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Artigo de Conclusão de Curso TCC - Modelo

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REBEKA GABRIELLY FIALHO TASSINARI (8120557)
Licenciatura em Letras – Português e Inglês
A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA NA PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM 2021
Tutor: Prof. Dra. Marilia Valencise Magri
Claretiano - Centro Universitário
RIBEIRÃO PRETO - SP
2022
A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA NA PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM 2021
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar o emprego da competência comunicativa na prova discursiva do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) versão 2021, cuja aplicação ocorre anualmente. O exame é amplamente difundido no território nacional por ser um dos principais meios de ingresso ao ensino superior brasileiro. Diante disso, a análise visa contribuir com a expansão do arcabouço teórico exigido na confecção da prova discursiva, além de incentivar uma mudança na finalidade da avaliação, bem como fundamentar a prática pedagógica dos docentes do ensino de redação, tanto nas escolas quanto nos cursos preparatórios pré-vestibular. Para tanto, a pesquisa segue uma abordagem teórico-analítica, realizada através de revisão bibliográfica e documental. A partir deste estudo, evidenciou-se que a competência comunicativa é indispensável na construção de um bom texto discursivo, já que a confecção textual envolve de fato a aplicação de tal competência, pois é através dela que as candidatas se mantiveram dentro do exigido pelo exame, seja no âmbito gramatical, seja no âmbito discursivo. 
Palavras-chave: Competência comunicativa, Enem, redação, vestibular, texto dissertativo-argumentativo
1. INTRODUÇÃO
	
A competência comunicativa consiste na capacidade de compreender e produzir textos favoráveis ao desenvolvimento de efeitos com sentidos desejáveis quando em situações específicas e concretas de interação comunicativa. Travaglia (2014) ressalta que a competência comunicativa envolve não somente as competências linguística e gramatical, como também as competências textuais e discursivas, haja vista que o usuário da língua produz frases estritamente relacionadas à língua, além de demonstrar capacidade para produzir, compreender, transformar e classificar textos adequados à interação comunicativa pretendida quando em situações de interação comunicativa. Canale (1995 apud PADILHA, 2020), por sua vez, apresenta uma visão mais abrangente no que diz concerne à competência comunicativa. Segundo o autor, a competência comunicativa seria um conjunto de quatro sub competências inter-relacionadas, cuja primeira é a gramatical, em que há a conexão entre o código linguístico ao conhecimento e a habilidade necessárias para compreender e expressar adequadamente o sentido denotativo das expressões; em segundo lugar, encontra-se a competência sociolinguística, composta por regras socioculturais de uso e discurso; a terceira, por seu turno, diz respeito à competência discursiva, isto é, aquela relacionada com o modo em que formas gramaticais e significados são conectados para obter um texto falado ou escrito em diferentes gêneros. Por fim, a quarta competência é a estratégica, composta pelo domínio das estratégias de comunicação verbal e não-verbal.
Outros linguistas também buscaram definir competência associando-a às temáticas de ensino-aprendizagem ligadas ao universo linguístico. Enquanto Chomsky (1965 apud PADILHA, 2020) entende competência como uma relação indissociável entre conhecimento linguístico e uso efetivo da língua, Hymes (1995 apud PADILHA, 2020) concebe competência comunicativa como uma capacidade particular do indivíduo desenvolvida de modo apropriado, considerando diversos contextos da comunicação humana. Tal competência se constitui tanto no conhecimento tácito quanto na capacidade para usá-lo, ou seja, as capacidades e juízos de valor relacionados e interdependentes de características socioculturais. 
Posteriormente, Canale e Swain (1980 apud FRANCO; DE ALMEIDA FILHO, 2015) proporcionam avanços no estudo Competência Comunicativa, estabelecendo uma relação entre a comunicação e as interações de natureza social, cultural e interpessoal, dotadas de criatividade e imprevisibilidade. Além disso, a Competência Comunicativa trata dos mecanismos de interação ativa e passiva presentes no ato comunicativo.
