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Analise de discurso

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Tamara Guaraldo 
Unesp-Bauru/Marília 
“Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, 
porque nem o homem e nem o rio serão os 
mesmos.” 
(Heráclito - Filósofo da Grécia Antiga) 
 
“O discurso é assim, palavra em movimento, prática de linguagem: com o 
estudo do discurso observa-se o homem falando” (ORLANDI, 2009, p. 15). 
Dialética 
 O estudo do OBJETO DE PESQUISA, sempre em 
realidades concretas, deve abarcar, de modo 
dialético, todos os seus aspectos, todas as suas 
ligações, mediações e contradições. O objeto é 
considerado em seu desenvolvimento e movimento 
próprio, na sua transformação (BARROS; LEHFELD, 
2005). 
 Discurso é mediação entre as pessoas e a realidade, 
o que torna possível perceber tanto sua permanência 
– paráfrase, quanto sua transformação - polissemia 
(ORLANDI, 2009) 
 
Princípios 
 A Análise de Discurso (AD) não existe como um campo 
objetivo; 
 1969 – ano de emergência da AD na França: com 
lançamento das publicações: Revista Linguagem – 
Grupo de analistas norte-americanos (Harris – Discours 
Analyses); Michel Pêcheux – “Análise Automática do 
Discurso” (AAD-69) e Michel Foucault – “Arqueologia 
do Saber”. 
 Discours Analyses (Estados Unidos) – maneira de 
analisar a conversação. 
Fundamentação teórica e 
metodológica 
 Pêcheux e Foucault inscrevem o projeto da AD dentro 
do debate intelectual sobre o sentido, o sujeito e a 
ideologia 
 Foucault se interroga sobre o lugar institucional do 
simbólico e Pêcheux sobre a posição do sujeito no 
simbólico. 
 A significação do signo não é dada de uma vez por 
todas, mas deve ser determinada segundo o contexto. 
 Enunciados são coisas ditas a partir das quais se 
compreende sobre qual modo eles existem 
(FOUCAULT, 1969). 
 
 
 “Eis a questão que a análise da língua coloca a propósito 
de qualquer fato do discurso: segundo que regras um 
enunciado foi construído e, consequentemente, 
segundo que regras outros enunciados semelhantes 
poderiam ser construídos? A descrição de 
acontecimentos do discurso coloca uma outra questão 
bem diferente: como apareceu um determinado 
enunciado e não outro em seu lugar? Trata-se de 
compreender o enunciado na estreiteza e singularidade 
de sua situação: determinar as condições de sua 
existência, de fixar seus limites da forma mais justa, de 
estabelecer suas correlações com os outros enunciados a 
que pode estar ligado, de mostrar que outras formas de 
enunciação exclui” (FOUCAULT, 1969, P. 30). 
Invasão 
Ocupação 
 O Sentido de uma palavra, de uma expressão, de 
uma proposição, não existe em “si mesmo”, mas ao 
contrário, é determinado pelas posições ideológicas 
colocadas em jogo no processo sócio-histórico no 
qual as palavras e expressões são produzidas 
(PÊCHEUX, 2009) 
Fundamentação teórica e 
metodológica 
 AD (PÊCHEUX, 1969) é uma nova maneira de ler: 
não é possível extrair sentido de um texto, pois texto 
não é produto acabado, mas um processo no qual o 
leitor não apreende um sentido que está lá, ele atribui 
sentidos ao texto. A leitura é produzida e se procura 
determinar o processo e suas condições de produção . 
 A questão da leitura é um tema capital para Pêcheux, 
mas no âmbito de uma teoria que rompa tanto com a 
prática de explicação do texto quanto com os métodos 
estatísticos que os quantificam (MALDIDIER, 2010). 
 
