Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Instituto de Matema´tica - UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas Este material foi produzido no aˆmbito do projeto “Elaborac¸a˜o de material para disciplinas na modalidade semi-presencial”, do Departamento de Matema´tica do IM/UFRJ. Equipe: Coordenac¸a˜o: Paulo Amorim Participantes: Bruno Telch, Rafael Lobosco, Leonardo Damasceno Noc¸a˜o de limite Um dos objetivo dessa aula e´ entender com precisa˜o a seguinte tirinha retirada da pa´gina “Piadas Nerds”: O que significa quando dizemos que uma quantidade se aproxima de um certo valor limite? Consideremos, por exemplo, a a´rea dos pol´ıgonos de lado n “ 3, n “ 6 e n “ 14 inscritos 1 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas em uma circunfereˆncia, como na figura: O que acontece ao valor da a´rea quando n cresce? Intuitivamente esse valor se aproxima indefinidamente da a´rea do circulo no qual tais poligonos esta˜o inscritos, pore´m sem nunca la´ chegar. Poder´ıamos dizer que, quando n e´ infinito, o pol´ıgono de n lados e´ a circunfereˆncia. Pore´m, “n ser infinito” e´ um conceito que na˜o esta´ definido... afinal, “infinito” na˜o e´ um nu´mero. Mesmo assim, e´ claro que, em algum sentido, podemos dizer que a` medida que n cresce, o pol´ıgono de n lados se aproxima da circunfereˆncia ta˜o perto quanto queiramos. Um outro exemplo sa˜o sequeˆncias nume´ricas, como por exemplo i. 1 2 , 1 3 , 1 4 , 1 5 , 1 6 , 1 7 , . . . , ii. 1, 2, 3, 4, 5, 6, . . . iii. 1,´1, 1,´1, 1, . . . . Os termos em (i.) esta˜o cada vez mais se aproximando do valor 0, enquando em (ii.) os valores va˜o crescendo sem se aproximar de um valor “limite”. Ja´ em (iii.), os valores oscilam entre 1 e ´1, e portanto na˜o se va˜o poder aproximar indefinidamente de algum nu´mero. Matematicamente, temos a seguinte definic¸a˜o: Definic¸a˜o (Definic¸a˜o formal de limite). Dizemos que o limite da func¸a˜o fpxq, quando x tende a a, e´ L, e escrevemos lim xÑa fpxq “ L, se, para todo o � ą 0, existir um δ ą 0 tal que se tenha |fpxq ´ L| ă � sempre que |x´ a| ă δ, com x ‰ a. Uma maneira de traduzir esta definic¸a˜o em linguagem corrente e´ dizer o seguinte: Definic¸a˜o (Definic¸a˜o informal de limite). Dizemos que lim xÑa fpxq “ L quando conse- guimos que o valor da func¸a˜o fique ta˜o pro´ximo de L quanto se queira, bastando para isso tomar um valor de x suficientemente pro´ximo de a, mas diferente de a. 2 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas Note bem que o conceito de lim xÑa fpxq na˜o faz envolver o valor fpaq; este pode ser igual ao limite, ou na˜o. Graficamente, o fato de que lim xÑa fpxq “ L pode ser interpretado como na figura: 0 L´ � L L` � 0 1{2 a´ δ a a` δ 1 fpxq Dado qualquer � ą 0, por menor que seja, conseguimos achar um δ ą 0 (que tera´ de ser pequeno tambe´m) tal que a imagem do intervalo pa ´ δ, a ` δq esta´ contida no intervalo pL´ �, L` �q. Ou ainda, todos os pontos pro´ximos de a teˆm sua imagem pro´xima de L. Exemplo 1. Examinemos o comportamento da func¸a˜o fpxq “ x2 ´ x ` 1 quando x de aproxima de 2. Observando tabela e gra´fico constatamos que o limite de x2´ x` 1 quando x tende a 2 e´ 3, por ambos os lados de 2, isto e´, para nu´meros pro´ximos a 2 pore´m menores e tambe´m 3 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas por nu´meros pro´ximos a 2, pore´m maiores. Escrevemos lim xÑ2 x 2 ´ x` 1 “ 2. Vale observar que neste exemplo a func¸a˜o fpxq “ x2 ´ x ` 1 esta´ definida em x “ 2 e acontece fp2q “ 3, pore´m quando falamos de limites na˜o nos interessa o valor da func¸a˜o no ponto, e sim o comportamento da func¸a˜o pro´ximo ao ponto. Exemplo 2. Um exemplo mais elaborado seria considerar fpxq “ x? x`1´1 e analisar o que acontece com seu limite quando x tende a 0, Vejamos a tabela com valores pro´ximos: Por evideˆncia nume´rica queremos acreditar que lim xÑ0 x? x` 1´ 1 “ 2, apesar de, neste caso, a func¸a˜o fpxq na˜o estar definida no ponto x “ 2. De fato, isso pode ser algebricamente verificado. Vejamos que fpxq “ x? x` 1´ 1 “ x? x` 1´ 1 ¨ ? x` 1` 1? x` 1` 1 “ ? x` 1` 1, donde fica mais