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APOSTILA-COMPLETA-GEOGRAFIA-URBANA

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0 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA URBANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
1 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3 
2 ABORDAGENS TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA GEOGRAFIA URBANA. 4 
3 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO URBANO ....................... 7 
4 TEORIAS ESPACIAIS NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO .......... 10 
5 A DEFINIÇÃO DO TERMO “CIDADE” .......................................................... 14 
5.1 Classificação das cidades ........................................................................... 16 
5.2 Urbanização versus crescimento urbano .................................................... 18 
6 OS DIVERSOS CONCEITOS ACERCA DE ORGANIZAÇÃO E VIDA 
URBANA...............................................................................................................19 
6.1 Da conurbação urbana à “cidade-dormitório” ............................................. 20 
6.2 Da metrópole à megalópole ........................................................................ 21 
6.3 Quantidade versus qualidade: megacidades e cidades globais ................. 22 
6.4 Rede e hierarquia urbanas ......................................................................... 23 
7 AS CONTRADIÇÕES NO PROCESSO DA URBANIZAÇÃO BRASILEIRA . 24 
8 AS CONTRADIÇÕES DO INTENSO E DESORDENADO PROCESSO DE 
URBANIZAÇÃO .................................................................................................. 27 
9 URBANIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA .................................... 29 
9.1 As cidades médias ...................................................................................... 32 
10 SOCIEDADE, INDUSTRIALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL .... 33 
10.1 Natureza técnica e econômica das indústrias ............................................. 37 
10.1.1 Indústrias extrativistas e de beneficiamento ........................................... 37 
10.1.2 Indústrias de transformação ................................................................... 38 
10.1.3 Indústrias de bens de uso durável .......................................................... 39 
10.2 Distribuição espacial das indústrias no Brasil ............................................. 42 
 
2 
 
11 CONCEITOS E CATEGORIAS DA GEOGRAFIA URBANA ......................... 46 
11.1 Sítios Urbanos ............................................................................................ 46 
11.1.1 O que é um sítio? ................................................................................... 46 
11.2 Morfologia urbana ....................................................................................... 47 
11.2.1 Estratégias para análise de morfologia urbana ...................................... 50 
11.2.2 Reflexos da morfologia urbana na paisagem ......................................... 52 
11.3 Planejamento Urbano ................................................................................. 55 
11.4 Reforma Urbanística ................................................................................... 56 
11.5 Centro e Centralidade ................................................................................. 57 
11.6 Rede Urbana .............................................................................................. 58 
11.6.1 Estrutura das redes urbanas .................................................................. 59 
11.7 Estrutura interna das cidades ..................................................................... 60 
12 RELAÇÕES ECONÔMICAS E SEU EFEITO NO ESPAÇO URBANO ......... 60 
12.1 Organização da economia das cidades ...................................................... 63 
13 O TRABALHO DE CAMPO NO ESPAÇO URBANO .................................... 67 
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 69 
14.1 Bibliografia Básica ...................................................................................... 69 
14.2 Bibliografia Complementar .......................................................................... 69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
 O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase 
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor 
e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. 
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos 
ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, 
as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão 
respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e 
organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura 
do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá 
reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o 
quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos 
para as atividades. 
 
 Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 ABORDAGENS TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA GEOGRAFIA URBANA 
Para compreender as principais abordagens da geografia urbana, é 
importante saber que esse é um ramo da geografia que estuda e busca entender 
as dinâmicas do chamado espaço urbano e identificar seus agentes e os processos 
que constituem esse âmbito da sociedade. Ressaltamos que a geografia urbana é 
uma área interdisciplinar, abrangendo ramos do conhecimento como sociologia, 
economia, política, arquitetura, urbanismo e saúde pública. 
Nesse contexto, o espaço urbano é o arranjo das variadas atividades 
humanas sobrepostas espacialmente, o que resulta na composição e constituição 
das cidades e suas funções, assim como na organização socioespacial das 
infraestruturas, das práticas humanas e das condições do meio ambiente. Há, 
portanto, uma diversidade de entendimentos sobre a urbanização e, no âmbito 
cientifico, sua compreensão e aplicação só é possível sob abordagens teórico-
metodológicas. 
Ao adotar a geografia urbana sob uma visão demográfica, Laborde (1994) 
aborda a dinâmica da urbanização pelo aumento da população urbana no conjunto 
total da população e pelas causas e consequências desse processo. Outra maneira 
de abordar teoricamente a geografia urbana é definindo o que vem a ser uma 
cidade, como destaca Beaujeu-Garnier (1980), que entende a urbanização como 
um movimento de desenvolvimento citadino, simultaneamente em número de 
habitantes e em infraestruturas e tamanho de sua área, transformando também 
seus arredores. Para Johnston (1994), a urbanização é um processo estrutural 
definido por uma população acima de certo tamanho ou densidade demográfica, 
com funções econômicas características na divisão espacial do trabalho. 
Alguns autores partem da ideia de uma economia política da urbanização, 
isto é, um desenvolvimento da urbanização simultâneo às mudanças tecnológicas 
e à globalização, mais potencializadas no fim do século XX e nas primeiras décadas 
do século XXI. Tais transformações incidem no âmbito financeiro, principalmente 
nas grandes cidades e metrópoles, que ganham crescente importância e se ligam 
 
5 
 
cada vez mais à economia, às finanças e à política global, com a ação dos Estados 
e das grandes corporações. 
Para Roberts (2014), a urbanização se dá pela concentração populacional 
em diferentes contextos sociais, com implicações nas relações sociais. Já Castells 
(2000) parte da ideia de formato espacial da organização social em constante 
mutação, expressa pelas modificações no meio ambiente edificado. 
Cabe ressaltar que a urbanização é um processo que deve ser entendido 
como movimentoespaço-temporal. Segundo Sposito (1992), é importante buscar a 
unicidade tempo/espaço, considerando, por exemplo, Pierre George (1969; 1990), 
que destaca a unidade entre geografia e história. O geógrafo Milton Santos (1978a; 
1978b; 1985; 1996), bem como Giddens (1991), Harvey (1992), Abreu (1998), 
Vasconcelos (1999) e Haesbaert (2002) também enfatizam a necessidade de se 
articular a dimensão temporal à dimensão espacial da realidade. 
Para entender o processo complexo de urbanização, as abordagens 
teóricas metodológicas devem analisar as múltiplas conexões entre o tempo e o 
espaço ao ponderar sucessão de eventos, sua sincronia e o descompasso dos 
movimentos. Assim, é preciso considerar as relações entre diferentes 
temporalidades, entre as distintas escalas e a urbanização como um processo de 
longa duração, que começa com o surgimento das primeiras cidades, segundo 
diferentes modos de produção e pelas diversas formas que pode assumir. 
Há, assim, na geografia urbana vertentes que analisam a urbanização como 
resultado de uma divisão social do trabalho entre o campo e a cidade, já que contém 
e também expressa a ideia de processo, partindo da análise da origem e evolução 
histórica das cidades e passando pelo desenvolvimento das forças produtivas e 
pelas transformações de ordem política, social, cultural e estética, bem como pelas 
revoluções e contra revoluções ideológicas e do cotidiano (SPOSITO, 1992). 
Outro termo importante nesse contexto das abordagens teórico-
metodológicos da geografia urbana é a cidade. Para Remy e Voyé (1992), trata-se 
de um conceito que possibilita captar uma realidade e diversas funções sociais, 
havendo uma variedade de formas de assentamento que recebem a denominação 
de cidade, devido a sua situação, tamanho, arquitetura, organização e/ou papel na 
 
6 
 
região e país em que está inserida. Para Lé vy (1994), esse conceito é de natureza 
espacial, com elementos que interagem, como as dimensões econômica, 
sociológica e política, material e cultural, coletiva e individual, sendo a cidade o 
espaço da sociedade em ação. 
Ao pesquisar os assentamentos humanos em diversas sociedades e 
épocas, percebem-se realidades históricas bem diferentes, considerando que os 
primeiros assentamentos concentrados remontam a 3.000 a.C. na Mesopotâmia e 
que, passados 5.000 anos, a questão urbana segue no centro das inquietudes 
contemporâneas (RONCAYOLO, 1990). 
O desenvolvimento das formas das cidades no tempo e no espaço, e os 
termos usados para designar essas aglomerações humanas, indica as mudanças 
nos papéis exercidos pelas cidades. Ao analisar as nomenclaturas recebidas por 
elas, pode-se notar mudanças dos papéis urbanos. Para Le Goff (1998, p. 12) o 
termo ville é recente e proveniente da expressão villa, que aludia ao “[...] centro de 
um grande domínio sobre as terras ao redor”. A adaptação do termo villa para ville 
sinaliza a passagem do poder político e econômico do campo para a cidade. 
Segundo Le Goff (1998), até os séculos XI e XII, utilizava-se os termos em latim 
civitas, cité ou urbs, que denominavam os papéis políticos exercidos pelas cidades 
desde a Antiguidade como centros da civilização. 
Dessa forma, segundo as várias abordagens teórico-metodológicas, a 
urbanização é um processo e movimento de transformação, em que a cidade deve 
ser compreendida pelo seu espaço e pelo tempo, bem como pela existência do 
espaço rural e urbano, o que resulta em transformações na divisão social e territorial 
do trabalho. Assim, a cidade pode ser entendida como a expressão de cada período 
num contínuo movimento (SPOSITO, 1992). 
Para Santos (1981, p. 118), é importante considerar a urbanização como 
uma “[...] dimensão do processo de humanização e desumanização da sociedade”, 
dentro da esfera de uma economia política citadina, que deve associar os efeitos da 
divisão do trabalho sobre as condições locais do mercado em todos seus aspectos 
para compreender o espaço construí do e suas características como dados sociais 
e econômicos numa realidade em transformação. 
 