 
Leituras possíveis 
“ Uma das questões então é – parafraseando Foucault 
– como um texto aparece, e não outro? A outra 
questão seria o que um texto significa para um 
grupo ou outro, e por quê? Na verdade, a questão 
não é tanto o que ele significa, mas por que ele foi 
lido de determinada maneira? Ou seja, em que 
condições um leitor leu como leu, em que medida 
esse leitor projetou sobre o texto o que ele já 
pensava, em que medida o texto o afetou, 
influenciou, e assim por diante.” 
(POSSENTI, 2001) 
Leitura e ideologia 
“O autor fala como professor, como homem, como 
mulher, como católico ou como luterano e, portanto, ele 
não diz o que quer. E o leitor, é igual: ele lê como 
católico, como protestante, como professor etc. E o 
leitor lê o que é possível para ele ler – não porque ele é 
mais – ou menos – competente, mas porque ele tem 
uma certa ideologia” (POSSENTI, 2001). 
“Quando digo que a leitura errada existe, 
minha tese é a seguinte: o sentido é histórico. 
Há essas reverberações individuais, mas um 
dia isso vai acabar fazendo parte da história, 
ou então vai ser apagado. É como mudança 
linguística: se alguém pronuncia um som de 
maneira diferente de todos, e 
isso pegar, terá sido o começo de uma 
mudança linguística. Se não pegar, será como 
se não tivesse acontecido” (POSSENTI, 2001). 
Questões de pesquisa 
 Não interessa: O quê? Mas: Como? 
 Como a informação significa para e por sujeitos? 
 Como produz sentidos? 
 Como se diz? 
 Quem diz? 
 Em que circunstâncias? 
 Como o sujeito se marca no que diz (ou não)? 
 De que lugar fala o sujeito? 
 (ORLANDI, 2009) 
 
Discurso e texto 
 Discurso como manifestação de lugar social, de uma 
comunidade, de regras e normas que permitem que uma 
instituição funcione. A instituição não pode estar 
separada dos discursos que emite. 
 O termo texto e discurso não são intercambiáveis, pois o 
texto é a unidade que o analista tem diante de si e do 
qual realiza sua leitura remetendo-o a um discurso que 
ganha sentido em relação às condições de produção em 
uma conjuntura dada: O texto é parte de algo maior, que 
é o processo discursivo. Ele é um exemplar do discurso 
(ORLANDI, 2009). 
 
Metodologia - AD 
 Como um objeto simbólico produz sentidos; 
 Início da pesquisa se dá na constituição do corpus – 
OBJETO DE PESQUISA; 
 Delinear limites do corpus, fazer recortes e ao mesmo 
tempo iniciar um primeiro trabalho de análise, retomando 
conceitos e noções . 
 Ir e vir entre teoria, consulta ao corpus e análise. 
 A responsabilidade do analista está na questão que 
desencadeia a análise, que irá definir a forma do 
dispositivo analítico, a natureza do corpus e a finalidade 
da análise, mobilizando conceitos e procedimentos para 
responder sua questão (ORLANDI, 2009). 
 
As bases da análise 
 Construir um dispositivo de análise: trabalha no limite da 
descrição e interpretação. 
 Constituição do corpus: segue critérios teóricos, e não objetiva a 
exaustividade do material, pois este é inesgotável, já que todo 
discurso se relaciona com um discurso anterior,e não há discurso 
fechado em si mesmo, mas um processo do qual se pode recortar 
e analisar de forma diferente. Decidir o que faz parte do corpus já 
é decidir sobre propriedades discursivas. Devemos construir um 
corpus (pois ele não se dá como algo posto) que obedeça a 
critérios teóricos da pesquisa e da análise do discurso, frente aos 
objetivos da análise e que permitam sua compreensão. “Em 
grande medida o corpus resulta de uma construção do próprio 
analista” (ORLANDI, 2009, p.63). 
Corpus 
 Unidades tópicas: discurso já recortado pela sociedade 
Ex: publicitário, técnico, pedagógico, político, midiático... 
Tipo – discurso político, jornalístico, pedagógico, organizacional... 
Gênero – entrevista, debate, palestra, vídeo institucional... 
 Não tópico: Formação Discursiva (regras de formação do discurso 
que determina o que pode ou não ser dito em determinada situação)- 
conjunto de textos construído pelo pesquisador e que pode integrar 
todo tipo de texto desde que tenha coerência com o tipo de discurso 
escolhido – tudo está conectado pelo interdiscurso (memória) 
Ex: Discurso feminista, discurso racista, autoritário, polêmico, 
religioso... 
 
