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Tutorial 1 - Módulo criança e adolescente

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Tutorial 1 - Módulo criança e adolescente.
1) Conhecer os aspectos fisiológicos, metabólicos e nutricionais da criança e do
adolescente;
· Desenvolvimento e crescimento humano
 O desenvolvimento de um organismo inclui todas as mudanças morfológicas e fisiológicas que contribuem para o curso de seu ciclo de vida. Em formas unicelulares, as mudanças são restritas e ocorrem dentro da própria célula. Entretanto, para formas multicelulares, as mudanças incluem todas as atividades que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas de diferenciação e integração. A diferenciação celular que causa o desenvolvimento morfológico e a especialização funcional é acompanhada por uma contínua síntese e degradação de enzimas e outras proteínas que estão sob controle genético. Os fatores genéticos contidos no ovo ou zigoto apresentam capacidades morfofisiológicas potenciais. Os genes estão presentes principalmente nos cromossomos do núcleo celular, sendo metade oriundos da mãe e metade paternos. O conjunto desses atributos individuais constitui o genótipo. Desenvolvimento e crescimento 8 humano: da concepção à puberdade. A partir de um único ovócito fertilizado, desenvolvem-se diferentes tipos de células. No controle do desenvolvimento atuam os chamados genes que determinam aspectos semelhantes no desenvolvimento do corpo. Um dos aspectos principais na genética do desenvolvimento refere-se ao modo pelo qual ocorre a ativação sequencial dos genes no início deste processo. A expressão e manifestações decorrentes do genótipo podem ser modificadas pela ação ambiental. Outras manifestações no indivíduo dependem da capacidade de expressão do seu genótipo. É muito importante considerar que a influência dos genes não se manifesta somente no momento da concepção, no período embrionário, no nascimento ou ainda em momentos determinados da história de vida dos indivíduos. Os processos de desenvolvimento estão sujeitos a contínuas influências genéticas e genes diferentes podem manifestar a sua ação em épocas distantes. Assim, a distrofia muscular do tipo Duchenne, de herança recessiva e ligada ao sexo, se manifesta a partir do primeiro ano de vida, de modo progressivo, sem que fatores ambientais possam influenciar neste processo que leva à morte do indivíduo, muitas vezes até a segunda década de vida. Em relação ao crescimento, poucas funções biológicas dependem tanto do potencial genético quanto esta. Entretanto, desde o momento da concepção, o ambiente pode perturbar a ordenação, qualidade e quantidade do fenômeno: o crescimento depende, na verdade, da integração organismo/ambiente. Crescimento e desenvolvimento são processos paralelos, mas com conceitos próprios e não obrigatoriamente dotados de igual velocidade ou de igual sensibilidade aos agravos. Crescimento é aumento de massa por hipertrofia e divisões celulares (passível de aferição por meio de cm e kg) e desenvolvimento é a aquisição de capacidade (somente passível de aferição por meio de provas funcionais). O crescimento humano se caracteriza por 4 fases nitidamente distintas: 
· Fase 1 
 Crescimento intra-uterino, inicia-se na concepção e vai até o nascimento. 
· Fase 2 
 Primeira infância, vai do nascimento aos dois anos de idade, aproximadamente, caracterizando-se por um crescimento incremental, que se inicia no nascimento e estende-se até um mínimo marco inicial da fase seguinte. 
· Fase 3 
 Segunda infância ou intermediária, período de equilíbrio e crescimento uniforme em que o acréscimo anual de peso se mantém no mesmo nível, desde o mínimo limítrofe, anteriormente citado, até o início de uma nova fase de crescimento acelerado. 
· Fase 4 
 Adolescência, fase final de crescimento, que se estende mais ou menos dos dez aos vinte anos de idade. O crescimento inicialmente se acelera, até atingir um máximo em torno dos quinze anos e, depois, declina rapidamente até os 20 anos de idade.
 O crescimento analisado globalmente, é a somatória de fenômenos celulares, bioquímicos, biofísicos e morfogenéticos, cuja integração é feita segundo um plano pré-determinado pela herança, modificado pelo ambiente.
 Em condições normais, cada célula, cada tecido e cada órgão crescem em graus, padrões e velocidades próprias. Há 4 tipos fundamentais de crescimento das estruturas do corpo: 
· Crescimento geral somático 
 Corpo como um todo, dimensões externas (com exceção da cabeça e pescoço), tecido muscular e ósseo, volume sangüíneo, órgãos dos aparelhos respiratório, circulatório e digestivo, rim e baço. Este tipo de crescimento pode ser representado pela curva de peso e estatura, que apresentam aspecto geral de um S, com dois períodos de maior velocidade (zero a dois anos e por ocasião da puberdade). 
· Crescimento neural
 Cérebro, cerebelo e estruturas afins, aparelho ocular, perímetro cefálico. Este tipo caracteriza-se por uma intensa velocidade nos dois primeiros anos de vida. Crescimento linfóide Timo, gânglios linfáticos, amígdalas, adenóides, folículos linfóides intestinais. O desenvolvimento máximo das estruturas linfóides ocorre entre os oito e dez anos de idade.
· Crescimento genital 
 Testículos, ovários, epidídimo, vesículas seminais, próstata, útero e anexos. Estas estruturas permanecem quiescentes durante os primeiros oito a dez anos de vida, para então apresentar um crescimento acelerado, dentro das transformações físicas que correspondem à puberdade.
 O desenvolvimento da sexualidade segue um programa biológico básico que se inicia na lactância, quando bebês de ambos os sexos apresentam estimulação oral ou manual. A sexualidade humana pode ser caracterizada de acordo com as diferentes etapas do desenvolvimento em:
· Fase da Primeira Infância 
 Do nascimento até os 4 anos de idade. 
· Fase Pré-escolar (período edipiano) 
 Abrange dos 4 aos 6 anos de idade. 
· Fase da Segunda Infância (período de latência) 
 Dos 6 anos até a puberdade. 
· Fase da Adolescência (da puberdade até a idade adulta) 
 Dos 10 até os 18 anos. Nesta fase os caracteres sexuais secundários desenvolvem-se evidenciando o dimorfismo entre os gêneros. É a etapa principal de formação dos casais. 
· Fase da Maturidade 
 Compreende a idade adulta. 
· Fase da Velhice ou Idade Avançada (da menopausa até o fim da vida) 
 Menopausa Feminina (entre 45 e 55 anos);
 Menopausa Masculina (por volta dos 50 anos de idade).
 De acordo com a teoria freudiana, a evolução psicossocial da criança ocorre de forma gradual. O prazer experimentado pela obtenção de sensações agradáveis concentra-se em três zonas características, determinando diferentes estágios, que acompanham a sua maturação e desenvolvimento e se constituem a base do relacionamento entre a criança, a mãe e o meio que a circunda: 
· Estágio Oral 
 Corresponde aos dois primeiros anos de vida e tem como característica básica à relação da criança com o mundo externo através da boca. A criança experimenta por essa região, além do prazer alimentar, o contato físico e afetivo com a mãe. 
· Estágio Anal 
 Ocorre entre os dois e quatro anos, quando a criança começa a controlar os esfíncteres. Experimenta atividade auto-erótica pela retenção e expulsão das fezes, estabelecendo-se também uma relação com o meio. 
· Estágio Fálico 
 Quando a criança está entre os quatro e seis anos de idade. Nesta fase, o prazer é centrado no pênis, nos meninos, e no clitóris, nas meninas. Ocorre a relação com uma terceira pessoa, caracterizada pela figura do pai, e o estabelecimento de uma relação edipiana acompanhada de sentimentos diversos de admiração, afeto e hostilidade, que levam à formação do superego, pelo conflito das emoções e interdições decorrentes.
