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1 - Conceitos básicos de personalidade

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Conceitos básicos de personalidade 
 
A personalidade humana sempre foi um tema fascinante para o público em geral. 
Desde os clássicos estudos de importantes pensadores, como Hipócrates, 
Platão e Aristóteles, já se tentava explicar a personalidade quando elaboradas 
as concepções gerais de homem. 
 
Seja na nossa casa ou no nosso trabalho, sobretudo naquelas situações que se 
deflagram relações interpessoais envolvendo grande admiração ou evidente 
conflito, tendemos a observar uma necessidade, por vezes extremada, das 
pessoas em explicarem os motivos de certas emoções, pensamentos e 
comportamentos, como se estes fossem produtos de uma determinada forma de 
ser no mundo ou, em outras palavras, uma condição da sua personalidade. 
 
DEFININDO PERSONALIDADE 
No senso comum, o termo personalidade adquire, basicamente, dois grandes 
significados populares, conforme apontam os psicólogos Hall, Lindzey e 
Campbell, em seu livro Teorias da Personalidade, de 1998. O primeiro está 
relacionado à efetividade com que algumas pessoas provocam reações em 
outras, em diferentes contextos, demonstrando graus de habilidades sociais para 
manutenção de relações interpessoais satisfatórias. Por exemplo, quando um 
piloto se comunica de forma ríspida com sua tripulação, ele é rotulado como um 
piloto de personalidade forte e difícil. O segundo significado refere-se à 
impressão mais destacada que um indivíduo cria no outro como uma espécie de 
impressão global. Por exemplo, quando um copiloto demonstra dificuldades em 
expor suas opiniões para o comandante em voo, ele é rotulado como um 
profissional de personalidade submissa. 
 
No diálogo com a Psicologia e a Psiquiatria, o termo personalidade tem ganhado 
muitas definições, a depender da perspectiva teórica com a qual ela é estudada. 
Porém, em um esforço de definição técnica do termo, a personalidade é 
reconhecida por meio dos comportamentos que uma pessoa emite e do papel 
que ela representa no seu meio social, sendo, portanto, entendida a partir das 
suas ações. A personalidade é entendida como “um resultado do processo 
dinâmico e contínuo de conciliar características individuais ao ambiente, de 
forma que descreva a qualidade da interação do sujeito com o meio que o cerca” 
(SAVOIA; ZUCCOLO; CORCHS, 2011, p. 751). 
 
Segundo David e Freeman (2017), a personalidade humana dita “normal”, ou 
seja, ausente de transtornos, é constituída de vários traços de personalidade 
(alguns poucos centrais, vários principais e muitos secundários). A avaliação dos 
traços de personalidade em termos de desempenho, por exemplo, envolve a 
análise das aptidões (inteligência, criatividade etc.); se a avaliação for ligada aos 
valores sociais, tem-se os traços caracterológicos (generosidade, agressividade 
etc.); e se a personalidade é avaliada em termos de dinamismo e energia, obtém-
se o que chamamos de traços temperamentais (temperamento explosivo, 
impulsivo, inibição etc.). 
 
São muitos os modelos de personalidade humana. Não os abordaremos aqui, 
pois extrapolariam os limites de nossa disciplina. No entanto, entre os modelos 
existentes, revisaremos o modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF), referido na 
literatura como big five em razão de sua abrangência e forte sustentação 
empírica, além de ser o modelo predominantemente utilizado por psicólogos na 
avaliação psicológica orientada a pilotos e demais profissionais da aviação para 
avaliação da personalidade em processos seletivos de empresas aéreas e 
emissão de Certificados Médicos Aeronáuticos (CMA), conforme exigido 
pelo RBAC 67 - Regulamento Brasileiro da Aviação Civil nº 67 da ANAC - 
Agência Nacional de Aviação Civil. 
 
EXPLICANDO 
O RBAC 67 é a regulamentação específica da ANAC, publicada em 2017, que 
trata dos requisitos para concessão de Certificados Médicos Aeronáuticos, para 
o credenciamento de médicos e clínicas e para o convênio com entidades 
públicas. A avaliação psicológica é requisito entre os exames de saúde periciais 
necessários para a emissão do CMA, e os testes psicológicos aplicados devem 
embasar parecer técnico sobre a personalidade e as capacidades de atenção, 
memória e raciocínio do indivíduo. 
 
MODELO DOS CINCO GRANDES FATORES 
O modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) tem origem na análise da 
linguagem utilizada para descrever pessoas. Em sua configuração atual, o 
modelo propõe a avaliação da personalidade com base em cinco fatores, 
denominados extroversão, socialização (também traduzido como 
agradabilidade), realização, neuroticismo e abertura a novas experiências. 
 
Cada fator inclui diversos traços de personalidade mais específicos. 
Segundo os pesquisadores Nunes, Hutz e Nunes, em seu trabalho Bateria 
Fatorial de Personalidade (BFP): manual técnico, de 2017, definem os cinco 
grandes fatores como: 
 
Extroversão: 
Relacionado às formas como as pessoas interagem umas com as outras e 
sinalizam o quanto são comunicativas, falantes, ativas, assertivas, responsivas 
e capazes de agregar. Avalia a sociabilidade e potenciais de afetuosidade, nível 
de atividade e estimulação. 
 
Socialização: 
Relacionado à qualidade das relações interpessoais. Avalia os tipos de 
interações que uma pessoa apresenta ao longo do tempo, desde sentimentos de 
compaixão e empatia até um possível antagonismo. 
 
