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Gestão do banco de sangue Apresentação No Brasil, a hemoterapia é uma prática em saúde em constante evolução, assim como ocorre em vários outros países do mundo, até se tornar um serviço vital e privativo de especialistas. Atualmente, a Política Nacional de Sangue é normatizada por uma legislação que abrange a segurança dos doadores, receptores e profissionais que atuam nos serviços de hemoterapia. A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados busca garantir que o Brasil seja autossuficiente no setor da hemoterapia. Seguindo os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Sangue deverá ser desenvolvida por meio de uma rede nacional de serviços de hemoterapia, públicos e/ou privados, com ou sem fins lucrativos, de forma hierarquizada e integrada. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as características mais significativas do banco de sangue e as formas de organização do processo assistencial. Conhecerá, também, algumas ferramentas de gestão e planejamento utilizadas pelos gestores do bancos de sangue. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Especificar as características mais significativas do banco de sangue.• Identificar as formas de organização do processo assistencial.• Apresentar ferramentas de planejamento e gestão para o banco de sangue.• Infográfico A hemoterapia no Brasil passou por diversas mudanças até se tornar um serviço vital e privativo de especialistas. A atuação de alguns médicos pioneiros, a realização de eventos importantes, bem como a criação do Banco de Sangue São Paulo, na década de 1940, foram destaques científicos importantes para os primórdios da fase científica da hemoterapia no Brasil. Atualmente, a Política Nacional de Sangue é normatizada por uma legislação que abrange a segurança dos doadores, receptores e profissionais que atuam nos serviços de hemoterapia, entre outras considerações. Confira o Infográfico a seguir para entender mais sobre as transformações no cenário de hemoterapia por meio da descrição da evolução histórica da implantação dos bancos de sangue no Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/3693a69e-a8ec-493c-b06f-2b11b7953282/6333a43b-1df8-4485-af58-348757a2d209.png Conteúdo do livro Os bancos de sangue, ou hemocentros, são locais de processamento de sangue e hemocomponentes, desde a coleta do doador até a transfusão em um receptor. No entanto, devido ao alto índice de doenças infecciosas transmitidas pelo sangue, os hemocentros necessitam manter a segurança dos processos por meio de um planejamento organizacional adequado, que garanta a segurança do doador e do receptor e a biossegurança do profissional de saúde. No capítulo Gestão do banco de sangue, da obra Gestão de serviços de saúde, você conhecerá as principais características de um banco de sangue, sua forma de organização e as algumas ferramentas de gestão e planejamento utilizadas nesses serviços. A transfusão sanguínea, quando indicada adequadamente, é uma prática primordial para o atendimento a pacientes em condições clínicas que não podem ser tratados com outras tecnologias de saúde. Por isso, os hemocentros tornaram-se serviços de muita importância para a saúde da população. Boa leitura. GESTÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE Gésica Graziela Julião Gestão do banco de sangue Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você será capaz de: Especificar as características mais significativas do banco de sangue. Identificar as formas de organização do processo assistencial. Apresentar ferramentas de planejamento e gestão para o banco de sangue. Introdução Na década de 1980, era comum a oferta de remuneração para doado- res de sangue no Brasil. Essa prática era realizada a fim de incentivar as pessoas a doarem e, assim, conseguir manter um bom suprimento de sangue e seus componentes nos hemocentros. Porém, com o advento das infecções sexualmente transmissíveis, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vetou a prática de pagamento por doação a fim de evitar a propagação de doenças infecciosas transmitidas pelo sangue. A partir de então, o recrutamento de doadores de sangue para manter os estoques dos hemocentros ficou a cargo da iniciativa pública. Nessa época, criou-se a campanha de reposição do estoque, ou seja, o paciente recruta familiares e amigos para que doem sangue e reponham o es- toque de hemocomponentes utilizado. Contudo, diversos fatores ainda dificultam a manutenção dos suprimentos adequados nos hemocentros. