Buscar

História do Brasil Republicano - Anotações

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DO BRASIL REPUBLICANO
Professor Álvaro Melo
Durante grande parte do século XIX, o Brasil foi uma exceção no continente americano, o que nos ajuda a entender a tensão que caracterizou a história das relações internacionais entre o Estado brasileiro e os seus vizinhos fronteiriços. Afinal, éramos uma monarquia cercada por repúblicas; uma monarquia que buscava se legitimar através de um discurso civilizatório que reivindicava a filiação à dinastia portuguesa dos Bragança e que se autodefinia através da diferenciação em relação a essas mesmas repúblicas, acusadas de serem bárbaras, politicamente instáveis e comandadas por caudilhos militarizados.
Porém, o tempo passou e, no apagar das luzes do século XIX, um golpe militar colocou o Brasil nos trilhos republicanos da história americana. Teve início, então, uma experiência política bastante peculiar: a definição da universalidade da cidadania em convivência com uma sociedade profundamente marcada por práticas escravocratas, o federalismo combinado com uma estrutura administrativa extremamente burocratizada e centralizada e, principalmente, a coexistência do princípio da representação política com as artimanhas eleitorais pensadas e efetivadas para falsear a opinião popular.
A combinação entre elementos autoritários e o discurso jurídico democrático foi a principal característica dos primeiros 41 anos de vida da República brasileira, período contemplado por essa disciplina. 
Nesse momento, a República brasileira foi caracterizada por práticas semelhantes àquelas que os líderes da Monarquia afirmavam ser a demonstração da inferioridade das repúblicas hispano-americanas: a militarização da política e a instabilidade dos governos.
Entre 1889 e 1930, a história política brasileira foi marcada pela alternância de períodos de instabilidade, quando de fato havia a possibilidade, por vezes concretizada, de rompimento da legalidade constitucional através de golpes de Estado, com períodos de estabilidade, que era garantida, sobretudo, pela solidez do pacto oligárquico entre as principais elites agroexportadoras do Brasil.
Analisar com cuidado esse período nos possibilita entender melhor a particularidade da nossa experiência republicana e parte dos valores políticos que até hoje se fazem presentes nas práticas políticas brasileiras.
AULA 01: A crise da Monarquia e a Proclamação da República (1881-1889)
A primeira aula tem o objetivo de examinar a última década de vida da Monarquia brasileira, quando os conflitos entre os militares do Exército e os políticos civis, já existentes desde o final da Guerra do Paraguai (1870), se tornaram ainda mais violentos.
A década de 1880 foi caracterizada pelas discussões públicas entre os dirigentes da Monarquia e os membros dos setores mais arredios do oficialato dessa corporação militar; esse também foi o momento de intensificação da campanha abolicionista e o fortalecimento da propaganda republicana.
Esses elementos provocaram o esvaziamento do governo chefiado pelo Imperador D. Pedro II e a possibilidade de uma união momentânea e tênue, entre os civis republicanos e os insatisfeitos com o encaminhamento que a Monarquia estava dando às grandes questões nacionais e parte do oficialato do Exército. Dessa união resultou a ação golpista que fundou a República brasileira.
AULA 02: A República das Espadas: a consolidação da República e a primeira Ditadura militar brasileira (1889-1894)
Diferente do que achavam os líderes civis que apoiaram o golpe militar republicano, o Exército não se retirou do poder após derrubar o governo do Imperador D. Pedro II. Muito pelo contrário, os militares comandaram a República brasileira nos primeiros 5 anos de sua existência.
Analisar esse período, a primeira Ditadura militar brasileira, é o objetivo da segunda aula dessa disciplina. No entanto, é preciso deixar claro que, sob aspecto algum, havia nesse período um Exército homogêneo; essa corporação era segmentada em diversos grupos, que tinham projetos distintos em relação ao lugar que os militares deveriam ocupar na República brasileira.
O exame a respeito da "República das Espadas" será tão mais eficaz quanto mais for capaz de entender essas cisões internas e as diferentes possibilidades de atuação política dos militares, em disputa, dentro das fileiras do Exército nesse momento de fundação da República brasileira.
AULA 03: Os projetos de saneamento político e econômico: os primeiros governos civis e a pacificação dos militares (1894-1902)
O ano de 1894 foi fundamental para a história dos primeiros anos de vida da República brasileira. Esse foi o momento de transição dos governos militares para os governos civis.
Com a posse do paulista Prudente de Moraes, as oligarquias cafeicultoras assumiram de fato o governo brasileiro. Começou então a montagem de um projeto de poder que tinha basicamente dois objetivos: sanear a política, o que na época significava pacificar a conduta política dos militares, reconduzindo-os aos quartéis, e sanear as finanças públicas, em sérias dificuldades desde as décadas finais do século XIX.
Todo esse programa de saneamento não ocorreu sem conflitos; os principais adversários dos primeiros governos civis foram os jacobinos, que defendiam a manutenção da ditadura militar, e os setores mais pobres da população, que foram os que mais sofreram com a austeridade econômica que caracterizou os mandatos de Prudente de Moraes (1894-1898) e Campos Salles (1898-1902). Examinar esse período é o objetivo da terceira aula dessa disciplina.
AULA 04: As manifestações populares e os canais não oficiais de participação política: do messianismo de Canudos ao moralismo popular do Rio de Janeiro (1897-1904)
Apesar de a democracia ter sido mais uma formalidade jurídica do que uma prática efetiva nos primeiros anos da República brasileira, o povo, compreendido aqui como os setores mais pobres da sociedade, não ficou completamente excluído do debate político.
É claro que vários mecanismos foram colocados em prática para condicionar e limitar a participação política formal dessa população. Porém, há participação política para além dos canais formais e os primeiros anos da nossa experiência republicana mostraram isso.
Nesse sentido, a quarta aula dessa disciplina tem o objetivo de examinar duas revoltas populares, a Revolta de Canudos (1897), na Bahia, e a Revolta da Vacina (1904), no Rio de Janeiro, que têm em comum a mobilização da tradição popular em função da crítica ao governo republicano.
AULA 05: A estabilização da República: a relativa eficiência de um eficaz mecanismo de dominação política (1902-1922)
De fato, ao final do seu mandato, em 1902, o paulista Campos Salles entregou ao seu sucessor, o também paulista Rodrigues Alves - que governaria a República até 1906 - uma situação política mais estável, já regulada por um eficaz mecanismo de dominação: a famosa "Política dos Governadores".
Com algumas exceções, esse mecanismo deu certa solidez e estabilidade aos governos republicanos até 1922, quando começou a ficar mais evidente o esgotamento da República Oligárquica.
A quinta aula dessa disciplina tem o objetivo de examinar o funcionamento desse mecanismo e apontar para a sua relativa eficácia, o que não exclui, é claro, algumas crises pontuais, que também serão abordadas.
AULA 06: A reorientação na política externa do Estado brasileiro: a guinada americanista
Ao longo de grande parte do século XIX, a política externa desenvolvida pelo Estado brasileiro esteve muito mais preocupada em estreitar vínculos com a Europa do que com os países americanos. Talvez os EUA tenham sido uma exceção e, principalmente a partir da década de 1870, também estiveram na agenda de aproximação do Ministério das Relações Exteriores.
Porém, enquanto sobreviveu a Monarquia, as relações entre o Brasil e as Repúblicas hispano-americanas foram tensas. Essa tensão se manifestou na primeira metade do século XIX, principalmente naquilo que se refere aos conflitos entre Brasil e Argentina, que disputavam a hegemonia na região.
Contudo,o momento de maior tensão aconteceu na década de 1860, quando a região sul da América foi abalada por aquele que seria o primeiro grande conflito moderno da história ocidental: a Guerra do Paraguai.
A República tentou modificar essa orientação e estreitou ainda mais as relações com os EUA, buscando também o diálogo com os vizinhos fronteiriços. O objetivo da sexta aula é analisar essa reorientação.
AULA 07: Entre a indústria e a vocação agrícola: a agenda econômica da Primeira República brasileira
Durante a Primeira República brasileira, os governos tentaram organizar suas políticas econômicas a partir de um duplo objetivo: combinar a manutenção dos investimentos na agricultura, atividade que era considerada a vocação produtiva do Brasil, e o incentivo para a industrialização.
A busca por essa economia híbrida sobreviveu à Revolução de 1930 e também se tornou uma característica do período em que Getúlio Vargas governou o Brasil.
Examinar a tentativa dos primeiros governos republicanos em se equilibrar entre a agricultura e a indústria é o objetivo da sétima aula.
AULA 08: 1922: Questionamentos e projetos de modernidade
A década de 1920 foi caracterizada pela eclosão de uma série de contestações à hegemonia política das oligarquias cafeicultoras. Esse foi o momento de esgotamento da estabilidade conquistada no início do século.
O pacto entre as elites latifundiárias mineira e paulista já não era tão sólido como antes e foi aberta a possibilidade de participação no jogo político nacional para os grupos que até então eram marginalizados.
Analisar os mais diversos aspectos dessa crise, que se manifestou de forma particularmente clara no ano de 1922, é o objetivo da oitava aula dessa disciplina.
AULA 09: Segregação racial e rebeldia nas décadas de 1910 e 1920: da revolta dos marujos às manifestações dos trabalhadores urbanos
Da mesma forma como aconteceu nos primeiros anos de vida da República brasileira, a manifestação dos grupos mais marginais da sociedade também se fez sentir ao longo das décadas de 1910 e 1920.
Essas revoltas foram caracterizadas pela atuação dos descendentes de escravos e dos trabalhadores urbanos e rurais. Examinar esses movimentos, dando especial atenção à Revolta da Chibata, à Guerra do Contestado e às primeiras movimentações dos trabalhadores das indústrias é o objetivo da nona aula.
