os índios, pacificados e dominados, ensinaram-lhes as primeiras formas de sobrevivência na selva, como lidar com várias situações perigosas nas matas e como orientar-se nas diversas expedições realizadas (SURUÍ, 2017). Nas expedições empreendidas pelos desbravadores e colonizadores portu- gueses, os indígenas fizeram-se presentes como guias e serviçais, conforme atestam vários registros documentais da época. Ao longo de toda a história da colonização brasileira, os povos indígenas estiveram ora como aliados na expulsão de outros invasores estrangeiros, ora como mão de obra nas frentes de expansão agrícola ou extrativista (SURUÍ, 2017). Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena2 Relacoes_Etnico-raciais.indd 2 22/09/2017 14:27:01 Além disso, os índios, através de sua forte ligação com a floresta, descobri- ram nela uma variedade de alimentos, como a mandioca (e suas variações como a farinha, o pirão, a tapioca, o beiju e o mingau), o caju e o guaraná, utilizados até hoje em nossa alimentação. Esse conhecimento das populações indígenas em relação às espécies nativas é fruto de milhares de anos de conhecimento da floresta. Neste âmbito, eles experimentaram o cultivo de centenas de espécies como o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o tomate, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o abacaxi, o mamão, a erva-mate e o guaraná (PROGRAMA DE DOCUMENTAÇÃO DE LÍNGUAS E CULTURAS INDÍGENAS, 2012). Outro benefício que faz parte da herança indígena diz respeito às florestas, plantas e ervas medicinais. O conhecimento da flora e das propriedades das plantas os fez utilizá-las nos tratamentos de doenças. Por exemplo, a alfavaca, que tem função antigripal, diurética e hipotensora, ou o boldo, que é digestivo, antitóxico, combate a prisão de ventre e que pode ser usado também nas febres intermitentes, são descobertas dos índios ainda utilizadas por muitas pessoas no cotidiano (PROGRAMA DE DOCUMENTAÇÃO DE LÍNGUAS E CULTURAS INDÍGENAS, 2012). Os portugueses, provenientes da Península Ibérica (na Europa), possuíam no rol de suas experiências culturais o contato com povos fenícios, gregos, romanos, judeus, árabes, visigodos, mouros, celtas e africanos. É deles o idioma português, principal veículo da cultura brasileira e, por extensão, da cultura greco-romana, marco da civilização ocidental. Deles provém a religião católica, com seus anjos e santos, depois simbioticamente unidos a entidades de religiões africanas (FRANTZ; TRENNEPOHL, 2014). Em termos culturais, podemos elencar várias contribuições lusitanas à formação cultural brasileira. No que se refere ao calendário, pode-se dizer que as duas festas mais difundidas no Brasil, o carnaval e as festas juninas, só chegaram aqui por intermédio dos portugueses. Chamada inicialmente de ‘joanina’ por homenagear São João, as festas dos santos populares, como são conhecidas em Portugal, acabaram virando festa junina, incorporada aos costumes locais brasileiros. Outros exemplos de festas populares que tem o pé em Portugal são a Festa do Divino, a Farra do Boi e a Folia de Reis (MUNDO LUSÍADA, 2016). Além das festas populares, o folclore brasileiro também sofreu grande influência do folclore lusitano, incorporando uma série de criaturas e seres mágicos que faziam parte do imaginário do povo português, tais como o bicho-papão, a cuca e o lobisomem. Diversas danças brasileiras também vieram de Portugal. Destaque para o maracatu, o fandango e a caninha-verde. Ritmo musical tradicional do Nordeste, especialmente nas cidades de Olinda e 3Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena Relacoes_Etnico-raciais.indd 3 22/09/2017 14:27:01 Recife, no estado de Pernambuco, acredita-se que o maracatu tenha chegado ao Brasil pela mão dos portugueses por volta de 1700. Já o fandango, dança em pares que tem raiz no Barroco, adentrou no país cerca de meia década depois e permanece popular até hoje no Sul. Outra modalidade de dança de pares, a caninha-verde é ainda mais antiga, tendo sido introduzida durante o Ciclo da Cana-de-Açúcar em regiões canavieiras por todo o país. Atualmente é considerada típica do Ceará (MUNDO LUSÍADA, 2016). Outra grande herança portuguesa para a cultura brasileira são as cantigas de roda, que eram bastante comuns em Portugal na época do descobrimento. Músicas clássicas como