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1
OBSERVAÇÃO: nesse exemplo de fichamento, feito por mim, iniciei – como 
sempre início – com a referência bibliográfica completa: nome do autor, nome da obra, 
cidade e editora, bem como o ano da publicação. Como esse livro não era minha autoria, 
logo após a referência bibliográfica, havia a indicação da localização do livro na 
Coleção Especial da Biblioteca Comunitária, da Universidade Federal de São Carlos. 
Lá, na biblioteca, encontra-se o acervo de Florestan Fernandes e os números indicam o 
seguinte: sala 03; estante 02; prateleira 06, posição do livro na prateleira, da esquerda 
para a direita, 22. O acervo mantem as obras na posição que se encontravam na 
biblioteca de Florestan Fernandes, quando vivo. 
 
 
IANNI, O. Estado e capitalismo: estrutura social e industrialização no 
Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1965. (AFF 03.02.06/022) 
 
INTRODUÇÃO 
 
p. 3: Um dos acontecimentos mais notáveis das últimas décadas, no plano da 
vida econômica das nações, é o desdobramento e a crescente importância das atividades 
estatais. Tanto em nações do “mundo subdesenvolvido” como naquelas já 
industrializadas, o Estado enfeixa controles cada vez mais numerosos e decisivos. 
 
Hoje, as principais correntes de economistas e políticos, da mesma forma que os 
sindicatos empresariais e proletários, não discutem se o poder público deve ou não 
ingressar na vida econômica (...) o que se discute é como o Estado deve atuar. As 
tendências reais dos processos econômicos tornaram obsoleta a concepção liberal sobre 
as relações do governo com o mundo da produção. 
 
p.4: Uma nação luta para generalizar e desenvolver as formas capitalistas de 
organização da produção, ao passo que a outra empenha-se em consolidar e ampliar a 
 2
sua hegemonia nos mercados mundiais. Nos dois casos, no entanto, o Estado está 
envolvido na formulação e realização da política econômica nacional 
 
No Brasil também desdobram-se as atividades estatais. A história econômica 
brasileira, nas últimas décadas, revela a crescente participação do poder público nas 
diferentes esferas da economia. Para romper internamente “o círculo vicioso da 
estagnação econômica”, ou melhor, para quebrar as relações de dependência 
tradicionais e reorientar os fluxos do excedente econômico, o Estado foi levado a 
assumir e ampliar as suas funções, tomando decisões que o colocaram no centro da 
política econômica nacional 
 
p.5: Nesta obra, nossa intenção é verificar quais as configurações sociais e 
políticas nacionais, vistas em suas determinações internas e externas, que explicam o 
caráter assumido pela atividade estatal. 
 
p.6: (...) os economistas e sociólogos que se colocam nesta orientação não 
reconhecem que o próprio Estado é um componente e produto daquelas relações sociais, 
do mundo da produção 
 
p.6-7: Enquanto que a empresa privada organiza e funciona com vistas à 
rentabilidade do capital, como objetivo imediato, o poder público se orienta de modo a 
criar os estímulos à reprodução capitalista. (...) A atividade privada tende a organizar-se 
a curto e médio prazo, enquanto que a governamental volta-se para o médio e o longo 
prazo. Uma se funda na consciência individual, está presa à biografia do capitalista, ao 
 3
passo que a outra tende a fundar-se na consciência de classe, numa compreensão mais 
ampla da integração do sistema social global. 
 
p.8: Não se pode mais rejeitar a presença do Estado no mundo da produção 
 
É a manipulação das técnicas governamentais que permite ampliar a poupança 
forçada e orientar os investimentos produtivos, reduzindo-se os desperdícios. 
 
p. 9: Alguns economistas, tais como Dobb, Baran, Sweezy, compreendem o 
Estado como fulcro de convergências entre as relações de apropriação e as de 
dominação. 
 
À medida que analisamos os empreendimentos do poder público, 
estrategicamente selecionados, surgem as fisionomias fundamentais do sistema, 
incluindo-se as suas relações significativas com o capitalismo mundial 
 
p.10: É que os fenômenos investigados no Brasil foram sempre encarados como 
momentos da história universal. 
 
Em outras palavras, há significações dos acontecimentos examinados nesta obra 
que somente são descobertos quando verificamos as vinculações do sistema nacional 
com os outros sistemas, aos quais aquele se encontra ligado ou referido. 
 
 4
Desenvolvendo a pesquisa nessa orientação, estaremos em condições de 
verificar, também, em que escala os países industrialmente mais adiantados, colocam 
diante dos menos desenvolvidos a imagem do seu próprio futuro. 
 
