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Luto na Família Guia sobre as repercussões da perda e possibilidades de cuidados Aimê Parente de Sousa | Gabriela da Silva Oliveira Gustavo Alberto Pereira Moura | Jorge Luís Maia Morais Maria Juliana Vieira Lima | Pedro Henrique Alves da Silva GRATUITA Esta publicação não pode ser comercializada FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Luciana Dummar Presidente André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Marcos Tardin Gerente Geral UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Viviane Pereira Gerente Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos e Secretária Escolar Joel Bruno Designer Educacional Isabela Marques Desenvolvedora Front-End EDIÇÕES DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos CANAL FDR Chico Marinho Gerente do Canal FDR Ronald Almeida Gerente Técnico e Operacional Geraldo Felismino e Sidney Moreira Operadores de Controle-Mestre Isabel Vale Editora de Mídias MARKETING & DESIGN Andrea Araujo Gerente de Marketing & Design Miqueias Mesquita e Welton Travassos Designers Fábio Braga Analista de Marketing Kamilla Damasceno Estagiária de Design Estephane Castro Jovem Aprendiz PROJETOS Aurelino Freitas e Fabrícia Góis Analistas de Projetos Vinícius Catanho Estagiário Mídias Sociais COORDENADORIA DE OPERAÇÕES E PROJETOS Luana Braga Estagiária FINANCEIRO Lecinda Mesquita Analista Financeira Narcez Bessa Analista de Contas Copyright @ 2021 dos autores Este guia foi desenvolvido por membros integrantes do Centro de Orientação sobre a Morte e O Ser (Cosmos), núcleo vinculado ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenado pelo prof. Dr. Gustavo Alberto Pereira Moura. O Cosmos tem como objeto de estudos a Tanatologia, perdas e lutos, promovendo ações de ensino e extensão. Contato: @cosmos.ufc (Instagram) / cosmos.ufc@gmail.com Luto na Família Guia sobre as repercussões da perda e possibilidades de cuidados Aimê Parente de Sousa | Gabriela da Silva Oliveira Gustavo Alberto Pereira Moura | Jorge Luís Maia Morais Maria Juliana Vieira Lima | Pedro Henrique Alves da Silva FORTALEZA, 2021 1 Por que é importante discutirmos sobre o luto na família? ...................................... 5 2 Mas, afinal o que é o luto? ................................... 8 3 Quais as reações esperadas no enlutamento? ... 10 4 Quais são os fatores complicadores no luto? . 14 5 O luto na família .................................................... 19 6 Fatores que influenciam o luto na família: a que devemos estar atentos? ............................ 23 7 Rede de suporte e outros recursos de enfrentamento ................................. 27 8 O que dizer para alguém enlutado? .................. 31 9 A importância dos rituais de despedida ......... 36 10 Sugestões de rituais às famílias ........................ 39 11 Considerações finais ............................................. 50 Sumário 1 Por que é importante discutirmos sobre o luto na família? Olá, como você está? Somos do COSMOS, Centro de Orientação Sobre a Morte e O Ser, núcleo vinculado ao Departamento de Psicologia da Universi- dade Federal do Ceará. Nós trabalhamos com temas relacionados à morte e ao luto. Compreendendo que o atual contexto de pandemia tem gerado muitas perdas para todos nós e que elas podem ser vi- vidas como um momento de muito so- frimento, queremos conversar com você um pouco sobre isso. Com esse guia, buscamos oferecer orienta- ções sobre o luto, abordando os fatores que podem favorecer ou dificultar a construção de significado para a perda, e apresentar possíveis estratégias que possam auxi- liar no enfrentamento coletivo dessa dor, possibilitando o cuidado compartilhado. 6 Sabemos que a morte de um membro da família afeta a todos os demais de diferen- tes formas, gerando, em alguns casos, difi- culdades no enfrentamento do luto ou so- brecarrega com as mudanças decorrentes do falecimento de uma pessoa amada. Esperamos que esse guia sirva de apoio e possa contribuir para você e sua família! 7 2 Mas, afinal, o que é o luto? O luto é o conjunto de reações decorrente de uma perda significativa, mais frequen- temente de um ente querido. Sabemos que a experiência de perda de- manda um processo, maior ou menor, de reorganização interna, até podermos con- viver bem com a nova situação, construindo outros significados para nossa vida e aprendendo a viver nessa nova realidade. A esse processo chamamos de luto. O luto é uma experiência natural, decorrente do rompimento de um vín- culo, que pode ocorrer ao longo da existência e afe- tar diferentes áreas da vida do sujeito, indepen- dentemente da cultura, gênero e faixa etária. 