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Biodiversidade e biopirataria Apresentação A biotecnologia é onipresente no dia a dia, desde o alimento e a roupa que se veste, até o medicamento que se consome. De alguma maneira, direta ou indiretamente, tudo isso é provido graças à diversidade de recursos biológicos oriundos da natureza. Infelizmente, algumas vezes, a biotecnologia é usada a favor de interesses econômicos privados, acabando por nos afetar negativamente. A biopirataria é uma palavra relativamente nova para uma prática antiga, a qual tem chamado mais atenção nas últimas décadas devido a suas danosas consequências à biodiversidade mundial. Os agentes envolvidos com a biopirataria muitas vezes fazem uso da biotecnologia, de modo a possibilitar a sua prática. Nesta Unidade de Aprendizagem, você compreenderá algumas maneiras de como o eixo de relação entre biotecnologia, biodiversidade e biopirataria pode afetar muitas vidas. Ainda, entenderá melhor tudo que envolve os conceitos de biodiversidade e biopirataria, além de verificar de que maneira eles estão relacionados à biotecnologia. Por fim, conhecerá alguns meios legais, além de instituições existentes, que visam à proteção da biodiversidade, prevenindo a prática da biopirataria. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar biodiversidade e biopirataria.• Relacionar biodiversidade, biopirataria e biotecnologia.• Explicar a relação entre biopirataria e proteção da biodiversidade.• Infográfico A biotecnologia possibilita a identificação de processos que condicionam o desenvolvimento industrial em diversos setores, como: agricultura, pecuária, alimentação, saúde e meio ambiente. Ao mesmo tempo, ela também pode contribuir com investimentos em tecnologias, de modo a frear o processo de extinção de espécies, preservando, assim, a biodiversidade. Por outro lado, o avanço da biotecnologia e a facilidade de registrar marcas e patentes em âmbito internacional têm provocado um aumento na biopirataria mundial. O Brasil é um país riquíssimo em biodiversidade, a saber pela sua grande variedade de biomas. Essa grandeza em biodiversidade, infelizmente, atrai a biopirataria de maneira intensa. Neste Infográfico, você vai visualizar de que maneira a biotecnologia, como tema central, se relaciona à biodiversidade e à biopirataria. Por meio de exemplos você vai ver que os três conceitos se interrelacionam a todo momento. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/dba64168-da9a-4fd9-aae2-8971bda9dd95/2dd40f0f-c993-4e3e-9080-7ac4c74c4b92.png Conteúdo do livro A biodiversidade mundial tem sido alvo de grande interesse econômico por parte de grandes nações internacionais. Esta intensa busca por lucros contribui para uma constante e grave ameaça de recursos biológicos mundiais — a biopirataria. O avanço desenfreado da biotecnologia muitas vezes acaba por reforçar essa prática exploratória. No capítulo Biodiversidade e biopirataria, da obra Biotecnologia, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a inter-relação entre as palavras biopirataria, biodiversidade e biotecnologia. Boa leitura. BIOETECNOLOGIA Juliana Oliveira Rangel Biodiversidade e biopirataria Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar biodiversidade e biopirataria. Relacionar biodiversidade, biopirataria e biotecnologia. Explicar a relação entre biopirataria e proteção da biodiversidade. Introdução A biodiversidade constitui um dos bens mais valiosos de uma nação e, por isso, sempre foi alvo de ganância. Tamanha é a sua relevância que a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 2010, ano in- ternacional da biodiversidade, um plano estratégico para a década 2011-2020. O Brasil é referência mundial nas variedades biológicas, possuindo cerca de um terço de florestas tropicais que ainda restam no mundo e uma das maiores reservas de água doce. Em decorrência dessa riqueza na biodiversidade, existe uma constante e preocupante ameaça exploratória de recursos biológicos, a biopirataria. Com o avanço da biotecnologia e a possibilidade de manipulação genética, diversos compostos derivados de plantas silvestres, ou mesmo de espécies animais, têm sido considerados alvos de lucros por parte de algumas empresas nacionais e internacionais. Neste capítulo, você vai estudar a inter-relação entre os termos biopirataria-biodiversidade-biotecnologia. Também vai conhecer as diversas maneiras como a biopirataria pode afetar a biodiversidade mundial, e vai compreender a associação desses elementos com a biotecnologia. Conceitos de biodiversidade e biopirataria Biodiversidade O artigo 2º da lei nº. 