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MANUAL DE TRONCO COMUM DOS CURSOS DE LICENCIATURA PEDAGOGIA GERAL 2022 ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO MANUAL DE TRONCO COMUM DOS CURSOS DE LICENCIATURA PEDAGOGIA GERAL 1º ANO : MANUAL DE TRONCO COMUM CÓDIGO ISCED12-EDUCFG0001 TOTAL HORAS/ 1 SEMESTRE 100 CRÉDITOS (SNATCA) 4 NÚMERO DE TEMAS 4 Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (UnISCED). A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. A Universidade Aberta ISCED Vice-reitoria Académica Rua Paiva Couceiro, Macuti Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail: suporte@unisced.edu.mz Website:www.isced.ac.mz UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL i Agradecimentos A Universidade Aberta ISCED, agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Autor MSc. Crisália Maria Pascoal Sabonete Coordenação Design Financiamento e Logística Ano de Publicação Ano de Atualização Local de Publicação Vice-reitoria Académica Universidade aberta ISCED (UnISCED) Instituto Africano de Promoção da Educação a Distância (IAPED) 2019 2022 UnISCED – BEIRA UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL ii Visão geral 1 Bem-vindo ao Manual da Disciplina de Pedagogia Geral ................................................. 1 Objectivos do Manual ....................................................................................................... 1 Quem deveria estudar este manual ................................................................................. 1 Como está estruturado este manual ................................................................................ 1 Conteúdo deste manual.................................................................................................... 2 Outros recursos ............................................................................................................... 2 Auto-avaliação e Tarefas de avaliação .......................................................................... 2 Habilidades de estudo ...................................................................................................... 3 Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 6 Avaliação ........................................................................................................................... 6 TEMA – I: INTRODUÇÃO A CIÊNCIA PEDAGOGICA 9 UNIDADE Temática 1.1. Introdução, Considerações Gerais à Disciplina: Conceito. ........ 9 Introdução ......................................................................................................................... 9 Sumário ........................................................................................................................... 16 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 16 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 18 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 18 TEMA – II: HISTÓRIA DA PEDAGOGIA 20 Sumário ........................................................................................................................... 57 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 57 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 58 Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 59 TEMA – III: PEDAGOGIA NO CAMPO DE CIÊNCIA DE EDUCAÇÃO 61 Sumário ........................................................................................................................... 66 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 66 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 68 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 68 UNIDADE Temática IV: FUNÇÕES DO PEDAGOGO NO CAMPO EDUCACIONAL. ............ 69 Sumário ........................................................................................................................... 76 Exercícios com respostas ................................................................................................ 76 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 79 UNIDADE Temática V: HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE. ........................... 80 Sumário ........................................................................................................................... 92 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 93 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 94 TEMA – VI: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 96 Sumário ......................................................................................................................... 102 UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL iii Exercícios com respostas .............................................................................................. 