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22
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
LUCIDIO LUIZ FERREIRA NETO
SEXUALIDADE: UMA VISÃO ANALITICA DO FETICHE SADOMASOQUISTA
SÃO PAULO
2018
LUCIDIO LUIZ FERREIRA NETO
SEXUALIDADE: UMA VISÃO ANALÍTICA DO FETICHE SADOMASOQUISTA
Trabalho apresentado ao curso de Psicologia da PUC-SP, como exigência parcial para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, sob orientação da Prof. Dra.Flávia Arantes Hime.
SÃO PAULO
2018
RESUMO
A temática da sexualidade nos norteia a discutir preferências sexuais, fetiches, fantasias dentre outros que fundamentam uma análise do tema. A partir desses conceitos e de uma contextualização histórica e roteiros eróticos, este estudo se propõe a esclarecer a atual conjuntura da sexualidade reduzida como produção de um sistema ordenado de classificações e categorias, estereótipos e representações, instituídos como um discurso capaz de ser lido como o inventário da fetichização socialmente produzida para o desejo sexual e seus usuários e o comportamento sexual que permeia a mesma. Em foco, proponho discutir praticantes de relações fetichistas como a emulação, submissão e dominação sendo assim revelações de papeis, porém não necessariamente praticam apenas o sadomasoquismo. Conceitos como transgressão e normalidade, segredo e exposição, persona e sombra da teoria analítica para compreender o problema foco com a subjetividade desses praticantes e de seu comportamento sexual com o parceiro.	Comment by Maria Elisa De Lacerda Faria: Resumo deve ter no máximo 150 palavras arrumei para você
Palavras chave: Sexualidade; Fetiche; Psicologia Analítica
SUMÁRIO
1. Introdução.............................................................. p.05
2. Objetivos................................................................ p.06
2.1. Objetivo Geral..................................................... p.06
2.2. Objetivos Específicos.......................................... p.06
3. Método................................................................... p.07
4. Assentamentos acerca da história da sexualidade...... p.07
5. Fetiche .................................................................. p.12
6. O que é BSDM e como surgiu .................................. p.14
7. Persona ..................................................................
8. Sombra ..................................................................
9. Relatos Sexuais ..................................................
9.1. Esses caras héteros são uns cachorros .............
9.2. A confiança é muito importante nessa hora ..............
9.3. Análise dos Relatos ......................................
10. Persona e sombra frente à sexualidade BDSM .......
11. Análise e Discussão...............................................
12. Considerações Finais...........................................
13. Referência Bibliográfica ............................................
1. INTRODUÇÃO
A comportamento sexual é um tema que permeia toda a história da humanidade uma vez que o ato sexual é extrapolado de seu aspecto biológico a partir da cultura e seu decorrer desenvolvimento. A evolução da socialização fez com que atos sexuais fossem reprimidos e condenados, a liberdade sexual foi vítima de sistemas políticos, culturais e religiosos durante a história da humanidade. A partir do século XX, a liberdade sexual foi ampliada e revista sob um novo olhar, novos significados e representações que permitiram esse trabalho e diversos outros que poderão ser feitos.	Comment by Maria Elisa De Lacerda Faria: de acordo com quem ? temq eu ter algo justificando essa afirmação
A partir desse novo olhar, podemos rever alguns conceitos engessados que patologizam ditos “desvios sexuais”, muitos desses, produto de uma sociedade castradora, opressora e religiosa. Os significados de sexualidade, palavra definida como “qualidade ou estado de ser sexual” (MICHAELIS, 2018) é revista a cada novo movimento cultural e cientifico, aproximando-se de realidade e de uma maior aceitação, compreensão e cuidados com o que o tema aborda.
A psicologia analítica oferece uma visão interpretativa do sujeito como todo, considerando sua dimensão individual, coletiva (social) e arquetípica, buscando-se seus significados e finalidades.
Dada a amplitude da abordagem, foram selecionados conceitos que se articulam com os pressupostos junguianos, a saber, persona e sombra. Sendo assim, o tema a ser explorado foi a busca da compressão da psicodinâmica do parceiro submisso na cena BDSM (Bondage, Dominação, Sadismo e Masoquismo) a partir do recorte dos conceitos de persona e sombra. Este estudo é organizado a partir de um breve assentamento acerca da historia da sexualidade segundo Foucault, descrevendo alguns conceitos sociais do que seria fetiche, o que seria o BDSM, relatos de praticantes de tal expressão, descrição de conceitos da psicologia analítica e como esses podem representar a psique frente ao comportamento sexual descrito.
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
	A presente pesquisa se propõe discutir convenções sexuais frente o fetiche que envolve a prática BDSM, os significados e representações por de trás deste comportamento sexual muitas vezes classificado como patológico. 
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Este estudo teve uma relevância pessoal no sentido de permitir um aprofundamento em um tema de importância além de articula-los a conceitos da psicologia analítica a compreensão da vivencia BDSM.
Considerando que o psicólogo é um agente ideológico é fundamental que questione o seu fazer psicologia no sentido de poder romper preconceitos e estigmas ou, por outro lado, contribuir para transformações pessoais e também do âmbito social mais amplo. Aliado a isso, patrocinar maior consciência acerca do papel do profissional da psicologia podendo favorecer intervenções no âmbito da pesquisa, da pratica clínica, da educação, entre outras possibilidades.
· Esclarecer/informar sobre a prática BDSM
· Compreender o contexto de tal prática e as maneiras que podem ser postas/configuradas
· Explorar conformidades da subjetividade que permeia essas relações
· Desmistificar a prática BDSM como uma patologia
· Assimilar os diversos papéis da cena BDSM e a relação entre seus personagens.
3. MÉTODO
De acordo com o material apresentado, a proposta é fazer uma pesquisa documental. Através de artigos como o de Wahba, Pinho e livros-referência da teoria analítica como “The Collected Works”, de Jung, será construída uma análise teórica sistematizada em capítulos. Em ordem de apresentação, conceitos como sexualidade, fetiche, BDSM, relatos de praticante e conceitos da psicologia analítica que irão subsidiar os questionamentos serão retratados.