7 
 
 
3 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO URBANO 
Os estudos sobre o desenvolvimento das cidades pela geografia urbana 
começam a se intensificar a partir do século XIX, com reflexões sobre como esse 
processo condiciona mudanças decisivas na sociedade. A partir daí, também passa 
a ser considerada a expansão da rede urbana, determinando uma evolução no 
pensamento geográfico sobre o tema. As análises partem da produção, da 
circulação e do consumo que se realizam na cidade por meio da rede urbana e da 
expansão da rede de comunicações a ela vinculada, num contexto em que as 
distantes regiões podem ser articuladas, estabelecendo-se, com o passar do tempo, 
uma economia mundial estruturada, tendo como base as cidades. (Slack, 2018) 
O pensamento geográfico, assim, se desenvolve considerando análises dos 
processos sociais ligados à criação de centros e à transformação da rede urbana, 
principalmente no final do século XX. A rede urbana é entendida como o conjunto 
de centros urbanos funcionalmente articulados entre si e são a expressão de como 
o pensamento geográfico urbano tem se desenvolvido ao longo do tempo. 
Primeiramente, um ponto importante da evolução desse pensamento é a 
classificação das cidades segundo suas funções e dimensões, segundo as relações 
entre seu tamanho demográfico e seu desenvolvimento e segundo sua hierarquia 
urbana e as relações entre cidade e região. A hierarquia urbana nada mais é do que 
o modo como as cidades de uma região ou país podem se organizar numa escala 
de subordinação, seja por seu tamanho ou por suas funções e importância para 
influenciar aquelas que estão ao seu redor. Esses temas podem convergir de 
diferentes modos. 
Vagner
Destacar
 
8 
 
Estudos sobre a distinção de cidades segundo suas funções, por exemplo, 
partem das ideias do australiano Marcel Aurousseau, que na década de 1920 
propôs uma classificação de cidades em oito tipos, segundo sua função dominante: 
cidades de administração, de defesa, de atividades culturais, de produção, de 
coleta, transferência, distribuição e recreação. Na década de 1940, o americano 
Chauncy Harris conduziu um estudo sobre as cidades dos Estados Unidos 
utilizando precisão estatística na categorização das cidades em dez tipos, em que 
cada cidade podia ser definida por combinações de duas ou três funções 
(VASCONCELOS, 2012). 
Além disso, vários autores tipificaram as atividades da cidade de acordo 
com a divisão territorial do trabalho no âmbito da rede urbana, cujas categorias 
podem variar de acordo com o tempo, dadas as transformações ininterruptas das 
cidades. A partir das classificações funcionais de cidades, as pesquisas se atêm 
aos sistemas urbanos, considerando sistematicamente as características 
demográficas e sociais entre cidades com distintas especializações funcionais. 
Nesse sentido, são considerados o ritmo de crescimento da população, sua 
estrutura etária, nível de escolaridade, proporção de homens e mulheres, taxas de 
desemprego e renda per capita, considerando também a evolução das pesquisas 
estatísticas e matemáticas sobre a demografia (VASCONCELOS, 2012). 
Os autores Moser e Scott (1961) iniciaram a sistematização das dimensões 
básicas das variáveis dos sistemas urbanos ao empregar técnicas estatísticas, 
como análise fatorial, para entender variáveis econômicas, demográficas e sociais, 
chegando à conclusão de que cada cidade apresenta um escore que representa 
sua posição ao longo dessa linha de variação em comparação com as demais 
cidades. Dadas essas evoluções, foram realizados inúmeros estudos sobre cidades 
de vários países, como Estados Unidos, Canadá, Índia e a antiga União Soviética. 
O objetivo era descobrir dimensões básicas de variação de um determinado sistema 
urbano, se havia uma certa estabilidade ao longo de determinado período e quais 
tiposde variação se manifestavam. Entre as distintas dimensões básicas estavam 
tamanho, especialização funcional, particularidades sociais e tipo de crescimento 
demográfico. 
 
9 
 
Para selecionar as variáveis, um dos principais referenciais teóricos foi o 
modelo centro–periferia de John Friedmann, cuja concepção é da cidade como 
centro propagador do desenvolvimento. Outro referencial que demonstra a evolução 
do pensamento da geografia para entender a urbanização é de Fredrich e 
Davidovich, que se baseia em três dimensões de variação do sistema urbano, como 
a estrutura socioeconômica, os tipos de ritmos de crescimento e as formas de 
concentração espacial urbana. 
Os estudos sobre hierarquia urbana colocaram em evidência 
simultaneamente uma série de regularidades empíricas e de características 
diferenciadoras das redes urbanas. A existência de uma hierarquia urbana em 
qualquer organização socioespacial estruturada por mecanismos de mercado é a 
principal regularidade verificada. Porém, as diversas formas que essa hierarquia 
assume representam a característica mais importante e diferenciadora encontrada. 
(Santos, 2009) 
No Brasil, os estudos sobre a hierarquia das cidades são numerosos e 
tradicionais, desenvolvidos principalmente pelo geógrafo Roberto Lobato Corrêa 
(1989). Os estudos de Pedro Pinchas Geiger sobre a evolução da rede urbana 
nacional também influenciaram os estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística relativos à hierarquia e à área de influência das cidades 
brasileiras. Esses estudos induziram o desenvolvimento de um importante aparato 
operacional que enriqueceu os estudos sobre redes urbanas e ciência geográfica. 
Outro autor importante no desenvolvimento do pensamento geográfico 
urbano é o francês Pierre George, que, ao verificar a rede urbana, buscou entender 
o conjunto das relações cidade–região, indicando as relações de atração da 
população rural pela cidade, a renda fundiária urbana, a comercialização da 
produção agrícola na cidade, os investimentos e a geração de trabalho pela cidade 
e a distribuição de bens e de serviços em sua área. 
Os estudos sob essa abordagem destacam as mudanças ocorridas na 
organização socioespacial da cidade e da região estudadas. Os resultados obtidos 
indicam que a cidade é um reflexo da região onde está inserida e um resultado das 
ações da burguesia urbana. As produções de pesquisas nesse âmbito têm 
 
10 
 
influência de vários geógrafos, sociólogos, filósofos, economistas, arquitetos e 
urbanistas, realçando a interdisciplinaridade inerente à ciência geográfica. Podemos 
destacar o geógrafo Milton Santos, que participou por 30 anos como precursor e 
renovador dessa ciência, centrado em princípios do materialismo histórico e 
dialético como método de interpretação espacial. Ele propôs um movimento de 
renovação da geografia entre os anos 1960 e 1980, por meio de elaborações sobre 
a relação tempo–espaço na dialética sócio espacial. 
Na França, onde estudou e manteve ligações acadêmicas, Milton Santos 
sofreu grande influência dos pesquisadores Pierre Deffontaines, Pierre George, 
Yves Lacoste, Henri Lefebvre, David Harvey, Edward Soja, Manuel Castells, 
Francesco Indovina, Paul Claval e Massimo Quaini. Nos anos 1980 e 1990, ocorreu 
uma reelaboração da geografia humana, centrada no conceito de espaço geográfico 
como grande categoria de explicação nessa ciência, com participação de Milton 
Santos, Manuel Correia de Andrade, Ruy Moreira, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, 
Carlos Walter Porto-Gonçalves, Antônio Carlos Robert Moraes, Armando Corrêa da 
Silva, Armen Mamigonian, Roberto Lobato Corrêa, entre outros. 
Santos (2009), por suas relações acadêmicas e científicas com 
pesquisadores brasileiros e estrangeiros e pelas inúmeras publicações, orientações 
de pesquisa, consultorias, conferências, cursos, palestras e também atuação 
política, tornou-se um representante da geografia brasileira. Ele atuou também 
como professor, pesquisador e pensador de temas e processos do mundo recente, 
principalmente na evolução do pensamento sobre urbanização, cidades e 
globalização, com o objetivo de construir uma teoria social para compreender o 
mundo contemporâneo e contribuir na sua transformação. 
4 TEORIAS ESPACIAIS NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO 
Para compreender a organização e arranjo espacial das cidades e o 
desenvolvimento acelerado da urbanização, foram desenvolvidas com mais 
intensidade no fim do século XX teorias para dar conta das análises necessárias 
desse período em que o processo de globalização se acentuava. Nesse contexto, 
 
11 
 
as abordagens teórico-metodológicas baseadas no marxismo se sistematizavam a 
partir da década de 1960, para explicar os processos de aumento das 
desigualdades sociais nas áreas urbanas que se formavam de forma intensa no 
pós-Segunda Guerra Mundial. 
Segundo Gottdiener (1993), essas teorias espaciais visavam substituir os 
arranjos urbanos meramente descritivos por uma síntese que pudesse revelar os 
processos presentes do espaço urbano e esclarecer as características da 
distribuição espacial desigual, bem como as crises sociais relacionadas a ela. Tal 
perspectiva se interessava pelos processos que poderiam desencadear uma maior 
justiça social, bem como pelas formas das cidades, como suas estruturas 
“desumanizadoras” resultantes de um planejamento urbano inadequado. 
Essa análise urbana marxista permite uma noção política e social sobre os 
eventos urbanos e as configurações da cidade, considerando a produção social e a 
formação das paisagens em que o ser social, o indivíduo, está posicionado no 
espaço e no tempo, numa contextualização histórica e também geográfica. As 
pesquisas sob esse viés têm o objetivo de esclarecer a relação entre a estrutura 
social e a estrutura espacial, ao considerar as relações entre sociedade e Estado 
para compreender o processo de produção das formas espaciais nas cidades. 
Lefebvre (1972) desenvolveu teorias espaciais sob a concepção de 
produção do espaço embasando-se no conceito de produção proposto por Marx, 
referente ao desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. 
Para Lefebvre, esse conceito se relaciona com a produção de coisas, isto é, 
produtos, infraestruturas, ideias, ideologias, conhecimento, ilusões e verdades. 
A unidade desses tipos de produção decorre do fato de que a cidade é a 
manifestação da produção no sentido amplo. Assim, a cidade materializa o processo 
de urbanização e sua própria história, em dado período, já que ela é o somatório 
desses diferentes momentos e, assim, síntese entre o velho e o novo (LEFEBVRE, 
1972). Nessa teoria espacial sobre a organização do espaço, o chamado “novo” é 
entendido como o velho reconstruído, refuncionalizado, revelando-se a cada 
momento da história pelos processos de transformação social. 
 