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o banco de sangue é o local onde o sangue é coletado e armazenado de maneira adequada, a fim de preservar suas propriedades e garantir uma transfusão segura, enquanto a agência transfusional é o local destinado à realização de todas as etapas que envolvem a transfusão de sangue, como testar a compatibilidade entre doador e receptor, transfundir o sangue e/ou hemocomponentes e observar o receptor após a transfusão para iden- tificação e ação imediata em caso de algum evento adverso. Neste capítulo, você vai conhecer as principais características do banco de sangue, sua forma de organização assistencial e as ferramentas de gestão e planejamento utilizadas. 1 Características dos bancos de sangue Os hemocentros são unidades responsáveis pelo fornecimento do sangue e he- mocomponentes para os hospitais. Essas unidades podem ser classifi cadas em Hemocentro Coordenador, Hemocentro Regional, Núcleo de Hemoterapia, Unidade de Coleta e Transfusão, Unidade de Coleta, Central de Triagem Laboratorial de Doadores e Agência Transfusional segundo a RDC nº. 151, de 2001 (BRASIL, 2001). De acordo com a organização do sistema de saúde brasileiro, a gestão pública da hemoterapia deve ser uma parceria entre os estados e municípios. A gestão municipal, por sua vez, é responsável pela captação dos recursos humanos, pela implantação e pela manutenção dos hemocentros em seus municípios. A partir do sangue, são originados diversos componentes, tais como con- centrado de hemácias, plaquetas e plasma. Cada um desses componentes possui prazos de validade e cuidados de armazenamento variáveis, o que exige uma complexa estrutura, desde a captação de doadores até a distribuição e a armazenagem de curto prazo, motivo pelo qual seus estoques precisam ser renovados continuamente. Contudo, de acordo com o Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 2014a), da população entre 16 e 69 anos, apenas 1,8% pode ser considerado doador — lembrando que a Organização Mundial da Saúde considera uma média entre 1 a 3% nessa população. A captação de doadores está relacionada à convocação da população para doação de sangue, em determinado momento, de forma voluntária, uma vez que a fidelização do doador, muitas vezes, depende de um trabalho de educação em saúde que desenvolva mudança de hábitos e valores. Os doadores precisam pesar mais de 50 quilos e estar sadios para a doação — febre, gripe, diarreia recente, além de grávidas e puérperas são condições temporárias de impedimento. O procedimento de coleta é simples, rápido e livre de contaminação, uma vez que não se utiliza material reutilizado. Os locais de doação e coleta são conhecidos como serviços de hemoterapia ou hemocentros e podem ser públicos, privados ou conveniados. Eventualmente, as coletas podem Gestão do banco de sangue2 ser realizadas em unidades provisórias, como as unidades móveis, para atender a demanda de alguma localidade ou uma campanha e/ou evento (BRASIL, 2014). Os hemocomponentes são criados a partir da centrifugação das bolsas de sangue total, destinadas ao uso em pacientes ou encaminhadas a processo de fabricação farmacêutica para fracionamento de proteínas de valor terapêutico. O sangue é colhido à temperatura corporal, ou seja, aproximadamente 37°C,e armazenado em bolsas plásticas com sistema fechado e estéril (Figura 1). No entanto, com o objetivo de manter as suas propriedades biológicas em condi- ções extracorpóreas, são realizados métodos de resfriamento e manutenção de temperaturas adequadas a fim de manter suas propriedades terapêuticas, evitar risco de contaminação microbiana e deterioração até o momento da transfusão (SALLES et al., 2003). Figura 1. Armazenamento e acondicionamento do sangue e hemocomponentes. Fonte: Para... (2017, documento on-line). A RDC nº. 34, de 11 de junho de 2014, que estabelece os requisitos de boas práticas para os hemocentros com o objetivo de garantir a qualidade dos processos e produtos, a redução dos riscos sanitários e a segurança nas transfusões sanguíneas orienta que (BRASL, 2014a): esses serviços devem manter um profissional médico com especialidade em hematologia como responsável técnico; as atividades que envolvem o processo de coleta, armazenagem, distribuição, entre outras, devem ser realizadas por profissional capacitado para esse fim; 3Gestão do banco de sangue a estrutura física deve atender as necessidades de fluxos de atendimento, contendo equipamentos que garantam a biossegurança do trabalhador e do doador/receptor e processos definidos com relação à segurança do serviço e ao gerenciamento de resíduos; a iluminação e a climatização também devem estar adequadas para proporcionar um ambiente acolhedor e o desenvolvimento seguro das práticas dos profissionais. A mesma resolução preconiza que todos os insumos utilizados na coleta e processamento do sangue devem ser autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e orienta que os serviços de hemoterapia formulem um protocolo de captação de doadores, salientando que a doação deve ser voluntária e anônima. Apesar disso, todos os doadores deverão ter um registro no serviço com um mecanismo de identificação próprio para eventuais impedimentos de doação ou necessidade de orientação médica. 