Os artigos foram primeiramente selecionados pelos temas abordados e pela qualidade como teóricos, sento também descritos relatos reais que pudessem facilitar a compreensão de algumas questões. As bases consultadas foram livros apresentados nas referências, artigos científicos das plataformas virtuais (SCIELO...) e relatos encontrados em sites confiáveis.
4. ASSENTAMENTOS ACERCA DA HISTORIA DA SEXUALIDADE 
Para entendermos melhor o fetiche BDSM devemos fazer alguns apontamentos acerta do comportamento sexual humano. A sexualidade se configura na articulação entre cultura e subjetividade: sua interpretação é subsidiada por uma análise complexa onde os âmbitos social e intrapsíquico devem ser tomados como estritamente analíticos e reconhecidamente arbitrários. Foucault (2012) intitula de “pedagogia da sexualidade” certos “saberes” eróticos que se apresentam, transitam, e são finalmente incorporados e performatizados pelo indivíduo por meio de processos sofisticados, demonstrando a relação entre cultura e subjetividade, social e intrapsíquico sobre o erotismo e o sexo.
A construção de roteiros eróticos, manifestações da sexualidade na cultura e gênero materializam comportamentos sexuais de diversas maneiras,como na sexologia e casos da pornografia. Esses dois exemplos são saberes sexuais que transmitem referências e formas de atuação muito significativas que sexualizam o comportamento humano pela reiteração e recitação de estereotipias de certas normas de gênero.
Para tal, precisamos recordar que a visão da sexualidade humana como quase indistinta da sexualidade animal - e, portanto, pertencente a um domínio pré-humano e não cultural - só passou a ser problematizada pelas ciências sociais de maneira mais sistemática quando Marcel Mauss (2003) e outros autores sugeriram que os humanos aprendem qualquer técnica corporal por meio de observação, mímica, instrução formal, informal e outros recursos sociais. Não demorou para que esta interpretação fosse extrapolada para o estudo da sexualidade. A teoria dos "roteiros sexuais", na década de 1970, por exemplo, teve um papel central no desenvolvimento de uma abordagem do sexo que não apenas refutava perspectivas biologizantes, mas que oferecia uma alternativa persuasiva fundamentalmente calcada em teorias sociais. Como explicitado Escoffier, 2006, p. 18 apud Gagnon e Simon 1973, p. 98):
Gagnon e Simon introduziram uma concepção minuciosa do comportamento sexual como um processo aprendido, que é possibilitado não por impulsos instintivos ou exigências fisiológicas, mas por se inserir em roteiros sociais complexos, que são específicos de determinados contextos culturais e históricos. Sua abordagem frisou a importância da ação individual e dos símbolos culturais na condução das atividades sexuais. Gagnon e Simon redefiniram a sexualidade, passando-a do conjunto dos impulsos biológicos e da repressão social para um campo de iniciativa social criativa e de ação simbólica.
Tais autores apontam que o observar do comportamento sexual é profundamente internalizado e não deliberado, sendo tais roteiros sexuais flexíveis, individuais e sujeitos a um grande número de fatores socioculturais e subjetivos.
No primeiro volume da História da Sexualidade, Foucault coloca o saber sexual como socialmente “transmitido” por processos similares ao do conhecimento humano. O autor propõe dois procedimentos de produção da verdade sobre o sexo: civilizações antigas ou não ocidentais organizaram seu conhecimento através de uma arte erótica, transmitindo o saber sem especificar ou classificar. Sociedades ocidentais modernas organizavam o saber sexual como ciência sexual, explorando as verdades científicas da sexualidade e seu significado. A sociedade moderna modela a verdade do sexo de forma discursiva da confissão, e não da instrução ou iniciação. Como pode ser afirmado através do pensamento foucaultiano. 
Não se trata somente de dizer o que foi feito - o ato sexual - e como; mas de reconstituir nele e ao seu redor os pensamentos e as obsessões que o acompanham, as imagens, os desejos, as modulações e a qualidade do prazer que o contém (FOUCAULT, 2012, p. 72).
A experiência histórica de cada um constrói o sujeito como ele é, subjetivamente. Uma história que não seria aquela do que poderia haver de verdadeiro nos conhecimentos; mas uma análise dos ‘jogos de verdade’, dos jogos entre o verdadeiro e o falso, por meio dos quais o ser se constitui historicamente como experiência, isto é, como podendo e devendo ser pensado. (FOUCAULT, 1984, p. 13). A sexualidade é um dos fatores que influenciou e influencia a construção histórica do sujeito.
Para que a construção da sexualidade se dê da maneira como entendemos hoje é preciso entender os papeis sociais do sujeito na sociedade, tanto na antiguidade quanto nos dias atuais, há de se percorrer e conhecer a historia do mesmo, compreendendo a formação de sua identidade e de seus grupos sociais.
A sexualidade não era colocada no discurso, portanto, não era considerada um problema. Usava - se o silêncio como norma. Nos séculos XVII e XVIII é inventada uma nova “mecânica de poder” baseada no corpo e no comportamento e que necessita ser vigiada e controlada. Surgiu a necessidade de se organizar os espaços urbanos e a população através do corpo, iniciando-se, assim, um processo social e político da sexualidade, onde o comportamento sexual passa a ser objeto de análise, ou seja, cria-se o discurso do sexo na sociedade, o sexo passa a ser verdade. Para Foucault (2000) há quatro conjuntos que se tornam alvo das estratégias de produção da sexualidade: a mulher histérica, a criança masturbadora, a socialização da forma de reprodução e a psiquiatrização do homem perverso.
Quando falamos que o sexo passa a ser verdade entende-se como um discurso acolhido pela sociedade, que o faz funcionar como verdadeiro. O falar era de um sexo proibido, indecente, e só podia ser falado em lugares restritos. O discurso não era somente ligado ao ato sexual, mas também sobre o desejo. Por volta do século XVIII passa-se a ter uma visão mais racional da sexualidade e menos moral. Passa se a quantificar dados sobre a sexualidade como estratégia de poder.
