Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA KEVIN BARBOZA - TXXI 7º SEMESTRE (2021/ 1) PROBLEMA 1 FRATURAS DEFINIÇÃO DE FRATURA : é caracterizada pela descontinuidade do tecido ósseo, alterando sua estrutura morfológica. Pode ser observada por um traço que atravessa uma ou mais camadas corticais em duas incidências radiográficas diferentes . As fraturas podem ser decorrentes de um trauma direto , como um atropelamento por carro, ou por um trauma indireto , como uma queda com a mão estendida. CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS A aparência da fratura nas radiografias pode ser descrita com relativa precisão utilizando-se os seguintes termos: 1. O TIPO DE FRATURA a. Transversais : perpendiculares ao eixo longo de um osso ; b. Oblíquas : ocorrem em um ângulo ; c. Espirais : implicam em mecanismo rotatório , sendo diferenciadas das fraturas oblíquas por um componente paralelo ao eixo longo do osso em pelo menos 1 incidência; d. Cominutivas : têm > de 2 fragmentos ósseos . Fraturas comunicativas englobam as fraturas segmentares (2 fraturas separadas no mesmo osso ); e. Fraturas por avulsão : fragmento ósseo é arrancado pela inserção de um tendões ou ligamentos; f. Impactadas : encurtam o osso e podem ser visíveis com uma densidade focal anormal na trabécula óssea ou em irregularidades no córtex ósseo; g. No Toro ( encurvamento do córtex ósseo ) e em galho-verde ( rachadura de apenas 1 lado do córtex - fissuras ) são fraturas da infância. h. Fechadas : a pele sobrejacente permanece intacta ; ou Expostas : a pele sobrejacente rompe-se e o osso fraturado se comunica com o ambiente por meio da ferida na pele. 2. LOCALIZAÇÃO : a. Dorsal ou volar; b. Epífise : algumas vezes acometendo a superfície articular , que pode acometer a extremidade proximal do osso (a cabeça) ou a extremidade distal. c. Metáfise (ou colo): segmento entre a epífise e diáfise ; d. Diáfise : dividido em terço proximal, médio e distal. 3. QUANTO AO ACOMETIMENTO ARTICULAR: a. Fraturas extra-articulares : o traço da fratura não acomete a articulação . b. Fraturas intra-articulares : o traço atinge o território articular. Nesta fratura exige redução (correção do desvio da fratura) perfeita , pois a consolidação da fratura com degrau articular levará ao desgaste da articulação (artrose). 4. TIPOS ESPECIAIS a. Patológicas : resultam de aplicação de força leve ou mínima ao osso enfraquecido em decorrência de uma doença (p. ex., câncer, cistos, infecções ou osteoporose). Quando a doença é osteoporose , essas fraturas costumam ser chamadas fraturas por insuficiência ou fragilidade . b. Por estresse : resultam da aplicação repetitiva de força moderada, como pode ocorrer entre os corredores de longa distância ou soldados marchando e carregando muito peso. Normalmente, o osso danificado por microtraumas de força moderada se autocicatriza durante os períodos de repouso, mas a aplicação repetida de força no mesmo local predispõe a outras lesões e faz o microtrauma se propagar . As fraturas podem ser ainda completas ( separação total dos fragmentos ) ou incompletas (separação parcial ). Exemplos de fraturas incompletas são: (1) as fraturas lineares (ou fissuras), quando o traço de fratura se estende apenas por uma parte do osso (2) as “ fraturas em galho verde”, comuns em crianças pequenas, quando uma força angulatória produz uma falha no lado convexo da curva e apenas uma angulação no lado côncavo da fratura, tal como ocorre quando rompemos um galho verde de uma árvore jovem (3) algumas fraturas impactadas metafisárias, quando há uma ruptura da fina camada de osso cortical que rodeia o osso esponjoso metafisário, também mais comuns em criança. As fraturas completas podem ser não desviadas , quando os fragmentos mantêm o alinhamento , ou desviadas , quando há um desalinhamento desses fragmentos, necessitando redução da fratura . 5. CLASSIFICAÇÃO AO DE MULLER PARA OSSOS LONGOS Para codificar o diagnóstico de uma fratura, sua localização e sua morfologia devem ser conhecidas. ➔ Local : isso é designado por dois números: ◆ Osso : ● 1 - úmero; ● 2 - rádio/ulna; ● 3- Fêmur; ● 4- tíbia/fíbula ◆ Segmento : ● 1- proximal (epífise proximal); ● 2- diafisário; ● 3- distal (epífise distal); ● 4- maleolar. Exemplos: Fratura da diáfise da tíbia: 4.2; fratura da epífise distal do rádio: 2.3; fratura de epífise proximal do fêmur: 3.1; fratura de maléolo medial: 4.4; fratura de epífise proximal do úmero: 1.1. FRATURAS EM CRIANÇAS VISÃO GERAL E EPIDEMIOLOGIA As crianças são diferentes dos adultos . Apesar de parecer óbvio, é importante o reconhecimento desse fato, pois a diferença interfere de maneira direta na ocorrência e no tratamento das fraturas. Os ossos nas crianças estão em crescimento, que é determinado pela fise (placa de crescimento ou cartilagem de crescimento), que está localizada entre a metáfise e a epífise dos ossos longos. O comportamento do sistema musculoesquelético das crianças é bastante diverso do dos adultos . Elas apresentam reparação dos tecidos mais rápida, portanto, consolidação mais precoce das fraturas . A remodelação óssea é uma característica importante nas crianças e é tanto maior quanto menor a idade do indivíduo. Entorses e contusões articulares que ocorrem com frequência nos adultos são, em geral, lesões benignas. Contudo, quando traumas semelhantes ocorrem nas crianças, podem acarretar lesões de potencial gravidade acometendo as epífises e as fises. Assim, um trauma que acarretaria fratura, luxação ou lesão ligamentar no adulto pode provocar uma lesão na cartilagem de crescimento se ocorrer em criança . As lesões fisárias ocorrem nas crianças em parte devido à maior resistência dos ligamentos e da cápsula articular em comparação à placa de crescimento. Nessa população, tais estruturas são de duas a cinco vezes mais resistentes do que a fise. Quando a fise está comprometida em toda a sua extensão, há fusão entre a metáfise e a epífise com consequente parada do crescimento . Quando a lesão fisária é parcial, é possível observardeformidades angulares . A deformidade angular e o encurtamento ocasionado pelas lesões da fise parcial ou completa podem variar na dependência da localização da fise, duração e extensão da lesão fisária. Quanto menor for a idade da criança na ocasião da lesão, maior é a sequela ao final do crescimento. O rádio distal é o local mais acometido , correspondendo a 44% das lesões fisárias. A seguir, na ordem de frequência, há o úmero distal, a fíbula distal, a tíbia distal, a ulna distal, o úmero proximal, o fêmur distal, a tíbia proximal e a fíbula proximal. Os membros superiores são mais acometidos por lesões fisárias do que os membros inferiores . Meninos são mais acometidos que meninas, em proporção aproximada de 2:1. Esse fato pode ser atribuído à maior tendência dos meninos de envolverem-se em atividades de risco. ANATOMIA Existem duas cartilagens de crescimento nos ossos longos imaturos . Uma horizontal , que é responsável pelo crescimento longitudinal do osso , e outra esférica , que responde pelo crescimento da epífise . A placa horizontal , de fácil visualização nas radiografias dos ossos em crescimento, separa a metáfise da epífise nas crianças. Na fise, os condrócitos estão dispostos em camadas ou “zonas ”, com diferentes estágios de maturação. Pode-se identificar as seguintes zonas: de reserva ou repouso, de proliferação e zona hipertrófica. A zona hipertrófica é dividida em camadas: de maturação, de degeneração e de calcificação, estando adjacente à