102 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 104 Referencias Bibliográficas 105 • UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 1 Visão geral Bem-vindo ao Manual da Disciplina de Pedagogia Geral Objectivos do Manual Ao terminar o estudo deste manual da disciplina de Pedagógia Geral, o estudante deverá ser capaz de: Apresentar o conceito de Pedagogia e seu objecto de estudo, decifrar a praxis da pedagogia, fazer uma análise da pedagogia como ciência de educação, descrever a história da pedagogia. Objectivos Específicos ▪ Definir a pedagogia e seu objecto de estudo. ▪ Descrever a história da pedagogia nos diferentes períodos. ▪ Conhecer os diferentes pensadores da história da educação ▪ Diferenciar a pedagogia como teoria da pedagogia como prática de educação ▪ Distinguir o conceito de educação na pedagogia dos oprimidos ▪ Diferenciar as modalidades de educação ▪ Descrever a história de educação em Moçambique ▪ Identificar os desafios da educação contemporânea. Quem deveria estudar este manual O presente Manual foi concebido para estudantes do 1º ano dos cursos de Licenciatura da UnISCED. Como está estruturado este manual O presente manual está estruturado da seguinte maneira: • Conteúdos deste manual. • Abordagem geral dos conteúdos do manual, resumindo os aspectos-chave que você precisa para conhecer a história da comunicação. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. UnISCED MANUAL DE TRONCOCOMUM DE PEDAGOGIA GERAL 2 Conteúdo deste manual Este manual está estruturado em temas. Cada tema, comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades, cada unidade temática caracteriza-se por conter um título específico, seguido dos seus respectivos subtítulos. No final de cada unidade temática, são propostos 10 exercícios de fechados e 5 exercicios abertos. No fim de cada tema, são incorporados 10 exercícios fechados para avaliação e 5 exercicios abertos para auto-avaliacao. No final do manual estão incorporados 100 exercicios fechados para preparação aos exames. Os exercícios de avaliação são teóricos e Práticos. Outros recursos A UnISCED pode, adicionalmente, disponibilizar material de estudo na Biblioteca do Centro de recursos, na Biblioteca Virtual, em formato físico ou digital. Auto-avaliação e Tarefas de avaliação As tarefas de auto-avaliação para este manual encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. As tarefas de avaliação neste manual também se encontram no final de cada unidade temática, assim como no fim do manual em si, e, devem ser semelhantes às de auto-avaliação, mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente atribuição de uma nota. Também constará do exame do fim do manual. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 3 Habilidades de estudo O principal objectivo desta secção, é ensinar a aprender aprendendo. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso, é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º - Praticar a leitura. Aprender à distância exige alto domínio de leitura. 2º - Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º - Voltar a fazer a leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º - Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º - Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso, se existir. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo a cada 30 minutos ou a cada 60 minutos? etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; deve UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 4 estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só a seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no manual. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja, que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto, mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobretudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 5 está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar. Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, pode suscitar-lhe algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, SMS, E-mail, Casos Bilhetes, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino à Distância (EAD), onde o recurso às TIC se tornam incontornável: entre estudante, estudante – tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central dA UnISCED indigitada para acompanhar as suas sessões presenciais. Neste período, pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é de muita importância na medida em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira fica a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no manual. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 6 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todasas tarefas (actividades avaliação e auto−avaliação), pois, influenciam directamente no seu aproveitamento pedagógico. