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Crise convulsiva em pediatria Crise convulsiva: evento abrupto resultante de uma descarga cerebral descontrolada, súbitas, excessivas e transitórias dos neurônios cerebrais. Podendo se manifestar desde perda de consciência a movimentos hiper ou hipotônicos, mioclônicos, sialorréia, hipoventilação e até parada respiratória. Geralmente, início e fim são abruptos, sem sinais ou sintomas prodrômicos. ● Na pediatria, o clássico é: tônico-clônico. Podendo ser generalizada (todos os membros) ou focal (um membro ou segmento) Tipos de crise: podem ser sintomáticas agudas (resultantes de agravo agudo diretamente ao SNC OU disturbios metabólicos que podem cursar com crise. A causa mais frequente é a má aderência ao tratamento) ou sintomáticas crônicas (doenças crônicas que podem cursar com crise convulsivas) Fisiopatologia: Desequilíbrio entre sistema de estímulo e inibição do SNC. Quando há um desequilíbrio entre estímulo e inibição, é comum que a excitação se sobreponha à inibição. Apesar de vários neurotransmissores causarem crise convulsiva, em pediatria os mais comuns de causarem desequilíbrio são: GABA (inibitório); glutamato (excitatório) e NMDA (excitatório). Classificação das crises: ● Generalizada: compromete todos os seguimentos corpóreos OU rebaixamento de consciência com hipoatividade ● Focal: Movimentos localizados em um único segmento OU contrações irregulares e desordenadas de algum segmento ● Desconhecida: não conseguimos distinguir se é generalizada, focal ou se alterna entre os padrões ○ OBS: A maioria das crises costuma apresentar algum grau de alteração de consciência (não necessariamente rebaixamento) ● Crises tônico-clônicas: contrações tônico-clônico generalizadas, caracterizadas por contração muscular (rigidez) rítmica (clônus). ● Crises de ausência: Perda súbita da consciência com breves lapsos associados ou não à fenômenos motores discretos. ● Crises generalizadas atônicas: Caracterizada pela perda súbita de tônus muscular e da consciência, sendo que, muitas vezes é de difícil percepção, tendo em vista o curto período de ocorrência, e a manutenção das atividades. ● Crises complexas: alterações motoras, sensitivas, comportamentais e com breve alteração de nível de consciência ● Crises mioclônicas: Contrações musculares arrítmicas, como choques, manifestando clinicamente como se o corpo projetasse ao chão. ● Crises astáticas: “Crise do cerebelo”, o indivíduo simplesmente cai por perder a base de sustentação do corpo (ou sente que vai convulsionar e amplia sua base, parecendo alguém que está bêbado) OBS: sempre colher HGT da criança. Pode ser um fator de confusão Relação anatômica dos sintomas: Epilepsia: Síndrome clínica, crônica, que se manifesta por distúrbios epilépticos recorrentes e várias apresentações, dentre elas a crise convulsiva (ou seja, a crise convulsiva é uma manifestação da crise epiléptica). Geralmente apresenta distúrbios no crescimento e desenvolvimento, além da cognição junto das crises convulsivas. As convulsões devem ser recorrentes, por definição. Ainda sobre definições de crise convulsiva: ● Provocada: alguma alteração no organismo que causa crise convulsiva. É secundária a outros eventos. ● Não provocada: O foco epileptiforme é resultante de um estímulo direto ao parênquima cerebral ● Idiopática: sem fatores desencadeantes ● Criptogênicas: sem fatores genéticos determinados Crianças geralmente não apresentam preditores ou auras. ● Preditores: é o que o paciente pode apresentar antes da crise: irritabilidade, alterações de humor, cefaleia e distúrbios de personalidade ● Aura: São eventos iniciais, geralmente o único evento do qual o paciente se recorda. Comumente são distúrbios sensoriais, parestesias ou disestesias, alucinações visuais ou sonoras, “sensações” e outras dependentes das áreas cerebrais afetadas Convulsão febril: A crise convulsiva febril não tem relação com o valor da temperatura, mas sim de variações abruptas de temperatura, além do fator genético (alguns indivíduos são predispostos a ter crises). A crise simples tem melhora espontânea e não se repete dentro de 24 horas. ➔ Para crise simples: Dipirona para febre ➔ Para crise complexa: Benzodiazepínico Crianças que têm várias convulsões febris: não tem epilepsia, tem descontrole térmico. De todos os pacientes que convulsionam, apenas 20% têm sintomatologia convulsiva, os outros 80% não se observa clinicamente uma convulsão. Em até ¼ dos casos não é possível caracterizar o tipo de convulsão. Fenômenos pós-críticos (pós-crise): Incomum em crianças. Manifestações pós-crise podem ser hemiplegia, monoplegia (paralisia de Todd), alterações de comportamento e cefaléia. Investigação de uma crise convulsiva: relacionar os sinais, sintomas com: ● Horário das crises e relação com atividades e sono ● Sintomas sensoriais ou motores unilaterais sugerem focalidade ● Pesquisa por fatores desencadeantes ● Alterações do DNPM sugerem doença neurológica não epiléptica ● Sintomas constitucionais, vômitos, atraso no crescimento sugerem etiologia metabólica ou alteração estrutural ● História de TCE, AVE, infecções e/ou