veros´ımel que tal limite e´ de fato 2. Na pro´xima aula vamos ver que o ca´lculo de limites fornece certas leis que nos permitem mostrar que o limite acima e´, de fato, 2. Limites laterais A noc¸a˜o de limite lateral de uma func¸a˜o num ponto a e´ semelhante a` de limite em a. Pore´m, ao calcularmos um limite lateral, estamos apenas interessados no comportamento da func¸a˜o em pontos pro´ximos de a, mas maiores (ou menores) que a. Definic¸a˜o (Definic¸a˜o informal de limite lateral). Dizemos que lim xÑa` fpxq “ L quando conseguimos que o valor de fpxq fique ta˜o pro´ximo de L quanto se queira, bastando para isso tomar um valor de x suficientemente pro´ximo de a, mas maior que a. De forma semelhante, dizemos que lim xÑa´ fpxq “ L quando conseguimos que o valor de fpxq fique ta˜o pro´ximo de L quanto se queira, bastando para isso tomar um valor de x suficientemente pro´ximo de a, mas menor que a. 4 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas Pode acontecer uma func¸a˜o ter limites laterais diferentes num ponto. Por exemplo: Exemplo 3. Analisemos os limites laterais quando x tende a 0 da func¸a˜o f : Rzt0u Ñ R definida abaixo. fpxq “ " 1, x ą 0, ´1, x ă 0 Temos que lim xÑ0´ fpxq “ ´1 e lim xÑ0` fpxq “ 1. Note que os limites laterais em x “ 0 existem, apesar de a func¸a˜o na˜o estar definida em x “ 0. A pro´xima propriedade, muito importante, e´ clara a partir das definic¸o˜es de limites que usa´mos: Proposic¸a˜o 4. O limite lim xÑa fpxq existe se, e somente se, os dois limites laterais lim xÑa´ fpxq e lim xÑa` fpxq existem e sa˜o iguais. Assim, uma maneira poss´ıvel de ver se uma func¸a˜o tem (ou na˜o) limite num ponto e´ calcular os limites laterais; se forem iguais, enta˜o o limite da func¸a˜o sera´ esse mesmo. Se na˜o forem iguais, ou algum deles na˜o existir, enta˜o o limite na˜o existe. Limites infinitos e ass´ıntotas verticais Consideremos a func¸a˜o fpxq “ 1 x e observemos seu gra´fico: -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 fpxq “ 1{x Considerando valores positivos, pore´m pro´ximos a zero, vemos que os valores de f crescem arbitrariamente. Por exemplo, se x “ 0,001, enta˜o fpxq “ 1000. Ja´ se x “ 0,000001, 5 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas enta˜o fpxq “ 1.000.000. E´ claro que, neste exemplo, quanto menor (isto e´, mais pro´ximo de zero) tomarmos x, maior sera´ o valor da func¸a˜o. Dizemos enta˜o que lim xÑ0` 1 x “ `8. Vale o mesmo para obter lim xÑ0´ 1 x “ ´8. Uma maneira equivalente de afirmar o mesmo e´ dizer que para que 1{x fique ta˜o grande quanto eu queira, basta para isso tomar x suficientemente pro´ximo de 0, mas positivo. A ideia para o caso geral enta˜o e´ formalizada da seguinte maneira: tomemos um nu´mero qualquer M ą 0 ta˜o grande quanto desejarmos. Dizemos que lim xÑa fpxq “ `8 se existe δ ą 0 suficientemente pequeno de maneira que para x na faixa pa ´ δ, a ` δq tenhamos fpxq ąM . O racioc´ınio e´ ana´logo para lim xÑa fpxq “ ´8. Vejamos a figura: Exemplo 5. Das aulas anteriores, podemos observar agora que esse comportamento ocorre nos multiplos ı´mpares de pi 2 para tanx e secx e nos mu´ltiplos inteiros de pi para cotx e cossecx. Quando, para algum ponto a, se tem lim xÑa˘ fpxq “ `8 ou limxÑa˘ fpxq “ ´8, dizemos que fpxq tem uma ass´ıntota vertical em x “ a. Por outras palavras, quando algum limite lateral em x “ a vale 8, enta˜o existe uma ass´ıntota vertical, que e´ a reta de equac¸a˜o x “ a. Por exemplo, a func¸a˜o 1{x tem ass´ıntota vertical em x “ 0. A natureza dos limites infinitos O leitor atento pode reparar que nunca definimos verdadeiramente o que significam os s´ımbolos ˘8. Na verdade, eles na˜o sa˜o nu´meros reais, pois e´ fa´cil de ver que na˜o podem obedecer a`s leis usuais dos nu´meros reais.1 Portanto, na verdade, os s´ımbolos ˘8 ficam definidos pelas definic¸o˜es acima de lim xÑa fpxq “ ˘8. Ou seja, o s´ımbolo ˘8 na igualdade precedente e´ apenas uma maneira que temos de representar a situac¸a˜o em que a func¸a˜o 1Por exemplo, para todo o nu´mero real x vale x` 1 ą x, o que na˜o se enquadra na ideia intuitiva de 8. 