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Esteja sempre ciente de que a nota das avaliações conta e é decisiva para a admissão ao exame final da disciplina. As avaliações são realizadas e submetidas na Plataforma MOODLE. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante dA UnISCED). Avaliação Muitos perguntam: com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor? Nós dissemos: sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 40% e servem para a nota de frequência para admitir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 7 A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 3 (três) avaliações e 1 (um) (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 9 TEMA – I: INTRODUÇÃO A CIÊNCIA PEDAGOGICA TEMA I: INTRODUÇÃO À CIÊNCIA PEDAGOGICA Erro! Marcador não definido. Unidade 1.1. INTRODUÇÃO - Considerações gerais sobre a disciplina. Unidade 1.2. A Pedagogia: Definição, Unidade 1.3.Objecto de estudo Unidade 1.4. A especificidade do objecto de estudo da Pedagogia Unidade 1.5. Pedagogia como teoria e pratica de educação Unidade 1.6. Conceito de educação Unidade 1.7. Educação como acção libertadora: Pedagogia do oprimido Unidade 1.5. EXERCÍCIOS INTEGRADOS das unidades deste tema… UNIDADE Temática 1.1. Introdução, Considerações Gerais à Disciplina: Conceito. Introdução Nessa unidade iremos primeiramente abordar alguns conceitos básicos que irão ajudar na compreensão do módulo. A unidade tem como objectivo contribuir com a compreensão epistemológica da pedagogia a partir dos diferentes conceitos dados por diferentes autores em torno do entendimento do seu objecto de estudo. A pedagogia pode ser considerada de teoria e prática da educação, pois tem uma importância incontestável na orientação da prática educativa. Assim, o que se propõe é identificar a pedagogia como campo do conhecimento sobre e na educação. A educação sempre foi e sempre será uma prática, uma acção, está no processo contínuo de modificação, não sendo algo estável. A educação é uma acção social em vista de um fim. A educação é, também, um processo de teorização e de reflexão, envolve consciência de um conhecimento e de uma acção exercida pelo ser humano para o desenvolvimento do ser humano. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 10 Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos ▪ Definir a Pedagogia; ▪ Discutir sobre o objecto de estudo da pedagogia; ▪ Descrever a Pedagogia como teoria e Pratica de educação ▪ Analisar o pensamento de Paulo Freire na sua obra Pedagogia do oprimido Pedagogia A palavra pedagogia tem origem na Grécia e deriva de paidagogos, onde paidós (criança) agogé (condução) portanto, pedagogo significa condutor de crianças, aquele que ajuda a conduzir o ensino da criança. 1.1. Conceito de Pedagogia Segundo LIBANEO (2009,p.30) pedagogia é um campo de conhecimento que se ocupa de estudo sistemático da educação, isto é, do acto educativo, da prática educativa concreta que se realiza na sociedade como um dos ingredientes básicos para a configuração da actividade humana. Pedagogia é um conjunto de técnicas, princípios, métodos e estratégias da educação e do ensino, relacionados à administração de escolas e à condução dos assuntos educacionais em um determinado contexto. Pedagogia é a ciência que UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 11 estuda o fenómeno de educação e suas particularidades, e essas pode ser estudada segundo; Libâneo (2001, p. 160) mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnicos profissionais, onde a pedagogia investiga a realidade educacional em transformação, para explicitar objectivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referente à transmissão/assimilação de saberes e modos de acção. Ela visa o entendimento, global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação A Pedagogia traduz-se num procedimento que envolve a formação escolarizada e também como um campo do conhecimento que examina a problemática educativa na sua historicidade e totalidade. O didata alemão Schimied-Kowarzik (1983) denomina a Pedagogia de ciência da e para a educação, logo, é a teoria e a prática da educação. Acredita o escritor Schimied-Kowarzik que a Pedagogia tem um caráter explicativo e normativo da realidade educativa, pois examina teoricamente o fenômeno educativo, define orientações para a prática a partir da própria acção educativa e sugere princípios e normas articulados aos fins e meios da educação. 1.2. Objecto da Pedagogia A prática educativa é um fenómeno constante e universal, inerente a vida social, sendo essa uma actividade humana real e possível de ser investigada. A educação constitui o objecto de conhecimento pertencendo essa tarefa a Pedagogia. Segundo Libaneo (2009, p.96) a pedagogia investiga os factores reais e concretos que concorrem para a formação humana, no seu desenvolvimento histórico, para dai extrair objectivos sociopolíticos e formas de intervenção organizativa e metodológica e torno dos processos que correspondem a acção educativa. 