2 Formas de organização do processo assistencial A RDC nº. 34, de 2014, determina que todas as atividades e/ou procedimentos executados nos hemocentros devem ser registrados e documentados (BRASIL, 2014a). Unidades com sistema informatizado devem garantir a inviolabilidade e confi abilidade do sistema. Antes da coleta, o profi ssional de nível superior deve realizar uma entrevista com o candidato a doação, a fi m de identifi car histórico prévio de saúde, hábitos e estilo de vida que podem impedir a doação. Nesse momento, o profi ssional deve informar que serão realizados testes laboratoriais para triagem de doenças infecciosas que são transmitidas pelo sangue e orientar o doador sobre os possíveis desconfortos após a doação e os devidos cuidados a serem tomados em cada situação. Essa entrevista deve ser realizada em sala específi ca, que garanta a privacidade do sujeito e de suas informações. Ao término dessa etapa, o doador deve assinar o termo de consentimento concordando com a doação e assumindo a responsabilidade pelas informações prestadas. A partir daí, inicia-se a coleta, que, apesar de ser a fase indispensável do processo de doação de sangue, é uma das mais rápidas. Nela, são colhidas algumas amostras do sangue, as quais são armazenadas em tubos de ensaio Gestão do banco de sangue4 para a realização de exames e, em seguida, a retirada do sangue para uma bolsa. O MS determina requisitos a serem seguidos com relação à seleção de doadores, como o limite de 60 anos para a primeira doação e o respeito aos limites mínimo (16 anos) e máximo (69 anos), com necessidade de avaliação médica prévia para as exceções. Preconiza-se, ainda, que os cuidados com a assepsia devem ser rigorosamente seguidos durante a coleta e o manejo do sangue e que, após o procedimento, o serviço deve disponibilizar hidratação, um lanche leve ao doador e orientá-lo para que permaneça alguns minutos em observação antes de liberá-lo (BRASIL, 2014a). Em caso de algum evento adverso apresentado pelo doador, o serviço pre- cisa disponibilizar materiais e equipamentos de suporte adequado, bem como presença do médico responsável durante todo o período de funcionamento do serviço (BRASIL, 2012). Da mesma forma, nos casos em que se comprovar inaptidão definitiva ou temporária para a doação, o hemocentro deve dispor de formas para acionar o paciente, esclarecer suas dúvidas, repetir e confirmar os testes realizados, encaminhá-lo para o serviço de referência adequado e notificar a vigilância em saúde sobre os casos confirmados de infecções transmitidas pelo sangue, respeitando o sigilo às informações. A transfusão de sangue é uma forma de tratamento em saúde que pode salvar vidas. Por isso, os pacientes que necessitam dessa terapêutica devem ter assegurados os seus direitos de receber material livre de contaminação e adequados à utilização, sejam eles sangue total, componentes sanguíneos e produtos medicinais derivados do plasma — a transfusão deve ser apropriada às necessidades do paciente e admi- nistrada corretamente. Considera-se hemoterapia todo o processo de transfusão do sangue e seus componentes, desde a atração dos doadores até a administração ao receptor e, ainda, a hemovigilância, após o procedimento, com o objetivo de garantir a qualidade do procedimento, uma vez que o receptor não está isento de eventuais riscos. Entre os fatores considerados de risco na hemoterapia, estão ocorrências leves até o óbito. Em nosso país, no ano de 2014, foram registrados mais de mil casos de eventos adversos relacionados à transfusão de sangue (BRASIL, 2016b). Assim, o profissional e o paciente devem ter em mente que o processo transfu- sional somente deve ser realizado se os benefícios do ponto de vista do receptor superarem os possíveis riscos. 