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PEDIATRIA Carolina Ferreira -A cardiopatia congênita é definida como uma alteração estrutural do coração ou dos grandes vasos da base, que apresenta significância funcional real ou potencial. -Podem ser divididas de acordo c/ a fisiopatologia: • c/ fluxo pulmonar : tetralogia de Fallot, anomalia de Ebstein. Incluem obstrução do fluxo sanguíneo pulmonar em associação a existência de um caminho pelo qual o sangue venoso sistêmico possa ser desviado da direita p/ a esquerda e entrar na circulação sistêmica. O grau de cianose depende da gravidade da obstrução do fluxo pulmonar. Caso a obstrução seja leve, o paciente pode ser acianótico em repouso, além da hipótese de crises hipercianóticas em condições de estresse. Nos casos de obstrução muito grave, o fluxo pulmonar pode depender da patência do ducto arterial. Quando o ducto se fecha nos 1º dias de vida, o neonato passa por profunda hipoxemia e choque. • c/ fluxo pulmonar : apresentam a cianose causada por conexões ventriculoarteriais anormais – transposição dos grandes vasos – ou por mistura total do sangue venoso sistêmico e pulmonar no coração – truncus arteriosus. -Manifestação clínica da cardiopatia congênita: ocorre principalmente nos 1º meses de idade. Evidencia-se que a maioria dos casos ocorre nos primeiros 6 meses de idade, sendo a metade no 1º mês. A > proporção de internamento ocorre na 1ª semana de vida. -As doenças + prevalentes nesse período são dependentes do canal arterial, cujo fechamento exacerba o quadro clínico, como hipoplasia de ventrículo esquerdo, coarctação da aorta, transposição das grandes artérias, tetralogia de Fallot extrema e atresia pulmonar -Os pacientes internados em período > que 1 mês e inferior a 6 meses apresentam enfermidades cujas manifestações clínicas dependem da queda da resistência vascular pulmonar, como a comunicação interventricular (CIV), a persistência do canal arterial (PCA) e o defeito do septo atrioventricular (DSAV) ASPECTOS CLÍNICOS E FISIOPATOLÓGICOS -Os neonatos e os lactentes são encaminhados, geralmente, por 4 alterações clínicas: cianose, insuficiência cardíaca, sopro e arritmia. -As cardiopatias congênitas são classificadas funcionalmente em: 1. cardiopatia de hipofluxo pulmonar 2. cardiopatia de hiperfluxo pulmonar 3. cardiopatia de normofluxo pulmonar -O ecocardiograma bidimensional com Doppler é o exame + importante no diagnóstico e na avaliação funcional. A Rx de tórax e o eletrocardiograma são exames + acessíveis e contribuem na formulação de uma hipótese de diagnóstico. Há outros exames, como estudo hemodinâmico, TC, angiotomografia, RM e estudo eletrofisiológico (nas arritmias) -Cianose: é do tipo central, quase sempre generalizada; entretanto, em alguns casos, ela pode ser evidente no dimídio inferior (membros inferiores) e ausente no dimídio superior (membros superiores e mucosas) ou vice-versa – a qual é denominada cianose diferencial. São 3 as causas da cianose: 1) presença de uma lesão obstrutiva direita c/ shunt da direita p/ esquerda (tetralogia de Fallot); 2) conexão ventrículo-arterial discordante (TGA); e 3) presença de uma mistura comum (ventrículo único). O aparecimento da cianose ocorre quando a [ ] da hemoglobina reduzida no sangue circulante é > que 5 g/dL, por isso ela pode estar ausente em crianças c/ anemia. A cianose também pode ser leve ou mesmo ausente nos casos com fluxo pulmonar e grande mistura arteriovenosa. A diferenciação entre a cianose de causa cardíaca e a ñ cardíaca (pulmonar, hematológica e neurológica) pode ser feita c/ ecocardiograma. O uso do teste de hiperóxia é muito importante. O de pO2 acima de 160 mmHg após a administração de oxigênio a 100%, por 5 a 10 min, sugere ausência de cardiopatia congênita cianótica. O ñ do pO2 acima dos níveis citados está fortemente associado a alteração cardiológica. -Principais cardiopatias c/ cianose são: transposição simples das grandes artérias; tetralogia de Fallot; tronco arterioso; atresia pulmonar c/ septo interventricular íntegro; atresia tricúspide e anomalia de Ebsteinb PEDIATRIA Carolina Ferreira -Insuficiência cardíaca (IC): o quadro clínico, em geral, é de IC global, c/ taquipneia, cansaço e interrupções às mamadas, sudorese, taquicardia, cardiomegalia e hepatomegalia. É rara a descompensação isolada do lado esquerdo ou do lado direito do coração. 