Escravos de Jó, Sapo Cururu e Roda Pião, além das populares Atirei o Pau no Gato e Ciranda-Cirandinha, são todas de origem lusi- tana. Muitos dos pratos hoje considerados típicos da gastronomia brasileira são nada menos que resultado de adaptações da culinária portuguesa às condições do Brasil Colônia. Alguns exemplos são a feijoada, o quindim, o caldo verde, a cachaça e, claro, a bacalhoada. Do mesmo modo, várias frutas, legumes e verduras naturais de Portugal foram trazidos para serem plantados em terras brasileiras e, com isso passaram a ser introduzidos nas comidas daqui, como jaca, fruta-do-conde, coco, manga, couve, pepino, alface, cebola e alho, entre vários outros, além dos condimentos e ervas (MUNDO LUSÍADA, 2016). A influência africana no processo da formação da sociedade brasileira começou a ser delineada pelo tráfico negreiro, com o qual milhões de africanos deixaram, forçadamente, o continente africano e despontaram no Brasil para exercer o trabalho escravo (FERREIRA, 2013). Para garantir o controle sobre eles, separaram-nos, dificultando a comunicação e a fuga. Mesmo assim, tornaram-se a principal força de trabalho no Brasil, contribuindo para o desen- volvimento da economia brasileira durante os primeiros séculos (FRANTZ; TRENNEPOHL, 2014). O escravo africano era um elemento de suma importância no campo eco- nômico do período colonial, sendo considerado “[...] as mãos e os pés dos senhores de engenho porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente [...]” (ANTONIL, 1982, p. 89 apud FERREIRA, 2013). Em outros termos, para os portugueses, a escravidão era necessária para a execução de seu projeto de desenvolvimento. Contudo, a contribuição africana no período colonial foi muito além do campo econômico, uma vez que os escravos souberam reviver suas culturas de origem e recriaram novas práticas culturais através do contato com outras Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena4 Relacoes_Etnico-raciais.indd 4 22/09/2017 14:27:01 culturas. Além da prática cultural diferenciada ressaltada, os africanos, ainda, incorporaram algumas práticas europeias e indígenas, além de influenciá-los culturalmente. O intercâmbio cultural entre os elementos citados contribuiu para uma formação cultural afro-brasileira híbrida e bastante peculiar (FER- REIRA, 2013). É válido destacar que os africanos não constituíam um grupo homogêneo entre si. Apesar da origem diversa dos escravos africanos, dois grupos se desta- caram no Brasil: os bantos e os sudaneses. Os bantos foram assim classificados devido à relativa unidade linguística dos africanos oriundos de Angola, Congo e Moçambique. No Brasil, bantos e sudaneses se misturaram, resultando em cruzamentos biológicos, culturais e religiosos (FERREIRA, 2013). Segundo Paiva (2001, p. 36): Misturavam-se informações, assim como etnias, tradições e práticas culturais. Novas cores eram forjadas pela sociedade colonial e por ela apropriadas para designar grupos diferentes de pessoas, para indicar hierarquização das relações sociais, para impor a diferença dentro de um mundo cada vez mais mestiço. Da cor da pele à dos panos que a escondia ou a valorizava até a pluralidademulticor das ruas coloniais, reflexo de conhecimentos migrantes, aplicados à matéria vegetal, mineral, animal e cultural. Assim, é possível perceber que as relações culturais estabelecidas entre os povos africanos propiciaram a construção de uma identidade cultural bra- sileira ou uma cultura afro-brasileira (FERREIRA, 2013), uma vez que eles não tiveram medo de “inventar códigos de comportamentos e de recriarem práticas de sociabilidade e culturais” (PAIVA, 2001). Assim, este cruzamento foi resultado de um longo processo que propiciou uma riqueza cultural peculiar ao Brasil (Figuras 1 e 2). Por fim, é válido considerar que as três matrizes étnicas aqui analisadas são partes constitutivas da formação histórica e cultural brasileira. Cada um, à sua maneira, exerceu contribuições significativas para a constituição do mosaico cultural de nosso território e, como pudemos observar, não de forma homogênea ou pacífica, mas sim fortemente heterogênea e também repleta de contradições. Eis aqui uma pequena parte da origem do Brasil que conhecemos e ao qual pertencemos. 5Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena Relacoes_Etnico-raciais.indd 5 22/09/2017 14:27:01 Figura 1. Jogo de Capoeira: mescla de movimentos de artes marciais e musicalidade, de origem africana, praticado no Brasil desde o século XVI. Em novembro de 2014, recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO. Fonte: Will Rodrigues/Shutterstock.com Figura 2. A forte presença indígena na cultura brasileira. Fonte: Filipe Frazao/Shutterstock.com Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena6 Relacoes_Etnico-raciais.indd 6 22/09/2017 14:27:02 Roda de Capoeira: Patrimônio da Humanidade Uma das manifestações culturais mais conhecida no Brasil e reconhecida no mundo, a Roda de Capoeira recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O título foi concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Após votação durante a 9ª sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, a Roda de Capoeira ganhou oficialmente o título. Originada no século XVII, em pleno período escravista, a capoeira desenvolveu-se como forma de sociabilidade e solidariedade entre os africanos escravizados, estratégia para lidarem com o controle e a violência. Hoje, é um dos maiores símbolos da iden- tidade brasileira e está presente em todo território nacional, além de ter praticantes em mais de 160 países, em todos os continentes. A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira tiveram o reconhecimento do IPHAN como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2008 e estão inscritos, respectivamente, no Livro de Registro das Formas de Expressão e no Livro de Registro dos Saberes. O Patrimônio Cultural Imaterial abrange expressões de vida e tradições de toda parte do mundo que ancestrais passam para seus descendentes. Segundo a UNESCO, embora procure manter uma identidade e continuidade, esse patrimônio é vulnerável porque muda constantemente. Por isso, a comunidade internacional adotou a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial em 2003. O documento legal define o que é Patrimônio Cultural Imaterial, além de definir também o comitê e os métodos de trabalho dele (Portal Brasil, 2014). Uma abordagem sobre o histórico das leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 Em 2003, concretizou-se uma antiga reivindicação dos movimentos negros com a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana nas instituições públicas e privadas do Brasil, a partir da promulgação da Lei Federal 10.639/2003. [...] Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade 7Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena Relacoes_Etnico-raciais.indd 7 22/09/2017 14:27:02 nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2 Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira [...] (BRASIL, 2003). Com a Lei, que posteriormente foi alterada para Lei nº 11.645/2008, pela primeira vez na história do ensino de História, Arte e Literatura temáticas dedicadas aos africanos e afro-brasileiros perpassariam, ao menos oficialmente, para além da passividade e da escravidão, na medida em que fora enfatizado o ensino e aprendizagem da “luta” do povo africano e de seus descendentes e suas contribuições para a formação social, política, cultural e econômica do Brasil (MURINELLI, 2012). A década de 1980 é demarcada como sendo de grande luta de movimentos em favor da causa afrodescendente e do combate à desigualdade racial e aos preconceitos. Na década seguinte, as temáticas ligadas às questões étnico- -raciais passaram a ter mais importância dentro dos debates políticos. É somente nessa década, por exemplo, que a mídia, a sociedade, o governo da União e as instituições escolares se voltaram, de fato, para essas questões e passaram a discuti-las de modo mais apropriado e profundo. Nesse mesmo período histórico, outras políticas públicas especificamente voltadas para a população afrodescendente foram criadas, como, por exemplo, a instauração do Movimento Pré-Vestibular para Negros e Carentes (PVNC), inicialmente no Estado do Rio de Janeiro, com a intenção de promover a entrada nos alunos negros nas universidades públicas. A Marcha Zumbi dos Palmares, no ano de 1995, também contribuiu para que o Estado brasileiro voltasse seus olhos para as lutas anti-racistas, forçando, a partir de então, o reconhecimento público da existência do racismo no Brasil e incentivando, assim, uma ação mais diretiva no