AULA 10: A Revolução de 1930
A década de 1920 foi caracterizada por profundas transformações na sociedade brasileira. Essas mudanças fizeram com que o modelo do Estado oligárquico, que até então tinha sido capaz de garantir a estabilidades das instituições, se tornou inadequado para as novas demandas que surgiam.
Examinar o esgotamento da capacidade reguladora do Estado oligárquico e a Revolução de 1930 é o objetivo da última aula da disciplina.
BIBLIOGRAFIA
· CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
· ________. Os bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. Companhia das Letras: São Paulo, 1987.
· ________. As forças armadas e a política no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.
· COSTA, Emília Viotti. Da Monarquia à República. São Paulo: UNESP, 2007.
· FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: história e historiografia. São Paulo: Brasiliense, 1997.
· ________. A história concisa do Brasil. São Paulo: USP, 2010.
· LESSA, Renato. A invenção da República. Rio de Janeiro: Vértice, 2003.
· MONTEIRO, Hamilton. O Brasil República. São Paulo: Ática, 1986.
· OLIVEIRA, Rodrigo Perez. As armas e as letras: a Guerra do Paraguai na Memória Oficial do Exército Brasileiro (1881-1901). Rio de Janeiro: Multifoco, 2011.
· FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de A. N. O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira , 2006.
A disciplina pretende analisar as principais características dos primeiros 41 anos de vida da República brasileira. O recorte cronológico desse estudo começa em 1889, quando aconteceu o golpe militar que extinguiu a Monarquia e proclamou a República, e termina em 1930, quando aconteceu outro golpe, que ficou conhecido como "Revolução de 1930”, que pôs fim ao período de hegemonia das oligarquias mineira e paulista e deu início ao período marcado pelo personalismo autoritário de Getúlio Vargas e pelo projeto de modernização industrial do Brasil.
Espera-se que, ao final do curso, o aluno tenha domínio das principais características desse período. Entre estas podemos destacar os seguintes tópicos:
Os conflitos travados entre os militares, particularmente do Exército, e os políticos civis que, ainda fiéis ao civilismo vigente no período monárquico, tentavam de todas as formas evitar a militarização da política;
A combinação, no plano econômico, entre as tentativas de modernização industrial e a proteção da agricultura, especialmente do café;
A reorientação da política externa, que passa a buscar de forma mais explícita a aproximação com os EUA;
As manifestações populares que mostraram a presença de um povo ativo que explorou canais não oficiais de participação política.
AULA 1
 A CRISE DA MONARQUIA E A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA (1881-1889)
1. Identificar os principais elementos que levaram parte do oficialato do exército brasileiro à intervenção política de 15 de novembro de 1889;
2. Reconhecer que a intervenção militar de 15 de novembro de 1889 não foi apenas um golpe militar, mas sim o desfecho de hostilidades trocadas, de um lado, entre as elites civis que então dirigiam a monarquia e, de outro, os setores descontentes do Exército;
3. Identificar o aspecto híbrido do golpe militar republicano. Ou seja, apesar de o movimento ter sido conduzido por parte do oficialato do Exército, os civis também se fizeram presentes na intervenção política que pôs fim ao regime político liderado pelo Imperador D. Pedro II;
4. Relacionar o golpe militar republicano de 1889 com a crise estrutural da monarquia brasileira, que, desde a década de 1850, estava tendo seus pilares de sustentação enfraquecidos.
INTRODUÇÃO
“Só o Exército, afirmou Deodoro, sabia sacrificar-se pela pátria e, no entanto, maltrataram-no os homens políticos que até então haviam dirigido o país. Aludiu aos seus serviços no campo de batalha, rememorando que pela pátria estivera três dias e três noites combatendo em campos paraguaios no meio do lodaçal, sacrifício que eu não poderia avaliar” (Visconde de Ouro Preto, 1891 , p. 167).
Com essas palavras, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto - que foi um importante líder político na monarquia brasileira - foi o último chefe de governo da história da monarquia brasileira. Foi exatamente o governo chefiado por Ouro Preto o alvo original do movimento militar liderado por Deodoro da Fonseca.
GUERRA DO PARAGUAI
Há, no testemunho do Visconde de Ouro Preto, um elemento central para a compreensão da insatisfação existente entre segmentos do oficialato do Exército nesse período.
De acordo com o historiador Rodrigo Perez Oliveira, a ação golpista dos militares foi motivada pela insatisfação em não ver reconhecidos, por parte do governo e da elite civil, os méritos do Exército durante a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Certamente, a principal referência que existe na historiografia brasileira para o estudo da Guerra do Paraguai é o livro de Francisco Doratioto (2002).
O autor afirma que, ao longo da década de 1880, os segmentos do Exército responsáveis pelo discurso oficial da corporação mobilizaram a memória da Guerra do Paraguai em razão de um projeto de fortalecimento institucional e político.
Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. Ela foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança, na Argentina e Uruguai, e de Guerra Grande, no Paraguai. O Brasil, Argentina e Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de cinco anos delutas.
A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul, devido ao seu decréscimo populacional, ocupação militar por quase dez anos, pagamento de pesada indenização de guerra, no caso do Brasil até a Segunda Guerra Mundial, e perda de praticamente 40% de seu território para o Brasil e Argentina. Após a Guerra, por décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.
É possível consultar os elementos mais fundamentais desse discurso oficial na Revista do Exército Brasileiro, fundada em 1881, que constitui o primeiro periódico oficial do Exército.
Em 1881 um grupo de três oficiais do Exército composto pelos majores Alfredo Ernesto Jacques Ourique e Antônio Vicente Ribeiro Guimarães e o capitão Francisco Agostinho de Mello Souza Menezes fundou a Revista do Exército Brasileiro, o primeiro periódico científico oficial do Exército.
A REB começou a ser planejada em 1881, quando o conselheiro Franklin Américo Menezes Dória ocupava a pasta do Ministério da Guerra. A REB foi projetada para ocupar o lugar de veículo do conhecimento oficial produzido na corporação. Essa produção editorial tinha uma finalidade bem delimitada: reforçar a institucionalização do Exército, fazendo da corporação um elemento de peso no cenário político/institucional do país.
Ainda de acordo com as considerações de Rodrigo Perez, nas páginas dessa revista ocorreu a construção de certa representação da Guerra do Paraguai baseada na afirmação da “vocação messiânica” do Exército brasileiro para exercer a função de guardião da honra nacional e de defensor dos interesses brasileiros.
Batalha do Riachuelo
Em 11 de junho de 1865 a esquadra brasileira destruiu a paraguaia.
Foto: Reprodução da Biblioteca Nacional
TRABALHANDO COM A DOCUMENTAÇÃO DA ÉPOCA
A Revista do Exército Brasileiro abrangerá a organização e a administração militares dos Exércitos estrangeiros para que possamos ter bons exemplos para nossos esforços de reestruturação institucional; a tática e estratégia de guerra, informando seus resultados e progressos, analisando-os nos fatos contemporâneos e acompanhando as campanhas que por acaso venham a ocorrer (Revista do Exército Brasileiro, 1882, p. 7).
Todos os exemplares da Revista do Exército Brasileiro se encontram disponíveis para consulta no setor “Obras Raras” da Biblioteca Nacional, situada no Rio de Janeiro.
Fica claro nas páginas da revista o interesse dos comandantes do Exército brasileiro em fortalecer a corporação tanto no plano institucional quanto no político.
É necessário situar a Revista do Exército Brasileiro no contexto da “questão militar”. O termo “questão militar” costuma ser utilizado para designar os conflitos travados entre parte do oficialato do Exército e a elite dirigente da monarquia.
O que estava em jogo na “questão militar” era o lugar político do homem da caserna (construção destinada ao alojamento de soldados; quartel.). Para os dirigentes civis, o militar deveria ser um profissional especializado na arte da guerra e obediente às ordens do Estado. Já para alguns setores do oficialato, sobretudo aqueles mais identificados com o positivismo, o soldado era um cidadão fardado e, por isso, também tinha direito à voz política.
A tensão entre os princípios do “soldado profissional” e do “soldado cidadão” foi característica da monarquia brasileira e se acentuou após 1870, quando parte do Exército se sentiu desprestigiada pelas tentativas do governo em desmobilizar os efetivos da corporação.
OS EPISÓDIOS MAIS IMPORTANTES DA “QUESTÃO MILITAR”
A província do Piauí foi o palco do primeiro episódio da crise política que mais tarde seria chamada de “questão militar”.
A Questão Militar foi uma sucessão de conflitos entre 1884 e 1887, suscitados pelos embates entre oficiais do Exército Brasileiro e a monarquia, conduzindo a uma grave crise política que culminou com o fortalecimento da campanha republicana. Foi uma das questões que assinalaram a crise do regime imperial no Brasil, conduzindo à Proclamação da República em 1889.
1885 - Em 1885, o Coronel Cunha Matos, um dos principais veteranos da Guerra do Paraguai e integrante do Partido Liberal, fez uma viagem de inspeção à província do Piauí e atestou a existência de várias irregularidades.
Cunha Matos atribuiu essas falhas ao comandante da Companhia de Infantaria dessa província, que, por sua vez, era ligado ao Partido Conservador. Não tardou para que esse acontecimento fosse tragado pela polarização partidária tão característica do sistema político monárquico.
Em 1886, um deputado piauiense, aliado do capitão advertido por Cunha Matos, atacou-o em discurso na Câmara dos Deputados local. O parlamentar acusou Cunha Matos de ter contribuído com o Exército paraguaio durante o tempo em que fora prisioneiro de Solano López.
Cunha Matos retrucou as acusações por meio de um artigo publicado na imprensa.