CAP. I – DESENVOLVIMENTO PLANIFICADO 
 
p. 15: 
 
1 – Expansão controlada das forças produtivas 
 
A política econômica governamental concentra-se sobre o processo de 
acumulação de capital, que é selecionado como o fulcro do desenvolvimento 
 
Em todas as manifestações fundamentais, na época da industrialização, a 
interferência do Estado incide sobre esse processo, permanecendo em segundo plano o 
progresso técnico e a política de mão-de-obra. Em plano ainda inferior, ficam outras 
esferas da realidade (...), enfeixadas sob a denominação genérica de condições 
instituicionais. Nestas se incluem processos sociais, políticos e culturais, muitas vezes 
essenciais à interpretação dos processos econômicos 
 
Em síntese, tanto em suas manifestações diretas, o Estado concentra a sua 
atuação sobre uma esfera especial da realidade, que é a acumulação de capital 
 
Mas essa tendência não implica na constituição de um capitalismo de Estado. 
Como se revelam todas as manifestações do intervencionismo, p.16: este é sempre uma 
 5
necessidade do sistema de mercado, resultado e condição da apropriação privada. As 
medidas governamentais são inevitáveis, para que as forças do mercado (...) possam 
concretizar-se da melhor forma possível, em consonância com a preservação e 
progresso do sistema. 
 
p. 16: Por isso tudo, o lucro é um objetivo que somente aparece na atuação 
estatal (empresarial ou não) como um alvo indireto, a ser realizado pela empresa 
privada. Toda intervenção, na medida em que implica na expansão das forças 
produtivas, orienta-se no sentido de propiciar ao sistema de mercado a produção de 
capital 
 
p. 17: Ao focalizar a encampação de empresas privadas pelo Estado, como tem 
ocorrido no Brasil nos últimos anos, verificamos a mesma tendência geral de eliminar 
ou reduzir efeitos negativos delas no funcionamento do mercado. 
 
Note-se, contudo, que a encampação ocorre para que o sistema global continue 
p. 18: em funcionamento. Caso contrário, a unidade poderia ser extinta 
 
p. 18: Em síntese, as atividades governamentais parecem estruturar-se com uma 
lógica interna que é dada pelos próprios processos implicados na acumulação de capital. 
 
Nas análises e projeções para programa de desenvolvimento formulado pelo 
Grupo Misto BNDE-CEPAL, para o período de 1955-62 e que serviu de base ao 
Programa de Metas, aplicado em 1956-60, encontram-se reflexões que fundamentam 
 6
esta interpretação das diretrizes dominantes na atuação governamental na vida 
econômica. 
 
Trata-se, em essência, de manipular a poupança e o investimento, tomados como 
duas variáveis básicas. Em outros termos, é importante examinar todas as possibilidades 
de realização de poupança e a sua transformação em investimento reais. Depois de 
mostrar que o desenvolvimento econômico se funda na força de trabalho, no p . 19: 
progresso técnico e na acumulação de capital , o referido documento põe de lado os 
dois fatores iniciais e propõe que a análise e as projeções a serem propostas se apóiem 
em especial controle do terceiro fator. 
 
p. 19: Nessa linha é que se situam as providências destinadas a restringir ou 
mesmo extinguir as importações não essenciais (ou cujos similares eram fabricados no 
país) e a favorecer, sob controle, as importações de mercadorias importantes para a 
consolidaçãoe expansão do parque manufatureiro nacional. 
 
p.20: Haviam-se constituídos, pois, as condições para o processo de reintegração 
da economia nacional, interna e externamente 
 
Como se verá melhor adiante, a industrialização do Brasil estava e está sendo 
feita em resultado de condições e decisões que operam ao mesmo tempo no exterior e 
no seio da nação. É que essa industrialização é a expressão possível das metamorfoses 
do capital agrícola, mediatizado pelo capital estrangeiro. 
 
 7
Por isso é que, quando a conjuntura política se torna mais favorável e a 
conjuntura econômica é propícia, o capital estrangeiro começa a afluir em maior 
quantidade. Então, revelando a sua versatilidade essencial, o capital nacional e 
estrangeiro caminham na mesma direção, muitas vezes associados. 
 
p. 21: No quadro das ambigüidades e contradições que medram no seio da 
economia brasileira, ao lado das medidas destinadas a aumentar a entrada de capitais 
externos, o governo também age no sentido de proteger os capitais nacionais. Ainda que 
o capital seja uma entidade extremamente versátil, ele não realiza o seu caráter abstrato 
senão através dos homens. 
 
Em suma, no âmbito do processo de acumulação de capital, originado com o 
desenvolvimento, o Estado surge como uma mediação. É o próprio capital, nacional e 
estrangeiro, que mediatiza o Estado, para que se constitua a configuração indispensável 
à própria manifestação. (...) A despeito de aparecer p.22: como autônomo, livre, em face 
das manifestações do capital, o progresso da interpretação revela que ele concretiza 
determinações do capital. 
 
p. 22: Neste sentido é que o Estado é um órgão de capitalização do excedente 
econômico. Mais do que excedente potencial que do efetivo, já que a sua atividade, na 
etapa em que o estamos examinando, se insere no âmbito da dinamização das 
virtualidades do sistema de mercado. 
 