9 3 Quais as reações esperadas no enlutamento? Você sabia que o luto é um processo sin- gular? Sim, pois cada sujeito expressa e vivencia a perda de forma individual, não existindo uma maneira correta de vi- venciar essa experiência. Nesse momento, algumas sensações po- dem ocorrer, como desamparo, pesar, raiva e desproteção, demonstrando a im- portância de existir uma rede de apoio que ofereça amparo e cuidado ao enluta- do(a) quando ele(a) precisar. Além dessas sensa- ções, também é pos- sível que ocorra uma infinidade de rea- ções, estando algu- mas dessas listadas a seguir. 11 Veja se você se identifica com alguma dessas sensações? • Emocionais: tristeza; angústia; ansie- dade; raiva; falta de prazer; culpa; sen- sação de desamparo; medo; desespero; saudade; mudanças repentinas de hu- mor; sensação de não-pertencimento; • Comportamentais: paralisação; lenti- dão ou agitação motora; choro; isola- mento social; cansaço; irritabilidade; mudanças no apetite; procura pela pes- soa perdida ou objetos dela; alterações no sono ou dificuldade para dormir; • Cognitivas: dificuldade de concentração; lentidão do pensamento; sensação de que a perda não é real ou não aconteceu; • Sociais: solidão; dificuldades financei- ras (especialmente quando a pessoa perdida era responsável por grande parte da renda familiar); 12 Todas essas reações são normais e não necessariamente acontecerão ao mesmo tempo, mas caso você sinta algumas de- las, saiba que não precisa impedir ou blo- quear que sejam vividas, mas, sim, aco- lhê-las. Porque o luto é algo que precisa ser vivido para que possa, pouco a pouco, ser elaborado. Vamos falar mais sobre isso. 13 4 Quais são os fatores complicadores no luto? Compreendemos que toda perda signi- ficativa é dolorosa! Mas você sabia que algumas situações podem agravar essa dor e tornar a adaptação a essas novas condições de vida mais desafiadoras? Sabe quando isso pode ocorrer? Confira e reflita: 15 • Quando a pessoa vive mais de uma perda relevante em pouco tempo ou a dor atual reabre antigas feridas de perda que nun- ca foram realmente cicatrizadas; • Quando a morte foi inesperada ou ocor- reu de forma violenta ou dolorosa; • Quando o ente querido era jovem e es- perava-se que ainda tivesse uma vida longa pela frente; • Quando ainda havia desavenças ou ques- tões não resolvidas com a pessoa faleci- da, podendo gerar sentimento de culpa; • Quando havia um vínculo de dependência emocional com a pessoa que morreu; • Quando não houve a oportunidade de acompanhar os últimos momentos ao lado do ente querido, de realizar uma despedida ou mesmo de participar do seu funeral. Essa situação pode tornar mais difícil a materialização da perda; 16 • Quando a pessoa querida faleceu em decorrência de uma situação que acha- mos que poderíamos ter evitado, como um acidente, o adoecimento, o agra- vamento de uma doença ou o suicídio. Essas perdas podem gerar forte senti- mento de culpa; • Quando a perda vivida gera novas perdas para a família, como queda significativa do padrão de vida, mudança, abandono dos estudos, separação de parentes e amigos, entre outras. Todas estas situações podem agravar o sofrimento decorrente da perda e intensificaras reações apresentadas, além do que várias delas podem ocor- rer simultaneamente, tornando o luto um processo mais desafiador, mais intenso e/ou prolongado. 17 Destacamos que, ao perceber o agrava- mento das reações ou o seu prolonga- mento, é importante buscar ajuda espe- cializada para auxiliar no enfrentamento dessa experiência. Não deixe de pedir apoio, caso precise! 18 5 O luto na família Como sabemos, é com a família que construímos nossos primeiros vínculos, que podem durar a vida toda. Por con- vivermos mais frequentemente com os nossos familiares, eles se tornam uma referência na maneira que entendemos e nos relacionamos com o mundo e com as pessoas ao nosso redor. Assim, da mes- ma forma que os familiares podem ser 20 nossa fonte de apoio em momentos de- safiadores, podem também potencializar a experiência de sofrimento, a depender do desgaste nas relações familiares. Dentro da família, cada membro desem- penha determinadas funções, buscan- do manter o equilíbrio ou o melhor fun- cionamento do grupo. Essas relações não são as mesmas ao longo do tempo e, em decorrência de mudanças vividas por seus membros, elas também vão se modificando. Por exemplo: a necessida- de de alguém se afastar do seio familiar, como filhos que saem da casa dos pais, ou no caso de falecimento de um parente próximo. Com isso, ocorre a necessidade de rearranjo dos papéis exercidos pelos demais membros do grupo. 