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INTRODUÇÃO A GERONTOLOGIA AULA 3 Prof. Cristiano Caveião CONVERSA INICIAL ENVELHECIMENTO E SAÚDE DA PESSOA IDOSA Nessa aula, temos como objetivo abordar os principais conceitos que envolvem o envelhecimento humano e a saúde da pessoa idosa. Para isso, dividimos a aula nos seguintes tópicos: • percepção sobre a velhice; • cidadania e proteção social; • informações epidemiológicas; • demografia e envelhecimento populacional; e • noções básicas de epidemiologia. TEMA 1 – PERCEPÇÃO SOBRE A VELHICE Antes de iniciarmos nossa conversa sobre as percepções sobre a velhice, gostaríamos de replicar um teste elaborado por Goldman e Faleiros (2008). Analise as afirmativas dispostas no quadro a seguir e utilize uma escala de 5 até 0 para indicar o quão acredita ser verdadeira a afirmativa, considerando 5 a mais verdadeira e 0 a menos verdadeira: 1. Dão muita importância à religião 5 4 3 2 1 0 2. São mais inquietas que os jovens 5 4 3 2 1 0 3. Vivem de suas lembranças 5 4 3 2 1 0 4. São mais sensíveis do que os outros 5 4 3 2 1 0 5. Esperam que seus filhos se ocupem delas continuamente 5 4 3 2 1 0 6. Repetem sempre as mesmas coisas 5 4 3 2 1 0 7. São capazes de se adaptar à mudança 5 4 3 2 1 0 8. Têm uma saúde frágil 5 4 3 2 1 0 9. Têm medo do futuro 5 4 3 2 1 0 10. São ricas ou estão bem financeiramente 5 4 3 2 1 0 11. Estão muito mais sujeitas a serem vítimas da criminalidade do que o jovem 5 4 3 2 1 0 12. A aposentadoria provoca nelas problemas de saúde e acelera o processo de morte 5 4 3 2 1 0 13. Passam o seu tempo jogando cartas, damas, dominó ou bingo 5 4 3 2 1 0 14. Preocupam-se pouco com sua aparência 5 4 3 2 1 0 15. Sofrem de solidão 5 4 3 2 1 0 16. São teimosas e chatas 5 4 3 2 1 0 17. Representam um peso econômico para as outras gerações 5 4 3 2 1 0 18. Têm tendência a se intrometer nos assuntos alheios 5 4 3 2 1 0 19. São menos capazes de aprender 5 4 3 2 1 0 20. Não tem muito interesse ou capacidade para a vida sexual 5 4 3 2 1 0 Agora, some os números respondidos e verifique qual a sua percepção da velhice e segundo Goldman e Faleiros (2008, p. 24). Quanto mais alto o resultado, maior a sua percepção negativa do envelhecimento: • Entre 75 e 100, sua adesão aos estereótipos negativos é elevada. • Entre 50 e 75, você ainda tem tendência a ver a pessoa idosa de forma estereotipada. Entre 25 e 50, você se mantém no limiar dos estereótipos. • De 0 a 25, você tem uma percepção menos estereotipada da pessoa idosa. E aí, qual foi seu resultado? Caso o seu resultado tenha sido acima de 50 pontos, não se culpe, pois o nosso país ainda não está bem-preparado para lidar com o envelhecimento. Esse tema ainda é recente, não teve tempo de criar mudanças culturais para a compreensão do envelhecer. Certamente, ao longo dos nossos estudos, sua percepção irá se alterar! Um fator importante para compreender o envelhecimento é saber a opinião dos idosos sobre essa “condição”, pois, invariavelmente quando buscamos referencias de pessoas em ciclos diferentes de vida, a resposta será preconceituosa e distorcida (Jardim; Medeiros; Brito, 2006). Mas já sabemos, devido aos nossos estudos, que o envelhecimento não é sinônimo de doença, apesar das fragilidades que a idade avançada pode apresentar ao nosso organismo. O envelhecimento possui muita relação com o estilo de vida dos indivíduos antes mesmo de chegar a terceira idade, pois atitudes de sedentarismo, má alimentação, maus hábitos comportamentais e sociais poderão se agravar nessa etapa da vida e aqueles que não possuem capacidade de aceitação e adaptabilidade certamente sofrerão mais os impactos da terceira idade que outros (Goldman e Faleiros, 2008, p. 24). O ponto de distorção da percepção da velhice está nessa homogeneização que fazem das condições fisiológicas dos idosos. Sobre isso, Jardim, Medeiros e Brito (2006, p. 27) destacam que “quando o idoso é interrogado a respeito do envelhecimento, relata histórias