metáfise. FISIOPATOLOGIA Os aspectos histológicos da cartilagem de crescimento são importantes para a compreensão do prognóstico das fraturas fisárias. A camada germinativa da cartilagem está adjacente à epífise e é nutrida por vasos epifisários . As células cartilaginosas crescem da epífise em direção à metáfise, formando colunas de células que se degeneram, fragmentam e hipertrofiam . Os fragmentos de células se mineralizam. Essa é a zona de calcificação provisória, adjacente à metáfise . É interessante notar que não há circulação na zona cartilaginosa A neovascularização ocorre da metáfise em direção à epífise . Células endoteliais se transformam em osteoblastos e usam os restos das células degeneradas para formar osso imaturo. Esse osso imaturo sofre progressiva remodelação em osso maduro e, finalmente, forma o sistema haversiano do osso. Lesões que afetem o suprimento vascular tanto da epífise quanto da metáfise interrompem o crescimento ósseo. Contudo, as lesões à camada de cartilagem podem não ser significativas se as superfícies foram reposicionadas e o suprimento vascular para a cartilagem de crescimento não foi interrompido em definitivo. Quando os dois leitos vasculares se tocam, a fise se fecha e não é possível haver mais crescimento ósseo. 1. Zona de reserva: zona de armazenamento de nutrientes para o crescimento, como proteoglicanos, lipídios e glicogênio. Possui baixa tensão de oxigênio. 2. Camada proliferativa : zona de crescimento longitudinal com alto índice de mitoses . Possui alta tensão de oxigênio, com intensa proliferação celular e produção de matriz extracelular . 3. Camada hipertrófica : dividida em três zonas: maturação, degeneração e calcificação provisória. Nesta camada ocorre mineralização da matriz e diminuição gradativa da tensão de oxigênio , havendo aumento da concentração de cálcio no interior das mitocôndrias , levando à morte celular. APRESENTAÇÃO CLÍNICA DE UMA FRATURA O paciente geralmente chega com história de trauma , dor e impotência funcional (não consegue utilizar o membro ou a articulação fraturada). As circunstâncias do trauma devem ser detalhadamente avaliadas na anamnese , pois certos mecanismos de trauma relacionam-se a determinadas fraturas (exemplo: um indivíduo que caiu de uma grande altura sobre os pés frequentemente tem fratura de calcâneo ou fratura do pilão tibial; etc.). Ao exame clínico , a dor é exacerbada pela palpação no foco de fratura e pela angulação dos fragmentos fraturários. Nota-se também tumefação local e, por vezes, equimoses e crepitação (sentimento tátil do atrito entre as extremidades ósseas fraturadas). Nas fraturas desviadas , a deformidade pode ser nítida e, no caso da fratura rotacional, o exame físico é melhor que o exame radiográfico para se perceber o desvio . Certas deformidades orientam quanto ao tipo de fratura (ex.: rotação externa do membro inferior nas fraturas transtrocantéricas ou de colo de fêmur). Por outro lado, algumas fraturas não desviadas possuem exame clínico inocente, sendo diagnosticadas apenas pelo exame de imagem. O médico nunca deve esquecer de avaliar o pulso periférico e a presença ou ausência de sinais de isquemia distal (dor, palidez, redução da temperatura), pois algumas fraturas desviadas podem lesar gravemente uma artéria circunvizinha, o que traz um caráter emergencial ao caso (cirurgia imediata!). EXAMES COMPLEMENTARES A radiografia é o exame preferencial a ser realizado na suspeita de uma fratura. Não se deve realizar outros tipos de exames antes da obtenção de radiografias de boa qualidade. Em geral, são suficientes para o diagnóstico preciso e para orientar o tratamento a ser realizado , em pelo menos 2 incidências: AP e perfil - exceção é mão e pé, que devem ter incidência oblíqua. CONSOLIDAÇÃO DAS FRATURAS O osso é um tecido com um enorme potencial de reparo. Após um período de 4-8 meses o osso fraturado se reconstitui sem deixar cicatriz, contanto que fatores essenciais estejam presentes, tais como uma boa vascularização dos fragmentos e a manutenção da estabilidade da fratura (evitar o movimento acentuado entre os fragmentos). A consolidação das fraturas pode ser primária ou secundária. Consolidação Secundária : 1. FASE PRECOCE (HEMATOMA FRATURÁRIO) - INFLAMAÇÃO : no momento em que ocorre a lesão, pequeninos vasos do osso fraturado e de seu envoltório (periósteo) rompem e sangram, provocando a formação de um hematoma entre e ao redor das bordas dos fragmentos fraturários . Este hematoma coagulae serve de estímulo para iniciar o processo de consolidação pois libera diversos fatores de crescimento, sendo invadido por pequenos vasos (angiogênese), trazendo consigo células mesenquimais pluripotentes do tecido conjuntivo, originárias do periósteo ou dos tecidos moles circunjacentes. 2. FASE DO CALO FRATURÁRIO MOLE - REPARO : dentro das primeiras duas semanas, começa a se formar um tecido que se interpõe aos fragmentos e circunda suas bordas , dando a forma de um abaulamento no ponto de fratura do osso (calo). Este calo é viscoso e funciona como uma verdadeira “cola” para o osso . Nesta fase, o calo é composto por tecido fibrocartilaginoso, trazendo alguma resistência e estabilidade à fratura , mas ainda não aparecendo na radiografia, pois não é tecido ósseo . Aqui, fibroblastos e condrócitos começam a produzir colágeno e cartilagem, respectivamente. 3. FASE DO CALO FRATURÁRIO DURO (CALO ÓSSEO) - REMODELAMENTO: após as duas primeiras semanas, as células mesenquimais começam a gerar osteoblastos que então começam a produzir tecido ósseo com uma velocidade absurda . Este tecido começa a ser formado num local um pouco distante do traço de fratura, aparecendo na radiografia como uma reação periosteal. Em seguida, começa a preencher todo o foco de fratura, neste momento aparecendo no RX como um verdadeiro calo ósseo, bem visualizado ao se completar seis semanas , mas ainda podemos perceber um tênue traço de fratura. Neste momento, a fratura já está clinicamente estável (consolidação clínica ), quando o ortopedista cuidadosamente provoca forças tensionais sem resultar em movimento entre os fragmentos fraturários nem dor por parte do paciente . Ao longo das próximas semanas ou meses, o calo ósseo vai se tornando cada vez mais consistente , à medida que o tecido ósseo primitivo (osso imaturo), inicialmente depositado, é convertido em tecido ósseo maduro (osso lamelar). Este processo se completa após 4-8 meses , sendo mais rápido nas crianças; no RX não se observa mais traço de fratura (consolidação radiológica). Ao longo dos próximos meses, o calo ósseo vai se remodelando, com reabsorção do excesso , até que o osso volte ao seu formato original. A consolidação do tipo primária ocorre quando existe perfeita aposição entre os fragmentos fraturários (redução anatômica) e estabilidade absoluta por osteossíntese por placa e parafuso (cirurgia estabilizadora de fratura). Neste tipo, o tecido ósseo “novo” é formado diretamente a partir do próprio osso fraturado e do endósteo. Na consolidação secundária (mais comum), antes de formar osso, há formação de tecido fibrocartilaginoso intermediário isso ocorre quando a estabilidade é relativa (fornecida pela maior parte dos tratamentos: gesso, haste intramedular, fios, fixador externo). FATORES QUE MODIFICAM A CONSOLIDAÇÃO ÓSSEA Uma fratura necessita para consolidação de aporte sanguíneo e imobilização . Várias causas levam à perda da vascularização óssea, como maior destruição tecidual por trauma de maior energia, exposição da fratura , infecção (fatores locais), diabetes mellitus , vasculopatia aterosclerótica , insuficiência venosa crônica (fatores sistêmicos) etc. Estes fatores atuam negativamente no processo de consolidação, retardando ou impedindo a união óssea . Doenças que alteram o metabolismo ósseo também podem prejudicar o processo de consolidação. O metabolismo é modificado por hormônios, como corticosteróides, hormônio de crescimento, tireoidianos, calcitonina, insulina e esteróides anabolizantes. Além desses, o tabagismo e a desnutrição são fatores encontrados com muita frequência e que interferem negativamente no processo de consolidação óssea. ABORDAGEM INICIAL AO POLITRAUMATIZADO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR Em geral, o atendimento de um paciente vítima de trauma se inicia ainda no ambiente pré-hospitalar . Diversas instituições são responsáveis tanto pelo atendimento quanto pelo desenvolvimento de protocolos específicos para o atendimento desses pacientes. As que mais frequentemente atuam nesse cenário são o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e o Corpo de Bombeiros. Ainda no local da ocorrência, são realizados procedimentos iniciais, como garantir a segurança da cena, triagem e descontaminação do paciente se for necessário, avaliação primária com manejo de vias aéreas controle de hemorragias e lesões ameaçadoras à vida, avaliação secundária se cabível e o transporte seguro da vítima até o hospital de referência . ATENDIMENTO AO POLITRAUMATIZADO INTRA-HOSPITALAR (ATLS) ➔ Avaliação Primária : Os pacientes são avaliados e suas prioridades de tratamento são estabelecidos , com base em seus ferimentos, sinais vitais, e os mecanismos de lesão. Lógico e sequencial as prioridades de tratamento são estabelecidas com base na avaliação do paciente. As funções vitais do paciente devem ser avaliadas de forma rápida e eficiente. Gestão consiste em uma pesquisa primária rápida com reanimação das funções vitais, uma abordagem mais detalhada pesquisa secundária, e o início do tratamento definitivo. A - Airway : vias aéreas com proteção da coluna cervical; B - Breathing and ventilation : respiração e ventilação; C - Circulation : circulação com controle de hemorragias; D - Disability : disfunção neurológica; E - Exposure/Environmental : exposição e controle do ambiente. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- A - VIAS AÉREAS COM PROTEÇÃO DA COLUNA CERVICAL Após a avaliação inicial de um paciente com trauma, primeiro avalie via respiratória para verificar a patência . Esta avaliação rápida para sinais de obstrução das vias aéreas inclui a inspeção de corpos estranhos ; identificação de traumas facial, mandibular e/ou fraturas traqueais/laríngeas e outras lesões que pode resultar em obstrução das vias aéreas; e aspirando para limpar sangue ou secreções acumuladas que podem levar a ou estar causando obstrução das vias aéreas. Comece as medidas para estabelecer uma via aérea patente enquanto restringe o movimento da coluna . Se o paciente é capaz de se comunicarverbalmente , as vias aéreas provavelmente não estarão em risco imediato; no entanto, a avaliação repetida da permeabilidade das vias aéreas é prudente. Além disso, pacientes com ferimentos graves na cabeça que têm um nível de consciência alterado ou uma pontuação na Escala de Coma de Glasgow (GCS) de 8 ou inferior geralmente requer a colocação de uma via aérea definitiva . As manobras de Chin-lift ou Jow-trust costumam ser suficientes como uma intervenção inicial. A coluna deve ser protegida de mobilidade excessiva para prevenir o desenvolvimento de ou progressão de um déficit. A coluna cervical é protegida com um colar cervical. Quando o gerenciamento das vias aéreas é necessário, o colar cervical é aberto e um membro da equipe restringe manualmente o movimento da coluna cervical. Reavaliação frequente da permeabilidade das vias aéreas é essencial para identificar e tratar pacientes que estão perdendo a capacidade de manter uma via aérea adequada. Caso haja dúvida acerca da capacidade do paciente de proteger a sua via aérea, uma via aérea avançada deve ser obtida . Em traumas complexos de face, muitas vezes o primeiro plano para se obter uma via aérea definitiva pode ser a realização de cricotireoidostomia cirúrgica em pacientes adultos e por punção em crianças abaixo de 12 anos. Pode-se realizar uma única tentativa de intubação orotraqueal nesses pacientes, mas o material necessário para a realização de via aérea cirúrgica deve estar pronto para ser usado caso essa tentativa seja falha. B - RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO A permeabilidade das vias aéreas por si só não garante adequada ventilação. É necessária uma troca de gás adequada para maximizar a oxigenação e a eliminação de dióxido de carbono. A ventilação requer função adequada dos pulmões, parede torácica e diafragma ; portanto, os médicos devem examinar e avaliar rapidamente cada componente. Para avaliar adequadamente a distensão venosa jugular, posição da traqueia e excursão da parede torácica , expor pescoço e tórax do paciente. Realizar ausculta para garantir o fluxo de gás nos pulmões . Inspeção visual e a palpação podem detectar lesões na parede torácica que pode estar comprometendo a ventilação. Percussão do tórax também pode identificar anormalidades. Lesões que prejudicam significativamente a ventilação no curto prazo incluem pneumotórax hipertensivo maciço, hemotórax, pneumotórax aberto e lesões traqueais ou brônquicas . Essas lesões devem ser identificadas durante a pesquisa primária e muitas vezes exigem atenção para garantir uma ventilação eficaz. Todo paciente ferido deve receber suplemento oxigênio . Se o paciente não estiver intubado, o oxigênio deve ser entregue por um dispositivo reservatório de máscara para alcançar a oxigenação ideal. Use um oxímetro de pulso para monitorar adequação da saturação de oxigênio da hemoglobina . Durante a avaliação primária , deve-se realizar o diagnóstico e tratamento das seguintes lesões ameaçadoras à vida: ● Lesão de árvore traqueobrônquica; ● Pneumotórax hipertensivo; ● Pneumotórax aberto; ● Hemotórax maciço; ● Tamponamento cardíaco; C - CIRCULAÇÃO E CONTROLE DE HEMORRAGIAS A atenção à hemodinâmica do paciente continua de forma mais focada neste momento. Deve-se avaliar a perfusão periférica, pulsos e a capacidade do paciente de manter um bom nível de consciência . Raramente um paciente com boa perfusão periférica se encontrará hipovolêmico, assim como um pulso periférico rápido e fino ou ausente é um sinal clássico de choque hipovolêmico. Se a monitorização eletrocardiográfica e a de pressão arterial ainda não tiverem sido instaladas, neste momento faz-se necessário . Classicamente se orienta que sejam instalados dois acessos venosos periféricos de grosso calibre (pelo menos 18G); na impossibilidade deve-se tentar acesso intraósseo, acesso venoso central e flebotomia, nessa ordem de prioridades. Acesso venoso periférico ou central guiado por US também podem ser conseguidos a depender da expertise do emergencista ou enfermeiro assistente. Devem ser coletados níveis séricos de hemoglobina e hematócrito, INR, tipagem sanguínea, lactato e gasometria arterial para avaliar o déficit de bases, assim como beta-HCG para todas as mulheres em idade fértil . Devem ser administrados 1.000 mL de solução isotônica aquecida (37ºC-40ºC). Se o paciente não responder a essa medida inicial, deve-se iniciar a transfusão sanguínea imediatamente. Todo local de sangramento visível deve ser contido . A primeira medida para interromper um sangramento externo é a compressão direta , podendo ser seguida de um curativo compressivo com ou sem agente hemostático . Quando um sangramento em extremidade não puder ser controlado com essas medidas, um torniquete pode ser aplicado logo acima da lesão . Outras fontes de hemorragia interna devem ser identificadas através de exame físico e exames complementares (p. ex., eFAST, radiografia de tórax e radiografia de pelve). Os locais comuns de hemorragia são: tórax, abdome, retroperitônio, pelve e ossos longos . A sondagem vesical pode ser uma medida importante para o diagnóstico de sangramento retroperitoneal , porém, caso haja sangramento uretral, não deve ser realizada neste momento. O toque retal, assim como o toque vaginal, deve ser reservado para pacientes com suspeita de trauma pélvico (mecanismo de trauma compatível, equimose perineal). O uso de sondagem orogástrica pode ser útil para descomprimir o estômago , reduzir o risco de aspiração e, em alguns casos, evidenciar presença de sangue no interior dele. À beira do leito, deve-se realizar o eFAST (avaliação ultrassonográfica estendida direcionada para o trauma) para buscar por tamponamento cardíaco, hemotórax e líquido livre em cavidade abdominal , entre outros diagnósticos possíveis. A literatura recente evidenciou melhora de sobrevida em pacientes com choque hemorrágico e que receberam ácido tranexâmico precocemente . Deve ser administrado em pacientes vítimas de trauma com a pressão arterial sistólica abaixo de 90 mmHg e taquicardia acima de120 bpm na dose de 1 g IV em 10 min em até 3 horas do trauma seguido de 1 g IV nas próximas 8 horas . A primeira dose deve ser realizada preferencialmente ainda no ambiente pré-hospitalar. D - AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA Após a avaliação das vias aéreas, respiração e circulação, devemos dar início ao exame neurológico mais focado . O objetivo neste momento é determinar o nível de consciência, realizar a avaliação das pupilas observando seu tamanho e reação à luz , assim como identificar sinais de lateralização. Também deve-se avaliar rapidamente o nível do trauma raquimedular se este estiver presente. Busca-se prevenir lesão cerebral secundária , mantendo boa oxigenação e perfusão cerebrais. Assim que identificada lesão, deve-se obter uma avaliação neurocirúrgica o mais breve possível. Pacientes que fizeram uso de álcool, drogas lícitas ou ilícitas, assim como em estado de hipoglicemia, podem apresentar alteração no nível de consciência sem lesão cranioencefálica direta, porém são diagnósticos de exclusão e todo paciente com rebaixamento do nível de consciência deve ser interpretado como secundário ao trauma até que sejam descartadas lesões estruturais. Muitas vezes as duas situações podem estar associadas no mesmo paciente. Uso da Escala de Coma da Glasgow. E - EXPOSIÇÃO E CONTROLE DO AMBIENTE Ainda na avaliação primária, realiza-se a exposição completa do paciente, mantendo a precaução com o risco de causar-lhe hipotermia . O paciente deve ser inspecionado por toda a superfície corpórea em busca de estigmas de trauma, como abrasões, escoriações e queimaduras . Após a exposição e inspeção, deve-se mantê-lo coberto com mantas térmicas ou cobertores aquecidos . A temperatura ambiente da sala de emergência deve ser ajustada para que o risco de hipotermia seja minimizado. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- ➔ Avaliação Secundária (após a avaliação primária): Dando continuidade ao atendimento do paciente vítima de trauma, deve-se realizar a avaliação secundária no paciente que se encontre clinicamente estável . Este é o momento em que buscamos lesões que não ameaçam imediatamente a vida, mas que podem gerar sequelas, desconforto ou evoluir com piora do quadro clínico. Sinais vitais, monitorização e responsividade devem ser checados constantemente durante o exame . Havendo deterioração no quadro clínico em qualquer momento, deve-se prontamente refazer a avaliação primária . Inicia-se pela história e prossegue-se com o exame físico detalhado. O mnemônico AMPLA pode ser usado para que se lembre o que deve ser questionado no momento da história de uma vítima de trauma: ➔ A : alergias; ➔ M : medicamentos; ➔ P : passado médico/prenhez; ➔ L : líquidos e alimentos ingeridos recentemente; ➔ A : ambientes e eventos relacionados ao trauma. O exame físico neste momento deve focar em não deixar nenhuma lesão passar despercebida. Realiza-se uma avaliação minuciosa craniocaudal : ● Cabeça : Inspeção e palpação de toda a face e couro cabeludo procurando por deformidades e lacerações. Deve-se examinar a acuidade visual, motricidade ocular, reflexos pupilares, hemorragia conjuntiva. ● Coluna cervical e pescoço : É importante que seja palpado, inspecionado e auscultado o pescoço (investigando sopro carotídeo). Observa-se a presença de dor e sensibilidade à palpação cervical. ● Tórax : A avaliação secundária do tórax consiste na inspeção de todo o tórax exposto, ausculta cardíaca e pulmonares. Pode-se realizar a percussão de campos pulmonares, palpação de todos os arcos costais, articulações costocondrais, clavículas e esterno. ● Abdome e pelve : Estigmas de trauma abdominal devem ser buscados durante a inspeção, como marcas de cinto de segurança, abrasões e escoriações, correlacionando a sua localização com uma possível lesão intra-abdominal. ● Períneo, reto e vagina : Equimoses, lacerações e sangramentos uretrais levantam à suspeita de lesões de pelve e retroperitônio. Toque retal deve ser realizado nesses pacientes para avaliar a integridade da parede retal, presença de espículas ósseas palpáveis e de sangramento. Toque vaginal deve ser realizado em paciente em risco para este tipo de lesão. ● Musculoesquelético : Deformidades, contusões e escoriações devem ser buscadas na avaliação das extremidades do paciente. Deve-se palpar proeminências ósseas à procura de dor e dificuldade de mobilização, sugerindo a possibilidade de fratura oculta. Atenção especial deve ser dada ao membro com dor desproporcional à lesão identificada, sugerindo a evolução de síndrome compartimental. ● Neurológico : Novamente é realizada a avaliação do nível de consciência pela escala de coma de Glasgow, resposta pupilar e avaliação mais detalhada da motricidade e sensibilidade do paciente. ABORDAGEM INICIAL E TRATAMENTO DEFINITIVO DAS FRATURAS CONDUTA INICIAL DO MÉDICO GENERALISTA A conduta do médico generalista diante de uma fratura exposta é estabilizar o paciente , iniciar analgesia (e antibioticoterapia, se possível), imobilizar conforme orientado , e encaminhar o paciente para tratamento cirúrgico em hospital de referência . ● Realizar o ATLS; ● Identificar o segmento afetado e provável osso fraturado; ● Imobilizar o membro fraturado; ● Imobilização das falanges das mãos: não precisa tala gessada, mas sim, uma metálica. ● Imobilização dos dedos dos pés: feito com esparadrapagem entre dois dedos (o fraturado e o maior dedo vizinho; também não necessita de tala gessada. ● Outra exceção é a imobilização em pinça de confeiteiro feita em fratura da diáfise do úmero; Os objetivos principais do tratamento definitivo das fraturas são quatro: ● alívio da dor; ● obter e manter uma posição satisfatória dos fragmentos fraturários , ou seja, reduzir a fratura ; ● manter a redução, com imobilização gessada, com órtese ou fixação cirúrgica; e ● restaurar a função máxima do osso ou articulação envolvidos. REDUÇÃO DA FRATURA As fraturas desviadas (ou