 (MAINGUENEAU, 2011) 
 
 
 
Questões fundamentais 
 O estudo do discurso não pode estar separado do estudo do 
funcionamento do grupo que organiza o texto. 
 O texto é o que é porque está dentro de certas regras. 
Levar em conta o discurso não significa apenas estudar o 
tema do discurso, mas pensar: 
 De quem está falando o discurso? 
 Como esse é feito? 
 Corresponde as categorias que tenho? 
 Devo modificá-las? 
 (MAINGUENEAU, 2011) 
Conceitos fundamentais 
 Condições de produção: circunstâncias de um discurso que 
compreende os sujeitos e a situação, mas também a memória, 
que faz parte do discurso. Envolve, em sentido estrito, as 
circunstâncias da enunciação, é o contexto imediato, e no sentido 
amplo, o contexto sócio-histórico e ideológico (ORLANDI, 2009). 
Não neutralidade do discurso. Esquecimentos e escolhas. 
 
 Sentidos não são fixos: Pêcheux (2009) afirma que o sentido de 
uma palavra ou expressão não existe em si mesmo, mas é 
determinado por posições ideológicas colocadas em jogo no 
processo sócio histórico em que palavras, expressões e posições 
são produzidas e reproduzidas. Discurso é efeito de sentido 
entre interlocutores: Pêcheux (2009) afirma que o sentido do 
texto não é dado a priori, mas constituído no discurso. 
 
 
 
O lugar simbólico que os indivíduos ocupam no discurso 
corresponde a um lugar social? 
Twitter 
Março 
2018 
 
 
Tamara de Souza Brandão Guaraldo 
 
 
Práticas de informação e leitura: 
mediação e apropriação da informação nas 
cartas de leitores de um jornal popular do 
interior de São Paulo 
 
Marília, 2013 
 
 
 
 Orientador: Prof. Dr. Oswaldo Francisco de Almeida Jr. 
 
 
 
 
 
 
TESE 
 A informação relacionada sobretudo ao contexto 
histórico e social e não apenas a questões tecnológicas 
(MATTELART, 2006; INGWERSEN, 1992; GONZÁLEZ 
DE GOMEZ, 2000, 1990; ALMEIDA JUNIOR, 2010, 
2009, 2008). 
 A tese defende o conceito de práticas de informação, 
que envolvem as ações em que o leitor, se apropriando 
da informação, estabelece uma relação com o texto e o 
contexto, na qual se constitui não apenas um sujeito e 
um sentido, mas outros sujeitos como o autor e outros 
leitores, a ideologia e a cultura de seus participantes. 
Objeto de 
Estudo: a prática 
de leitura do jornal 
Bom Dia Bauru 
 
-Fundado em 2005; 
-Rede Bom Dia, a 
maior rede de 
jornais do país; 
- R$ 1; 
-Líder na venda em 
bancas. 
REFERENCIAL TEÓRICO 
 Mediação como ação (ALMEIDA JUNIOR, 2007). 
 Mediação como o lugar da interação entre a lógica da 
produção e a da recepção (MARTÍN-BARBERO, 
2008). 
 Uso : o receptor é indivíduo ativo. 
 Estudos culturais britânicos (1964): a diversidade de 
interpretações e a capacidade de resistência dos 
diferentes públicos (HALL, 1980). 
 Recepção: prática social rotineira e não estruturada, 
construção subjetiva dos significados; 
 Apropriação: conhecimento e autoconhecimento, 
implica ação e transformação do conhecimento. 
Metodologia: Análise de Discurso 
(AD) 
 Crítica à leitura literal (PÊCHEUX, 2010c). 
 Na leitura não há autor onipotente e nem leitor onisciente 
(ORLANDI, 2008). 
 Discurso e texto. Discurso é efeito de sentido entre 
interlocutores (PÊCHEUX, 2008). 
 Condições de produção: circunstâncias em que o discurso é 
produzido. Mecanismos Antecipação e Regras de projeção: 
da situação empírica (lugar) para a posição do sujeito no 
discurso (PÊCHEUX, 2010a); 
 Sujeito ideológico: o que é ser leitor hoje: Virtual X Real; 
 Paráfrase e polissemia 
 Palavras recebem sentido em relações (PÊCHEUX, 2009); 
 