21 Além disso, a morte de uma pessoa com quem se tem laços afetivos significativos pode fazer com que os enlutados se sin- tam perdidos, caso a pessoa falecida seja uma referência importante para eles. Essas situações podem, portanto, contri- buir para uma desorganização na dinâ- mica familiar, o que demandaria maior apoio das pessoas à sua volta. Você já assistiu, entre amigos ou familia- res, a casos assim? Pense. 22 6 Fatores que influenciam o luto na família: a que devemos estar atentos? 6.1. Diferentes formas de enfrentamento Cada sujeito vivencia e expressa o luto ao seu modo. Para alguns, falar repetidamente sobre a perda é extremamente necessário, en- quanto que, para outros, fazer algo con- creto (como tomar providências relativas ao funeral, personalizar o jazigo, cons- truir algo que represente o morto, entre outras coisas bem objetivas) pode ser muito importante. 24 Há ainda quem prefira viver esse mo- mento ficando um pouco mais sozinho(a), buscando, neste contato consigo mesmo, compreender a experiência da perda. Por isso, não se esqueça: não devemos jul- gar a forma de sofrer das pessoas. Cada um lida do seu jeito e do modo como pode e consegue naquele momento, sendo im- portante respeitar e acolher as diversas formas de expressão do sofrimento. 6.2. A função da pessoa que faleceu na família Uma mesma pessoa pode ocupar dife- rentes papéis, simultaneamente, no nú- cleo familiar: filho, neto, irmão, pai/mãe, cônjuge etc. 25 Dependendo do papel que a pessoa faleci- da ocupava na vida dos familiares, é possí- vel que alguns membros apresentem um pouco mais de dificuldade de adaptação. Ainda mais, quando o luto familiar impõe a necessidade de reorganização de papéis. 6.3. A natureza dos vínculos familiares Não se pode negar que a natureza dos vínculos construídos na família influen- cia a forma como o luto é vivido. Relações familiares harmoniosas possi- bilitam diálogos mais abertos entre os sujeitos, o que pode ajudar a lidar com o sofrimento proveniente da perda. Relações desgastadas, ao contrário, po- dem dificultar o apoio mútuo, potenciali- zando o sofrimento. 26 7 Rede de suporte e outros recursos de enfrentamento Um outro fator que influencia a vivên- cia do luto na família é a rede de su- porte, que pode ser compreendida pe- las pessoas com as quais nos sentimos seguros, confiantes, tranquilos e que respeitam os nossos sentimentos em situações de sofrimento. Geralmente, acessamos esse amparo quando nos sentimos incapazes de su- portar sozinhos a vivência do luto ou de qualquer perda de outra ordem. A sen- sação de pertencimento e a legitimi- dade proporcionada pela rede de apoio nos autoriza a vivenciar o sofrimento, reduzindo as chances de agravar a in- tensidade do luto ou o surgimento de possíveis transtornos mentais. 28 A espiritualidade, quando nutre o su- jeito, pode ser outro recurso importante ao lhe possibilitar conforto e ajudá-lo a emprestar um significado para a perda, investir no presente e adotar uma atitude de esperança frente à vida. O trabalho também pode ser um recur- so valioso, pois quando o enlutado se envolve com alguma atividade, retira o foco exclusivo so- bre a dor da ausên- cia e o mantém vin- culado a uma rede social significativa. 29 Devemos destacar ainda o engajamen- to em atividades de cunho social, pois igualmente o retiram do foco exclusivo sobre a dor da ausência, ajudando a lidar com a perda e a encontrar novos signifi- cados para a vida. Vale, por fim, mencionar atividades físi- cas, especialmente ao ar livre, bem como o contato com a natureza, pois favorecem o movimento do corpo, propiciam o bem-es- tar e contribuem para melhorar o humor. Agora que você já conheceu alguns re- cursos de enfrentamento, perguntamos: Para você, o que lhe nutre emocional e espiritualmente? O que lhe ajuda a des- pertar seu ânimo e sua vontade de viver? Talvez, num primeiro momento, ainda não seja possível descobrir o que lhe faz bem, mas é importante investir nisso! 