2 fatores são fundamentais p/ o desencadeamento da IC: o 1º é o fechamento do canal arterial, que ocorre durante as 1º horas ou dias iniciais de vida; e o 2º , a da resistência vascular pulmonar, que ocorre ao longo dos 1º meses de idade. O quadro clínico é + tardio em doenças c/ shunt da esquerda p/ a direita, como a CIV, a PCA e o DSAV. A passagem de sangue da circulação sistêmica p/ a circulação pulmonar depende de uma significativa da resistência vascular pulmonar, o que ocorre a partir do final do 1º mês de vida. O aparecimento da anemia fisiológica contribui p/ essa . A doença de Ebstein, anomalia da valva tricúspide, pode descompensar + precocemente, a sua descompensação depende do grau do comprometimento da valva tricúspide e da resistência vascular pulmonar , que dificultam a progressão do sangue p/ o sistema pulmonar e desencadeiam uma IC predominante direita. -Sopro cardíaco: é a > causa de encaminhamento p/ a investigação de cardiopatia congênita. Aproximadamente metade dos pacientes apresenta sopro inocente. Quando o sopro cardíaco é detectado em consulta de rotina, sem outros sintomas cardíacos associados, a cardiopatia normalmente é leve e de bom prognóstico. Nessa categoria, estão as cardiopatias c/ shunt da esquerda p/ direita e as cardiopatias obstrutivas isoladas. As principais doenças desse grupo são: CIV, CIA, PCA, estenose pulmonar (EP) e estenose aórtica. -Arritmia: é uma manifestação rara de cardiopatia congênita. O bloqueio atrioventricular total é a arritmia congênita isolada ou associada + frequente. Em outras doenças, como a transposição corrigida das grandes artérias (TCGA) e a doença de Ebstein, a arritmia pode ser a 1º manifestação clínica. TETRALOGIA DE FALLOT -A tetralogia de Fallot consiste no conjunto de 4 alterações cardíacas: CIV, EP, dextroposição da aorta e hipertrofia ventricular direita. O defeito anatômico fundamental é o desvio anterossuperior do septo infundibular -Morfologia: o ventrículo direito apresenta dimensões externas por causa da hipertrofia. A EP, em geral, é infundíbulo-valvar. Em alguns casos, a obstrução da via de saída é total, sendo denominada atresia pulmonar c/ CIV. Geralmente, a CIV é do tipo perimembranosa, grande e ñ restritiva. As artérias pulmonares podem ser normais ou apresentar diferentes anormalidades, incluindo alterações de calibre, de confluência e de distribuição. O cavalgamento ou dextroposição da valva aórtica é uma alteração essencial na tetralogia de Fallot; entretanto, o seu grau é bastante variável, de 15 a 50%. Quando é > que 50%, passa a ser denominada dupla via de saída de ventrículo direito (DVSVD). A circulação colateral sistêmico-pulmonar é + comum em pacientes c/ atresia pulmonar e CIV, podendo ser a única forma de suprimento sanguíneo pulmonar. O arco aórtico à direita é um achado relativamente comum nesses pacientes. -Fisiologia: fisiologicamente, a CIV e a estenose subpulmonar são os defeitos + importantes. A CIV serve, na realidade, como via de saída sistêmica p/ o ventrículo direito e o ventrículo esquerdo, portanto, é responsável pela equivalência de pressões entre as 2 cavidades. A apresentação clínica depende da EP. A quantidade de sangue desviado do ventrículo direito p/ a circulação sistêmica será > quanto > for a EP. Assim, pacientesc/ EP leve são pouco cianóticos ou até mesmo acianóticos, enquanto aqueles c/ EP grave apresentam cianose importante -Manifestações clínicas: estão diretamente relacionadas c/ a anatomia da doença. Dessa forma, no caso de EP leve, o paciente pode ser acianótico, c/ sopro cardíaco alto. À medida que a EP progride, aparece a cianose e o sopro vai . A cianose é do tipo