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional da Unidades da Conservação da natureza (SNUC), defi ne a biodiversidade, ou diversi- dade biológica, como: “[...] a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies entre espécies e de ecossistemas” (BRASIL, 2000, documento on-line). De maneira mais sucinta, a WWF Brasil, respeitada organização brasileira dedicada à conservação da natureza, defi ne a biodiversidade como a riqueza e a variedade do mundo natural. Em outras palavras, os termos biodiversidade e diversidade biológica abrangem todas as formas de vida existentes na Terra, sejam elas macro ou microscópicas (WWF BRASIL, 2018). É possível quantificar a biodiversidade por meio de um modelo matemático chamado "medidas de riqueza", que estima o número de espécies presentes em uma comunidade. Essas espécies compreendem as plantas, animais e micro- -organismos, e também considera toda a diversidade genética existente entre elas. Somada à diversidade genética, ainda é preciso considerar a infinidade de habitats e ecossistemas existentes, que interferem diretamente na biodi- versidade (AMAZON LINK, 2018; BARBOSA, 2001). Assim, você percebe que a diversidade biológica está em todo lugar: nos desertos e savanas, nas tundras congeladas ou mesmo em fontes de água sulfurosas. A Amazônia constitui uma das maiores fontes de biodiversi- dade mundial, justificado em parte pela infinidade de plantas, base de todos os ecossistemas. Essa exuberante vegetação floresce com mais intensidade devido ao clima quente e úmido, característico dos trópicos. Na Figura 1 se verificam os hotspots da biodiversidade, áreas com grande biodiversidade, ricas principalmente em espécies nativas. É possível notar que os ecossistemas tropicais são os que concentram a maior biodiversidade, e assim acabam por atrair altos graus de ameaça (AMAZON LINK, 2018). Biodiversidade e biopirataria2 Figura 1. Hotspots da biodiversidade no mundo. Fonte: Nature Publishing Group apud Myers et al. (2000). De maneira geral, considera-se que Brasil, Colômbia, Venezuela, México, Equador e Peru são os países da América Latina mais ricos em biodiversidade. Nos outros continentes, destacam-se: Zaire e Madagascar (África); China, Índia, Malásia e Indonésia (Ásia) e a Austrália, na Oceania. Surpreenden- temente, das milhões de espécies no mundo, apenas cerca da metade foi identificada. Na Figura 2 é possível dimensionar a quantidade de espécies nacionais não identificadas comparada com os dados mundiais. Percebe-se que no Brasil, até o momento, apenas cerca de 1,7 milhão foram identificadas, e isso demonstra o longo caminho que ainda há pela frente (VALOIS, 1998; WWF BRASIL, 2018). Toda essa biodiversidade pode ser importante para a saúde humana, uma vez que ela pode fornecer enorme variedade relativa a alimentos essenciais. Além disso, fornece matéria-prima para a fabricação de medicamentos e grande parte da matéria-prima industrial consumidapelo ser humano (BRUNO, 2015; BARBOSA, 2001). 3Biodiversidade e biopirataria Figura 2. A biodiversidade no Brasil e no mundo. Fonte: Adaptada de Gestão Ambiental UFSM (2012, documento on-line). Biopirataria Atualmente, a biodiversidade mundial tem sofrido graves ameaças, com a importante redução no número de organismos específi cos e até mesmo a ex- tinção de espécies. A biopirataria fi gura entre as inúmeras causas para essas perdas inestimáveis que vêm ocorrendo em ritmo acelerado. A biopirataria é defi nida como a exploração ou apropriação ilegal de recursos da fauna e da fl ora e do conhecimento das comunidades tradicionais. O conceito de biopirataria surgiu em 1992, nos documentos da Convenção Sobre Diversidade Biológica, apresentada durante a Eco92, no Rio de Janeiro (VALÉRIO et al., 2010). Entre os pontos fundamentais definidos nessa convenção destaca-se o re- conhecimento dos direitos soberanos dos Estados sobre seus próprios recursos genéticos, oriundos da biodiversidade. Um dos grandes desafios enfrentados pelo Brasil e por outros países ricos em biodiversidade é garantir que esses princípios sejam respeitados. O Brasil carece de uma legislação eficiente que regule e fisca- lize o acesso a esses recursos biológicos, o que acaba facilitando sua exploração econômica. Isso acarreta a obtenção desses produtos de maneira ilegal, ou seja, por meio da biopirataria (AMAZON LINK, 2018; VALÉRIO et al., 2010). Biodiversidade e biopirataria4 É comum associar a biopirataria às grandes indústrias farmacêuticas. Tal fato tem suscitado intensos debates acerca da apropriação indevida de conhecimentos de propriedades terapêuticas de produtos da fauna e da flora locais, ou de seus princípios ativos utilizados para a confecção de medica- mentos. Essa posse de recursos biológicos geralmente envolve comunidades de agricultores, indígenas e quilombolas, que são explorados por indivíduos ou por instituições que procuram o controle exclusivo sobre esses recursos e conhecimentos (VALÉRIO et al., 2010). A estimativa é de que existam mais de 100 milhões de espécies diferentes no mundo. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta devido à diversidade de biomas, que reflete a enorme riqueza de fauna e flora brasileiras (Figura 3). O grupo de animais com maior diversidade de espécies é o dos invertebrados, sendo que mais da metade dos animais já identificados pertence a esse grupo. Figura 3. Biomas brasileiros. Fonte: Magalhães (2018, documento on-line). 5Biodiversidade e biopirataria A relação entre biodiversidade, biopirataria e biotecnologia A biotecnologia compreende uma ampla área de conhecimento interdisciplinar. Está presente de maneira constante no cotidiano, impactando direta e indire- tamente a nossa vida. Para o profi ssional da saúde é essencial entender de que maneira se dá esse impacto, de modo a aplicar esse conhecimento na solução de problemas referentes à saúde humana ou ambiental. Segundo Bruno (2015), a biotecnologia é defi nida como um conjunto de conhecimentos que permite a utilização de agentes biológicos para obter bens ou assegurar serviços. O problema é que a utilização da biotecnologia nem sempre trabalha a favor da natureza, mas, muitas vezes, em benefício do lucro individual. A biotecnologia visa à saúde humana, animal ou ambiental por meio dos seguintes aspectos: obtenção ou modificação de produtos; melhoramento de plantas e animais; desenvolvimento de micro-organismos para usos específicos; modificação e desenvolvimento de novos processos industriais. A aplicação desses processos geralmente envolve grandes empresas de biotecno- logia, assim como da indústria farmacêutica. Em relação à biodiversidade, a biotecnologia apresenta duas faces dis- tintas. Por um lado, a maioria das descobertas na área biomédica acerca das diferentes espécies de plantas e animais, deu-se graças à intensa investigação da biologia e genética. Técnicas in vitro e bancos de DNA, por exemplo, são ferramentas valiosas para a conservação da biodiversidade de plan- tas. Os cientistas procuram maneiras de desenvolver novas variedades de melhor rendimento e alta qualidade que possam resistir a doenças, pragas em constante evolução e estresses ambientais. De outro lado, o avanço da biotecnologia junto à facilidade de se registrar marcas e patentes em âmbito internacional, tem possibilitado o aumento da exploração de re- cursos biológicos. Por exemplo, a engenharia genética — importante ramo Biodiversidade e biopirataria6 biotecnológico — tem propiciado uma maneira fácil de evitar mecanismos de vigilância e segurança. Bastam algumas células para se reproduzir uma espécie, dificultando sua detecção no transporte, em função do reduzido tamanho da amostra (BRUNO, 2015; BARBOSA, 2001). O banco de DNA é um exemplo prático de como a biotecnologia pode agir em benefício da biodiversidade. Esse banco constitui um método eficiente, simples e de longo prazo usado na conservação de recursos genéticos para a manutenção da diversidade biológica. Requer apenas pequeno tamanho da amostra para armazenamento e mantém a natureza estável do DNA no armazenamento a frio. Os usos podem ser bem variados, mas pode-se citar entre os mais comuns estudos de filogenia molecular, de variabilidade populacional e, mais recentemente, aplicação de técnicas de identificação de espécimes através de DNA. Dentro dessa perspectiva, bancos de DNA têm um grande potencial em longo prazo, por exemplo, para biopros- pecção de genes de interesse biotecnológico, médico ou farmacêutico. A possibilidade de driblar a vigilância por meio da biotecnologia, somada à incipiente legislação no ramo da biopirataria, acaba por favorecer a explo- ração e comercialização da biodiversidade mundial. O termo "biopirataria" não se refere apenas ao contrabando de diversas espécies de plantas e ani- mais. A apropriação e monopolização dos conhecimentos das populações locais onde se concentram os recursos biológicos, também é considerada biopirataria. Além disso, o patrimônio genético tem se constituído outro alvo. Esse patrimônio se refere a toda informação de origem genética, contida em amostras de espécies vegetais, fúngicas, microbianas ou animais, seja na forma de moléculas ou qualquer substância derivada do metabolismo desses organismos. No Brasil, evitar a biopirataria é um trabalho árduo. Ela ocasiona tristes consequências como o desmatamento florestal, exploração da madeira e a sumiço da fauna local. As populações locais, como quilom- bolas e indígenas, vêm perdendo o controle sobre esses recursos. A toda hora alguma espécie entra em extinção, e dificilmente saberemos se um estudo sobre ela nos auxiliaria na descoberta de um novo fármaco ou vacina (VALÉRIO et al., 2010). 