No que diz respeito ao Exame Nacional do Ensino Médio, a avaliação foi aplicado pela primeira vez em 1998, com o intuito mensurar a qualidade do Ensino Médio em território nacional através do desempenho de concluintes da educação básica. No entanto, somente em 2009, o exame passou a se configurar como modalidade de ingresso a vagas em mais de 500 instituições de ensino superior e direito a bolsas de estudo e financiamento estudantil em instituições privadas (BRASIL, 2022). O exame é realizado por dois domingos consecutivos ao final do ano e abrange quatro provas que totalizam 180 questões de múltipla escolha: Ciências Humanas e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e sua Tecnologias, Matemática e sua Tecnologias e Linguagens, Códigos e sua Tecnologias (BRASIL, 2022). Além das provas objetivas, inclui-se no exame a prova de redação, a única questão dissertativa cujo enunciado propõe um texto em prosa do gênero dissertativo-argumentativo acerca de um problema social ainda persistente em território nacional. Por essa razão, o candidato, além de dissertar sobre o tema, baseando-se em argumentos pertinentes e produtivos, deve propor, ao final do texto, uma solução viável à questão proposta (BRASIL, 2020). Em 2021, a título de exemplo, os candidatos tiveram que discorrer sobre as implicações da falta de registro civil no acesso à cidadania (BRASIL, 2021).
Com relação aos critérios de avaliação, a redação é corrigida com base em cinco competências, com valor individual de 200 pontos, que abrangem desde gramática e coesão textual até seleção de repertório sociocultural para fundamentação da tese e elaboração de uma saída para o problema mencionado no tema (BRASIL, 2020). Além disso, é o único objeto de avaliação a não utilizar a TRI (Teoria de Resposta ao Item) para o cálculo da nota final, mas a média das notas atribuídas por dois ou três corretores, segundo a grade de correção, que pode totalizar de zero a 1000 pontos. Dessa forma, a nota parcial da redação contribui substancialmente com a atribuição da nota final do exame.
Considerando o contexto e o nível de importância do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o estudo da competência comunicativa aplicada à prova de redação da edição mais recente do Exame se faz primordial em virtude da ampla repercussão desta prova como meio de ingresso no ensino superior brasileiro. Vale ressaltar ainda o peso considerável da prova dissertativa na composição da média global do exame. Diante disso, faz-se necessário contribuir com a expansão do arcabouço teórico relacionado tanto a esta prova quanto às competências comunicativas através desta análise. Além disso, é fundamental repensar a finalidade desta avaliação, transcendendo a mera seleção de potenciais candidatos às vagas em universidades públicas e ao financiamento estudantil e bolsas de estudo em instituições de ensino superior privadas. Consequentemente, os docentes atuantes no ensino de redação, tanto nas escolas quanto nos cursos preparatórios pré-vestibular, se beneficiariam com as constatações apresentadas, por se inserirem em contextos onde o alto desempenho de seus estudantes é mais privilegiado do que a reflexão sobre a finalidade discursiva do texto dissertativo-argumentativo. 
Diante disso, intenta-se verificar, no contexto da prova de redação do Enem 2021, como se dá a aferição da competência comunicativa dos candidatos; e mais especificamente, presentar a evolução epistemológica do conceito de competência comunicativa; apontar os critérios de avaliação do Enem tanto em seu âmbito geral, quanto no que concerne à redação; além de identificar entre os objetos de estudo as concepções que permeiam a competência comunicativa; bem como evidenciar como os estudos sobre competência comunicativa proporcionam uma visão crítico-reflexiva a respeito da produção e avaliaçãotextual.
Para tanto, a pesquisa segue uma abordagem teórico-analítica, realizada através de revisão bibliográfica e documental de artigos científicos; sites institucionais; manuais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) relacionados à prova de redação do Enem; três das oito redações apresentadas na reportagem do portal G1 “Leia 8 exemplos de redações nota mil do Enem 2021”, de autoria de Giovanna Dias (texto 1), Sarah Rosa (texto 2) e Iasmin Ferreira (texto 3). Assim sendo, o presente estudo situa-se na área de Linguística aplicada à Análise e Produção Textual e se dará em três etapas: a fundamentação teórica da competência comunicativa; contextualização das provas do Enem e análise de provas de redação realizadas na edição de 2021 do exame em estudo. Para a primeira etapa, o levantamento teórico se dá por meio da busca de artigos no banco de dados Google Acadêmico. Em seguida, a busca por informações acerca do Enem e sua avaliação dissertativa se dá pelo Google convencional. Feito o levantamento do referencial teórico, ocorre a análise das competências comunicativas, respeitando a seguinte ordem de procedimentos: identificação das competências avaliativas apontadas na Cartilha do Participante do Enem 2020; análise comparativa dos critérios avaliativos e as definições de competência comunicativa apontadas na revisão bibliográfica.
