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SISTEMAS LINEARES Raphael Issamu Tsukada Transformadas Z Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Determinar as propriedades da transformada Z. Analisar a região de convergência para a transformada Z. Definir a transformada Z inversa. Introdução A transformada Z tem ampla aplicação nas análises do comportamento de sistemas em tempo discreto. A transformada de Laplace, por sua vez, é aplicada em sistemas contínuos no tempo, enquanto a transformada de Fourier, em sistemas discretos no tempo. A transformada Z representa uma generalização da transformada de Fourier, por isso pode ser aplicada mesmo em casos nos quais a transformada de Fourier não converge. Neste capítulo, você vai estudar a transformada Z, suas aplicações e propriedades. Além disso, vai aprender a analisar a região de convergência para a transformada Z e a calcular a transformada Z inversa. Propriedades da transformada Z A transformada Z possui grande aplicação no estudo de sinais e sistemas discretos no tempo. Essa aplicação é facilitada devido a algumas propriedades que você vai ver de forma resumida nesta seção. Caso você queira aprender mais sobre esse tópico, leia o capítulo 5 de Lathi (2006). Para entender a explicação a seguir, veja o seguinte par de transformadas: e Considere: g[n] = 0, n < 0 e h[n] = 0, n < 0. C22_Transformadas_Z.indd 1 25/06/2018 16:45:15 Linearidade Para entender a propriedade da linearidade, considere que os sinais discretos x1[n] e x2[n] são multiplicados pelos escalares α e β, respectivamente. Dessa forma, a transformada Z desses sinais resultou na transformada deles, X1(z) e X2(z), multiplicada pelos seus respectivos escales α e β, como você pode ver na equação a seguir. Deslocamento no tempo Nesse caso, o deslocamento pode ser positivo ou negativo. Deslocamento positivo no tempo discreto Para você entender a propriedade de deslocamento positivo, imagine um sinal discreto x1[n] deslocado n0 para a direita. Esse sinal pode ser representado como x1[n – n0]. O resultado da transformada Z desse sinal será o produto do número complexo z elevado a menos o deslocamento n0 e a transformada de x1[n], que é X1(z), como você pode ver na equação a seguir. Nesse caso, você deve considerar que o sinal x1 é causal para garantir que a relação entre as transformadas do sinal original e dos sinais deslocados seja única. O sinal causal pode ser definido como um sinal que não começa antes do tempo t = 0. Dessa forma, se o sinal x 1 for causal, x 1 [t] = 0 para qualquer t < 0. Veja a Figura 1, a seguir. Figura 1. Sinal causal e sinal não causal. Transformadas Z2 C22_Transformadas_Z.indd 2 25/06/2018 16:45:15 Deslocamento negativo no tempo discreto Para o deslocamento negativo, imagine que o sinal discreto x1[n] foi deslocado n0 para a esquerda. Esse sinal é representado como x1[n + n0]. O resultado da transformada Z desse sinal será o produto do número complexo z elevado a menos o deslocamento n0 e a transformada de x1[n], que é X1(z) subtraídos dos n0 componentes deslocados x1[m]z -m, sendo que m varia entre 0 e (n0 –1), como você pode ver na equação a seguir. Modulação Para entender a propriedade de modulação, imagine o sinal discreto dado pela multiplicação do sinal discreto x1[n] e o escalar α elevado a n. A transformada Z desse sinal se dará em função da razão entre z e α, isto é, X1(z/α), como você pode ver na equação a seguir. Inversão do tempo Para entender a propriedade da inversão do tempo, imagine que você inverteu o sinal discreto x1[n]. Essa inversão gerou o sinal x1[–n]. A transformada Z desse sinal se dará em função de 1/z, isto é, X1(1/z), como você pode ver na equação a seguir. Convolução Para entender a propriedade da convolução, imagine que você tenha dois sinais discretos x1[n] e x2[n]. A transformada Z da convolução dos sinais discretos 3Transformadas Z C22_Transformadas_Z.indd 3 25/06/2018 16:45:15 x1[n] e x2[n] será o produto das suas transformadas X1(z) e X2(z), como você pode ver na equação