5Gestão do banco de sangue Para desenvolver as atividades referentes ao ciclo produtivo do sangue, os hemocentros devem possuir licença sanitária, que deve ser renovada anual- mente pelo órgão de vigilância sanitária competente no município ou na região. Entre as exigências para a liberação da licença sanitária, estão: responsabilidade técnica do serviço, que deve ser realizado por um médico especialista em hemoterapia ou hematologia; equipe assistencial e de apoio capacitada e em número suficiente para a demanda do serviço; estrutura e ambientes que atendam às normas de biossegurança do profissional, do usuário e do gerenciamento de resíduos; manutenção de protocolos operacionais atualizados. Os resultados gerados por um serviço de saúde estão diretamente relacionados à estrutura e à organização dos processos realizados por esse serviço, uma vez que uma estrutura adequada amplia a possibilidade de desenvolver processos com maior qualidade e, por sua vez, um bom processo favorece o alcance de melhores resultados. Com relação aos hemocentros, a estrutura diz respeito aos recursos materiais, humanos, ambientes, equipamentos e tecnologias utilizados na produção de hemocomponentes. Já os processos estão relacionados a todas as atividades que envolvem captação, avaliação, coleta, armazenamento, distri- buição e transfusão do sangue e seus componentes (BRASIL, 2016b). A estrutura deve favorecer a realização de um fluxo adequado dos profis- sionais, dos usuários e dos prestadores de serviço, de forma a não prejudicar a assistência e comprometer a qualidade do produto — neste caso, o sangue e seus componentes. O serviço deve contar com sala de recepção, sala de triagem individual, sala de coleta (Figura 2), sala de recuperação, sala de processamento de processamento de sangue, sala de estoque de hemocomponentes, sala de transfusão, lanchonete ou copa, sanitários, almoxarifado, sala de depósito para materiais de limpeza, sala para depósito de resíduos, sala administrativa, sala de reuniões, entre outros ambientes que cada hemocentro julgar necessários. Os ambientes dos hemocentros devem possuiriluminação, ventilação e acabamentos que possibilitem a realização das atividades assistenciais, ad- ministrativas, de higienização e manutenção adequadas, a fim de minimizar a ocorrência de erros e a insegurança para os envolvidos nas atividades. É imprescindível que um serviço de saúde garanta sua integridade diante de alterações no clima, de utilização de produtos de limpeza e de possíveis problemas elétricos ou hidráulicos e que mantenha protocolos para o controle de pragas (BRASIL, 2013). Gestão do banco de sangue6 Figura 2. Sala de coleta de sangue de um hemocentro. Fonte: Hemogo (2019, documento on-line). A equipe deve ser multiprofissional, composta por profissionais de nível médio e superior, de preferência com especialização na área de hematologia. Entre os cargos, estão aqueles com função administrativa e técnico-assistencial. Minima- mente, a equipe deve ser composta por recepcionista, técnico de enfermagem, enfermeiro, médico e profissional para higienização, mas pode contar, também, com assistente social, psicólogo, técnico em laboratório ou outros (BRASIL, 2013). Nesses serviços, a qualidade do produto final é proveniente de uma rede composta por estrutura, processos e pessoas; ou seja, a captação do doador, os pro- cedimentos realizados com ele e com o sangue até a disponibilização e o transporte do produto são pontos relevantes para a composição de uma hemorrede eficaz. Diante disso, cabe salientar que um dos pontos críticos da assistência e da organização do serviço de hemoterapia é o transporte dos hemocomponentes de forma segura e que mantenha a qualidade, uma vez que falhas nesse processo po- dem resultar em produtos biológicos que comprometerão a terapêutica do receptor, além, ainda, do risco de infecção do profissional que está fazendo o transporte ou de contaminação do ambiente em caso de acidente com o material, como quebra ou vazamento. A ANVISA orienta o transporte de sangue e seus componentes através da RDC nº. 20 e da Portaria nº. 370, ambas de 2014 (BRASIL, 2014b; 2014c). As amostras transportadas devem estar acompanhadas de documento confec- cionado por um profissional habilitado contendo informações como identificação do profissional e da instituição remetente, do material, de sua quantidade, do tipo de acondicionamento, data e assinatura. Essas são orientações gerais a todos os transportes, mas existem orientações específicas a serem seguidas de acordo com o meio utilizado — terrestre, aéreo, ferroviário ou aquático (BRASIL, 2016a). 