deslocadas) devem ser a princípio reduzidas ! Redução de fraturas éo ato de realinhar os fragmentos fraturários , pois, sem um alinhamento mínimo, isto trará problemas para a consolidação (instabilidade), para a função musculoesquelética e até mesmo estéticos. Algumas fraturas, como as diafisárias, aceitam discreto grau de desvio após a redução ; contudo, as fraturas articulares precisam de uma redução perfeita ou quase perfeita, sem a qual graves problemas funcionais e/ou estéticos podem sobrevir, como no caso das fraturas do cotovelo. Como reduzir? Dependendo das características da fratura, o ortopedista pode indicar uma redução fechada (incruenta) ou uma redução aberta (cruenta ou cirúrgica ). A redução fechada, por sua vez, pode ser executada por manipulação (manobras de redução) ou feita por tração contínua. A tração serve para “vencer” de forma progressiva a tensão muscular que dificulta ou impossibilita o realinhamento. ❖ Redução Fechada por Manipulação : Este é um método comum no tratamento das fraturas desviadas . A redução fechada é realizada sob anestesia (local, regional ou geral), por um profissional experiente. O profissional faz inicialmente uma tração longitudinal, corrigindo a angulação, seguida de uma manipulação que primeiro acentua a deformidade da fratura para depois “engrenar” os fragmentos fraturários. Durante a redução (especialmente na hora da tração), um auxiliar deve estar presente para segurar a outra extremidade . Após a redução, uma radiografia com duas incidências deve ser obtida, para avaliar o resultado. Caso seja insatisfatório , uma nova redução fechada deve ser tentada ou, dependendo do caso, parte-se para a redução aberta . Exemplos clássicos de fraturas que podem ser tratadas por redução fechada por manipulação: fraturas diafisárias, fratura desviada supracondiliana do úmero em crianças, fratura de Colles (da extremidade distal do rádio) no adulto, fratura das falanges. ❖ Redução Fechada por Tração Contínua : Para vencer a contratura muscular, aplica-se uma tração contínua no fragmento fraturário distal , no mesmo eixo do fragmento proximal para que a tensão da musculatura seja aliviada paulatinamente , permitindo o alinhamento da fratura. Em crianças, pode-se utilizar a tração cutânea, por meio de esparadrapo. Em adultos, para vencer a tensão muscular, é preciso utilizar a tração esquelética: um pino de Steinman ou um fio de Kirschner é introduzido através do osso e ligado a um estribo tensor que, por sua vez, é puxado por um mecanismo de peso e roldana. Os pacientes em tração contínua devem ser monitorados radiograficamente para avaliar a posição dos fragmentos fraturários. Em geral, a tração deve permanecer por pelo menos duas semanas. Exemplos clássicos de fraturas que são reduzidas por tração contínua: fraturas diafisárias desviadas do fêmur em crianças (ou em adultos que estão esperando a cirurgia por problemas clínicos a serem compensados), fratura-luxação da coluna cervical. É importante frisar os inconvenientes da tração contínua . O primeiro deles é a necessidade de internação prolongada em posição de decúbito, aumentando o risco de infecções, trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar e úlceras de decúbito, especialmente em idosos . Uma tração excessiva pode causar diástase (afastamento) dos fragmentos fraturários, impedindo a consolidação . Finalmente, existe o risco de infecção no trajeto do pino ou fio transfixante . A infecção pode ser apenas no subcutâneo ou no próprio osso (osteomielite). Pelos inconvenientes da tração contínua, algumas fraturas que antigamente eram tratadas apenas com este método, agora merecem tratamento cirúrgico... Hoje em dia, na verdade, a tração contínua está sendo cada vez menos utilizada, dando lugar ao tratamento cirúrgico. ❖ Redução Aberta (Cruenta): Fraturas extremamente cominutivas e instáveis , especialmente quando em posição intra-articular , frequentemente exigem redução cirúrgica, pois os resultados da redução fechada costumam ser insuficientes para a recuperação funcional desejada. ESTABILIZAÇÃO DA FRATURA Embora algumas fraturas estáveis de ótimo prognóstico possam ser tratadas apenas com observação, ou com uma tipóia ou muletas, a imensa maioria das fraturas necessita de um procedimento de estabilização , para manter os fragmentos alinhados , mesmo aquelas com ausência de desvio. Estas últimas podem sofrer desvio posteriormente. Se os fragmentos vierem a se deslocar, isto prejudicará bastante a consolidação e o resultado funcional do tratamento. Existem três estratégias de estabilizar uma fratura: (1) apenas imobilização por contenção externa (em geral, aparelho gessado); (2) fixação externa cirúrgica; (3) fixação interna (osteossíntese da fratura). 1. Imobilização Apenas por Contenção Externa : Neste caso, a imobilização geralmente é providenciada com aparelho gessado (cast), devidamente modelado para estabilizar corretamente a fratura . Exemplos: fraturas diafisárias estáveis umerais, do antebraço (rádio e ulna) de crianças e da perna (tíbia e fíbula). É fundamental o acompanhamento radiográfico, pois um desvio ulterior da fratura pode vir a ocorrer. O tempo mínimo de contenção externa numa fratura não fixada internamente é geralmente de seis semanas (quando já ocorreu a consolidação clínica), com algumas exceções, como a fratura diafisária de tíbia, que necessita de mais tempo. O médico deve estar atento para as complicações da imobilização gessada , sendo as principais: isquemia de extremidades pela contenção do edema pelo gesso (quando então o gesso deve ser fendido de imediato!), úlcera de pressão, pela compressão da pele e subcutâneo pelo gesso sobre uma proeminência óssea. 2. Fixação Externa : É um método utilizado para tratar fraturas diafisárias expostas de grau avançado ou intensamente cominutivas da tíbia , e fraturas da extremidade distal do rádio (Colles cominutiva ), dentre outras fraturas. Neste método, realizado em centro cirúrgico, três ou mais pinos ou parafusos são fixados no osso, abaixo e acima do foco de fratura, e mantidos juntos por barras externas para permitir a fixação firme dafratura. O termo “ fixação externa” vem do fato de a maior parte do aparelho fixador localizar-se externamente ao paciente . 3. Fixação Interna : Diversas fraturas somente são bem estabilizadas por fixação interna, ou seja, o aparato fixador encontra-se dentro do paciente. Existem diversos dispositivos disponíveis aos ortopedistas para fixar internamente uma fratura. O ortopedista atual está bem familiarizado com uma grande variedade de dispositivos de osteossíntese: parafusos, canulados ou deslizantes, placas de fixação (que seguram parafusos transfixantes), pinos, fios de Kirschner, cerclagem, bandas de tensão, hastes intramedulares (cilindros metálicos colocados no interior do canal medular de um osso longo para estabilizar fraturas diafisárias), que podem ser simples ou bloqueadas (seguram parafusos em cada extremidade) etc. Substituição por Endoprótese: Alguns ossos têm suprimento arterial precário e, portanto, a fratura em si ou a manipulação cirúrgica da fratura podem causar necrose avascular do osso, trazendo graves problemas futuros . O exemplo mais clássico é a cabeça do fêmur . Em pacientes idosos , a estratégia de escolha para tratar a fratura de colo de fêmur é a substituição da epífise femoral por uma endoprótese de quadril , de natureza metálica ou de polietileno. Essas próteses devem durar cerca de 15-20 anos, sem acarretar problemas. COMPLICAÇÕES DAS FRATURAS ● Lesão arterial : examinar o membro à procura de sinais de isquemia aguda (palidez cutânea, queda da temperatura, dor, cianose); ● Lesão neural ; ● Osteomielite e Artrite Séptica : complicações mais temidas , sendo decorrente da própria fratura (em caso de fratura exposta) ou do tratamento cruento. A osteomielite pode se desenvolver ao redor dos dispositivos sintéticos inseridos no osso para fixação interna . A artrite séptica pode ocorrer associada, especialmente nas fraturas intra-articulares. O paciente mantém a dor referida na extremidade afetada, com ou sem saída de secreção purulenta no orifício de inserção do dispositivo ou formação de uma fístula cutânea . Pode desenvolver febre, leucocitose e aumento acentuado do VHS/PCR. ● Síndrome Compartimental : A síndrome compartimental é uma emergência ortopédica na qual a pressão aumentada em um espaço fechado musculofascial pode lesar irreversivelmente os tecidos dentro do compartimento , especialmente os músculos e nervos. Nos casos mais graves, a compressão arterial pode causar isquemia e gangrena da extremidade. Esta síndrome deve ser sempre lembrada em todos os traumas dos membros, pois a negligência do diagnóstico pode levar, além de lesões irreversíveis, à morte do paciente. Diversas etiologias estão relacionadas com o aumento da pressão dentro do compartimento, sendo as mais importantes o hematoma pela rotura de um vaso arterial ou venoso no interior do compartimento fascial, e o edema que se instala rapidamente pela fratura e lesão grave associada de tecidos moles, especialmente os músculos esqueléticos, e o edema por isquemia-reperfusão causado por lesão arterial. Resumindo o quadro, seria um paciente com dor muscular sem alívio, que não cede com analgésicos normais, agravada pelo estiramento muscular . Habitualmente, apresenta parestesia de extremidade (dormência, formigamento) e alguma insensibilidade . No exame, o compartimento fasciomuscular apresenta-se tenso e edemaciado, com dor à palpação e à mobilização passiva dos dedos. ● Embolia Gordurosa; TVP e TEP. FRATURA EXPOSTA DEFINIÇÃO Podemos definir fratura exposta como sendo uma solução de continuidade da pele e tecidos moles subjacentes , permitindo a comunicação óssea direta ou de seu hematoma fraturário com o meio ambiente . A comunicação pode vir de fora para dentro (lesão por PAF , arma branca, acidente com máquinas cortantes) ou de dentro para fora (um fragmento de uma fratura cavalgada perfura a pele). Em diversas situações esta comunicação pode estar mascarada . Isto se refere principalmente a fraturas com comunicação com o tubo digestivo, vagina e ânus . Importante lembrarmos que, quando uma fratura ocorre no mesmo segmento do membro de uma ferida, a mesma deverá ser considerada como fratura exposta, até que se prove o contrário. A classificação de Gustillo e Anderson , mais utilizada e difundida, permite direcionar o tratamento e caracteriza-se por ser dinâmica, podendo ser modificada após a intervenção cirúrgica. TRATAMENTO INICIAL DA FRATURA EXPOSTA O atendimento deve ser realizado segundo as recomendações (ABCDE) do ATLS (Advanced Trauma Life Support), sendo a primeira atenção dada à ressuscitação, quando necessária, seguida de estabilização clínica do paciente. Durante a avaliação primária, iniciamos a profilaxia contra o tétano, a antibioticoprofilaxia e a analgesia. Diversas bactérias podem causar infecção, porém o germe mais comum é o S. aureus . Temos percebido também o aumento da infecção por Gram-negativos e infecções mistas. O esquema antibiótico é baseado na classificação de Gustillo-Anderson. O tempo crítico seria de três horas a partir do trauma , sendo que a incidência de infecção aumenta significativamente se o antibiótico é inicialmente fornecido após este período. Devemos lembrar que a antibioticoterapia é profilática , permanecendo por 48-72 horas, na maioria das referências; porém determinados autores mantêm por até 7-14 dias. ● Cefalosporina de 1ª Geração : A cefazolina deve ser usada na dose de 1g endovenoso a cada oito horas , devendo dobrar a dose (2g) para pacientes com peso corpóreo maior ou igual a 80 kg - Gustillo I e II; ● Aminoglicosídeo : Já o uso de gentamicina se faz na dose de 80 mg a cada oito horas . TRATAMENTO CIRÚRGICO Após avaliação inicial do paciente, devemos encaminhá-lo para o centro cirúrgico em até seis horas classicamente , apesar de alguns autores defenderem intervenção mais precoce – quatro horas decorridas do acidente. FRATURAS FISÁRIAS DEFINIÇÃO Dependendo do tipo de fratura , a placa epifisária lesada pode fechar e,neste caso, a extremidade óssea acometida para de crescer! Imagine se isto ocorrer na epífise distal do fêmur direito de uma criança... O resultado é o crescimento assimétrico do fêmur direito e esquerdo , pois este último crescerá mais que o primeiro, provocando uma discrepância de comprimento entre os membros inferiores!!! Quanto mais nova for a criança que sofreu uma fratura dessas, maior será a discrepância na fase adulta!! Um outro exemplo: imagine que a fratura comprometeu apenas a porção medial da placa epifisária femoral distal... A porção lateral do osso continua crescendo, determinando uma deformidade angular (que pode ser grave) do tipo genu varum. CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS FISÁRIAS Várias classificações para as lesões fisárias são encontradas na literatura médica. A classificação mais conhecida e utilizada é a de Salter-Harris . Constava de cinco tipos, mas Rang descreveu outro, que passou a ser incorporado à classificação inicial de Salter-Harris. CLASSIFICAÇÃO DE SALTER-HARIS ➔ Tipo I. Fratura através da zona hipertrófica da fise , separando a metáfise da epífise . A fratura sem desvio pode ser de difícil diagnóstico, pois não há comprometimento ósseo. Em geral, o prognóstico é excelente . A maioria dessas lesões é passível de tratamento conservador, reduzindo-se o desvio (se presente) e imobilizando-se com aparelho gessado. Entretanto, a redução cirúrgica com fixação pode ser necessária nos casos em que houver instabilidade e não for possível a manutenção da redução incruenta. ➔ Tipo II. Fratura que acarreta o comprometimento parcial da cartilagem de crescimento e tem um fragmento metafisário de tamanho variável , conhecido como fragmento de Thurston Holland (radiologista inglês que fez a descrição do fragmento em 1929). O periósteo do lado desse fragmento permanece intacto, facilitando a redução. É o tipo de fratura mais frequente. ➔ Tipo III . Tipo combinado de lesão da fise com fratura intra-articular da epífise . Não há acometimento da metáfise . É rara e com frequente necessidade de redução cirúrgica para o restabelecimento anatômico da superfície articular e da própria fise. ➔ Tipo IV. Fratura que compromete a metáfise, atravessando a fise e a epífise até a articulação . São fraturas que necessitam de redução precisa , pois mínimos desvios podem levar a pontes ósseas com consequentes deformidades. Alguns autores acreditam que, dependendo da energia envolvida no trauma que provocou a lesão, mesmo com reduções anatômicas, o risco de pontes ósseas é muito grande. ➔ Tipo V. Lesões por compressão da fise . O diagnóstico precoce é muito difícil com as radiografias, quase impossível. Deve-se suspeitar dessas lesões de acordo com o quadro clínico e o mecanismo do trauma . Mesmo com a RM, ainda não é possível estabelecer o diagnóstico precoce. Embora trabalhos recentes apontem nessa direção, ainda não há um consenso, sendo certo que a RM mostra um edema