Para Foucault (2000) o sexo é acesso à vida do corpo e à vida da espécie: as condutas sexuais e suas determinações e efeitos são objeto de análises e de disputa. A sexualidade se manifesta em todas as fases da vida de um ser humano e tem na genitalidade apenas um de seus aspectos. Dentro de um contexto mais amplo, pode-se considerar que a influência da sexualidade permeia todas as manifestações humanas, do nascimento até a morte.
Tudo aquilo que ‘escapa’ é jogado para o campo da sexualidade. Cria-se, assim, uma zona de vizinhança entre a psicopatologia e a sexualidade, para tanto, tratar, então, da sexualidade atualmente não como um problema, patologia, mas sim como uma reivindicação em si, porque possuem o em seu interior os discursos dos dispositivos de sexualidade Reivindicação de novas formas de cultura, de discurso e de linguagem. Nesse sentido, a própria multiplicação do discurso permite regulamentação do sexo; conforme Foucault (1988, p. 37):
Anexou-se a irregularidade sexual à doença mental; a infância à velhice foi definida uma norma do desenvolvimento sexual e cuidadosamente caracterizados todos os desvios possíveis; organizaram-se controles pedagógicos e tratamentos médicos; em torno das mínimas fantasias, os moralistas e, também e sobretudo, os médicos, trouxeram à baila todo o vocabulário enfático de abominação.
Para Foucault o sexo é um objeto histórico gerado pelo dispositivo da sexualidade, que deve ser analisado em relação ao prazer e abordado no âmbito do discurso científico. A atual regulamentação da sexualidade nos remete à época de início do discurso da sexualidade, uma vez que embarcamos na ideia de viver a sexualidade, o sexo, o prazer pelo próprio prazer como um fim em si memo. 
Compreendemos assim, uma visão de sexualidade que já foi pautada por um discurso moralista, que reduz o comportamento sexual a partir de premissas que restringem a conduta no sexo. Entender a sexualidade é questionar o que seriam as ditas normas sexuais e seus possíveis desvios e refletir sobre técnicas do BDSM (Bondage, Dominação, Sadismo e Masoquismo) e seus reflexos e contextos que envolvem o individuo.	Comment by Maria Elisa De Lacerda Faria: Certeza que quer usar essa palavra ? É um pouco unilateral no sentido de que se você não gostar ou não fizer uso dessas praticas você é moralista. As pessoas se constituem de diversas maneiras por diferentes motivos. Eu evitaria essa palavra. Colocaria um discurso reducionista, discurso simplista. 
No decorrer do trabalho será feita a conceituação de termos como BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) e suas especificidades, relatos de cenas de sexo sadista e masoquista e aprofundar conceitos da psicologia analítica que dialogam com as seguintes questões.
Qual é o limite entre uma relação sexual BDSM saudável e um comportamento patológico perante o desejo? Seriam as formas BDSM de se relacionar sexualmente com o parceiro, uma forma do consciente e inconsciente se aproximarem? Seria o BDSM uma condição desfavorável, se tornando um espaço opressor e favorecendoa regressão, embebido pela força do consciente e da negação de conteúdos internos ou um setting no qual tais conteúdos emergem à consciência e assim sejam elaborados através dos papéis?
5. FETICHE
O sentido original da palavra fetiche (do latin facere, que significa fazer ou construir), a palavra fetiche possui diversos significados, desde “objeto a que se atribui poder sobrenatural ou magico e se presta culto” ou “objeto inanimado ou parte do corpo considerada como possuidora de qualidades mágicas ou eróticas.” ambas as definições do dicionário Michaelis. Quando se pesquisa sobre o tema, percebemos seu vasto significado, categorias como fetiche do capital, o currículo como fetiche, da velocidade, da tecnologia dos direitos humanos e outros diversos aspectos. Neste trabalho, me proponho a discutir sobre o fetiche sexual, podendo ser dito que tal seria o produto mais rústico da temática, o mais conhecido e talvez discutido pela cultura como um todo. 
A primeira utilização da palavra fetiche consta na obra Psychopathia Sexualis (1886), do neuropsiquiatra alemão pioneiro em sexologia Richard von Krafft-Ebing (1840- 1902), abordando o fetichismo como uma perversão ou desvio sexual. O autor definiu-o como: “a associação do desejo ardente com a ideia de certas partes da pessoa feminina, ou certos artigos do vestuário feminino”, onde o próprio fetiche (em vez da pessoa associada a ele) se torna objeto exclusivo de desejo sexual. 
Para Krafft-Ebing, o fetichismo é “considerado uma anomalia em geral causada por prematuras e excessivas práticas masturbatórias, ou então resultantes de longos períodos forçados de abstinência sexual”. Dois anos depois, o francês Alfred Binet adotou o termo no ensaio “Le Fetichisme dans l'amour”, publicado na Revue Philosophique em 1888, referindo-se ao fetiche como qualquer objeto capaz de causar, por si, o interesse ou a excitação sexual. (Meloni, 2003)
Em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud disserta sobre sexualidade como anomalia, uma variação do instinto sexual que beira o patológico, em um ensaio posterior “Fetichismo”, o autor evidencia que os fetichistas raramente sentem o fetiche como uma anomalia que causa sofrimento, pelo contrario, se mostram inteiramente satisfeitos com ele e “ate louvam o modo pelo qual lhes facilita a vida erótica”. 
Assim, diversas praticas fetichistas foram taxadas de perversões ou desvios porque algumas dessas condutas sexuais não correspondiam com o padrão de normalidade de uma determinada época, reprimida pela cultura e sua moral. Hoje, o fetiche sexual se aproxima do significado dado pelo dicionário e descrito aqui “objeto inanimado ou parte do corpo considerada como possuidora de qualidades mágicas ou eróticas”. O fetiche perdeu esse caráter perverso e patológico, tendo em vista novas interpretações que significam o fetiche como outra fantasia sexual, capaz de estimular o desejo e patrocinar relações sexuais mais saudáveis e intimas entre os parceiros quanto ao reconhecimento de si e de conteúdos mais sombrios que embebedam o desejo sexual. 