central, generalizada, atingindo pele e mucosas. Alguns RNs exibem cianose intensa desde o nascimento. Nesses casos, uma obstrução grave na via de saída do ventrículo direito está presente, e a circulação pulmonar pode ser dependente da persistência de um canal arterial. Crianças maiores podem apresentar baqueteamento digital e adotar a posição de cócoras p/ melhora da hipóxia. A crise de hipóxia é uma manifestação clínica frequente nessa doença. Trata-se de uma situação grave e requer reconhecimento rápido e tratamento adequado, pois pode levar a complicações neurológicas graves. Durante a crise de hipóxia, o paciente apresenta cianose intensa, acompanhada por taquipneia e, frequentemente, alterações de consciência. O sopro tende a ou, até mesmo, a desaparecer, refletindo a da passagem de sangue pela valva pulmonar. A crise geralmente ocorre pela manhã, precipitada por atividades como defecar ou chorar. É + frequente em lactentes, entre 2 e 6 meses de PEDIATRIA Carolina Ferreira idade. No exame do precórdio, ñ se observa hiperatividade e pode ñ haver frêmito. A 1ª bulha tem intensidade normal ou pouco aumentada, e a 2ª bulha é única. O sopro é sistólico ejetivo e varia de intensidade e de duração, dependendo do grau de EP. O sopro contínuo pode estar presente em RN c/ canal arterial aberto. Sinais de IC raramente estão presentes, a menos que exista uma grande CIV c/ EP leve ou grande nº de colaterais sistêmico- pulmonares. -Exames complementares: a Rx de tórax apresenta várias alterações na tetralogia de Fallot, mas nenhuma é patognomônica. A cardiomegalia raramente é observada. Em crianças maiores, o coração adquire uma forma bastante sugestiva da doença: sua ponta é desviada superiormente com o bordo esquerdo côncavo, lembrando um “tamanco holandês”. A circulação pulmonar, em geral, é , mas pode estar normal ou nos casos c/ EP leve. Os sinais + característicos no eletrocardiograma são desvio do eixo do QRS p/ a direita e hipertrofia ventricular direita. Por meio do ecocardiograma, todas as características morfológicas da tetralogia de Fallot podem ser exploradas e definidas p/ uma correta indicação cirúrgica: 1) tamanho e localização da CIV; 2) confluência e tamanho das artérias pulmonares; 3) lateralidade do arco aórtico; 4) suprimento sanguíneo pulmonar; 5) anomalias associadas; e 6) origem e trajeto das artérias coronárias. Como o cateterismo cardíaco é um exame invasivo, em muitos serviços só é realizado nos casos em que o ecocardiograma ñ elucidou totalmente todos os aspectos da doença. -Tratamento Clínico: consiste em suporte p/ evitar a piora da cianose e a crise de hipóxia. P/ isso, deve-se manter um controle rigoroso da hemoglobina, a fim de evitar anemia e policitemia. Pacientes c/ crises de cianose em espera p/ cirurgia podem beneficiar-se c/ uso de propranolol (1 a 3 mg/kg/dia), p/ promover relaxamento da musculatura infundibular e, assim, evitar as crises de hipóxia. A crise de hipóxia proporciona um alto risco de morte e deve ser tratada como emergência: • posição joelho-tórax: paciente deitado, deve-se colocar os joelhos sobre o abdome, aumentando a resistência vascular periférica; • oxigenoterapia; • sulfato de morfina (0,2 mg/kg): a administração pode ser subcutânea, intramuscular ou endovenosa e visa a suprimir o centro respiratório e abolir a taquipneia; • betabloqueadores, na tentativa de relaxar a musculatura infundibular; • cetamina (1 a 3 mg/kg) endovenosa: promove sedação e da resistência vascular periférica; • bicarbonato de sódio (1 mEq/kg), endovenoso; • vasoconstritores: epinefrina (0,01 mg/kg); • cirurgia paliativa de derivação sistêmico-pulmonar é indicada quando ñ houver melhora satisfatória c/ as medidas clínicas adotadas -Tratamento Cirúrgico: a correção total definitiva dos defeitos vem sendo realizada, na grande maioria dos centros especializados, a partir dos 6 meses de vida, embora alguns serviços já a indiquem aos 3 meses. A cirurgia paliativa só é indicada nas situações de urgência ou quando existe uma anatomia