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1 Oscilador Harmonico Unidimensional Mesmo para o caso de problema unidimensional, não é sempre possível re- solver a equação de autovalor do Hamiltoniano analiticamente. Mas existem algumas situações que podemos ter solução analítica. O oscilador harmônico é este caso. O oscilador harmônico é muito importante tanto na Mecânica Clássica como na Mecânica Quântica, pois qualquer potencial pode ser aprox- imado como o potencial de oscilador harmônico na vizinhança do seu ponto mínimo. Na Mecânica Clássica, a dinâmica de qualquer sistema com pequêna amplitide pode ser aproximada como um oscilador harmonico. Na Mecânica Quântica, a dinâmica de pequena excitação próximo do estado fundamen- tal pode ser aproximado como um oscilador harmonico. Além disto, já que o problema de autovalor de oscilador harmônico é analiticamente soluvel, podemos estudar a estrutura da Mecânica Quântica explicitamente através deste exemplo. Nesta sessão, investigamos o problema de um oscilador har- mônico detalhadamente. O potencial de um oscilador harmonico tem a forma, V (x) = m 2 ω2x2, onde ω é uma constante. Na Mecânica Clássica, a solução da equação de movimento é dada por x(t) = A sin (ωt+ δ) . Na Mecânica Quântica, a equação dinâmica para a função de onda fica i~ ∂ ∂t ψ = − ~ 2∂2 2m∂x2 ψ + m 2 ω2x2ψ. (1) Para resolver, vamos considerar a equação de autovalor de Hamiltoniana,[ − ~ 2∂2 2m∂x2 + m 2 ω2x2 ] ψE = EψE. (2) Queremos determinar a autofunção ψE e o autovalor E. 1.1 Variáveis Adimensionais Uma vez estabelecida a equação para resolver, o problema se torna a uma questão matemática. Para discutir propriedades matemáticas, é fundamental 1 utilizar as quantidades adimensionais. Vamos transformar a nossa equação na forma adimensional. Para a primeira lugar, a variável x tem a dimensão de distância, [x] = [L]. Devemos então utilizar a variável adimensional ξ definido por, αξ = x, (3) onde α é uma constante que tem dimensão [L]. Na equação, temos 3 con- stantes que tem dimensão, [~] = [E][T ], [m] = [E][T ]2[L]−2, [ω] = [T ]−1, e podemos construir a constante α como α = √ ~ mω . (4) Introduzindo a mudânça de variável Eq.(3) na Eq.(2), temos a equação difer- encial adimensional, ψ′′ = ( ξ2 − 2ε ) ψ, (5) onde abreviamos como ψE → ψ e ε = E ~ω (6) é uma quantidade adimensional (a energia medida em unidade ~ω). 1.2 Comportamento Asimtótico Vamos investigar primeira, o comportamento da solução para grande valor de ξ. Para |ξ| → ∞, temos ψ′′ ' ξ2ψ. (7) Em geral, para uma função cujo comportamento asimtotico é do tipo f ' e±aξn , 2 temos f ′ ' ±anξn−1f, f ′′ ' [( anξn−1 )2 ± an(n− 1)ξn−2] f → ( anξn−1 )2 f (8) para |ξ| → ∞. Comparando a Eq.(7) e Eq.(8), podemos inferir que o com- portamento asimtótico da solução deve ter a forma1, ψ ' e± 12 ξ2 . Verifique o comportamento asimtótico da forma acima satisfaz a relação desejada. Dentro das duas possibilidades de sinal, a solução física certamente deve corresponder aquela que não diverge para |ξ| → ∞. Assim, vamos supor que a solução tenha a forma,2 ψ (ξ) = h (ξ) e− 1 2 ξ2. (9) e tentaremos determinar a função h (ξ). Calculando as derivadas, temos ψ′ = h′e− 1 2 ξ2 − ξhe− 12 ξ2 , ψ′′ = [h′′ − 2ξh′ − h] e− 12 ξ2 + ξ2ψ. Substituindo este resultado na Eq.(5), vemos que a função h deve satisfazer h′′ − 2ξh′ + (2ε− 1)h = 0. Ainda introduzindo uma nova mudança de variável ξ → z por z = √ 2ξ, podemos re-escrever d2h dz2 − zdh dz + ( ε− 1 2 ) h = 0. (10) Esta é uma equação diferencial de segunda ordem, linear e homogênea. Muitas funções especiais são conhecidas como solução de uma equação difer- encial de segunda ordem, linear e homogênea, como esta. Neste caso partic- ular, a solução é conhecida como função de Hermite para certa valor de ε. Mas aqui, vamos estudar mais detalhe como obter a solução. 1n = 2, a = 1/2. 2Uma solução pre-determinada, contendo ainda incognitos a ser determinadas, é as vezes chamada de “Ansatz”. 3 1.3 Método de Expansão em Série Primeiramente, vamos aplicar o método de expansão em série. Vamos supor que a solução tenha a forma, h = zλ ∞∑ l=0 Clz l. Neste problema em particular, podemos escolher λ = 0 sem perder a gener- alidade, h = ∞∑ l=0 Clz l. (11) Exercício: Justifique a afirmação acima. Temos dh dz = ∞∑ l=0 lClz l−1, d2h dz2 = ∞∑ l=0 l (l − 1)Clzl−2 Assim, temos ∞∑ l=0 { (ε− 1 2 − l)Cl + l(l + 1)Cl+2 } zl = 0. Com isto, podemos concluir que as coeficientes da expansão deve satisfazer a relação de recorrência, Cl+2 = l − ( ε− 1 2 ) l (l + 1) Cl. (12) Esta relação de recorrência mostra que os coeficientes estão relacionados dois a dois. Assim, podemos escolher as duas possibilidades completamente livre: 1. Caso par: C0 = 1, C1 = 0. 2. Caso ímpar: C0 = 1, C1 = 0. No caso 1, todos os coeficientes dos termos de ordem ímpar ficam nulos e no caso 2, todos os coeficientes de ordem par são nulos. Assim, a solução correspondente ao caso 1 é uma função par, isto é, h(z) = h(−z). A solução correspondente ao caso 2 é função ímpar, h(z) = −h(−z). 