sentido de se discutir o problema e realizar algumas medidas de combate ao racismo. No ano de 1996, o Governo da União lançou o Programa Nacional de Direitos Humanos, isto é, um documento que estabelece um conjunto de metas para promover os Direitos Humanos, de modo geral, e a luta contra a discriminação racial de modo específico. No conjunto dessas proposições, encontravam-se ações afirmativas para negros e outras propostas de políticas públicas, voltadas para a superação da discriminação racial e exclusão social que impediam muitos brasileiros de se tornarem cidadãos. Foi a partir do contexto constitucional que o deputado Paulo Paim apre- sentou à Câmara Federal a proposição de lei que seria o princípio da Lei nº Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena8 Relacoes_Etnico-raciais.indd 8 22/09/2017 14:27:02 10.639/2003, muito embora tal projeto tenha sido arquivado em 1995. Todavia, uma das grandes conquistas foi a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – 9.394/1996 e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). De acordo com essas leis, vemos o tema Pluralidade Cultural, em que se enfatiza a necessidade de trabalho e compreensão das diversas culturas que formam a sociedade brasileira, defendendo a tolerância e a diversidade étnica e cultural. Na década de 2000, presenciou-se uma intensificação dos debates acerca da questão étnico-racial no Brasil. O ponto culminante se deu com o envol- vimento do Estado e, por conseguinte, com a participação do Brasil na “III Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerância Correlata”, organizada pela ONU e realizada em Durban, naÁfrica do Sul, no ano de 2001 (MURINELLI, 2012). Conforme aponta Marques (2014), a Conferência de Durban fortaleceu as entidades do Movimento Social Negro, demonstrando a necessidade de se implantar, no Brasil, ações afirmativas e políticas de combate ao racismo e às desigualdades étnico-raciais. Ainda segundo a autora, apesar de ser possível identificar avanços significativos para a população negra, especialmente garan- tidos por meio de legislações advindas do governo Fernando Henrique Cardoso e fortalecidos nos mandatos de Luis Inácio Lula da Silva, a desigualdade entre negros e brancos ainda permanece. A ideologia etnocêntrica é hegemônica e ainda dita muitos dos princípios e regras da educação brasileira. Em suma, convém destacar que a Lei nº 10.639/2003 é fruto do Projeto de Lei nº 259/99, proposto na Câmara dos Deputados pelo então Deputado Federal pelo PT/MS Eurídio Benhur Ferreira, ativista do Movimento Negro de Campo Grande (Grupo TEZ Trabalho - Estudos Zumbi), e pela Deputada Federal Ester Grossi (PT/RS). Com a aprovação daquela Casa de Leis, foi enviado ao Senado da República no dia 05 de abril de 2003 e, no dia 09 de maio de 2003, sancionado (MARQUES, 2014). Segundo Marques (2014, p. 558): A referida lei representou um avanço significativo no campo do cur- rículo e, consequentemente, no trabalho docente, na medida em que disciplina a educação das relações étnico-raciais, quando entende que é imprescindível que as práticas escolares reflitam sobre o etnocentrismo e enfrentem o racismo, o preconceito e a discriminação racial, por muito tempo marginalizados no contexto das escolas do Brasil. 9Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena Relacoes_Etnico-raciais.indd 9 22/09/2017 14:27:02 Em 2008, após pressões dos movimentos indígenas e indigenistas no Brasil, obteve-se a aprovação da Lei nº 11.645/2008, na qual as mesmas orientações com relação às temáticas afro-brasileiras e africanas foram destinadas às temáticas indígenas. Desse modo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394/96), no que diz respeito à diversidade cultural brasileira, em seu Artigo 26-A, passou a ter a seguinte redação: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1º. O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2º. Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o cur- rículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileira. (BRASIL, 2008). Freitas (2010) tece uma importante consideração: a inclusão da experiência indígena no ensino de história é um direito dos indígenas e também dos não indígenas. Como entender essa generalização? A resposta, conforme o autor, está no cultivo da necessária ideia de diversidade: nossos filhos têm o direito de saber que não estão sozinhos no mundo e que a escola, a TV, os livros, a feira, o futebol e a cidade não foram inventados, apenas, para o seu próprio usufruto e o do seu grupo de amigos e vizinhos. Nossos alunos têm o direito de saber que os seus modos e os modos de viver (pensar, agir e sentir) dos seus pais não são os únicos possíveis, os principais ou os mais adequados a serem reproduzidos dentro de uma mesma escola. Em suma, nossos filhos e alunos têm o direito de saber que as pessoas são diferentes. Eles precisam saber que o mundo é plural e a cultura é diversa. Que essa diversidade deve ser conhecida, respeitada e valorizada. E mais, eles precisam saber que a diferença e a diversidade são benéficas para a convivência das pessoas, a manutenção da democracia e a sobrevivência de nossa espécie (FREITAS, 2010). Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena10 Relacoes_Etnico-raciais.indd 10 22/09/2017 14:27:02 As possibilidades de trabalho acerca da cultura afro-brasileira, africana e indígena através do ensino de história Após as refl exões aqui tecidas em torno das relações étnico-raciais e as leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, destinaremos esta parte fi nal do texto a elencar algumas possibilidades de trabalho e abordagens acerca da cultura afro- -brasileira, africana e indígena a partir do ensino de história. Compreende-se que uma abordagem por meio da História abre perspectivas para pensar as temáticas em outras áreas do conhecimento. Assim, diante da relevância e do dever de ensinar a cultura e a história africana, afro-brasileira e indígena, é necessário perguntar: Quais são os temas e conteúdo a serem abordados? Quais aspectos da cultura em questão devem ser considerados? Quais metodologias e recursos serão necessários para trabalhar as temáticas selecionadas? Conceição (2010) comenta que, com relação aos temas e conteúdos, é importante fugir dos estereótipos que demarcam as culturas africana e indí- gena como sendo algo exótico. É preciso selecionar temas e conteúdos que apresentem a valorização das lutas dos negros no Brasil (e no mundo), seus diferentes modos de vida, sua cultura, formas de sobrevivência, contribuições para a política e para a economia. Através do ensino de história, perpassando outras disciplinas, é importante destacar a formação dos Quilombos e das comunidades quilombolas no passado e na atualidade. As diferentes formas de resistência dos negros no Brasil e o modo como se constituíram, por exemplo, os movimentos sociais negros e indígenas na atualidade. Observe nos tópicos abaixo outras possibilidades de trabalhos, abordagens e significados, conforme listadas por Conceição (2010): Candomblé (significado para os afro-brasileiros): praticado no Brasil, desde o século XVIII, essa expressão religiosa é caracterizada pelo culto aos orixás através de um rico ritual de trocas simbólicas no qual nenhuma entidade, bichos, plantas, minerais, homens (vivos e mortos) é excluída da busca da força vital ou axé. Como exemplo de preservação da tradição de matriz africana, o Candomblé vem sendo ressignificado para os dias de hoje. Como já foi visto socialmente? Prática de feitiçaria, animismo; motivo de perseguição pela Igreja Católica através do Santo Ofício. 11Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena Relacoes_Etnico-raciais.indd 11 22/09/2017 14:27:02 Brincadeiras de negro: folguedos, danças e batuques (significado para os afro-brasileiros): estratégia disfarçada dos negros para reviver seus ritos, cultuar seus deuses e retomar a linha do relacionamento comu- nitário. Como já foram vistas socialmente? Inicialmente aconselhadas pelos colonizadores como estratégia de controle dos negros escravos, passou a ser proibida nos textos legais do Império a partir de 1814. Capoeira (Significado para os afro-brasileiros): manifestação de ma- triz africana reelaborada no Brasil a partir do repertório de vivências dos africanos e seus descendentes; desde o século XIX faz parte das tradições afro-brasileiras. Congrega elementos da ancestralidade afri- cana e da historicidade dos contextos sociais. Mistura de luta, jogo, mandinga, musicalidade e corporalidade, expressa um profundo diálogo com a identidade afro-brasileira. Como já foi vista socialmente? Pelo Decreto nº 847/1890 do Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil foi considerada contravenção penal e somentenos anos 1930 sai oficialmente da ilegalidade. Perceba que tais temáticas, embora possam ser privilegiadas no ensino de história, podem perpassar outras áreas do saber, e tudo dependerá da cria- tividade do professor ou do orientador da atividade. Essas são algumas das temáticas possíveis de serem trabalhadas. O importante é sempre buscar fugir dos estereótipos e mostrar que tais práticas e manifestações são elementos fundamentais para a compreensão de nossa própria sociedade. No que se refere especificamente às temáticas indígenas, listamos a seguir algumas possibilidades a partir das reflexões de Silva (2012): Considerar sempre a atualidade dos povos indígenas. Ou seja, por meio de usos de mapas para localização dos povos indígenas atuais, desvincular a ideia de passado colonial em que todos os índios supos- tamente foram exterminados. O Censo do IBGE/2010 contabilizou a população indígena no Brasil em cerca de 900 mil indivíduos – os que se autodeclaram índios. Dar ênfase nas sociodiversidades indígenas, desmistificando ima- gens genéricas do “índio”, da chamada “cultura indígena”. É preciso discutir as diferentes expressões socioculturais indígenas no passado e no presente, questionando a clássica dicotomia ‘Tupi’ versus ‘Tapuia’. Sugere-se, por exemplo, utilizar fotografias para demonstrar as socio- diversidades dos povos indígenas no Brasil. Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena12 Relacoes_Etnico-raciais.indd 12 22/09/2017 14:27:03 Evidenciar a participação efetiva dos povos indígenas nos diversos momentos históricos ao longo da história do Brasil, desnaturalizando a ideia equivocada da presença do “índio” apenas na época do ‘Descobri- mento’ ou somente na “formação do Brasil”. Ou seja, problematizando o lugar pensado e o ocupado pelos povos indígenas na história do país. Silva (2012) enfatiza que é interessante, ainda, promover momentos de intercâmbio entre os povos indígenas e os estudantes durante o calendário letivo, por meio de visitas previamente preparadas do alunado às aldeias, bem como de indígenas às escolas. Essa ação deve ser desenvolvida, sobretudo, nos municípios onde atualmente habitam povos indígenas, como forma de buscar a superação dos preconceitos e as discriminações. “O povo brasileiro” é um documentário elaborado a partir da obra homônima de Darcy Ribeiro (1995). Em “O Povo Brasileiro”, o antropólogo Darcy Ribeiro nos conduz pelos caminhos da nossa formação como povo e nação. Afinal, quem são os brasileiros? Que matrizes nos alimentaram? Que traços nos distinguem? A série é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro em linguagem televisiva. Os programas, de 26 minutos cada, discutem a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou. Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro, depoimentos de Antonio Cândido, Luis Melodia e Antonio Risério, entre outros, e a participação especial de Chico Buarque e Tom Zé, o documentário propicia um debate sobre nossas origens, nossos percursos históricos, nossos temas e problemas e também nossas perspectivas de futuro. Em 1995, lendo os primeiros capítulos dos originais de “O Povo Brasileiro”, Isa Grinspum Ferraz sugeriu a Darcy Ribeiro (1922-1997), com quem colaborou por 13 anos, que contasse aquela história para mais gente, em programas de televisão. Apesar de já muito doente, Darcy aceitou a provocação e, por quatro dias, tornou-se ator de um grande depoimento sobre a formação cultural d’O Povo Brasileiro. Os capítulos do documentário estão divididos nas seguintes temáticas: Matriz Tupi; Matriz Lusa; Matriz Afro; Encontros e Desencontros; Crioulo; Brasil Sertanejo; Brasil Caipira; Brasil Sulino; Brasil Caboclo; Invenção do Brasil; O povo Brasileiro. Direção: Isa Grinspum Ferraz (2000). Acesse o link ou o código a seguir. https://goo.gl/F6uImN 13Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena Relacoes_Etnico-raciais.indd 13 22/09/2017 14:27:03 Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena14 Relacoes_Etnico-raciais.indd 14 22/09/2017 14:27:04 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Presidência da República, 1996. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 10 set. 2017. BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm>. Acesso em: 10 set. 2017. BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília: Presidência da República, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 10 set. 2017. CONCEIÇÃO, M. T. O trabalho em sala de aula com a história e a cultura afro-brasileira no ensino de história. In: OLIVEIRA, M. M. D. (Org.). História: ensino fundamental. Brasília: MEC, 2010. FERREIRA, M. C. C. A influência africana no processo de formação da cultura afro-brasileira. A Cor da Cultura, 29 mar. 2013. 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São Paulo: EDUSP, 2006. FREYRE, G. Casa grande & senzala. São Paulo: Global, 2006. HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. MATTA, R. O que faz do Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986. Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena16 Relacoes_Etnico-raciais.indd 18 22/09/2017 14:27:04 DICA DO PROFESSOR As matrizes étnicas do indígena, do branco europeu e do negro africano são partes constitutivas da formação histórica e cultural brasileira. Cada um, à sua maneira, exerceu contribuições significativas para a constituição do mosaico cultural de nosso território, não de forma homogênea ou pacífica, mas, sim, de forma fortemente heterogênea e também repleta de contradições. Porém, você sabe o que etnia e diversidade cultural significam? Acompanhe no vídeo a seguir! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Em 2003, uma antiga reivindicação dos movimentos negros se concretizou com a obrigatoriedade do ensino de história e culturas afro-brasileira e africana nas instituições de ensino públicas e privadas de todo o país, a partir da promulgação da Lei Federal no 10.639/2003. É possível afirmar que essa Lei: A) Propõe a obrigatoriedade do ensino da cultura africana nos estabelecimentos de Ensinos Fundamental e Médio da rede pública de ensino. Nos demais estabelecimentos, como os privados, a lei permanece de maneira opcional. B) Institui a obrigatoriedade da história e do ensino das culturas africana e afro-brasileira em todos os estabelecimentos de ensino, públicos e privados, no intuito de mostrar as diferentes experiências de tais povos que participaram (e participam) da formação de nossa sociedade. C) Institui a obrigatoriedade do ensino da história e das culturas africana e afro-brasileira especificamente para a disciplina de História, uma vez que os temas perpassam exclusivamente tal disciplina. Institui a obrigatoriedade do ensino da história e das culturas africana e afro-brasileira D) apenas na disciplina de Artes, por entender que somente ela propicia uma abertura para o trabalho nessa perspectiva. E) Institui, de maneira opcional, o ensino da história e das culturas africana e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino. 2) Tanto a Lei no 10.639/2003 quanto a Lei no 11.645/2008 (na sua atualização, na qual as mesmas orientações foram destinadas às temáticas indígenas) podem ser consideradas políticas públicas educacionais de ação afirmativa por terem a seguinte finalidade: A) Promover a reparação, o reconhecimento e a valorização de diferentes grupos que foram subjugados por meio, dentre outras medidas, da discriminação, da exclusão ou da marginalização da história desses povos. B) Promover, exclusivamente, a reparação desses grupos que foram discriminados historicamente na sociedade brasileira. As políticas afirmativas educacionais servem apenas para garantir o ensino da cultura e da história desses povos nas escolas. C) Promover apenas o reconhecimento da história e das culturas africana, afro-brasileira e indígena, porque não há mais nada que se possa fazer com o passado. D) Prescrever metodologias de ensino e formas de lidar com a cultura dos diferentes povos que formaram a sociedade brasileira. E) Estabelecer apenas um conjunto de reflexões sobre a história da trajetória dos povos africanos e indígenas no Brasil. Questões como metodologias, reconhecimento, igualdade, valorização da cultura cabem estritamente às escolas da Educação Básica. A educação para as relações étnico-raciais tem por alvo a formação de cidadãos, mulheres e homens empenhados em promover condições de igualdade no exercício de direitos sociais, políticos, econômicos, de ser, viver, pensar, próprios aos diferentes 3) pertencimentos étnico-raciais e