desfavorável, como artérias pulmonares hipoplásicas, ou, ainda, em crianças c/ idade inferior a 3 meses. A cirurgia de correção total definitiva consiste no fechamento da CIV e na ampliação da via de saída do ventrículo direito. Em algumas situações, quando a valva pulmonar e o tronco pulmonar são hipoplásicos, há necessidade da colocação de homoenxerto p/ manter um adequado fluxo pulmonar. -Evolução: a história natural de pacientes c/ tetralogia de Fallot ñ operados é diretamente influenciada pela severidade dos defeitos anatômicos. Dados estatísticos mostram que somente 23% desses pacientes atingem os 10 anos de idade e cerca de 30% morrem durante o 1º ano de vida ANOMALIA DE EBSTEIN DA VÁLVULA TRICÚSPIDE -Na anomalia de Ebstein da válvula tricúspide, temos, como alterações, no tamanho do átrio direito, válvula tricúspide regurgitante, obstrução ao fluxo de saída do ventrículo direito – tricúspide “em vela de barco” – e excesso de volume do átrio direito pelo forame oval p/ o átrio esquerdo: shunt que gera cianose. -Trata-se de uma doença rara, que representa 0,04% das cardiopatias congênitas e consiste no deslocamento p/ baixo de válvula tricúspide anormal, entrando no ventrículo direito e dividindo-o em 2 partes: a 1º, que é uma continuidade do átrio direito, e a 2º, <, que funciona como ventrículo. O átrio direito é muito grande, e a válvula tricúspide, em geral, regurgitante PEDIATRIA Carolina Ferreira de volume do átrio -O débito do ventrículo direito é baixo. Já o direito leva a desvio do sangue deste, por meio do forame oval, para o átrio esquerdo, provocando a cianose. Quanto ao quadro clínico, neonatos c/ formas graves de anomalia de Ebstein apresentam cianose intensa, cardiomegalia gigante e sopro sistólico; também são comuns o ritmo de galope e a presença de estalidos. O fluxo pulmonar costuma depender do canal arterial. -Diagnóstico: é feito c/ o ECG, que indica bloqueio do ramo direito; pode ocorrer taquicardia supraventricular – síndrome Wolff-Parkinson-White –; a radiografia revela cardiomegalia, e o ECO ou o cateterismo confirma o diagnóstico. -Tratamento: em neonatos c/ hipóxia grave deve ser feito com prostaglandina. Algumas vezes é indicado shunt aortopulmonar – procedimento de Starnes –, ao passo que o tratamento cirúrgico está indicado p/ os pacientes c/ insuficiência cardíaca, cardiomegalia progressiva, arritmia cardíaca e cianose. -O prognóstico é ruim, c/ cerca de 50% de óbitos no 1º mês de vida, e somente 30% alcançam os 20 anos de idade. A cirurgia melhorou significativamente a sobrevida desses pacientes. TRANSPOSIÇÃO DE GRANDES ARTÉRIAS -A TGA é a cardiopatia cianótica + comum em RNs. Ocorre uma relação anormal entre as grandes artérias e os ventrículos, de modo que a aorta origina-se do ventrículo direito, e a artéria pulmonar, do ventrículo esquerdo. É discretamente + frequente no sexo masculino. -Morfologia: a principal alteração anatômica é na posição das grandes artérias. A conexão atrioventricular é concordante (o átrio direito conecta-se c/ o ventrículo direito; o átrio esquerdo, c/ o ventrículo esquerdo), e a conexão ventrículo-arterial é discordante. A aorta nasce do ventrículo direito e a artéria pulmonar nascedo ventrículo esquerdo. Na grande maioria dos pacientes, encontra-se associado apenas a um forame oval (FO) patente e/ou a um canal arterial persistente, o que é denominado transposição simples das grandes artérias. Em raros casos, existe uma CIA verdadeira. As valvas atrioventriculares, os ventrículos e as valvas ventrículo-arteriais geralmente são normais. As artérias coronárias podem exibir uma grande variedade anatômica, às vezes existindo 2 óstios coronarianos distintos ou apenas 1. Cerca de metade dos pacientes pode apresentar outros defeitos associados, dentre os quais os + comuns são CIV (40 a 45%), obstrução na via de saída do ventrículo esquerdo (5%) e coexistência das 2 alterações em 10% dos pacientes. -Fisiologia: diferentemente da circulação normal, em que o circuito é em série, na TGA, a