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DIREITO CIVIL IX Prof.ª Sandra Abreu MATERIAL DE APOIO 9 RENÚNCIA A renúncia da herança, diferentemente do que ocorre com a aceitação, será sempre expressa, devendo constar expressamente de instrumento público ou termo judicial (art. 1.806 do CC). Com a renúncia à herança, a transmissão das relações jurídicas patrimoniais tem-se por não verificada. Vê-se, assim, que a renúncia produz efeitos ex tunc, ou seja, é como se o herdeiro nunca tivesse herdado. Tratando-se de sucessão legítima, a parte do renunciante acrescerá à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da classe subsequente (art. 1.810 do CC). Neste caso, não há indicação de ninguém para recebe-la, sendo assim, volta ao monte da herança. Renúncia abdicativa é ato simples e puro. Trata-se de ato solene, não admitindo sua realização por instrumento particular. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo (art. 1.808, caput, do CC). Caso o autor da herança teste algum legado (bem singular), o herdeiro pode aceitá-lo e renunciar a herança. Em outras palavras, a renúncia à herança não impede a aceitação de legado e vice-versa. Da mesma forma, o herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. Conforme já estudado, não se pode confundir a renúncia abdicativa com a chamada “renúncia translativa”, por meio da qual um herdeiro renuncia seu quinhão hereditário “em favor de outro herdeiro” (ex.: o herdeiro João renuncia seu quinhão hereditário em favor do seu irmão José). Nesse caso, não há, propriamente, renúncia. O que há, em verdade, é a aceitação da herança e cessão gratuita a outro herdeiro. Se a renúncia do herdeiro prejudicar seus credores, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante (art. 1.813, caput, do CPC). A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do fato. Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros. Se o herdeiro falecer antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar passará aos seus herdeiros, a menos que se trate de disposição testamentária sujeita a uma condição suspensiva, ainda não verificada. Naturalmente que se a condição não se operou, ficará sem efeito a disposição testamentária. Se o herdeiro falecer após ter renunciado a herança, seus herdeiros não poderão sucedê-lo em relação à herança renunciada. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. Requisitos São três: 1) Requisito subjetivo: por ser ato de disposição de direito, exige-se capacidade do agente. Tratando-se de incapaz, somente com autorização judicial, ouvido o Ministério Público, é que será admitida a renúncia. Se o herdeiro for casado, dependerá do consentimento do seu cônjuge, salvo se casados sob o regime da separação absoluta (convencional) de bens; 2) Requisitos formal: a renúncia será sempre expressa, por escritura pública ou termo judicial. Trata-se de forma solene exigida pela lei (art. 1.806 do CC). 3) Requisito temporal: assim como ocorre na aceitação, a renúncia da herança somente pode ocorrer após a abertura da sucessão e antes da partilha. Consequências da renúncia 1) Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente (art. 1.810 do CC). Exemplo: se o falecido deixou apenas três filhos e um deles renunciar, o seu quinhão será repassado para os dois outros irmãos herdeiros. Se todos os irmãos renunciarem, a herança passará aos seus respectivos filhos. Contudo, se o renunciante for o único de sua classe (ex.: único descendente) ou se todos os herdeiros dessa classe (todos os descendentes), a herança passará aos herdeiros da classe subsequente (ascendentes) e assim sucessivamente; 2) Não há direito de representação na renúncia. É por isso que o quinhão do renunciante será acrescido ao quinhão dos demais herdeiros do mesmo grau e da mesma classe. Nos termos do art. 1.811 do CC, “ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça”. O dispositivo contém uma impropriedade técnica. Onde se lê “classe”, deve-se ler “grau”. Os filhos dos renunciantes são da mesma classe (classe dos descendentes), mas de grau subsequente (netos do autor da herança). O dispositivo quis dizer o seguinte: Se, porém, ele for o único legítimo do seu grau, ou se todos os outros do mesmo grau renunciarem a herança, poderão os filhos (grau subsequente) vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. Se todos dessa classe (dos descendentes), serão chamados os da classe subsequente (ascendentes). Vale lembrar, por fim, que no caso de renúncia, diferentemente do que ocorre na indignidade, o renunciante pode administrar os bens transmitidos a seus filhos, bem como ter o usufruto deles. Irrevogabilidade Assim como ocorre na aceitação, a renúncia é ato irrevogável, conforme preceitua o art. 1.812 do CC (“São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança”).
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