O ministro da Guerra, deputado Alfredo Chaves, censurou o coronel alegando que a legislação em vigor desde 1859 determinava que os oficiais do Exército eram proibidos de discutir questões políticas ou militares na imprensa sem o consentimento prévio do ministro e o mandou prender por dois dias (Castro, 1995).
O general e senador pelo Rio Grande do Sul, José Antônio Correia da Câmara, o Visconde de Pelotas, era amigo e correligionário político de Cunha Matos e, por isso, discursou no Senado em 1886 em sua defesa.
Pelotas criticou violentamente o ato do ministro e afirmou que a ofensa sofrida por Cunha Matos mexera com os brios de todo o Exército.
O senador alegou que os esforços de Cunha Matos pelo bem da pátria ― vemos a retórica messiânica destacada anteriormente ― não estavam sendo levados em consideração pelo Ministério.
A entrada de Pelotas na querela deu ao assunto uma dimensão mais geral do que a simples indisposição entre um oficial e o ministro da Guerra. Foi nessa conjuntura que os editores da Revista do Exército Brasileiro autorizaram a publicação das narrativas testemunhais dos veteranos da Guerra do Paraguai. O objetivo era endossar, por meio do apelo emotivo inerente à fala da testemunha, a posição do Exército como o “messias da nacionalidade brasileira” (Oliveira, 2013).
José Antônio Correia da Câmara, segundo visconde de Pelotas com grandeza, (Porto Alegre, 17 de fevereiro de 1824 — Porto Alegre, 18 de agosto de 1893) foi um nobre, militar e político brasileiro.
Em agosto de 1886, outro incidente contribuiu para aumentar as tensões entre civis e militares. O Tenente-Coronel Sena Madureira, então comandante da Escola de Artilharia de Rio Pardo, localizada no Rio Grande do Sul, manifestou apoio à iniciativa de Pelotas.
O Senador Franco de Sá, ex-ministro da Guerra, que havia demitido em 1884 Sena Madureira do comando da Escola de Tiro de Campo Grande, intrometeu-se na querela alegando que o Ministro Alfredo Chaves deveria manter-se irredutível na punição contra Cunha Matos.
Sena Madureira, contrariado, publicou no jornal republicano A Federação, editado por Júlio de Castilhos, um manifesto no qual acusava o ex-ministro Franco de Sá de “déspota e inimigo dos militares”.
DOCUMENTAÇÃO DA ÉPOCA
Nós soldados ― homens de brio, de coragem ― pelejamos pela pátria nos campos paraguaios e temos que nos curvar ao desmando de generais improvisados, que nunca sentiram o cheiro de pólvora e que perpassam rápida e obscuramente pelas altas regiões do poder (Apud Oliveira, 2013, p. 34).
Assim como identificamos anteriormente no testemunho do Visconde de Ouro Preto, há, nos ataques de Sena Madureira aos políticos civis, a definição de uma “vocação messiânica” para o Exército, o que foi usado pelos militares descontentes para reivindicar uma melhor posição institucional para a corporação.
Para Sena Madureira, um civil não era legítimo para ocupar o mais alto cargo da administração militar; um “casaca” não sabia o que era pôr em risco a própria vida pela pátria.
A AÇÃO MILITAR QUE SE TRANSFORMOU EM GOLPE REPUBLICANO
A essa altura, a retórica messiânicafundamentada na memória da Guerra do Paraguai já se tornara a base discursiva da ação política dos oficiais do Exército que eram opositores ao regime monárquico. A publicação do protesto de Sena Madureira no jornal republicano A Federação não pôs fim à questão militar.
No dia 2 de setembro, Visconde da Gávea (O Ajudante General do Exército e um dos esteios da monarquia dentro do Exército) enviou ao Marechal Deodoro da Fonseca (Comandante das armas e presidente em exercício da província do Rio Grande do Sul) uma carta na qual perguntava se ele havia concedido permissão para Sena Madureira publicar seu protesto.
Deodoro respondeu que não e que dedicaria atenção ao assunto. Dias depois, Deodoro enviou um ofício ao ministro da Guerra informando que a legislação em vigor se referia apenas à discussão pública entre militares e que Sena Madureira não havia cometido nenhum ato digno de represália.
O ministro Alfredo Chaves desconsiderou a avaliação de Deodoro e mandou punir Sena Madureira com uma repreensão. Essa foi a primeira grande indisposição entre Deodoro da Fonseca, um dos principais líderes militares da época, e a administração imperial.
Foi a partir desse momento que os acontecimentos começaram a se configurar, cada vez mais, como uma “questão militar”.
Os políticos civis ligados ao Partido Republicano, fundado em 1870, não tardaram a ver na “questão militar” uma oportunidade para indispor ainda mais o Exército com a monarquia.
Júlio de Castilhos aproveitou as discussões públicas entre Sena Madureira e o ministro da Guerra para publicar, em 23 de setembro, o artigo “Arbítrio e inépcia”, que reforçava a retórica messiânica já articulada pelos oficiais do Exército.
Castilhos alegava que o governo imperial estava ofendendo “aquele que lhe salvou de grandes apuros nos campos paraguaios”. A partir de então, as páginas do jornal gaúcho A Federação foram palco dos artigos escritos por Sena Madureira e Júlio de Castilhos. Ambos não pouparam críticas à administração imperial.
Ainda em setembro, os oficiais da guarnição do Rio Grande do Sul solicitaram a Deodoro autorização para homenagear Sena Madureira, delegando-lhe poderes para representar a classe militar contra as “injúrias do governo” (Castro, 1995).
A onda de protestos chegou à Escola Militar da Praia Vermelha, localizada no Rio de Janeiro. No dia 1o de outubro, a mocidade militar manifestou solidariedade a Sena Madureira e afirmou sua disposição para assumir, juntamente com o tenente-coronel, as responsabilidades que poderiam resultar da rebeldia contra o governo.
Os promotores do movimento foram presos a mando do comandante da Escola Militar, o General Severiano da Fonseca, irmão de Deodoro. Diante da atmosfera de conflitos, o Barão de Cotegipe (Presidente do Gabinete Ministerial) solicitou a Deodoro que acalmasse os ânimos dos jovens alunos.
Na resposta, é possível perceber a disposição do marechal em assumir o papel de representante dos protestos da classe militar.
A partir de então, a situação se tornaria ainda mais tensa. Deodoro, que ainda não era identificado com a República, tornou-se uma importante liderança militar nos conflitos com o governo.
UMA CRISE ESTRUTURAL E PROFUNDA
Não era apenas com a rebeldia dos militares que os dirigentes da monarquia tinham que se preocupar. O próprio sistema parecia estar doente; desde meados do século XIX, algumas mudanças estruturais tornaram o centralismo monárquico inadequado para a nova realidade nacional.
O trabalho de Emília Viotti da Costa (2007) consiste em uma das principais propostas analíticas já desenvolvidas acerca da Proclamação da República. 
Emília Viotti da Costa (São Paulo, 28/02/1928) é uma historiadora e professora brasileira.
É autora de vários livros, entre eles Da Senzala à Colônia, publicado pela Unesp, que aborda a transição do trabalho escravo ao livre na zona cafeeira paulista e é considerado referência obrigatória para estudiosos do período.
O mesmo livro lançou novos rumos para a produção historiográfica brasileira dos últimos 30 anos. Recebeu os títulos de professora emérita nas universidades de São Paulo e Yale.
Outra referência fundamental para a crise da monarquia é o trabalho de Ângela Alonso (2002). A autora analisa o surgimento da geração intelectual de 1870, que reuniu alguns dos principais críticos das instituições monárquicas.
Conflitos entre oficiais do Exército e políticos civis
No dia 9 de novembro de 1889, realizou-se uma inflamada reunião na sede do Clube Militar. A mocidade militar, formada pelos alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, e seu líder, o General Benjamin Constant, professor de matemática da referida instituição, estavam em pé de guerra (Castro, 1995).
Os anos anteriores haviam sido marcados por sucessivos conflitos entre oficiais do Exército e políticos civis (Costa, 1996). A corporação estava dividida quanto à sua fidelidade em relação ao Imperador D. Pedro II.
Oficiais como Benjamin Constant, Sólon, Sebastião Bandeira e Mena Barreto defendiam a solução republicana para a crise da monarquia. Por outro lado, oficiais mais veteranos, como Deodoro da Fonseca, relutavam em trair o velho imperador.
Em relação à posição do Marechal Floriano Peixoto, um dos principais quadros do oficialato do Exército na época, é impossível dar uma resposta definitiva. Ao mesmo tempo que era a principal liderança militar do gabinete Ouro Preto, ocupando o cargo de ajudante general, Floriano Peixoto parecia endossar a conspiração que estava sendo tramada nos bastidores do Clube Militar (Castro, 1995).
Os militares golpistas sabiam da necessidade do apoio de Deodoro para o sucesso do movimento. Após a morte dos principais líderes militares do século XIX (Duque de Caxias falecera em 1880 e o General Osório em 1879), Deodoro da Fonseca se torna um dos oficiais mais estimados de todo o Exército. A adesão da corporação dependia necessariamente de seu apoio ao movimento republicano.
Foi por isso que Benjamin Constant lhe fez uma visita em 10 de novembro.
O professor foi informar ao velho e enfermo general como havia sido a sessão do dia anterior no Clube Militar.
Consta que Benjamin falou sobre a necessidade de o Exército e ele, Deodoro, na condição de principal líder da corporação, conduzirem a revolução republicana.
Deodoro teria interpelado: “E ele, o velho? Como fica?” Benjamin teria dito que o imperador seria tratado com dignidade e seria garantida a integridade física de toda a família real (Gazeta de Notícias, 17 de setembro de 1890).
Nessa fotografia de 1888, de Francesco Pesce, o imperador Pedro II parece vislumbrar os problemas que enfrentaria poucos meses depois, com a Proclamação da República.