circulação pulmonar e a circulação sistêmica estão em paralelo. O sangue venoso sistêmico que chega ao átrio direito passa p/ o ventrículo direito e dele p/ a aorta, levando sangue insaturado p/ a circulação sistêmica. Paralelamente, no lado esquerdo, o sangue oxigenado que chega ao átrio esquerdo passa p/ o ventrículo esquerdo e retorna p/ a circulação pulmonar. Essa situação é incompatível c/ a vida, a menos que exista uma comunicação entre os 2 circuitos (FO, CIV ou canal arterial) capaz de promover uma mistura adequada entre o sangue saturado e o ñ saturado. C/ o fechamento fisiológico do canal arterial e do FO na TGA simples, inicia-se um processo de hipóxia progressiva, em função da mistura insuficiente, que pode culminar c/ o óbito do paciente. Na TGA c/ CIV, isso ñ ocorre, por causa da manutenção constante da mistura de sangue. Na TGA simples, o fluxo pulmonar é normal ou discretamente , e a clínica predominante é a cianose. Na TGA c/ CIV, o fluxo pulmonar está e a clínica é de IC c/ cianose leve. -Manifestações clínicas: existe um pequeno FO patente, de modo que o RN pode se apresentar bem ao nascimento, c/ cianose leve ou discreta, piorando de forma progressiva e acentuada, à medida que ocorre o fechamento do canal arterial. Em decorrência da baixa [ ] de oxigênio circulante, ocorrem hipóxia e acidose metabólica. Esse processo resulta em disfunção miocárdica, surgindo sinais de IC, como taquipneia, cansaço às mamadas, gemência e palidez cutânea. Pacientes c/ CIV podem apresentar cianose leve, que piora ao choro, sem outros sinais clínicos. Após a 1ª semana, c/ a + importante da resistência vascular pulmonar, o paciente pode desenvolver IC. No exame de PEDIATRIA Carolina Ferreira precórdio, há sinais de da área cardíaca c/ impulsões sistólicas na borda esternal esquerda, a 2ª bulha é hiperfonética e, na maioria dos casos, ñ se ausculta sopro. Nos pacientes c/ CIV e obstrução na via de saída do ventrículo esquerdo, o quadro clínico predominante é a cianose c/ sopro sistólico de ejeção desde o nascimento. -Exames complementares: na Rx de tórax da TGA simples, a área cardíaca geralmente é normal, mas às vezes apresenta leve cardiomegalia, e a circulação pulmonar é normal ou discretamente . Em virtude da posição das grandes artérias, o mediastino superior é estreitado, e o coração pode apresentar a forma de “ovo deitado”. Nos casos c/ CIV, a área cardíaca e a circulação pulmonar estão . O eletrocardiograma no paciente c/ TGA simples mostra uma sobrecarga ventricular direita. Na TGA c CIV, observa-se sobrecarga biventricular. O ecocardiograma é capaz de demonstrar todos os detalhes anatômicos da doença. O cateterismo cardíaco está indicado p/ atriosseptostomia c/ cateter-balão, medida de pressões e investigação de detalhes anatômicos ñ definidos ao ecocardiograma, como a origem das coronárias. -Tratamento Clínico: deve-se iniciar a prostaglandina, a fim de melhorar a mistura sanguínea através do canal arterial, corrigir a acidose metabólica e realizar a atriosseptostomia c/ cateter-balão, quando houver indicação. -Tratamento Cirúrgico: no neonato com TGA simples, a correção ideal é a cirurgia de Jatene, que deve ser feita em até 15 dias de vida. Essa cirurgia consiste na troca das grandes artérias, conectando-se a aorta ao ventrículo esquerdo e a artéria pulmonar ao ventrículo direito, bem como nas transferências das artérias coronárias da aorta nativa para a neoaorta. Justifica-se o período máximo de 15 dias de vida porque o coração ainda mantém o ventrículo esquerdo adaptável à PA sistêmica – condição fisiológica dentro do útero. A partir dessa idade, o ventrículo esquerdo ñ pode + ser conectado com a circulação sistêmica, em virtude de uma regressão da massa muscular pela da PA pulmonar e da resistência vascular pulmonar. Na tentativa de recondicionar esse ventrículo nesses pacientes, tem-se indicado a bandagem da artéria pulmonar como cirurgia paliativa, anterior à cirurgia de Jatene. Em pacientes c/ CIV, a cirurgia de Jatene pode ser