12 
 
Ao tratar a cidade sob a ótica dos processos produtivos propostos por 
Lefebvre, e também como meio pelo qual se realiza a própria produção, distribuição, 
circulação e consumo individual e coletivo, é imperativo refletir sobre o que são os 
processos de produção nesse contexto. Santos (1978b, p. 163) destaca que, por 
intermédio da produção, o ser humano modifica a chamada “[...] natureza primitiva, 
isto é, a natureza bruta, socializando-a. Assim, o espaço é criado como ‘natureza 
segunda’, e assim a natureza é transformada e entendida como ‘natureza social’ ou 
socializada”. Dessa maneira, o ato de produzir é simultaneamente o ato de produzir 
espaço. 
Lefebvre (1986) considera que há uma dimensão tríplice desse processo, 
como, primeiramente, a “prática espacial”, que engloba a produção e reprodução, 
formando lugares específicos e conjuntos espaciais próprios a cada formação 
social. Também há as “representações do espaço”, ligadas à s relações de 
produção, isto é, a ordem imposta ligada aos conhecimentos, aos significados,aos 
códigos e à s relações. Por último, Lefebvre (1986) indica os “espaços de 
representação”, apresentando simbolismos ligados às facetas mais íntimas da vida 
social, como a arte e espaços de representação. 
Sob esse enfoque, o autor ressalta que o espaço social unifica os atos 
sociais dos indivíduos e dos coletivos. Dessa forma, a produção do espaço urbano 
envolve um conjunto de ações, interesses, valores e ideias que, no plano material 
e simbólico, movimenta a sociedade e gera e transforma o espaço das cidades 
(LAFEBVRE, 1986). 
Atualmente, são incessantes as criações de novas formas de produção 
territorial do espaço urbano, com novos modos de vida e novas práticas 
socioespaciais, que determinam esse conjunto de mudanças. No caso do Brasil, ao 
se urbanizar intensamente, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, 
produziu-se novas formas de meios urbano, novos modos de viver na cidade e 
também de consumir. 
 Cabe ressaltar o papel dos interesses econômicos e políticos das 
corporações e do Estado, que definem os eixos condutores dessa nova produção 
do espaço urbano e que induzem o movimento da sociedade ao se urbanizar, dada 
 
13 
 
a inserção da maior parte da população no mercado de consumo global e suas 
consequentes alterações nas práticas socioespaciais. 
Além disso, notam-se mudanças mais banais, como os modos de se vestir 
ou falar e se expressar nas ruas, bem como mais profundos, como o modo de se 
relacionar com o espaço e as maneiras de se apropriar. Ao tornar a sociedade mais 
urbanizada, o Brasil vivenciou e vivencia a formação do próprio mercado 
consumidor nacional, principalmente pela origem e influência do complexo cafeeiro, 
tendo como base territorial o estado de São Paulo, que desenvolveu uma 
urbanização influenciando outras regiões do país. 
Assim, as teorias espaciais sobre a organização do espaço urbano devem 
servir de alicerce para compreender os processos que ocorrem nas cidades 
brasileiras que, desde a passagem da economia agrária e exportadora para a 
economia industrial, na primeira metade do século XX, constituem-se em espaços 
de consumo para a produção capitalista global de bens e serviços, sendo elas 
mesmas um tipo de mercadoria a ser consumida. 
Tal processo pode ser exemplificado pelos pedaços da cidade que são 
comprados e vendidos, como os terrenos e edificações que têm valor diferenciado 
de acordo com o imaginário social sobre cada região, geralmente orientado pelo 
marketing e pelas incorporadoras imobiliárias. 
Assim, para Santos (1994), a cidade constitui o lugar de um processo de 
valorização seletivo, cuja materialidade é formada pela sobreposição de áreas aptas 
aos usos mais eficazes de atividades modernas, incluindo o que resta do passado 
mais remoto, onde se instalam usos menos rentáveis, portadores de técnicas e de 
capitais menos exigentes. Dessa forma, ainda segundo Santos, cada lugar dentro 
da cidade tem uma vocação diferente do ponto de vista capitalista. 
As teorias espaciais sobre a organização espacial urbana permitem 
entender como são selecionados distintos lugares de cada cidade para realizar 
diferentes funções e usos, quais ações definem os agentes ou grupos de agentes 
na estruturação do espaço urbano em cada período tempo e como essas ações são 
motivadas por processos globais da divisão social e territorial do trabalho. Conforme 
Santos (1994, p. 118), uma forma operacional de analisar esses processos é partir 
 
14 
 
da economia política da cidade, compreendida como “[...] a forma como a cidade se 
organiza, em face da produção e como os diversos atores da vida urbana encontram 
seu lugar, em cada momento, dentro da cidade” 
5 A DEFINIÇÃO DO TERMO “CIDADE” 
Um famoso dicionário brasileiro (principalmente antes de o Brasil ingressar 
de modo seletivo na era digital) define cidade como um “complexo demográfico 
formado, social e economicamente, por uma importante concentração populacional 
não agrícola, dedicada a atividades de caráter mercantil, industrial, financeiro e 
cultural” (FERREIRA, 1986, p. 403). 
 Embora essa definição seja simples para apresentar um processo de 
complexidade ímpar na realidade da humanidade, possui alguns conteúdos 
essenciais para iniciar a reflexão desse fenômeno cuja história se estende desde a 
Antiguidade clássica até o contexto mundial contemporâneo. Se ao longo de sua 
extensa jornada passou por altos e baixos, o fenômeno urbano vem configurando 
as feições mundiais contemporâneas, pois na atualidade, com uma população 
humana que superou os 7 bilhões de habitantes, a maioria já vive em cidades. 
As cidades são formadas por assentamentos demográficos de extrema 
diversidade no que diz respeito às atividades econômicas desenvolvidas em seu 
interior; assim, sob o ângulo do uso do solo ou das atividades econômicas que a 
caracterizam, a cidade corresponde a um espaço de produção não agrícola. Trata-
se, portanto, de um espaço manufatureiro ou industrial, mas, sobretudo, de uma 
localidade dedicada ao comércio e à oferta de serviços, ou seja, dedicada, por 
excelência, ao setor terciário da economia, embora haja cidades de função 
industrial. 
 Para o sociólogo alemão Max Weber, em artigo publicado em 1921, uma 
cidade é, primordial e essencialmente, um local de mercado, embora nem todo 
“local de mercado” seja uma cidade; meticuloso, Weber atenta para localidades nas 
quais ocorre a prática mercantil fora de um espaço citadino, caso da existência de 
mercados periódicos em assentamentos como aldeias. No entanto, enfatiza que 
 
15 
 
toda cidade é um local onde ocorre um intercâmbio regular de mercadorias 
remetendo ao início deste texto, o dicionário Aurélio chama atenção para a questão 
do mercado. 
Outro alemão, o geógrafo Walter Christaller, introduziu uma contribuição 
importante com o conceito de “localidade central”: toda cidade é, na perspectiva 
geoeconômica (atividades econômicas vistas a partir de uma perspectiva espacial), 
uma localidade central, de nível maior ou menor de acordo com sua centralidade, 
fato dado a partir da quantidade de bens e serviços ofertados, os quais permitem 
atrair compradores apenas das redondezas, de uma região inteira, de todo o país, 
conforme o nível de sofisticação do bem ou do serviço, ou, ainda (como ocorre em 
tempos de internacionalização do capital, o que contribuiu para o aparecimento de 
cidades globais), de outros países. Ademais, devido ao fato de sediar os poderes 
político e econômico por meio de empresas (estatais ou privadas), a cidade constitui 
um “centro de gestão do território”. 
Para além dessas duas definições pioneiras e ainda hoje muito úteis a 
respeito do entendimento do fenômeno urbano, e para além daquela definição do 
dicionário, é fundamental colocar em fluxo o fator humano, que, naturalmente, ao 
longo de toda a história fundamentou a existência da cidade e de toda a gama de 
contradições que ela sempre carregou. 
Uma cidade não é apenas um local onde as pessoas trabalham e produzem 
bens que serão comercializados; é um local onde as pessoas se organizam e 
interagem com base em interesses e valores dos mais diversos, formando grupos 
de afinidade e de interesses bem definidos ou moderadamente definidos 
territorialmente nas identidades culturais e territoriais que seus membros buscam 
manter e preservar. Ou seja, a cultura desempenha um papel crucial na produção 
do espaço urbano e na projeção da importância de uma cidade para fora de seus 
limites físicos. Experiências humanas se materializam especialmente na forma de 
cidades, que também constituem entes simbólicos. (Borges, 2010) 
Toda cidade é uma entidade socioespacial de compreensão laboriosa 
naturalmente, as maiores carregam mais complexidade. Assim, os seres humanos, 
 