· Estágio de Latência
 Fase de desenvolvimento que se estende dos seis anos até o início da adolescência, por volta dos onze anos. Ocorre uma aparente diminuição do interesse sexual.
· Adolescência 
 Período compreendido entre a puberdade e a vida adulta, por volta dos dezoito aos vinte anos. Sob a influência hormonal, os órgãos genitais maturam, o prazer e o desejo sexual manifestam-se.
 A adolescênciaé um período de crise: além das modificações físicas, ocorrem também as comportamentais. Surgem os relacionamentos afetivos, o “ficar” e o “namorar”, que podem significar para o adolescente um caminho seguro para o desenvolvimento afetivo e aquisição de autonomia psíquica. Da infância à adolescência, o indivíduo amplia as suas habilidades através de progressos físicos e mentais que o levam à maturidade.
 Dentro das etapas do desenvolvimento de Piaget, enquanto que a fase sensório-motora (zero a dois anos) é caracterizada pela exploração corporal, na fase pré-operatória (dois a seis anos) é iniciado o reconhecimento das diferenças morfológicas e fisiológicas entre os meninos e meninas, importantes na estruturação cognitiva dos modelos masculino e feminino. A identidade sexual é estabelecida em torno dos cinco a seis anos e ocorre quando as diferenças são interiorizadas, levando a organização dos papéis sexuais.
 O papel sexual é tudo o que alguém diz e faz que indique – a si próprio e aos outros – que é homem ou mulher, constituindo a expressão pública da sua identidade sexual. No que se refere à pessoa com deficiência mental, o processo de identidade e tipificação sexual apresenta-se lentificado em razão da maior dificuldade de estruturação dos conceitos de Eu e do Mundo.
2) Aprender a avaliar e analisar o estado nutricional de crianças e adolescentes;
· AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
 A importância da avaliação nutricional é reconhecida tanto na atenção primária, para acompanhar o crescimento e a saúde da criança e do adolescente, quanto na detecção precoce de distúrbios nutricionais, seja desnutrição ou obesidade. 
 A avaliação do estado nutricional é uma condição fundamental no estudo da criança e do adolescente, sendo possível verificar/averiguar/investigar se o crescimento está se afastando do padrão adotado e esperado, seja por doença e/ou condições sociais desfavoráveis. O método de avaliação do estado nutricional está diretamente relacionado com o objetivo da avaliação, qual seja: diagnosticar a magnitude dos problemas nutricionais, identificar e analisar os seus determinantes para o estabelecimento de medidas de intervenção adequadas. 
 Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (2009), a identificação do risco nutricional e a garantia da monitoração contínua do crescimento fazem da avaliação nutricional um instrumento essencial para que os profissionais da área conheçam as condições de saúde dos indivíduos. Dessa forma, a avaliação nutricional pode ser embasada por diferentes métodos, sejam eles diretos ou indiretos.
· ANTROPOMETRIA 
 A antropometria tem como função “medir as variações nas dimensões físicas e na composição global do corpo humano em diferentes idades e em distintos graus de nutrição”. É um método muito tradicional e utilizado na avaliação do estado nutricional, tanto em indivíduos quanto em coletividades, haja vista suas vantagens, como: facilidade de aplicação, baixo custo e caráter pouco invasivo, além de ser universal. Entretanto, deve-se ponderar seu fator limitante de não identificar, isoladamente, estados carenciais de micronutrientes. É importante salientar a necessidade de capacitação profissional e padronização das técnicas, a fim de garantir a precisão e a acurácia deste método. 
 A avaliação do crescimento é a medida que melhor define a saúde e o estado nutricional de crianças, pois permite avaliar o potencial de desenvolvimento físico alcançado, já que distúrbios na saúde e na nutrição, independente de suas etiologias, invariavelmente afetam o crescimento infantil. Os parâmetros antropométricos usualmente utilizados para avaliar a condição nutricional de crianças e adolescentes são o peso e a estatura (altura ou comprimento). Essas são medidas consideradas de alta sensibilidade, particularmente durante a idade pré-escolar, por refletirem variações nas condições nutricionais e, indiretamente, influências do ambiente socioeconômico. Além dessas medidas, os perímetros cefálico, torácico, braquial e abdominal também podem ser utilizados na avaliação nutricional de crianças e adolescentes. 
· Indicadores Antropométricos de Avaliação do Crescimento e da Massa Corporal 
 A partir da aferição do peso e da altura podem ser calculados os três índices antropométricos mais frequentemente empregados: Peso/idade, Estatura/idade e Peso/estatura, além do Índice de Massa Corporal/Idade.
Peso/Idade (P/I) – Expressa a massa corporal em relação à idade cronológica, refletindo a situação global, isto é, não diferenciando o comprometimento nutricional atual (ou agudo) dos pregressos (ou crônicos). Assim, deve-se realizar a complementação dessa avaliação com outro índice antropométrico. A utilização do indicador P/I é preconizada pelo Ministério da Saúde do Brasil para avaliação do estado nutricional, contemplado na Caderneta de Saúde da Criança. 
Estatura/Idade (E/I) – Expressa o crescimento linear da criança alcançado para uma idade específica. Esse índice é o que melhor aponta o efeito cumulativo de situações adversas sobre o crescimento da criança e do adolescente (valores abaixo do esperado indicam déficit de longa duração), sendo considerado o indicador mais sensível para aferir a qualidade de vida de uma população. Este indicador está presente na Caderneta de Saúde da Criança e também na Caderneta de Saúde dos Adolescentes. 
Peso/Estatura (P/A) – Expressa a harmonia entre as dimensões de massa corporal e estatura, ou seja, a adequação do processo de crescimento. É sensível para identificar tanto o emagrecimento, quanto o excesso de peso da criança, porém necessita de medidas complementares para o diagnóstico de sobrepeso/obesidade, uma vez que não diferencia massa magra e gorda e muito menos a distribuição de gordura corporal. Quando apresenta valores abaixo da normalidade, reflete comprometimento mais recente. 
Índice de Massa Corporal/Idade (IMC/I) – Expressa a relação entre o peso da criança/adolescente e o quadrado da estatura. Utilizado principalmente para identificar déficit nutricional e o excesso de peso entre crianças e adolescentes, tem a vantagem de ser um índice empregado em outras fases da vida. Este indicador é recomendado internacionalmente no diagnóstico individual e coletivo dos distúrbios nutricionais, já que incorpora a informação da idade do indivíduo e foi validado como indicador de gordura corporal total nos percentis superiores. Entretanto, não é capaz de fornecer a composição corporal, sendo, portanto, recomendado que seja associado a outros indicadores, como o somatório das pregas cutâneas triciptal e subescapular e a área muscular do braço.
ANAMNESE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
· Fase pré-escolar e escolar 
– Hábitos alimentares (qualidade e quantidade da alimentação oferecida) 
– Atividade física curricular e extracurricular (incluir atividades dos períodos de lazer) 
– Internações e doenças (infecciosas, anemia, desnutrição) 
– Presença de risco familiar de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e neoplasias, entre outras) 
· Adolescência 
– Avaliação do estadiamento puberal; 
– Percepção da imagem corporal;
– Comportamento: relacionamento com amigos e parentes, rendimento escolar, atividades físicas e de lazer e frequência a fast-foods e praças de alimentação;
– Hábitos alimentares;
– Atividade física curricular e extracurricular;
– Consumo de álcool, anabolizantes e suplementos, tabagismo e uso de drogas ilícitas.
3) Conhecer as necessidades e recomendações nutricionais na infância e
adolescência;
· NECESSIDADES NUTRICIONAIS NA INFÂNCIA
 A nutrição no período da infância varia bastante por ser uma fase da vida com diversas mudanças fisiológicas e metabólicas. Dessa forma, o artigo em questão trouxe informações a respeito de tais necessidades nessa fase da vida.