1.3.A especificidade do objecto de estudo da Pedagogia. A educação é reconhecida como objecto bastante complexo, sendo ela uma prática social humana; prática social histórica que se transforma pela acção dos homens e produz transformação nos que dela participam. A educação é um objecto de estudo bastante complexo porque se modifica quando se tenta conhece – lá e produz alterações naquele que dela se apropriou. Se expressa por UnISCEDMANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 12 múltiplas determinações; entende-se na esfera de valores e seus dados são analisados a partir de valores presentes nas concepções sociais ideológicas e culturais. As situações de educação estão sujeitas a imprevistos. Um método científico ao estudar a educação, precisa dar espaço de acção e de análise ao não planejado. A educação deverá ser estudada a partir do colectivo, utilizando de procedimentos formadores e incentivadores. Toda acção educativa tem a intenção de integrar organizar sua práxis. 1.4. Pedagogia como teoria e prática de educação. Pedagogia é uma teoria da prática: a teoria da prática educativa. A palavra pedagogia como adjectivo pedagógico tem marcadamente ressonância metodológica, denotando o modo de operar, de realizar o acto educativo. A pedagogia é, pois, um campo de conhecimento sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade, e ao mesmo tempo uma directriz orientadora da acção educativa. É uma teoria que se estrutura em função da acção, ou seja, é elaborada em função de exigências práticas, interessada na execução da acção e nos seus resultados. A pedagogia, como teoria da educação deve procurar, buscar, equacionar, de alguma maneira, o problema da relação educador- educando, de modo geral, e, no caso específico da escola, a relação professor-aluno, orientando o processo de ensino e aprendizagem. A pedagogia é uma teoria da educação, porque preocupa-se com a realização do acto educativo. Mas nem toda teoria da educação é pedagogia, visto que, podemos encontramos determinados tipos de teorias da educação cuja preocupação é explicar o fenômeno educativo sem se preocupar com a questão da realização do acto educativo. Assim sendo, não podem ser consideradas de pedagogia aquelas teorias que analisam a educação pelo aspecto de sua relação com a sociedade não tendo como objetivo formular diretrizes que orientem a actividade educativa, como é o caso das teorias designadas de “crítico-reprodutivistas”. Como campo de conhecimento prático, a pedagogia conjuga e é constituída por essas diferentes formas e tipos de conhecimentos, sob a mediação da ética e da política. A ampliação do conceito de pedagogia é justificada a partir da expansão do significado da docência, que não pode ser simplificada à transferência mecânica de teorias científicas. Daí a necessidade de se ampliar o entendimento epistemológico da pedagogia, que tem, entre suas diferentes áreas de investigação, a docência. Franco (2008), ao esclarecer o percurso histórico da Pedagogia teoriza que ela é tratada como arte, metodologia, ciência da arte educativa e recentemente com expressiva ênfase na actuação UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 13 docente. Diante desse contexto, é indiscutível que há uma clara indefinição do papel atribuído à Pedagogia como fenômeno educativo em razão de sua complexidade. Esse é um pressuposto que merece atenção e exame, pois, tradicionalmente, a Pedagogia é concebida como um campo de conhecimento que tem a educação como foco de estudo e análise. 1.5. Conceito de Educação Segundo Libaneo, (2009, pag.106) educação é uma prática social caracterizada pela acção de influências entre os indivíduos e grupos, destinada a configuração da existência humana. O surgimento da palavra educação se dá na Grécia e sua difusão acontece com a expansão do território romano e a adopção do latim enquanto língua oficial. A palavra educação tem origem em dois verbos latinos: educare e educere. Educare – alimentar, cuidar, criar, transmitir informações a alguém (estudo), (acção de fora de para dentro de) educere – extrair, desabrochar, desenvolver algo que está no indivíduo (educação), (acção de dentro de para fora de) configuração da maiêutica – método socrático ou método proposto por Sócrates. Educação é o conjunto de acções, processos, influências, estruturas, que intervêm no desenvolvimento humano do individuo, grupos na sua relação activa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos socias. Essa prática social actua na configuração da existência humana individual e grupal, para realizar nos sujeitos humanos as caracteristicas de ser humano, para que o individuo se ajuste ao ambiente