2. DESENVOLVIMENTO (ou RESULTADOS E DISCUSSÃO)
2.1 COMPETÊNCIA 1: GRAMÁTICA
Partindo para a análise das redações realizadas na edição de 2021 do Exame Nacional do Ensino Médio, constata-se a princípio que os participantes autores dos textos em análise aplicaram efetivamente a competência gramatical, apontada por Canale (1995 apud PADILHA, 2020) e o emprego das estruturas gramaticais incorporadas mentalmente (CHOMSKY, 1980, apud PADILHA, 2020) para expressarem por escrito seu posicionamento a respeito das possíveis causas da falta de registro civil no Brasil. Isso corresponde à competência 1, que é avaliada no Enem nos seguintes âmbitos, nesta ordem: estrutura sintática e desvios gramaticais e lexicais (BRASIL, 2020).
(...) como já estudado pelo historiador José Murilo de Carvalho, para que haja uma cidadania completa no Brasil é necessária a coexistência dos direitos sociais, políticos e civis. T-1
O clássico da literatura infantil inglesa "Oliver Twist" aborda as vivências daqueles marginalizados durante a Era Vitoriana e a forma como eram considerados invisíveis por não pertencerem à lógica social. (...) T-2
(...) com a implementação de um formato tradicionalista de ensino pelo ex-presidente Vargas, cristalizou-se um modelo educacional que negligencia o aprendizado de temas transversais, a exemplo de concepções básicas da cidadania. T-3 (PORTAL G1, 2022)
No texto 1, apesar da ausência de vírgula entre a segunda e a terceira oração, a relação entre tais orações discorre sobre a conjunção entre todos os direitos previstos em lei como forma de garantir o direito à cidadania. Para fundamentar esta afirmação, a participante introduz o trecho com a conjunção “como”, denotando assim que as orações posteriores estão em conformidade com uma afirmação de um especialista em história. Já no texto 2, ocorre paralelismo semântico, já que os complementos verbais “vivências” e “forma” pertencem à mesma classe gramatical: substantivo abstrato. Neste caso, o paralelismo é uma forma de tornar convincente a relação entre a obra literária e o tema proposto, relação esta avaliada em outra competência do Enem. Por fim, no texto 3, a oração 1 em relação à 2 exprime de que modo o sistema tradicional de educação se consolidou, ou seja, a partir deste período composto por subordinação, a participante atribui à falta de ênfase na formação cidadã na educação básica brasileira um papel importante no ofuscamento da questão da população sem registro civil.
2.2 COMPETÊNCIA 2: ESTRUTURA E ARGUMENTAÇÃO
 O segundo critério de avaliação do Enem é contemplado nas redações pela adequação do texto com o gênero textual proposto, bem como a escolha de informações relevantes ao tema e seu uso produtivo na elaboração do texto. Tal critério é o que mais abrange as proposições supracitadas, simultaneamente: a competência estratégica de Canale (1995 apud PADILHA, 2020), a concepção cognitivista de Chomsky, além da abordagem interacionista de Canale e Swain (1980 apud FRANCO; DE ALMEIDA, 2015), que se reflete na intertextualidade entre a redação, os textos motivadores da avaliação e outros textos mencionados pelos candidatos para defender seu ponto de vista.
Com relação à argumentação, o texto 1 o desenvolve de forma robusta para apresentar os impactos da falta de identidade civil por uma parcela da população brasileira, estabelecendo diálogos com os seguintes (con)textos: a obra “Os Retirantes” de Cândido Portinari; afirmações do economista José Murilo de Carvalho, do historiador Caio Prado Junior e do sociólogo Florestan Fernandes; dados do IBGE. No texto 2, a participante claramente estabelece um diálogo entre a obra infanto-juvenil “Oliver Twist” e o cenário de negligência para com os indivíduos sem a documentação necessária para exercerem sua cidadania. Outros textos que refletem a concepção interacionista de Canale e Swain são: a visão do filósofo Claude Levi-Strauss acerca de um dos pilares do chamado “empirismo radical”; os direitos civis consolidados no período iluminista. O texto 3, por sua vez, discorre acerca dos principais impasses no acesso ao registro civil recorrendo aos seguintes textos: a obra “Cidadanias Mutiladas”, do geógrafo Milton Santos; uma afirmação do economista Murray Rothbard sobre o viés individualista de parte dos governantes; um fato histórico sobre a consolidação do ensino tecnicista durante a era Vargas (PORTAL G1, 2022).