6. O QUE É BDSM E COMO SURGIU 
A primeira revolução sexual que ocorreu em 1960, marcada pelo surgimento da pílula anticoncepcional e pelas ideias como a livre expressão da sexualidade humana e seus segmentos igualitários, políticos e libertários, foi um grande marco no contexto histórico da sexualidade. Sendo assim, colocada como parte fundamental da personalidade do indivíduo e garantida posteriormente por um artigo da Declaração de Direitos Sexuais, realizada em 2000, "Todo ser humano tem direito à autonomia sexual, integridade sexual e segurança do corpo".
Sendo a música uma manifestação humana e reflexo de acontecimentos culturais que desencadeiam novos meios de pensar que marcaram a história. Podemos nos ater, para facilitarmos o entendimento de tal revolução, duas músicas brasileiras que fizeram sucesso na década de 50 e 60. 
Em meio a “Chega de Saudade” de João Gilberto e “Estúpido Cupido” de Celly Campello, a década de 50 foi marcada na memória social como os “anos dourados” do glamour e do romantismo (Rocha, 2007). Tal visão, dialoga com um entendimento da sexualidade esculpida pela normativa que engessa o comportamento sexual humano em romântico e saudoso. A década de 60 foi marcada pela Bossa Nova que musicou os festivais da juventude de esquerda, jovens que agora cantavam ou “incorporaram o ruído das guitarras, os gritos guturais. Abandonaram do romantismo revolucionário e passaram a retratar um Brasil contraditório” (PEGAR REFERENCIA DA GAZETA – PALESTRA). 
Agora, Celly Campello cantava “Banho de lua” e a Banda Anos 60 cantava “Menina Linda”, ambas, se comparadas aos anos anteriores, refletiam de certa maneira, como a letra “vê se me deixa em paz, meu coração que já não pode amar, já cansei de tanto soluçar” tornou-se um banho de lua sob o luar e simultaneamente, a Banda dos Anos 60 cantava “ah, deixa essa boneca faça-me um favor, deixe isso tudo e vem brincar de amor. Menina pura como a flor, sua boneca vai quebrar mas viverá o nosso amor”.
Assim sendo, foram contestados discursos normativos e “românticos” para o sexo que foram, naquele momento, considerados “retrógrados” e “conservadores” produzindo assim, uma subjetividade embebida pela aceitação de desejos previamente ocultos e obscuros, promovendo a aceitação e promoção de valores que foram cruciais para configuração de novas maneiras de praticar sexo, uma delas, o BDSM (Bondage, Dominação, Sadismo e Masoquismo).
O direito ao prazer e à felicidade e os ideais que colocam homens e mulheres em posição de igualdade na busca desses direitos, ainda que para tanto seja preciso lutar contra o peso da tradição, articulam o trecho acima, remetendo diretamente ao clima de fins dos anos 1970, mesmo momento de efervescência cultural e política tão bem retratado em escritos sobre o início do movimento homossexual (FRY & MACRAE, 1983; MACRAE, 1990). 
Este trecho remete, ainda, às influências da "segunda onda sexológica", que se desloca das antigas "perversões", classificação à qual se associa a condenação à busca do prazer sem o ônus da reprodução, para a sexualidade "comum", dissociada da reprodução e que tem no prazer seu próprio objetivo (FACHINI, 2013 APUD BÉJIN, 1987; RUSSO ET AL., 2009).
	A partir desse novo movimento social de cunho cultural e sexual, grupos foram construídos de acordo com as preferências sexuais de cada um. Por exemplo, o grupo O SOMOS, criado em 1992 com as siglas maiúsculas fazendo referência ao sadismo e masoquismo. O núcleo promovia encontros com workshops, aprimoramentos e praticas a fim de conscientizar os praticantes frente aos riscos dessa forma de se relacionar. 
Como consequência desses encontros e esclarecimentos das praticas, foram criadas categorias que envolvem a pratica BDSM e as significâncias desse nome. A letra “B” se refere à palavra em inglês “Bondage”, sendo um tipo especifico de fetiche em que a principal forma de prazer consiste em amarrar e imobilizar seus parceiros. A letra “D” provém de dominação, outro fetiche que está relacionado com a prática sexual fetichista na qual um dos parceiros está submetido ao outro, configurando uma relação de vertical. As siglas “S” e “M” tem relação com Sadismo e Masoquismo, sendo o dominador alguém que sentiria prazer ao “castigar” o outro e o submisso alguém masoquista, que sentiria prazer em ser “castigado”.
O dominador é um praticante ativo no BDSM, ele comanda e subjuga seu parceiro podendo ser sádico uma vez que castiga não só ao castigar por alguma desobediência ou indisciplina, como também para seu prazer. O dominador anseia pela dedicação e obediência do dominado. Ao longo da relação, o dominador compreender maneiras próprias de dominar o submisso, atitudes, instrumentos e métodos que aumentam o prazer e nível de entrega do parceiro.
	O submisso tem seu prazer ao receber e cumprir ordens do parceiro. A partir da relação, o submisso ambiciona pela retirada do seu poder, transferindo sua liberdade ao parceiro. Parte do submisso impor oslimites da relação, indicando ao dominador quais seriam as fronteiras e assim patrocinar que tais sejam trabalhadas e superadas para uma maior satisfação dos dois, concedendo o consentimento para tanto.
Como BDSM é um relacionamento entre adultos que se pretende que seja satisfatório para ambos, convém referir que, independentemente do tipo de relação que se estabeleça, o bem-estar físico e psicológico dos intervenientes tem de estar sempre presente. (REFERÊNCIA)
	Também temos a variável conhecida como switcher, ou seja, a pessoa sente prazer em estar na posição de dominador ou submisso. Este é um exemplo mais elucidador de que ser submisso ou dominador depende de cada relação, do momento, contexto e o parceiro escolhido. Estar no papel dominado ou dominador é participar da experiência in foco, no ato sexual, refletindo questões internas nos papéis e assim vivencia-las. 