no qual esta inserido, de maneiras a puder representar, responder e actuar nos papéis socias a que lhe forem atribuídos. No sentido mais amplo, educação é um processo de actuação de uma comunidade sobre o desenvolvimento do indivíduo com a finalidade de actuar em uma sociedade pronta para a busca da aceitação dos objectivos coletivos. Para tal educação, devemos considerar o homem no plano físico e intelectual consciente das possibilidades e limitações, capaz de compreender e refletir sobre a realidade do mundo que o cerca, devendo considerar seu papel de transformação social como uma sociedade que supere nos dias actuais a economia e a política, buscando solidariedade entre as pessoas, respeitando as diferenças individuais de cada um. Em outras palavras, a educação é, também, uma experiência social, mediante a qual a criança descobre-se a si mesma, desenvolve as relações com os outros, adquire as UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 14 bases do conhecimento e do saber fazer. Essa experiência deve iniciar- se antes da idade da escolaridade obrigatória, sob formas diferentes, conforme as circunstâncias, além de implicar a família e a comunidade de base. Jacques Delors (2010) Segundo W.Dilthey, apud Libâneo (2009,p.76) educação é uma actividade planejada pela qual os adultos os mais novos, sendo produto de influência intencional sobre as gerações em desenvolvimento, dando-lhe determinadas forma de vida. 1.6. Educação como acção libertadora Segundo Libâneo (2009) numa sociedade em que as relações sociais baseiam-se em ralações de antagonismo, em relações de exploração de uns sobre outros, a educação só pode ter um cunho emancipatório, pois a humanização plena implica a transformação dessas relações. Só será considerada de acção libertadora se a partir dela o ser humano puder contribuir para o desenvolvimento humano a nível individual e colectivo, evitando desse modo a escravatura e opressão feita, por um ser humano igual. A acção educativa libertadora implica um conceito de homem e de mundo concomitantes, é preciso não apenas estar no mundo e sim estar aberto ao mundo. O homem deve por si procurar estar atento e compreender as finalidades da educação a fim de transformá-lo, responder não só aos estímulos e sim aos desafios que este nos propõe. A concepção de educação de Paulo Freire percebe o homem como um ser autônomo. Esta autonomia está presente na definição de vocação ontológica de ‘ser mais’ que está associada com a capacidade de transformar o mundo. É exactamente aí que o homem se diferencia do animal. Por viver num presente indiferenciado e por não se perceber como um ser unitário distinto do mundo, o animal não tem história. A educação problematizadora responde à essência do ser e da sua consciência, que é a intencionalidade. 1.7. Pedagogia do Oprimido Freire, desde seus primeiros escritos, estava comprometido com a construção da consciência crítica, com UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 15 uma nova maneira de educar, que contribuísse para que as pessoas pudessem analisar melhor a realidade vivida e fossem capazes de agir sobre essa realidade, transformando-a: "é preciso aumentar o grau de consciência do povo, dos problemas de seu tempo e de seu espaço. É preciso dar-lhe uma ideologia do desenvolvimento". (FREIRE, 1959, p.28). Este comprometimento de Paulo Freire direciona-se em elaborar uma pedagogia comprometida com a melhoraria das condições de existência das populações oprimidas. E essa pedagogia não seria construídaignorando a realidade em que estavam inseridos os educandos a quem ela se dirigia e tão pouco ignorando a consciência que dela eles faziam. Em Pedagogia do oprimido ele demonstra: A Pedagogia do Oprimido que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade. Com isso podemos perceber claramente que o espírito de educação é libertar o homem, despertar a sua consciência de maneiras que esse mesmo homem se sinta livre e possa contribuir para o desenvolvimento humano na esfera individual e colectiva. Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objecto de reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por uma libertação, em que esta pedagogia se fará e se refará. (FREIRE,1987, p.32). Percebemos que a preocupação de Freire (1987) partia sempre dos níveis e das formas como os educandos compreendiam a realidade e não apenas da forma como ele, educador interpretava-a. Com efeito, para o autor, a luta dos oprimidos e sua libertação está diretamente conectadas à percepção dessa situação opressora/alienante. A alienação é um fenômeno no qual o operário produz objectos que satisfaçam as necessidades humanas, mas, ele não reconhece como tal, pois, o fruto de seu trabalho só lhe proporcionou miséria, sofrimento e insegurança – e a busca da libertação desta situação. É