16 
 
com seus processos e práticas sociais, são os responsáveis por animar o núcleo 
urbano e estão envolvidos na dinâmica da produção do espaçourbano. 
5.1 Classificação das cidades 
Para ampliar o conhecimento a respeito das cidades, seja para entender 
esse arranjo espacial fundamental da organização humana, seja para melhor 
intervir nos seus rumos, ou para empreender seu planejamento, é possível 
classificar as cidades segundo uma série de aspectos e critérios, entre os quais se 
destacam os seguintes. 
 Quanto à origem, as cidades podem ser classificadas como espontâneas 
(também denominadas como naturais), corresponde às cidades que surgem e se 
expandem sem um plano previamente elaborado de urbanização. Desse modo, é 
comum que suas ruas sigam trajetos tortuosos ou estreitos, e eventualmente os 
dois ao mesmo tempo. Por outro lado, é comum que seus bairros mais novos sejam 
elaborados dentro de critérios e padrões organizativos, mostrando diferenças 
flagrantes. Essa condição urbana abrange a esmagadora maioria das cidades do 
mundo, de São Paulo a Nova York, passando por Pequim, Cidade do México, 
Santos, Poços de Caldas e São João da Boa Vista. 
Por outro lado, uma cidade pode ser planejada (também chamada de 
artificial), quando sua construção é precedida por um plano prévio, que lhe garante 
racionalidade organizativa quanto ao uso dos espaços, com setores bem definidos. 
Brasília, capital brasileira, e Palmas, no Tocantins, são dois exemplos dessa 
modalidade urbana. (Lamas, 2010) 
Quanto ao sítio urbano, há uma diversidade de condicionamentos da 
cidade. Em uma definição mais ampla e contemporânea, sítio urbano é tratado 
como o lugar onde a cidade se desenvolve, e pode ser uma planície, um planalto, 
uma montanha, ou outra formação espacial natural que influencia na dinâmica 
urbana, desde sua arquitetura até mesmo uma possível função urbana. 
É possível também classificar as cidades quanto à função urbana, ou seja, 
os possíveis papéis econômicos que elas possam desempenhar no contexto de 
 
17 
 
uma lógica da divisão do trabalho; nesse sentido, quando sua economia gravita em 
torno da atividade fabril, há espaços urbanos que ganham contornos de cidade 
industrial, pois possuem um parque industrial alentado, a ponto de este se tornar 
sua principal fonte geradora de receita como ocorre com a cidade de São Bernardo 
do Campo, São Paulo. Há o caso de cidades que possuem a economia baseada 
em atividade portuária, como Santos (SP), no Brasil, ou Hamburgo, na Alemanha. 
Há, ainda, cidades que ancoram sua economia no turismo, como a brasileira Porto 
Seguro, na Bahia, ou Cancun, no México; na atividade religiosa, como Aparecida, 
em São Paulo, Juazeiro do Norte, no Ceará, ou Meca, situada na Arábia Saudita; 
ou histórica (Ouro Preto, em Minas Gerais, e Atenas, na Grécia), entre outras tantas 
funções possíveis. 
Segundo Slack (2018), toda e qualquer cidade apresenta os mais variados 
tipos de espaços, de acordo com a atividade predominante. Em áreas residenciais, 
não se encontra muito mais do que um comércio de bairro; já em espaços com 
comércio e serviços se observam verdadeiras localidades centrais intraurbanas. Os 
espaços onde as atividades de comércio e serviços se concentram são de vários 
tipos: a grande maioria das cidades possui um “centro” muito evidenciado, que 
geralmente corresponde à localidade onde a urbe foi fundada. Esse “centro” abriga 
prédios de valor histórico-arquitetônico e, no caso das cidades maiores, tendeu, 
muitas vezes, a se expandir e evoluir até atingir as dimensões de uma moderna 
área central de negócios, mais conhecida como Central Business District (CBD). 
O CBD sozinho não daria conta de atender a todas as demandas da cidade 
por bens de consumo não rotineiros, assim, à medida que cresce, a cidade vê 
crescerem as distâncias e a combinação de densidade demográfica, distância em 
relação ao centro e à renda da população. Isso faz aparecerem importantes 
subcentros de comércio e de serviços, o que evita que os moradores dos diferentes 
bairros precisem se deslocar para o CBD sempre que precisam adquirir algo além 
de pão, leite ou jornal. Os subcentros apresentam um status que reflete as 
características socioeconômicas da população que reside em seu território; desse 
modo, há subcentros de status elevado, de status médio e, até mesmo, subcentros 
populares, na periferia metropolitana. 
 
18 
 
 A função urbana e o sítio urbano de uma determinada cidade podem 
redundar em uma situação urbana, que corresponde à posição da cidade no 
contexto de uma determinada região, caso de Campina Grande, por exemplo, que 
corresponde a uma situação de entreposto agreste-sertão no Estado da Paraíba, 
na região nordestina brasileira. 
Por fim, vale destacar dois fatos recorrentes no Brasil e no mundo; o 
primeiro diz respeito a questões comportamentais que levam pessoas a se 
deslocarem dos grandes centros em direção a cidades menores e, até mesmo, para 
o campo, em novas experiências de trabalho que se avança espacialmente. Salvo 
certo exagero, há até uma expressão para identificar o fenômeno, 
“desmetropolização”. O segundo diz respeito a um evento que tem sido chamado 
de “rurbanização”, que trata da expansão das atividades terciárias em direção ao 
espaço rural, palco de atividades econômicas denominadas primárias, e, também, 
das mudanças no modo de vida e uma nova organização socioespacial do homem 
do campo. 
5.2 Urbanização versus crescimento urbano 
De tudo que vimos até aqui, você já notou que a urbanização é um processo 
radical de intervenção humana sobre o espaço geográfico contemporâneo; envolve 
realidades humanas distintas a partir do momento em que ocorre a transferência de 
pessoas do campo para a cidade; trata-se de um fenômeno capaz de traduzir a 
realidade social, econômica e cultural de uma sociedade, e, portanto, não é um 
fenômeno que ocorre de maneira homogênea no mundo contemporâneo, ainda que 
a maioria da população mundial resida em cidades. (Santos, 2009) 
Teoricamente, a urbanização corresponde ao crescimento do meio urbano 
em relação ao rural e, portanto, à reestruturação espacial das sociedades 
envolvidas nesse processo, que pode ter ocorrido de modo mais rápido ou mais 
lento, conforme a localidade em que o fenômeno aconteceu. Portanto, é um 
processo de modificação de toda uma sociedade e envolve ampla porção territorial 
e grande contingente demográfico. Desse modo, o conceito de urbanização vai além 
 
19 
 
do crescimento populacional do meio urbano, trata-se do aumento do contingente 
populacional da cidade sobre o contingente do campo. 
 Para que esse fenômeno ocorra, é necessário haver êxodo rural, ou seja, 
a transferência massiva da população do campo para as cidades. Assim, 
urbanização lastreia um processo de modificação de toda uma sociedade, 
envolvendo ampla porção territorial e grande contingente demográfico. Desse 
modo, por trás dessa conceituação em princípio bastante simples, em sua lógica 
numérica, o processo de urbanização envolve realidades sociais, políticas, 
econômicas e culturais carregadas de grande complexidade, pois ocorre a partir de 
uma grande travessia, o êxodo rural. 
 
 
6 OS DIVERSOS CONCEITOS ACERCA DE ORGANIZAÇÃO E VIDA URBANA 
A urbanização intensificou-se imensamente após a Revolução Industrial, 
que teve início na Europa (mais especificamente na Inglaterra), em meados do 
século XVIII, e se expandiu para as áreas periféricas do capitalismo principalmente 
na segunda metade do século XX. Devido à grande complexidade que o fenômeno 
urbano atingiu no mundo contemporâneo, houve uma multiplicação de conceitos 
relativos à organização e à vida urbana. A seguir, são destacados alguns dos mais 
fundamentais. (Lamas, 2010) 
 
20 
 
6.1 Da conurbação urbana à “cidade-dormitório” 
Conurbação urbana é a denominação dada à junção territorial de duas ou 
mais cidades limítrofes até formarem um único núcleo é comum às pessoas se 
deslocar de um município para outro, dentro de uma área conturbada, e sequer 
notarseus limites. 
 A conurbação urbana é muito comum em áreas bastante urbanizadas, e 
provoca diversos problemas relacionados ao uso do solo e das infraestruturas 
urbanas, como transportes, tratamento e fornecimento de água, serviço de esgoto 
e de coleta de lixo, entre outros. (Slack, 2018) 
A fim de que as cidades desse tipo de complexo urbano desenvolvam 
alternativas satisfatórias para tais problemas, surgem as regiões metropolitanas, 
que correspondem a um conjunto de municípios próximos e integrados a uma 
cidade principal (metrópole) pelo aspecto socioeconômico, com serviços públicos 
de infraestrutura comuns. O caso mais expressivo desse fenômeno no Brasil é a 
cidade de São Paulo, que está conurbada com quase todos os municípios limítrofes. 
A migração pendular acaba por tornar-se mais um dos problemas que 
ocorrem nas áreas conurbadas, onde há forte interdependência entre os municípios, 
com tendência a mais influência das cidades maiores, que possuem centralidades, 
também, maiores, sobretudo a metrópole, onde o custo de vida, em geral (e os 
aluguéis, em específico), são maiores, o que obriga a população de menor renda a 
residir em cidades menores, cumprindo um exaustivo deslocamento de trabalho 
cotidiano, considerando que uma das infraestruturas mais precárias é o transporte 
coletivo. Essa condição urbana provoca, também, o surgimento das chamadas 
“cidades-dormitórios”, nas quais os residentes não possuem a vivência do cotidiano 
de seus lugares, pois não vivenciam o seu turno diurno. 
O Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 
aponta para uma população predominantemente urbana no Brasil, que denota 
novas formas de migração humana, entre elas a migração de tipo diária (pendular), 
um típico movimento urbano-urbano local (INSTITUTO BRASILEIRO DE 
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2016). 
 