intercorrências de parto: agressões prévias ● Histórico familiar: epilepsias hereditárias Exame físico: ● Abaulamento de fontanela ou rigidez nucal sugerem irritação meníngea ● Alterações do perímetro cefálico sugestivas de hidrocefalia ● Sopro cardíaco e alterações da FC podem sugerir síncope de origem cardiovascular ● Visceromegalias sugerem doenças metabólicas (ou de armazenamento) ● Atentar-se à possibilidade de TCE na presença de escoriações, acidentes ou queda ● Rebaixamento do nível de consciência, sinais focais ou alterações dos nervos cranianos: epilepsias focais – podem sugerir a etiologia ● Hemiparesia, hiperreflexia, reflexos anômalos (babinski por exemplo): lesões estruturais ● Realizar fundo de olho: papiledema, hipertensão intracraniana, hemorragia retinina ● Alterações da pele (facomatoses, café com leite, petéquias, vitiliginosas) Exames de imagem e laboratoriais: depende da etiologia e devem ser feitos sempre na primeira crise convulsiva, outras crises são consideradas escape convulsivo (a não ser que tenha história sugestiva de infecção, distúrbios hidroeletrolíticos...). ● Rastreio infeccioso ○ Hemograma ○ Líquor + Cultura ○ Urina + Cultura ○ Radiografia de tórax e outras ○ HGT ○ Sódio, potássio, TGO, TGP, creatinina, ureia ● Avaliação estrutural ○ Eletroencefalograma (essencial) ○ Tomografia de crânio com contraste (sempre desde que não tenha histórico de TCE, para não extravasar contraste e causar inflamação no parênquima cerebral) ○ Ressonância nuclear magnética ○ Angiotomografia ou angioressonancia ○ Eletroneuromiografia EEG: avaliação de impulsos neuronais. É padrão ouro para avaliação do ritmo cerebral. Na vertical temos os eletrodos colocados em várias regiões cerebrais. É comum que haja alterações de amplitudes quando a pessoa se mexe, respira fundo... Um indivíduo em crise: em determinados momentos há variação de onda eletroencefalográfica sugestiva de crise convulsiva. O número de ondas não determina o tipo da crise convulsiva. Quanto mais ondas acometidas, pior a crise. ● OBS: Estado de mal epiléptico: 30 minutos em crise sem cessar mesmo com medicações a) Em qual ambiente hospitalar esse paciente deve ser atendido? R: Sala de emergência b) Quais os primeiros passos para estabilização do paciente? R: Estabilizar via aérea, oxigênio, monitorizar e sedativo para cortar a crise c) Qual ou quais medicações utilizadas no manejo da crise convulsiva? R: Diazepam d) Qual a possível etiologia da crise? R: Etiologia infecciosa (paciente com meningite) e) Quais exames devem ser solicitados para elucidação do caso? R: Coletar líquor, hemograma, eletrólitos, HGT, gasometria, função renal e hepática. É uma crise provocada, generalizada. Ceftriaxona como tratamento empírico e atualizar calendário vacinal. f) O paciente deverá receber anticonvulsivantes para uso domiciliar? R: Provavelmente não, pois aotratar a meningite espera-se que haja retorno da função normal Nesse caso, a diferença é que a etiologia da convulsão é a febre, sendo uma crise convulsiva febril. Também devemos nos atentar que, numa crise convulsiva febril que dura menos de 15 minutos ministramos apenas dipirona, nas que duram mais de 15 minutos ministramos diazepam Nesse caso: Paciente em estado de mal epiléptico. Como etiologia devemos pensar em tumor de SNC, pois o paciente apresenta sintomas neurológicos progressivos. Realizar sempre o ABCDE. Vias de acesso: qualquer via. Anticonvulsivante de preferência via oral. A via intranasal é medida de salvamento. “Faça de qualquer jeito, mas faça” O tempo para que haja início de comprometimento cerebral: após 5 minutos. Entre 5 e 30 minutos há comprometimento neuronal e parenquimatoso. Quando passa de 30 minutos temos o estado de mal epiléptico. Esses valores mudam para a crise focal. Tratamento da crise: ● 5 a 20 minutos: 3 doses de benzodiazepínico (5, 10 e 20 minutos), infusão em bolus ○ Em RNs a crise deve ser revertida com fenobarbital. Em crises refratárias infundimos continuamente fenitoína e benzodiazepínico ● Se em 20 minutos não parou de convulsionar (entre 20-40 minutos): Hidantalização → dose elevada de fenitoína por 20 minutos (evitar TSV). ● Após 10 minutos do início da fenitoína, o paciente deve parar de convulsionar, se não: IOT, infundir BZD continuamente em doses altas. ● Se a partir disso continua convulsionando: estado de mal epiléptico refratario, então iniciamos coma barbitúrico com tiopental (muito cuidado pois pode fazer lesão renal aguda e instabilidade hemodinâmica) ● Mais de 24 horas (super refratário): Associar Cetamina em doses elevadas, pode-se associar magnésio (estabilizador de membrana neuronal), dieta cetogênica, piridoxina ou manter hipotermia a fim de “reiniciar” as funções do mesmo. ● Caso a terapia anterior ainda não de certo: imunomoduladores ● Caso imunomoduladores não deem certo: Terapia eletroconvulsiva e cirurgia para epilepsia (lobectomia) Tratamento de manutenção: ● Para “amplo-espectro” de convulsões, em casos que não consegue-se acessar o neuropediatra: Ácido valpróico ● Associação de anticonvulsivantes: reservado para o neuropediatra
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