Grande parte da atuação estatal, pois, está organizada segundo as determinações 
implicadas na acumulação capitalista. São a concentração e a centralização do capital 
 8
que governam parcela dos instrumentos e medidas postos em prática pelo Estado na 
ordenação e incentivo das atividades econômicas. 
 
p.23: 
 
2 – O Estado e a empresa privada 
 
Com o evoluir desse processo econômico-social e político de amplas proporções, 
o Estado se configura como um instrumento decisivo de coordenação e ação em todas as 
esferas da economia. 
 
p. 24: No ápice desse esforço geral de ordenação e orientação dos processo 
econômicos, encontra-se o Plano Trienal. Ele é a síntese mais completa de todas as 
ambições da política econômica do Estado no Brasil (...) ele resume o máximo de 
objetividade científica, no sentido de completar a revolução burguesa, ou ao menos 
fazê-la avançar bastante (...) é o máximo jamais alcançado no empenho para a 
implantação definitiva do sistema capitalista de produção no país (...) esse Plano visou 
completar a conversão da economia colonial em uma economia nacional. 
 
p. 25: O insucesso do Estado na execução do Plano – além de exprimir os 
desencontros entre o poder político e poder econômico, entre a racionalidade abstrata 
concebida no projeto e a possível no real etc. – põe em evidência que as forças políticas 
interessadas positiva e negativamente nas modificações em curso no setor industrial não 
aceitam qualquer solução modificadora do modo capitalista de produção. 
 
 9
A passagem de uma economia capitalista em formação, como é o caso do Brasil, 
para um estágio e modo puramente estatal é um fenômeno que não corresponde aos 
interesses das forças burguesas dominantes. E é isto também que elas receavam. 
 
Num momento de instabilidade e crise do poder político, momento em que se 
enfraqueceram ou mesmo se romperam momentaneamente as vinculações do Estado 
com os grupos dominantes da burguesia, formulou-se um projeto que propunha uma 
racionalidade que ultrapassava os limites da consciência que a burguesia formulara da 
situação. 
 
É que essa classe atribuiu ao Plano a virtualidade de tornar o mercado, que é 
uma das categorias fundamentais do sistema de produção, numa entidade vazia. 
 
Ela temeu que a economia de mercado se transformasse numa economia de 
consumo. 
 
p. 25: Nesse incidente, evidenciou-se a distância que separa a consciência 
burguesa (deixando-se de parte as nuanças significativas de suas facções) da 
consciência que muitas vezes se configura ao nível do Estado. 
 
Entretanto, um acontecimento como este não é comum. Em geral, os 
governantes caminham mais próximos das possibilidades da consciência dos 
governados. A experiência dos p.26: últimos anos, em sua maior parte, demonstra que 
ocorre. Como o processo político da revolução burguesa no Brasil é um fenômeno que 
se tem desenrolado sem convulsões muito violentas – salvo a revolução de 30 – a ação 
 10
estatal tem se manifestado com grande margem de viabilidade. É que as ambições dos 
projetos não pretenderam nunca subverter as possibilidades da situação. Ao contrário, 
os projetos sempre estiveram rentes às condições e tendências reais do sistema. 
Independentemente de suas ambições, os planos e os órgãos mencionados, bem como os 
seus instrumentos de execução, via de regra constituíram-se para propiciar a 
constituição do modo capitalista de produção. Destinaram-se, em graus variáveis, a 
reintegrar interna e externamente as forças produtivas e os quadros institucionais. 
 
p. 28: De fato, a incessante intervenção governamental na vida econômica é o 
resultado de uma configuração estrutural específica das nações que ingressam decidida 
e aceleradamente na etapa da industrialização. 
 
De um lado, a necessidade de romper ou, ao menos, redefinir determinadas 
vinculações coloniais, que impedem a capitalização no interior do país. De outro, e para 
que essa reintegração se verifique efetivamente, é indispensável criar um sistema infra-
estrutural inexistente ou precário. 
 
p.29: Muitas vezes, são grandes unidades de produção, que envolvem elevados 
investimentos e longos períodos de construção e maturação, o que a iniciativa privada 
nem sempre tem condições de realizar. Além do mais, as reduzidas dimensões do 
mercado, na fase pioneira, afastam as perspectivas de lucros elevados desde o princípio. 
 