30 O que dizer para alguém enlutado? 8 É muito comum, nesses momentos de perda, ouvirmos alguém falar “Eu não sei nem o que dizer...”, não é mesmo? Pois bem, o convívio com pessoas que estão passando por uma perda significa- tiva pode lhe trazer dúvidas sobre como se deve agir, quando e o que se deve falar ou não falar com a pessoa enlutada. 32 Não há um jeito único ou certo do que se deve falar a alguém enlutado, já que cada pessoa é única. Algumas palavras que oferecem conforto são: “sinto muito por sua perda” ou “imagino o quanto está sendo difícil para você e estou aqui para ajudar no que puder”. Pode-se colocar ainda: “estou disponível para conversar, se você desejar”, “você e seu ente que- rido estarão em minhas preces” (caso a religião seja algo importante para você) ou simplesmente “não sei o que lhe dizer nesse momento, mas estou com você” e “posso lhe abraçar?”. Muitas vezes, mais importante do que ter as palavras certas para dizer é estar ver- dadeiramente disponível e aberto para escutar o que o enlutado deseja falar. Em alguns casos, a simples pergunta “há algo que eu posso fazer por você?” é o 33 suficiente para demonstrar a sua dispo- nibilidade e cuidado. Se possível, ofereça ajuda em tarefas simples, caso a pessoa não esteja conseguindo executá-las e es- teja aberta para receber esse suporte. Você não precisa ter medo de se aproxi- mar e de oferecer ajuda. Às vezes, a pes- soa vai querer estar com você para se distrair e esquecer um pouco tudo o que está passando. Nesse caso, aproveite para fazer coisas legais com seu ente querido, respeitando sempre a vontade dele. Em outros momentos, ele vai se encon- trar triste e vai querer falar da pessoa amada, lembrando momentos da sua vida. Então, escute e acolha a necessida- de do enlutado. Se ele está falando sobre o ente querido é por que ele precisa e é muito importante que existam pessoas disponíveis para escutar. 34 Não force o(a) enlutado(a) a ficar bem. É natural que ele não esteja. O mais im- portante é que ele(a) saiba que não está sozinho(a) e que pode contar com al- guém como você. Lembre-se: Não precisamos ter medo da dor e da tristeza, pois elas fazem parte da vida. 35 A importância dos rituais de despedida 9 Ao longo da história da civilização, a hu- manidade tem encontrado formas de dar sentido às suas perdas. Através dos rituais, sejam eles quais forem, é possí- vel afirmar a ocorrênciada morte e, ao mesmo tempo, dotá-la de sentido e signi- ficado, possibilitando amenizar a dor da ausência. Os rituais mais utilizados são: • o velório, • o enterro, • a cremação e • a missa de sétimo dia. Especialmente neste período de pandemia, em que esses rituais não estão podendo acontecer devido às restrições necessárias para se evitar o contágio da Covid-19, des- tacamos que você pode se sentir próximo da pessoa amada e de honrar sua memória e sua história através de outras formas de rituais que representem algo para você. 37 Lembramos que os recursos de enfren- tamento e os rituais não farão o mesmo sentido para todas as pessoas, cabendo a você fazer as suas escolhas. A seguir, iremos apresentar algumas su- gestões interessantes. 38 Sugestões de rituais às famílias 10 Destacamos aqui algumas possibilidades de recursos que podem ser usados para o enfrentamento do processo de luto: 10.1. Elaboração de Caixa Recordativa A Caixa Recordativa se configura como um lugar simbólico no qual podem ser guar- dados objetos que lembrem a pessoa que morreu (fotografias, cartas trocadas, pre- sentes pequenos, acessórios ou até perfu- mes e essências que a pessoa usava). O objetivo da Caixa é servir como um me- morial particular, possibilitando aos enlu- tados acessá-la quando a saudade aflorar. Como fazer: a) Escolha uma caixa com tampa, pode ser de papelão ou madeform (no tama- nho de sua preferência); 40 b) Decore a parte externa da caixa com cores, texturas ou imagens de sua pre- ferência (os tipos de materiais usados é você quem escolhe); c) Selecione os objetos que lhe fazem lembrar o familiar que faleceu. Verifi- que se eles cabem na caixa e os arma- zene (é importante guardar na caixa, somente, os objetos mais importantes e que tenham mais sentido para você); d) Reserve um lugar seguro para guardá-la; e) Abra sua Caixa Recordativa e veja o material guardado quando a saudade bater ou quiser lembrar-se da pessoa que faleceu. 