7Gestão do banco de sangue 3 Ferramentas de gestão e planejamento para o banco de sangue Para garantir o suprimento adequado do banco de sangue, é necessário re- alizar um planejamento de estoque por meio de processos bem defi nidos e considerando a previsão de demanda. Os sistemas de informação são bons instrumentos de apoio à gestão, permitindo a geração de relatórios periódicos dos estoques e a sua utilização (FERREIRA; CARMO; OLIVEIRA, 2019). Essas informações são úteis para a tomada de decisão, principalmente sobre a realização de campanhas de chamamento de doadores, para otimizar a disponibilidade dos hemocomponentes e evitar o desperdício de produtos. Para executar suas atividades de forma eficiente e eficaz, e dentro dos parâ- metros preconizados pelo MS, o gestor deve projetar a necessidade de sangue e seus componentes e, assim, organizar seus serviços de forma adequada. A partir do conhecimento da necessidade de hemocomponentes da sua área de atuação, o gestor é capaz de prever os recursos financeiros, materiais, humanos e a quan- tidade de doadores necessários para atender a sua demanda (BRASIL, 2014d). Sabendo que os hemocomponentes têm um tempo de validade curto, contar com um recurso que auxilia e orienta com relação ao estoque é importante para que os hemocentros cumpram sua função social na comunidade. O sistema informatizado, enquanto ferramenta de gestão, fornece informações sobre o estoque mínimo e máximo conforme os períodos anteriores; assim, o gestor consegue gerenciar a coleta dos doadores, que geralmente são escassos. Outro instrumento necessário ao gestor desses serviços é um sistema de gestão de qualidade que defina a estrutura organizacional, as responsabilida- des, os protocolos operacionais padrão (POP) de processos e procedimentos, as medidas promotoras de saúde, preventivas e corretivas de falhas, além da qualidade dos insumos e fornecedores (ALVES et al., 2004). Cabe ao gestor dos hemocentros manter os POPs atualizados e garantir que todas as atividades de assistência ao paciente, manuseio dos hemocomponen- tes, bem como gerenciamento de resíduos e limpeza da área física, estejam de acordo com o preconizado pela legislação vigente — uma cópia dos POPs deve ser deixada de fácil acesso para manuseio da equipe. As capacitações dos profissionais com relação a eles devem ser realizadas de forma contínua e permanente como uma estratégia de gerenciamento eficaz para manter a equipe coesa e prezar pela qualidade da assistência. Assim como os demais serviços de saúde, os hemocentros devem ter um plano de gerenciamento de resíduos que considere a geração, a separação, o armazenamento, o transporte, o tratamento e a disposição final dos resíduos Gestão do banco de sangue8 produzidos no serviço. Quando esses forem tratados internamente, é necessário possuir uma área adequada e específica para o manuseio desses resíduos e que desenvolva procedimentos válidos conforme orientação da ANVISA. Além disso, quando os resíduos forem tratados por uma empresa terceirizada, essa empresa deve estar regularizada junto aos órgãos de vigilância ambiental (SALLES et al., 2003). Como vimos, o sangue é um elemento essencial para salvar vidas e me- lhorar a saúde da população. Por isso, reconhece-se seu valor socioeconômico a partir do entendimento de que sua obtenção só é possível mediante doação voluntária, que exige dos serviços uma organização adequada para educar a população e incentivá-la em momento oportuno para a promoção da doação de sangue. A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que os países criem e instituam políticas com o objetivo de garantir a segurança, a qualidade, a acessibilidade e a disponibilidade adequada de sangue e hemocomponentes (SEVERO; SANTOS, 2018). O MS, por sua vez, deve proporcionar uma rede de hemocentros integrados ao sistema de saúde brasileiro. A hemorrede pública tem importância social no cenário de saúde do Brasil, pois tem como objetivo a segurança do doador e do receptor, a qualidade do processo transfusional e a garantia da destinação final correta dos hemocomponentes não utilizados por pacientes ou pela indústria farmacêutica (BRASIL, 2014a). A rede de hemocentros públicos no Brasil tem evoluído significativamente com relação à qualidade dos processos de coleta, armazenagem e distribuição do sangue e hemocomponentes, buscando garantir a segurança necessária antes, durante e após a transfusão. Os avanços técnico-científicos contribuem para esse avanço, mas ainda existe um déficit de doadores (BRASIL, 2014c). Por esse motivo, os gestores devem focar em campanhas de conscientização e educação e convocação de doadores cadastrados nos