Por isso tudo é que a iniciativa privada não pode interessar-se pelos 
investimentos na esfera da produção de meios de produção. Devido: 1) aos montantes 
de capitais, 2) às dimensões do mercado consumidor do produto que se quer fabricar e 
Comentado [P1]: Numeração minha RAP 
 11
3) também ao tempo menor para a montagem e funcionamento das empresas de 
produção de meios de consumo, a iniciativa privada interessou-se muito mais por esta 
esfera de atividade 
 
E foi nesta, efetivamente, que se iniciou e progrediu rapidamente a substituição 
de importações. Beneficiando-se de medidas fiscais, tarifárias e cambiais, bem como do 
protecionismo ocasionado pelas crises ocorridas no seio do capitalismo mundial, a 
iniciativa privada brasileira iniciou e ampliou grandemente a produção de meios de 
consumo. 
 
Entretanto, ao mesmo tempo que se expandiu a produção nesta esfera, criaram-
se outros problemas, que a iniciativa privada não pode enfrentar sozinha. 
 
Há um momento do processo de desenvolvimento das forças produtivas em que 
o Estado se torna imprescindível, para que o processo não se interrompa, nem sofra 
distorções indesejáveis para amplos setores da população. Portanto, são configurações 
determinadas da estrutura econômico-social que produzem uma reorientação da atuação 
governamental. 
 
p. 30: Mas essa possibilidade de atuação do aparelho estatal não foi nem aceita 
espontaneamente pelas diferentes classes sociais. 
 
3 – Transformações da estrutura econômica 
 
 12
p. 33: A análise do sistema industrial (em seu funcionamento, em suas 
distorções), revela que o capital industrialnasceu do capital agrícola. 
 
(...) a passagem do capital agrícola ao industrial se realiza pela mediação do 
capital comercial e do capital financeiro. 
 
p.34: Esse processo encontra-se em atividade no presente. É através de 
sucessivas metamorfoses do capital agrícola que a industrialização se tornou possível, 
em sua maior parte. Por meio de controle e estímulos encadeados, o Estado provoca a 
canalização de uma parte de excedente econômico agrícola para a esfera industrial. 
 
p.35: Em nível mais concreto, a emergência da indústria no seio de uma 
economia predominantemente agrícola e exportadora se dá através de três tipos de 
empreendimentos, que exprimem formas distintas de concretização do capital. 
 
Em primeiro lugar, surgem as empresas que resultam das aplicações de capitais 
de cafeicultores (ou membros de sua parentela). 
 
Como a dinâmica da economia cafeeira exigiu que o fazendeiro se tranferisse 
para a cidade e se transformasse em comerciante e, em alguns casos, também em 
banqueiro, houve um momento em que se impusera mas [sic] novas possibilidades 
abertas à aplicação do capital. 
 
Apoiado numa complexa experiência empresarial (produção agrícola, 
comercialização do café, vivência bancária, convívio com outros tipos de atividades e 
Comentado [P2]: Grifos meus 
 13
pessoas, no meio urbano) o cafeicultor percebeu outras possibilidades de investimento, 
encaminhando parte de seus capitais para o comércio ou a indústria (...) Algumas vezes, 
eles se beneficiavam das ligações com o capital internacional, com o qual se 
encontravam vinculados devido à exportação de café 
 
p. 36: Em segundo lugar, utilizando as próprias poupanças, bem como a de seus 
familiares, os imigrantes também fundam empresas fabris. 
 
São empreendimentos de menor vulto e estão apoiados em capitais 
“domésticos”, obtidos diretamente das poupanças de salários agrícolas (na cafeicultura) 
ou no pequeno comércio de gêneros comuns diários. 
 
p. 36: Em terceiro lugar, fundaram-se empresas com capitais externos. 
 
Estimulados pelas condições do mercado brasileiro em expansão, pelo baixo 
custo da força de trabalho e matéria prima, pelas perspectivas de altos lucros (devido 
também à influência do preço das congêneres estrangeiros), pelas condições 
monopolísticas propiciadas por esse tipo de mercado, empreendedores de outras nações 
também se interessaram por investimentos industriais no Brasil. 
 
p. 37: Depois de um período de intensa reelaboração da estrutura social, 
conforme atestam todos os movimentos políticos e armados registrados desde 1922, a 
partir de 1939 a economia brasileira já se encontrava marcada pelo fenômeno da 
industrialização em marcha. 
 
Comentado [P3]: Verificar, ulteriormente, essas idéias em RBB, 
de FF: “imigrante como herói da industrialização”. 
 14
p.39: A produção industrial, por exemplo, ganha um ritmo mais acentuado que 
cada um dos outros setores, especialmente depois de 1955. 
 
p.40: Como o processo de substituição das importações de meios de consumo já 
alcançara um nível satisfatório, preenchendo as principais necessidades do mercado 
nacional, nos últimos anos os capitais disponíveis foram encaminhados numa alta escala 
para a produção de meios de produção. Todavia, dado o caráter dos investimentos nesta 
esfera (...), o Estado dedicou-se a incentivá-los por diversos meios. 
 