realizada em idade superior a 15 dias, mas ñ se deve retardar muito, pois a hipertensão pulmonar c/ doença vascular pulmonar desenvolve-se + precocemente nesses pacientes. Quando houver contraindicação p/ a cirurgia de Jatene, indica-se a derivação atrial, que é o direcionamento da drenagem venosa sistêmica p/ o ventrículo esquerdo e a circulação pulmonar, e a drenagem pulmonar p/ o ventrículo direito e a circulação sistêmica. As cirurgias que fazem essa derivação são denominadas de Senning e de Mustard. Nos casos de TGA c/ CIV e EP, indica-se a cirurgia de Rastelli, que é uma derivação intraventricular c/ a construção de um túnel da CIV p/ a aorta, dentro do ventrículo direito, direcionando o sangue do ventrículo esquerdo p/ a aorta. O sangue do ventrículo direito é direcionado pa/ a artéria pulmonar pela interposição de um tubo. -Evolução: o RN c/ TGA simples sem correção cirúrgica evolui p/ o óbito ainda no período neonatal. Paciente c/ CIV associada, em geral, sobrevive ao período neonatal; porém, se ñ for submetido ao tratamento cirúrgico, o óbito ocorre dentro de 6 a 12 meses de vida, por IC. O prognóstico cirúrgico c/ a cirurgia de Jatene é bom -Complicações tardias são comuns em pacientes operados de derivação atrial, sendo as principais: estenose na drenagem venosa sistêmica ou pulmonar, arritmia cardíaca, morte súbita, regurgitação tricúspide e disfunção do ventrículo direito ou sistêmica RETORNO VENOSO PULMONAR ANÔMALO TOTAL -Nessa condição, as veias pulmonares podem drenar acima ou abaixo do diafragma. O diagnóstico é feito por meio de Rx de tórax, e é patognomônica em crianças maiores a imagem “em boneco de neve”. SÍNDROME DO CORAÇÃO ESQUERDO HIPOPLÁSICO -Nessa síndrome, ñ há o desenvolvimento do lado esquerdo do coração (atresia aórtica, atresia mitral). Dentre as alterações, estão a hipoplasia da aorta ascendente e o ventrículo esquerdo não funcional. O ventrículo direito mantém as circulações sistêmica e pulmonar. -Nota: o sangue com pouca oxigenação, oriundo da circulação sistêmica, retorna ao átrio direito normalmente. A maior parte do sangue oxigenado que retorna dos pulmões para o átrio esquerdo atravessa um defeito do septo atrial para se unir ao sangue pouco oxigenado no átrio direito. Esse sangue misto é, então, ejetado pelo ventrículo direito para a PEDIATRIA Carolina Ferreira artéria pulmonar. O sangue na artéria pulmonar é direcionado aos pulmões e à aorta através de um canal arterial patente. -Tratamento: a cirurgia de Norwood possui 3 estágios TRUNCUS ARTERIOSUS -Esta é a condição em que apenas um vaso arterial emerge da base do coração e dá origem às circulações sistêmica, pulmonar e coronariana. Apresenta uma grande CIV associada, localizada logo abaixo desse vaso único. É uma doença rara representando1,09% de todas as cardiopatias congênitas, e possui associação com a síndrome de DiGeorge e outras anomalias extracardíacas, como má rotação intestinal, malformações esqueléticas e hidroureter. Ñ existe distinção entre os sexos quanto a sua prevalência. -Morfologia: a valva encontrada nesse vaso único é chamada de valva truncal; geralmente é tricúspide, mas pode ser bicúspide, quadricúspide ou até pentacúspide. Algum grau de insuficiência pode estar presente em razão do mau alinhamento entre as lacíneas. Em 2/3 dos pacientes, a valva cavalga o septo interventricular; tem origem biventricular, porém pode surgir totalmente do ventrículo direito. A CIV é ampla, do tipo perimembranosa. De acordo c/ a origem das artérias pulmonares, o tronco arterioso é classificado em 4 tipos (classificação de Collet e Edward): • tipo I: existe tronco pulmonar, que se origina da porção posterolateral do vaso único, pouco acima da valva truncal (Figura 5A); • tipo II: ñ existe tronco pulmonar, as artérias pulmonares nascem separadamente da porção posterolateral do vaso único (Figura 5B); • tipo III: ñ existe tronco pulmonar, as artérias pulmonares nascem separadamente, cada uma de um lado do vaso truncal (Figura 5C); • tipo IV: a nutrição