o que percebemos quando escreve: sua luta se trava entre eles serem eles mesmos ou seres duplos. Entre expulsarem ou não o opressor dentro de si. Entre se desalienarem ou se manterem alienados. Entre seguirem prescrições ou terem opções. Entre serem espectadores ou actores. Entre actuarem ou terem a ilusão que actuam, na atuação dos opressores. Entre dizerem a palavra ou não terem voz, castrados em seu poder de criar e recriar, no seu poder de transformar o mundo... A libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O homem que nasce desse parto é o homem novo que só é viável na e pela superação da contradição opressor-oprimido, que é a libertação de todos. (FREIRE, 1987, p.36). UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 16 A educação necessária em tempos de exclusão é aquela que lê o mundo e elege o ser humano, que contribui para criar condições locais, nacionais e mundiais para a globalização dos direitos, da integração cultural, da democratização do acesso às conquistas da humanidade, da cidadania, do desenvolvimento sustentável.Porém, Freire afirma que para haver uma libertação é necessário primeiro haver uma mudança radical na mentalidade dos oprimidos. Estes estão tão imersos na realidade opressiva que não possuem uma percepção clara de si mesmos, pois seu modelo de humanidade é o modelo da opressão e para serem homens precisam ser como os opressores, pois estes representam seu “tipo de homem”. Pois os opressores não podem nem se libertar, nem libertar os outros e não é simplesmente invertendo os papéis que a opressão cessará. Freire também destaca que uma característica do oprimido é o desprezo por si mesmo, que ocorre devido à interiorização da opinião dos opressores sobre ele, de tanto escutarem que são inferiores e incapazes, eles acabam acreditando nisso e devido à essa falta de confiança em si mesmo e da crença no poder do opressor, os oprimidos são emocionalmente dependentes. Sumário Nesta Unidade temática abordamos os seguintes temas, Conceito de : 1. Pedagogia e de educação 2. Objecto de estudo da pedagogia 3. Pedagogia como teoria e prática da educação 4. A pedagogia do oprimido Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO 1. Fale da origem da palavra Pedagogia. 2. Qual é o objectivo da Pedagogia? 3. O que é educação 4. Fale da importância da Pedagogia para a educação 5. O fenômeno no qual o operário produz objectos que satisfaçam as necessidades humanas, mas, ele não reconhece como tal, pois, o fruto de seu trabalho só lhe proporcionou miséria, sofrimento e insegurança, e a busca da libertação desta situação é: A. Alienação B. Educação C. Ensino D. Aprendizagem. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 17 Indique o valor lógico das afirmações que se seguem 6. A educação é reconhecida como objecto bastante complexo, sendo ela uma prática social humana; prática social histórica que se transforma pela acção dos homens e produz transformação nos que dela participam. 7. A educação é, pois, um campo de conhecimento sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade, e ao mesmo tempo uma directriz orientadora da acção educativa 8. A educação é um objecto de estudo bastante complexo porque se modifica quando se tenta conhece – lá e produz alterações naquele que dela se apropriou. 9. A educação se expressa por múltiplas determinações; entende-se na esfera de valores e seus dados são analisados a partir de valores presentes nas concepções sociais ideológicas e culturais. 10. Pedagogia não é uma teoria da prática 11. A palavra educação tem origem em dois verbos latinos: educare e educere Respostas 1. A palavra pedagogia tem origem na Grécia e deriva de paidagogos, onde paidós (criança) agogé (condução) portanto, pedagogo significa condutor de crianças, aquele que ajuda a conduzir o ensino da criança. 2. O objectivo da Pedagogia é investigar os factores reais e concretos que concorrem para a formação humana, no seu desenvolvimento histórico, para dai extrair objectivos sociopolíticos e formas de intervenção organizativa e metodológica e torno dos processos que correspondem a acção educativa. 3. Educação é uma pratica social caracterizada pela acção de influências entre os indivíduos e grupos , destinada a configuração da existência humana. 4. A pedagogia é importante para a educação visto que, prepara pessoas capazes de compreender e colaborar para a melhoria da qualidade em que se desenvolve a educação na realidade brasileira, envolvidos e compromissados com uma formação da idéia de transformação social. 5. A. Alienação 6.V 7.F 8.V 9.V 10.F 11.V UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 18 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-1 (Com respostas detalhadas) 1. Defina a Pedagogia Geral 2. Dentre vários conceitos de Pedagogia elabore um conceito mais simples e completo. 