Diante desse capital, a sociedade nacional tem reagido em diversas direções, 
revelando, de modo nítido, o conteúdo político do capital. 
 
p. 41: Os grupos cujos interesses estavam ameaçados pela nova política, logo se 
organizaram. No fim do mesmo ano o Brasil era governado por outro presidente. 
 
p. 41: Trata-se da desnacionalização da indústria nacional, que envolve não 
apenas novas técnicas de evasão do excedente econômico como também a 
transformação do Brasil numa nação “associada” do capitalismo internacional. P.42: Em 
outras palavras, ao mesmo tempo realiza-se e frustra-se a revolução burguesa no Brasil. 
 
p.42: 
 
4 - O Estado como centro de decisão 
 
Comentado [P4]: Outros setores: agricultua, comércio e 
transportes, p. 38 (quadro II). 
Comentado [P5]: Verificar o ano de 1960 e a sucessão 
presidencial. 
Comentado [P6]: Ver, também, essa questão na RBB. 
 15
p. 43: Ao examinar as manifestações mais notáveis deste século, verificamos que 
há épocas em que a atuação do governo é de natureza assistencial, protetora, enquanto 
que em outras oportunidades ele orienta, incentiva e dinamiza as atividades produtivas. 
 
Tomadas em conjunto, as participações do aparelho estatal nas atividades 
econômicas podem ser divididas em duas orientações distintas. 
 
Na primeira fase, que corresponde a uma orientação perfeitamente configurada, 
o Estado age em função da necessidade de preservar certos níveis de renda e emprego 
em setores determinados da produção. Ele atua como regulador da produção e cria 
instrumentos de defesa de setores com nível de renda ameaçado por desajustes ou crises 
geradas interna ou externamente. Ex.: institutos do café, sal, do pinho, do cacau, mate, 
do açúcar e do álcool (...) O caso mais notável, pela sua importância no conjunto da 
economia nacional, é o setor cafeeiro. 
 
p. 47: Próxima fase... 
 
É a fase em que o Estado ingressa ativamente nas diversas esferas da vida 
econômica, colaborando, incentivando e realizando a criação de riqueza. 
 
Nesta classe, destacam-se: 
- Companhia Siderúrgica Nacional 
- Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia 
- Companhia Hidroelétrica do Vale do São Francisco 
- Comissão do Vale do São Francisco 
 16
- Banco do Nordeste do Brasil 
- Petrobrás 
- Eletrobás 
- Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste 
- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 
- Plano Salte 
- Programa de Metas 
- Plano Trienal 
 
Agora os governantes estão empenhados em programas setoriais, regionais ou 
mesmo globais de desenvolvimento. 
 
p. 48: É nesta ocasião e a propósito dessas mesmas instruções do governo que se 
desenvolve a polêmica entre Roberto Simonsen e Eugênio Gudin, em torno do 
desenvolvimento planificado ou espontâneo. 
 
Em resumo, são essas as duas orientações da política econômica estatal. 
Naturalmente elas não se restringem a duas fases nítidas e sucessivas. Em parte, 
coexistem ainda na atualidade p. 49:, revelando flutuações e ambigüidades na 
orientação do aparelho governamental. 
 
(...) a legislação tarifária tornou-se cada vez mais importante à proteção das 
atividades artesanais e fabris no país, desde a segunda metade do século passado. 
 
 17
p.50: Haveria que se dedicar também alguma atenção à legislação tributária, às 
orientações da política financeira e aos instrumentos cambiais. 
 
p. 51: Em suas linhas gerais, conforme descrevemos nos parágrafos anteriores, 
os sentidos básicos da política econômica estatal resumem-se em duas orientações. 
Neste ponto elas podem ser interpretadas melhor. 
 
Uma delas se orienta no sentido da defesa setorial, com a regularização da 
produção em face do consumo interno e externo. 
É uma orientação que pode ser definida como específica de uma fase de 
crescimento econômico, em que as forças produtivas não encontravam canais novos de 
manifestações nem recebiam estímulos institucionais. 
 
No caso brasileiro, essa orientação se funda num estilo patrimonial de ordenação 
econômico-social e política dos homens. (...) resultam de uma manipulação 
discricionária do aparelho estatal, sem que sejam levados em conta os interesses de 
outras classes sociais e sem que se cogite dos seus significados prospectivos, a médio e 
longo prazo. 
p. 52: A outra orientação, que ganha espaço nos último anos, inclina-se no 
sentido da dinamização e diversificação das atividades produtivas. 
Ao responder a uma situação nova, ela pode ser definida como específica de 
uma fase de desenvolvimento econômico, em que as forçasprodutivas encontram novos 
canais de expressão e recebem impulsos às vezes de grande envergadura. 
 
 18
Trata-se de desenvolvimento porque a estrutura econômica se encontra em 
modificação e os instrumentos criados se destinam exatamente a acelerar e ampliar a 
transformação estrutural. 
 