Na verdade, naquele final de século, a monarquia já dava claros sinais de ser um sistema incapaz de conciliar as velhas e novas demandas dos diferentes grupos sociais brasileiros.
Benjamin pediu a Deodoro que refletisse bem e utilizasse a astúcia de “velho soldado” para tomar a decisão mais adequada.
O líder positivista afirmava que a República não poderia mais ser adiada e era importante “fazê-la de forma serena para evitar derramamento de sangue”.
Segundo José Bevilacqua , Benjamin se retirou do quarto e foi “papear” com a mulher de Deodoro na cozinha. Ao retornar, teria encontrado o marechal “em posição taciturna e meditativa”.
Após muito pensar, Deodoro teria dito: “Benjamin, já que não há outro remédio, leve a breca a Monarquia; nada há mais que esperar dela, venha a República” (apud Castro, 1995, p. 184).
No dia seguinte, Benjamin Constant e Sebastião Bandeira organizaram um encontro de Deodoro com líderes civis do Partido Republicano, como Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Rui Barbosa e Francisco Glicério. 
O marechal Deodoro da Fonseca, mantinha boas relações com o regime monárquico e com o próprio imperador Pedro II. Envolveu-se com os republicanos em meio à crescente insatisfação que, desde a Guerra do Paraguai, se espalhava entre os militares.
Pactos de sangue
Em um primeiro momento do encontro, Deodoro não simpatizou coma possibilidade de aproximação com os políticos civis. Entretanto, o marechal foi persuadido por Benjamin Constant da necessidade de dar ao movimento um caráter mais amplo que o de uma revolta puramente militar (Castro, 1995). Ainda nessa noite, foi assinado o primeiro dos “pactos de sangue” a Benjamin Constant, que já começara a traçar a estratégia militar para o desfecho do golpe.
O líder militar organizou a tomada do Arsenal de Guerra, de Marinha, Alfândega, Tesouro Nacional, Estação Central dos Telégrafos, da Estrada de Ferro D. Pedro II, dos telefones, das fábricas da pólvora da Estrela e Conceição, das Escolas de Tiro de Realengo e Campinho (Castro, 1995, p. 185).
Pela quantidade de pontos estratégicos visados, percebe-se que os golpistas esperavam resistência armada. 
GOLPE MILITAR REPUBLICANO
Floriano Peixoto é o personagem mais ambíguo do cenário do golpe militar republicano. Tanto os golpistas quanto o governo contavam com ele na hora do combate. No dia 14, Floriano enviou uma carta a Ouro Preto informando-o de que algo “mui grave estava para acontecer”.
O chefe do gabinete ordenou a convocação de Deodoro e solicitou ao ministro da Justiça que a Polícia e a Guarda Nacional fossem postas em prontidão. Sólon espalhou o boato de que Deodoro seria preso, fato que precipitou os acontecimentos.
Floriano Peixoto - Floriano Vieira Peixoto (Maceió, 30 de abril de 1839 — Barra Mansa, 29 de junho de 1895) foi um militar e político brasileiro. Primeiro vice-presidente e segundo presidente do Brasil, presidiu o Brasil de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894, no período da República Velha. Foi denominado "Marechal de Ferro" e "Consolidador da República".
Lado dos golpistas
Do lado dos golpistas, a preparação da tropa se deu sem a presença de Deodoro e de Benjamin Constant.
Ainda na madrugada do dia 15, um grupo de estudantes da Escola Militar da Praia Vermelha foi buscar Benjamin em casa para que ele comandasse as tropas no deslocamento em direção à sede do Ministério da Guerra.
Deodoro estava ausente e sua adesão ao movimento ainda era uma incógnita. Em virtude de seu estado de saúde, considerava-se improvável a participação ativa do marechal no golpe. Para a surpresa de todos, assim que soube da movimentação, Deodoro foi ao encontro das tropas, passando a comandá-las no Campo de Santana, localizado na região central da cidade do Rio de Janeiro.
Lado do governo
Do lado do governo, Ouro Preto tentava desesperadamente organizar a resistência. As forças legalistas que foram reunidas no pátio do Ministério da Guerra eram mais estruturadas e numerosas que as forças golpistas.
Entretanto, não havia disposição para o combate, apesar dos numerosos apelos do ministro chefe do gabinete. Apenas o Barão de Ladário, ministro da Marinha, agiu em defesa da monarquia, o que, obviamente, não foi suficiente para salvá-la.
Convencendo Deodoro a proclamar a República
Somente a notícia de que o imperador pretendia convidar Silveira Martins para organizar o novo gabinete teria convencido, definitivamente, Deodoro a proclamar a República (Costa, 1996).Charge de D. Pedro II na Revista Illustrada (1887). Uma crítica ao monarca que representa o imperador alheio aos rumos do país
Ângelo Agostini
O aspecto mais importante de pesquisa nesse capítulo é o argumento mobilizado por Deodoro para legitimar a intervenção militar. A memória da Guerra do Paraguai foi acionada para fundamentar a “vocação messiânica” do Exército para salvar a pátria.
Estava feito! Depois de mais de sessenta anos, o Brasil, finalmente, seguia a tendência política do continente americano. Estava extinta a inusitada monarquia tropical. Contudo, diferentemente do que demonstrou a facilidade com que ocorrera o golpe republicano, o novo regime encontraria dificuldades para se consolidar.
Foi necessária uma violenta ditadura militar para que o projeto da contrarrevolução monarquista não se tornasse uma alternativa real aos opositores da República.
ANOTAÇÕES
Conteúdo programático
· Entender os principais elementos que levaram o Exército a Proclamar a República;
· Reconhecer que a República foi o desfecho da luta entre a elite civil e o Exército;
· Relacionar a República com a crise estrutural da Monarquia.
· Ao contrário do que aprendemos na escola, a Proclamação da República foi um golpe de estado que favoreceu algumas elites que estavam na vanguarda e que não aceitavam a estrutura do Império.
· A Questão Religiosa e a Questão Militar foram fundamentais para entender o que aconteceu durante os últimos 30 anos de transição do final do Império para a República.
- A Questão Religiosa
Por volta de 1870, o Papa Pio IX estava preocupado com a perda da autoridade da Igreja nos países. Isso aconteceu devido à transição dos governos absolutistas na metade do século XIX, que deram lugar a governos republicanos e governos monárquicos-parlamentares que anularam a igreja do poder do Estado. A partir desse momento havia a separação entre o Estado e a Igreja, o que fez com que ela perdesse cada vez mais espaço.
Nesse momento se instala uma doutrina denominada ultramontanismo, onde a autoridade do Papa não pode ser questionada e atribui à ele um papel importante no direcionamento da fé e do comportamento do homem.
Antes da Proclamação da República o Brasil tinha um Regime de Padroado, onde o Estado Imperial “sustentava” os religiosos brasileiros e as igrejas. Alguns autores chegam a dizer que os religiosos da igreja católica eram praticamente funcionários do governo. Com esse regime o Imperador tinha o direito de não permitir que uma Bula Papal fosse implantado no Brasil sem o acordo dele.
Por trás desse movimento de separação entre a Igreja e o Estado estava a Maçonaria. Então, por conta disso, o Papa determinou que todos os maçons fossem expulsos das irmandades católicas. Por mais paradoxal que pareça, as irmandades religiosas católicas tinham uma comunhão com os maçons.
Quando uma comemoração maçônica em comemoração à Lei do Ventre Livre acontece no Rio de Janeiro, um padre faz um elogio ao Visconde de Ouro Preto, que era Presidente do Conselho de Ministros. Porém, esse padre é punido pelo Bispo do Rio de Janeiro por ter feito esse discurso na maçonaria. Porém, o padre, o visconde e D. Pedro I eram maçons, e essa punição repercutiu mal no governo.
Tal acontecimento não teria sido tão visado se o mesmo não tivesse acontecido em Olinda, quando o Bispo de Olinda, Dom Vital, começa a exigir a expulsão dos membros da maçonaria das irmandades daquela região. Além de tudo, ameaçava excomungar alguns membros dessas ordens religiosas se esse ordem não fosse cumprida. 
Um desses membros chega a ser punido, mas em represália à essa atitude, Dom Pedro II manda que Dom Vital volte atrás em sua decisão. Porém, ao não acatar à ordem, Dom Vital é preso. Tal acontecimento gera uma crise entre o Império e a Igreja. 
- Questão Militar
“Conflitos travados entre parte da oficialidade do Exército e a elite dirigente da Monarquia. Estava em jogo o lugar dos militares na política”.
A Questão Militar está relacionada ao fato de que os militares retornam da Guerra do Paraguai muito fortalecidos. Para alguns historiadores, a Guerra do Paraguai marca o início de uma ideia de nacionalismo e pertencimento. Houve uma união de todos no sentido de que o Brasil tinha que estar junto para vencer um inimigo comum.
Os militares retornam na guerra sendo vistos como uma instituição confiável e heroica que, naquele contexto, foi capaz de derrotar Solano Lopes, o ditador cruel que invadiu o Brasil.
Devido à esse prestigio da sociedade e o contato com outros países já republicanos, os militares demonstram interesse em participar da política do Brasil, visando ultrapassar a estagnação econômica e política que impedia o crescimento do país.
Dom Pedro II tinha um diálogo fácil com os militares, porém, como estava recluso em Petrópolis devido à questões de saúde, o diálogo teria que ser feito com os ministros, que não se importavam com as queixas militares e tal situação causouconflito entre as duas partes.
Visconde de Ouro Preto disse:
“Só o Exército, afirmou Deodoro, sabia se sacrificar pela pátria e, no entanto, maltrataram-no os homens políticos que até então haviam dirigido o país. Aludiu aos seus serviços no campo de batalha, rememorando que pela pátria estivera três dias e três noites combatendo em campos paraguaios no meio do lodaçal, sacrifício que eu não poderia avaliar”.