· DISTRIBUIÇÃO DE MACRONUTRIENTES
 Quando falamos em macronutrientes, temos como recomendações os valores correspondentes a 55 – 60% de carboidratos, 25 – 30% de lipídios e 15 – 20% de proteínas. No entanto, vale ressaltarque as crianças possuem maior requerimento por kg de peso que o adulto, que é facilmente alcançado pela dieta (com valores variados de meninos para meninas). Por isso, é importante incluir no plano alimentos que possuem proteínas de alto valor biológico. Quanto às fibras, estas devem ser oferecidas a partir de 1 ano.
· MICRONUTRIENTES
 Os micronutrientes que geram maiores complicações na infância são o cálcio, o ferro e vitamina A. Então, falaremos mais sobre eles nesse artigo.
· CÁLCIO
 Deve-se atentar às quantidades de cálcio. Este micronutriente está presente em leite e derivados, ovos, oleaginosas e vegetais verdes escuros, por exemplo. No entanto, até 1 ano o leite materno fornece cálcio necessário, não havendo necessidade de preocupação caso a alimentação do bebê inclua esse alimento. 
· FERRO
 O ferro é uma das maiores preocupações, pois é essencial para o sistema do corpo. O leite materno, apesar de possuir pouca quantidade desse mineral, possui alta biodisponibilidade. Por isso, é importante atentar-se para crianças prematuras, com baixo peso e crianças de 6 a 12 meses (que possuem necessidades aumentadas e maior vulnerabilidade), pois estes estão mais propensos a desenvolverem anemia. Nesses casos, recomenda-se o consumo de miúdos 1x semana, frutas ricas em vitamina C (que aumenta a absorção do ferro) após almoço e jantar, consumo diário de carne e vegetais verde escuros, além da suplementação. 
· VITAMINA A
 A vitamina A ainda é um grande problema de saúde pública, e aumenta a susceptibilidade de infecções e mortalidade. No leite materno, as quantidades disponíveis de vitamina A variam de acordo com a alimentação da mãe, sendo necessário, nesses casos, orientar também sua alimentação.
· RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NA ADOLESCÊNCIA
As recomendações nutricionais referem-se às quantidades de energia e de nutrientes que devem conter os alimentos consumidos para que satisfaçam as necessidades de quase todos os indivíduos de uma população sadia. Essas recomendações apesar de o seu objetivo original ser o de prover padrões para a boa nutrição, ele foi dificultado pelo importante fato de que as RDAs foram desenvolvidas com base na quantidade mínima apontada como necessária para a prevenção de deficiências clínicas. Essa limitação tornou-se mais aguda e promoveu impulso para o estabelecimento de novas recomendações, as dietary reference intakes (DRIs), que estão baseadas na quantidade de nutrientes que precisamos não só para prevenir deficiências, mas também para minimizar o risco de doenças crônicas e melhorar a qualidade de vida. 
As referências são as seguintes: 
• Recomendação média estimada (estimated average requirement [EAR]) – refere-se à ingestão de nutrientes que visa atender à recomendação de 50% dos indivíduos saudáveis num estágio particular da vida e mesmo sexo. É empregada para estabelecer uma RDA. Pode ser utilizada para avaliar a adequação da ingestão de grupos e para planejar a ingesta adequada pelos mesmos; 
• RDA – refere-se a uma média de ingestão diária suficiente de nutrientes para atender à recomendação de praticamente todos (97% a 98%) os indivíduos saudáveis num estágio particular da vida e sexo. As RDAs se aplicam ao indivíduo, e não a grupos. E as EARs, por sua vez, servem como base para o estabelecimento das RDAs; 
• Ingestão adequada (adequate intake [AI]) – refere-se à ingestão diária de um nutriente com base em estimativas de ingestões observadas ou determinadas experimentalmente em um grupo de indivíduos saudáveis que se considera adequado. É utilizada quando a RDA não pode ser determinada; 
• Nível tolerável de maior ingestão (tolerable upper intake level [UL]) – valor médio mais alto de ingestão diária de um nutriente que se acredita não colocar o indivíduo em risco de efeitos adversos à saúde(4). O UL ainda não estabeleceu todos os nutrientes. É importante lembrar que as DRIs foram estabelecidas para a população dos EUA e do Canadá, e para sua utilização na população brasileira devem-se considerar prováveis diferenças e, consequentemente, alguns erros associados.
· ENERGIA 
 O requerimento de energia do adolescente é definido para manter a saúde, promover ótimo crescimento e permitir a prática de atividade física.A elevação das necessidades de energia na adolescência é determinada pelo aumento da massa corporal magra, e não pelo acréscimo no peso corporal, com o seu conteúdo variável de gordura. A faixa recomendada de ingestão de energia reflete as necessidades diferentes dos adolescentes. A velocidade de crescimento e o nível de exercícios devem ser considerados na determinação dessas necessidades. As DRIs de energia para adolescente baseiam-se no requerimento estimado de energia (EER/2002), que foi calculado pelo gasto energético e pelas necessidades para o crescimento. 
· PROTEÍNA 
 As necessidades de proteínas dos adolescentes podem ser estimadas em torno de 12% a 15% do total calórico. Durante a adolescência a utilização de proteínas está mais fortemente ligada ao padrão de crescimento do que à idade. A necessidade protéica é determinada pela quantidade que precisamos para manter o crescimento de novos tecidos que, durante a adolescência, podem representar porção substancial.
· CARBOIDRATOS 
 A recomendação de ingestão de carboidrato é na faixa de 55% a 60% da energia total da dieta, dando-se preferência aos carboidratos complexos(4), que são as principais fontes de energia para os adolescentes. É recomendado, para a faixa etária de 3 a 18 anos, uma ingestão diária de fibras igual à idade + 5g. As fibras são importantes no cuidado de diversas situações nutricionais como constipação intestinal, obesidade, dislipidemia e diabetes. Incentivar o consumo de fibras o mais cedo possível pode diminuir esses tipos de alteração nutricional, bem como prevenir alguns cânceres.
· LIPÍDIOS 
 Recomenda-se que nas primeiras duas décadas de vida as gorduras devem fornecer 30% das calorias da dieta, a não ser que haja maior suscetibilidade à arteriosclerose, seja por história familiar positiva, tabagismo, hipertensão, diabetes ou outros fatores de risco. Para a população em geral de crianças e adolescentes, recomenda a adoção de padrões alimentares para atingir os seguintes critérios de gordura e colesterol: 
• ácidos graxos saturados – menos de 10% das calorias totais; 
• ácidos graxos poliinsaturados – até 7% das calorias totais; 
• ácidos graxos monoinsaturados – de 10 % a 15% das calorias totais; 
• gordura total – uma média de não mais de 30% das calorias totais; 
• colesterol da dieta – menos de 300mg dia. 