CAP. II – ESTRUTURA SOCIAL E SUBDESENVOLVIMENTO 
 
1 – Desenvolvimento equilibrado 
 
p. 55: Em face das flutuações das atividades econômicas, em especial das 
flutuações mais violentas, o Estado surge como o órgão todo poderoso, em condições de 
jogar com os elementos principais da situação e restabelecer a “eunomia” do sistema. 
 
Isto não significa que o Estado seja um órgão exterior e superior ao sistema. Ou 
que ele guarde uma distância privilegiada em face das relações e tensões entre os setores 
de produção, as classes sociais, a economia nacional e a externa. O que ocorre é que o 
Estado, como instituição fundamental do sistema social global, está na base e na cúpula 
do sistema de apropriação e dominação. Na ordenação das relações entre os homens, ele 
toma a iniciativa das reordenações, controles, estímulos e assim por diante. 
 
p. 56: (...), o Estado assumiu encargos crescentes, para preservar o status quo e 
favorecer transformações equilibradas, ou relativamente equilibradas. 
 
Não se trata de um funcionalismo em que o todo determina necessariamente as 
partes. Na interpretação que estamos desenvolvendo, a totalidade não só não é 
indiferenciada, como se houve equivalência entre os seus elementos, como também é 
 19
produzida por determinados componentes essenciais do todo. (...) O que interessa neste 
ponto é que o Estado, em face das situações críticas, é levado a exercer atividades 
destinadas a eliminar focos de crise ou levá-las a desenvolvimentos ordenados. O status 
quo não suporta comoções violentas. 
 
Por isso, o desenvolvimento equilibrado se impõe como um alvo permanente no 
jogo das forças políticas em luta pelo excedente e as formas mais produtivas do capital. 
 
p. 57: A preocupação com a realização do desenvolvimento ordenado está 
presente na política econômica adotada na fase da aceleração da expansão industrial do 
Brasil. 
 
Em 1955, quando apresentou o seu programa nacional de desenvolvimento, 
Juscelino Kubitschek de Oliveira aspirava que o Estado se tornasse o instrumento 
fundamental na ruptura do que alguns economistas denominavam de equilíbrio 
estagnado no subdesenvolvimento. (...) Como se o Estado não fosse também mediação 
nas relações entre os homens, ele é reificado pelos próprios homens que dele se 
utilizam. É preciso romper o círculo vicioso da estagnação econômica e colocar a 
economia nacional em marcha; por isso se dão novos atributos a ele. Concebendo a 
realidade econômica como um circuito fechado e mecânico, essa interpretação revela o 
limite máximo do entendimento possível aos governantes empenhados na 
industrialização sem convulsões. 
 
 20
p. 57: De acordo com essa concepção, o sistema de livre concorrência 
abandonado a si mesmo não propicia a distribuição ótima dos recursos produtivos 
disponíveis. 
 
p. 58: Em outros termos, o desenvolvimento no Brasil ocorre sempre com a 
eliminação e criação simultânea de distorções e desequilíbrios. 
 
p.59: Todavia, nos limites das possibilidades abertas pelo regime, o Estado no 
Brasil tem caminhado bastante. Antes de 1930, quando a produção dominante era a 
cafeicultura exportadora, ele esteve orientado em outra direção, no sentido de preservar 
a economia de tipo colonial. Depois, o Estado iniciou novas atividades, alargando sua 
área de atuação a refinando os seus instrumentos. Em 1944, já se pensava em planejar o 
desenvolvimento econômico nacional, para que se concretizasse a racionalidade 
possível ou presumida. 
 
Em face do pauperismo, da pobreza de recursos, das deficiências da técnica, das 
disparidades regionais, das fraquezas do protecionismo, da inflação, dos problemas 
gerados com a guerra e da consciência empresarial inexperiente, o Estado se propõe 
talvez pela primeira vez o planejamento nacional. 
 
p. 62: Em síntese, ao examinar a tendência da política econômica estatal, no 
sentido de enfrentar os desequilíbrios, verificamos que a estrutura econômica começa a 
exprimir as suas dimensões históricas. 
 
 21
Em outros termos, quando observamos a intervenção estatal assumindo 
característicos especiais nos momentos críticos, verificamos que a estrutura do objeto 
desta análise não se reduz nem se esgota em sua dimensão econômica. Nos momentos 
críticos, ela revela todo o seu conteúdo social e político. 
 
p.62: 
 
2 – Industrialização 
 
p.62: Todo o esforço de desenvolvimento nacional tem por objetivo fundamental 
a expansão das atividades industriais 
 
A substituição das importações, para dar autonomia e auto-sustentação ao 
desenvolvimento do país, concentra-se na produção p.63: de meios de consumo e de 
produção industriais. Anteriormente, quando a economia agrária exportadora era 
hegemônica, toda a atividade estatal se restringia a medidas destinadas a preservar ou 
favorecer o crescimento da produção, sem que se pusesse em jogo a modificação 
estrutural. 
 
p. 63: A ordem sócio-econômica estava apoiada numa estrutura econômica que 
não podia sofrer alterações senão restritas. Eram um todo integrado. 
 
