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Conteúdo: ANATOMIA Roberta Becker Conteúdo: Sistema digestório: trato gastrintestinal Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a anatomia das estruturas e dos órgãos que compõem o trato gastrintestinal. � Reconhecer as funções de cada órgão do trato gastrintestinal. � Relacionar os aspectos anatômicos com as doenças que acometem o trato gastrintestinal. Introdução Imagine que você está comendo um delicioso pedaço de pizza! A maioria das pessoas adora comer, mas, provavelmente, nunca parou para pensar sobre as incríveis habilidades do sistema digestório, que controla desde a qualidade dos alimentos até a eliminação dos resíduos. Uma vez que todas as células do corpo humano precisam de nutrientes, os alimentos que ingerimos precisam ser convertidos em uma forma de energia uti- lizável. Para realizar essa conversão, o sistema digestório é especializado na ingestão, na movimentação, na digestão e na absorção de água, eletrólitos e nutrientes ao longo do trato gastrintestinal. Neste capítulo, você vai identificar a anatomia das estruturas e dos órgãos que compõem o trato gastrintestinal, assim como reconhecer seus aspectos funcionais e patológicos. Estruturas e órgãos componentes do trato gastrintestinal Nesta seção, você vai conhecer a anatomia das estruturas e dos órgãos que compõem o trato gastrintestinal. Boca A boca ou cavidade oral é formada pelas bochechas, pelos palatos duro e mole e pela língua (Figura 1). As paredes laterais da cavidade oral são formadas pelas bochechas. Os lábios são pregas carnosas em torno da abertura da boca. As bochechas e os lábios auxiliam na manutenção do alimento entre os dentes durante o processo de mastigação. O palato duro é composto pelas maxilas e pelos ossos palatinos. A projeção na porção medial do palato mole é denominada úvula. Durante a deglutição, a úvula se move para cima com o palato mole, o que impede a entrada de alimentos e líquidos deglutidos na cavidade nasal. Na porção posterior do palato mole, a boca se abre para a parte oral da faringe (TORTORA; DERRICKSON, 2012). Figura 1. Estruturas da boca (cavidade oral). Fonte: Tortora e Derrickson (2012, p. 491). A língua é um grande músculo que ocupa boa parte da cavidade oral, quando a boca está fechada, e forma o assoalho da cavidade oral. Além de representar o principal órgão sensorial para a gustação, e um dos principais para a fala, a língua movimenta o alimento na boca e, em cooperação com os lábios e gengivas, mantém o alimento no lugar durante a mastigação. Ela Sistema digestório: trato gastrintestinal2 também exerce um papel importante na deglutição. O frênulo da língua, uma prega localizada na superfície inferior da língua, limita o movimento da lín- gua posteriormente (VANPUTTE et al., 2016). Além da língua, as glândulas salivares também são órgãos digestórios acessórios, uma vez que liberam suas secreções na cavidade oral. O líquido secretado pelas glândulas salivares se chama saliva, sendo composto por 99,5% de água e 0,5% de solutos. Um dos solutos, a enzima amilase salivar, inicia a digestão dos carboidratos na boca. Por fim, os dentes, que estão localizados nos alvéolos dentais da mandíbula e das maxilas, exercem um importante papel na mastigação e na fala (TOR- TORA; DERRICKSON, 2012). As cáries dentais são decorrentes da quebra do esmalte por ácidos produzidos por bactérias na superfície do dente. No entanto, caso a cárie consiga atingir a cavidade da polpa, que é rica em nervos, ocorrerá a chamada dor de dente. Algumas vezes, quando a cárie atinge a cavidade da polpa, o dentista deve realizar um procedimento chamado tratamento de canal, que consiste na remoção da polpa do dente (VANPUTTE et al., 2016). A boca é a única porção do trato gastrintestinal (TGI) que a realiza o processo de ingestão. No entanto, a maioria das funções digestórias associa- das com a boca é, na verdade, realizada pelos órgãos digestórios acessórios, como os dentes, as glândulas salivares e a língua. Na