 
 
 
Questão dialética... 
 Problema de pesquisa é questão dialética: 
 O jogo de imagens entre o leitor e o jornal: Qual 
a imagem que o jornal tem do leitor e qual a 
imagem que o leitor tem do jornal ? 
 Como o jornal se posiciona e que posição atribui 
a seus leitores? 
 E como o leitor relata sua prática de leitura nas 
cartas de leitores? Como se posiciona no 
discurso? 
 
O LEITOR POR ELE MESMO 
 Efeitos de sentido; 
 Leituras parafrásticas - dominantes: reproduz o 
discurso do interlocutor, apoia o discurso. 
 Leituras negociadas: leitores exigentes, apoiam, 
mas questionam certas posições. 
 Leituras polissêmicas - de oposição: negação do 
tema, da posição do interlocutor, críticas ao 
conteúdo (gênero). 
 
Bonito 
Bom de leitura 
DINÂMICO 
JORNAL DE SEU TEMPO 
INOVADOR 
VERSÁTIL 
Mais fácil de ler 
INFORMATIVO 
MAIS LEVE 
Mais agradável de ler MAIS LIMPO/CLEAN 
Superficial 
LETRAS PEQUENAS 
Mulheres quase peladas 
Difícil leitura 
Mais texto 
LAYOUT AGRADÁVEL 
Diversas 
posições 
que o leitor 
pode ocupar 
no discurso, 
não sendo 
sempre o 
mesmo 
(PÊCHEUX, 
2009). 
“ Os leitores podem ser criativos e imprevisíveis em 
sua maneira de ler; são ativos na apropriação da 
informação, na maneira em que aceitam, negam ou 
incorporam as possibilidades desse mesmo texto em 
criar significados, pois em toda atividade do leitor há 
uma parte de passividade, dialeticamente, atividade 
e passividade se misturam em cada ato” 
(Guaraldo, 2013, p. 236) 
Considerações Finais 
 Mediação da informação: a informação existe na 
relação da pessoa com o conteúdo do meio de 
informação num contexto sócio-histórico; 
 O jornal BOM DIA BAURU constrói seu leitor num 
horizonte de expectativas do que é ser leitor hoje; 
 Prática de informação - Relevância: organização 
material da informação (layout), tamanho da fonte, 
impressão, conteúdo e USO. 
 A maioria dos leitores apoiou o novo BOM DIA. 
 
 
Referências 
 ANGERMULLER, J. A verdade na era da pós-verdade: por um Programa Forte em 
Estudos do discurso. Redis: Revista de Estudos do Discurso, nº 7, ano 2018 pp. 36-
62. 
 FERNANDES, C. A. Análise do discurso: reflexões introdutórias. 2.ed. São Carlos: 
Claraluz, 2008. 
 FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Ed. Loyola, 1996. 
 ORLANDI, E. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 8. ed. Campinas: 
Pontes, 2009. 
 ORLANDI, E. As formas do silêncio. 6.ed. Campinas: UNICAMP, 2007. 
 MAINGUENEAU, D. Discurso e Análise do discurso. São Paulo: Parábola 
Editorial, 2015. 
 MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 
2002. 
 PÊCHEUX, M. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, F.; HAK, T. 
Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel 
Pêcheux. 4. ed. Campinas: UNICAMP, 2010. p. 59-158. 
 
OBRIGADA! 
tamara.guaraldo@unesp.br 
@tamaraguaraldo

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