4 1.4 Condição de Contorno e Truncamento de Série Uma outra propriedade importante desta fórmula de recorrência apresenta é que, quando o valor ε− 1/2 for um número inteiro não negativo, digamos n (pode ser 0), então o índice l da recorrência certamente pode coincidir com este valor, isto é, em l = n. Neste caso, obviamente Cn+2 = 0,e a partir deste valor de l, todos os coeficientes adiante serão nulos, Cl+2 = 0, l ≥ n. Assim, a série Eq.(11) terminará em l = n e, na prática, h é apenas um polinômio de ordem n. Quando isto não acontece, isto é, se ε− 1/2 não for um inteiro não neg- ativo, a relação de recorrência tem que seguir até l → ∞. Para a série, os termos l → ∞ que determinam o comportamento asimtótico da solução |z| → ∞. Para l� ε, temos3 Cl+2 ' 1 l Cl ' 1 l!! C0 A série correspondente terá a forma como h(z) ' e+z2/2, e assim, o produto ψ = h (z)× e− 12 ξ2 ' e+ 12 ξ2 divergiria para |ξ| → ∞. Isto é, quando não ocorre o truncamento da série em algum termo finito, a solução correspondente é aquela que diverge asim- toticamente. Concluimos então que para ter a solução que satisfaz a condição de con- torno física, devemos ter ε− 1 2 = n, onde n é um inteiro não negativo. Em outras palavras, a solução física que satisfz a condição de contorno, |ψ| <∞, |x| → ∞ 3 l!! = l(l − 2)(l − 4) · · · 5 só deve corresponder ε−1/2 inteiro, não negativo. Podemos então especificar a autofunção ψ em termos deste número inteiro não negativo, n. Escrevemos ψ → ψn e o autovalor de energia também é especificado por E → En. 1.5 Espectro de Energia de Oscilador Harmônico Uni- dimensional e Estado Fundamental Em termos da unidade original, temos En = n~ω + 1 2 ~ω. (13) Isto é a energia permitida para um oscilador harmonico. Afora de um con- stante 1/2~ω, esta é exatamente igual ao resultado do hipótese de quantum da energia introduzido por Planck. • O espectro de energia de um oscilador harmônico é dado como sendo um conjunto de quanta, os quais carregam a unidade de enerigia ~ω, além de uma energia fundamental 1/2~ω. Esta energia fundamental para n = 0 é chamado de “energia do ponto zero”. Se consideramos n como o número de quanta que descreve o modo de excitação de um oscilador harmônico, então, mesmo para n = 0, o oscilador possui a energia 1/2~ω. Para ver a origem desta energia, vamos ver o caso de n = 0 em detalhe. Para n = 0, a série fica truncado logo no segundo termo ( o caso “par”). C0 = 1, Cl = 0, l ≥ 1, e h0 (z) = 1. Então, temos ψ0 (x) = 1√ N e− 1 2 ξ2 = 1√ N e− 1 2( x α) 2 , (14) 6 com α = √ ~ mω , e N é a constante de normalização. Já que∫ ∞ −∞ dx |ψ0 (x)|2 = 1, devemos ter N = ∫ ∞ −∞ dx e−( x α) 2 = √ πα2 = √ π~ mω . • A função de onda do estado fundamental de um oscilador harmônico é uma distribuição Gaussiana em x. Exercício: Verifique que a Eq.(14) é de fato, a solução de equação de au- tovalor, [ − ~ 2d2 2mdx2 + m 2 ω2x2 ] ψE (x) = EψE (x) , com E = E0 = 1 2 ~ω.Podemos calcular a largura. 1.6 Polinômio de Hermite Para ε− 1/2 = n inteiro, a Eq.(10) fica d2h dz2 − zdh dz + nh = 0. e a fórmula de recorrência fica Cl+2 = l − n l(l + 1) Cl. 7 Os primeiros polinômios são h0 = 1, h1 = z, h2 = z 2 − 1, h3 = z 3 − 3z, ... Aqui, o coeficiente do termo ordem mais alta foi escolhido como 1. Exercício: Explicite hn (z) até n = 6. Exercício: Mostre que hn (−x) = (−1)n hn (x) . Estes polinômios são conhecidos como os polinômios de Hermite. Podemos citar os seguintes propriedades: 1. hn+1 (z)− zhn (z) + nhn−1 = 0, (15) 2. h′n (z) = nhn−1 (z) , (16) 3. e+z 2/2 d n dzn e−z 2/2 = (−1)n hn (z) , (17) 4. etz−t 2/2 = ∞∑ n=0 hn (z) tn n! , (18) Exercício: Demostre as propriedades acima. 8 1.7 Ortogonalidade A função do lado esquerdo da Eq.(18) é chamada a função geratriz e é muito útil. Por exemplo, vamos calcular a integral, Inm ≡ ∫ ∞ −∞ dz e− 1 2 z2hn (z)hm (z) . (19) Em vez de calcular direto, vamos considerar a quantidade, F (t, s) ≡ ∞∑ n=0 ∞∑ m=0 1 n! 1 m! tnsmInm (20) = ∞∑ n=0 ∞∑ m=0 1 n! 1 m! tnsm ∫ ∞ −∞ dz e− 1 2 z2hn (z)hm (z) . (21) Supondo que a soma converge homogeneamente, podemos trocar a ordem de soma e integral. Utilizando a definição de função geratriz, Eq.(19), temos F (t, s) = ∫ ∞ −∞ dz e− 1 2 z2etz−t 2/2 esz−s 2/2 = ∫ ∞ −∞ dz e− 1 2 z2+(t+s)z−(t2+s2)/2 = ∫ ∞ −∞ dz e− 1 2 {z−(t+s)}2+ts = ets ∫ ∞ −∞ dz e− 1 2 {z−(t+s)}2 = √ 2πets Agora, podemos expandir ets e temos F (t, s) = √ 2π ∞∑ n=0 1 n! (ts)n (22) Comparando as Eqs.(20) e (22), concluímos que Imn = √ 2πn!δnm. ou ∫ ∞ −∞ dz e− 1 2 z2hn (z)hm (z) = √ 2πn!δnm. (23) 9 A relação acima é chamada a ortogonalidade dos polinômios de Hermite. Se introduzimos um conjunto de funções, {φn (z) , n = 0, 1, 2...,∞} definido por φn (z) = ( 1 2π )1/4 1√ n! e− 1 4 z2hn (z) , (24) temos ∫ ∞ −∞ dz φn (z)φm (z) = δnm. Exercício: Recupre todas as mudânças de variáveis efetuadas e obtenha explicitamente a n− esima autofunção de Hamiltoniana ψn (x) do os- cilador harmonico[ − ~ 2 2m d2 dx2 + 1 2 mω2x2 ] ψn (x) = Enψn (x) , (25) onde En = ~ω ( n+ 1 2 ) . Determine o fator de normalização. Exercício: Desenhe os graficos de função de onda dos primeiros 4 estados. Exercício: Mostre que ψn (−x) = (−1)n ψn (x) . (26) Exercício: Mostre que a função acima satisfaz∫ ∞ −∞ ψ∗n (x)ψm (x) dx = δmn. (27) Exercício: Para o estado ψn (x), calcule 〈x〉, 〈x2〉, 〈p〉, 〈p2〉. 