21 
 
6.2 Da metrópole à megalópole 
Nos municípios onde ocorre a conurbação, surgem as regiões 
metropolitanas, as quais gravitam em torno de uma metrópole, que corresponde a 
uma cidade de elevado desenvolvimento urbano que promove intensa centralização 
ao seu redor, provocando a gravitação de uma extensa porção da rede urbana em 
torno de si, em razão da concentração de atividades econômicas, como comércio e 
serviços especializados, e, por conseguinte, do capital e da geração de empregos 
das mais variadas exigências de qualificação. Note-se que o conjunto de cidades 
conurbadas à metrópole e que gravitam imediatamente em torno dela constitui uma 
região metropolitana. (Santos, 2009) 
A expressão megalópole corresponde a um aglomerado (uma conurbação) 
de várias regiões metropolitanas, caso de uma faixa que se estende pela costa leste 
norte-americana, de Boston a Washington DC, e compreende Nova York, Filadélfia 
e Baltimore, daí sua denominação de Bosnywashou Bos-Wash. Esses tipos de 
aglomeração são típicos do mundo criado pela Revolução Industrial, mas tornaram-
se muito expressivos e evidenciados na segunda metade do século XX. 
Na porção densamente urbanizada do nordeste dos Estados Unidos, 
chama atenção outra megalópole, a Chipitts (estende-se de Chicago a Pittsburgh); 
outra megalópole estadunidense se situa na Califórnia, em uma das regiões mais 
ricas do mundo, sendo integrada pelas metrópoles de São Francisco, Los Angeles 
e San Diego. É informalmente conhecida como San-San. Diferente da megalópole 
Bosnywash, na californiana, o grau de conurbação é bem menor; no entanto, as 
cidades que a compõem estão fortemente integradas por modernas redes de 
transportes e telecomunicações. No mundo contemporâneo, ao mesmo tempo em 
que há uma rede de cidades, estas estão interconectadas globalmente por redes, 
sendo as cidades globais um bom exemplo disso. 
Há megalópoles em outras localidades, como na Europa, onde há extensas 
áreas de conurbação (caso da Londres-Birmingham-Manchester, uma área 
econômica britânica de grande importância), e no Japão (Tokaido se localiza no 
sudeste japonês e abrange a capital, Tóquio, além de cidades como Osaka, Kyoto 
 
22 
 
e Kobe, entre outras). No Brasil, há anos vem se formando uma megalópole entre 
as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro no rodoviário da via 
Presidente Dutra, situada no Vale do Paraíba. 
6.3 Quantidade versus qualidade: megacidades e cidades globais 
O conceito de “megacidades” corresponde a uma definição quantitativa. Por 
definição, são áreas urbanas com mais de 10 milhões de habitantes, os 
pesquisadores da área afirmam que o mundo possui cerca de 60 megacidades, as 
quais abrigam mais de 600 milhões de pessoas. Atualmente, é nessas áreas que 
ocorre a maior parte do processo de urbanização global. 
 Já o termo “cidade global” corresponde a um conceito qualitativo, pois 
essas cidades também conhecidas como metrópoles mundiais possuem influência 
em âmbito mundial, influenciando, portanto, os centros urbanos do próprio país e 
de outras áreas do planeta. (Santos, 2009) 
São algumas características típicas dessas cidades: influência e ativa 
participação em eventos internacionais, Nova York, por exemplo, sedia a ONU, 
enquanto Bruxelas é sede da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do 
Atlântico Norte (OTAN); área central com significativo contingente demográfico 
(embora não seja o essencial); presença de aeroporto internacional de grande porte, 
que serve como base para linhas aéreas internacionais; sistema avançado e 
eficiente de transportes, fato que inclui vias expressas, autoestradas e sistemas de 
transporte público; sedes de grandes companhias, como conglomerados e 
empresas transnacionais, que contam com bolsa de valores de projeção mundial 
com a presença de instituições financeiras de porte, ou seja, um polo financeiro; 
infraestrutura avançada de telecomunicações e presença de aparato cultural, com 
museus, centros de referência multicultural, bibliotecas, pinacotecas, teatros, 
cinemas, entre outros. 
Seguramente uma das maiores marcas dessas porções territoriais é a 
cosmologia humana que elas apresentam, pois há um gigante fluxo local e 
internacional de pessoas, o que lhes confere caráter cosmopolita, com um talhe 
 
23 
 
multicultural e multicomportamental. Nas metrópoles que recebem mais migrantes, 
são publicados periódicos, até mesmo diários, em variados idiomas. 
6.4 Rede e hierarquia urbanas 
A rede urbana é o conjunto articulado de cidades, desde as pequenas aos 
grandes centros urbanos, que se integram em escalas mundial, regional e local por 
meio de fluxos de serviços, mercadorias, capitais, informações e recursos humanos. 
A rede se configura, portanto, pelo sistema de cidades interligadas umas às outras 
por meio do sistema de transportes e de comunicações. (Borges, 2010) 
O professor Milton Santos (1994) nos lembra que vivemos em um meio 
técnico-científico e informacional, e, nesse contexto, o entendimento das 
articulações da rede urbana nos leva ao reconhecimento de que está apresenta 
intensa fluidez devido à integração da rede de cidades em redes informacionais, o 
que promove a flexibilização das relações intralugares, em vez da rigidez verificada 
em um passado não muito distante destarte os altos e baixos do desenvolvimento 
tecnológico no Brasil do último triênio do século XX, algumas instituições 
empresariais iniciam processo de integração tecnológica nos anos 1970. 
É comum que essa rede redunde uma estruturação por meio de uma 
hierarquia, em que as cidades menores costumam ser relativamente dependentes 
das cidades maiores e economicamente mais desenvolvidas. Nesse caso, quando 
cidades de maior porte exercem influência nas cidades de menor porte, ocorre uma 
determinada estrutura econômica e, por conseguinte, uma rede de ligações e de 
influências entre os centros urbanos, como no caso brasileiro, que possui segundo 
classificação do IBGE uma divisão em cinco grupos de cidades (metrópoles, capitais 
regionais,centros sub-regionais, centros de zona e centros locais). 
 
 
 
24 
 
7 AS CONTRADIÇÕES NO PROCESSO DA URBANIZAÇÃO BRASILEIRA 
O conjunto das formações urbanas brasileiras constitui a rede urbana 
nacional, uma estrutura altamente dinâmica, que foi construída ao longo de um 
processo histórico com suas idiossincrasias, que lhe conferem características muito 
particulares, como as gigantescas contradições que marcam a urbanização 
brasileira. (Slack, 2018) 
Esse processo remonta aos primórdios da construção do Brasil, ou seja, à 
própria estruturação da colônia, quando Portugal com sua economia mercantilista e 
seu regime feudal muito particular organizou o território colonial na forma de 
“capitanias hereditárias”, com a intenção de tomar posse das terras encontradas em 
1500. Essas faixas de terras eram doadas pelo rei a nobres e outras pessoas de 
confiança, denominados donatários, cuja função era a de colonizar o novo território, 
ou seja, administrá-lo, protegê-lo e promover o desenvolvimento de atividades 
econômicas de interesse da metrópole. 
Em razão das particularidades de uma colonização agroexportadora de 
fixação rural, as cidades brasileiras se desenvolveram ao longo do litoral e, com 
isso, não possuíam muita importância política ou econômica, daí serem 
historicamente marcadas por elevados níveis de pobreza e por graves problemas 
de salubridade urbana, como no caso dos dejetos lançados nas ruas à espera das 
chuvas, situação que se agravava mais ainda quando cadáveres destacadamente 
de escravos eram depositados nos monturos de lixo e torrenciais chuvas tropicais 
espalhavam a lama pelas ruas, nesse contexto, surgiram as primeiras cidades 
brasileiras, como Igaraçu, em 1527; Marim (Olinda), em 1530; Recife, em 1531 
(todas em Pernambuco); São Vicente e Itanhaém, 1532 (em São Paulo) e Vitória, 
em 1535 (Espírito Santo). 
A ocupação do Brasil a partir de 1500 significou, também, o massacre e/ ou 
a transculturação de nativos que ocupavam seu vasto território e, antes da chegada 
de Pedro Álvares Cabral, se organizavam sob a forma tribal, com configurações 
culturais distintas da portuguesa. Nesse contexto, os primeiros embriões das 
cidades são os aldeamentos indígenas desenvolvidos sobretudo por jesuítas, mas 
 