a seguir. Considere o sistema invariante no tempo, no qual: sendo: Sabendo que u[n] representa a função degrau unitário e Utilizando a propriedade da convolução, você obtém: Diferenciação no domínio Z Para você entender a propriedade da diferenciação no domínio Z, imagine um sinal discreto dado pela multiplicação do sinal discreto x1[n] por n. Como você pode ver na equação a seguir, a transformada Z desse sinal será o produto de –z com a derivada da transformada X1(z) em relação a z. Transformadas Z4 C22_Transformadas_Z.indd 4 25/06/2018 16:45:16 Considere o sinal a seguir. Então, se você aplicar a propriedade de diferenciação no domínio Z, vai obter: Aplicando a propriedade de diferenciação no domínio Z, você converteu a trans- formada Z em uma divisão. Região de convergência para a transformada Z Por defi nição, a transformada Z é uma série. Dessa forma, ela pode ou não convergir. A convergência depende dos valores de z, que é um número complexo (z = ejω). O conjunto de valores de z para o qual X(z) converge está contido na Região de Convergência (RDC ou ROC, do inglês Region of Convergence) para a transformada Z. A RDC é apresentada no plano Z por meio de um círculo unitário, como você pode ver na Figura 2. Figura 2. Círculo unitário no plano Z. Fonte: Adaptada de Oppenheim (1997). 5Transformadas Z C22_Transformadas_Z.indd 5 25/06/2018 16:45:16 Para você entender o conceito de RDC, analise os dois exemplos a seguir. Determine a RDC para este sinal: Solução Aplicando a definição da transformada Z, você encontra: Nesse caso, u[n] é a função degrau unitário dada por: Dessa forma, você pode simplificar X(z) e obter: Para garantir a convergência de X(z), a seguinte condição deve ser obedecida: Analisando a condição apresentada anteriormente, você vai concluir que, para a convergência ocorrer, Logo, resolvendo a inequação, você obtém: para satisfazer a condição de convergência. Transformadas Z6 C22_Transformadas_Z.indd 6 25/06/2018 16:45:17 Dessa forma, você pode desenhar a RDC do sinal dado conforme a Figura 3, a seguir. A parte hachurada da figura representa a RDC da transformada Z do sinal, ou seja, os valores de z no plano complexo que satisfazem a convergência de X(z). Continuando o cálculo da transformada Z, você tem: Portanto: Figura 3. RDC representada pela circunferência externa. Além disso, você pode notar que na Figura 3 foram colocados os símbolos o e *. Esses símbolos representam, respectivamente, o zero e o polo de X(z). O limite da RDC é dado pelo polo. Determine a RDC para o sinal a seguir. Solução Aplicando o mesmo procedimento do exemplo anterior e utilizando a definição da transformada Z, você vai encontrar: 7Transformadas Z C22_Transformadas_Z.indd 7 25/06/2018 16:45:17 Nesse caso, u[-n-1] é a função degrau unitário deslocada, dada por: Dessa forma, você pode simplificar X(z) e obter: Para garantir a convergência de X(z), a seguinte condição deve ser obedecida: Analisando a condição apresentada, você vai concluir que, para a convergência ocorrer, Logo, resolvendo a inequação, você vai encontrar que: para satisfazer a condição de convergência. Se comparar este exemplo com o anterior, você vai notar que a expressão para X(z) é a mesma. Nela, o zero e o polo de X(z), respectivamente, se encontram em 0 e a. No entanto, diferentemente do que ocorre no exemplo anterior, a RDC é representada pela circunferência interna para valores de . Observe a Figura 4, a seguir. Figura 4. RDC representada pela circunferência interna. Transformadas Z8 C22_Transformadas_Z.indd 8 25/06/2018 16:45:18 Dessa forma, algumas regras sobre a RDC podem ser deduzidas. Veja: 1. para sinais x[n] definidos à direita (sinais causais), tal como ocorre no primeiro exemplo (x[n] = anu[n]), a RDC ficará situada fora da circun- ferência definida pelo polo de X(z); 2. parasinais x[n] definidos à esquerda (sinais anticausais), tal como ocorre no segundo exemplo (x[n] = -anu[-n-1]), a RDC ficará situada no interior da circunferência definida pelo polo de X(z); 3. para sinais