10 Exercício: Para dois estados, ψn (x) e ψm (x), a quantidade∫ ∞ −∞ ψ∗m (x) Ôψn (x) dx é dito o elemento de matriz (m,n) do operador Ô e expressamos como Omn ou 〈m|O|n〉. Calcule os seguintes elementos de matriz, 〈m|x|n〉, 〈m|p|n〉, 〈m|x2|n〉, 〈m|p2|n〉. 1.8 Paridade Como vimos, as autofunções de Hamiltoniano de oscilador harmônico Eq.(25) tem a propriedade de simetria bem definida, ψn (−x) = (−1)n ψn (x) . Esta propriedade é chamado paridade e não é devido ao caso. Temos por definição, Hψn(x) = Enψn (x) . Se invertemos a direção do eixo x, e trocando a variável x por −x. Neste sistema, temos H ′ψn(−x) = Enψn (−x) . onde H ′ é o Hamiltoniano do oscilador invertido. Como o potencial do os- cilador harmônico é simétrico, temos H ′ = H(−x)→ H(x). (28) Assim, a autofuncão neste sistema tem que satisfazer Hψn (−x) = Enψn (−x) . 11 Isto implica que a autofunção ψn (−x) deve ser igual a ψn (x) a menos de um constante. ψn (−x) = Cψn (x) . Se invertemos o eixo mais uma vez, o sistema volta ao estado original. Mas repetindo o processo acima, ψn (−(−x)) = Cψn (−x) = C2ψn (x) . Concluímos que C2 = 1, ou C = ±1. Finalmente ψn (−x) = ±ψn (x) , ou seja, as autofunções tem a paridade bem definida. Esta propriedade é uma consequência direta da simetria do Hamiltoniano em relação a inversão espacial, Eq.(28). 1.9 Completeza Uma outra propriedade importante das autofuções do oscilador harmônico, além de ortogonalidade, é a propriedade chamada de completeza. Para de- duzir esta propriedade, vamos começar com a função geratriz com t→ it, eitz+t 2/2 = ∞∑ n=0 hn (z) e inπ 2 tn n! , ou eitz = ∞∑ n=0 hn (z) e inπ 2 tn n! e− 1 2 t2 . Multiplicando ao ambos lados e−itz ′ e integrando em t de −∞ a +∞, temos 2πδ (z − z′) = ∞∑ n=0 hn (z) e inπ 2 ∫ ∞ −∞ dt tn n! e− 1 2 t2−itz′ = ∞∑ n=0 hn (z) e inπ 2 Jn (z ′) (29) 12 onde definimos Jn (z ′) = ∫ ∞ −∞ dt tn n! e− 1 2 t2−itz′ . Temos Jn (z ′) = 1 (−i)n n! dn dz′n ∫ ∞ −∞ dt e− 1 2 t′2−itz′ = √ 2π (−i)n n! dn dz′n e− 1 2 z′2 = √ 2π n! ei π 2 n (−1)n e− 12 z′2hn (z′) , (30) onde utlizamos a Eq.(17). Substituindo este resultado na E.(29), temos δ (z − z′) = ∞∑ n=0 1√ 2πn! hn (z)hn (z ′) e− 1 2 z′2 . (31) Ou ∞∑ n=0 1√ 2πn! hn (z)hn (z ′) = e+ 1 2 z′2δ (z − z′) , (32) ou ainda, simetrizando em z e z′4, temos ∞∑ n=0 1√ 2πn! hn (z)hn (z ′) = e+ 1 4 z′2+ 1 4 z2δ (z − z′) . (33) Esta relação mostra que ∞∑ n=0 φn (z)φn (z ′) = δ (z − z′) . (34) Exercício: Desenvolva todas as contas acima. 4Note que f(z)δ (z − z′) = f(z′)δ (z − z′) = (f (z) f (z′)) 1/2 δ (z − z′) 13 1.10 A Base Ortonormal formada de polynomios de Hermite O conjunto de funções, {φn (z) , n = 0, 1, 2...,∞} formado de polinomios de Hermites como φn (z) = ( 1 2π )1/4 1√ n! e− 1 4 z2hn (z) , (35) tem duas propriedades fundamentais: 1. Ortogonalidade, (φn, φm) ≡ ∫ ∞ −∞ dz φn (z)φm (z) = δnm, (36) 2. Completeza, ∞∑ n=0 φn (z)φn (z ′) = δ (z − z′) . (37) As duas propriedades do conjunto, {φn (z) , n = 0, 1, 2...,∞} mostram que este conjunto forma uma base ortonormal no espaço de funções, {f (z)}. Para ver isto, usamos a propriedade da função δ de Dirac, f (z) = ∫ ∞ −∞ dz δ (z − z′) f (z′) . Substituindo a relação de completeza, Eq.(37), temos f (z) = ∫ ∞ −∞ dz′ ∞∑ n=0 φn (z)φn (z ′) f (z′) . Trocando a ordem de integral e somatório, temos f (z) = ∞∑ n=0 φn (z) ∫ ∞ −∞ dz φn (z ′) f (z′) = ∞∑ n=0 cnφn (z) , (38) onde cn = ∫ ∞ −∞ dz φn (z ′) f (z′) . 14 A Eq.(38) mostra que uma função arbitrária pode ser expressa como uma combinação linear de φn (z) ′ s. A situação é análoga a série de Fourier, onde qualquer função é expressa como combinação linear de sin ( m π L x ) e cos ( m π L x ) . Exercício: Mostre que as autofunções normalizadas do Hamiltoniano de oscilador harmônico {ψn (x)} (ver o Exercício da Eq.(25) ) satisfaz a completeza, ∞∑ n=0 ψn (x)ψn (x ′) = δ (x− x′) Exercício: Prove que se ∫ ∞ −∞ |f (z)|2 dz = 1, então ∞∑ n=0 |cn|2 = 1. (39) Exercício: Expresse as seguintes funções na base de polinomio de Hermite. 1. sin (z) 2. cos (z) 3. e− 1 4 (z−z0)2 . 1.11 Método Algébrico No caso da Equação de autovalor do oscilador harmonico, é conhecido um método alternativo para obter a solução. Começamos com a equação adi- mensional, ψ′′ = ( ξ2 − 2ε ) ψ, ou 1 2 ( ξ2 − d 2 dξ2 ) ψ = εψ. (40) 15 A forma da equação acima sugere que podermos introduzir os operadores, A ≡ 1√ 2 ( ξ + d dξ ) , A† ≡ 1√ 2 ( ξ − d dξ ) , do modo que o operador diferencial na Eq.