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3 - Comportamento nas empresas

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Comportamento nas empresas 
 
O estudo do comportamento nas empresas, ou comportamento organizacional, 
requer um olhar multidisciplinar. No mundo globalizado em que estamos 
inseridos, não há como pensar as empresas de forma isolada. Tudo é 
contingencial, situacional e recebe grande influência das culturas local e 
nacional. Internamente, as organizações também se constituem de estruturas 
que, continuamente, definem-se e redefinem-se a partir de decisões estratégicas 
e circunstâncias operacionais. Sem dúvida, para essa máquina toda funcionar, 
é imprescindível o papel cumprido pelas pessoas que dela fazem parte e das 
suas características, seja na forma como se apresentam individualmente, seja 
na forma como se relacionam e como se comprometem umas com as outras e 
com a organização. 
 
O capital humano é o maior bem que toda empresa pode ter. Toda inteligência 
e estratégia empresarial é desenhada por pessoas. Não esqueçamos, empresas 
vivem de pessoas e para pessoas. Sendo este capital humano um bem tão 
precioso, a estrutura organizacional que o suporta precisa ser bem estruturada, 
coesa e integrativa. Precisa propor um ambiente agradável e uma cultura 
organizacional que fomente crenças, valores e hábitos saudáveis e éticos, num 
estilo de gestão que impulsione e alavanque seus funcionários por meio de 
políticas de reconhecimento e crescimento profissional, boas relações 
socioprofissionais e condições de trabalho e suporte organizacional adequados. 
Assim, o investimento na equação talento – organização – comportamento – 
gestão promete um desempenho excelente, e é isso que toda empresa pretende 
alcançar. 
 
DEFININDO COMPORTAMENTO NAS EMPRESAS 
O comportamento nas empresas, o qual chamaremos a partir de agora de 
comportamento organizacional, volta-se para o estudo da dinâmica e do 
funcionamento das organizações dentro de uma visão sistêmica, pois toda 
empresa é um subsistema dentro de sistemas maiores. Uma empresa aérea, por 
exemplo, é um subsistema organizacional dentro do grande sistema sociotécnico 
complexo da aviação, que engloba subsistemas relacionados ao tráfego aéreo, 
regulação, manutenção, segurança de voo, entre outros. 
 
O foco do estudo do comportamento organizacional é como as organizações 
funcionam e como se comportam, considerando que são as pessoas que dão 
impulso, inteligência e dinâmica necessários ao seu funcionamento. Assim, pode 
ser definido como o campo de estudo que investiga o impacto que indivíduos, 
equipes e organização têm sobre o comportamento nas organizações, com o 
intuito de aplicar tais conhecimentos para aprimorar a eficácia organizacional. 
Dessa forma, concluímos que, como numa via de mão dupla, o desenvolvimento 
de pessoas e o comportamento que elas reforçam são condições fundamentais 
para o desenvolvimento das empresas, assim como o crescimento 
organizacional fortalece, de forma consequente, os desenvolvimentos pessoal e 
profissional dessas mesmas pessoas. 
 
 
Conforme Idalberto Chiavenato, famoso autor da área de administração de 
empresas, em seu trabalho Comportamento organizacional: a dinâmica do 
sucesso das organizações, de 2014, o comportamento organizacional deve ser 
compreendido como um produto de comportamentos individuais e de equipe: 
 
COMPORTAMENTO INDIVIDUAL 
Envolve atitudes, personalidade, motivação, percepção, satisfação no trabalho, 
condições de aprendizado, entre outros. 
 
COMPORTAMENTO DE EQUIPE 
Relacionamento de equipe, comunicação, liderança, negociação, gestão de 
conflitos, entre outros. 
 
A interação entre esses comportamentos nem sempre é visível. Algumas regras 
e formas de funcionar na organização funcionam como pano de fundo do cenário 
organizacional, mas nem por isso deixam de influenciar os comportamentos das 
pessoas no trabalho. 
 
Além disso, o comportamento organizacional deve envolver quatro níveis de 
análise: 
 
 
 
O nível externo de análise ganha respaldo e poder, pois não é possível entender 
comportamentos nas organizações sem os olharmos de forma contextualizada 
e sistêmica. Para exemplificar, ao colocarmos uma lupa no cenário 
organizacional das empresas aéreas atuantes no transporte aéreo regular de 
passageiros no ano de 2016, vimos uma batalha entre elas para se manterem 
competitivas e subsistentes dentro de um cenário econômico bastante difícil, 
haja vista a recessão econômica pela qual passava o Brasil desde 2015. Além 
disso, a alta da moeda americana (dólar), desde 2011, impactava nos custos 
com leasing de aviões, manutenção aeronáutica, compra de peças, entre outros. 
Esse contexto, que claramente exemplifica o nível das influências externas 
citado acima, gerou impactos sobre o nível organizacional, obrigando as 
empresas aéreas a alterarem sua estratégia e sua operação por meio do reajuste 
de sua malha, reduzindo a oferta de voos, frota de aeronaves e funcionários, 
além do incentivo a Planos de Demissão Voluntária - PDV e Licenças Não-
Remuneradas – LNR. Como consequência, esses reajustes levaram à redução 
do número de pilotos, reorganização das escalas de voo, aumento da carga de 
trabalho e diminuição de folgas e descanso, culminando em um estado de 
precarização do trabalho e aumento do risco à segurança de voo. 
 