x[n] bilaterais ou não causais (definidos tanto à esquerda quanto à direita), a RDC ficará situada no anel formado entre os polos de X(z). Isso ocorre pois os sinais bilaterais são tratados como a soma de um sinal definido à esquerda e um sinal definido à direita. Transformada Z inversa A defi nição da transformada Z é dada por: A integral é calculada em torno do contorno circular fechado C da RDC no plano complexo Z no sentido anti-horário. Assim como em Roberts (2009), aqui você vai ver métodos mais simplificados que não envolvem integrações no plano complexo. No entanto, caso você tenha interesse em se aperfeiçoar nesse assunto, veja Oppenheim (1997). A seguir, você vai ver dois métodos mais simples e muito utilizados na prática para calcular a transformada Z inversa. O primeiro método é a divisão sintética da expressão no domínio Z. Nesse caso, X(z) é rearranjado de forma que seja apresentado com uma sequência de comprimento finito, no qual cada termo da sequência é uma potência de z. Para você entender melhor, veja o exemplo a seguir. O segundo método utiliza a expansão em frações parciais para calcular a transformada Z inversa. Nesse caso, X(z) é representado como uma sequência de comprimento infinito e pode ser decomposto em expressões conhecidas. 9Transformadas Z C22_Transformadas_Z.indd 9 25/06/2018 16:45:18 Calcule a transformada Z inversa de Solução Aplicando o método da divisão sintética, você vai dividir X(z) em numerador (N(z)) e denominador (D(z)), como mostrado a seguir: Em seguida, você deve dividir o N(z) pelo D(z), como a seguir: Agora, você precisa relembrar da definição da transformada Z e compará-la com o polinômio que você obteve: A partir da expressão anterior, você pode identificar os coeficientes diretamente: A série x[n] obtida a partir da transformada Z inversa pode ser visualizada na Figura 5, a seguir. Transformadas Z10 C22_Transformadas_Z.indd 10 25/06/2018 16:45:19 Figura 5. Série x[n] obtida a partir da transformada Z inversa. Calcule a transformada Z inversa de Solução Para calcular a transformada Z inversa desse sinal aplicando o método da expansão por frações parciais, você deve considerar os passos a seguir. 1. Cálculo dos polos de X(z) Resolvendo essa equação, você vai ver que os polos de X(z) são p 1 = 1 e p 2 = 3. Dessa forma, X(z) pode ser rearranjado da seguinte forma: 2. Expansão por frações parciais A aplicação direta da expansão por frações parciais resulta em: 11Transformadas Z C22_Transformadas_Z.indd 11 25/06/2018 16:45:19 No entanto, isso não é suficiente para determinar os termos exponenciais. Para isso, é necessário que X(z) seja representado da seguinte forma: Dessa forma, você deve expandir X(z)/z utilizando o método das frações parciais, como apresentado a seguir: Caso você não se lembre de como é realizado o cálculo da expansão por frações parciais, siga os passos a seguir. a) Passe z(z-1)(z-3) para o lado direito, multiplicando. Rearranjando: b) Substitua os polos de X(z)/z, ou seja, as raízes de z(z-1)(z-3), que são p 0 = 0, p 1 = 1 e p 2 = 3, no lugar de z. Dessa forma, você obtém: Portanto: Transformadas Z12 C22_Transformadas_Z.indd 12 25/06/2018 16:45:20 LATHI, B. P. Sinais e sistemas lineares. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. OPPENHEIM, A. V. Signal and systems. 2nd ed. Upper Saddle River: Prentice Hall, 1997. ROBERTS, M. J. Fundamentos em sinais e sistemas. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. Leitura recomendada GIROD, B.; RABENSTEIN, R.; STENGER, A. Sinais e sistemas. São Paulo: LTC, 2003. 3. Transformada Z inversa de cada termo As transformadas Z de alguns sinais são conhecidas, como você pode ver no Quadro 1, a seguir. x[n] X(X(X z) δ[n] 1 u[n] anu[n] Quadro 1. Quadro 1. Transformadas de ZTransformadas de Z Com essa tabela, você pode realizar o cálculo da transformada Z inversa por meio da associação direta da tabela e da função X(z). 13Transformadas Z C22_Transformadas_Z.indd 13 25/06/2018 16:45:20 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.