2.3 COMPETÊNCIA 3: PROJETO DE TEXTO
A terceira competência da prova de redação do Enem diz respeito ao modo do participante não apenas selecionar, como também organizar seus argumentos sobre o problema apresentado dentro do texto e em conexão com outras partes do texto, principalmente a tese defendida no início do texto, processo esse denominado “projeto de texto” (BRASIL, 2020). Isto corresponde às subcompetências discursiva e estratégica, segundo as quais o significante, correspondente ao texto por si só, e seu significado (ponto de vista consolidado sobre um determinado assunto) devem se conciliar para formar um texto que não só esteja correto estruturalmente, como também seja bem sucedido na dissertação do ponto de vista sobre o tema. Esta correspondência entre os conhecimentos linguístico e discursivo também correspondem à teoria de Hymes (1995, apud PADILHA, 2020).
O parágrafo de introdução do texto 1 se inicia com a referência à obra de Portinari, com a qual a participante fez um paralelo com a invisibilização da parcela mais vulnerável da população brasileira. Associando aos dois tópicos frasais anteriores, formula-se a tese, que promove a reflexão sobre dois aspectos: a relevância da discussão sobre o papel do documento de identidade para a promoção da cidadania e os impasses no processo de registro civil, que segundo a participante autora, ainda ocorre com muitos brasileiros. Para cada um dos pontos apresentados, desenvolveu-se um parágrafo de desenvolvimento, cada um com um dos textos apontados na análise da competência avaliativa anterior, com o qual se estabelece ligações com ao menos um dos parágrafos anteriores, seguidas de uma interpretação dos enunciados, traço correspondente à imprevisibilidade de Canale e Swain (1980 apud FRANCO; DE ALMEIDA FILHO, 2015). O texto se encerra com a elaboração de uma solução relativamente viável para o problema proposto:
Portanto, observa-se que a questão do alto índice de pessoas no Brasil sem certidão de nascimento deve ser resolvida. Para isso, é necessário que o Ministério da Educação reforce políticas de instrução da população acerca dos seus direitos. Tal ação deve ocorrer por meio da criação de um Projeto Nacional de Acesso à Certidão, a qual irá promover,nas escolas públicas de todos os 5570 municípios brasileiros, debates acerca da importância do documento de registro civil para a preservação da cidadania, os quais irão acontecer tanto extracurricularmente quanto nas aulas de sociologia. Isso deve ocorrer, a fim de formar brasileiros que, cientes dos seus direitos, podem mudar o atual cenário de precária cidadania e desigualdade (PORTAL G1, 2022).
Nota-se que a proposta de intervenção, apresentada a partir do segundo tópico frasal, se conecta ao período anterior, que reafirma a necessidade de solucionar a precariedade de certidões de nascimento por parte da população brasileira. Todavia, os elementos da proposta são avaliados com mais minúcia na competência 5 do Enem. Nas redações 2 e 3, ocorre o mesmo processo. O que os diferencia da primeira redação, no entanto, é o repertório histórico, social e cultural, também supracitado neste estudo.
Portanto, nos parágrafos de introdução e desenvolvimento das três redações, observa-se que suas autoras não só mencionam textos de natureza diversa relevantes ao tema proposto, como também justificam tal importância na questão dos impasses no registro civil por uma parte dos brasileiros e conectam tais afirmações com tópicos frasais supracitados nas avaliações. As propostas de intervenção, ao final do texto, também são justificadas pela retomada do restante dos textos.