Não é raro que os praticantes de BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) também façam o chamado “sexo baunilha” (convencional). Suas formas de se relacionarem, entre si e com os outros, são as mais variadas possíveis. Um casal homoafetivo pode fazer cenas –nome do ato BDSM– com uma submissa. (REFEÊNCIA)
	Deve ser reconhecida a diferença entre praticar apenas o BDSM e realizar o mesmo e também o dito “sexo baunilha” - que seria uma pratica mais tradicional de sexo na qual não se executa personagens pautados pela dominação e submissão de maneira tão profunda como no BDSM.
Os papéis dominador e submisso são uma das vertentes do sexo e não um limitador; atuar esses papéis não reduz toda a sexualidade ao BDSM, o individuo praticante coloca como fronteira o setting do sexo, não perpetuando tais papéis para a vida amorosa do casal ou outros contextos que envolvem o indivíduo.
7. PERSONA	Comment by Maria Elisa De Lacerda Faria: Explicaria esses conceitos aqui. Bem breve para depois relacionar com BDSM no tópico mais para baixo
8. SOMBRA
9. RELATOS SEXUAIS
	Dom Barbudo é um pseudônimo por trás de um homem que atenta pelo nome de Bruno Rubio, aparenta seus 50 anos, estatura baixa, voz acolhedora e vencedor do título Mr. Leather; um concurso que elege o “homem couro”, uma das vestimentas mais utilizadas pelos praticantes do BDSM. 
De acordo com seu site: www.dombarbudo.com, Dom categoriza todas suas contribuições para o mundo BDSM, acessórios, dicas, material didático, práticas, sessões, vídeos, relatos e encontros que envolvem a temática. A partir desse rico e vasto material, podemos encontrar realidades que permeiam a vida de um praticante fetichista dentre diversas maneiras possíveis que relações BDSM são configuradas.
9.1. ESSES CARAS HÉTEROS SÃO UNS CACHORROS
Héteros são fascinantes. Eles enlouquecem mais que os homossexuais. Quando o desejo domina suas mentes, eles perdem o controle e tornam-se arrebatadores, uma mistura de tesão animal, instinto de macho primata mesmo, sei lá a química que acontece.
Esse cara foi um grande exemplo disso. Ele é casado, pai de alguns filhos e um executivo acima de qualquer suspeita, daquele tipo que tem funcionários, é líder de equipe e usa terno, com uma profissão exercida em sua maioria por homens. Não é preconceito, é um perfil apenas.
Pode ser o tipo desejado de muitos, inclusive o meu, mas garanto que não estou inventado, apenas reproduzindo a qualificação que ele me contou.
Nosso contato começou por um app e quando ele estava de passagem por sampa. Ele não mora e não trabalha na minha cidade, estava só de passagem.
Nesses casos, nem invisto muito tempo na conversa, pois sei que é tesão de aeroporto, ou seja… vai no banheiro, bate uma e levanta voo. Mas ele é do tipo que contei acima: a lu ci na do!
E bombardeou meu celular com tanta mensagem e com um desejo tão grande, que é difícil ficar inerte. Entre tantas mensagens, algumas me chamaram atenção: primeiro o fato dele estar ensaiando um contato comigo há mais de 3 anos e depois por ter interrompido o papo dizendo que a esposa estava próxima.
Delícia de traição! Desculpem-me elas, mas EU adoro homem safado e cafajeste deste jeito. Sei que não é bacana, quando falamos de índole e confiança, mas meu foco é o desejo, lembram-se? E não falo aquele desejo comum que temos todos os dias. Meu lance é pelo arrebatador, aquele que tira a criatura do eixo.
“Bom dia, Dom Barbudo. Sou grande admirador do Senhor. Sempre visito Seu site e uma vez, mais de anos atrás. Ainda que eu tenha tido algumas experiências com BDSM, considero-me iniciante. Sou casado com mulher, vida normal, mas gosto de ser submisso e penetrado por outro macho – e isso o Senhor faz muito bem. Não moro em SP, raramente tenho vindo para cá – mas gostaria de ir mantendo contato para uma eventualidade que der certo. Por acaso estou aqui hoje, mas num evento de família… então estou encoleirado, mas não como eu gostaria.
Ah, tenho uma tara enorme em sentir o cheiro da sua calça de couro. Daqui a pouco respondo com mais detalhes
“Esposa do meu lado agora”. E logo depois dessas mensagens ele foi embora. Mas um mês depois ele voltou e dessa vez sozinha.
E foi o dia do nosso encontro. Depois de incontáveis mensagens, com tudo combinado e acertado, horários, práticas e promessas… ele chegou. E borrado de medo, tanto que o pau estava tão encolhido, que parecia clitóris.
Exatamente do jeito que gosto. Mas o tesão era tão forte, que era evidente. Respiração alterada, coração batendo forte, suor escorrendo, o corpo é infalível e não trai. Algumas práticas eram pedidas recorrentes: ser penetrado por consolos, sentir os cheiros, pony play e humilhação.
O cheiro foi por onde comecei, depois do preenchimento do contrato e da combinação da safe word. Ele cheirava tão profundamente e com tanto prazer, que fiquei fascinado, pois excitado já estava desde o início da sessão. Ele lambeu meus pentelhos, pediu pelo pau e pelo saco. Ganhou!
Não sou bobo, com aquela gana que ele estava, como iria perder. Depois partiu para as botas e para as meias com chulé. Neste momento já masturbava freneticamente, mas fiz parar e posicionar-se de quatro, ainda com a venda. Fui no quarto, preparei um plug e soquei no seu rabo. Deve ter doído e deve ter dado muito prazer, pois o cara agradecia como se tivesse ganhado um prêmio, e de certa forma, até foi né?
9.2. A CONFIANÇA É MUITO IMPORTANTE NESSA HORA
Muito prazer, sou oficialmente o número 346 agora. Gostei do meu número, rolou um apego com ele. Dom barbudo, meu mestre me pediu um relato sobre tudo que aconteceu em nossa sessão. Vou dividir meu relato em três partes, antes da sessão quando era uma pessoa e depois da sessão quando me tornei outra e o recheio entre essas duas partes, a sessão, que é puro tesão.
