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Comportamento nas empresas O estudo do comportamento nas empresas, ou comportamento organizacional, requer um olhar multidisciplinar. No mundo globalizado em que estamos inseridos, não há como pensar as empresas de forma isolada. Tudo é contingencial, situacional e recebe grande influência das culturas local e nacional. Internamente, as organizações também se constituem de estruturas que, continuamente, definem-se e redefinem-se a partir de decisões estratégicas e circunstâncias operacionais. Sem dúvida, para essa máquina toda funcionar, é imprescindível o papel cumprido pelas pessoas que dela fazem parte e das suas características, seja na forma como se apresentam individualmente, seja na forma como se relacionam e como se comprometem umas com as outras e com a organização. O capital humano é o maior bem que toda empresa pode ter. Toda inteligência e estratégia empresarial é desenhada por pessoas. Não esqueçamos, empresas vivem de pessoas e para pessoas. Sendo este capital humano um bem tão precioso, a estrutura organizacional que o suporta precisa ser bem estruturada, coesa e integrativa. Precisa propor um ambiente agradável e uma cultura organizacional que fomente crenças, valores e hábitos saudáveis e éticos, num estilo de gestão que impulsione e alavanque seus funcionários por meio de políticas de reconhecimento e crescimento profissional, boas relações socioprofissionais e condições de trabalho e suporte organizacional adequados. Assim, o investimento na equação talento – organização – comportamento – gestão promete um desempenho excelente, e é isso que toda empresa pretende alcançar. DEFININDO COMPORTAMENTO NAS EMPRESAS O comportamento nas empresas, o qual chamaremos a partir de agora de comportamento organizacional, volta-se para o estudo da dinâmica e do funcionamento das organizações dentro de uma visão sistêmica, pois toda empresa é um subsistema dentro de sistemas maiores. Uma empresa aérea, por exemplo, é um subsistema organizacional dentro do grande sistema sociotécnico complexo da aviação, que engloba subsistemas relacionados ao tráfego aéreo, regulação, manutenção, segurança de voo, entre outros. O foco do estudo do comportamento organizacional é como as organizações funcionam e como se comportam, considerando que são as pessoas que dão impulso, inteligência e dinâmica necessários ao seu funcionamento. Assim, pode ser definido como o campo de estudo que investiga o impacto que indivíduos, equipes e organização têm sobre o comportamento nas organizações, com o intuito de aplicar tais conhecimentos para aprimorar a eficácia organizacional. Dessa forma, concluímos que, como numa via de mão dupla, o desenvolvimento de pessoas e o comportamento que elas reforçam são condições fundamentais para o desenvolvimento das empresas, assim como o crescimento organizacional fortalece, de forma consequente, os desenvolvimentos pessoal e profissional dessas mesmas pessoas. Conforme Idalberto Chiavenato, famoso autor da área de administração de empresas, em seu trabalho Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações, de 2014, o comportamento organizacional deve ser compreendido como um produto de comportamentos individuais e de equipe: COMPORTAMENTO INDIVIDUAL Envolve atitudes, personalidade, motivação, percepção, satisfação no trabalho, condições de aprendizado, entre outros. COMPORTAMENTO DE EQUIPE Relacionamento de equipe, comunicação, liderança, negociação, gestão de conflitos, entre outros. A interação entre esses comportamentos nem sempre é visível. Algumas regras e formas de funcionar na organização funcionam como pano de fundo do cenário organizacional, mas nem por isso deixam de influenciar os comportamentos das pessoas no trabalho. Além disso, o comportamento organizacional deve envolver quatro níveis de análise: O nível externo de análise ganha respaldo e poder, pois não é possível entender comportamentos nas organizações sem os olharmos de forma contextualizada e sistêmica. Para exemplificar, ao colocarmos uma lupa no cenário organizacional das empresas aéreas atuantes no transporte aéreo regular de passageiros no ano de 2016, vimos uma batalha entre elas para se manterem competitivas e subsistentes dentro de um cenário econômico bastante difícil, haja vista a recessão econômica pela qual passava o Brasil desde 2015. Além disso, a alta da moeda americana (dólar), desde 2011, impactava nos custos com leasing de aviões, manutenção aeronáutica, compra de peças, entre outros. Esse contexto, que claramente exemplifica o nível das influências externas citado acima, gerou impactos sobre o