de vidas que positivam a velhice e mostram que é uma fase heterogênea, na qual cada idoso envelhece de forma diferente”. É muito comum associar a velhice como uma etapa da vida que se resume a patologias, solidão e morte, mas essa visão sobre o idoso vem de longa data e se enraizou na cultura de alguns países, isso foi devido a concepção de que quando se chega a terceira idade há uma perda dos papeis sociais e não a alteração desses papeis. Entretanto, essa percepção tem sido alterada lentamente ao longo dos anos (Jardim; Medeiros; Brito, 2006). Mas retomando a questão de se perceber a velhice por meio do olhar do idoso aliada a questão cultural, podemos destacar o estudo realizado por Faller, Teston e Marcon (2015, p. 128), que apontam as diferentes percepções sobre o envelhecimento de acordo com a nacionalidade dos idosos. O resultado aponta que “a forma de vivenciar a velhice é influenciada pela cultura da terra natal, mas guarda relação com as condições de vida (autonomia, dependência física e financeira), a valorização do trabalho, os preceitos religiosos e os laços/relações familiares” e, por fim, os autores concluem que “conceber e vivenciar a velhice, para além dos aspectos culturais, centra-se nas experiências e nas interações singulares ocorridas ao longo dos anos e que, conforme o contexto e o momento de vida, ganham contornos significativos”. Mais uma vez percebemos que as condições de vida ao chegar na velhice é que irão dar os tons de ser idoso, mas isso não corresponde necessariamente uma realidade deprimente de solidão, doenças psicologias e físicas, com incapacidades e falta de espaço no seio familiar. Essa capacidade de se adaptar e de ser recolocado em novos papeis sociais mudam a percepção de “ser velho” e isso pode ser evidenciado no estudo citado, em que uma entrevistada mencionou que desde os 50 anos já se achava velha e que agora com quase 100, está muito velha; já outro individuo de 74 anos menciona que ele só se percebeu velho após os 70 anos; uma terceira entrevistada disse que sentiu-se velha quando atingiu a terceira idade, ou seja, quando fez 60 anos. Mas será que ela realmente teria esse sentimento se não fosse a marca cronológica imposta pela sociedade? (Faller, Teston e Marcon, 2015, p. 128). A percepção sobre a velhice muda de acordo com a cultura e forma de vida das pessoas, mas muito se tem trabalhado para que cada vez mais esse sentimento negativo de envelhecimento seja substituído por algo mais positivo. Entretanto, isso só será possível se as pessoas se sensibilizarem para essa causa ainda quando jovens. TEMA 2 – CIDADANIA E PROTEÇÃO SOCIAL Para dar início a nossa conversa, é preciso conhecer o conceito de cidadania. Para você quando falamos em cidadania o que vem a sua mente? Normalmente fala-se muito de cidadania no período de eleições: “exerça sua cidadania, faça valer seu voto”. Mas será que é só nesse momento que ela se faz presente em nossas vidas? Seria o “poder” do nosso direito? São os direitos que a constituição nos dá? A cidadania está sim atrelada aos nossos direitos como cidadãos, mas ela vai além: cidadania é a condição de acesso aos direitos sociais (educação, saúde, segurança, previdência) e econômicos (salário justo, emprego) que permitem ao cidadão desenvolver todas as suas potencialidades, incluindo a de participar de forma ativa, organizada e consciente da vida coletiva no Estado (Lima, Junior, Brzezinski, 2017, p. 2481). Para Monteiro e Castro (2008, p. 274), é um “como um conjunto de direitos e deveres que um sujeito possui para com a sociedade da qual faz parte. Esta cidadania está relacionada à ideia de um status, de um posicionamento jurídico- legal perante o Estado”, o conceito é corroborado por Lima, Junior e Brzezinski (2017, p. 2482) que citam que sua definição possui estreita relaçãocom a vida em sociedade e vão além afirmando que “No campo da retórica, o conceito de cidadania é um dos mais proclamados, anunciados e