41 10.2. Escrita Terapêutica e Carta ao Enlutado; O diário de afeto é uma possibilidade para que se possa escrever da forma mais livre e sincera possível sobre como você está se sentindo em relação à per- da. Colocar no papel o que está sentindo pode favorecer a expressão das emoções relacionadas à perda e a dar nome ao que você está vivenciando. 42 Uma outra possibilidade de uso da es- crita pode ser a elaboração de uma car- ta destinada à pessoa querida que fale- ceu. Nela, você pode colocar em palavras aquilo que você vive, como se sente e o que gostaria de dizer (ou ter dito) para ela. Caso faça sentido para você, use também outros elementos artísticos, como dese- nhos, colagens ou pinturas. O destino para esta carta você escolhe: guardá-la, queimá-la, enterrá-la em al- gum lugar, entre outros. 10.3. Roda de Partilha e Oração; Como falamos anteriormente, quando compartilhamos o sofrimento, podemos nos sentir apoiados para viver o processo do luto. Por isso, sugerimos que você rea- lize momentos de conversa ou de oração. 43 Que tal organizar um encontro com co- meço, meio e fim? a) Para iniciar, pode introduzir o porquê de estarem se reunindo e qual o objeti- vo do momento; b) A seguir, abre-se um espaço para que as pessoas falem livremente o que está em seu coração, sem qualquer julgamento. Pode ser que surjam emoções intensas, mas isso não é um problema, porque elas fazem parte da saudade. Deixe fluir. 44 c) Para encerrar, sugerimos que finalize com uma oração, uma música, mensa- gem ou homenagem. Caso esse momento planejado aconteça de forma on-line/virtual, você pode criar um link através de aplicativos de reunião e compartilhá-lo com as pessoas, po- dendo também fazer lives ou chamadas pelo Whatsapp. 10.4. Jantar com Quem se Foi A comida é uma forma de expressar nossos afetos e sentimentos, e pode ser usada para nos deixar mais próximos das pessoas. Quem nunca se lembrou de alguém que- rido ou de um período feliz da vida quan- do sentiu aquele cheirinho de comida gostosa? É por isso que propomos que 45 a família faça uma homenagem ao seu ente falecido por meio de um jantar, al- moço ou café com os pratos preferidos daquele(a) que se foi. Acredite, essa é uma ótima oportunida- de para juntar toda a família ao redor da mesa e partilhar um momento cheio de saudade e nostalgia. 46 A pessoa que amamos vai sempre fazer parte da nossa vida, mesmo que distante, e é por isso que esses momentos em fa- mília são tão importantes para lidar com a perda. Além disso, nessa proposta você pode cozinhar um pouco e treinar suas habilidades culinárias. Para alguns, cozi- nhar pode ser bem terapêutico e ser uma ótima chance de retornar às atividades cotidianas através de algo que traga lem- branças prazerosas. Viver o luto não significa esquecer a pessoa amada, por isso, não se cobre anular aquela pessoa da sua vida ou se- guir como se nada tivesse acontecido. Depois de uma perda, não somos mais os mesmos, e nosso mundo muda bastante. Precisamos de tempo, paciência e muita sabedoria para viver, e, para isso, é im- portante que não estejamos sós. 47 10.5. Tessituras de Afeto: playlist da pessoa falecida A nossa proposta é construir uma lista de músicas (playlist) que lembrem os gostos, os jeitos e os traços da pessoa falecida. Pode ser composta por músicas que fa- çam os membros da família lembrarem do ente querido ou por canções que você saiba que ele gostava de ouvir. Que músicas essa pes- soa cantava, ouvia ou gostaria de ouvir hoje? Pensar sobre isso, pode ajudar você e à sua fa- mília a entrar em conta- to com aquilo que per- manece dela em você e homenageá-la, animan- do o ambiente com as lembranças vividas. 48 10.6. Sobre esses Rituais Ao realizar alguma dessas nossas su- gestões, é natural que você se emocione por lembrar da pessoa amada. Não se preocupe se isso acontecer! Acolha seus sentimentos e os sinta sem julgamentos. Chorar ou até mesmo ficar triste fazem parte do processo de luto e nos auxiliam a lidar com nossa dor. Além disso, é possível que você também sinta alegria, conforto e contentamento ao lembrar dessa pessoa. Quem sabe assim você pode até abrir um belo sorriso de saudade e de gratidão? Se fizer sentido para você, por que não tentar? 