boca, o alimento sofre o processo de mastigação, sendo misturado com a saliva, a qual contém enzimas que iniciam o processo de digestão química. Como resultado, o alimento é reduzido a uma massa mole e flexível, facilmente deglutida, chamada de bolo. Além disso, o processo propulsivo da deglutição é iniciado, realizando o transporte do alimento através da faringe, pelo esôfago, até o estômago (MARIEB; HOEHN, 2009). Faringe e esôfago Durante a deglutição, o alimento se movimenta da boca para a faringe, um tubo muscular afunilado que se estende desde as coanas até o esôfago, 3Sistema digestório: trato gastrintestinal posteriormente, e até a laringe, anteriormente (Figura 2). A porção nasal da faringe está relacionada com a respiração. O alimento deglutido passa da boca para as partes oral e laríngea da faringe, antes de passar para o esôfago. O esôfago é um tubo muscular que está situado posteriormente à traqueia e que se inicia na extremidade final da parte laríngea da faringe, passando através do mediastino e do diafragma e conectando-se à parte superior do estômago. Ele é responsável pelo transporte do alimento para o estômago e pela secreção de muco. Nas extremidades do esôfago, estão localizados dois esfíncteres: o esfíncter esofagiano superior, formado por músculo estriado esquelético, e o esfíncter esofagiano inferior, formado por músculo liso. O esfíncter esofagiano superior regula o movimento do alimento da faringe para o esôfago. O esfíncter esofagiano inferior regula o movimento do alimento do esôfago para o estômago (TORTORA; DERRICKSON, 2012). A deglutição é dividida em três fases: voluntária, faríngea e esofágica. Durante a fase voluntária, o bolo de alimento é formado na boca e empurrado pela língua contra o palato duro, até que seja forçado para a parte posterior da boca e para a orofaringe. As fases faríngea e esofágica da deglutição são involuntárias. Durante a fase faríngea, a epiglote é deslocada posteriormente, de forma que a cartilagem epiglótica impeça que os alimentos entrem na laringe. A fase esofágica da deglutição é responsável pelo movimento do alimento da faringe ao estômago (VANPUTTE et al., 2016). Sistema digestório: trato gastrintestinal4 Figura 2. Deglutição. (a) Durante a fase oral, a língua se eleva e pressiona contra o palato duro, forçando o bolo alimentar para dentro da parte oral da faringe. (b) A úvula e a laringe se elevam, impedindo a entrada de alimento nas vias respiratórias. O relaxamento do esfíncter esofágico superior permite que o alimento entre no esôfago. (c) Os músculos constrito- res da faringe se contraem, forçando o alimento na direção do esôfago inferiormente, e o esfíncter esofágico superior se contrai após a entrada do alimento. (d) O alimento se move do esôfago até o estômago pela peristalse. (e) O esfíncter gastresofágico se abre e o alimento entra no estômago. Fonte: Marieb e Hoehn (2009, p. 788). 5Sistema digestório: trato gastrintestinal Estômago O estômago é um alargamento em forma de “J” do TGI, imediatamente inferior ao diafragma. O estômago realiza a ligação entre o esôfago e o duodeno, a primeira porção do intestino delgado (Figura 3). Após uma refeição, é papel do estômago enviar porções menores de alimento para o intestino delgado, para que, dessa forma, o intestino consiga digerir e absorver corretamente os alimentos (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Figura 3. Anatomia interna do estômago (vista anterior). Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 486). O estômago possui quatro regiões principais: cárdia, fundo gástrico, corpo gástrico e piloro (Figura 3). A cárdia está relacionada com a abertura do esôfago para o estômago. A região superior e à esquerda da cárdia é o fundo gástrico. Inferior ao fundo se encontra a grande região central do estômago, chamada corpo gástrico. A região mais inferior estreita é a partepilórica. A parte pilórica consiste nas seguintes estruturas: o canal pilórico, que se conecta ao corpo gástrico; o antro pilórico, que se liga ao canal pilórico; o piloro, que se liga ao duodeno. Quando o estômago está vazio, é possível visualizar no seu interior grandes dobras, chamadas de pregas gástricas (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Sistema digestório: trato gastrintestinal6 O vômito é a expulsão, de forma forçada, do conteúdo armazenado na porção superior do TGI, estômago ou duodeno, pela boca. Os estímulos relacionados com a ocorrência do vômito são principalmente a irritação ou a distensão excessiva do estômago. Os vômitos prolongados podem ocasionar alcalose (pH do sangue mais alto do que o normal), desidratação e danos ao esôfago e aos dentes (VANPUTTE et al., 2016). Ao entrar no estômago, o alimento é misturado com as secreções estomacais, formando o quimo. Embora ocorra alguma digestão e absorção no estômago, essas não são as suas funções principais. As secreções estomacais incluem muco, ácido clorídrico, gastrina, histamina, fator intrínseco e pepsinogênio. O ácido clorídrico secretado no estômago resulta no baixo pH do conteúdo estomacal, que apresenta funções de proteção contra bactérias patogênicas e o início da digestão das proteínas. O fator intrínseco se liga à vitamina B12 facilitando seu processo de absorção. Em pH ácido, o pepsinogênio é convertido em pepsina, enzima que realiza a quebra das proteínas em pequenas cadeias peptídicas (VANPUTTE et al., 2016). Aproximadamente 10% dos americanos sofrerão de úlcera péptica durante a vida. As úlceras pépticas ocorrem quando os sucos gástricos digerem a mucosa que reveste o TGI. Quase todas as úlceras pépticas se devem à infecção por uma bactéria especifica, Helicobacter pylori, que também está ligada à gastrite e ao câncer gástrico. Pelo fato de que o estresse, a dieta, o cigarro e o álcool causam um aumento da secreção ácida no estômago, esses padrões de estilo de vida foram considerados responsáveis pelas úlceras por vários anos (VANPUTTE et al., 2016). Intestino delgado O intestino delgado é um tubo convoluto que se estende do esfíncter do piloro, na região epigástrica, até ́ o óstio ileal, na região inguinal direita, onde ele se junta ao intestino grosso. É a parte mais longa do tubo alimentar, mas possui cerca da metade do diâmetro do intestino grosso, variando de 2,5 a 4 centí- metros. O intestino delgado é composto por três partes: duodeno, jejuno e íleo 7Sistema digestório: trato gastrintestinal (Figura 4). O comprimento total do intestino delgado é de, aproximadamente, 6 metros de comprimento. O duodeno possui cerca de 25 centímetros. O jejuno possui cerca de 2,5 metros de comprimento e o íleo, cerca de 3,5 metros de comprimento. As duas principais glândulas acessórias, o fígado e o pâncreas, estão associadas ao duodeno (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Figura 4. Vista anterior do intestino delgado. Fonte: Vanputte et al. (2017, p. 881). O intestino delgado é extremamente adaptado para a absorção de nutrien- tes. Dessa forma, apresenta uma grande área de superfície para a realização de trocas, a qual é composta por três modificações estruturais: as pregas, as vilosidades e as microvilosidades. As pregas são dobras que forçam o quimo a girar dentro do lúmen intestinal, diminuindo a velocidade de seu movimento e dando mais tempo para uma total absorção de nutrientes. As vilosidades e as microvilosidades aumentam a área de contato entre o quimo e as células absortivas intestinais, auxiliando no processo digestivo. Além disso, as microvi- losidades contêm enzimas que completam a digestão de carboidratos e proteínas no intestino delgado. As glândulas intestinais secretam, normalmente, de 1 a 2 litros de suco intestinal por dia. O suco intestinal é composto basicamente por água e muco, que é secretado tanto pelas glândulas duodenais como por células presentes na mucosa (MARIEB; HOEHN, 2009). Sistema digestório: trato gastrintestinal8 O fígado e a vesícula biliar são órgãos acessórios associados ao intestino delgado. O fígado produz a bile, que é exportada para o intestino