medular ósseo que pode significar lesão da fise. São lesões raras, e o ortopedista deve estar alerta avisando aos familiares sobre a possibilidade e eventuais complicações futuras. ➔ Tipo VI. Foi acrescentado à classificação original de Salter-Harris por Rang. Trata-se de uma lesão periférica na fise , denominada lesão pericondral , com formação de ponte óssea e consequente deformidade angular. TRATAMENTO As fraturas tipo I e II de Salter-Harris podem ser tratadas com redução incruenta e imobilização gessada , sem necessidade de redução perfeita, pois o prognóstico é muito bom. Já as fraturas tipos III e IV de Salter-Harris geralmente são indicação cirúrgica, com redução cruenta e fixação interna . TIPOS MAIS COMUNS O tipo mais comum, responsável por cerca de metade dos casos, é a fratura-descolamento da epífise distal do rádio. Geralmente, ocorre em crianças entre 6-12 anos, após queda com o apoio da mão, com o punho hiperestendido e o antebraço supinado. Normalmente é do tipo I ou II de Salter-Harris e o prognóstico após redução fechada e imobilização é excelente. O segundo tipo mais comum é a fratura-descolamento da epífise distal do fêmur, por trauma de hiperextensão do joelho. Costuma ser tipo I ou II de Salter- Harris, mas o prognóstico não é tão bom, exigindo frequentemente tratamento cirúrgico. CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS DA COLUNA VERTEBRAL A coluna vertebral é formada por 33 ou 34 vértebras (sete cervicais, 12 torácicas, cinco lombares, cinco sacrais e - quatro ou cinco coccígeas). O forame, ou conduto vertebral, é composto pela parede posterior do corpo vertebral e pela parede anterior do arco vertebral, e a superposição dos vários forames vertebrais forma o canal raquideano, que aloja e protege a medula espinal. Essa medula, nos adultos, possui cerca de 45 cm e estende-se desde a altura do atlas (C1) até a primeira ou segunda vértebra lombar. Ela se afila para formar o cone medular, do qual se estende um filamento delicado, denominado filum terminale, que se insere próximo ao primeiro segmento coccígeo. Na parte baixa do canal vertebral , descendem as raízes dos nervos espinais caudais, que, junto com o filum terminale, formam a cauda equina , que inicia ao nível de T11 e termina caudalmente no nível do terceiro segmento sacral, ocupando, sozinha, o canal vertebral abaixo de L2. A medula espinal está dividida em segmentos, e as raízes nervosas que emergem da medula no nível de cada segmento são designadas por algarismos que se referem ao nível de sua saída. Da medula espinal, 31 pares de nervos espinais originam-se (oito cervicais, 12 torácicos, cinco lombares, cinco sacrais e um coccígeo). O primeiro par emerge entre o occipital e o atlas (C1), de modo que, na coluna cervical, o nervo sobressai cranialmente à vértebra correspondente. Somente a partir do primeiro segmento torácico, o nervo espinal emerge caudalmente à vértebra correspondente . Cada raiz nervosa recebe informações sensitivas de áreas da pele denominadas dermátomos , e, de maneira similar, cada raiznervosa inerva um grupo de músculos denominados miótomos. A localização do segmento da medula espinal não está na mesma altura do segmento ósseo vertebral correspondente . Por exemplo, é observado que o segmento medular C8 está localizado no nível entre C6 e C7 vertebral, e o segmento medular T12, no nível da vértebra T10. A medula espinal é um grande condutor de impulsos nervosos sensitivos e motores entre o cérebro e as demais regiões do corpo. Possui tratos orientados longitudinalmente (substância branca) circundando áreas centrais (substância cinzenta), onde a maioria dos corpos celulares dos neurônios espinais está localizada. Ao corte transversal, a substância cinzenta apresenta forma de H e pode ser subdividida em cornos anterior, lateral e posterior. No corno anterior , estão situados os corpos celulares dos neurônios motores e visceromotores (aferentes); no corno posterior , os neurônios sensitivos (aferentes); no corno lateral , os neurônios do sistema simpático . As fibras motoras oriundas do corno anterior juntam-se às fibras sensitivas do corno posterior para formar o nervo espinal. Os tratos da substância branca constituem vias nervosas ascendentes e descendentes, que conduzem impulsos nervosos em direção ao cérebro e de várias partes do cérebro para o resto do corpo . Os tratos mais importantes, do ponto de vista clínico, são: 1. Fascículos grácil e cuneiforme . Localizados na porção posterior da medula espinal, entre o sulco mediano posterior e o posterolateral, conduzem impulsos proprioceptivos provenientes de músculos, tendões e articulações , impulsos de localização e discriminação táteis e sensações vibratórias , como as produzidas pelo cabo do diapasão colocado sobre um osso recoberto de pele. 2. Tratos corticospinal lateral e ventral . As vias piramidais transmitem o impulso motor para os motoneurônios do corno anterior pelo trato corticospinal lateral (que cruza para o lado oposto no bulbo) e pelo trato corticospinal ventral, que desce sem cruzar para o lado oposto, na parte anterior da medula espinal. Controlam a força motora e são testados por meio de contrações voluntárias ou involuntárias mediante estímulo doloroso. 3. Tratos espinocerebelares ventral e dorsal . Relacionados à propriocepção , conduzem impulsos ao cerebelo pela medula espinal. 4. Trato espinotalâmico lateral e ventral . Medeia os impulsos da sensibilidade dolorosa e da temperatura do lado contralateral . Também tem origem na coluna posterior, cruza para o lado oposto na comissura anterior e ascende pelo funículo lateral ao tálamo . Clinicamente, pode ser avaliado beliscando-se a pele ou por meio de estímulo com objetos pontiagudos, como agulha ou alfinete. 5. Trato espinocerebelar ventral : envia informações provenientes da periferia para o cerebelo. TRAUMA RAQUIMEDULAR (TRM) A lesão da medula espinal ocorre em cerca de 15 a 20% das fraturas da coluna vertebral, e a incidência desse tipo de lesão apresenta variações nos diferentes países. No Brasil, a prevalência de trauma raquimedular (TRM) é de 40 casos novos/ano/milhão de habitantes, ou seja, cerca de 6 a 8 mil casos novos por ano, sendo que destes 80% das vítimas são homens e 60% encontram-se entre 10 e 30 anos de idade, trata-se definitivamente de uma patologia de alto impacto socioeconômico no nosso país, e o custo para a sociedade por paciente permanece terrível. É uma lesão de qualquer causa externa na coluna vertebral, incluindo ou não a medula ou as raízes nervosas, em qualquer segmento (cervical, torácico ou lombossacral). A lesão ocorre com mais frequência no sexo masculino , na proporção de 4:1, na faixa etária entre 15 e 40 anos. Acidentes automobilísticos , quedas de alturas, acidentes por mergulho em água rasa e ferimentos por arma de fogo têm sido as principais causas de TRM . A localização anatômica da lesão está diretamente relacionada ao mecanismo do trauma, e cerca de dois terços das lesões medulares estão localizados no segmento cervical . Lesões da medula na região torácica ocorrem em 10% das fraturas desse segmento e em 4% das fraturas da coluna toracolombar. As fraturas-luxações da coluna cervical baixa (C3-C7) são mais comuns que as da coluna cervical alta (C1, C2), respondendo por 85% das fraturas cervicais . São as maiores responsáveis pelos traumas raquimedulares que podem deixar como sequela a tetraplegia e a dependência de ventilação mecânica. A história do trauma raquimedular pode ser dividida em agudo ou