49 Considerações finais 11 Diante do atual contexto de pandemia, lamentamos profundamente e nos com- padecemos pelas mais de 500.000 vidas perdidas, no Brasil, em decorrência do coronavírus, e das milhões de vidas que estão sendo diretamente impactadas por essas e tantas outras perdas. Compreen- demos que este é um cenário adverso e de muita dor, faltando, muitas vezes, pala- vras para expressar tamanho sofrimento. Às várias famílias enlutadas, externamos o nosso carinho e o nosso abraço, desejo- sos que os momentos compartilhados ao lado de seus entes queridos possam en- volvê-los também naqueles de saudade e recordações e que se tornem uma fonte de força para sua vida. 51 Esperamos que esse guia possa ajudá- -los no enfrentamento do luto, certos de que aqueles que amamos permanecerão sempre vivos em nossos corações. Deixamos registrado o nosso desejo de que este cenário possa melhorar o mais breve possível e que, até lá, possamos, dentro de nossas condições, manter viva a crença de que dias melhores estão por vir. Que a esperança permaneça sendo nos- sa estrela guia! 52 “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me deem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. 53 Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Por que eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho… Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi.” Henry Scott Holland, 1987. 54 Referências Bowlby, J. (2004). Perda: tristeza e depressão. São Paulo, SP: Martins Fontes. Bromberg, M. H. P. F. (1994). A psicoterapia em situações de perdas e luto. Campinas, SP: editorial Psy. Delalibera, M., Presa, J., Coelho, A., Barbosa, A., & Fran- co, M. H. P. (2015). A dinâmica familiar no processo de luto: revisão sistemática da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, 20(4), 1119-1134. https://doi.org/10.1590/1413- 81232015204.09562014 Holland, H. S. (1987). Death is nothing at all. [S.I.]:Souvenir. Juliano, M. C. C & Yunes, M. A. M. (2014). Reflexões sobre rede de apoio social como mecanismo de proteção e promoção de resiliência. Ambiente & Sociedade, 17(3), 135-154. Luft, L. (1988). O Lado Fatal. São Paulo: Siciliano. Mazorra, L. (2009). A construção de significados atribuídos à morte de um ente querido e o processo de luto. São Pau- lo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. (Tese de Doutorado em Psicologia Clínica). 55 Os Autores Aimê Parente de Sousa Psicóloga (CRP 01/23010) graduada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especializanda em Saúde do Adulto e do Idoso na modalidade Residência pela Escola Superior de Ciências da Saúde. Administradora da página do Instagram @psi.conexoes. Gabriela da Silva Oliveira Estudante do 8º semestre de Psicologia na Universidade Federal do Ceará (UFC), membro do Centro de Orientação Sobre a Morte e O Ser (Cosmos) e administradora da página do Instagram @apegarepsicologia. Contato: gabrielaoliveira@alu.ufc.br Gustavo Alberto Pereira Moura Prof. Dr. do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), coordenador do Centro de Orientação Sobre a Morte e o Ser (Cosmos) e administrador da página do Instagram @portaldoself. Contato: gapmoura@yahoo.com.br 56 Jorge Luís Maia Morais Psicólogo (CRP 11/17123), graduado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especializando em Saúde Mental pela Universidade Aberta do Brasil/Universidade Regional do Cariri (UAB/Urca), membro do Centro de Orientação Sobre a Morte e O Ser (Cosmos) e administrador da página no Instagram: @apegarepsicologia Contato: psi.jorgeluis@gmail.com Maria Juliana Vieira Lima Psicóloga Clínica e Hospitalar (CRP 11/09320), mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em Pediatria pela Escola de Saúde Pública e em Psicologia da Saúde pelo Conselho Regional de Psicologia. Especializanda em Cuidados Paliativos pela Faculdade Farias Brito, docente do Instituto Escutha e administradora da página do Instagram @dasmiudezas Contato: mjulianavlima@gmail.com 57 Pedro Henrique Alves da Silva Psicólogo (CRP 11/17118), graduado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especializando em Saúde Mental pela Universidade Aberta do Brasil/Universidade Regional do Cariri (UAB/Urca), membro do Centro de Orientação Sobre a Morte e O Ser (Cosmos), pesquisador voluntário do Núcleo de Estudos em Psicologia Humanista (NEPH) e administrador da página do Instagram @apegarepsicologia Contato: phalves.psi@gmail.com ACESSE o seu Guia Luto em Família em cursos.fdr.org.br E se você gostou deste Guia, se ele serviu para você COMPARTILHE EM SUAS REDES SOCIAIS. Muitos podem e devem estar precisando dele!
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