pulmonar acontece por colaterais da aorta descendente. Essa forma tem sido descrita como uma variante da atresia pulmonar c/ CIV. -Outras anomalias cardíacas associadas incluem CIA, interrupção de arco aórtico, arco aórtico à direita, veia cava superior esquerda persistente e estenose tricúspide leve. -Fisiologia: as pressões nas 2 cavidades são iguais, pois elas estão relacionadas c/ o único vaso que emerge do coração cavalgando o septo. O sangue venoso do ventrículo direito e o arterial do ventrículo esquerdo misturam-se nesse vaso, e é essa mistura que se direciona p/ as 3 PEDIATRIA Carolina Ferreira circulações (sistêmica, pulmonar e coronária). A quantidade de sangue que se segue p/ a circulação pulmonar depende do tipo anatômico e do calibre da árvore pulmonar, bem como da resistência vascular pulmonar. Caso haja hiperfluxo pulmonar, ocorre > retorno de sangue oxigenado p/ o ventrículo esquerdo e a mistura sanguínea na aorta conterá > taxa de sangue oxigenado. O contrário ocorrerá quando houver hipofluxo pulmonar. -Manifestações clínicas: os sintomas clínicos dependem do fluxo sanguíneo pulmonar e da presença ou não de regurgitação da valva truncal. Durante as 1º semanas de vida, como a resistência vascular pulmonar ainda é alta, a única manifestação clínica é a cianose. Após a queda da resistência vascular pulmonar, em torno de 4 semanas de vida, o fluxo pulmonar c/ melhora da cianose, entretanto surgem os sinais de hiperfluxo e de congestão pulmonar: taquipneia, cansaço às mamadas, sudorese e palidez. Apesar de raro, é possível existir tronco arterioso c/ estenose das artérias pulmonares. Nesse caso, a cianose é evidente e importante desde o nascimento. Quando a insuficiência da valva truncal é importante, surgem sinais de IC precocemente. Ao exame físico, é possível não se observar cianose, sendo ela aparente apenas aos esforços. A cianose é muito importante nos casos c/ hipofluxo pulmonar ou com hipertensão pulmonar. Os pulsos periféricos geralmente possuem amplitude . O precórdio por vezes está abaulado e um frêmito sistólico pode ser palpado. Um clique de ejeção é audível em borda esternal esquerda alta. A 2ª bulha é única e hiperfonética. Pode haver um sopro diastólico audível ao longo de toda a borda esternal esquerda, o que sugere insuficiência da valva ventrículo-arterial. -Exames complementares: na Rx de tórax, a área cardíaca e a circulação pulmonar estão e no eletrocardiograma observa-se sobrecarga biventricular. O ecocardiograma determina os detalhes anatômicos do defeito c/ precisão e possui grande importância no diagnóstico diferencial c/ atresia pulmonar e tetralogia de Fallot. O cateterismo cardíaco é indicado quando o ecocardiograma ñ definir exatamente a anatomia ou quando o diagnóstico é tardio e é necessário verificar a pressão pulmonar. -Tratamento: os pacientes devem ser encaminhados rapidamente p/ correção cirúrgica, em razão do risco de desenvolverem precocemente hipertensão pulmonar grave. A correção cirúrgica compreende o fechamento da CIV e o estabelecimento de uma continuidade entre o ventrículo direito e as artérias pulmonares – conexão que pode ser feita c/ o próprio tronco ou c/ um tubo heterólogo. -Evolução: pacientes ñ submetidos à correção cirúrgica apresentam alta mortalidade no período neonatal ou nos 1º meses de vida, sendo raros os casos que ultrapassam o 1º ano de idade. Aqueles que desenvolvem doença vascular pulmonar obstrutiva podem alcançar a 4ª década de vida. C/ a cirurgia, a sobrevida aos 24 anos é de 46,4%, e é melhor quando o paciente é operado antes dos 2 anos de idade. A mortalidade tardia está relacionada c/ reoperação, doença vascular pulmonar progressiva, disfunção do ventrículo direito e disfunção do ventrículo esquerdo. Quais alterações caracterizam a tetralogia de Fallot? A tetralogia de Fallot é caracterizada pela presença de comunicação interventricular, dextroposição da aorta, estenose pulmonar e hipertrofia de ventrículo direito.
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