· VITAMINAS E MINERAIS 
 De maneira geral, sabe-se que as necessidades de vitaminas e de minerais estão aumentadas na adolescência. A tiamina, a riboflavina e a niacina são recomendadas em grandes quantidades para atingir as altas necessidades de energia. Essa maior ingestão calórica pode ser acompanhada por níveis crescentes e adequados de vitaminas do complexo B. O ácido fólico, em virtude do seu papel na síntese de DNA, é importante durante a replicação celular aumentada nesse período de crescimento. As melhores fontes são vísceras, feijão e vegetais de folhas verdes. A vitamina D está envolvida na manutenção da homeostase de cálcio e fósforo na mineralização do osso, sendo essencialmente necessária para o rápido crescimento esquelético. Os alimentos considerados fontes de vitamina D são: gema de ovo, fígado, pescados gordos (arenque e cavala) e manteiga. A vitamina A, além de ser importante para o crescimento, é fundamental para a maturação sexual(6). São fontes de vitamina A: leite integral, fígado, gema de ovo e vegetais com folha verde-escuro (brócolis e espinafre) e legumes alaranjados (abóbora e cenoura). A vitamina C atua como agente redutor em várias reações de hidroxilação, é essencial para a síntese de colágeno, reflete-se na cicatrização, na formação dos dentes e na integridade dos capilares, tornando-se indispensável em quantidade adequada para garantir o crescimento satisfatório. As melhores fontes de vitamina C são laranja, limão, acerola,morango, brócolis, repolho e espinafre. Os adolescentes incorporam o dobro da quantidade de cálcio, ferro, zinco e magnésio em seus organismos durante os anos de estirão de crescimento em relação a outras fases da vida. As necessidades de cálcio na adolescência são baseadas no crescimento esquelético, do qual 45% ocorrem durante esse período, bem como nos acelerados desenvolvimentos muscular e endócrino. Como alimentos ricos em cálcio, citam-se: leite e seus derivados. Na adolescência, a necessidade de ferro é alta em ambos os sexos. Nos homens, devido à construção da massa muscular, que é acompanhada por maior volume sanguíneo e das enzimas respiratórias, e nas mulheres o ferro é perdido mensalmente com o início da menstruação. São fontes de ferro carne, grãos, ovos e vegetais de cor verde-escuro. A biodisponibilidade do ferro deve ser enfatizada. Os alimentos ricos em vitamina C aumentam a absorção de ferro, enquanto os ricos em oxalatos e fitatos dificultam a sua absorção, sendo fator de risco para anemia e comprometimento do crescimento. O zinco é um elemento essencial para o crescimento e a maturação do adolescente. Existem relatos de uma síndrome de deficiência de zinco caracterizada por retardo do crescimento, hipogonadismo, diminuição da acuidade gustativa e queda de cabelos. Como fonte de zinco temos carnes, camarão, ostras, fígado, grãos integrais, castanhas, cereais e tubérculos.
· NECESSIDADES ENERGÉTICAS 
 A taxa metabólica basal (TMB) de um indivíduo é determinada principalmente pelo tamanho corpóreo, composição corpórea, sexo, idade e nível de atividade física. O gasto energético para o crescimento inclui a energia despendida para o funcionamento do tecido e a energia gasta para sintetizar novos tecidos. Para estimar as necessidades energéticas, considera-se o Gasto Energético Basal (GEB) e Total (GET). O GEB ou TMB é a energia necessária para a manutenção dos processos corporais vitais – respiração, metabolismo celular, circulação, atividade glandular e conservação da temperatura corpórea. Já o GET refere-se ao adicional energético das atividades diárias ao GEB. Existem diferentes métodos para estimar as necessidades energéticas de crianças e adolescentes, sendo possível encontrar valores bem diferentes, dependendo do método utilizado. Dessa forma, é necessário que o profissional conheça essas diferenças e saiba definir sua conduta de acordo com cada caso, além de fazer opção pelo método que melhor atenda às peculiaridades de cada indivíduo. Na infância, é importante a ingestão de energia na alimentação, pois ela é largamente utilizada no processo de crescimento. Por isso, a quantidade de energia por quilo de peso corporal de que uma criança precisa é maior do que aquela necessária a um adulto. Em situações de crianças internadas, imobilizadas ao leito e sem os adicionais energéticos relacionados à lesão, a melhor opção seria determinar o consumo energético com o GEB, pois a criança praticamente está em Metabolismo Basal (Designa o mínimo de energia necessária para regular a fisiologia normal de um organismo. TAXA METABÓLICA BASAL = quantidade de energia necessária para a manutenção dos processos vitais básicos (trabalho osmótico, bombeamento do sangue, respiração, atividade do sistema nervoso, etc)) . É relevante destacar que crianças de baixo peso ou retardo de crescimento precisam de mais energia e proteína para seu crescimento e desenvolvimento. 
 Para os adolescentes, o cálculo das necessidades energéticas é um processo complexo, uma vez que o pico máximo de ingestão energética coincide com o pico da velocidade máxima de crescimento, sendo observado um real aumento do apetite. Além disso, as necessidades nutricionais são influenciadas pelos eventos normais da puberdade e pelo estágio de maturação sexual. Não existem fórmulas para cálculo das necessidades energéticas que considerem os diferentes estágios puberais propostos por Tanner. Na fase pubertária, o peso e a altura são considerados determinantes indiretos já que, à medida que os estágios se sucedem, essas medidas aumentam. Para buscar atender às demandas energéticas com base no crescimento dos indivíduos nessa fase da vida, algumas fórmulas para o cálculo das necessidades energéticas são propostas com base na energia por centímetro de altura, já que o aumento da estatura é intenso, refletindo melhor o período de crescimento. Dessa forma, para o referido cálculo desse grupo etário deve-se escolher o método que melhor se adapte às características do adolescente que está sendo avaliado. 
 Outro aspecto importante na estimativa das necessidades energéticas e nutricionais de crianças e adolescentes é a questão da intervenção nutricional em casos de sobrepeso e obesidade. De acordo com as Diretrizes de Obesidade no Diagnóstico e Tratamento da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo, os estudos são muito inconclusivos devido a questões metodológicas, entretanto, as recomendações atuais “estão baseadas no controle do ganho ponderal e das co-morbidades eventualmente encontradas”. Assim, o tratamento dietético deve contemplar a adequação da ingestão calórica e o suprimento das necessidades nutricionais, além do aumento do gasto energético, modificação comportamental e envolvimento familiar no processo de mudança. 
 Na adolescência, a intervenção em casos de distúrbios nutricionais no período que antecede o estirão de crescimento não deve ser restritiva e radical, visto que esta é uma fase que requer um crescimento e desenvolvimento saudável, em especial durante o pico de velocidade de crescimento. Assim, deve-se acompanhar o peso e sua adequação conforme o avanço da puberdade. Após a maturação sexual é possível a realização de uma conduta um pouco mais restritiva, mas que atenda às suas necessidades nutricionais. É importante destacar que a maioria dos adolescentes que apresenta uma dieta variada mantém o balanço energético e obtém os nutrientes indispensáveis ao crescimento e ao desenvolvimento esperados. Portanto, cabe ao nutricionista estabelecer objetivos bem definidos com base nas especificidades da criança e do adolescente em atendimento nutricional a fim de atender às demandas nutricionais individualizadas, na perspectiva da preservação da saúde e prevenção de doenças por excesso ou carência nutricional.
4) Compreender os principais distúrbios e deficiências nutricionais presentes na
infância e adolescência e suas estratégias de intervenção;
· ANOREXIA X BULIMIA
 Os transtornos alimentares são as doenças mais prevalentes na adolescência e estão associados com comorbidades clínicas e psiquiátricas.
 A anorexia nervosa é definida como um transtorno que afeta principalmente as adolescentes e mulheres jovens, é caracterizada pelo medo de engordar, distorção da imagem corporal, alterações do ciclo menstrual e perda de peso devido às dietas auto impostas. O transtorno costuma ser desencadeado por algum evento significativo, principalmente perdas, separações, mudanças e doenças orgânicas.
 Muitas vezes, leva a uma doença crônica e incapacitante, algumas vezes com risco de vida. A inanição grave e prolongada, característica de anorexia nervosa crônica, pode ter consequências profundas no desenvolvimento do cérebro e ossos.
 A anorexia, quando se inicia na fase da pré-puberdade, interfere negativamente nos resultados da maturação sexual e no desenvolvimento físico.