(40) 1 2 ( ξ2 − d 2 dξ2 ) ' A†A. (41) Mas, a equação acima não é correta. Pois A†A ψ = 1 2 ( ξ − d dξ )( ξ + d dξ ) ψ = 1 2 ( ξ2 − d 2 dξ2 + ξ d dξ − d dξ x ) ψ. (42) Note que os dois termos dentro da parentese, ξ d dξ − d dξ x não se cancela, porque,( ξ d dξ − d dξ x ) ψ = ξ dψ dξ − d dξ (ξψ) = ξ dψ dξ − ψ − ξ dψ dξ = −ψ. Já que o resultado acima vale para qualquer função ψ, devemos considerar que ξ d dξ − d dξ x = −1. (43) A relação acima é conhecido como a “relação de comutação”entre dois op- eradores, ξ e d/dξ, e descrevemos [ξ, d dξ ] = ξ d dξ − d dξ x. 16 Temos então, [ξ, d dξ ] = −1. (44) Em geral, para dois operadores A e B, definimos o comutador, [A,B] ≡ AB −BA. (45) O comutador tem seguitnes propriedades: 1. antisimetria, [A,B] = − [B,A] , 2. distribuitividade e linearidade, [A, βB + γC] = β [A,B] + γ [A,C] , 3. identidade de Jacob, [A, [B,C]] + [B, [C,A]] + [C, [A,B]] = 0. Exercício: Verifique as tres propriedades acima.Da Eq.(42) e da Eq.(43), temos 1 2 ( ξ2 − d 2 dξ2 ) = A†A+ 1 2 , (46) e a Eq.(40) fica A†A ψ = λ ψ, (47) onde escrevemos λ = ε− 1/2. Esta equação tem a forma de equação de autovalor para o operador A+A. Pode-se pensar que em vez desta ordem dos operadores, poquer não pode ser como AA†. Vemos 1 2 ( ξ2 − d 2 dξ2 ) = A†A− 1 2 . (48) 17 As Eqs.(46) e (48) mostram que AA† = A†A+ 1, (49) ou [A,A†] = 1. (50) A Eq.(47) pode ser escrita na forma, AA†ψ = λ′ψ, (51) onde λ′ = ε+ 1/2. Naturalmente, a Eq.(47) e Eq.(51) são equivalentes, mas a forma da Eq.(47) é mais conveniente para obter autovalores fácilmente. Suponhe que exista uma função ψ0 (ξ) que satisfaz Aψ0 = 0, ou ( ξ + d dξ ) ψ0 = 0. (52) De fato, existe tal função, ψ0 (ξ) = 1√ N0 e− 1 2 ξ2 . (53) onde N0 é a constante de normalização. Para esta função, temos obviamente, A†Aψ0 = 0. Mas esta equação mostra que ψ0 é a solução da equação de autovalor de A†A com autovalor 0. Assim, um dos autovalores da Eq.(47) é λ0 = 0 = ε0 − 1 2 , e temos ε0 = 1 2 . Agora, vamos considerar a função, ψ1 = 1√ N1 A†ψ0, 18 onde N1 é uma constante para a normalização de ψ1. Se calculamos A†Aψ1 = 1√ N1 A†AA†ψ0 = 1√ N1 A† ( A†A+ 1 ) ψ0 = 1√ N1 A†ψ0, ja que Aψ0 = 0. Temos A†Aψ1 = 1ψ1. (54) Esta equação mostra que ψ1 é a autofução do operador A†A com autovalor 1. Temos então λ1 = 1 = ε1 − 1 2 , e portanto, ε1 = 1 + 1 2 . Exercício: Mostre que ψ2 ∝ A†ψ1 = ( A† )2 ψ0 é a autofunção do operador A†A com autovalor 2. Exercício: Mostre que ψn ∝ ( A† )n ψ0. (55) A Eq.(55) mostra que, a fora de uma constante de normalização, podemos escrever ψn = 1√ Nn ( A† )n e− 1 2 ξ2 . Mas notamos que para qualquer função f (ξ) temos A†f = 1√ 2 (ξ − d dξ )e 1 2 ξ2e− 1 2 ξ2f = − 1√ 2 e 1 2 ξ2 d dξ e− 1 2 ξ2f, e, portanto, como operador, A† = − 1√ 2 e 1 2 ξ2 d dξ e− 1 2 ξ2 . 19 Desta forma, temos ψn = 1√ Nn ( A† )n e− 1 2 ξ2 = 1√ Nn (−1)n ( 1√ 2 )n( e 1 2 ξ2 d dξ e− 1 2 ξ2 )n e− 1 2 ξ2 = 1√ Nn (−1)n ( 1√ 2 )n e 1 2 ξ2 d n dξn e−ξ 2 . Mudando a variável ξ → z = √ 2ξ, temos ψn = 1√ Nn (−1)n e 14 z2 d n dzn e− 1 2 z2 = 1√ Nn e− 1 4 z2 (−1)n e 12 z2 d n dzn e− 1 2 z2 = 1√ Nn e− 1 4 z2hn (z) que é exatamente igual a Eq.(24) a fora normalização. 1.12 Método Algebrico (Continuação) Vamos explorar o método algebrico para calcular quantidades relacionadas ao oscilador harmônico. Temos a base ortonormal {ψn, n = 0, 1, · · · } , satisfazendo5 (ψn, ψm) = δnm. Temos dois operadores A e A† que satisfazem a relação de comutação,[ A,A† ] = 1. (56) 5Daqui adiante, utilizamos a notação, (f, g) = ∫ ∞ −∞ dx f∗ (x) g (x) para qualquer duas funções, f e g, sem repetir a definição. 20 Uma relação importante entre estes dois operadores, além da equação acima é seguinte. Seja f e g duas funções arbitrárias, satisfazendo a condição de contorno, |f (±∞)| = |g (±∞)| → 0. Então, efetuando a integração por parte do operador d/dξ, temos (f, Ag) ≡ ∫ ∞ −∞ dx f ∗ (x) ( ξ + d dξ ) g (x) = ∫ ∞ −∞ dx [( ξ − d dξ ) f ∗ (x) ] g (x) = ( A†f, g ) . (57) Isto é, a aplicação do operador A em g tem o mesmo resultado da aplicação do operador A† em f . Exercício: Mostre que ( f, A†g ) = (Af, g) . (58) Agora, definimos o operador n̂ por n̂ ≡ A†A Então, n̂ψn = nψn, n = 0, 1, · · · (59) Se calculamos o comutador entre n̂ e A†, temos[ n̂, A† ] = ( A†A ) A† − A† ( A†A ) = A† ( AA† − A†A ) = A† [ A,A† ] = A†. Temos, portanto, n̂A† − A†n̂ = A†, ou n̂A† = A† (n̂+ 1) . (60) 21 Esta equação tem uma implicância interessante. Se aplicarmos o operador n̂ para A†ψn, temos n̂ ( A†ψn ) = ( n̂A† ) ψn = A† (n̂+ 1)ψn. Mas da Eq.(59), o operador n̂ se torna a um número n, n̂ ( A†ψn ) = A† (n+ 1)ψn = (n+ 1)A†ψn. Em fim, temos n̂ ( A†ψn ) = (n+ 1) ( A†ψn ) . Isto é, a função, ( A†ψn ) é o autofunção do operador n̂ com autovalor, (n+ 1). Isto implica que A†ψn = Cψn+1. O coeficiente C foi introduzido, pois A†ψn não necessariamente normalizado, enquanto, ψn+1 é normalizada. Vamos calcular C. Para isto, |C|2 (ψn+1, ψn+1) = ( A†ψn, A †ψn ) = ( ψn, AA †ψn ) onde foi utilizada a propriedade Eq.(58). Agora (ψn+1, ψn+1) = 1 e da relação de comutação, temos AA† = n̂+ 1, então |C|2 = (ψn, (n̂+ 1)ψn) = (n+ 1) (ψn, ψn) = n+ 1. Podemos escolher C real sem perder a generalidade. Finalmente, temos A†ψn = √ n+ 1ψn+1. (61) Exercício: Fazendo as contas análogas, mostre que Aψn = √ nψn−1. (62) 22 Exercício: 1. Mostre que ψn = 1√ n! ( A† )n ψ0. (63) 2. Confira a expressão acima é equivalente a Eq.