7Biodiversidade e biopirataria Segundo o Ibama e confirmado pela ONU, o tráfico de animais silvestres é o ter- ceiro maior do mundo, perdendo apenas para o contrabando de drogas e armas. No mercado mundial de medicamentos, 30% dos remédios são de origem vegetal e 10% de origem animal. Na Amazônia foram identificadas 105 espécies medicinais que estão entre as mais visadas. Entre alguns dos produtos mais procurados pelos biopiratas estão: as cascas da catuaba e do ipê-roxo, folhas da pata-de-vaca e cipó da unha-de-gato. De acordo com estudos realizados por pesquisadores brasileiros, o mercado far- macêutico global rende cerca de US$ 320 bilhões anuais. Estima-se que 25 mil espécies de plantas sejam usadas para a produção de medicamentos. A internet é um dos meios mais utilizados para a venda ilegal de animais silvestres. Biopirataria e proteção da biodiversidade A biodiversidade permite que ecossistemas se realinhem após um evento trágico, como um incêndio ou uma inundação extrema. Da mesma maneira, a diversidade genética previne doenças e permite que espécies se adaptem a alterações ambientais. Emboraa extinção de algumas espécies seja parte natural da história, hoje as espécies vêm se extinguindo em uma velocidade alarmante em função de graves mudanças ambientais e climáticas provocadas pela interferência humana. Para agravar a situação, a biopirataria é outro fenômeno que contribui para esse ritmo acelerado no prejuízo à biodiversi- dade. Estima-se que atualmente as espécies têm se extinguido cerca de cem a mil vezes mais rápido do que seria esperado para a taxa natural de extinção (BARBOSA, 2001; AMAZON LINK, 2018; BRASIL, 2000). A biopirataria tem trazido sérias consequências à saúde mundial e embora não pensemos a respeito, somos afetados pela crise da biodiversidade. A WWF defende que a diversidade biológica é um recurso do qual dependem famílias, comunidades, nações e gerações futuras. E o patrimônio natural da Terra é composto por plantas, animais, terra, água, atmosfera e os se- res humanos. Juntos, fazemos todos parte dos ecossistemas do planeta. A perda de diferentes habitats ou sua degradação, associada a essa exploração exagerada dos recursos naturais, pode favorecer a propagação de pragas ou doenças. Um exemplo bem prático de ameaça que já nos atinge diretamente é a perda de acesso à água doce. Atualmente, cerca de um terço do total de espécies conhecidas se encontra ameaçada de extinção, segundo a União Biodiversidade e biopirataria8 Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Esse número engloba cerca de 29% dos anfíbios, 21% dos mamíferos e 12% de todas as aves. Além do perigo de extinção, que tanto espécies vegetais quanto animais sofrem, a biopirataria pode acarretar outros danos, tais como: risco de perdas de exportações por restrições decorrentes da patente de compostos com origem no próprio país, e privatização de recursos genéticos (derivados de plantas, animais e micro-organismos) anteriormente disponíveis para comunida- des tradicionais. A biopirataria ainda ocasiona um importante prejuízo à economia brasileira. O Ibama informa que as cifras perdidas, decorrentes da biopirataria internacional que leva as matérias-primas brasileiras e os patenteia em seus países, alcançam a ordem de bilhões de dólares ao ano (BARBOSA, 2001; WWF BRASIL, 2018). Existem alguns casos interessantes de recursos biológicos de origem brasileira que foram pirateados por indústrias do exterior: o açaí, a copaíba, o cupuaçu, jaborandi, andiroba e o veneno de jararaca. O açaí é um exemplo de produto que teve a patente recuperada pelo Brasil, porém a maioria dos outros casos teve a patente registrada em nome de grandes empresas milionárias do Japão e Alemanha. O princípio ativo do veneno da jararaca (descoberto por um brasileiro), por exemplo, acabou rendendo a patente de um conhecido medicamento contra a hipertensão — o captopril — a uma empresa americana. Outro caso histórico, que constitui o primeiro caso de biopirataria no Brasil, é o do pau-brasil. Sua resina servia como corante para indústria têxtil na Europa e sua madeira era utilizada para móveis, utensílios, instrumentos musicais e também na