 A bulimia apresenta como principal característica um impulso irresistível de comer exageradamente, seguido da indução de vômitos e abuso de purgativos, numa tentativa de não engordar. Atualmente, o critério diagnóstico de bulimia nervosa no adolescente é a compulsão alimentar e comportamentos compensatórios uma vez por semana.
 As principais complicações da bulimia são perda de potássio, irritação no esôfago, irregularidades menstruais, desidratação, úlceras e anemias. Além disso, podem surgir erosões dos dentes, alargamento das parótidas, e cicatrizes sobre os dedos (sinal de Russel), alterações cardiovasculares e pneumoniapor aspiração de vômitos.
· ATEROSCLEROSE
 A aterosclerose é a doença cardiovascular mais comum em adultos e a causa de morte mais significante em todo o mundo. Existem evidências de que ela se inicia na infância e quando precoce está associada com a presença e a intensidade de fatores de risco como: história familiar (pais ou avós com história de aterosclerose precoce; dislipidemia em parentes de primeiro grau), idade, sexo, inatividade física, nutrição/dietas, exposição ao fumo, hipertensão arterial, dislipidemia, sobrepeso/obesidade, diabetes mellitus, síndrome metabólica, fatores perinatais e marcadores inflamatórios. Cada fator de risco deve ser considerado dentro dos contextos comportamental, ambiental, fisiológico e genético.
· OBESIDADE
 A obesidade é reconhecida como um importante problema de saúde pública mundial.
 Os adolescentes constituem um total de 21 milhões de brasileiros e 20,5% deles, segundo os dados do IBGE de 2009, possuem excesso de peso.
 A consciência das altas taxas de sobrepeso e obesidade na infância, juntamente com suas consequências psicossociais e dos efeitos metabólicos adversos sobre a pressão arterial, colesterol, triglicérides e resistência a insulina, levou ao desenvolvimento pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), de um Plano de Ação para a Prevenção da obesidade em crianças e adolescentes aprovado em junho de 2014. O plano l concentra-se em transformar o ambiente obesogênico em um ambiente saudável que ofereça oportunidades para o consumo de alimentos nutritivos e realização de atividade física. Ele se alinha com os mandatos internacionais, em particular a OMS e suas estratégias sobre a prevenção e controle de doenças não transmissíveis, com implementação na nutrição materna, infantil e adolescentes.
 Não é recomendado em crianças e adolescentes com excesso de peso a realização da cirurgia bariátrica e sim intervenções comportamentais estruturadas que incluem atividade física, nutrição adequada e modificações de estilo de vida. Essas atividades devem ser realizadas por equipe especializada, com sessões em grupo e participação da família.
 O estado nutricional durante a infância tem um efeito significativo no desenvolvimento puberal e pode explicar tanto quanto 25% da variação na época da puberdade.
· DESNUTRIÇÃO
 As repercussões da desnutrição, especialmente nas crianças, são gerais, afetando todos os sistemas, impedindo o adequado crescimento e desenvolvimento, diminuindo a qualidade de vida e restringindo consideravelmente as chances de elas se tornarem adultos saudáveis. A desnutrição desencadeia uma série de respostas adaptativas com alterações no metabolismo. A diminuição do peso é uma das respostas iniciais à carência protéico-energética. Seguem-se a desaceleração do crescimento, as alterações hormonais, enzimáticas e da resposta imunológica. As crianças desnutridas são mais susceptíveis às infecções, têm dificuldades para absorver certos nutrientes, são mais propensas à diarréia, aos distúrbios hidroeletrolíticos, à hipoglicemia e à hipotermia. A anemia não somente é consequência das carências específicas, como também aparece em resposta à baixa demanda de oxigênio pelos tecidos, devida à inatividade física e economia de aminoácidos. A desnutrição em crianças mais jovens acomete o sistema nervoso central, interferindo na mielinização e na produção de neurotransmissores. Atualmente, verifica-se o predomínio das formas leves e moderadas da doença, que, por se manifestar apenas por déficit de peso e/ou altura, são menos diagnosticadas e valorizadas. Para cada desnutrido grave, diagnosticado pela presença de variadas manifestações clínicas, há dezenas de “magrinhos” e “baixinhos”, que passam imperceptíveis aos olhos dos profissionais de saúde, e que são igualmente susceptíveis aos agravos da doença.
 Para dizer que uma criança é desnutrida é necessário: pesar e medir a criança; comparar essas medidas com as medidas de crianças normais da mesma idade e sexo; verifi car sinais e sintomas clínicos, como emagrecimento acentuado e edema em ambos os pés; observar, na Caderneta de Saúde da Criança, se há diminuição da inclinação da curva de peso para idade. Na desnutrição, o comprometimento do peso ocorre precocemente. O comprometimento da altura ocorre mais tardiamente e indica a cronicidade do processo. O baixo peso para a idade como índice isolado para o diagnóstico de desnutrição é bastante difundido pela facilidade de obtenção e sensibilidade para detectar precocemente os casos. Todavia, apresenta limitações, pois não afere o crescimento linear e não se aplica em crianças com desnutrição grave e edema, sendo mais adequado para crianças pequenas, especialmente as menores de um ano.
 A Organização Mundial de Saúde (OMS), além do peso/idade, recomenda a utilização dos índices altura/idade e a relação peso/altura para a classificação da desnutrição. 
 Quanto à etiopatogenia, a desnutrição pode ser primária, secundária ou mista. A desnutrição primária é consequente à diminuição da disponibilidade ou da oferta de alimentos. A desnutrição secundária resulta de situações em que a ingestão, absorção ou utilização de nutrientes ocorrem de maneira insatisfatória, apesar de haver disponibilidade e oferta de alimentos: obstruções mecânicas do tubo digestivo, estados hipercatabólicos, parasitoses intestinais, déficits enzimáticos ou alterações psíquicas. A desnutrição mista é decorrente da ação concomitante dos dois processos, uma vez que a desnutrição primária acaba por desencadear uma série de alterações que impedem a ingestão e o aproveitamento do pouco alimento disponível, com o estabelecimento de um círculo vicioso e comprometimento progressivo da saúde do indivíduo.
A conduta nas crianças desnutridas vai depender da gravidade e do tipo de desnutrição: crianças com desnutrição grave deverão ser imediatamente encaminhadas para internação devido à sua maior susceptibilidade a complicações graves e risco de morte; crianças com desnutrição primária leve ou moderada deverão ser tratadas pela equipe de saúde; crianças com ganho de peso insuficiente deverão ser investigadas para identificação de causas e tratadas pela equipe de saúde. Havendo evidências da presença de outras doenças, avaliar a necessidade de encaminhamento para pediatra/especialista; crianças com desnutrição secundária ou mista deverão ser avaliadas pelo médico da equipe quanto à necessidade de encaminhamento; mesmo após encaminhamento, todas as crianças deverão continuar sendo acompanhadas pela equipe. O tratamento da criança desnutrida tem como diretrizes: a adequação da dieta; a prevenção e o controle de processos infecciosos e infestações parasitárias; a estimulação do desenvolvimento; a educação para saúde e suporte para as famílias. 
· ANEMIA FERROPRIVA
 A anemia pode ser definida como uma condição patológica na qual o conteúdo de hemoglobina está abaixo dos valores considerados normais para idade, sexo, estado fisiológico e altitude. A causa mais frequente de anemia em todo o mundo é a deficiência de ferro, sendo as gestantes e as crianças até dois anos de idade os grupos mais afetados. Ela se acompanha de importantes repercussões para o organismo da criança, interferindo no crescimento, no desenvolvimento neuropsicomotor e na imunidade, levando à maior susceptibilidade às infecções e baixo rendimento escolar. O ferro é encontrado em vários alimentos, tanto de origem animal como vegetal. Todavia, além do teor de ferro, é preciso considerar a sua biodisponibilidade em cada um desses alimentos, que é um dos fatores mais importantes para absorção e aproveitamento desse elemento pelo organismo. 