(24). As Eqs.(61,62) são úteis para calcular os elementos de matriz dos oper- adores x̂ e p̂ na base de {ψn}. Como vimos, os elementos de matriz de um operador, digamos Ô é definido como 〈n|O|m〉 ≡ Onm ≡ (ψn, Oψm) = ∫ ∞ −∞ dx ψ∗n (x) Ô ψm (x) . Assim, temos 〈n|A|m〉 = (ψn, Aψm) = √ m (ψn, ψm−1) = √ mδn,m−1. (64) Analogamente 〈n|A†|m〉 = √ m+ 1δn,m+1. (65) Por outro lado, já que A = 1√ 2 ( ξ + d dξ ) , A† = 1√ 2 ( ξ − d dξ ) , e, portanto, ξ = 1√ 2 ( A+ A† ) , d dξ = 1√ 2 ( A− A† ) . 23 Assim, temos 〈n|ξ|m〉 = 1√ 2 (√ mδn,m−1 + √ m+ 1δn,m+1 ) , (66) 〈n| d dξ |m〉 = 1√ 2 (√ mδn,m−1 + √ m+ 1δn,m+1 ) . (67) Se recuperamos a unidade original com a relação ξ = 1 α x, podemos calcular os elementos de matriz, xnm e pnm. Exercício: Complete os cálculos acima e verifique o resultado com o resul- tado obtido utilizando a função geratriz de polinômio de Hermite. É importante lembrar que uma vez calculado os elementos de matrizes numa base ortonormal como {ψn}, podemos também obter os elementos de matriz de produtos destes matrizes. Por exemplo,( x2 ) nm ≡ ∫ ∞ −∞ dxψ∗n (x)x 2ψm (x) = ∫ ∞ −∞ dx ∫ ∞ −∞ dx′ψn (x)xδ(x− x′)x′ψm (x′) = ∫ ∞ −∞ dx ∫ ∞ −∞ dx′ψn (x)x ∞∑ l=0 ψl (x)ψl (x ′)x′ψm (x ′) = ∞∑ l=0 ∫ ∞ −∞ dxψn (x)xψl (x) ∫ ∞ −∞ dx′ψl (x ′)x′ψm (x ′) = ∞∑ l=0 xnlxlm Analogamente, temos (px)nm = ∞∑ l=0 pnlxlm. 24 Exercício: Mostre a equação acima. Exercício: Calcule ∫ ∞ −∞ dxψ∗n (x)x 2ψm (x) ,∫ ∞ −∞ dxψ∗n (x) p 2ψm (x) , e compare o resultado do cálculo utilizando a função geratriz do polinômio de Hermite. 1.13 Interpretação do Coeficiente da expansão na base de {ψn} Vimos que o conjunto de autofunções do Hamiltoniana {ψn} forma uma base ortonormal. Isto é, para qualquer função de onda ψ (x), podemos escrever ψ (x) = ∞∑ n=0 Cnψn (x) , onde Cn = ∫ ∞ −∞ dx ψn (x)ψ (x) ≡ (ψn, ψ). Pela normalização, devemos ter ∞∑ n=0 |Cn|2 = 1. (68) 25 Vamos calcular o valor esperado da energia no estado ψ (x), 〈E〉 = ∫ ∞ −∞ dx ψ∗ (x) Ĥ ψ (x) = ∫ ∞ −∞ dx ∞∑ n=0 C∗nψn (x) Ĥ ∞∑ m=0 Cmψm (x) = ∞∑ n=0 ∞∑ m=0 C∗nCm ∫ ∞ −∞ dxψn (x) Ĥψm (x) = ∞∑ n=0 ∞∑ m=0 C∗nCmEnδnm = ∞∑ n=0 En |Cn|2 . (69) As Eqs.(68) e (69) mostram que podemos interpretar |Cn|2 como sendo a probabilidade de ter a energia En no estado ψ (x). Isto é, se façamos medidas sobre a energia do oscilador harmônico cujo estado é representado com a função de onda ψ (x), encontraremos em princípio, todos os valores da eneriga, En. Após muitas (infinita) medição, a distribuição da probabilidade de ter um determinado valor En é dada por |Cn|2. Podemos resumir que: • A probabilidade de encontrar o estado ψn (x) no esado geral ψ (x) é dada por P = |(ψn, ψ)|2 = ∣∣∣∣∫ ∞ −∞ dx ψn (x)ψ (x) ∣∣∣∣2 . (70) 1.14 Dinâmica do Oscilador Harmônico Tendo estudado as soluções de equação de autovalor do Hamiltoniano de oscilador harmônico, agora podemos discutir a dinâmica do problema. Como 26 vimos antes, a solução geral da Equação de Schrödinger dependente no tempo fica ψ (x, t) = ∞∑ n=0 Cne − i~Entψn (x) , (71) onde {ψn (x)} é a base ortogonal formada de autofunções do Hamiltoniano, Hψn (x) = Enψn (x) , En = ~ω ( n+ 1 2 ) , e os coeficientes Cn é determinados pela condição inicial, Cn = (ψn, ψ (x, 0)). Assim, uma vez dada a função de onda inicial no tempo t = 0, o desen- volvimento temporal do estado deste oscilador harmônico é dada pela função deonda Eq.(71). Com isto, podemos calcular como o valor médio da posição varia em tempo. Temos 〈x (t)〉 = ∫ ∞ −∞ dx ψ∗ (x, t)xψ (x, t) = ∫ ∞ −∞ dx [ ∞∑ n=0 Cne −iω(n+1/2)tψn (x) ]∗ x [ ∞∑ m=0 Cme −iω(m+1/2)tψm (x) ] = ∞∑ n=0 ∞∑ m=0 C∗nCm xnm e iω(n−m)t = α√ 2 ∞∑ n=0 ∞∑ m=0 C∗nCme iω(n−m)t (√ mδn,m−1 + √ m+ 1δn,m+1 ) = α√ 2 { e−iωt ∞∑ m=0 √ mC∗n−1Cm + e iωt ∞∑ n=0 √ nC∗nCn−1 } . Note que ( ∞∑ m=0 √ mC∗n−1Cm )∗ = ∞∑ n=0 √ nC∗nCn−1. Portanto, podemos escrever 〈x (t)〉 = Ceiωt + C∗e−iωt = X0 sin (ωt+ δ) , (72) 27 onde C = α√ 2 ∞∑ n=0 √ nC∗nCn−1. Exercício: Expresse X0 e δ na Eq.(72) em termos de C e C∗. 1.15 Movimento do Valor Médio A Eq.(72) mostra que o valor médio de x comporta exatamente mesmo com o de oscilador harmônico clássico. Este é um fato peculiar do oscilador har- mônico e não é sempre verdade. Vamos analizar o problema do ponto de vista mais genérico. Vamos considerar um problema de potencial mais genérico, embora, ainda consideramos um sistema unidimensional. Temos H = T + V (x) = − ~ 2 2m ∂2 ∂x2 + V (x). (73) A equação de Schrödinger é i~ ∂ ∂t ψ (x, t) = Hψ (x, t) . O valor esperado da posição, 〈x (t)〉, é dado por 〈x (t)〉 = ∫ ∞ −∞ dx ψ (x, t)∗ xψ (x, t) . Vamos calcular a variação temporal deste valor esperado da posição. Temos d dt 〈x (t)〉 = ∫ ∞ −∞ dx ∂ ∂t [ψ (x, t)∗ xψ (x, t)] = ∫ ∞ −∞ dx {[ ψ (x, t)∗ x ∂ ∂t ψ (x, t) ] + [ ∂ ∂t ψ (x, t)∗ ] xψ (x, t) } = 1 i~ ∫ ∞ −∞ dx {[ψ (x, t)∗ xHψ (x, t)]− [Hψ (x, t)∗]xψ (x, t)} . No caso da Eq.