Nas décadas recentes, ao modificar-se a configuração do sistema, devido à 
conjugação dinâmica de processos internos e externos, forças políticas novas se 
organizaram para diversificá-los aceleradamente, a fim de que houvesse uma utilização 
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melhor das forças produtivas e se resolvesse sem crises profundas o antagonismo 
crescente com o setor externo. Em outros termos, tratava-se de explorar ao máximo as 
possibilidades de reprodução do capital, fenômeno para o qual estava sendo despertada 
ampla parcela das populações urbanas. Para isto, a criação e dinamização do setor 
industrial se impôs como solução. 
 
p.66: Para que essa reorientação se verifique, no entanto, é necessário modificar-
se o sistema de relações constituído no regime anterior. É preciso que toda a trama das 
instituições e sistemas de relações (política cambial, monetária, fiscal, tarifária, etc.) 
bem como o próprio estilo de dominação se transforme. (...) É preciso reestruturar o 
sistema em seus segmentos dominantes, para que o destino do excedente econômico 
seja outro. Por isso que as relações da nação com o imperialismo se colocam em outros 
termos (...) Como a revolução burguesa em andamento não se havia apoiado numa 
ruptura com o imperialismo, a luta contra este foi conduzida por meio de ambigüidades, 
que parecem contraditórias à análise apressada. Nesse processo de redefinição das 
relações do país no seio do sistema mundial, reestrutura-se também o aparelho estatal. 
Ressurge, modificado, o Estado que estivera organizado de conformidade com um 
regime de produção voltado para fora. 
 
p. 71: Em face do desenvolvimento industrial, que é o fulcro da questão, essas 
relações adquirem uma importância excepcional. Como a sociedade nacional não podia 
ou não quisera optar por um desenvolvimento “autônomo”, a industrialização far-se-á 
em colaboração cada vez mais estreita com os capitais externos. 
a
 23
p. 73: A industrialização estava sendo encaminhada de maneira a apoiar-se na 
associação de capitais. Essa tendência se torna dominante no Programa de Metas. O 
capitalismo é um só. Quando a industrialização se impõe no Brasil, esta se faz em 
conjugação e no âmbito do capitalismo internacional. 
 
p. 73: As falsas dualidades 
 
Em termos abstratos, como a industrialização se constitui com uma 
racionalidade diversa da vigente no sistema criado com base na economia agrário-
exportadora, para que ela se instaure e se expanda é indispensável que se expanda e se 
instaure em segmentos cada vez mais amplos do sistema global a sua racionalidade. 
 
Esta é a baseúltima das lutas pelas “reformas de base”. Modificar determinadas 
instituições, como, por exemplo, o regime de uso da terra e o sistema bancário, 
grandemente determinados pelo setor externo, é um imperativo do sistema econômico-
social dominante, para que se realize efetivamente a sua dominância e se criem as 
condições nas quais ele se expandirá ainda mais. 
 
p. 74: Nessa linha de raciocínio, a reintegração global impõe a interpretação das 
descontinuidades e desequilíbrios da economia nacional. Ou melhor, ela impõe a 
reordenação de “economias” locais e regionais, em função das determinações da 
produção dominante, que é industrial. 
 
Assim, a fisionomia singular do Nordeste ou da Amazônia, em face do Centro-
Sul em avançado estágio de industrialização, é tomada por algumas correntes de 
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cientista sociais como uma manifestação das dualidades que permeiam fatalmente a 
realidade nacional, assim como de toda a nação do “terceiro mundo”, e que precisam ser 
superadas como tais. 
 
p.74: Fala-se em “dois brasis”, atraso cultural, sociedade arcaica e sociedade 
moderna, sociedade aberta e sociedade fechada e assim por diante. Economistas, 
sociólogos e antropólogos, ao interpretar a realidade p. 75: nacional, para encontrar as 
vias de superação das descontinuidades e obstáculos à incorporação de segmentos pré-
capitalistas, dedicam-se à descrição e explicação das “dualidades básicas” da realidade 
brasileira. 
 
p.77: Nossa interpretação é diversa. Essas descontinuidades são do mesmo tipo e 
revelam níveis diferentes de integração. São subsistemas que fazem parte intrínseca do 
todo e representam elementos necessários, ou virtuais, das expansões do todo. As 
economias de subsistência não são, muitas vezes, senão sub-sistemas que já estiveram 
integrados de outro modo ao mercado, tendo regredido por causa da dinâmica interna 
própria desse mesmo mercado. Nesse sentido, são reservas com as quais conta o 
mercado em suas expansões necessárias. 
 