prometidos, mas, no campo dos fatos, é também um dos mais negligenciados”, ou seja, todos sabem que somos cidadãos, que temos direitos, e muitas promessas são feitas com base nisso, mas pouco se vê na prática e em poder do povo. Isso ocorre devido à falta de engajamento da população pela luta aos seus direitos, afinal, a cidadania é uma questão de prática cotidiana que deve ser retirada dos textos legais e aplicada. A cidadania pode ser vista como um acordo entre sociedade e o Estado, logo, os seus ajustes são realizados por meio da presença das forças sociais. Podemos perceber isso quando analisamos a história, conforme aponta imagem a seguir. Percebemos que os direitos foram sendo consentidos ao longo dos anos e isso devido a expressão popular e social, conforme demonstrado: Figura 1 – Evolução da cidadania e direitos Fonte: Elaborado com base em Goldman e Faleiro, 2008. Assim, percebe-se que foi por meio da luta social que os direitos foram sendo ampliados, entretanto, nem toda a sociedade está de acordo com as reivindicações. Muitos acreditam que estão sendo prejudicados ao promover políticas sociais que não se destinam a eles, mas veja que a “cidadania implica um pacto de reconhecimento de direitos e deveres” e, por isso, a educação em cidadania se faz tão importante. Dentro desse contexto, de direitos e deveres, podemos destacar o papel das famílias no âmbito da proteção social, visto que, mesmo com os direitos sociais sendo ampliados e que o Estado colocando-se como um responsável por seus cidadãos, a responsabilidade e o papel da família não podem e não são subtraídos, ao contrário disso, devem ser fortalecidos. Essa função da responsabilidade da família para com o bem-estar de seus entes chama-se de familismo (Cronemberger; Teixeira, 2015). Mas o que é proteção social? Para Cronemberger; Teixeira (2015, p. 133): (...) são formas institucionalizadas ou não que as sociedades constituem para proteger seus membros, dos riscos sociais ou vicissitudes da vida em sociedade. As formas e os modos de alocação de recursos variam de um grupo social para outro, segundo critérios históricos e culturais, e estão submetidos à dimensão de poder. Todos os povos possuem em maior ou menor grau sistemas de proteção social. Cada um terá a proteção social que julga ser adequada, considerando suas condições econômicas e culturais. No Brasil, a proteção social iniciou no com ações bem esporádicas, tal como a Lei n. 3.397/1888, que foi a Primeira Lei de Amparo aos Empregados da Estrada de Ferro. No período da primeira república, que durou entre 1889 e 1930, apareceram ações bem incipientes, tais como: associações de socorro mútuo ou do auxílio das pessoas mais abastadas da sociedade e a promulgação do Decreto n. 1.313/1891, que regulamentou o trabalho infantil nas fábricas da capital federal. As primeiras ações realmente relevantes para a proteção social só ocorreram em 1923 com a promulgação da Lei Eloy Chaves (Decreto Legislativo n. 4.682/1923), que dispunha em seu texto que: “em cada uma das empresas de estradas de ferro existentes no país, uma caixa de aposentadoria e pensões para os respectivos empregados” (Brasil, 1923) Essa ação social não está diretamente relacionada ao idoso e sim ao trabalhador, que trazia reflexos ao idoso, visto que eram caixas de pensão e aposentadoria. Essa lei foi importante para despontar a necessidade do debate sobre o tema e assim foi feito. Entre os anos de 1930 e 1970 houve uma ampliação dos direitos dos trabalhadores, já em 1980 essas lutas por direitos sociais se torna mais expressiva e então inicia-se “a reivindicação por um novo padrão público de proteção social que ampliasse a cobertura para além do vínculo formal com o processo de trabalho e que propusesse como princípio a universalidade dos direitos” (Silva; Yazbek, 2014, p. 105). Foi nesse contexto que nasceu a Constituição Federal de 1988. As ações sociais relacionadas ao público idoso só começaram a ser implementadas