Conflitos travados entre uma parte da oficialidade do Exército e a elite dirigente da Monarquia. Na origem, estava o lugar que parte dessa oficialidade julgava merecer no jogo político do Império. Para os dirigentes civis, o militar deveria ser um oficial especializado na arte da guerra e obediente às ordens do Estado. Os militares envolvidos nessa polêmica achavam que o soldado era um cidadão armado com direito à voz política.
Nesse momento podemos perceber como os militares tinham a ideia de que cabia a eles conduzir e tutelar o país, uma vez que o povo ainda não estava em condições de se autogovernar e a classe política não era capaz de administrar o Brasil.
Até 1985, quando saem do poder, os militares se sentiam no direito de tutelar o país e intervir todas as vezes que acham necessário a fim de governar o país.
Como não foram escutados, eles encontraram uma maneira de chamar a atenção para si, e assim se deu o golpe militar que hoje chamamos de Proclamação da República.
As tensões entre “Soldado Profissional” e “Soldado Cidadão” se acentuam a partir de 1870 – ano da criação do Manifesto Republicano Brasileiro – e aumentam com alguns episódios como o ocorrido na província do Piauí, em 1885. O Coronel Cunha Matos, veterano da Guerra do Paraguai e membro do Partido Liberal, em viagem de inspeção à unidades da província, atestou várias irregularidades e as atribuiu ao Comandante da Companhia de Infantaria local.
· Esse grupo de pessoas que pedia a República entendia que o desenvolvimento do Brasil dependia de duas ações: A Proclamação da República e a abolição da escravidão.
Eles entendem que, além de todas as implicações morais, o atraso de ser o único país a ainda manter o trabalho escravo traz sérias implicações econômicas. Afinal, o trabalho assalariado é mais vantajoso do que o escravo, uma vez que se imobiliza mais capital. Ademais, o trabalho assalariado cria um mercado consumidor que faz desenvolver as atividades econômicas e produtivas do país.
· Agora começa a ser defendido, principalmente, por uma elite paulista cafeicultora, o trabalho livre e assalariado. Tal ação vai contra os barões do café, do Vale do Rio Paraíba, que patrocinaram o poder conservador do Império. Coincidentemente esses barões a perder seu poder político e econômico, pois os cafezais já não produziam tanto quanto deveriam e nem na qualidade necessária.
Ao passo que os cafeicultores do Rio de Janeiro perdiam poder econômico e político, os cafeicultores paulistas ganhavam.
Em 1886, um deputado do Partido Conservador do Piauí saiu em defesa do seu aliado, o Comandante advertido por Cunha Matos, acusando este de ajudar o exército paraguaio no tempo em que fora prisioneiro. Cunha Matos retrucou as acusações em artigo publicado na imprensa e foi punido com a prisão pelo Ministro da Guerra, alegando uma lei que proibia oficiais de tratar assuntos militares pela imprensa.
O General e Senador José Antônio Correia da Costa, Visconde de Pelotas, do Partido Liberal, defendeu Matos e, em violento discurso no Senado, atacou o Ministro da Guerra, afirmando que a ofensa sofrida por Cunha Matos mexia com os brios de todo Exército.
Em 1886, o Tenente-Coronel Sena Madureira, Comandante da Escola de Artilharia de Rio Pardo, RGS, apoiou a defesa de Pelotas. Em resposta, o senador Francisco de Sá, ex-ministro da Guerra, exortou o Ministro Alfredo Chaves a manter a punição de Matos. Madureira publicou um manifesto acusando Sá de déspota e inimigo dos militares.
Para Sena Madureira, um civil não deveria ocupar o mais alto cargo da administração militar. Um “casaca” (político civil) não sabia o que era colocar a própria vida em defesa da pátria.
O Manifesta de Sena Madureira foi publicado no jornal republicano “A Federação” (RGS), de Julie de Castilhos. Deodoro, presidente interino da província de Rio Grande do Sul foi perguntado por carta se havia autorizado o manifesto de Madureira, mas respondeu que a legislação proibia a discussão pública entre militares o que, para ele, não era o caso.
De qualquer maneira, o Ministro da Guerra Alfredo Chaves desconsiderou a resposta de Deodoro e puniu sena Madureira. Essa foi a rusga entre um dos principais líderes militares da época, Deodoro, e o Império.
A partir de então todos os acontecimentos relacionados a militares foram se configurando na “Questão Militar”.
Em 1870 é divulgado o Manifesto Republicano. Os políticos civis ligados ao Partido Republicano percebem que a “Questão Militar” era um valioso instrumento de cooptação dos militares para a causa republicana.
A partir de então, os artigos e manifestos se sucedem e o jornal republicano “A Federação” passa a publicar artigos de Madureira e Castilhos.
· Começa então a aproximação de militares e políticos, mas não os do império, e sim políticos que defendem a república.
A onda de protestos chega à Escola Militar da praia vermelha, no Rio. Há protestos de solidariedade à Sena Madureira e os líderes dessas manifestações são presos por ordem do comandante da Escola.
Depois desses acontecimentos Deodoro passa a ser uma importante liderança militar dos conflitos com o governo.
O grande descompasso entre o poder econômico e o poder político começa a partir de 1850, quando as novas elites urbanas não se sentiam representadas e os cafeicultores do oeste paulista sentiam-se engessados pela postura política do império.
· Com a modernização, uma nova classe urbana foi sem formando e podemos atribuir à ela uma grande parcela de influência na Proclamação da República. Isso acontece porque o modelo monárquico não conseguia suprir as necessidades daquela nova classe.
A historiadora Emília Viotti da Costa a República é o resultado do distanciamento da Monarquia dos novos grupos emergentes (militares, cafeicultores do oeste paulista e as classes urbanas emergentes.
Enfim, a República
“Benjamin, já que não há outro remédio, leve à breca à Monarquia; nada há mais que esperar, venha a República” Deodoro da Fonseca.
Até a Guerra do Paraguai (1864-1870), o Exército tinha pouca força política na estrutura de poder do Império. 
A vitória sobre o Paraguai aumentou a autoestima e a politização dos militares, mas não seu prestígio junto ao governo civil. Em 1871, 40 oficiais fundaram o Instituto Militar, para lutar por melhorias no Exército, e ofereceram a presidência ao conde d’Eu, marido da princesa Isabel, herdeira do trono de dom Pedro II. 
Embora participassem do instituto membros do alto-comando, como Floriano Peixoto, o Conselho de Estado o considerou uma ameaça à disciplina, e o conde d’Eu recusou o convite, pondo fim ao grupo.
Durante a década de 1870 e no início da seguinte, os militares que haviam participado da guerra como oficiais subalternos tiveram poucas promoções e viram seus soldos diminuírem, assim como o orçamento do Exército. 
Contribuíram para o acirramento dos conflitos o temor de que o Exército fosse substituído pela Guarda Nacional e o corporativismo crescente dos militares, fruto do ensino na Escola Militar da Praia Vermelha. 
Em 1883, o tenente-coronel Antônio de Sena Madureira, oficial prestigiado pela
tropa e amigo de dom Pedro II, protestou publicamente contra o projeto do visconde de Paranaguá, que obrigava os militares a contribuir para o montepio. Sena Madureira foi punido sem maior repercussão. 
No ano seguinte, convidou o abolicionista cearense José Francisco do Nascimento, que se recusara a transportar escravos em sua jangada, para uma visita à Escola de Tiro do Rio de Janeiro, da qual era comandante. Como punição, foi transferido para a Escola Preparatória de Rio Pardo, na província do Rio Grandedo Sul. 
A medida gerou polêmica e provocou a proibição aos militares, por parte do ministro da Guerra Alfredo Chaves, de discutir através da imprensa.
Em agosto de 1885, após investigação no Piauí, o coronel Cunha Matos denunciou o comandante de um quartel local como corrupto. Cunha Matos era do Partido Liberal e pediu o afastamento do oficial, do Partido Conservador. 
Em junho de 1886, em revanche, o deputado Simplício Resende acusou Cunha Matos, na Câmara, de ter atacado tropas brasileiras na Guerra do Paraguai. Cunha Matos reagiu com violência pela imprensa, e o ministro da Guerra mandou prendê-lo por dois dias depois de advertir que militares não podiam se manifestar pela imprensa sem autorização prévia. 
A reação veio em agosto: o marechal José Antônio Correia da Câmara, visconde de Pelotas, então senador pelo Rio Grande do Sul, afirmou em plenário que a ofensa a Cunha Matos se estendia aos demais oficiais do Exército, ampliando a questão. O visconde de Pelotas alegava que os oficiais tinham o direito de defender sua honra quando atacados, e que era evidente que os políticos se julgavam superiores aos militares, embora não se tivessem arriscado pela pátria, numa alusão à Guerra do Paraguai.
Dias mais tarde, o senador Franco de Sá, ex-ministro da Guerra que transferira Sena Madureira para o Rio Grande do Sul, negou o abuso em discurso no Congresso. Em resposta, Sena Madureira publicou uma carta no jornal republicano gaúcho A Federação, em que chamava Franco de Sá de “general improvisado”. 
Em represália, o ajudante-general do Exército Manuel Antônio Fonseca da Costa, o visconde da Gávea, indagou por telegrama ao marechal Deodoro da Fonseca, comandante das Armas e presidente em exercício da província do Rio Grande do Sul, sobre a permissão para a publicação da carta de Sena Madureira. 
Antes da resposta, o ministro da Guerra repreendeu publicamente Sena Madureira, desagradando a Deodoro da Fonseca. Configurou-se aí a Questão Militar, como confronto entre militares e governo.