Não se trata de uma integração visível nas relações entre os núcleos dominantes 
e os “bolsões” de subsistência, mas de uma integração estrutural, que escapa às relações 
de trocas ou comunicações visíveis. É uma integração que possui muito de virtualidade 
e, como tal, necessária. Teoricamente ela é concreta. 
 
Comentado [P7]: Puro Marx: “unidade do diverso”!!! 
 25
p. 80: O conceito de dualidade retira a historicidade da história, tomando o 
objeto presente em sua existência manifesta. 
 
A industrialização e a urbanização, muitas vezes simultâneos, são processos que 
estão na base das modificações demográficas nacionais. 
 
p. 81: Quando observamos a conversão das populações caboclas, que se 
encontravam vivendo em economia de subsistência, em populações urbanas, 
proletarizadas, como o revelam estudos sociológicos e antropológicos recentes, 
verificamos que o abismo que separa campo e cidade resulta necessariamente das 
contradições geradas pela divisão do trabalho no nível nacional 
 
Em geral, esse caboclo representa força de trabalho virtual, que se efetiva de 
conformidade com as necessidades da produção fabril ou terciária. 
 
Nesta interpretação, o cangaço e o fanatismo são manifestações críticas das 
relações antagônicas criadas com a dominação do campo pela cidade. 
 
Tanto assim, que as diferenciações da estrutura econômica do Brasil dependem 
de capitais e tecnologias externos, mas não de força de trabalho. 
 
Em suma, nenhuma economia capitalista, subdesenvolvida ou não, é 
perfeitamente integrada. 
 
 
 26
p. 82: Além do mais, a visão dualista da realidade é abstrata e apenas descritiva. 
Ela não se apóia na análise das continuidades ou articulações do sistema, mas, ao 
contrário, na afirmação de suas desigualdades. Ela se apóia na exploração descritiva de 
apenas uma face da realidade, em sua superfície. E toma as desigualdades como 
significativas em si, deixando de apanhar o seu significado integrativo. 
 
Finalmente, é uma concepção mecânica da realidade que está na base da teoria 
das dualidades. 
 
p. 83: 
 
4 – O capital externo 
 
A industrialização impõe esforços excepcionais ao país que a intenta nas 
condições em que o faz o Brasil. 
 
Mas depende também de condições sócio-culturais e políticas, em cujo ambiente 
aqueles fatores se encadeiam e realizam. Enfim, é a conjugação excepcional de forças 
produtivas e condições não econômicas que possibilita a transição estrutural. 
 
p. 84: (...) é indispensável examinar mais de perto a trama das relações entre a 
economia nacional e o sistema econômico capitalista mundial, no qual se insere o país. 
 
p. 85: Assim como o subdesenvolvimento é o resultado das relações entre uma 
economia colonial ou semicolonial com a metrópole, a superação ou apenas 
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modificação da situação de subdesenvolvimento depende da transformação daquelas 
relações. E essas relações, como é óbvio, são em grande parte determinadas a partir do 
núcleo dominante, aonde [sic] são gerados ou ao menos controlados os processos 
fundamentais. 
 
p.86: (...) o capital externo foi considerado pelo governo como essencial à 
expansão das atividades produtivas. 
 
Para esse fim, o Estado pôs em ação todas as técnicas disponíveis e formulou 
novas, para atrair o capital externo. 
 
p. 90: De conformidade com as tendências da concentração e centralização do 
capital, que rege a sua movimentação, tanto no âmbito do mercado interno como do 
mundial, mais de 70% desse capital foi investido em São Paulo. 
 
A descrição das relações do capital externo com a industrialização será 
incompleta se não a ampliarmos com os elementos relativos às saídas de capitais e 
remuneração de serviços. 
 
p. 93: É que o capital produzido no Brasil não está se convertendo em aplicações 
produtivas. 
 
O ritmo e o sentido da industrialização dependem do controle dos fluxos do 
capital externo. Por isso é que não se pode afirmar que o Brasil ganhou a autonomia em 
seu desenvolvimento econômico. 
 28
 
p. 94: A versatilidade do imperialismo acompanha a do capital, do qual é 
conteúdo. 
 
Como a economia do país semi-colonial é um complemento inserido neste, 
aonde se localizam os centros de decisão, a industrialização iniciou-se em oposição ao 
imperialismo. Dependeu de uma rearticulação interna deste. Entretanto, como p. 95: 
essa oposição não evoluiu até à ruptura total, em que o modo de produção seria 
necessariamente alterado, a aceleração e diversificação posterior da própria 
industrialização passa a depender de reintegração no âmbito do capitalismo mundial. 
 
CAP. III – ECONOMIA E POLÍTICA 
 
p. 99: 
 
1 – O empresário e o Estado

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