crônico e também em primário ou secundário. A lesão primária é ocasionada pela transferência da energia cinética para a substância da medula espinal, do rompimento dos axônios, de danos das células nervosas e da ruptura dos vasos sanguíneos. Durante as oito primeiras horas após o trauma ocorrem hemorragia e necrose na substância central da medula (cinzenta). Após isto temos a migração de células gliais e edema no local da lesão, com a cicatrização desta. A lesão secundária resulta da isquemia causada pela redução do fluxo sanguíneo para o segmento danificado. Esta redução pode ser causada por alteração do canal vertebral, hemorragia ou edema significativo. A cicatriz formada no local da lesão pelas células gliais leva à lesão crônica , pois esta não só inibe o crescimento axonal fisicamente como libera as substâncias que inibem o seu crescimento. FISIOPATOLOGIA A transferência de energia cinética para a medula espinal , o rompimento de axônios, a lesão de células nervosas e a rotura de vasos sanguíneos causam tanto a lesão primária na medula espinhal quanto seu estágio agudo (até oito horas após o trauma), ocorrendo hemorragia e necrose da substância cinzenta , seguidas de edema e hemorragia. Formam-se petéquias hemorrágicas na substância cinzenta , logo no primeiro minuto da LME, que se aglutinam na primeira hora, resultando em necrose central hemorrágica , condição que pode se estender para a substância branca nas quatro a oito horas seguintes, como consequência de redução geral do fluxo sanguíneono local da lesão . A seguir, células inflamatórias migram para o local da lesão , acompanhadas de proliferação de células da glia, e, em uma a quatro semanas, ocorre a formação de tecido cicatricial e de cistos no interior da medula espinal. A redução do fluxo sanguíneo para o segmento lesado da medula espinal pode, ainda, ser ocasionada por alterações do canal vertebral , hemorragia, edema ou diminuição da pressão sistêmica , que conduzem à lesão adicional, também denominada secundária . Tal redução do fluxo sanguíneo pode provocar a morte das células e dos axônios que não foram inicialmente lesados. A separação física dos tratos da medula espinal não costuma ocorrer nos traumatismos não penetrantes, tendo sido observada uma separação física dos axônios somente em alguns casos de ferimento por arma de fogo. A separação dos axônios é um processo gradual que ocorre no local da lesão após alguns dias do traumatismo , sendo o resultado de uma série de eventos patológicos relacionados à lesão da membrana celular e de suas proteínas , e não da separação física imediata do axônio. A interrupção da condução do estímulo nervoso logo após o trauma , provocada pela energia cinética da lesão, pode ser decorrente de despolarização imediata da membrana do axônio , associada à falha de sua repolarização , o que ocasiona perda de potássio . A isquemia do sistema nervoso central (SNC) é caracterizada por grande influxo de cálcio para as células . Ocorrem reações metabólicas , como falha das mitocôndrias e ativação de fosfolipases, proteases e adenosina trifosfatase, cujo resultado é a perda de energia e o colapso da membrana celular, que também é mediada pela produção de radicais livres e pela ativação das fosfolipases e lipases. A impossibilidade da célula em converter completamente o oxigênio em dióxido de carbono e água promove a formação de radicais livres, que resulta na peroxidação lipídica e na subsequente falha da membrana celular . CHOQUE MEDULAR O choque medular é definido como um estado de completa arreflexia da medula espinhal, que ocorre após traumatismo grave na medula , quando ocorre súbita despolarização axonal . Durante o choque medular, que pode ocorrer imediatamente após o traumatismo da medula espinhal, mesmo que a lesão medular não seja completa e permanente, o paciente apresenta ausência total da sensibilidade, dos movimentos e do reflexo bulbocavernoso, que está presente em condições normais. O retorno do reflexo bulbocavernoso indica o término do choque medular, permitindo então a determinação da lesão neurológica causada pelo trauma. CHOQUE NEUROGÊNICO Os pacientes com lesão medular podem apresentar, também, queda da pressão arterial, acompanhada de bradicardia , que caracteriza o denominado choque neurogênico. Nesses pacientes, a lesão das vias eferentes do sistema nervoso simpático medular e consequente vasodilatação dos vasos viscerais e das extremidades, associadas à perda do tônus simpático cardíaco , não permitem que o paciente consiga elevar a frequência cardíaca. Essa situação deve ser reconhecida e diferenciada do choque hipovolêmico , no qual a pressão arterial está diminuída e acompanhada de taquicardia. A reposição de líquidos deve ser evitada no choque neurogênico, para não sobrecarregar a volemia. AVALIAÇÃO CLÍNICA O atendimento do indivíduo no local do acidente é de grande importância para a avaliação inicial, o reconhecimento das lesões e a prevenção de lesões adicionais durante o seu resgate e transporte para o local onde deverá receber o atendimento definitivo. Devem ser sempre consideradas a presença de lesão da coluna vertebral e a manutenção da imobilização do paciente até que a lesão possa ser avaliada com segurança, por meio de radiografias e de outros exames complementares. A avaliação do paciente compreende a história, o exame físico, a análise neurológica e o estudo radiográfico. A história do trauma e as informações acerca do estado geral prévio do paciente são de grande utilidade para auxiliar no esclarecimento do mecanismo de trauma e de suas possíveis lesões associadas. A presença de traumatismo cranioencefálico, intoxicação alcoólica, lesões múltiplas e traumas da face e acima da clavícula aumenta a probabilidade da ocorrência de fratura da coluna vertebral . Portadores de fratura da coluna vertebral sem lesão neurológica apresentam dor local , que pode irradiar-se para os membros, e incapacidade funcional, acompanhada de espasmo da musculatura adjacente . Nos indivíduos com trauma medular , observam-se respiração diafragmática , perda da resposta ao estímulo doloroso, incapacidade de realizar movimentos voluntários nos membros, alterações do controle dos esfíncteres, priapismo e presença de reflexos patológicos (sinais de Babinski e Oppenheim), indicando lesão do neurônio motor superior . O exame neurológico consiste na avaliação da sensibilidade, da função motora e dos reflexos. A análise da sensibilidade é realizada no sentido craniocaudal, desde a região cervical, e envolve, também, a avaliação da sensibilidade quanto a variação de temperatura e dor, que são funções mediadas pelo trato espinotalâmico lateral, cujas fibras estão na porção anterolateral da medula espinal. O exame da vibração por meio de diapasão ou da posição espacial dos membros avalia as condições do trato posterior da medula espinal (funículos grácil e cuneiforme). Algumas regiões anatômicas têm relação com os dermátomos e importância semiológica, como os mamilos (T4), o processo xifóide (T7), o umbigo (T10), a região inguinal (T12 a L1) e a região perineal (S2, S3 e S4). O prognóstico de um trauma raquimedular geralmente só pode ser definido após as primeiras 24 horas, quando termina o chamado “choque medular”, período de arreflexia, paralisia motora e perda da sensibilidade. Após a saída do choque, deve-se examinar detalhadamente o paciente para se identificar o nível neurológico da lesão . Para isto, deve-se medir a sensibilidade e a motricidade do paciente
Compartilhar