25 
 
também por franciscanos ou dominicanos, entre outras companhias religiosas. Em 
geral, esses aldeamentos possuíam uma formatação de “tabuleiro de xadrez”, 
dentro do qual a Igreja possuía uma posição de destaque. A cidade de São Paulo, 
capital do Estado homônimo, é um caso expressivo de cidade desenvolvida nesse 
período. Por outro lado, cidades como Salvador, no Estado da Bahia, Natal, capital 
do Rio Grande do Norte, Fortaleza, no Ceará, Manaus, a capital do Estado 
Amazonas, e Belém, no Pará, tiveram origem na função militar. 
Naturalmente, os clássicos ciclos econômicos são criadores de cidades, 
caso do “ciclo do ouro”, que gerou suas cidades, atualmente denominadas de 
“cidades históricas”, as quais retiram boa parte de sua receita do turismo histórico 
(casos de Ouro Preto, originalmente denominada Vila Rica, em Minas Gerais; e de 
Ouro Fino, em Goiás). A atividade mineradora, sobretudo nas Minas Gerais, 
intensificou o deslocamento de tropas em direção à região aurífera, o que exigiu a 
abertura de caminhos, induzindo, assim, o surgimento de núcleos urbanos, como 
Pouso Alegre e Pouso Alto, em Minas Gerais. Para chegar a Minas Gerais e Mato 
Grosso em busca do ouro, os bandeirantes passavam pela região da atual 
Sorocaba. Há, inclusive, uma significativa lista de casos de cidades associadas à 
mineração. 
 Porém, no sentido do fenômeno urbano, o mais prodigioso dos ciclos foi o 
da cafeicultura, que dinamizou intensamente o espaço, como no caso da construção 
de estradas de ferro, ao longo das quais surgiram cidades, por vezes, aldeias e 
pousos já instalados tornaram-se cidades. Ainda nesse contexto, a partir de 1850, 
foi intensificada a vinda de imigrantes (destacadamente para a lavoura do café) que 
contribuíram para a intensificação e a renovação urbana: a arquitetura foi 
diversificada com a contribuição de italianos e ingleses, entre outros grupos 
humanos. Note-se que, nas cidades surgidas no período, a rua principal parte da 
estação ferroviária e, invariavelmente, há uma praça na qual foi edificada a igreja 
matriz. (Santos, 2009) 
Com a dinâmica demográfica, social, econômica e política, desencadeada 
pela cafeicultura, ocorreu a abolição da escravatura e intensificou-se a circulação 
humana em direção a alguns centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, 
 
26 
 
onde se avolumou o fenômeno urbano da moradia precária e das populações 
marginalizadas espacialmente, caso das favelas, das estalagens e cortiços. 
(Castells, 2000) 
 Assim, em razão do pujante ciclo do café, no final do século XIX, o 
capitalismo firmou-se no Brasil, provocando uma nova dinâmica econômica que 
afetou os meios rural e urbano. Houve, a partir daí um crescimento territorial e 
populacional das cidades, em um processo contínuo que se intensificou 
substantivamente no pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando foi 
realizado o desenvolvimento industrial amparado no capital externo. 
No contexto dessas transformações espaciais verificadas pelo Brasil, ao 
longo do século, sobretudo após a Segunda Guerra, houve: 
 
 Intenso êxodo rural, que atingiu a região Sudeste com maior intensidade. 
Esse fenômeno contribuiu tanto para o processo de urbanização, quanto 
para o inchaço urbano, uma vez que a dinâmica da economia e o 
desenvolvimento de infraestruturas essenciais, como educação, saúde, 
saneamento e lazer, não acompanharam o crescimento populacional. O 
êxodo rural foi consequência de um conjunto de fatores: principalmente a 
inserção das relações de produção capitalistas no meio rural, por meio da 
introdução do trabalho assalariado e das técnicas agrícolas (tratores e 
máquinas em geral, sementes selecionadas e insumos agrícolas). 
Destacam-se, ainda, a má qualidade de vida no meio rural, decorrente da 
precaríssima distribuição de renda, da inexistência ou da precariedade dos 
serviços oferecidos, da insalubridade das moradias que, em sua maioria, não 
eram atendidas por água encanada e luz elétrica; a capacidade produtiva 
reduzida nas pequenas e médias propriedades, que eram devoradas pelos 
latifúndios, seja para especulação imobiliária ou para produção em escala 
comercial, pois a produção rural passou a atender cada vez mais à indústria 
e à exportação; a violência no campo, decorrente da estrutura agrária 
concentradora ainda hoje existente no Brasil. 
 
27 
 
 Intensa atração de contingentes migratórios extra-regionais, entre os quais 
se destacaram os nordestinos, expulsos de sua região devido às péssimas 
condições de vida. Esse fato, em conjunto com o êxodo rural e a migração 
advinda das pequenas localidades em direção às grandes cidades da região 
Sudeste (destacadamente São Paulo), contribuiu enormemente para a 
urbanização regional, assim como para o aparecimento de conurbações 
urbanas, e uma diversidade de problemas. Se o migrante vislumbrava 
melhorias nas condições de vida, o resultado que se verificou não foi o 
esperado, pois as cidades não conseguiram oferecer empregos e 
infraestruturas suficientes para toda a população. Chame a atenção, ainda, 
para o fato de que a cidade demanda mão de obra minimamente qualificada, 
e o campo oferece extensiva mão de obra de baixa qualidade formativa, a 
qual, em princípio, serviu à expansão da construção civil, mas, 
posteriormente, ampliou muito os estoques de capacidade de trabalho com 
salários baixos aquilo que Karl Marx denominou de exército de reserva. 
8 AS CONTRADIÇÕES DO INTENSO E DESORDENADO PROCESSO DE 
URBANIZAÇÃO 
As consequências do crescimento urbano rápido e intenso são 
persistentemente visíveis em pleno século XXI: deficiências de infraestruturas; 
precariedadeda moradia como expressão da segregação espacial e surgimento de 
sub-habitações, como favelas, cortiços e moradias autoconstruídas; segregação do 
espaço urbano; precariedade ou insuficiência do transporte urbano; explosão da 
violência e do narcotráfico; além da hipertrofia do setor terciário e da precarização 
do trabalho, as quais produziram um denso circuito inferior da economia. Esse 
crescimento rápido e desordenado das cidades provoca o inchaço urbano, uma 
situação de deficiências no planejamento, denominada de macrocefalia urbana. 
(Slack, 2018) 
Para piorar o quadro, lembremos que o Brasil desenvolveu um sistema de 
transportes baseado no eixo rodoviário, o que provoca congestionamentos, perda 
 
28 
 
de qualidade de vida para toda a população (em particular a de baixa renda), 
poluição, entre outros problemas. 
 Soma-se à falta de planejamento urbano e à deficiência de infraestruturas 
a especulação imobiliária, expressão que denomina uma prática rentista de se 
produzir estoque de bens imobiliários, como terrenos, prédios, casas, entre outros, 
com a finalidade de produzir valor futuro por meio da elevação dos preços de tais 
imóveis. Trata-se de apostas especulativas, que, em geral, produzem impactos 
variados sobre o tecido social e econômico da vida urbana, geralmente negativos. 
Se a horizontalização e a verticalização urbanas são marcantes expressões 
da especulação imobiliária brasileira, a formação de uma cidade dual de um lado 
uma cidade formal e de outro uma cidade informal, é fortemente influenciada pela 
mesma prática econômica especulativa. 
 Em todo o mundo, e, em nosso caso, no Brasil, especificamente, algumas 
cidades apresentam elevado nível de especulação imobiliária, recurso econômico 
que provoca efeitos variados no espaço geográfico das cidades, sobretudo no que 
diz respeito à supervalorização do preço do solo urbano, que se torna mercadoria, 
sujeita às regras do mercado, em detrimento de cumprir papel social. Desse modo, 
o mercado imobiliário aposta na valorização futura dos imóveis, garantindo 
estoques de solo urbano à espera da ampliação do valor, ou promove investimentos 
pontuais que induzam à valorização, como obras, inclusive de embelezamento. 
(Lamas, 2010) 
Essa prática envolve a ação de grandes empresas incorporadoras, mas 
também de pequenos proprietários, que apostam em ganhos futuros com a 
valorização de certas localidades do espaço urbano. Com isso, ocorre o aumento 
do preço do solo, fato que expande o desenvolvimento de espaços socialmente 
especializados, tornando difícil a aquisição de imóveis, sobretudo à população de 
menor renda. 
Na esteira dessa prática econômica, ocorre, também, a formação de lotes 
e edificações vazios, uma vez que os proprietários ficam à espera de valorização 
espacial, e, por consequência, intensifica-se a horizontalização da cidade (que 
demanda cada vez mais gastos públicos), pois, além dos espaços vazios no centro 
 
29 
 
ou nas suas proximidades, outros loteamentos vão se firmando em áreas cada vez 
mais distantes do centro, o que provoca sua valorização e empurra as pessoas de 
menor renda para distâncias cada vez maiores, nas quais são desprovidas de 
infraestruturas básicas, como transportes adequado e saneamento básico. Some-
se a isso a escalada da violência ancorada no desordenamento espacial. 
 Assim, os espaços residenciais se diferenciam sob o ângulo 
socioeconômico, sendo a variável renda uma fortíssima definidora de diferenciação, 
o que não quer dizer que não existam outros fatores, como o étnico, que se 
entrelaça historicamente com o fator renda: a maioria dos moradores de favela nas 
regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste é afrodescendente, e mesmo na região 
Sul, onde há presença mais expressiva de brancos residentes em favelas, boa parte 
da população favelada descende de escravos africanos. Isso nos mostra a força de 
inércia de uma “liberdade” formalmente conquistada há mais de um século, mas 
que não veio acompanhada de condições reais de acesso à qualificação 
profissional, à educação e à moradia digna. (Santos, 2009) 
No Brasil, a segregação afeta enorme parcela da população de uma cidade, 
a qual reside em favelas, em loteamentos de periferias ou em cortiços. Não se trata 
da segregação de um grupo específico, por razões étnicas ou culturais, ainda que 
a correlação entre pobreza e etnicidade seja flagrante. Ocorre, efetivamente, de os 
pobres residirem em locais afastados do CBD devido ao seu baixo poder aquisitivo. 
Por todas essas situações, urbanistas, geógrafos, sociólogos e outros 
profissionais refletem o fenômeno urbano, além de cidadãos atentos e militantes de 
movimentos de desfavorecidos, por exemplo, verem com bastante apreensão a 
escalada da especulação. 
9 URBANIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA 
Enquanto a indústria comandava a economia, as aglomerações urbanas 
surgiam em função dos parques industriais, formando cidades com grande 
população e relevância na hierarquia urbana. Essas cidades e suas redes urbanas 
eram articuladas em função da manutenção do processo de urbanização e 
 