 Embora a anemia ferropriva não seja um problema restrito aos países em desenvolvimento e às populações mais pobres, há que se considerar que as precárias condições socioeconômicas propiciam campo favorável para o seu desenvolvimento e evolução. Além dos fatores socioeconômicos, a qualidade da assistência à saúde, o padrão de consumo alimentar, o estado nutricional, as co-morbidades e os aspectosbiológicos são fatores determinantes do desenvolvimento da carência de ferro.
 Acompanhamento das crianças com anemia ferropriva A resposta ao tratamento é rápida e a duração depende da intensidade da anemia. Na primeira semana, observa-se aumento dos reticulócitos e aumento substancial da hemoglobina pode ser verificado em torno da terceira semana. Em geral, não é necessário solicitar exames hematológicos para controle de cura. Se não houver resposta adequada, o diagnóstico e a adesão ao tratamento devem ser revistos. É importante que o tratamento se estenda por, pelo menos, quatro meses para a reposição das reservas de ferro. Após esse período, se a criança faz parte do grupo de risco, devem ser mantidas a dose profilática.
· HIPOVITAMINOSE A
 A vitamina A é um álcool amarelo-claro cristalino, lipossolúvel, chamado de retinil ou retinol, em referência à sua função específica na retina (ela faz parte do pigmento rodopsina), lipossolúvel. A vitamina A está presente nos alimentos de duas formas: vitamina A pré-formada (ésteres do retinol), encontrada no fígado, leite, na manteiga, nos ovos e no queijo; pró-vitamina A (carotenóides), presente nas hortaliças de folhas verdes e hortaliças e frutas amarelo-alaranjadas-avermelhadas (beterraba, rabanete, cenoura, batata-doce, manga etc.). A absorção está ligada à ingestão de outros lipídeos na dieta e o armazenamento se dá no fígado. São várias as funções da vitamina A: ligam-se ao ciclo visual, à integridade das membranas, à diferenciação epitelial, à formação de glicoproteínas, à produção de muco, à resistência às infecções, à modulação da resposta imune, ao crescimento e desenvolvimento ósseo. Há dois “estágios” da deficiência da vitamina A que, normalmente, são identificados clinicamente: hipovitaminose A: a deficiência leva a estados subclínicos (a reserva hepática de retinol está diminuída); xeroftalmia: o termo se aplica a todas as manifestações oculares, especialmente a denominada cegueira noturna. A gênese da deficiência pode ser a dieta inadequada ou problemas de absorção, transporte ou metabolização. A absorção é influenciada por parasitoses intestinais (giardíase, ascaridíase, estrongiloidíase), ressecções intestinais, fibrose cística, dietas pobres em gordura e diarréia aguda. Os primeiros sinais da HVA não são específicos, fazendo parte de um quadro mais amplo. As crianças começam a adoecer mais frequentemente ou os quadros de diarréia e sarampo se tornam mais graves (a falta da vitamina A reduz a capacidade do corpo de se defender dessas e de outras doenças).
 Na xeroftalmia, os sinais podem ser classificados em primários (estruturais) e secundários (bioquímicos e funcionais). São sinais primários: 
· xerose da conjuntiva, que se apresenta seca, congesta e de fácil contaminação;
· manchas de Bitot, que são manchas espumosas na conjuntiva, bem visíveis à inspeção;
· xerose da córnea, seca e opaca;
· ceratomalácia, com necrose da córnea, levando à cegueira, que é irreversível (é o último estágio do processo).
 Os sinais secundários são: 
· nictalopia que se traduz pela dificuldade de visão noturna; 
· fundo de olho com palidez da pupila e mácula.
 Como a prevenção é importantíssima na HVA, o diagnóstico deve ser feito em nível populacional e individual.
5) Conhecer as principais doenças relacionadas à infância e adolescência;
Conheça 5 doenças infantis comuns e saiba como preveni-las!
1. Catapora
 O que é: Extremamente contagiosa, a doença, também conhecida como varicela, é provocada por um vírus, o varicela-zóster. A catapora é bastante comum nos pequenos que estão em fase escolar, quando o contato com outras crianças aumenta bastante.
 Principais sintomas: as bolhas d’água avermelhadas que surgem por todo o corpo e provocam coceira intensa são o principal sintoma da catapora. Além disso, a doença também costuma causar febre alta, indisposição, falta de apetite e dores no corpo.
 Como se proteger: como o contágio acontece por meio de tosse, saliva, espirro ou objetos contaminados pelo vírus, a melhor maneira de se proteger contra a catapora é mantendo a carteira de vacinação em dia.
 A imunização é recomendada a partir dos 12 meses de idade, mas qualquer pessoa que ainda não tenha contraído a doença pode tomar a vacina. Nesses casos, ela deve ser tomada em duas doses, com intervalo de 1 a 2 meses entre uma e outra. Quem já teve a doença uma vez está imune.
2. Alergias
 O que é: uma das doenças infantis mais comuns, as alergias podem ser provocadas por uma série de fatores, como alimentação, ácaros, fungos, pelos de animais, produtos de limpeza e até mesmo pólen.
 Principais sintomas: As alergias alimentares costumam causar coceiras, erupções na pele, diarreias, dores abdominais e na cabeça. Já as respiratórias podem provocar espirros, congestões nasais, tosses, chiados no peito e até mesmo problemas mais sérios, como dificuldades respiratórias.
 Como se proteger: no caso de quadros alérgicos alimentares, o tratamento consiste em retirar o alimento que está causando o problema do cardápio. Quando a doença causa problemas respiratórios, um pediatra de sua confiança deverá prescrever o tratamento adequado, que deverá ser seguido continuamente ou nos momentos de crise.
 Boas práticas, como manter a casa bem arejada, livre de cigarro e objetos que acumulam pó, como tapetes, cortinas e bichos de pelúcia, trocar constantemente o travesseiro e não dormir com animais de estimação também ajudam a diminuir a incidência das crises.
3. Infecções no ouvido e na garganta
 O que é: também chamada de otite externa nos casos mais brandos, e de otite média nos casos mais graves, a infecção no ouvido pode ser causada por fatores como excesso de umidade no canal auditivo ou por acúmulo de secreção na região em virtude de gripes ou resfriados.
 Já a infecção na garganta é causada pelo contato com a saliva e outras secreções contaminadas por um vírus ou pode ser provocada por uma bactéria, desencadeando quadros de dor e indisposição intensos.
 Principais sintomas: nos dois casos, os sintomas mais comuns são dor na região, falta de apetite, indisposição e febre.
 Como se proteger: para se proteger contra as infecções do ouvido, é importante manter o canal auditivo longe do excesso de umidade. Sempre que a criança tiver contato com a água, seque a região cuidadosamente com uma toalha. Evite usar cotonetes, que empurram a secreção para dentro e retiram a proteção da região.
 Já no caso das infecções da garganta, a melhor maneira de prevenção é investir em um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e boa hidratação. Caso o médico prescreva antibióticos, é essencial que você siga o tratamento à risca, mesmo que os sintomas melhorem, para evitar que os micro-organismos se tornem resistentes.
4. Viroses
 O que é: o termo virose é utilizado para definir um conjunto de doenças provocadas pelos diversos tipos de vírus que podem se instalar em áreas diferentes do organismo da criança, como no intestino ou no trato respiratório.
 Principais sintomas: como os vírus podem se alojar em diferentes regiões do corpo, os sintomas podem variar bastante. No entanto, os mais comuns são diarreia, dor de cabeça, vômitos, tosse, resfriado e febre.