Conheci o mestre em um desses aplicativos. Vi ali um perfil com uma proposta interessante e mandei um oi. Assim despretensioso, quase sem nenhum respeito. Preciso contextualizar aqui que eu não conhecia a cena BDSM além de filmes da internet, nunca tinha me informado a respeito e, portanto, não conhecia Dom Barbudo e tudo que ele representa. Nunca tinha lido seu site também. 
Ele me pediu para visitar seu site na internet e preencher o formulário caso quisesse continuar. Ao começar a ler aqueles relatos fui tomado de um tesão incontrolável, mas também de uma tensão enorme. Eu estava trocando mensagens com uma pessoa importantíssima da cena BDSM e nem havia me dado conta disso. Pânico. Posso ter minha primeira experiência real com um dominador. E não com um dominador qualquer. 
Será que sou realmente submisso? É isso que eu quero de verdade? Vou gostar? Encarei o pânico e voltei a trocar mensagens com o mestre. Ele rapidamente me explicou o básico e já começou a me colocar no meu lugar, o de submisso. Meu tesão só aumentava. Lia seu site todos os dias, me deliciava com os relatos. Sonhava em ter um número para mim.
Ele me disse que gostaria de marcar uma sessão em pouco tempo, mas imaginei que ainda fosse demorar semanas. Não demorou. Ele me chamou numa sexta-feira e me disse para estar preparado, pois aconteceria em algum dia dapróxima semana. Explosão de sentimentos. Comecei a surtar. Calafrios. Mal trabalhei essa semana até que ele definisse a data. Foi difícil me concentrar em alguma coisa. Ele me disse que me queria com a camiseta do meu amado Palmeiras, pois como corintiano, o mestre tem um fetiche especial em castigar palmeirenses como eu. Mandei fotos de todas as minhas camisetas e ele escolheu qual deveria vestir no dia. 
Finalmente o mestre marcou a sessão e o tesão deu lugar ao pânico. Surtei literalmente. Foi difícil até de respirar. Depois do almoço eu não tinha condições de pensar em nada e foi aí que o MESTRE começou a me ensinar o que é confiança. Ele me acalmou com suas palavras e garantias. Segui a tarde toda nervoso, mas já num nível controlável. Sem surtos.
Ao chegar na sessão, seguindo as instruções já tão bem detalhadas aqui por tantos submissos, ajoelhado no capacho, meu coração disparou novamente. Silencio, não se ouvia nada além da música do ambiente. Madona, claro. Curiosidade, tensão, desespero, falta de ar, e de repente uma barba na minha nuca; e tudo mudou.
Nada mais será como antes, depois daquela barba na minha nuca. O mestre era como eu imaginava até ali. Firme nas suas palavras, mas sem histeria. Ele é educado, sabe colocar você em seu lugar de submisso sem perder a linha. Seu estilo de dominação é com elegância. Uma elegância muito sutil, ele fala baixo, e mesmo assim sua voz tem autoridade. Ele me vendou e confesso que foi ótimo ser privado da visão. A confiança é muito importante nessa hora. Todos os demais sentidos se aguçam. Descobri que tenho olfato, coisa que raramente observo. E que cheiros! Nunca em toda minha vida pensei que seria tão prazeroso sentir todos aqueles cheiros. Couro, meias, cueca, calça, botas, tudo lindo, tudo com aromas inebriantes. Cheirei até quase ficar tonto. Sinto saudades já dos cheiros.
O mestre me humilhou a partir daí, sempre com seu estilo autoritário e firme, mas com uma elegância primorosa. Lambi o chão aos seus pés, rastejei, e gostei de tudo isso. Aliás ele disse que eu gostaria antes mesmo que eu fizesse. O mestre é experiente. Sabe decifrar os desejos de seus submissos. Ele também me fez beijar o símbolo do Corinthians, claro.
O mestre soube entender meus limites. Sabia que eu precisava me adaptar, entender, me autoconhecer na pratica. Que sorte a minha um mestre tão experiente na minha iniciação. Foi linda minha primeira sessão.
Tivemos alguns pontos altos. A forma como fui encoleirado foi sublime. Adorei esse assessório e quero usar sempre com o mestre. Sem sequer ter me visto com ela, me senti bonito. Adorei. Outro ponto alto foi a algema nos pés. Que algema linda, de couro. Eu adorei ver meus pés algemados e acorrentados, aquilo foi puro tesão.
A sessão acabou e não conseguia tirar o sorriso do meu rosto. Até agora ele está aqui. Como fui patético, pensei. Todo o medo que senti antes era desnecessário. Sei que isso é parte do processo de qualquer iniciante e longe de mim dizer a algum submisso que ainda não foi iniciado que não deve sentir isso. Deve sim, potencializa o tesão, ajuda, é ótimo, mas não deixe esse medo te paralisar, pois o que aguarda no final é uma sensação inexplicável de prazer.
Dom Barbudo conquistou meu respeito e confiança por toda a forma que me conduziu no processo. Entrei em sua masmorra como um submisso potencial e acho que sai de lá como um submisso em processo de aprendizado.
Não sei o que acontecerá depois de hoje. Até ontem achava que jamais seria capaz de fazer algo parecido com o que fizemos, e hoje me sinto leve. Existe prazer em servir. Existe prazer em ser usado. E como me olhava! Meu mestre, que olhos penetrantes!
Encerro meu relato com uma confissão que não fiz para o mestre durante a sessão. Em algum momento ele me disse bem baixinho no meu ouvido que poderíamos treinar para que um dia eu pudesse servi-lo em público. Eu fiquei louco só de pensar nisso. Hoje no carro vindo para o trabalho eu ri sozinho, só de pensar na ideia. Foi o mesmo riso de ontem após a sessão. Será?
9.3. ANÀLISE DOS RELATOS
Tais contos eróticos reais foram selecionados pela riqueza de detalhes e características dos indivíduos apresentados. Podemos observar que o primeiro sujeito, pai de família e heterossexual, de alguma maneira dialoga com uma moral vigente que se desconstrói a partir de um desejo intimo do mesmo que por anos procura pela realização de algo oprimido. Não podemos saber se essa foi a única experiência do sujeito mas podemos refletir que a orientação sexual dele não deslegitima seu fetiche BDSM ou reduz tal desejo ao gênero do parceiro.