(73), podemos provar a seguinte propriedade,∫ ∞ −∞ dx f ∗ (x)Hg(x) = ∫ ∞ −∞ dx [Hf ∗ (x)] g(x), (74) 28 para qualquer funções bem comportadas6, f (x) e g(x). A propriedade acima do operador H é chamado “auto-hermitiana”. Exercício: Prove a Eq.(74). Com a auto-Hermiticidade do H, temos d dt 〈x (t)〉 = 1 i~ ∫ ∞ −∞ dx {ψ (x, t)∗ xHψ (x, t)− ψ (x, t)∗Hxψ (x, t)} = 1 i~ ∫ ∞ −∞ dx ψ (x, t)∗ [xH −Hx]ψ (x, t) = 1 i~ ∫ ∞ −∞ dx ψ (x, t)∗ [x,H]ψ (x, t) . (75) A Eq.(75) mostra que a derivada temporal do valor médio de x é igual ao valor médio do comutador entre x e H, devidido por i~. Esta conclusão vale para qualquer observável O, isto é7, d dt 〈O (t)〉 = 〈 1 i~ [O,H]〉 (76) Exercício: Verifique a afirmação acima. Se escolhermos o momento, temos d dt 〈p (t)〉 = 〈 1 i~ [p,H]〉. (77) Vamos analizar o comutador acima. Temos [p̂, H] = [p, T + V (x)] = [p, T ] + [p, V ] . 6Aqui, uma função f(x) bem comportada significa que ela é contínua em derivavel infinitavezes, e satisfaz a condição de contorno, |xnf | → 0 para |x| → ∞. 7Lembre aqui que que a notação 〈O (t)〉 é o valor esperdo do observável O com estado ψ dependente no tempo. A dependência no tempo t vem da variação do estado. O observável O não depende do tempo. 29 Mas p̂ = ~ i d dx , T = − ~ 2 2m d2 dx2 , então, para qualquer função arbitrária f (x), temos (p̂T − T p̂) f = 0, e portanto [p̂, T ] = 0. Por outro lado, temos [p̂, V ] f(x) = ~ i d dx (V f)− ~ i V d dx f = ~ i dV dx f, o que implica em [p̂, V ] = ~ i dV dx . Substituindo estes resulados na Eq.(77) temos d dt 〈p (t)〉 = −〈dV dx 〉. (78) Analogamente, podemos verificar facilmente que [x, V ] = 0, (79) [x, T ] = i~ m p. (80) Portanto, d dt 〈x(t)〉 = 1 m 〈p(t)〉, (81) Substituindo a Eq.(81) na Eq.(78), temos m d2 dt2 〈x(t)〉 = −〈dV dx 〉. (82) 30 Exercício: Desenvolva todas as contas acima. Pode-se pensar que a Eq.(82) mostra que o valor médio da posição obe- dece a equação de movimento de Newton!! De fato, no caso de oscilador harmônico, temos V = 1 2 mω2x2, dV dx = mω2x, portanto, m d2 dt2 〈x(t)〉 = −〈mω2x〉, or d2 dt2 〈x(t)〉 = −ω2〈x(t)〉. Esta é uma equação diferencial fechada para a variável 〈x(t)〉, e podemos resolver facilmente, tendo 〈x(t)〉 = X0 sin (ωt+ δ) , que é exatamente igual a Eq.(72). Assim, entendemos porque no caso de um oscilador harmônico, o comportamento do valor médio da posição é igual no caso da Mecânica Clássica. Mas, para um sistema geral, a afirmação acima não é verdade, porque exceto o caso de uma partícula livre ou oscilador harmônico, 〈dV (x) dx 〉 6= dV (〈x〉) dx . (83) Por exemplo, se V (x) = Cx3, então, dV dx = −Cx2, mas em geral, 〈x2〉 6= 〈x〉2, nem podemos expressar 〈x2〉 em termos de 〈x〉. Desta forma, vemos que a Eq.(82) não constitue uma equação fechada para 〈x (t)〉. 31 Exercício: Para o estado ψ (x) = 1 N e−a(x−x0) 2 , calcule 〈x〉2, 〈x2〉. Mostre que α→∞, 〈x2〉 → 〈x〉2. Exercício: Discuta, em que situação valeria a igualdade, 〈dV (x) dx 〉 ' dV (〈x〉) dx pelo menos aproximadamente. 1.16 Uso da base {ψn} para qualquer sistema Embora a base ortonormal {ψn} foi encontrado como autofunção de um oscilador harmônico, uma vez que este conjunto forma uma base para escrever qualquer função ψ (x) como combinação linear, ψ (x) = ∞∑ n=0 Cnψn (x) , podemos utilizar {ψn} para descrever a dinâmica de qualquer sistema. Neste sentido, a forma da função ψ é equivalente ao conjunto {Cn} . Isto é, a função ψ e o conjunto {Cn} contém a mésma informação. Por outro lado, como vimos, a função ψ (x) corresponde a um vetor no espaço de funções, ψ(x)←→ ... ψi−1 ψi ψi+1 ... . 32 Ao mesmo tempo, vimos que a mésma função é equivalente ao conjunto {Cn}. Isto é, ψ(x)←→ C0 C1 ... Cn ... A correspondência acima leva nos a pensar que um estado quântico na ver- dade corresponde a um vetor abstrato, e dependendo da base que utilizamos, ela se manifesta como função contínua, ψ (x) ou Φ (p) ,ou o conjunto descreto {Cn}. Se aplicamos a base {ψn (x)} para a função que depende no tempo t, ψ (x, t) , teremos naturalmente, ψ (x, t) = ∞∑ n=0 Cn (t)ψn (x) . A Equação de Schrödinger fica ∞∑ n=0 i~Ċn (t)ψn (x) = ∞∑ n=0 Cn (t)Hψn (x) . (84) Note que para o Hamiltoniano geral (que não seja do oscilador harmônico), temos Hψn (x) 6= Enψn (x) . Multiplicando nos dois lados a função ψm (x) e integrando em x, temos i~Ċm (t) = ∞∑ n=0 HmnCn (t) , (85) onde, como sempre, Hmn = (ψm, Hψn). Podemos escrever a Eq.(85) na forma vetorial, i~ d dt C0 (t) C1 (t) ... Cn (t) ... = H00 H01 · · · H10 H22 ... . . . Hn0 Hnn ... . . . C0 (t) C1 (t) ... Cn (t) ... (86) 33 A equação acima tem a forma i~ d dt ~C = Ĥ ~C onde Ĥ é a matriz na Eq.(86). 