	
AULA 2
 A REPÚBLICA DAS ESPADAS: A CONSOLIDAÇÃO DA REPÚBLICA E A PRIMEIRA DITATUDA MILITAR
1. Listar os principais elementos que levaram o Exército brasileiro a ser manter no poder após a Proclamação da República;
2. Reconhecer a dinâmica da tênue e conflituosa aliança que os principais oficiais do Exército brasileiro estabeleceram com as elites civis republicanas;
3. Identificar as clivagens internas que segmentavam o Exército brasileiro nos primeiros anos de vida da República;
4. Analisar a mobilização de lideranças políticas que se recusaram a aderir às instituições republicanas e tentaram restaurar o regime monárquico;
5. Estabelecer os principais mecanismos repressivos colocados em prática pelos governos militares para reprimir as ações restauradoras.
INTRODUÇÃO
Nesta aula você compreenderá a história da primeira ditadura militar brasileira, ou seja, os cinco primeiros anos de vida da República brasileira, quando o Exército governou o país. Esse período foi caracterizado pela instabilidade já que as instituições republicanas ainda não estavam plenamente consolidadas e havia de fato a possibilidade da restauração monárquica. Através do diálogo com a historiografia especializada no assunto e com a documentação produzida na época, pretendemos explorar esse período na complexidade que lhe é própria, devolvendo os agentes à incerteza e instabilidade características dos primeiros anos de vida das instituições republicanas no Brasil.
HISTÓRIA REPUBLICANA
Apesar de o adesismo ter sido o fenômeno recorrente nessa fase inicial da nossa história republicana, não podemos esquecer que algumas importantes lideranças intelectuais e políticas se manifestaram contra os governos militares, sofrendo, por isso, a violenta repressão que caracterizou a atuação política desses militares. 
Adesismo – prática de aderir, por oportunismo ou interesse próprio, a uma facção ou partido político, a uma política, a uma conjuntura etc.
A análise apresentada nessa aula pretende evitar o tratamento do Exército como o detentor absoluto do poder ou como uma instituição manipulada pelas elites civis. Ambas as abordagens simplificam a complexidade das alianças políticas construídas no período.
É inegável que os militares controlavam o Estado e conduziam os rumos da administração do Brasil. Porém, não há como negar que, mesmo estando desalojadas do poder executivo, as oligarquias cafeicultoras, particularmente a paulista, também exerceram grande influência nas políticas públicas e nas estratégias mobilizadas para a consolidação do regime republicano.
Nesse sentido, podemos dizer que a principal característica da República das Espadas foi a aliança entre as elites civis mais poderosas do Brasil e o Exército. Contudo, enquanto existiu, essa aliança foi frágil e conflituosa, o que ficou claro no momento em que Floriano Peixoto entregou o poder ao primeiro Presidente civil da República brasileira, o paulista Prudente de Morais. A partir de então, e até o começo do século XX, os militares florianistas não mais serias aliados dos civis, seriam, ao contrário, os seus principais inimigos, como veremos.
O exército, após a guerra do Paraguai, se fortaleceu e ganhou prestígio, passando a reivindicar privilégios e participação política. O que foi negado por D. Pedro II.
O abalo na relação entre a igreja e o Estado monárquico, diante de questões como o regime do padroado e o regime do consentimento, que se mantiveram vigentes, contrariando ordenamento imposto aos clérigos através da bula papal 'Syilabus", emitida pelo papa Pio IX.
A questão religiosa – Segundo Reinado
Jornal “O mosquito” (1875)
Autor: Bordalo Pinheiro
Os barões do café, elite da época, se sentiram prejudicados pela monarquia quando da assinatura da ‘Lei Áurea’ e também se voltaram contra o regime monárquico. 
(Veja ao lado a foto tirada momentos após assinatura da lei áurea de Princesa Isabel sendo recebida na varanda central do paço imperial.)
OS DIFÍCEIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA DA REPÚBLICA BRASILEIRA
A reorientação na política externa
Como vimos na aula anterior, com a exceção do incidente envolvendo o Barão de Ladário na tarde do dia 15 de novembro, o golpe militar que demitiu o gabinete ministerial chefiado pelo Visconde de Ouro Preto transcorreu sem resistência.
Porém, os anos que se seguiriam, os primeiros da República, não seriam tão tranquilos...
As instituições ainda eram frágeis, a ausência do Poder Moderador como árbitro dos conflitos e a resistência das lideranças monarquias inconformadas transformaram os cinco primeiros anos da jovem República brasileira em um período conflituoso e particularmente violento.
Ao contrário do que era comum na Monarquia, o governo, na época controlado pelo Exército, mostrou-se pouco tolerantes com as oposições: jornais foram empastelados, lideranças foram assassinadas e presas.
O que estava em jogo nesse momento era o modelo político brasileiro e a imagem do País no mundo. A Inglaterra, que até então era a principal parceira econômica do Brasil, recebeu a novidade com algumas ressalvas.
O Imperador D. Pedro II era muito estimado na Europa e a estabilidade do Estado monárquico era considerada uma qualidade que distinguia o Brasil dos países com os quais fazia fronteira. Em suma, a imagem da República na Europa não era nada boa, o que dificultou bastante a concretização de contratos financeiros e a aquisição de empréstimos e financiamentos.
ANALISANDO A DOCUMENTAÇÃO DE ÉPOCA
Eduardo Prado foi um escritor e polemista paulista que se destacou na oposição aos primeiros governos republicanos. Em 30 de agosto de 1894, ele deu uma entrevista ao “Jornal do Comércio”, um importante periódico português sobre a situação política no Brasil.
De acordo com Eduardo:
“A truculência dos militares que hoje governam o Brasil contaminou a mocidade da escola militar com seu jacobinismo rubro. É correto que o governo queira empregar a mocidade para efetuar prisões políticas mandando depois os alunos militares ser carcereirosdos deportados, cumprimentando que mais hábeis ferozes se mostram como verdugos e fuziladores? Pois Floriano pela distribuição de dinheiros e de postos entre jovens conseguiu isso.
A mocidade em toda parte é clemente generosa: no Brasil, graças a Floriano os verdugos são mancebos, às vezes imberbes. Benjamin Constant corrompeu a inteligência da mocidade ensinando-lhe a doutrina endeusadora da tirania, que se chama positivismo: Floriano, rematou a corrupção transformando em agentes de suas crueldades os alunos da Escola Militar.
ATENÇÃO
Se por um lado no Velho Mundo, onde Eduardo Paulo da Silva Prado fazia duras críticas à primeira ditadura militar brasileira, a República era vista como uma espécie de retrocesso político, na América, países como Argentina e EUA viam na mudança de regime a possibilidade de estreitar as relações diplomáticas com o Brasil.
O GOLPE MILITAR REPUBLICANO
O golpe militar republicano aconteceu quando era realizada nos EUA a I Conferência Internacional Americana, evento organizado pelo governo norte-americano visando aumentar os contatos com o restante do continente, enfraquecendo assim a influência europeia.
Imediatamente, o recém-empossado governo chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca substituiu o representante brasileiro enviado ao congresso pelo governo monárquico por Salvador Mendonça, um republicano histórico que deu o pontapé inicial na nova política externa brasileira, muito mais americanista do que aquela desenvolvida ao longo do século XIX.Procurar fonte e datas específicas
Procurar fonte e datas específicas
	
Procurar fonte e datas específicas
NO CALOR DOS ACONTECIMENTOS
Uma das principais características do primeiro ano da República foi a intensidade dos negócios e da especulação financeira, tendo como consequência as vultosas emissões de dinheiro e a facilidade do crédito.
Várias empresas nasceram da noite para o dia, algumas eram fantasmas, e o resultado foi a elevação da inflação a índices superiores a 134% ao dia.
No início de 1891, a crise de manifestou de forma mais clara com a derrubada nos preços das ações, a falência dos estabelecimentos bancários e de empresas. O valor da moeda brasileira, que era mensurado a partir do valor da libra inglesa, despencou.
Esses foram os resultados do “Encilhamento” ― política econômica desenvolvida por Rui Barbosa (1849-1923), na época o Ministro da Economia do governo provisório de Deodoro da Fonseca. O nome “Encilhamento” deveu-se à semelhança entre o barulho nos trabalhos na bolsa de valores do Rio de Janeiro e o ruído provocado no ato de selagem dos cavalos.
O objetivo de Rui Barbosa com o “Encilhamento” era fomentar a atividade industrial no Brasil, fazendo com que o país não dependesse tanto das atividades agrícolas.
A Política do Encilhamento, que recebe este nome - dado pela imprensa - devido a uma analogia feita entre as especulações desenfreadas sobre as ações, e uma corrida de cavalos referindo ao momento da colocação das cilhas, dos arreios, nos cavalos de corrida no hipódromo da cidade do Rio de Janeiro, sob os olhares e especulação dos apostadores.
Enquanto o governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca dava seus primeiros tropeços no planejamento econômico, os primeiros representantes eleitos sob a égide da República, reunidos em Assembleia Constituinte entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891, redigiam a nova constituição brasileira, que deveria substituir a carta monárquica de 1824.
Orientados por Rui Barbosa e tomando como modelo a constituição dos EUA, as novas leis introduziram importantes mudanças no sistema político do país, até então caracterizado pela centralização monárquica.
AS PRINCIPAIS DETERMINAÇÕES PREVISTAS NA NOVA CONSTITUIÇÃO
Veja as principais determinações previstas na constituição dos Estados Unidos do Brasil foram:
· A adoção da organização federativa. Com isso, as antigas províncias se tornaram Estados membros da federação, adquirindo amplos direitos como os de organizar força militar própria, constituir a justiça estadual e criar impostos.