	O segundo sujeito explana sobre uma vontade em conhecer alguém em que possa confiar. Essa é uma das principais estruturas e características do BDSM, devido as posições submissas que o parceiro pode preferir, a confiança no dominador é essencial. Dentro desse processo, é feito um contrato com uma palavra chave de segurança, delimitando os limites que a relação sexual possa chegar. Em seguida, o sujeito disserta em como a experiência o deixou mais leve, indicando tal liberdade sexual. Essas questões dialogam com o trabalho apresentado na medida em que contextualizarei conceitos da psicologia analítica frente a tais relatos e as sensações apresentadas.
10. PERSONA E SOMBRA FRENTE À SEXUALIDADE BDSM
Através do estudo analítico baseado em autores como C. G. Jung (1875 – 1961), psicólogo suíço considerado fundador da psicologia analítica e de conceitos como persona e sombra, podemos ter uma visão mais complexa do ser humano e das relações sexuais BDSM. Quando de encontro com a psicologia analítica, temos em vista uma visão de mundo que considera a totalidade do sujeito (Penna, 2013). Isso nos indica uma abordagem interpretativa e compreensiva dos fenômenos, buscando sua finalidade e sentido. Assim, a psique tem interelações e possui uma dimensão simbólica, diferenciada do mundo material e imaterial dos planos coletivo e pessoal. 
 No inicio da vida, temos a personalidade como algo indiferenciado, mais potencial do que real, um todo. Com o processo de desenvolvimento, esse todo se diferencia em varias partes. “Nasce a consciência do ego e, ao crescer, deixa para trás boa parte da totalidade de si mesmo no que é agora o “inconsciente” (Stein, 2004). O inconsciente é estruturado através de internalizações e experiências traumáticas para formar as subpersonalidades, os complexos. Segundo Jacobi (2017), Jung diz: 
	
O complexo emocionalmente carregado traz consigo a “tonalidade de sentimento” do todo em todas as suas partículas e em toda parte onde estas aparecem em conjunção entre si, e isto tão mais claramente quanto mais nitidamente ele deixar transparecer sua relação com o grande conjunto. Podemos comparar esse comportamento diretamente com a música wagneriana. O leitmotiv designa (como uma espécie de tonalidade emocional) um complexo de representações importante para a estrutura dramática [...]. Toda vez que a ação ou fala estimula um ou outro complexo, o leitmotiv correspondente ressoa em alguma variante. Ocorre exatamente o mesmo na vida psicológica comum: os leitmotivs são os tons emocionais de nossos complexos, nossas ações e estados de espírito são variações de leitmotivs. As representações individuais estão ligadas entre si pelas varias leis de associação (similaridade, coexistência etc.), mas são selecionadas e agrupadas em conjuntos mais vastos por afeto.
Assim, a psique é constituída por diversas parcelas, dentre elas o complexo do ego e outros vários complexos pessoais secundários e numerosas imagens e constelações arquetípicas. Dentre essas configurações mentais, temos as estruturas sombra e persona, subpersonalidades divergentes e complementares denominadas de acordo com objetos concretos da nossa experiência sensorial, nossas vivencias cotidianas e história individual, em suma, nossa relação com o mundo (Stein, 2004). Para explicar a maneira que se dá o encontro sexual entre um casal BDSM, precisarei explanar de que maneira a psique elabora a vivencia sexual BDSM e a sexualidade,dialogando com as noções de fetiches já apresentadas.
	Partes da personalidade que normalmente pertenceriam ao ego, porem foram suprimidas por causa de algum desencontro moral ou traumas se transformam em sombra. São conteúdos selecionados pelo processo de desenvolvimento do ego, a sombra é caracterizada pelos traços e qualidades que são incompatíveis com o ego consciente. Sua parcela oposta seria o que Jung chamou de Persona, possuindo o significante de mascara, do teatro grego antigo. No plano psicológico, a persona é um complexo funcional cuja tarefa consiste tanto em esconder quanto em revelar os pensamentos e sentimentos conscientes de um individuo aos outros. (Stein, 2004).
De acordo com Jung em “O papel do inconsciente”, de 1918: “a sexualidade na forma do amor é origem ao anseio mais selvagem, das mais secretas dores, das experiências mais dolorosas”, na sexualidade o individuo entra em contato com questões internas, materiais rejeitados pela consciência do ego, produtos do inconsciente que se expressariam através da relação BDSM. Segundo Wahba (Jung, apud Wahba, ano, p.), a autora compreende o indivíduo como quem projeta seu \inconsciente em outros, sendo sujeito à esmagadora força erótica do outro e, para que a libido não seja totalmente esbanjada na sexualidade, uma parte dela deve ser retida para um propósito espiritual ou simbólico. 
De acordo com a visão analítica, sexualidade não pode ser reduzida à sua dimensão instintiva. É através das fantasias eróticas e sua projeção que encontramos a nós mesmos, disfarçados no percurso e questões da vida. Por meio dos conceitos de Persona e Sombra entendemos a interpessoalidade e o corpo como simbólico. “(...) a fantasia aponta para o corpo como usa o corpo enquanto metáfora para a experiência emocional e reacional” (COLMAN, 2005, pag 76).
De um modo geral, a sombra possui uma qualidade imoral ou, pelo menos, pouco recomendável, contendo características da natureza de uma pessoa que são contrárias aos costumes e convenções morais da sociedade. A sombra é o lado inconsciente das operações intencionais, voluntárias e defensivas do ego. É, por assim dizer, a face posterior do ego (Stein, 2004).
	A partir disso, entendemos o BDSM como uma das vertentes da sexualidade, sendo instrumento que dá luz à sombra; onde residem todos os conhecidos pecados cardeais, ou seja características previamente contrárias a convenções morais da sociedade que permeiam o complexo funcional do sujeito. Através do processo de desenvolvimento do indivíduo, a consciência do ego rejeita alguns conteúdos sexuais que formam a identidade psicossocial do mesmo. Porém, com a integração de tais conteúdos, de acordo com Stein em “O mapa da Alma”:
Se uma pessoa rechaça completamente a sombra, a vida é correta, mas terrivelmente incompleta. Ao abrir-se para a experiência da sombra, entretanto, uma pessoa fica manchada de imoralidade, mas alcança um maior grau de totalidade. Isso é, na verdade, um dilema diabólico.