 Em geral, o organismo costuma combater espontaneamente o problema, que desaparece em poucos dias. No entanto, como os sintomas das viroses são parecidos com os de outras doenças, é fundamental consultar um pediatra para que ele possa fazer o diagnóstico correto e evitar complicações graves.
 Como se proteger: a melhor maneira de prevenir-se contra essas doenças infantis é manter uma alimentação saudável e equilibrada e caprichar na hidratação. Também é importante manter bons hábitos de higiene, lavando as mãos após ir ao banheiro e antes das refeições, e evitando o consumo de alimentos cuja procedência você desconhece.
5. Caxumba
 O que é: a doença é provocada pelo vírus paramyxovirus, que afeta as glândulas produtoras de saliva, localizadas na região pouco abaixo das orelhas. Em casos mais graves, a doençapode atingir outros órgãos e causar complicações como pancreatite, meningite e até surdez.
 Principais sintomas: o principal sintoma da doença é o inchaço da glândula, o que costuma causar dor e aumento de volume na região. Além disso, febre, dificuldade para mastigar ou engolir, dores musculares e fraqueza também são comuns.
 Como se proteger: a vacinação é a melhor forma de prevenção contra a caxumba, que é transmitida por meio da saliva contaminada. A primeira dose da vacina deve ser administrada aos 12 meses de idade, e a segunda, 3 meses depois.
5 DOENÇAS MAIS COMUNS NA ADOLESCÊNCIA
1. Papilomavírus Humano
 O HPV é um vírus que afeta as mucosas e a pele, e pode causar lesões percursoras do câncer, como o de garganta, ânus e de colo de útero. Vale citar que este último é associado ao HPV.
 A doença é transmitida por meio do contato da pele com a pessoa infectada. Por isso, pode ser considerada como uma doença sexualmente transmissível. A cada ano, as jovens começam sua vida sexual mais precocemente, e em grande parte dos casos, negligenciam o uso do preservativo, principal método preventivo contra as DSTs.
 O tratamento contra a doença é feito com a utilização de medicamentos. O objetivo não é exterminar o vírus, pois não existe um recurso com essa função: é controlar os sintomas e eliminar as lesões na pele provocadas pelo vírus. A prevenção é sempre o melhor caminho. Para isso, é necessário usar camisinha e tomar a vacina contra o HPV!
2. Hepatites A e B
 A transmissão da hepatite A ocorre por meio de água e alimentos prejudicados. Beijo de língua e compartilhar copos — atitudes muito comum entre os adolescentes — também são responsáveis pela doença. É uma das grandes causas da hepatite fatal, que requer até transplante de fígado.
 Já o tipo B é transmitido pelo beijo, por meio do ato sexual, durante o parto ou por contato com sangue, que pode acontecer no dentista ou na manicure. A Hepatite B é 100 vezes mais contagiosa do que a AIDS. Por isso, os jovens que não foram vacinados na infância contra estas hepatites devem receber a imunização o quanto antes.
3. Coqueluche
 Antes, a doença afetava apenas crianças, mas, atualmente, acomete um número cada vez maior de jovens. Isso porque a imunidade contra o problema por meio da vacinação não dura mais do que uma década e, assim, muitos adolescentes ficam suscetíveis à coqueluche.
 Doença respiratória de alto contágio, é conhecida pela sua tosse seca. Transmitida pelo ar no momento em que alguém contagia tosse, fala ou ri, é provocada por uma bactéria. Ao receber o tratamento precoce, o paciente possui excelentes chances de cura.
4. Depressão
 Muito comum nesse período, a depressão é uma das doenças na adolescência que mais merece nossa atenção. Esta costuma ser uma fase muito complicada, já que os jovens querem se adaptar à uma sociedade exigente quando falamos em aparência e emocional. Vale lembrar que este é um período em que grande parte deles tem contato pela primeira vez com bebidas alcoólicas ou drogas e, portanto, ficam com seus sentimentos mais vulneráveis.
5. Obesidade
 A ingestão excessiva de alimentos industrializados e de gorduras saturadas está deixando os adolescentes cada vez mais obesos. Sem contar que o sedentarismo tem tomado conta dessa nova geração. A obesidade é uma questão muito séria, já que ela pode levar ao surgimento de diversas doenças, como as do coração. Praticar atividades físicas e adotar uma dieta balanceada são hábitos que devem ser adotados por todo adolescente. Esta é a melhor maneira de evitar a obesidade e todo transtorno causado por ela. É muito importante fazer um diagnóstico para que a medicação adequada seja ministrada ao paciente. Portanto, se tiver alguns sintomas de quaisquer umas dessas doenças, procure imediatamente seu médico. 
6) Compreender os principais distúrbios de imagem corporal e transtornos alimentares que acometem o adolescente.
Transtornos alimentares e imagem corporal
 A Bulimia Nervosa (BN) é um TA caracterizada por episódios de compulsão alimentar, seguido de comportamentos compensatórios inadequados, nos quais o indivíduo experimenta sensação de perda de controle. Relataram que este distúrbio é o mais prevalente entre os TA, com 1% a 4% de incidência entre mulheres jovens. Indivíduos com bulimia nervosa levam muito em conta o peso e a forma corporal quando realizam auto-avaliações. Este é considerado um transtorno de etiologia multifatorial e o aumento de sua incidência nas últimas décadas tem relação com os padrões estéticos vigentes, o que leva uma pessoa a apresentar episódios bulímicos é a preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal.
 Um outro TA é a Anorexia Nervosa (AN), caracterizada por uma restrição alimentar auto-imposta com sequelas graves, características obsessivo-compulsivas e crenças irracionais que frequentemente complicam o tratamento. A perda de peso intensa pode levar à desnutrição, desidratação e alterações no ciclo menstrual. Apesar dos pacientes negarem fome, são comuns as queixas de fadiga, fraqueza, tonturas e visão turva. A distorção da imagem corporal está diretamente relacionada com a AN, pois este é um dos fatores determinantes para o desenvolvimento deste transtorno.
 No caso dos homens, a preocupação excessiva com o corpo se manifesta de maneira diferente das mulheres. Apesar de indivíduos do sexo masculino também sofrerem de AN e BN, chama atenção um novo quadro denominado vigorexia. Os indivíduos acometidos pela vigorexia se descrevem como fracos e pequenos, quando na realidade são extremamente fortes e musculosos. Estes pacientes, em sua maioria, utilizam esteróides anabolizantes, dietas hiper-protéicas e suplementos à base de aminoácidos com intuito de maior ganho de massa muscular. Normalmente, estes indivíduos praticam atividade física excessiva, o que pode levar a prejuízos em seu convívio social. Além disso, não praticam atividades aeróbias, pois temem perder massa muscular. Um outro dado interessante é que pessoas com vigorexia evitam exposição de seus corpos e utilizam-se de diversas camadas de roupas, mesmo no calor, a fim de evitar esta exposição. Falhas no corpo destes indivíduos que, normalmente, passam despercebidas para os outros, são reais para estes pacientes, conduzindo o mesmo à depressão. Como resultado, podem perder o emprego e apresentar problemas de relacionamentos.
· Outra referência
 O comportamento alimentar se define como "respostas comportamentais ou sequenciais associadas ao ato de alimentar-se, maneira ou modos de se alimentar, padrões rítmicos da alimentação". Esse tipo de comportamento é influenciado por condições sociais, demográficas e culturais, pela percepção individual e dos alimentos, por experiências prévias e pelo estado nutricional.