 
 
https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.1668.1350/content/_3951926_1/scormcontent/index.html
https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.1668.1350/content/_3951926_1/scormcontent/index.html
No meu trabalho anteriormente citado, mostramos que tais acontecimentos, no 
nível da organização, repercutiram em mudanças comportamentais, tanto no 
nível individual quanto de equipe, ilustradas por afastamentos do trabalho por 
motivo de saúde e uma percepção coletiva de mal-estar no trabalho e baixo 
suporte organizacional oferecido pela empresa. As falhas no suporte 
organizacional tendiam a afetar o comprometimento dos pilotos para com a 
empresa, as experiências de bem-estar no trabalho e a diminuição da eficácia 
do serviço aéreo no que se refere à segurança de voo, sobretudo pelos estados 
desenvolvidos de fadiga entre pilotos e baixa percepção de qualidade de vida no 
trabalho. 
 
INFLUÊNCIA DO SUPORTE ORGANIZACIONAL SOBRE O 
COMPORTAMENTO NAS EMPRESAS 
O conceito de suporte organizacional tem grande relevância na compreensão do 
comportamento nas empresas, sobretudo associado ao desempenho e 
comprometimento no trabalho. A literatura na área mostra que existem 
correlações positivas entre a percepção favorável de suporte organizacional e o 
desempenho no trabalho, bem como sobre comportamentos de cidadania 
organizacional, criatividade e inovação. 
 
Por definição, suporte organizacional refere-se às percepções do trabalhador 
acerca da qualidade do tratamento que recebe da organização em retribuição ao 
esforço que despende. Essas percepções fundamentam-se na frequência, na 
intensidade e na sinceridade das manifestações organizacionais de aprovação, 
elogio, retribuição material e social ao esforço dos seus recursos humanos. 
 
Estudos clássicos, como os de Eisenberger, Fasolo, Davis-Lamasto e outros, 
realizados em 1986 e 1990, mostraram que trabalhadores tendem a formar 
crenças generalizadas sobre as organizações, relacionadas ao quanto elas 
valorizam e creditam as contribuições de seus trabalhadores, bem como ao 
quanto elas se preocupam com o bem-estar deles. Nessas pesquisas, concluiu-
se que quanto mais o trabalhador percebe esse reconhecimento e suporte 
organizacional, mais ele tende a se envolver afetivamente com a empresa, 
desempenhando melhor; uma relação de troca a qual só se mantém à medida 
que o trabalhador percebe reciprocidade da organização. 
 
No meu estudo de 2018, a percepção de suporte organizacional entre os pilotos 
de linha aérea esteve intimamente ligada às percepções de reconhecimento e 
crescimento profissional, sobretudo quando enfatizou a necessidade de práticas 
organizacionais de ascensão, promoção e salários. Pilotos demonstraram 
especificamente insatisfações com relação ao plano de carreira e benefíciospropostos pelas empresas, baixos salários se comparado à prática de mercado 
na aviação mundial e chefias pouco comprometidas em suas práticas de gestão. 
Tais insatisfações já repercutiam na percepção de baixo suporte organizacional, 
culminando em desmotivação e diminuição do comprometimento desses 
profissionais com a empresa. 
 
 
 
Tais resultados representam uma evidência de que desenvolver e aprimorar o 
comportamento nas empresas requer um investimento em políticas e programas 
que se fundamentem, de forma genuína, o desenvolvimento de melhores 
condições de trabalho e suporte organizacional, de ações de reconhecimento e 
crescimento profissional, de aprimoramento das relações socioprofissionais de 
trabalho e de práticas de gestão com pessoas, para que essas práticas sejam 
menos mecanicistas e mais humanizadas, enfatizando o trabalho com pessoas 
e, ao mesmo tempo, para pessoas. 
 
DICA 
O pesquisador Dr. Mário César Ferreira, professor do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da 
Universidade de Brasília, desenvolve pesquisas na área de qualidade de vida no 
trabalho, em uma perspectiva teórico-metodológica que propõe políticas e 
programas que vão ao encontro do que falamos aqui. Assista ao vídeo postado 
pelo Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina a respeito.

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