nível organizacional, obrigando as empresas aéreas a alterarem sua estratégia e sua operação por meio do reajuste de sua malha, reduzindo a oferta de voos, frota de aeronaves e funcionários, além do incentivo a Planos de Demissão Voluntária - PDV e Licenças Não- Remuneradas – LNR. Como consequência, esses reajustes levaram à redução do número de pilotos, reorganização das escalas de voo, aumento da carga de trabalho e diminuição de folgas e descanso, culminando em um estado de precarização do trabalho e aumento do risco à segurança de voo. https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.1668.1350/content/_3951926_1/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.1668.1350/content/_3951926_1/scormcontent/index.html No meu trabalho anteriormente citado, mostramos que tais acontecimentos, no nível da organização, repercutiram em mudanças comportamentais, tanto no nível individual quanto de equipe, ilustradas por afastamentos do trabalho por motivo de saúde e uma percepção coletiva de mal-estar no trabalho e baixo suporte organizacional oferecido pela empresa. As falhas no suporte organizacional tendiam a afetar o comprometimento dos pilotos para com a empresa, as experiências de bem-estar no trabalho e a diminuição da eficácia do serviço aéreo no que se refere à segurança de voo, sobretudo pelos estados desenvolvidos de fadiga entre pilotos e baixa percepção de qualidade de vida no trabalho. INFLUÊNCIA DO SUPORTE ORGANIZACIONAL SOBRE O COMPORTAMENTO NAS EMPRESAS O conceito de suporte organizacional tem grande relevância na compreensão do comportamento nas empresas, sobretudo associado ao desempenho e comprometimento no trabalho. A literatura na área mostra que existem correlações positivas entre a percepção favorável de suporte organizacional e o desempenho no trabalho, bem como sobre comportamentos de cidadania organizacional, criatividade e inovação. Por definição, suporte organizacional refere-se às percepções do trabalhador acerca da qualidade do tratamento que recebe da organização em retribuição ao esforço que despende. Essas percepções fundamentam-se na frequência, na intensidade e na sinceridade das manifestações organizacionais de aprovação, elogio, retribuição material e social ao esforço dos seus recursos humanos. Estudos clássicos, como os de Eisenberger, Fasolo, Davis-Lamasto e outros, realizados em 1986 e 1990, mostraram que trabalhadores tendem a formar crenças generalizadas sobre as organizações, relacionadas ao quanto elas valorizam e creditam as contribuições de seus trabalhadores, bem como ao quanto elas se preocupam com o bem-estar deles. Nessas pesquisas, concluiu- se que quanto mais o trabalhador percebe esse reconhecimento e suporte organizacional, mais ele tende a se envolver afetivamente com a empresa, desempenhando melhor; uma relação de troca a qual só se mantém à medida que o trabalhador percebe reciprocidade da organização. No meu estudo de 2018, a percepção de suporte organizacional entre os pilotos de linha aérea esteve intimamente ligada às percepções de reconhecimento e crescimento profissional, sobretudo quando enfatizou a necessidade de práticas organizacionais de ascensão, promoção e salários. Pilotos demonstraram especificamente insatisfações com relação ao plano de carreira e benefíciospropostos pelas empresas, baixos salários se comparado à prática de mercado na aviação mundial e chefias pouco comprometidas em suas práticas de gestão. Tais insatisfações já repercutiam na percepção de baixo suporte organizacional, culminando em desmotivação e diminuição do comprometimento desses profissionais com a empresa. Tais resultados representam uma evidência de que desenvolver e aprimorar o comportamento nas empresas requer um investimento em políticas e programas que se fundamentem, de forma genuína, o desenvolvimento de melhores condições de trabalho e suporte organizacional, de ações de reconhecimento e crescimento profissional, de aprimoramento das relações socioprofissionais de trabalho e de práticas de gestão com pessoas, para que essas práticas sejam menos mecanicistas e mais humanizadas, enfatizando o trabalho com pessoas e, ao mesmo tempo, para pessoas. DICA O pesquisador Dr. Mário César Ferreira, professor do Programa de Pós- Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília, desenvolve pesquisas na área de qualidade de vida no trabalho, em uma perspectiva teórico-metodológica que propõe políticas e programas que vão ao encontro do que falamos aqui. Assista ao vídeo postado pelo Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina a respeito.
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