 Entre tais fatores, o impacto sociocultural no padrão alimentar e no desenvolvimento de transtornos alimentares (TA) tem sido estudado mais frequentemente, avaliando-se os costumes familiares(3-6) e as informações veiculadas pelos meios de comunicação em massa(7-10).
 A influência da mídia, fortalecida pela globalização e pela sociedade, enfatizam a contradição entre o apelo ao estilo de vida saudável ao mesmo tempo em que se enaltece o ideal de magreza e se incentiva o consumo de alimentos calóricos.
 O resultado dessas contradições é o desenvolvimento de TA, caracterizados pela preocupação exacerbada com o peso e a forma. Na busca por esse estereótipo, a perda de peso é induzida por métodos inadequados, como jejum e exercício físico intenso, e o ganho de massa muscular é estimulado por exercícios físicos excessivos, alimentação inadequada e uso de anabolizantes.
 Os TA estão relacionados às complicações clínicas que variam de acordo com as características do transtorno, podendo ocorrer déficit de crescimento, queilose, erosão dental, periodontites, hipertrofia das glândulas salivares, hipovolemia, desequilíbrio hidroeletrolítico e ganho de peso.
 Quando o começo do TA ocorre durante a adolescência, tais transtornos prejudicam as relações sociaise familiares, e a idealização suicida torna-se mais comum. O início da atividade sexual antes dos 16 anos também é mais frequente em adolescentes com TA. Além disso, jovens do sexo feminino com histórico de TA apresentam mais chances de aborto ou gravidez.
· Anorexia e bulimia nervosas
 Ambas são caracterizadas por padrões anormais de comportamento alimentar e controle do peso e por percepções alteradas sobre o próprio peso e corpo.
 Nestes TAs, a preocupação com a alimentação é comum. Os adolescentes remetem a comida a algo negativo, como tortura, medo e obrigação. O consumo alimentar é marcado pela restrição de alimentos categorizados como 'besteiras', tais como chocolates e balas, e pelo aumento na ingestão de vegetais e refrigerantes.
 Caracteriza-se como TA do tipo anorexia o desejo pela magreza, que leva ao comportamento alimentar monótono e ritualizado e à perda de peso significante, especialmente em crianças ou adolescentes nos quais a baixa ingestão calórica se reflete em atraso no desenvolvimento. Os critérios para diagnosticar a anorexia definidos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - IV (DETM-IV) incluem: amenorreia, peso abaixo de 85% do mínimo esperado para a idade e altura, distúrbios no reconhecimento do próprio peso e medo intenso de ganhar peso. A AN restritiva limita a ingestão energética e o consumo de carboidratos e lipídios, enquanto no tipo purgativo ocorrem episódios frequentes de compulsão alimentar e purgação. Os métodos purgativos utilizados são o uso de laxantes, diuréticos e enemas e a indução do vômito.
 O estado psicológico nesta condição clínica foi estudado em uma amostra representativa de adolescentes dos Estados Unidos da América. Os autores concluíram não haver relação entre a AN e as comorbidades mentais, com exceção do 'transtorno desafiador opositivo'. Uma vez que as comorbidades mentais são altamente prevalentes em adultos anoréxicos, o estudo sugeriu que a ocorrência dos TA na adolescência pode ser um fator causal de tais comorbidades da idade adulta. Ainda no mesmo estudo, os autores encontraram relação significante entre a BN e a depressão, o transtorno bipolar e as desordens relacionadas à ansiedade, como fobias sociais e estresse pós-traumático, além de transtornos comportamentais, como hiperatividade, déficit de atenção e transtornos de conduta.
 O bulímico também sente um grande medo de ganhar peso e frequentemente tem uma visão distorcida do próprio corpo. Esses indivíduos também tendem a restringir sua ingestão alimentar, porém, após certo tempo seguindo uma dieta restritiva, perdem o controle e têm episódios de compulsão alimentar. Após a compulsão, o bulímico procura compensar a alta ingestão calórica.
 A BN pode ser classificada de acordo com o método compensatório adotado em purgativa ou não purgativa. O subtipo não purgativo é marcado pela prática de atividade física intensa ou por jejuns; já o purgativo, caracteriza-se pela indução do vômito ou pelo abuso de laxantes e diuréticos. De acordo com o DETM-IV, para que o indivíduo seja diagnosticado com BN deve apresentar episódios de compulsão e compensação duas vezes por semana por no mínimo três meses. A BN foi encontrada com maior frequência na faixa etária de 16 a 20 anos. Os autores destacaram que devido à semelhança entre o IMC de bulímicas e não bulímicas e à manutenção do peso, o indivíduo pode esconder o transtorno durante vários anos.
 Mesmo que ambas as doenças em geral tenham início durante a adolescência, para alguns autores a anorexia pode ser encontrada a partir dos sete anos de idade. Os mesmos destacam que, na infância, a AN pode prejudicar ou até interromper o desenvolvimento físico e que a incidência no sexo masculino pode ser maior antes da puberdade. Por outro lado, a BN é rara antes da adolescência. 
Transtornos alimentares não especificados
 TA não especificados (TANE) são aqueles clinicamente relevantes que não preenchem os critérios de classificação para AN ou BN(38). Ainda que sua prevalência seja mais elevada do que a de AN ou BN, o conhecimento sobre prevalências, fatores de risco, correlações clínicas e tratamento de tais transtornos é limitado. Entre os TANE têm-se AN e BN subclínicas, compulsão alimentar (clínica ou subclínica), purgação (clínica ou subclínica), entre outros, incluindo os TANE que não se enquadram nos subtipos descritos(39).
 A compulsão alimentar é um TANE que se caracteriza pela ingestão de uma quantidade de alimentos maior do que a maioria das pessoas ingeriria em um pequeno intervalo de tempo, ao menos duas vezes por semana, por seis meses seguidos, acompanhado do sentimento de falta de autocontrole. Durante esses episódios, os indivíduos sentem uma perda do controle sobre o quê ou o quanto comem e, ao final, sentem-se culpados e depressivos. Diferentemente da BN, na compulsão alimentar o indivíduo não utiliza métodos para compensar a quantidade exagerada de alimentos ingeridos. Embora muitas vezes não completem os critérios de diagnóstico definidos para adultos, a compulsão alimentar é comum em crianças, em especial nas obesas. Casos subclínicos de tal transtorno também podem ocorrer, nos quais o sentimento de falta de autocontrole está presente na ausência de um consumo exagerado. O estresse psicológico pode estar associado ao desenvolvimento de compulsão alimentar, restrição alimentar, baixa autoestima, depressão e preocupação com o peso, o corpo e a comida são mais prevalentes em crianças com compulsão alimentar. A relação entre esses sintomas e a compulsão alimentar está diretamente relacionada à gravidade do transtorno alimentar.
 Sendo a perda de controle uma das principais características dos TANE, algumas investigações abordaram exclusivamente esse aspecto. Aquelas com baixo controle sobre a alimentação geralmente são mais impulsivas e apresentavam menor auto-orientação, baixo cooperativismo e maior procura por novidades.
 O transtorno purgativo é um TA pouco estudado. Nele, o indivíduo utiliza métodos purgativos, como o vômito e o uso de laxativos e diuréticos, sem que a compulsão alimentar necessariamente preceda a purgação. Nos casos clínicos, os episódios ocorrem em média duas vezes por semana durante três meses. Nos casos subclínicos, o critério de frequência e duração não é atendido.
 Grande atenção também tem sido dada aos casos subclínicos de AN e bulimia, pois, além de serem mais prevalentes do que os transtornos específicos, estudos mostram que, ainda que não preencham os critérios para o diagnóstico do transtorno específico ou não tenham um quadro persistente, esses pacientes são caracterizados pelos mesmos marcadores de gravidade do que os casos clínicos de AN e BN.

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