2.4 COMPETÊNCIA 4: COESÃO TEXTUAL
A quarta competência é outro critério que avalia conexões intra-textuais. Trata-se da coesão textual, que avalia a utilização de conectivos e outras marcas linguísticas para estabelecer ligações entre orações, tópicos frasais no interior dos parágrafos e parágrafos, de forma a estabelecer um todo coerente e uma compreensão mais profunda do texto (BRASIL, 2020). Isto se aplica à competência discursiva, outra perspectiva da competência comunicativa que aborda a relação entre estruturas lingüísticas e significação do texto, que neste caso se enquadra no gênero dissertativo-argumentativo (CANALE, 1995 apud PADILHA, 2020)
Dentre os elementos coesivos no primeiro texto, encontram-se: a expressão “tal situação”, que alude aos impasses no registro civil mencionados ao final do parágrafo anterior; o pronome demonstrativo em “esse sentimento”, que evita a reiteração de um fato já mencionado no texto: o sentimento de pertencimento ao assegurar o acesso à cidadania por meio da documentação civil; a conjunção “Ademais” na introdução do terceiro parágrafo do texto ou segundo do desenvolvimento para acrescentar mais um ponto a ser defendido do ponto de vista apresentado no início (PORTAL G1, 2022).
No segundo texto, “essa estrutura” remete ao sistema, não especificado pela autora, em que o cidadão precisa ter sua existência reconhecida para que seja considerado pelo Estado; “realidade analisada em Oliver Twist”, no final do parágrafo 3 da redação, se trata do cenário de marginalização na Inglaterra da Era Vitoriana, já apresentada na contextualização inicial do texto; “Dessa maneira” remete à medida sugerida pela autora para resolver o problema em questão, reforçando assim sua eficácia, conforme avaliada posteriormente na competência avaliativa 5 (PORTAL G1, 2022).
Já no último texto do corpus de pesquisa, “esse viés analítico” faz referência ao último tópico frasal do parágrafo 1 (“(...) é essencial analisar os principais propulsores desse contexto hostil: o descaso governamental e a falha educacional.”); o pronome demonstrativo “Isso” no parágrafo 3 evita a repetição de “(...) a lacuna no sistema de educação potencializa essa conjuntura.”; “portanto” exprime a ideia de conclusão denotada no último parágrafo do texto (PORTAL G1, 2022).
2.5 COMPETÊNCIA 5: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A competência 5 do Enem avalia a presença de cinco elementos para formar a “proposta de intervenção social”, correspondente a todo o último parágrafo da redação: a própria medida para resolver ao menos parcialmente o problema; o agente, ou seja, o indivíduo ou organização responsável por viabilizar a medida proposta; o modo com que esta medida deve ser praticada; a finalidade da proposta; o detalhamento do meio e da finalidade da proposta, seguida da justificativa da proposta (BRASIL, 2020). Apesar do caráter mais quantitativo do que qualitativo, a elaboração da proposta mostra-se igualmente relevante na construção do sentido do texto dissertativo argumentativo. Afinal, tal proposta demanda certa originalidade, além de corresponder a circunstâncias do meio social, correspondendo simultaneamente às proposições de Canale (1995 apud PADILHA, 2020), Hymes (1995 apud PADILHA, 2020) e Canale e Swain (1980, apud FRANCO; DE ALMEIDA, 2015).
Então, para solucionar o problema proposto, o texto 1, conforme demonstrado anteriormente, sugere o fomento de medidas educativas direcionadas ao público geral, acerca dos direitos civis proporcionados pelo documento de identidade (medida) por parte do Estado (agente), através da criação do que a autora denominou de “Projeto Nacional de Acesso à Certidão”(meio de execução), cujo funcionamento foi apontado e detalhado, de forma a instigar nos brasileiros, de forma geral, a capacidade de mudar o cenário em discussão.
Já o texto 2 propõe “um aumento da eficácia de registro civil nos municípios”(ação) por parte do Ministério da Família e dos Direitos Humanos em articulação com as prefeituras e subprefeituras (agentes), que devem promover campanhas de conscientização voltadas à população geral sobre a forma com que se dá o acesso a direitos civis e aumentar as taxas de contratação de agentes nos cartórios para agilizar o processo de registro civil. Estas medidas visam diminuir a tendência do poder público de deixar a população sem registro civil à margem da sociedade. Neste caso ainda, tanto o agente quanto a finalidade foram detalhados.