30 
 
industrialização, o que tornava os outros núcleos urbanos à sua volta dependentes 
das decisões das cidade-polo. (Borges, 2010) 
No decorrer das décadas de 1980 e 1990, a indústria vinha perdendo força 
e influência na economia brasileira de forma gradativa, enquanto o setor de serviços 
experimentava um importante crescimento. Além disso, com a globalização, o perfil 
industrial foi sendo alterado: as grandes indústrias, com muitos empregados em sua 
linha de produção, foram sendo substituídas por fábricas de alta tecnologia. 
 A mudança no perfil industrial exigia um novo tipo de espaço urbano, pois 
as grandes cidades já não eram tão atrativas, já que não havia necessidade de tanta 
mão-de-obra, além dos custos operacionais nas grandes cidades serem mais 
elevados. 
 O espaço urbano e as cidades foram sendo reestruturados em função da 
mudança do perfil industrial, além da interação entre as indústrias de alta tecnologia, 
as atividades artesanais, que são desempenhadas pelas micro e pequenas 
empresas, e o setor de serviços. Essas duas últimas são também desempenhadas 
em espaços dispersos, especialmente nas cidades médias, em função do custo. 
Diante desse cenário, as grandes indústrias começaram a se deslocar para 
as cidades de porte médio, periféricas aos grandes centros urbanos, onde foi 
possível diminuir os custos de operação, como aluguéis, salários dos trabalhadores, 
mobilidade urbana, dentre outros. Foi assim, por exemplo, que a cidade de Cubatão, 
em São Paulo, localizada a 58 km da região metropolitana da capital, se consolidou 
como um importante parque industrial. 
Entretanto, as micro e pequenas empresas apresentam um papel 
fundamental na articulação espacial das cidades médias. Para essas empresas, as 
relações entre o cliente e o fornecedor são baseadas em custos relacionados a 
distância e, por isso, elas se aglomeram, organizando, de uma certa forma, o 
território. Essa articulação interna dos territórios aumenta a relevância das cidades 
médias como agentes do processo de descentralização das políticas públicas 
(SANTOS, 2008). 
 Diversos fatores contribuíram para a mudança do padrão de urbanização 
no Brasil, dentre os quais podemos destacar a queda nas taxas de fecundidade, a 
 
31 
 
crise econômica entre 1980 e 1990 e a própria descentralização da atividade 
industrial. 
 A diminuição das taxas de fecundidade pode ser atribuída à própria 
dinâmica do processo de urbanização. Uma família numerosa na cidade não era 
uma vantagem; ao contrário, significava maiores gastos, especialmente com 
relação à habitação, e ainda representava um obstáculo à ascensão social e 
econômica. Dessa forma, houve uma redução das taxas de fecundidade, 
diminuindo a oferta de migrantes e o crescimento da população das cidades. 
(Castells, 2000) 
Por suavez, a crise econômica que o país atravessou entre as décadas de 
1980 e 1990, em decorrência das consequências do choque do petróleo, que 
provocou o aumento dos juros internacionais, só fez crescer a dívida externa 
brasileira. Além disso, a crise promoveu uma forte queda na produção industrial. Os 
problemas econômicos acabaram gerando outras mudanças de grande significado, 
como o fim do regime militar e o retorno do regime democrático; o fim do ciclo de 
industrialização via substituição de importações; e a implantação das teorias 
neoliberais, incluindo a privatização de várias grandes empresas nacionais, a 
abertura da economia e a redução do papel do Estado. 
 Todos esses fatores tiveram consequências que culminaram em um dos 
impactos mais importantes para o processo de concentração urbana, que foi o 
aumento do desemprego e da pobreza. As grandes cidades foram as mais afetadas 
pela crise econômica, especialmente os setores industriais e de construção. A 
redução das oportunidades econômicas nas grandes cidades diminuiu e até 
inverteu, por algum tempo, os fluxos migratórios tradicionais, gerando fortes 
correntes de migração de retorno e até as primeiras correntes importantes de 
emigração para o exterior. Nesse contexto, as cidades não metropolitanas ou 
cidades médias se apresentaram como uma opção e uma nova oportunidade, e a 
partir daí foram registradas taxas de crescimento populacional maiores do que as 
taxas observadas nas cidades metropolitanas. 
 Ademais, antes mesmo da crise econômica, já estava ocorrendo um 
processo de descentralização da produção, especialmente na região de São Paulo, 
 
32 
 
o que sinalizava um novo padrão de urbanização e de crescimento das cidades. 
Somado a isso, também havia uma importante iniciativa por parte dos governos 
para integrar as diferentes regiões do país por meio de incentivos fiscais e outros 
investimentos governamentais, como a Zona Franca de Manaus. Os próprios 
empresários aproveitaram essas iniciativas para descentralizar suas atividades, 
fugir dos problemas das grandes metrópoles, abrir novos mercados e aumentar sua 
lucratividade. 
Por outro lado, essa descentralização das atividades econômicas 
observada entre as décadas de 1980 e 1990 não diminuiu a relevância das grandes 
metrópoles no cenário urbano nacional. Mesmo com duas décadas de crescimento 
econômico reduzido, as metrópoles brasileiras apresentaram um aumento 
populacional absoluto importante, pois, apesar da estagnação das cidades-polo, as 
periferias das grandes metrópoles continuaram crescendo a um ritmo acelerado. 
(Slack, 2018) 
A partir da década de 1990, uma nova ordem urbana foi sendo constituída 
na hierarquia urbana brasileira, com a reorganização e a mudança dos papéis das 
cidades, além do seu reposicionamento em relação à sua importância regional e 
nacional. Essas alterações se processaram em decorrência do novo padrão urbano, 
que mudou a forma como as cidades e suas redes urbanas se relacionavam. 
 As mudanças observadas no decorrer da década de 1990 refletiram-se no 
aparecimento de uma nova rede urbana, com cidades mais ou menos qualificadas 
dentro da hierarquia urbana, e localizadas longe dos locais tradicionais, como o 
interior do país. As cidades médias passaram a exercer influência e a atrair novos 
habitantes em decorrência das suas funcionalidades e do papel que desempenham 
na rede urbana regional, nacional e internacional. 
9.1 As cidades médias 
O processo de metropolização brasileiro esteve associado ao processo de 
industrialização de partes do espaço geográfico e às dinâmicas de acúmulo de 
capital, que originaram nove regiões metropolitanas, as quais comandavam a 
 
33 
 
organização do território. O desenvolvimento das cidades médias foi um aspecto 
fundamental dessa organização em um nível hierárquico inferior, atuando como 
polos regionais e contribuindo para a articulação das escalas de produção e 
consumo (SANTOS, 2009). 
 Entretanto, o fenômeno metropolitano contemporâneo tem resultado em 
novas formas urbanas, que se caracterizam pela tendência à dispersão, alta 
mobilidade e desconcentração territorial, espalhando-se pelas áreas urbanas e 
rurais. Em vista disso, as cidades médias podem ser consideradas um fenômeno 
oposto ao processo vivenciado inicialmente pelas grandes cidades que resultaram 
na metropolização. 
 Por definição, as cidades médias não se encontram em um contexto 
metropolitano, possuindo uma posição definida na hierarquia urbana e na 
organização do território. No entanto, com a relevância que foram adquirindo com o 
tempo, essas cidades passaram a indicar o surgimento de um nível hierárquico 
intermediário. Portanto, as cidades médias brasileiras apresentam uma grande 
importância para o funcionamento das redes urbanas, pois possuem características 
que as aproximam das grandes metrópoles, como a oferta de bens e serviços e os 
demais fluxos econômicos, mas ao mesmo tempo não apresentam os mesmos 
problemas. 
10 SOCIEDADE, INDUSTRIALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL 
Entender a industrialização a partir dos conhecimentos geográficos é 
analisar sua relação com os padrões de consumo de diferentes sociedades, a partir 
da compreensão da dinâmica de uma sociedade industrial que tem se 
transformando e absorvido novos elementos das tecnologias e da informática, 
provocando grande mudança no mundo do trabalho. Conforme aponta Scarlato 
(2009, p. 31): 
 
 
 