· Nos termos do pacto federativo, seria o dever da União organizar as forçar armadas, regular a emissão de papel moeda e intervir nos governos estaduais quando a ordem republicana estivesse correndo perigo.
· A manutenção da separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, sendo, obviamente, extinto o poder moderador.
· O cargo máximo da administração pública passava a ser o de Presidente da República, que deveria ser eleito majoritariamente através da votação direta, com a exceção do primeiro Presidente, que seria eleito de forma indireta pelo congresso.
· O corpo legislativo passava a ser formado pelo Congresso Nacional, que por sua vez se dividia em duas casas: a Câmara dos Deputados, formada por parlamentares eleitos proporcionalmente à população dos Estados, e o Senado Federal, com três representantes por Estado, que não mais eram vitalícios.
· O fim do padroado com a implantação do Estado Laico, ou seja, a separação entre Igreja e Estado.
· O fim da exigência de renda mínima para a obtenção do direito ao voto.
De acordo com as considerações do historiador Renato Lessa, a constituição de 1891 não fortaleceu apenas o poder executivo, mas também o legislativo. 
O autor afirma que: 
- O projeto oficial e o texto final da constituição representam inovações na história institucional brasileira. Este é o caso da adoção do presidencialismo, que fortalecia em termos políticos o poder Executivo, fazendo-o emanar da vontade geral, ao contrário da tradição do Império que o definiu como criação do Poder Moderador (...). 
- Outra novidade relevante foi a indissolubilidade do poder legislativo que, a partir de 1891, passou a contar com um amplo leque de prerrogativas, incluindo, entre outras, o controle total do orçamento federal, a possibilidade de criar bancos de emissão, o direito de legislar sobre a organização das forças armadas, a criação de empregos públicos federais, e o que é crucial, o direito exclusivo de verificar e reconhecer poderes (ou seja, a eleição) dos seus membros. Esta última atribuição exclusiva implicava o completo controle do poder legislativo sobre a sua renovação. (LESSA; 2003. p. 142)
GOVERNO DE DEODORO DA FONSECA E SEU VICE FLORIANO PEIXOTO
Em plena crise econômica provocada pelo fracasso do encilhamento, o Congresso formalizou o governo de Deodoro da Fonseca, sendo Floriano Peixoto (1839-1895), eleito, também de forma indireta, o Vice-Presidente.
Apesar de ambos serem oficiais do Exército, havia grandes diferenças entre os modelos político/administrativos defendidos pelo Presidente e pelo Vice-Presidente da República brasileira.
Floriano Peixoto
Defendia uma proposta “jacobina” de República baseada no forte personalismo do líder e no diálogo direto com alguns setores da população urbana.
Deodoro da Fonseca
Convicções republicanas frágeis, o que provocava certa desconfiança por parte dos republicanos históricos, que temiam o alinhamento do Presidente com as lideranças monarquistas.
O CONTURBADO GOVERNO DO MARECHAL FLORIANO PEIXOTO
O governo de Floriano Peixoto foi extremamente conturbado. A situação não seria nada fácil para o vice-presidente da República, afinal a Constituição de 1891, versava em seu artigo 42 que no caso de vaga, da presidência ou vice-presidência, sem que houvesse decorrido pelo menos dois anos do mandato, deveriam ser convocadas novas eleições.
Art. 42 - Se no caso de vaga, por qualquer causa, da Presidência ou Vice-Presidência, não houverem ainda decorrido dois anos do período presidencial, proceder-se-á a nova eleição.
A primeira grande luta de Floriano seria para se manter no poder na medida em que a legitimidade de seu mandato era questionada por alguns grupos. Entre eles estavam os políticos monarquistas adesistas, os “republicanos de última hora”, que exigiam a convocação de novas eleições.
Fora isso, havia também dois grandes conflitos que ameaçavam o seu governo:
1- Desde fevereiro de 1891, o Rio Grande do Sul estava sendo abaladopela disputa entre federalistas, partidários de Silveira Martins, político monarquista, e os republicanos, liderados por Júlio de Castilhos e base de apoio político do Marechal Floriano neste Estado.
2- O outro conflito foi a Revolta da Armada, iniciada em setembro de 1893 e liderada pelos Almirantes Custódio de Melo e Saldanha da Gama.
Segundo Maria de Lourdes de Mônaco Janoti, a Revolta da Armada foi um movimento antirrepublicano e monarquista, demonstrando a instabilidade política dos primeiros anos da República brasileira.
Diante de tantas dificuldades Floriano Peixoto empunhou a bandeira da legalidade e organizou a resistência.
Os interesses mobilizados pelas circunstâncias políticas lhe renderem ampla base de apoio político, principalmente das grandes oligarquias, em especial a paulista.
“Aceitação na Câmara”
Foi publicada na edição de 1° de novembro de 1894 do jornal Diário de Notícias, que circulava no Rio de Janeiro, uma matéria intitulada “Aceitação na Câmara”, que tratava do apoio que o poder legislativo concedeu a Floriano Peixoto visando à consolidação das instituições republicanas.
Segundo a referida matéria, o projeto de combate às revoltas idealizado pelo governo recebeu apoio de 120 dos 132 deputados presentes na casa legislativa na ocasião da seção em questão.
Tal adesão mostra que até mesmo as elites civis, que jamais confiaram plenamente no governo dos militares, entenderam que o momento era crítico e que a força se fazia necessária.O presidente Floriano Peixoto foi retratado como uma esfinge por sua tentativa de controlar os gastos públicos. Também faz uma referência à citação de Euclides da Cunha, que o considerava uma figura enigmática
Revista Illustrada (1892)
Autor: Ângelo Agostini
Esses grupos, então, se retiraram da arena política e deixaram a consolidação da República sob a responsabilidade daqueles que eram peritos no uso da força: os militares.
Comentário
Até hoje nenhum projeto conseguiu na câmara dos deputados tão alta votação em seu favor, testemunhando isso o espírito de ordem e patriotismo de que se acha dominada a representação direta do povo brasileiro.
-
As oligarquias que dominavam o poder legislativo apoiaram Floriano Peixoto na manutenção de seu mandato e na repressão à Revolução Federalista e à Revolta da Armada.
Esse apoio teve efeito ambíguo no que se refere ao governo do Marechal. Se por um lado foi fundamental para a manutenção das instituições republicanas, por outro fez com que Floriano ficasse preso na rede política tecida pelas oligarquias.
Tal fato foi central para transição ao governo civil de Prudente de Morais. O Marechal não teve uma sólida base política que o apoiasse em seu projeto de continuar no poder.
Quando se dá a convenção do Partido Republicano, em 25 de setembro de 1893, que ratificou o nome de Prudente de Morais para a corrida presidencial, a rebelião da marinha já estava em pleno curso e Floriano Peixoto não poderia rejeitar o apoio da oligarquia paulista.
Quando se dá a convenção do Partido Republicano, em 25 de setembro de 1893, que ratificou o nome de Prudente de Morais para a corrida presidencial, a rebelião da marinha já estava em pleno curso e Floriano Peixoto não poderia rejeitar o apoio da oligarquia paulista.
REVOLTA DA ARMADA E A REVOLUÇÃO FEDERALISTA
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelo governo do Marechal Floriano Peixoto certamente estão a Revolta da Armada e a Revolução Federalista, ambas em 1893.
As duas revoltas consistiram em movimentos de contestação à legitimidade do governo do Marechal Floriano, que contou, como já vimos, com o apoio irrestrito do Congresso, na época controlado pelas oligarquias regionais.
De acordo com a historiadora Maria de Lourdes Mônaco Janoti, de fato houve a participação de lideranças monarquistas nessas revoltas. Ainda nesse momento, havia quem acreditasse ser possível a restauração do regime deposto pelo golpe militar de novembro de 1889.
Entre esses líderes, destacam-se os nomes do já citado Eduardo Prado, que certamente foi a principal intelectual monarquista em atuação nos primeiros anos da República, e Carlos de Laet.
Porém, a autora afirma que o verdadeiro potencial restaurador desses movimentos foi exagerado pelo governo militar e utilizado como elemento legitimador da repressão contra as manifestações da oposição.
A motivação inicial da Revolução Federalista foi uma questão interna à política do Estado do Rio Grande do Sul.
Após fraudes escandalosas em duas eleições e uma sucessão de assassinatos políticos, Júlio de Castilhos assumiu a presidência desse Estado em janeiro de 1893. Poucos dias depois, os adversários políticos do novo governante organizaram um movimento armado que tinha o objetivo de depor Castilhos.
GUERRA CIVIL
Começou nesse momento a Guerra Civil, que colocou frente a frente as forças do governo e da oposição ― liderança federalista organizada por Gaspar Silveira Martins, contrária à centralização do Estado e ao cerceamento da liberdade administrativa do Estado.
Portanto, a oposição ao governo de Júlio de Castilho era heterogênea demais, tornando, assim, a sua principal fraqueza.
Por outro lado, os castilhistas possuíam uma agenda muito clara e coesa. Eram positivistas de vontade férrea que fechavam colunas sólidas e ainda contavam com o apoio do governo presidido pelo Marechal Floriano.
A guerra durou 31 meses e se estendeu por mais três Estados fronteiriços, chegando mesmo até São Paulo.
Teve como resultados a vitória dos castilhistas e a morte de pelo menos 10 mil homens — muitos assassinados por degola. Esse foi o momento em que a violência do governo do Marechal Floriano ficou mais evidente.
SEGUNDA REVOLTA ARMADA
A Segunda Revolta da Armada foi promovida por setores do oficialato da Marinha e liderada pelo contra-almirante Custódio José de Melo.
Os revoltosos não possuíam um programa definido e se manifestavam contra a corrupção e a inconstitucionalidade do governo do Marechal Floriano.  