6 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas fpxq tem o comportamento apresentado na definic¸a˜o (i.e., tomar valores arbitrariamente grandes quando x se aproxima de a). Por isso, e´ importante na˜o esquecer que quando lim xÑa fpxq “ ˘8, na verdade a func¸a˜o fpxq na˜o tem limite quando xÑ a; so´ que, esse limite na˜o existe por uma raza˜o precisa, que e´ os valores de fpxq se tornarem muito grandes perto de a. Por esta raza˜o, podemos perguntar-nos se existem exemplos de func¸o˜es que na˜o tenham sequer limites laterais num ponto, mas na˜o porque esses limites sejam infinitos. De fato, sim, vejamos um exemplo. Uma func¸a˜o sem limites laterais em x “ 0 mas que permanece limitada (logo seus limites laterais na˜o podem ser infinitos) e´ a func¸a˜o fpxq “ sen ´1 x ¯ , cujo gra´fico esta´ abaixo: -1 -0.5 0 0.5 1 -1 -0.5 0 0.5 1 fpxq “ sen ´ 1 x ¯ Como podemos ver, esta func¸a˜o na˜o possui limites laterais em x “ 0 (logo, tambe´m na˜o tem limite em x “ 0), sem que a raza˜o disso seja esses limites serem infinitos. O que acontece e´ que os valores de fpxq oscilam infinitas vezes entre 1 e ´1 quando x se aproxima de zero, quer pela direita, quer pela esquerda. Por isso os valores de fpxq na˜o podem aproximar-se de nenhum valor L fixo, o que seria necessa´rio para que existisse limite (lateral ou bilateral). Limites no infinito e ass´ıntotas horizontais A ideia e´ pensar no que acontece aos valores de uma func¸a˜o fpxq quando x se torna muito grande (positivo ou negativo). Se b P R, dizemos que lim xÑ`8 fpxq “ b 7 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas quando, dado qualquer � ą 0, por menor que seja, o gra´fico de f estara´ na faixa |fpxq´b| ă � a partir de um certo valor de x suficientemente grande (na figura, x ą M). O mesmo racioc´ınio vale para x decrescendo para ´8. Vajamos a figura: Por outras palavras, os valores de fpxq aproximam-se cada vez mais de b a` medida que x cresce. Quando lim xÑ`8 fpxq “ b ou limxÑ´8 fpxq “ b, dizemos que o gra´fico de fpxq tem uma ass´ıntota horizontal y “ b. Exemplo 6. Pelo que foi trabalhado nas primeiras aulas, pudemos ver agora, por exem- plo, que lim xÑ`8 e ´x “ lim xÑ´8 e x “ 0. Observemos tambe´m que lim xÑ`8 arctanx “ pi 2 e lim xÑ´8 arctanx “ ´ pi 2 , e que lim xÑ˘8 1 x “ 0. Assim, ex, e´x e 1{x teˆm assintota horizontal y “ 0, e arctanx tem duas ass´ıntotas horizontais, y “ ´pi{2 e y “ pi{2. Limites infinitos no infinito Pode acontecer a combinac¸a˜o dos casos anteriores. Dizer, por exemplo, que lim xÑ`8 fpxq “ `8 e´ dizer que dado M ą 0 ta˜o grande quanto desejarmos, deve existir N ą 0 suficien- temente grande tal que sempre que x ą N tenhamos fpxq ą M . Reparemos que dessa vez ha´ treˆs situac¸o˜es poss´ıveis ale´m dessa, que sa˜o lim xÑ`8 fpxq “ ´8, limxÑ´8 fpxq “ `8 e limxÑ´8 fpxq “ ´8. Exemplo 7. Exemplos cla´ssicos desses limites sa˜o as exponenciais ex e e´x, que crescem para `8 quando x cresce para infinito (no caso de ex) e decresce para ´8 (no caso de e´x). Qualquer polinoˆmio na˜o constante apresenta algum dos comportamentos indicados acima em ambos os lados. 8 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas Exerc´ıcios Exerc´ıcio 1. Determine os seguintes limites para f como no gra´fico abaixo. Exerc´ıcio 2. Determine os seguintes limites para f como no gra´fico abaixo. Exerc´ıcio 3. Determine os seguintes limites para f como no gra´fico abaixo. 9 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas Exerc´ıcio 4. Determine os seguintes limites para f como no gra´fico abaixo. Exerc´ıcio 5. Determine os seguintes limites para f como no gra´fico abaixo. Exerc´ıcio 6. Determine os seguintes limites para f como no gra´fico abaixo. 10 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ Ca´lculo 1 - Semipresencial Aula 3 – O limite de uma func¸a˜o - ass´ıntotas Exerc´ıcio 7. Determine os seguintes limites para f como no gra´fico abaixo. Exerc´ıcio 8. Determine os seguintes limites para f como no gra´fico abaixo. Exerc´ıcio 9. Determine os pontos onde f como abaixo possui limites bilaterais 11 de 11 Departamento de Matema´tica - IM/UFRJ
Compartilhar