34 
 
Tendências na evolução das técnicas associadas à cultura do 
consumo tornam-se importantes fatores na análise do processo de 
distribuição espacial de indústrias pelo mundo, na produção de bens de 
consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis, etc.). Isso permite 
compreender que a geografia das indústrias está intimamente relacionada 
com o estudo dos comportamentos do consumo, que por sua vez está 
relacionado com o processo do crescimento e da distribuição de renda. 
A indústria é uma atividade integrante da cultura humana, que aliou energia 
e trabalho para produzir coisas ao longo da história. É importante situar a questão 
da industrialização de forma mais ampla, uma vez que produzir e consumir são 
práticas intrínsecas na vida da sociedade. Como destaca Scarlato (2009, p. 330), 
“[...] ao consumir, pode-se estar realizando sonhos é o ‘fetiche da mercadoria’, o 
consumo como alienação”. 
Associado ao sentido dessa cultura de consumo no Brasil, a atividade 
industrial está ligada aos padrões estéticos que o mercado demanda. Nesse 
aspecto, o processo de industrialização vai além da natureza econômica, tendo o 
produtor que se atentar ao que o consumidor está interessado, considerando 
também os aspectos estéticos ao desenhar e colocar um produto no mercado 
(SCARLATO, 2009). 
Além disso, os produtos a serem consumidos também exprimem a 
influência dos mercados, sobretudo a partir da globalização. É o que ocorre com a 
influência norte-americana no mundo. Assim, muito do que se produz e se consome 
é pela divisão cultural dos comportamentos e costumes permitida pela velocidade 
das trocas de informação com os meios de comunicação. As mudanças 
tecnológicas revolucionaram a cultura das sociedades, implicando em 
transformações dos territórios e das paisagens. É o caso do surgimento da energia 
elétrica, do petróleo, da energia nuclear, dentre outros. 
Como se não bastasse, o desenvolvimento das redes de transportes, em 
seus diferentes modais (rodoviário, ferroviário, hidroviário, etc.), e dos meios de 
comunicação favoreceu a descentralização industrial pelo mundo, permitindo a 
expansão geográfica de grandes empresas dos países desenvolvidos para os 
países subdesenvolvidos. Hoje é possível controlar e administrar uma empresa de 
 
35 
 
outro continente, por exemplo, apenas a partir dos avanços tecnológicos da 
informática e das telecomunicações, como ocorre com as empresas multinacionais. 
De acordo com Scarlato (2009,p. 336): 
O avanço das técnicas e das ciências que estruturam o mundo 
contemporâneo criou as bases de uma nova ordem mundial, de novas 
formas de agir e de pensar. As sociedades que controlavam essa 
revolução tecnológica são capazes de estabelecer novas fronteiras 
políticas, econômicas e culturais, tanto da divisão das fronteiras entre os 
países como no interior dos mesmos. 
O Brasil tem seu papel nessa mesma ordem mundial, tanto na estruturação 
de seu território quanto nas diferenças regionais verificadas, fenômeno também 
chamado de nova colonização empresarial (SCARLATO, 2009), que procura se 
apropriar da cultura e de novos mercados, independentemente da propriedade do 
território. 
Para uma empresa se fixar em determinada localidade, são observados 
itens das chamadas economias externas. Isso ocorre porque ela não produzirá tudo 
o que necessita, dependendo de outros produtores. Assim, para viabilizar sua 
produção, a empresa procurará locais para disponibilidade de bens e serviços como 
energia, insumos, transporte, serviços bancários e de comunicação, mão de obra, 
reparo e manutenção de equipamentos. Com isso, a existência das economias 
externas foi um dos fatores que determinaram a escolha de certas localidades. 
É o que explica a região Sudeste ter recebido grandes empreendimentos 
estrangeiros que vieram para o Brasil, justamente por apresentar economias 
externas mais desenvolvidas, que em grande parte foram feitas por investimentos 
públicos do Estado brasileiro. No entanto, o Brasil ainda precisa de investimentos 
em diversas áreas para garantir segurança às empresas que desejam se instalar no 
país, como em transportes ferroviários, ciência, tecnologia, dentre outros, 
fundamentais para o avanço da produção, principalmente aumentando oferta de 
energia, para que indústrias possam ter segurança energética suficiente ao seu 
processo produtivo ao se instalarem no país. 
Cada região brasileira teve e tem sua importância do ponto de vista 
industrial. Durante o período entre a colonização até o início da Segunda Guerra 
 
36 
 
Mundial, a importância de cada região era dada pela sua representatividade nas 
exportações dos produtos primários produzidos naquela época, como cana-de-
açúcar (Nordeste), ouro (Minas Gerais), café (São Paulo) e borracha (Amazônia). 
Segundo Scarlato (2009), ao mesmo tempo em que esses produtos geraram 
grandeza e riqueza, também levaram várias regiões à estagnação econômica, 
exceto o café, que criou seu próprio ciclo socioeconômico, que mais tarde favoreceu 
o processo de industrialização brasileiro. 
 Desde a década de 1990, o Brasil voltou a ter seu setor industrial 
desfavorecido, havendo um retrocesso na industrialização brasileira, sobretudo pela 
redução no número de indústrias e a decadência da qualidade da indústria 
manufatureira, tornando-se um país dependente de importações de alto padrão 
tecnológico (BORGES; CHADAREVIAN, 2010). Esse processo, que alguns 
economistas chamaram de desindustrialização, é marcante em países como o 
Brasil (BRESSER-PEREIRA, 2007, p. 129): 
[...] diferente do que vem ocorrendo nos países ricos. Enquanto 
nesses países a desindustrialização implica transferência de trabalho para 
setores com maior conteúdo mercadológico e tecnológico, no Brasil a 
desindustrialização é regressiva, consequência [...] da política de atrair 
poupança externa; é um processo de transferência da mão de obra para 
setores agrícolas e mineradores, agroindustriais, e industriais tipo 
maquiladora caracterizados por baixo valor adicionado per capita. 
Cabe salientar também os danos que o processo de industrialização 
acarreta à natureza, afetando diretamente a qualidade de vida da sociedade, como 
aponta Ross (2009, p. 213): 
Enquanto o homem cultivava, criava, coletava ou extraía do solo 
recursos naturais apenas para sua sobrevivência, a distância entre ele e a 
natureza era pequena. Com a expansão do comércio por todo o planeta e 
as necessidades que foram sendo criadas pelas sociedades humanas, 
intensificou-se a apropriação dos recursos naturais. As necessidades de 
sobrevivência e a grande criatividade humana têm possibilitado aos 
homens aproveitar cada vez mais os recursos disponíveis na natureza. A 
intensificação comercial, como o acúmulo de reservas monetárias, fez 
surgir a ideologia do capital, ou seja, da concentração de riquezas através 
do ganho pela troca de mercadorias e moedas entre diferentes sociedades 
humanas. 
 
 
37 
 
E para satisfazer as necessidades do consumo humano no ritmo em que a 
sociedade demanda, foi necessário intensificar o processo de produção, utilizando 
cada vez mais os recursos naturais. Até mesmo os recursos naturais renováveis já 
dão sinais de exaustão, no sentido de que já não mais se renovam na velocidade 
em que precisamos para produzir e consumir. 
A crescente industrialização concentrada em cidades, a 
mecanização da agricultura em sistemas de monocultura, a generalizada 
implantação de pastagens para criação de gado, a intensa exploração de 
recursos energéticos, como o carvão mineral e o petróleo, a extração de 
recursos minerais, como o cobre, o ferro, o ouro, o estanho, o alumínio, o 
manganês, entre inúmeros outros, alteram de modo significativo a terra, o 
ar e a água do planeta, chegando algumas áreas a degradações 
ambientais irreversíveis (ROSS, 2009, p. 213). 
 
Embora o país tenha evoluído gradativamente na sua industrialização e 
existam bons exemplos de indústrias de ponta, o setor agroindustrial e a indústria 
de base ainda são os mais representativos em termos quantitativos e financeiros 
dentro do setor industrial brasileiro, os quais também têm agregado muita tecnologia 
nos últimos anos, sobretudo a agroindústria, com maquinários e técnicas modernas. 
10.1 Natureza técnica e econômica das indústrias 
 
Para entender a distribuição espacial das indústrias, é necessário entender 
como elas estão organizadas e, posteriormente, como estão classificadas em 
diferentes categorias, como observa Scarlato (2009). 
 
10.1.1 Indústrias extrativistas e de beneficiamento 
 
Trabalham com produtos obtidos da natureza, como minério de ferro, que 
precisa ser britado para facilitar o transporte, como ilustra a Figura 1. 
 
38 
 
 
Fonte: Menegati (2016, documento on-line). 
10.1.2 Indústrias de transformação 
 
Utilizam diferentes técnicas e tecnologias para transformar as propriedades 
dos recursos naturais a serem utilizados na fabricação de produtos, como a indústria 
que transforma a madeira em celulose para ser utilizada na fabricação de papel 
(Figura 2). 
 
Fonte: Menegati (2016, documento on-line). 
É importante destacar que, de acordo com a Classificação Nacional de 
Atividades Econômicas (CNAE) (BRASIL, 2013), as atividades artesanais e 
 
39 
 
manuais, mesmo feitas em casa, e a venda direta ao consumidor de produtos de 
produção própria também podem ser consideradas indústrias de transformação 
quando transformam um elemento em um produto novo. 
 De acordo com o destino dos seus produtos, as indústrias de 
transformação podem ser classificadas em indústrias de bens de produção de uso 
único, que produzem bens intermediários, como as matérias-primas, e bens de uso 
permanente ou bens de capital fixo, como máquinas e equipamentos; e indústrias 
de bens de consumo imediato ou não duráveis, os quais são rapidamente 
destruídos pelo uso, como alimentos, remédios, roupas, dentre outros. 
10.1.3 Indústrias de bens de uso durável 
Produzem bens com vida útil mais prolongada, como eletrodomésticos e 
automóveis. Um exemplo nessa categoria seria uma montadora de carros. A 
localização de uma empresa é um fator determinante e uma decisão muito 
importante que deve ser tomada, seja ela do setor produtivo de bens ou da 
prestação de serviços, devendo considerar os recursos disponíveis, as operações 
e clientes com os quais terá que interagir. 
Slack, Brandon-Jones e Johnston

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