delgado e apresenta como função a emulsificação das gorduras com a finalidade de deixá-las mais acessíveis para a ação das enzimas digestórias. A vesícula biliar é basicamente um órgão de armazenamento da bile. O pâncreas também é um importante órgão digestório acessório, pois produz enzimas (suco pancreático) que degradam todas as categorias de alimentos, as quais são liberadas no duodeno (MARIEB; HOEHN, 2009). Intestino grosso O intestino grosso emoldura o intestino delgado em três lados e se estende do óstio ileal até ́ o ânus (Figura 5). A principal função do intestino grosso é absorver a maior parte da água remanescente dos resíduos alimentares não digeridos, estocar os resíduos temporariamente e eliminá-los do corpo na forma de fezes semissólidas (MARIEB; HOEHN, 2009). Figura 5. Vista anterior do intestino grosso. Fonte: Marieb e Hoehn (2009, p. 813). 9Sistema digestório: trato gastrintestinal O intestino grosso tem as seguintes subdivisões: ceco, apêndice vermiforme, colo, reto e canal anal. O ceco está localizado abaixo do óstio ileal, na fossa ilíaca direita. Na superfície póstero-medial do ceco está localizado o apêndice vermiforme, que contém uma importante massa de tecido linfático, essencial para o sistema imune. O colo possui as seguintes regiões: colo ascendente, colo transverso, colo descendente e colo sigmoide. Na pelve, no nível da terceira vértebra sacral, o colo sigmoide se junta ao reto, que segue posteroinferiormente na frente do sacro. O canal anal, o último segmento do intestino grosso, possui dois esfíncteres: o esfíncter interno do ânus, que é involuntário e composto por músculo liso, e o esfíncter externo do ânus, que é voluntário e composto por músculo esquelético. Os esfíncteres estão normalmente fechados, exceto durante a defecação (MARIEB; HOEHN, 2009). A apendicite é uma inflamação do apêndice vermiforme que, geralmente, ocorre devido a uma obstrução do apêndice. As secreções do apêndice não conseguem passar por essa obstrução e se acumulam, resultando no seu alargamento e em dor. Os sintomas incluem dor abdominal aguda, principalmente na porção direita inferior do abdome; febre leve; perda de apetite; constipação ou diarreia; náusea e vômito. O tratamento comum é a remoção cirúrgica do apêndice, chamada de apendicectomia. Se o apêndice romper, a infecção pode se espalhar, causando peritonite, com risco de morte (VANPUTTE et al., 2016). O intestino grosso apresenta três características que não estão presentes nas outras partes do TGI; são elas: as tênias, as saculações do colo e os apêndices omentais (Figura 5). Exceto pela sua porção terminal, a camada muscular longitudinal é reduzida a três bandas de músculo liso chamadas de tênias do colo. Seu tônus faz com que a parede do intestino grosso se dobre em sacos, formando as saculações do colo ou haustros. Os apêndices omentais do colo são pequenas bolsas de peritônio visceral cheias de gordura, que ficam penduradas na sua superfície (MARIEB; HOEHN, 2009). Sistema digestório: trato gastrintestinal10 A diarreia é o aumento na frequência, no volume e no conteúdo fluido das fezes, causado pela motilidade aumentada e pela absorção diminuída nos intestinos. A motilidade excessiva pode ser causada por intolerância à lactose, estresse e micróbios que irritam a mucosa gastrintestinal. A constipação se refere à defecação infrequente ou difícil causada pela motilidade diminuída dos intestinos. A constipação pode ser causada por hábitos ruins, espasmos do colo, falta de fibras na dieta, ingestão inadequada de fluidos, falta de exercícios, estresse e medicamentos (TORTORA; DERRICKSON, 2017). MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. VANPUTTE, C. et al. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. Leituras recomendadas MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. TANK, P. W.; GEST, T. R. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2008. 11Sistema digestório: trato gastrintestinal Conteúdo:
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