sociais. De maneira mais específica, pode-se dizer que: A) A educação para as relações étnico-raciais está direcionada apenas para as instituições de Ensino Fundamental, pois entende-se que, impondo às crianças os valores de outros povos, certamente elas irão respeitá-los no futuro. B) A educação para as relações étnico-raciais constitui apenas uma formalidade em cumprimento às exigências das Leis ns. 10.693/2003 e 11.645/2008. C) Na educação para as relações étnico-raciais, cada professor é livre para trabalhar qualquer temática africana e/ou indígena, desde que realize pelo menos uma atividade no ano letivo. D) A educação para as relações étnico-raciais prevê apenas abordagens de cunho cultural. E) A educação para as relações étnico-raciais deve ocorrer em todos os âmbitos educacionais. Além disso, deve promover metodologias que auxiliem no desenvolvimento da cidadania, no reconhecimento e na valorização das diferentes experiências históricas e culturais que formam a sociedade brasileira. 4) A escravidão africana foi uma significativa experiência histórica desenvolvida ao longo do Brasil colonial. Nesse sentido, pode-se dizer que os africanos foram essenciais para a economia brasileira desse período porque: A) Consistiam numa escravidão diferente daquela que ocorria em outras regiões colônias, por exemplo, nas Antilhas. No Brasil, os africanos recebiam salários pelos seus trabalhos, porém, não eram considerados cidadãos. B) Consistiam na principal mão de obra que os senhores de engenho dispunham para a produção extremamente lucrativa do açúcar. Devido a isso, o tráfico de escravos acentuou- se no Brasil colônia. C) Consistiam numa mão de obra secundária, porque os indígenas eram os verdadeiros responsáveis pelo corte e pelo refino do açúcar. D) Por meio deles, o açúcar pôde ser comercializado em importantes países da Europa, como Holanda, Bélgica e Espanha. E) Empenharam-se, junto com os indígenas, a partir de uma relação pacífica e politizada, no desenvolvimento e no crescimento dos engenhos de açúcar, obtendo, desse modo, uma pequena parte do lucro total da produção. 5) A manutenção da identidade de um grupo está relacionada com o cultivo de aspectos culturais. Desse modo, pode-se afirmar que uma(algumas) das formas de manutenção do construto de uma etnia é(são): A) A gravação digital de costumes para que possam ser preservados para a posterioridade. B) O tombamento do local de origem de uma etnia. C) Os costumes e as tradições, como comemorações que evocam as memórias coletivas ou reforçam mitos que constituem o arcabouço interpretativo do grupo. D) A popularização e a comercialização das características culturais e dos símbolos de uma etnia. Isso pode ser observado no comércio de produtos artesanais específicos de uma etnia, como as bonecas Karajás. E) A identidade de um grupo étnico diz respeito apenas à cor da pele. NA PRÁTICA É comum, em muitas escolas, que os professores sejam incumbidos de realizar atividades relativas ao Dia do Índio. Ocorre que, mesmo após a criação da Lei nº 11.645/2008, devido às circunstâncias como o tempo, a necessidade de vencer conteúdos, avaliações e trabalhos, ou até mesmo a desinformação, muitos professores acabam por realizar atividades superficiais e estereotipadas. Clique na imagem a seguir e acompanhe como a temática indígena ainda é abordada na prática escolar e de queforma pode-se mudar isso. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: No artigo Aprender, ensinar e relações étnico-raciais no Brasil, é possível compreender os processos de ensinar e de aprender em meio a relações étnico-raciais e quais os desafios para o ensino de história e culturas afro-brasileira e africana. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Aprofunde seus conhecimentos por meio da leitura do artigo Ensino de história e diversidade cultural: possibilidades e desafios, o qual aborda a edição da Lei nº 10.639, de 2003, que introduziu a obrigatoriedade do estudo da história e das culturas afro-brasileira e africana no currículo escolar da Educação Básica, contribuindo para a discussão deste tema, possibilitando a ruptura do modelo eurocêntrico no ensino e a construção de uma educação multicultural na escola brasileira. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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