Por fim, o texto 3 traz duas propostas, cada uma correspondente a um parágrafo de desenvolvimento. Em consonância ao parágrafo 2 da redação, a autora sugere que o Ministério Público (agente) coaja as autoridades governamentais acerca do aprimoramento da infraestrutura dos locais de prestação de serviços de registro civil (ação), fiscalizando as ações do Poder Executivo (meio), de forma a expandir o acesso ao documento de identidade para todas as regiões do país (finalidade). Já para o parágrafo 3, sugere-se que os sistemas de ensino público e privado (agentes) sensibilizem o público escolar sobre a importância do documento de identidade para garantir a cidadania (ação) por meio de palestras (meio). Tais medidas educativas intentam atenuar o desconhecimento da maioria da população e o poder público sobre o problema. Dentre as propostas, somente a segunda recebeu detalhamento, o que provavelmente não afetou a nota global da estudante nesta prova. 
Mesmo que as propostas de intervenção sigam uma estrutura fixa de composição, nota-se a criatividade na seleção dos respectivos componentes, especialmente das medidas a serem adotadas, a partir das quais é possível delinear os demais componentes da proposta.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS (ou CONCLUSÃO)
A partir da análise dos textos, ficou evidente que a competência comunicativa é indispensável na construção de um bom texto dissertativo-argumentativo. Afinal, o alto desempenho das candidatas se deu não somente pelo domínio gramatical e discursivo, como também pela capacidade de expressar seus pontos de vista a partir de outros discursos assimilados social e culturalmente.
A metodologia utilizada para este trabalho foi suficiente para chegar à conclusão de que o processo de adequação da comunicação ao contexto social da produção se dá através da competência comunicativa. Classificações de C.C. como a competência gramatical, estratégica, dentre outros apontados no referencial teórico, foram ricamente ilustradas ao se associarem aos critérios de avaliação do exame vestibular em estudo.
Portanto, a contextualização do emprego da C.C. em relação aos critérios de avaliação do Enem 2021 muito provavelmente ajudará estudantes e mestres a repensarem o processode ensino e aprendizagem da produção textual segundo o contexto de suas competências, das habilidades e exigências avaliativas. Dessa forma, a expansão dos estudos linguísticos aplicados à produção textual de forma alguma deve cessar. É preciso que os conceitos existentes se reinventem em virtude da evolução dos gêneros textuais acompanhar a das dinâmicas sociais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Exame Nacional do Ensino médio (Enem): Apresentação. [S. l.], 2010. Disponível em: <https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/enem>. Acesso em: 24 ago. 2022.
________. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Cartilha do Participante. 2020. Disponível em: < https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/avaliacoes_e_exames_da_educacao_basica/a_redacao_do_enem_2020_-_cartilha_do_participante.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2022.
________. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Exame Nacional do Ensino Médio 2021. Disponível em: < https://download.inep.gov.br/enem/provas_e_gabaritos/2021_PV_impresso_D1_CD1.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2022.
FRANCO, M. M. S.; ALMEIDA FILHO, J. C. P. de. O Conceito De Competência Comunicativa Em Retrospectiva E Perspectiva. Revista Desempenho, [S. l.], v. 1, n. 11, 2015. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rd/article/view/9360. Acesso em: 20 ago. 2022.
LEIA 8 exemplos de redações nota mil do Enem 2021. Portal G1, Rio de Janeiro, 11 abr. 2022. Educação. Disponível em: < https://g1.globo.com/educacao/enem/2021/noticia/2022/04/11/leia-redacoes-nota-mil-do-enem-2021.ghtml>. Acesso em: 09 out. 2022
PADILHA, Emanuele Coimbra. Reflexões sobre a Competência Comunicativa e a formação de professores de língua estrangeira e suas competências. Universidade Federal de Santa Maria, 2020. Disponível em:<https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/559/2020/01/08Emanuele.pdf>. Acesso em 20 ago. 2022.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Competência Comunicativa. In: FACULDADE DE EDUCAÇÃO (Belo Horizonte). Universidade Federal de Minas Gerais. Glossário Ceale: Termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para Educadores. Uberlândia, 2014. Disponível em: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/competencia-comunicativa#:~:text=A%20compet%C3%AAncia%20comunicativa%20%C3%A9%20a,em%20situa%C3%A7%C3%B5es%20concretas%20de%20comunica%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 20 ago. 2022.

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