	Seguindo essa linha de raciocínio, conteúdos da sombra se manifestam através da sexualidade, que pode se expressar por meio de fantasias fetichistas. Isto gera um movimento psíquico o qual pode ser benéfico ao indivíduo, praticando o exercício de entrar em contato com materiais não elaborados, em busca da sua totalidade num contexto contrário a certas convenções sociais.
Através da construção de papeis, o individuo transpõe a barreira do socialmente aceito, fantasiando experiências da sombra entre quatro paredes. Pode-se entender que esse movimento acontece dentro de um ambiente mais seguro, o ambiente proposto pela relação sexual é o de liberdade, onde os “demônios” então desejos mais obscuros são patrocinados a aparecer e serem naturalmente protagonizados pelo fetiche.
Dito isso, persona e sombra fazem parte da conjuntura que envolve a relação sexual dos parceiros, embebida em libido distribuída em funções eróticas e simbólicas. Certo grau de integração entre persona e sombra, proporciona a totalidade que seria a aceitação pela pessoa de si mesmo, da plena aceitação de parcelas de nos mesmos que não pertencem a persona. Como descrito por Stein:
A partir do mal, muita coisa boa me aconteceu. Conservando-me tranquila, não reprimo nada, permanecendo atenta e aceitando a realidade – tomando as coisas como elas são e não como eu queria que fossem – ao fazer tudo isso ganhei um conhecimento incomum, e poderes incomuns também, como jamais imaginaria que me pudesse acontecer. Eu sempre pensara que, quando aceitamos coisas, elas nos sobrepujam e dominam de um modo ou de outro. Acontece que isso não é absolutamente verdade e que só as aceitando é que podemos assumir uma atitude em relação a elas. Assim, pretendo agora fazer o jogo da vida, ser receptiva para tudo o que me vier, bom e mau, sol e sombra alternando-se para sempre e deste modo aceitar também minha própria natureza com seus lados positivos e negativos. Assim, tudo adquire mais vida para mim. Que tola eu era! Como tentei forçar tudo a acontecer de acordo com o modo que eu devia ser!
 	Como descrito, a totalidade prove de uma visão mais ampla da vida e do si mesmo. O conflito entre o que deveríamos ser e o que de fato somos proporciona uma tensão que pode ser produtivo ao individuo, superando questões antigas ou traumas.
11. ANÁLISE E DISCUSSÃO
12. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a psicologia analítica inserida no campo da sexualidade aproxima a discussão de fetiches e BDSM. Há necessidades de se mudar coordenadas, mudar na prática e não só na teoria, precisa-se deixar de lado as dicotomias clássicas – saúde/doença, normal/patológico, certo/errado, sair do campo do mesmo e passar a trabalhar com experiência do outro (NEVES & JOSEPHSON, 2002)
Quando se considera as formas de subjetivação, um dos vetores de análise é justamente o modo de produção da vida cotidiana, não apenas a partir de políticas de Estado, mas das formas de governo da conduta, dos modos como se criam estratégias de relação e produção dos sujeitos consigo mesmos e com os outros. Isso se conforma a partir de micropolíticas de investimento na vida, nas formas mais ordinárias de experiência em que os indivíduos são posicionados e constituídos de certas maneiras no campo social, uma forma de governo dos detalhes mais ínfimos da existência (FOUCAULT, 2008).
A necessidade de se apreender o conceito de sexualidade, juntamente com o viés do desejo para a construção de práticas que busquem ações integradas com seu potencial afim de alterar o olhar que se tem voltado para o campo da patologia. Avançar nessa reflexão é considerar distintos modos de subjetivação em uma perspectiva que vai além do processo certo-errado. Não há espaço para se trabalhar somente no campo da psicopatologia, colocando os sujeitos em uma posição de submissão de suas práticas.
Diante do acima exposto, constata-se ser pertinente a reflexão de que o sexo e o desejo são fortemente atrelados a nossa cultura e, de que é possível alguns encontros entre fetiche e outras práticas sexuais e BDSM. Mas, há sempre algo que escapa.
. Não há prática, teoria, técnicas ou protocolos de como lidar com a sexualidade, mas sim, histórias. Histórias de descobertas, de amadurecimentos e principalmente de experiências individuais, sobre a sexualidade e o sexo. 
13. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
AUTOR DESCONHECIDO. A confiança é muito importante nessa hora. Disponível em: http://dombarbudo.com/2018/03/a-confianca-e-muito-importante-nessa-hora-relato-fetichista-346/. Acesso em: 2018.
AUTOR DESCONHECIDO. Esses casais héteros são uns cachorros. Disponível em: http://dombarbudo.com/2018/03/a-confianca-e-muito-importante-nessa-hora-relato-fetichista-346/ - 
http://dombarbudo.com/2018/03/fetichista_347/. Acesso em: 2018.
BOTTI, M. V. V. Fotografia e fetiche: um olhar sobre a imagem da mulher. Cademos Pagu, 2003
ESCOFFIER, J. Introdução. In: GAGNON, J. H. Uma interpretação do desejo: ensaios sobre o estudo da sexualidade. Rio de Janeiro, 2006
FACCHINI, R. MACHADO, S. R. Praticamos SM, repudiamos agressão:classificações, redes e organização comunitária em torno do BDSM no contexto brasileiro. Rio de Janeiro, 2013 
____________________________. Do Sadomasoquismo erótico ao BDSM: discrusos de legitimação, direitos sexuais e convenções sociais sobre gênero e sexualidade no context brasileiro pós-redemocratização. Seminário Internacional Fazendo Gênero. Florianópolis, 2013
FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2012.
MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
PINHO, O.R.F. Representações raciais na pornografia gay, 2012.
WAHBA, L. L. Da anatomia do desejo à imaginação desencorpada, 2016.
WILLIAMS, L. Hard Core: Power, Pleasure and the "Frenzy of the Visible". Berkeley: University of California Press, 1999.

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