construção civil e naval. Toneladas de árvores eram derrubadas e transportadas a partir de mão de obra indígena. Essa intensa exploração exercida pelos portugueses por volta de 1500 acabou por colocar o pau-brasil na lista de espécies ameaçadas de extinção, em 2004. Sobre a proteção à biodiversidade, o artigo nº. 225 da Constituição Federal incumbe o poder público no dever de preservar todo o patrimônio genético brasileiro e fiscalizar as instituições de pesquisa que manipulam material genético. No entanto, a reação brasileira ainda é incipiente em relação à bio- pirataria, mesmo com o grande prejuízo nacional. Por enquanto existe apenas uma Medida Provisória (nº. 2.186) sobre o tema, criada logo após a conclusão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de 2003, que investigou a bio- pirataria no Brasil, e sem grande sucesso. Esse problema não fica restrito ao Brasil, há diversas fontes no mundo demonstrando que grandes companhias 9Biodiversidade e biopirataria de países desenvolvidos têm se utilizado de recursos biológicos extraídos de outros países ricos em biodiversidade, sem prévia autorização. Toda essa exploração é baseada na relevância socioeconômica da biodiversidade. Para se ter ideia dessa dimensão, os serviços a ela associados, como a indústria de biotecnologia e de atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais rendem anualmente cerca de 30 trilhões de dólares, representando quase o dobro do PIB mundial (VALÉRIO et al., 2010; GALISTEU, 2011). No intuito de tratar o problema, alguns países liderados pelo Brasil e pela Índia, elegeram a Organização Mundial do Comércio (OMC) como o melhor local para se discutir a questão da biopirataria. Esses países referem que o acordo atual de propriedade intelectual da OMC (o Acordo TRIPS, sigla em inglês para o Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio) dá permissão à biopirataria, e por isso tentam alterá-lo. A questão é discutida desde 1999, e encontra grande resistência de países desenvolvidos, como Estados Unidos e Japão (GALISTEU, 2011). Em meio a todos esses atrasos, felizmente existem áreas destinadas à proteção da biodiversidade. Esses locais são essenciais para redução das altas taxas de extinção, servindo como refúgios para espécies e abrigos para a diversidade genética. O governo brasileiro protege as áreas naturais por meio de Unidades de Conservação. Para atingir esse objetivo de forma efetiva e eficiente, foi instituído no ano 2000 o SNUC (BRASIL, 2000; BARBOSA, 2001). Tipos de unidades de conservação Ao todo, existem 12 tipos de Unidades de Proteção Integral. Aqui estão algumas delas: Estações ecológicas: áreas de preservação natural, onde não é permitido que haja a presença de propriedades privadas. Apenas pesquisas científicas podem ser feitas nessas estações e a visitação pública é proibida. Reservas biológicas: é proibida a presença de propriedades privadas e de visitação pública (exceto com fins educacionais), e até as pesquisas científicas dependem de autorização dos órgãos responsáveis. Parques nacionais: o objetivo é a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica, sendo permitidos a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação, recreação e turismo ecológico. Biodiversidade e biopirataria10 A biodiversidade é a base da saúde do planeta e tem um impacto direto sobre a vida de todos nós. A redução da biodiversidade significa que milhões de pessoas estão diante de um preocupante futuro em que os estoques de alimentos serão mais vulneráveis a pragas e doenças e a oferta de água doce será escassa. Assim, preservar o meio ambiente e os recursos naturais significa garantia de vida. Por essa razão, medidas mais efetivas são necessárias para assegurar a proteção do rico patrimônio da biodiversidade mundial. Os índices alarmantes de extinção requerem com urgência a união de forças de governos mundiais no combate à biopirataria, utilizando-se de leis mais rígidas e intensa fiscalização de atividades exploratórias. Não esqueçamos que é possível utilizar os recursos naturais de modo sustentável, sem esgotá-los. Qual o problema afinal? Tanto o uso dos componentes da biodiversidade para fins terapêuticos diretos, quanto o desenvolvimento da biotecnologia, têm sido positivos para a melhoria da saúde e da qualidade de vida de parte da população humana. No entanto, existem problemas de várias naturezas: Interesses econômicos e exclusão: a maior parte dessas novas pesquisas biotec- nológicas é desenvolvida por empresas que visam lucro acima de tudo. Assim, o resultado pode ser a produção de medicamentos ou tratamentos caros