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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Victoria Montezino Pagliuso TIA: 41916697 email: victoriamontezino@gmail.com FICHAMENTO CRÍTICO DO CASO CASO SALES PIMENTA VS. BRASIL GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA SIDH Professora Dra. Orly Kibrit ENCONTRO DO DIA 28.10 VICTORIA MONTEZINO PAGLIUSO TIA: 41916697 1. O CASO Gabriel Sales Pimenta, defensor dos direitos humanos dos mais vulneráveis, formado em direito, abandonou seu emprego e a vida que conhecia para se juntar a movimentos sociais que tem como objetivo a protação dos direitos de trabalhadores rurais e seu direito à terra na região Norte do país. Após se mudar para o Pará, se tornou representante legal do STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Em pouco tempo, após lutas e mais lutas defendidas pelo ativista, veio a primeira vitória judicial que determinou o retorno dos posseiros à região de Pau Seco (região conflituosa e de onde a vítima sofria grandes ameaças): “Devido ao seu trabalho, a suposta vítima teria recebido várias ameaças de morte e teria solicitado proteção estatal em várias ocasiões junto à Secretaria de Segurança Pública em Belém, no Estado do Pará. Finalmente, teria sido morto em 18 de julho de 1982. De acordo com a Comissão, essa morte teria ocorrido em um contexto de violência relacionada às demandas por terra e reforma agrária no Brasil” A morte se deu a 40 anos quando, ao sair de um bar em Marabá, o advogado foi morto comtrês tiros nas costas, à queima-roupa. O crime foi cometido por fazendeiros que exploravam a madeira na área e não aceitaram a liminar derrubada por Gabriel. Após receber a denúncia criminal em face dos três UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Victoria Montezino Pagliuso TIA: 41916697 email: victoriamontezino@gmail.com criminosos, foi agendado interrogatório mas apenas um dos acusados apareceu. Tempos depois houve mudança no magistrado responsável, que decretou as prisões – um dos meliantes alegava não ter participação e teve sua prisão revigada – e dali começou uma trajetória de dificuldades no momento de investigação que envolviam desde corrupção a alegação de falta de provas, apesar das testemunhas presentes. Os acusados tentaram manter sua defesa por meio da Defensoria Pública, que desistiu de sua defesa com fundamento no argumento de que por serem fazendeiros, teriam recursos para financiar sua própria defesa. Um dos réus, Marinheiro, foi morto em crime de encomenda e teve extinta sua punibilidade. Crescêncio, que alegava inocência, teve sua denúncia julgada improcedente por falta de provas (futuramente apareceu morto em circunstâncias desconhecidas ao público). Apenas Nelito iria a júri popular, onde o juizo reconheceu que Marinheiro e Nelito deveriam ser denunciados: “pelas provas contidas no caderno processual, este juízo está convencido da existência do crime e de serem os denunciados Manoel Cardoso Neto (Nelito) e José Pereira da Nóbrega (Marinheiro) os seus autores”. Após uma trilha de dificuldades enfrentadas pelo Poder Judiciário, três agentes da Polícia Federal prendeu Nelito em Pitangui, em uma das 63 fazendas que pertenciam a seu irmão. A defesa de Nelito ingressou com habeas corpus alegando que não havia fuga, mas sim falta de atualização de endereço e falta de empenho da justiça em sua localização por meios razoáveis. A ação de danos morais em face do Estado do Pará impetrada por Maria da Glória Sales Pimenta, mãe de gabriel, tinha como base de argumentação a morosidade na tramitação do processo criminal e a consequente impunidade pelo assassinato do seu filho. O estado foi condenado a pagar R$ 700 mil de indenização, mas não o realizou pois o recurso indeferiu seu pagamento. Enfim, 24 anos depois, a ação contra o Estado chegou na Comissão Interamicana de Direitos Humanos por meio do CEJIL e CPT com tese de suposta violação do direito à vida, à segurança e integridade pessoal, além do direito à justiça e de associação. O que a família deseja, segundo o irmão da vítima, é apenas a reparação e criação de protocolos para que se projeta a vida UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Victoria Montezino Pagliuso TIA: 41916697 email: victoriamontezino@gmail.com dos ativistas, em conjunto da necessidade de celeridade dos processos caso venha a ocorrer a morte. 2. A REPARAÇÃO Em sua sentença, a Comissão declara que o Estado brasileiro cometeu as seguintes violações de que era acusado: o direito de acesso a justiça, direito à verdade, sanção dos responsáveis pelo assassinato, direito à integridade pessoal não só de Gabriel, mas de sua família pelo sofrimento causado pela denegação de justiça e verdade. As reparações pelas violações cometidas incluem a reparação integral aos familiares, a criação de um mecanismo que possibilite a reabertura de processos judiciais que tratem de responsabilização de perpetradores deste tipo de violência, providências de não repetição, prevenção de atos de violência e proteção de pessoas defensoras de direitos humanos. As providências de não repetição se resumem na criação de um grupo de trabalho que foque em identificar as causas e circunstâncias da impunidade estrutural contra os ativistas, desenvolvimento de protocolo de diligências para investigação desses casos e um indície que indique a efetividade do protocolo. Além do citado, é preciso reforçar o PPDH – Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos e a implementação de um sistema nacional que reuna e colete dados relacionados a casos de violência como o de Gabriel. 3. A IMPUNIDADE DOS CRIMINOSOS E SUA RELAÇÃO COM O ESTADO. Para que possamos analisar o caso com visão crítica, precisamos nos aprofundar. O que fez com que 3 fazendeiros entendessem que a sua vontade e suas necessidades se sobrepunham ao que um juiz determinou com base em provas, documentos e estudos? Ainda mais grave, o que os fez entender que acabar com a vida de outro ser humano era um meio justificável de manter seu padrão de vida que lhes era tão confortável? UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito Victoria Montezino Pagliuso TIA: 41916697 email: victoriamontezino@gmail.com De acordo com a ONG Global Witness, mais de 1.700 ativistas foram assassinados na última década, uma morte a cada dois dias. A maioria dos assassinatos se dão por pistoleiros, grupos de crime organizado e até mesmo seus próprios governos. Ainda em conformidade com a pesquisa, Brasil, Colômbia, Filipinas, México e Honduras são os países mais mortíferos. Os dados se confirmam quando a Comissão ressalta que não se trata de uma situação isolada, mas sim de uma impunidade estrutural que as pessoas com esse tipo de poder e ganância tem como benefício. O problema aqui apresentado pode ser resumido em dois tópicos: a indulgência de todo o sistema de investigação, administrativo e judicial e a falta de atribuição de responsabilidade ao Estado por seus atos que ajudam a agravar a sistemática. Em conclusão, têm-se também o questionamento feito em todos os outros encontros: até que ponto a sentença proferida pela Comissão tem efeito no território brasileiro? Como lidar com as diferenças culturais enfrentadas nas regiões mais agrícolas do país, em comparação com os polos industriais?
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