Neuroticismo: 
Associado às características emocionais das pessoas. Refere-se ao nível 
crônico de ajustamento e instabilidade emocional dos indivíduos. Avalia também 
as diferenças individuais que ocorrem quando uma pessoa experimenta padrões 
emocionais associados a algum desconforto psicológico. 
 
 
Conscienciosidade: 
Relacionado à autodisciplina, orientação para o dever e para a realização de 
objetivos e metas. Esse traço de personalidade, quando alto, mostra uma 
preferência pelo comportamento planejado ao invés daqueles mais 
espontâneos. Influencia a forma como nossos impulsos são controlados e 
dirigidos. 
 
Abertura: 
Relacionado aos comportamentos exploratórios e ao reconhecimento da 
importância de se ter novas experiências. 
 
Estudos demonstraram que a personalidade exerce forte influência, apesar de 
não ser determinante, sobre o desempenho na aviação. Ainda, entre os fatores 
de personalidade analisados no modelo CGF, o fator conscienciosidade é um 
dos mais fortes preditores do bom desempenho entre pilotos. 
 
PERSONALIDADE E DESEMPENHO NA AVIAÇÃO 
O desenvolvimento da Psicologia de Aviação e o estudo da personalidade entre 
pilotos teve início na Primeira Guerra Mundial, na tentativa de selecionar aqueles 
que detinham a melhor capacidade de pilotagem. Não se tratava de um critério 
psicológico baseado na presença ou ausência de doença mental, mas um critério 
baseado na identificação da pessoa certa, com os traços de personalidade 
desejáveis para um trabalho específico. Afinal, o sucesso das missões aéreas 
dependia das habilidades dos pilotos e da sua capacidade de operação em um 
ambiente hostil. 
 
Entre as décadas de 1940 e 1970, as pesquisas na área tendiam a focar no 
estudo das capacidades e limitações da cognição humana, sua habilidade na 
tomada de decisão e aos processos de aprendizagem, tendo ainda como pano 
de fundo o reforço das qualificações individuais dos profissionais da aviação. 
Dessa forma, na ocorrência de acidentes aeronáuticos, o erro do piloto era 
considerado causa do evento, sendo reforçada a contribuição das suas 
características individuais e suas atitudes errôneas como a base da explicação 
do acidente. 
 
Segundo a FAA – Federal Aviation Administration, em um relatório de 1991, 
desde os primeiros estudos sobre o comportamento e personalidade dos pilotos, 
identificaram-se cinco atitudes perigosas ao voo que, quando exacerbadas, 
podem acarretar o descumprimento de normas, regras e procedimentos 
estabelecidos. Esses traços foram considerados como atitudes perigosas ao 
bom desempenho e à segurança da aviação, sendo eles: 
 
 
 
 
 
 
 
 Impulsividade: “Rápido, rápido, rápido”. 
O piloto impulsivo sente a necessidadede fazer tudo de modo 
acelerado, sem intervalos e sem descanso. Ele não avalia antes 
o que vai fazer e faz logo o que vem à mente. 
 Insubordinação: “Não me diga o que fazer”. 
O piloto insubordinado acredita que as leis, regras e 
procedimentos não são úteis, pelo menos para ele. Ele pensa 
que ninguém pode dizer o que ele deve fazer. 
 Invulnerabilidade: “Isso não vai acontecer comigo”. 
Alguns, ainda que digam o contrário, pensam que os acidentes 
só acontecem com os outros. Os pilotos que pensam assim 
estão sujeitos a assumir riscos, pois, apesar de saberem que 
acidentes acontecem, eles não se sentem abrangidos pela 
possibilidade de sofre um. 
 Exibicionismo: “Eu sei fazer”. 
Os pilotos exibicionistas procuram mostrar a sua superioridade 
sobre os outros, assumindo riscos desnecessários. 
 Resignação: “Ok, tudo bem” 
O piloto resignado não se sente capaz de fazer diferença diante 
do que vai acontecer e tem a tendência de atribuir os 
imprevistos ao azar. Ele deixa os outros agirem por ele. Muitas 
vezes, pilotos resignados acabam aceitando comportamentos 
pouco razoáveis apenas para serem simpáticos ou por medo de 
perder o emprego. Faltam-lhes assertividade para dizer não. 
 
Até hoje, o interesse pelo estudo da personalidade entre pilotos se pauta na 
tentativa de fornecer uma espécie de perfil típico do piloto. No entanto, conforme 
apontam Ganesh e Joseph, ambos médicos aeroespaciais, em um artigo de 
2005, existe uma série de diferentes facetas da personalidade e não há um único 
tipo de personalidade que poderia garantir um perfil de piloto bem-sucedido. 
Ainda segundo esses autores, estudos mais atuais sinalizam que os traços de 
personalidade são apenas mais um dos muitos fatores que contribuem aos 
acidentes aeronáuticos, e que são as qualidades das relações interpessoais e a 
capacidade de contribuição para o trabalho em equipe os mais importantes 
elementos para uma adequada gestão de recursos da tripulação e a 
consequente mitigação dos riscos à segurança de voo. 
 
Nesse sentido, ganha cada vez mais força no meio aeronáutico o treinamento 
em Gerenciamento de Recursos de Equipe (do inglês Corporate Resource 
Management – CRM), considerando um treinamento de fatores humanos, 
orientado não para a mudança de personalidades, mas para o desenvolvimento 
de atitudes e comportamentos, por tripulantes e demais profissionais do meio 
aeronáutico, para a “utilização adequada de todos os recursos disponíveis, 
informações, equipamentos e pessoas, de forma a obter mais segurança e 
eficiência na operação aérea” (MELO, 2004, p. 50). 
 
	DEFININDO PERSONALIDADE
	PERSONALIDADE E DESEMPENHO NA AVIAÇÃO

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