serviços. O cenário atual é preocupante, uma vez que, no século XXI, o ato de doar sangue permanece como um tabu para muitas pessoas embora seja essencial à vida e não tenhamos substitutos para ele. Por isso, apesar dos avanços tec- nológicos e das políticas públicas, sem a participação ativa da população, não é possível realizar um bom gerenciamento dos hemocentros. O acesso ao sangue e aos seus hemocomponentes é uma questão de equidade, responsabilidade social, justiça e humanismo (BRASIL, 2014a). A gestão dos hemocentros, quando bem organizada, tem potencial para otimizar o uso dos insumos e dos produtos, garantir sua disponibilidade e reduzir perdas e custos indesejáveis, agregando segurança e qualidade aos processos. 9Gestão do banco desangue ALVES, F. S. et al. Estratégias no planejamento da produção em um banco de sangue. In: ENEGEP, 24., 2004. Anais [...]. Florianópolis, 2004. Disponível em: http://www.abepro. org.br/biblioteca/ENEGEP2004_Enegep0703_0161.pdf. Acesso em: 26 fev. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de Vigi- lância Sanitária para o transporte de sangue e componentes no âmbito da hemoterapia. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 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Proposta de um sistema de infor- mação para a gestão de inventário e o direcionamento das campanhas de coleta de sangue. Gestão & Produção, v. 26, n. 2, jun. 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X2019000200219. Acesso em: 26 fev. 2020. HEMOGO. Poltronas de coleta do hemocentro são reformadas. Goiânia: Hemogo, 2019. Disponível em: http://hemocentro.org.br/principal.asp?edoc=conteudo&secaoid=41 6&subsecaoid=416&conteudoid=8047. Acesso em: 26 fev. 2020. PARA salvar mais vidas é preciso aumentar número de doadores de sangue. Jornal do Oeste, jun. 2017. Disponível em: https://www.jornaldooeste.com.br/noticia/para- -salvar-mais-vidas-e-preciso-aumentar-numero-de-doadores-de-sangue. Acesso em: 26 fev. 2020. SALLES, N. A. et al. Descarte de bolsas de sangue e prevalência de doenças infecciosas em doadores de sangue da Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo. Revista Panamericana de Salud Publica, v. 13, n. 2/3, 2003. 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Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 11Gestão do banco de sangue Dica do professor A segurança e a eficácia do processo de transporte de sangue e de seus componentes somente serão alcançadas se o remetente, o transportador, o destinatário e os demais envolvidos agirem com responsabilidade. As orientações para o transporte de materiais biológicos são provenientes das Recomendações do Comitê de Especialistas das Nações Unidas para o Transporte de Materiais Perigosos, com o objetivo de garantir a segurança dos trabalhadores e da comunidade ante o risco biológico presente durante o processo de transporte e da exposição a qualquer agente infeccioso vinculado à carga transportada. Nesta Dica do Professor, conheça um pouco mais sobre o processo de transporte de sangue. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/2dbdeda8296ee0edbeb90fac8600b0e8 Na prática Atualmente, com a constante inovação tecnológica, os gestores dos diferentes serviços de saúde precisam estar atentos e saber utilizar esses recursos para melhorar a performance de seus estabelecimentos. Já existem alguns aplicativos que buscam o engajamento dos doadores no processo de doação de sangue. Esses softwares visam à aproximação do doador aos hemocentros. O modelo para dispositivos móveis está direcionado aos doadores, enquanto o modelo Web está direcionado aos hemocentros para a manutenção dos bancos de sangue. Confira, Na Prática, um exemplo de aplicativo utilizado como ferramenta de gestão visando a um bom estoque de sangue em um hemocentro. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Percepção dos enfermeiros quanto à assistência de enfermagem no processo transfusional Este artigo buscou conhecer a percepção dos enfermeiros quanto à assistência de enfermagem no processo transfusional. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Custo financeiro dos descartes de sangue total e hemocomponentes em um hemocentro coordenador brasileiro Este artigo descreve os motivos de descarte de sangue no Hemocentro Coordenador do Estado do Paraná e estima os custos financeiros decorrentes de descartes potencialmente evitáveis. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/1509 https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20190033
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