2 Penetrabilidade da Barreira de Potencial Um dos fenômenos interessantes dos processos quânticos é a penetração da barreira de potencial. Vamos considerar um problema unidiensional por sim- plicidade. Consideramos uma barreira de potencial quadrado, análogo ao exemplo anterior, V (x) = { +V0, 0, −L ≤ x ≤ L |x| > L só que agora V (x)〉0, sempre. Suponha que uma partícula de massa m vem de x → −∞ com a energia E < V0 e bate à barreira deste potencial. Na mecânica clássica, a partícula será refletida para esquerda. Se a energia da partícula não for maior que a altura da barreira, nunca passaria para lado direito do potencial. Na mecânica quântica, a situação é diferente. Vejamos a seguir. Para estudar este problema quanticamente, vamos considerar a situação estacionária. Isto é, podemos consisderar uma função de onda da partícula com energia E, ψ(x, t) = e− i ~Etψ(x), onde Hψ(x) = Eψ(x), e como antes, H = − ~ 2 2m d2 dx2 + V (x). Naturalmente a energia é positiva neste problema e também vamos considerar a situação em que a energia incidente é menor que V0, 0 < E < V0. 34 Vamos explicitar os três regiões de diferentes valores de potencial, − ~ 2 2m d2 dx2 ψE(x) = EψE(x), x < −L, (87) − ~ 2 2m d2 dx2 ψE(x) + V0ψE(x) = EψE(x), −L ≤ x ≤ L, (88) e − ~ 2 2m d2 dx2 ψE(x) = EψE(x), x > L, (89) Da Eq.(87), temos ψE(x) = Ae +ikx +Be−ikx, (90) onde k = √ 2mE ~2 : real, (91) e A e B são constantes. Note que o primeiro termo representa uma onda plana que propaga para direita, e o segundo termo representa uma onda que propaga para esquerda. O coeficiente A é a amplitude da onda incidente, e B é a de onda refletida. Ou seja, o primeirotermo corresponde ao fluxo de partículas incidentes e o segundo o fluxo refletido da barreira. Diferentemente do caso do estado ligado, a condição de contorno para x < −L não vai restringir os valores de A e B. Da Eq.(??) temos − ~ 2 2m d2 dx2 ψE(x) = (E − V0)ψE(x). (92) Já que E < V0, definimos q = √ 2m(V0 − E) ~2 : real, (93) e a solução da Eq.(92) é escrita por ψE(x) = αe qx + βe−qx. Da Eq.(89), temos novamente ψE(x) = Ce +ikx +De−ikx. (94) 35 Aqui, o primeiro termo é uma onda que propaga para direita, e o segundo para esquerda. Considerando o limite x→ +∞, onde não deve haver nenhum fluxo que vem do lado direito, concluimos que o termo e−ikx não deve existir. Portanto, temos D = 0. O coeficiente C é amplitude de onda que atravesou a barreira. O objetivo aqui é determinar as quantidades, R = |B/A|2 , e T = |C/A|2 . R é a probabilidade de reflexão e T a probabilidade de transmissão. A solução da equação de autovalor tem a seguinte estrutura; ψE(x) = Ae+ikx +Be−ikx, αeqx + βe−qx, Ce+ikx. x < −L −L ≤ x ≤ L x > L. (95) Agora, como antes, impormos que a função de onda é suave (contínua até primeira derivada). As condições ficam explicitamente para a Eq.(95), Ae−ikL +Be+ikL = αe−qL + βeqL, (96) ik(Ae−ikL −Be+ikL) = q(αe−qL − βeqL), (97) CeikL = αeqL + βe−qL, (98) ikCeikL = q(αeqL − βe−qL). (99) Escrevemos estas equações na forma, e+ikL ( B A ) − e−qL (α A ) − eqL ( β A ) = −e−ikL, −ike+ikL ( B A ) − qe−qL (α A ) + qeqL ( β A ) = −ike−ikL, −eqL (α A ) − e−qL ( β A ) + eikL ( C A ) = 0, −qeqL (α A ) + qe−qL ( β A ) + ikeikL ( C A ) = 0, 36 ou e+ikL −e−qL −eqL 0 −ike+ikL −qe−qL qeqL 0 0 −eqL −e−qL eikL 0 −qeqL qe−qL ikeikL B/A α/A β/A C/A = −e−ikL −ike−ikL 0 0 Daí, podemos calcular immediatamente as quantidades que queremos: B A = det −e−ikL −ike−ikL 0 0 −e−qL −eqL 0 −qe−qL qeqL 0 −eqL −e−qL eikL −qeqL qe−qL ikeikL det e+ikL −e−qL −eqL 0 −ike+ikL −qe−qL qeqL 0 0 −eqL −e−qL eikL 0 −qeqL qe−qL ikeikL = (k2 + q2) sinh 2qL e2ikL (2iqk cosh 2qL+ (k2 − q2) sinh 2qL) , C A = e+ikL −e−qL −eqL −e−ikL −ike+ikL −qe−qL qeqL −ike−ikL 0 −eqL −e−qL 0 0 −qeqL qe−qL 0 D = 2ikq e2ikL (2iqk cosh 2qL+ (k2 − q2) sinh 2qL) Assim, temos R = ∣∣∣∣BA ∣∣∣∣2 = (k2 + q2)2 sinh2 2qL 4q2k2 + (k2 + q2)2 sinh2 2qL , T = 4q2k2 4q2k2 + (k2 + q2)2 sinh2 2qL , 37 Verificamos que R + T = 1, que é a consequência de conservação da probabilidade (fluxo incidente = fluxo refletido+fluxo transmitido). Em termos de energia, T (E) = 4E(V0 − E) 4E(V0 − E) + V02 sinh2 ( 2 √ 2m ~2 (V0 − E)L ) (100) Quando 2 √ 2m ~2 (V0 − E)L� 1, então podemos considerar que sinh ( 2 √ 2m ~2 (V0 − E)L ) ' 1 2 e 2 √ 2m ~2 (V0−E)L ≫ 1, e a coeficiente de transmissão fica T (E) ' 16 ( E V0 )( 1− E V0 ) e −4 √ 2m ~2 (V0−E)L. (101) O fator exponencial acima, e −4 √ 2m ~2 (V0−E)L é um comportamento típico da coeficiente de transmissão para a energia bem abaixo da barreira8. Na Mecânica Clássica, se a energia for menor que a altura da barreira, E < V0, 8O exponente, 4 √ 2m ~2 (V0 − E)L no caso geral de potencial dependendo de x, tem a forma 2 ∫ V−E>0 √ 2m ~2 (V (x)− E)dx. 38 não teria nenhuma partícula atravessando o potencial. No caso quantico, ex- iste sempre uma probabilidade de partícula que penetra na barreira e aparece noutro lado, mesmo E < V0. Este fenômeno é chamado de efeito túnel. Por outro lado, mesmo que E = V0, a partícula não sempre atravessa o potencial. Para E → V0, da Eq.(100), temos T (E → V0) = 1 1 + 2mV 20 ~2 L 2 < 1. Exercício: Desenvolva todas as contas acima. Exercício: Desenhe o grafico da coefiente de penetrabilidade Eq.(100) como função da energia incidente. 