a partir da década de 1990, com ações sociais que buscavam “garantir proteção social como direito de cidadania, principalmente àqueles idosos que não detinham os meios necessários para se autossustentarem e nem à sua família” (Silva; Yazbek, 2014, p. 107). Em janeiro de 1994, foi promulgada a Lei n. 8.842, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso (PNI), que em seu artigo 1° cita a seguridade dos direitos sociais do idoso e se responsabiliza por criar condições para promover a autonomia, integração e participação efetiva na sociedade dessa população (Brasil, 1994). Cinco anos mais tarde, surgiu a Política Nacional de Saúde do Idoso, mediante Portaria Ministerial n. 1.395/1999, que foi posteriormente regulamentada pela Portaria n. 2.528, de outubro de 2006, que a renomeou como Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Em 2003, por meio da Lei n. 10.741/2003, houve a promulgação do Estatuto do Idoso, que foi mais um marco da proteção social dos idosos e os três primeiros artigos dessa lei mencionam a quem se destina, quais os direitos e quem são os responsáveis: Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (Brasil, 2003) As legislações que foram promulgadas após a década de 1990 muitas foram as ações sociais que surgiram em prol dos idosos e o que se nos faz pensar que a sociedade brasileira tem se mostrado bastante imbuída da luta por uma melhor qualidade de vida dos idoso. Assim sugere “a garantia de esforços que promovam a sua condição plena de cidadania, ou seja, procurar assegurar a sua autonomia, sua integração e participação efetiva na sociedade” (Silva; Yazbek, 2014, p. 108). TEMA 3 – DEMOGRAFIA E ENVELHECIMENTO POPULACIONAL Para esse tema, nós vamos discutir o que é demografia, porque é tão importante saber os dados demográficos e, por fim, a situação demográfica no Brasil, com ênfase na população idosa. Demografia vem da junção das palavras dêmos + graphein, que correspondem, respectivamente, a população e descrever, ou seja, descrever a população. Com base na sua etimologia, foi elaborado seu conceito: “A Demografia é uma ciência que estuda as populações humanas, objetivando sua evolução em um determinado período, seu tamanho, sua distribuição espacial, e sua composição quanto a determinada características” (IBGE, 2009). Assim, por meio do censo demográfico, que corresponde como principal fonte de conhecimento da população brasileira, é possível analisar não só as informações sobre o número de habitantes, mas também informações sobre as características do domicílio e dos moradores. Segundo Camarano, por meio de informações demográficas podemos levantar dados de novas e antigas informações por meio de levantamentos em censos, assim como obter informações sobre “registros de nascimento e óbitos, movimentos migratórios, pesquisas amostrais, registros de seguros de vida e até mesmo outras fontes, tais como registros escolares e de veículos motorizados”(Camarano, 2008, p. 112). A periodicidade dos levantamentos demográficos iniciou em 1808. Desde então, ocorre a cada 10 anos, com algumas exceções que ocorreram ao longo da história, tal como em 1910 e 1930, que o censo foi suspenso, 1990, que passou a ser realizada em 1991, e em 2020, que foi adiado para 2022 por conta da pandemia do Covid-19 (IBGE, [S.d.]). Com base nos censos demográficos, torna- se possível elaborar a pirâmide etária, um gráfico que “serve para nos fornecer informações importantes sobre natalidade, idade média da população, longevidade, entre outros temas” (IBGE, [S.d.]). As pirâmides etárias das duas últimas décadas (2000 e 2010) demonstram uma alteração no perfil etário da população brasileira, conforme demonstra a figura: Figura 2 – Pirâmide etária 2000 e 2010 Fonte: IBGE, 2010. O IBGE apresenta uma projeção da evolução etária da década de 2010 até 2060, a qual aponta um estreitamento da faixa de jovens e um alargamento da faixa de idosos: Figura 3 – Evolução dos grupos etários de 2010 a 