e inacessíveis para grande parte da população. Conhecimento tradicional e propriedade intelectual: o conhecimento de po- tenciais alvos terapêuticos vem, muitas vezes, de usos tradicionais quepovos indí- genas e comunidades locais fazem de plantas, animais e micro-organismos. Assim, questões como direito da propriedade de direito intelectual podem ser levantadas. Acesso aos recursos biológicos: na fase de análise e testes do potencial alvo terapêutico, podem surgir questões jurídicas como o local de coleta do recurso biológico, se é área pública ou privada, onde serão realizadas as pesquisas com o composto, e como se dará a comercialização do produto (nacional ou internacional). Florestas nacionais: áreas com cobertura florestal nativa com o objetivo básico de uso sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica. São de posse e domínio públicos, e áreas particulares dentro do seu domínio devem ser desapropriadas. Áreas de proteção ambiental: área destinada à preservação de recursos ambientais que pode ser constituída por terras públicas ou privadas. Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação, observadas as exigências e restrições legais. 11Biodiversidade e biopirataria Informações sobre coleções de DNA estão disponíveis on-line nos sites de instituições que promovem iniciativas em relação à biodiversidade. Acesse os links a seguir e conheça as bases de dados: Global Biodiversity Information Facility (banco de dados, disponibiliza várias ferramentas) https://goo.gl/hHfYrW Species 2000 (índice global de espécies) https://goo.gl/V5opnV AMAZON LINK. Biopirataria na Amazônia: perguntas e respostas. 2018. Disponível em: <https://www.amazonlink.org/biopirataria/biopirataria_faq.htm>. Acesso em: 11 nov. 2018. BARBOSA, F. B. C. A biotecnologia e a conservação da biodiversidade amazônica, sua inserção na política ambiental. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, DF, v. 18, n. 2, p. 69-94, maio/ago. 2001. 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Acesso em: 11 nov. 2018. 13Biodiversidade e biopirataria Conteúdo: Dica do professor A biopirataria consiste na exploração, manipulação e apropriação ilegal de espécies da fauna e da flora, de material genético e de conhecimentos das populações tradicionais de uma nação para a exploração comercial em outra, sem o devido pagamento de patente. Nesta Dica do Professor, você vai ver alguns exemplos práticos de biopirataria (com alguns casos que ganharam fama no Brasil), assim como os fatores que estão contribuindo para o aumento dessa prática. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/234190e5b99442fb9d245aa047ec6745 Na prática Em uma viagem de férias para curtir a natureza, Cristiano conheceu um senhor na pousada na qual se hospedou. Esse senhor relatou que a grande área florestal vinha sofrendo constantes depredações, com recente despejo ilegal de lixo. Questionado se era uma região protegida, ele afirmou que não sabia. Veja a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Projeto Drake: a Polícia Federal contra a biopirataria Leia o seguinte artigo para conhecer a ação da Polícia Federal contra a biopirataria, entendendo melhor algumas normas jurídicas que configuram essa prática. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Biopirataria I Leia o seguinte artigo para observar que a maior parte dos medicamentos são frutos da biodiversidade, além de conhecer alguns novos casos de recursos brasileiros biopirateados, compreendendo a falha legal de proteção ao emprego de patentes estrangeiras. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. A biodiversidade em disputa Leia o seguinte artigo para conhecer como o manejo de recursos biológicos, assim como os conhecimentos associados a eles, podem ser assegurados. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://ambientes.ambientebrasil.com.br/biotecnologia/artigos_de_biotecnologia/projeto_drake%3A_a_policia_federal_contra_a_biopirataria.html http://ambientes.ambientebrasil.com.br/biotecnologia/artigos_de_biotecnologia/biopirataria_i.html http://ambientes.ambientebrasil.com.br/biotecnologia/artigos_de_biotecnologia/a_biodiversidade_em_disputa.html Biotecnologia agrícola: dez anos de benefícios e um futuro promissor Leia o seguinte artigo para entender a importância da modificação genética dentro do ramo da biotecnologia agrícola. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://ambientes.ambientebrasil.com.br/biotecnologia/artigos_de_biotecnologia/biotecnologia_agricola%3A_dez_anos_de_beneficios_e_um_futuro_promissor.html
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