3 Estado Meta-estável e Resonância Um outro exemplo importante é o caso de potencial que possui a parte atrativa e a parte repulsiva. Este tipo de potencial é bastante comun nos fenomonos atomicas e nucleares. Por exemplo, vamos considerar a interação entre um próton e um núcleo. Quando o próton esteja bem fora do núcleo, os dois se repele pela interação Coulombiana devido as cargas elétricas positivas entre eles. Mas se o próton aproxima próximo do raio núclear, a interação forte começa atuar para atrair o próton, podendo formar um sistema lig- ado. A figura abaixo esquematiza o potencial que gera este tipo da força. A parte repulsiva na origem, r = 0 representa o efeito de força centrifuga de- vido ao momento angular. Para estudar o comportamento do sistema como este, podemos ainda caricaturar o potencial como ilustrado na figura abaixo. Explicitamente, consideramos um potencial, V (r) = ∞, r ≤ 0 −V0, 0 < r < R B, R < r < R + ∆ 0, R + ∆ < r − (região I) (região II) (região III) . Consideramos um estado estacionário, ψ = ψ (r) , que é a solução de auto- valor do Hamiltoniano, Hψ = Eψ, 39 40 com H = − ~ 2 2m d2 dr2 + V (r). (102) Aqui, utilzamos a variável r para descrever a distância radial entre dois sistemas. A vantagem do modelo de potencial quadrado é que na cada região, o potencial é constante e, portanto a equação tem a forma d2 dr2 ψ = k2ψ, onde k = 2m ~2 (V − E) é constante em cada região. Assim, temos solução da forma, ψ = 0, r ≤ 0 ψ(I) = A(I)ek (I)r +B(I)e−k (I)r, 0 < r < R ψ(II) = A(II)ek (II)r +B(II)e−k (II)r, R < r < R + ∆ ψ(III) = A(III)ek (III)r +B(III)e−k (III)r, R + ∆ < r onde k(I) = i √ 2m ~2 (V0 + E), k(II) = √ 2m ~2 (B − E), k(III) = i √ 2m ~2 E. A condição de contorno, V =∞ em r = 0 implica que ψ (r = 0) = 0, e, portanto, devemos ter ψ(I) = A sin (∣∣k(I)∣∣ r) . Devemos impor a condição de continuidade da derivada logarítima em interface, ψ′I ψI ∣∣∣∣ r=R = ψ′II ψII ∣∣∣∣ r=R , ψ′II ψII ∣∣∣∣ r=R+∆ = ψ′III ψIII ∣∣∣∣ r=R+∆ . 41 Explicitamente ∣∣k(I)∣∣ cot (∣∣k(I)∣∣R) = k(II) ( A(II)ek (II)R −B(II)e−k(II)R ) A(II)ek(II)R +B(II)e−k(II)R , (103) k(II) ( A(II)ek (II)(R+∆) −B(II)e−k(II)(R+∆) ) A(II)ek(II)(R+∆) +B(II)e−k(II)(R+∆) = k(III) ( A(III)ek (III)(R+∆) −B(III)e−k(III)(R+∆) ) A(III)ek(III)(R+∆) +B(III)e−k(III)(R+∆) . (104) Estas equações não determinam todas as coeficientes, A(I), A(II), B(I), B(II), mas podem determinar as razões, A(I) B(I) , A(II) B(II) , e para nosso objetivo, isto é suficiente. Escrevendo, u = A(II) B(II) e2k (II)R, v = A(III) B(III) e2k (III)(R+∆), as duas equações (103) e (104) acima ficam∣∣k(I)∣∣ cot (∣∣k(I)∣∣R) = k(II)u− 1 u+ 1 , (105) k(II) u− T u+ T = k(III) v − 1 v + 1 , (106) onde T = e−2k (II)∆. Podemos eliminar Y destas duas equações. Da Eq.(105) temos u = k(II) − ∣∣k(I)∣∣ cot (∣∣k(I)∣∣R) k(II) + |k(I)| cot (|k(I)|R) . Por outro lado, da Eq.(106), temos v = k(III) − k(II) u−T u+T k(III) + k(II) u−T u+T . 42 Exercício: Mostre que |v| = 1 para a energia E > 0. Exercício: Calcule |v + 1| . Vamos expressar a função de onda utilzando u e v, ψ = A sin ∣∣k(I)∣∣ r, 0 < r < R[ ue−2k (II)Rek (II)r + e−k (II)r ] B(II), R < r < R + ∆[ ve−2k (III)(R+∆)ek (III)r + e−k (III)r ] B(III), R + ∆ < r . Para E〉0, podemos observar que a função de onda na região III pode ser escrita como ψ(III) = B sin (∣∣k(III)∣∣ r + δ) . Exercício: Mostre a afirmação acima e expresse Bem termos de v, k(III) e B(III). Utilizando a continuidade da função de onda, temos A sin ∣∣k(I)∣∣R = [ue−2k(II)Rek(II)R + e−k(II)R]B(II),[ ue−2k (II)Rek (II)(R+∆) + e−k (II)(R+∆) ] B(II) = [ ve−2k (III)(R+∆)ek (III)(R+∆) + e−k (III)(R+∆) ] B(III). Com isto, podemos determinar a razão da amplitude da função de onda na região I e na região III,∣∣∣∣AB ∣∣∣∣ = 1 2 ∣∣∣ u+TT 1/2(u+1)(v+1) ∣∣∣ sin (|k(I)|R) . Na figura abaixo, mostrams o comportamento desta razão como a função de energia E, no exemplo de B = 10, V0 = 5, ∆ = 1, R = 5, 43 na unidade de 2mc2 = 1, ~ = 1, c = 1. Note que os dois picos agudos na razão |A/B|, indicando nesta energia, a grande porção da probabilidade está na região I. O estado com o valor de energia correspondentea um dos picos é chamado de “estado meta-estável”. O número de estados meta-estáveis depende da forma do potencial. Exercício: Utilizando algum recurso nímerico do seu conhecimento, con- strua o programa que calcule a razão |A/B| como função de E para vários valores de B e ∆ para dado V0 e R. Observe que a largura dos picos fica maior para menor valor de B e ∆. Note que a razão |A/B| é essencialmente a penetrabilidade da barreira do lado r positivo para a direção de r = 0. Assim, a presença de estados meta-estáveis tem os seguintes significados. 1. Quando um pacote de onda vem de r = −∞ para r = 0, surge um enorme probabilidade de penetrar na barreira alcançando a região cen- tral do potencial quando a enegia incidente coincide a estas energias de estados meta-estáveis. 2. Quando um pacote for criado dentro do potencial no t = 0, então este pacote “vaza”pela barreira com tempo e espalha para fora. Isto corresponde o decaimento do estado meta-estável. Discutiremos estes aspectos mais em detalhe posteriormente (ver a seção da Teoria de Espalhamento). 44
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