2060 Fonte: IBGE, S/D. Essa mesma compreensão de alteração no perfil etário do brasileiro é corroborada por Carvalho e Rodrígues-Wong (2008), que relatam que esse processo de envelhecimento populacional vem ocorrendo lentamente (2% a 4% ao ano). Assim, enquanto em 1970 tínhamos 3,7% da população idosa, esse percentual aumentará para 19% em 2050. Como veremos no tema a seguir, a idade da população e a projeção da faixa etária auxiliam na programação de políticas públicas e preparo do Estado para as próximas décadas. TEMA 4 – INFORMAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS Para começar a entender o que é epidemiologia, vamos avaliar a sua etimologia: Epi, que corresponde a “sobre”; demo, que é “população”, e logos, que significa “estudo”. Assim, tem-se o estudo sobre as populações e, de acordo com a sua etimologia, a epidemiologia é definida como “o estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas coletividades humanas”. Enquanto a clínica dedica-se ao estudo da doença no indivíduo, analisando caso a caso, a epidemiologia debruça-se sobre os problemas de saúde em grupos de pessoas, às vezes grupos pequenos, na maioria das vezes envolvendo populações numerosas (Montilla, 2008). Os principais objetivos da epidemiologia são descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde das populações humanas; proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução e avaliação das ações de prevenção, controle e tratamento das doenças e estabelecer prioridades; e identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades. Os objetivos apontados demonstram a importância da epidemiologia no planejamento e gestão da saúde, visto que por meio dos dados epidemiológicos torna-se possível monitorar a saúde da população. Diferentemente da ação clínica que tem uma atuação mais especifica dos casos (Montilla, 2008). Para compreender a diferença entre a atuação clínica e a atuação epidemiológica, destacamos a figura a seguir: Figura 4 – Principais diferenças entre as abordagens clínica e epidemiológica Clínico Epidemiológico Tipo de diagnóstico Individual Comunitário/populacional Objetivo Curar e prevenir a doença na pessoa Melhorar o nível de saúde da comunidade/identificar fatores de risco... Informação necessária História clinica, exame físico, exames complementares Dados populacionais; dados com referência de tempo e espaço geográfico de causas de morte, serviços de saúde, incapacidade, fatores de risco... Ações Tratamento e reabilitação Programas de saúde/promoção Monitoramento no tempo Acompanhamento clínico (evitar doenças/melhorar/ curar a pessoa) mudanças no estado de saúde da população, bem como diminuição das taxas de mortalidade, da incidência de doença... Fonte: Montilla, 2008, p. 138. O trabalho da epidemiologia ocorre por meio de dados, sendo que esses dados são fornecidos pelos profissionais de saúde, no momento em que preenchem formulários, fichas e relatórios sobre os pacientes. No SUS esses dados são arquivados por meio dos sistemas de informação criados pelo Data SUS (Departamento de Informática do SUS) e estão disponíveis para consulta por qualquer cidadão. Esses dados arquivados, quando trabalhados de forma correta, transformam-se em indicadores, que segundo OPAS são “medidas-síntese que contêm informação relevante sobre determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde” (Brasil, 2008, p. 13) Perceba que dados, informações e indicadores se diferem. O primeiro é apenas uma parte da informação, ou seja, é um componente solto; já a informação configura-se como um dado mais elaborado, onde houve a junção de mais dados e assim torna-se possível ter uma informação. Podemos vislumbrar a informação como “a soma de determinados dados perante certo interesse temporal e a melhora em um algum grau a qualidade da tomada de decisão” (Lima, 2018). O indicador é um passo à frente da informação, ou seja, podemos considerar que é a informação trabalhada. Ou seja, um