O movimento jamais assumiu a sua identidade monarquista, apesar de ter sido incentivado por líderes relacionados ao regime deposto.
A Revolta da Armada foi debelada ainda em 1893, quando o governo fez um acordo, intermediado pelo governo português, com os líderes revoltosos, que foram exilados.
Seria um navio oficial da Marinha portuguesa o responsável por transportar esses homens. Porém, os revoltosos foram desembarcados no Rio Grande do Sul, onde se integraram às tropas comandadas por Silveira Martins.
O governo do Marechal Floriano considerou o fato uma traição e rompeu relações diplomáticas com Portugal.
A CONSOLIDAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES REPUBLICANAS
Realmente, o governo do Marechal Floriano Peixoto parece ter cumprido o seu objetivo: desmobilizar as oposições e consolidar definitivamente as instituições republicanas, praticamente excluindo a possibilidade da restauração da Monarquia.
Para as elites civis, com destaque para a oligarquia paulista, a necessidade passava a ser outra: desmilitarizar a república. Pois, esses grupos acreditavam que os militares já haviam cumprido seu papel.
Porém, para alguns setores do Exército, justamente aqueles mais identificados com a liderança de Floriano Peixoto, a República ainda corria risco e os civis não tinham condições morais de assumir o controle do país.
Foi nesse momento, na segunda metade do ano de 1894, que a aliança entre os militares florianistas e as oligarquias civis mostrou a sua fragilidade.
De acordo com o historiador Rodrigo Perez Oliveira, a última semana de governo do Marechal Floriano, que marcou também as festividades do quinto aniversário da República e a posse de Prudente de Morais,  deixou evidente que a partir de então a história política do Brasil seria caracterizada por outro conflito:
Deixava de ser Monarquistas X Republicanos
Para se tornar Militares Florianistas X Governo Civil
GOVERNO DE PRUDENTE DE MORAIS E SEU VICE MANOEL VITORINO
Em 1° de março foram realizadas as eleições presidenciais destinadas a definir o sucessor de Floriano Peixoto.O resultado confirmou o controle da máquina eleitoral pela oligarquia paulista.
Prudente de Morais e Manoel Vitorino foram eleitos Presidente e Vice-Presidente da República. Aproximava-se, então, o momento da transferência do poder para os civis.  
Entretanto, os militares não voltariam ao quartel de forma tranquila.  Se por um lado a cúpula florianista declinou aos anseios jacobinos por um movimento militar que mantivesse a ditadura, por outro, não entregou o poder aos civis sem antes encenar simbolicamente a sua insatisfação.
Os meses que antecederam à posse de Prudente de Morais foram tensos, espalhavam-se os boatos de que Floriano Peixoto lideraria um golpe militar para permanecer no poder.
Isso não aconteceu, não havia condições políticas para uma intervenção dessa natureza. Entretanto, a ausência de um golpe militar continuísta não significa que a transição da “República das espadas” para a “República das casacas” tenha acontecido harmonicamente.
De acordo com o historiador Rodrigo Perez Oliveira, Prudente José de Morais Barros chegou ao Rio de Janeiro para tomar posse da principal magistratura da República na manhã do dia 3 de novembro de 1894.
O Presidente eleito, acompanhado da sua família e de uma pequena comitiva, foi recebido por um grupo de populares.
Uma ausência foi especialmente sentida nessa ocasião: Floriano Peixoto quebrou o decoro e não foi recepcionar o seu sucessor na Estação Central da Estrada de Ferro Central do Brasil. Alegando estar indisposto, o Marechal enviou o seu ajudante de ordens, o Capitão Saddock de Sá.
A partir de então as indisposições de Floriano Peixoto seriam frequentes nas ocasiões em que ele deveria cortejar Prudente de Morais a fim de promover os rituais político-simbólicos da sucessão presidencial (OLIVEIRA; 2003, p. 99).
Oliveira afirma ainda que o Marechal Floriano estava preso à teia política construída pela oligarquia paulista, que lhe deu apoio irrestrito nos momentos mais críticos do seu governo, e sabia bem das poucas possibilidades de sucesso de um golpe militar continuísta.
Porém, o Presidente Militar fez questão de deixar clara a sua insatisfação e não compareceu aos rituais cívicos destinados a marcar a posse do novo chefe de Estado. Quebrando completamente o protocolo, Floriano Peixoto não compareceu à posse do seu sucessor.
Estava feito! Em 15 de novembro de 1894, quando a República comemorava o seu quinto aniversário, o paulista Prudente de Morais assumiu a chefia do Estado brasileiro.  
Finalmente, o projeto da oligarquia paulista que estava sendo idealizado desde a década de 1870 era concretizado: o grupo mais rico do Brasil agora controlava também o governo do país.  
ANOTAÇÕES
Conteúdo Programático
· Identificar os principais elementos que levaram o exército a permanecer no poder após a Proclamação da República;
· Entender a dinâmica da tênue e conflituosa aliança entre a oficialidade do Exército e as elites civis republicanas;
· Identificar as ligações internas que segmentavam o Exército nos primeiros anos da República;
· Analisar a mobilização de lideranças que se recusaram a aderias às instituições republicanas e restaurar a monarquia.
· Conhecer os principais mecanismos repressivos dos governos militares para reprimir as ações restauradoras dos monarquistas.
· Início da República e o início da República das Espadas. 
O termo República das Espadas foi usado devido ao fato de que dois presidentes militares ocuparam a presidência: O Marechal Deodoro da Fonseca e o Marechal Floriano Peixoto.
· Como visto na aula anteriormente, a Proclamação da República foi um golpe de estado. As forças mais progressistas das elites civis estavam ligadas à produção de café no noroeste paulista. Essa oligarquia cafeicultora não tinha condições de acabar com o Império e proclamas a república. Sendo assim, foi preciso cooptar as forças armadas e aproveitar a Questão Militar que se formava naquele momento.
· Uma vez tomado o poder e dado a liderança que Deodoro da Fonseca possuía diante do exército, ele foi instituído como o primeiro chefe do Governo Provisório do Brasil. 
· Por que Governo Provisório? 
Agora que o Brasil havia se tornado uma República, era necessário mudar a Constituição, uma vez que a que estava vigente era do Império. Até que ficasse pronta, era preciso que o governo tivesse um governo, o Governo Provisório. Esse Governo durou de 1889 até fevereiro de 1891, quando a nova Constituição Republicana foi promulgada e Deodoro da Fonseca foi, indiretamente, eleito pela constituinte para o período de governo que iria até 1894.
· Na disputa eleitoral, as elites paulistas tinham a pretensão de assumir o governo. Porém, havia o medo de que, se caso ganhassem, haveria outro golpe de estado por parte dos militares.
· Portanto, concorrem na presidência Deodoro da Fonseca e o civil e paulista Prudente de Moraes. Mas ele concorre apenas para marcar uma posição na eleição, não participando ativamente para se eleger. Nesse momento o maior medo era de que, se Prudente de Moraes ganhasse, Deodoro daria um golpe e se tornaria um ditador, o que não seria bom para ninguém.
· Naquele momento as eleições para Presidente e Vice-Presidente eram separadas. Sendo assim, Deodoro da Fonseca seria Presidente e, Floriano Peixoto, Vice-presidente
Livro: Carvalho, José Murilo de. Os bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Cia das Letras, 1987.
· A Proclamação da República ocorreu quase sem violência ou qualquer resistência. O historiador José Murilo de Carvalho de apropria de uma frase dita por Aristides Lobo, um jornalista da época, em uma carta:
Cartas do Rio
ACONTECIMENTO ÚNICO
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1889.
Eu quisera poder dar a esta data a denominação seguinte: 15 de Novembro, primeiro ano de República; mas não posso infelizmente fazê-lo. O que se fez é um degrau, talvez nem tanto, para o advento da grande era.
Em todo o caso, o que está feito, pode ser muito, se os homens que vão tomar a responsabilidade do poder tiverem juízo, patriotismo e sincero amor à liberdade.
Como trabalho de saneamento, a obra é edificante. Por ora, a cor do Governo é puramente militar, e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi quase nula.
O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava.
Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada.
Era um fenômeno digno de ver-se.
O entusiasmo veio depois, veio mesmo lentamente, quebrando o enleio dos espíritos.
Pude ver a sangue-frio tudo aquilo.
Mas voltemos ao fato da ação ou do papel governamental. Estamos em presença de um esboço, rude, incompleto, completamente amorfo.
Bom, não posso ir além; estou fatigadíssimo, e só lhe posso dizer estas quatro palavras, que já são históricas.
Acaba de me dizer o Glycerio que esta carta foi escrita, na palestra com ele e com outro correligionário, o Benjamim de Vallonga.
E no meio desse verdadeiro turbilhão que me arrebata, há uma dor que punge e exige o seu lugar – a necessidade de deixar temporariamente, eu o espero, o Diário Popular.
Mas o que fazer? O Diário que me perdoe; não fui eu; foram os acontecimentos violentos que nos separaram de momento.
Adeus.
Aristides Lobo
· O povo viu aquele movimento quase como uma parada militar, sem ter a mínima noção de que a república seria proclamada. Foi um golpe de estado que foi assistido pela população, que assistia perplexa.
A política externa
A Europa encarou a Proclamação da República como um retrocesso, mas a Inglaterra a viu com reservas; Dom Pedro II era muito estimado na Europa e a estabilidade do Estado Monárquico no Brasil o distinguia dos países com os quais fazia fronteira.
Com a República, ficou mais difícil a realização de contratos financeiros e empréstimos junto à Europa; mas a América, EUA e Argentina viam na mudança de regime uma oportunidade de estreitar laços diplomáticos.
· A Argentina via vantagens em estreitar os laços devido ao fato de que o Brasil é o maior país da América

Continue navegando