item leva ao outro, conforme demonstrado na imagem: Figura 5 – Diferença de dado, informação e indicador Fonte: Caveião, 2021. A qualidade do indicador está relacionada à qualidade das informações, seja com relação ao tamanho da população estudada ou precisão da coleta de dados etc. (Brasil, 2008). Mas como podemos trabalhar com a epidemiologia? Essa é a pergunta que iremos responder no próximo tópico. TEMA 5 – NOÇÕES BÁSICAS DE EPIDEMIOLOGIA Para descobrir como podemos trabalhar com a epidemiologia de forma mais prática, vamos imaginar que trabalhamos em um estabelecimento de saúde que tem um programa voltado para os idosos. Assim, vamos precisar de dados que subsidiem as decisões que vamos tomar. Diante disso, precisamos fazer um levantamento das informações que permeiam as nossas atividades, tais como: os determinantes sociais, pessoais, comportamentais, econômicos etc. Tendo essas informações, podemos cruzar os dados a fim de encontrar os resultados estatísticos que nos auxiliarão na tomada de decisão. Entre os resultados, podemos descobrir a relação da morbilidade com a capacidade funcional ou a relação entre a capacidade econômica e a qualidade de vida, enfim, diversos indicadores que nos auxiliarão na condução das ações. Veja que por meio dos dados epidemiológicos conseguimos antever os problemas de saúde, fazendo com que agravamentos não ocorram ou sejam minimizados. Vamos nos basear no material disponibilizado pela Universidade Federal de Santa Catarina para apresentar situações em que a epidemiologia se mostra eficiente (UFSC/UNA-SUS, 2016, p. 13): Quadro 1 – Aplicações da epidemiologia Fonte: Elaborado com base em UFSC/UNA-SUS, 2016, p.13. Esses são apenas alguns exemplos da aplicabilidade da epidemiologia, mas vocês poderão perceber ao longo do curso que ela se faz presente em diversos momentos da rotina dos gestores de saúde e dos profissionais, que possuem em sua rotina a obrigatoriedade de notificar doenças e acompanhar as políticas públicas de saúde. Diante disso, espero que tenhamos conseguido evidenciar a importância da epidemiologia na saúde. Afinal, ela auxilia a planejar estratégias que auxiliem no combate ou prevenção de doenças. NA PRÁTICA Vimos nessa aula que as principais leis promulgadas para garantir o direito a pessoa idosa foram implementadas a partir de 1990. Por meio da Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso foi criado a fim de regulamentar os direitos dessa população. Você conhece o Estatuto do Idoso? Não? Então acesse o link disponível a seguir para conhecer as disposições previstas nessa lei. Brasil. Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_idoso_3edicao.pdf>. Acesso em: 4jan. 2022. FINALIZANDO Nessa aula, entendemos que a percepção sobre a velhice muda de acordo com a cultura e forma de vida das pessoas, que a velhice pode ser vista de forma positiva desde que as pessoas se sensibilizarem para essa causa ainda quando jovens. Também vimos que a cidadania está atrelada aos nossos direitos como cidadãos e que as ações sociais relacionadas aos idosos só começaram a ser implementadas a partir dos anos 90, e desde então muitas legislações foram promulgadas na luta por uma melhor qualidade de vida dos idosos a fim de promover sua autonomia, integração e participação na sociedade. Compreendemos a relação entre a demografia e o envelhecimento populacional e que o censo fornece informações como a idade da população e a sua faixa etária, auxiliando na programação de políticas públicas e preparo do Estado para as próximas décadas. Destacamos ainda a importância da epidemiologia no planejamento e gestão da saúde, visto que por meio dos dados epidemiológicos torna-se possível monitorar a saúde da população, prevendo os problemas de saúde, fazendo com que agravamentos não ocorram ou sejam minimizados. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_idoso_3edicao.pdf REFERÊNCIAS BRASIL. 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