3. Discuta o objecto de estudo da Pedagogia. 4. Discuta os diferentes conceitos de educação? 5. Sendo educação objecto de estudo da pedagogia, porque é que é considerada bastante complexa? 6. Argumente o facto da Pedagogia ser considerada teoria e prática de educação? 7. Em menos de 10linhas faça um resumo do pensamento de Paulo Freire na pedagogia do oprimido? Respostas: 1. Rever o 2º e 3º parágrafo da página 11 (Introdução desta Unidade): 2. Rever a página 11 (Introdução desta Unidade); 3. Rever o 3º parágrafo da página 11 (Introdução desta Unidade); 4. Rever os conteúdos a página 12 e 13; 5. Rever o parágrafo 6º da página 13; 6. Rever o conteúdo do 1º e 3º parágrafo da página 13. 7. Rever a última parte desta unidade página 15 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes) • é um conjunto de técnicas, princípios, métodos e estratégias da educação e do ensino, relacionados à administração de escolas e à condução dos assuntos educacionais em um determinado contexto. • define orientações para a prática a partir da própria acção educativa mas sem sugerir os princípios ,finalidades e meios da educação. • A prática educativa é uma actividade humana real e possível de ser investigada por pessoa Física; • Não tem um caráter explicativo e normativo da realidade educativa, pois examina apenas o fenômeno educativo, São: Só uma das seguintes respostas é correcta. a)Educação b)Pedagogia c) Pratica educativa d) objecto da pedagogia UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIAGERAL 19 2 GRUPO-2 (Com respostas sem detalhes) • é uma pratica social caracterizada pela acção de influências entre os indivíduos e grupos , destinada a configuração da existência humana. • É um conhecimento prático, a pedagogia conjugada e é constituída por diferentes formas e tipos de conhecimentos, sob a mediação da ética e da política. • é uma actividade planejada pela qual os adultos os mais novos, sendo produto de influência intencional sobre as gerações em desenvolvimento, dando-lhe determinadas forma de vida. • Enquadra-se dentro do problema da relação educador-educando, de modo geral, e, no caso específico da escola, a relação professor-aluno, orientando o processo ensino-aprendizagem. • São: Uma das seguintes respostas é correcta a) Pedagogia b) Ensino c) Educação d) Teoria da educação GRUPO-3 (Exercícios de GABARITO) 1. O entende por Pedagogia? 2. Qual é o objecto de estudo da Pedagogia? 3. Porque é que a educação considera-se de acção libertadora? 4. Qual é a ideia fundamental na pedagogia do oprimido? 5. Considera-se a pedagogia como teoria da educação. Mas nem toda teoria da educação é pedagogia. Porque? UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 20 TEMA – II: HISTÓRIA DA PEDAGOGIA Unidade 2.1. Introdução a história da Pedagogia Unidade 2.2.Período Primitivo Unidade 2.3. Educação no período Oriental Unidade 2.4. Educação na Grécia Unidade 2.5.Período no período Romano Unidade 2.6. Educação Mediaval Unidade 2.7. Educação no período de Renascimento Unidade 2.8. Educação no Período Moderno Unidade 2.9. Educação no período Iluminista Unidade 2.10. Educação no período Positivista Unidade 2.11. Educação no período Socialista Unidade 2.12. Educação na Escola Nova Unidade 2.11.Pensamento Pedagogico no 3º Mundo Unidade 2.12. Pensamento Pedagogico no Brasil Unidade 2.13. EXRECÍCIOS INTEGRADOS das unidades deste tem Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de: Objectivos específicos • Identificar os períodos da história da pedagogia • Descrever as principais características de cada período • Fazer uma análise crítica da concepção do Sócrates sobre a aprendizagem • Fazer uma análise crítica da concepção dos três factores principais que determinam o desenvolvimento espiritual do homem Aristóteles • Descrever a educação na abordagem de Platão • Reflectir sobre o contributo de aguns pensadores do 3º mundo UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 21 2.1. Introdução Nessa unidade falaremos da história da pedagogia. Iremos descrever características de alguns períodos históricos da evolução dos estudos teóricos de educação, de cada fase, seus pensadores e suas obras. O fenómeno educação como liberdade de acção, pensamento e expressão estava em alta em várias épocas onde pensadores de diferentes períodos deram seu contributo que até aos dias de hoje podem nos conduzir a uma reflexão diante dessa prática e teoria que é a educação. No período da educação primitiva não existia educação na forma de escola, mas com a evolução, apareceram as escolas e as crianças começaram a ser vistas como um ser com natureza própria e a escola se tornou um local de expansão do espírito e aprendizagem do “fazer”. As ciências ganhavam, depois de séculos, independência e método. O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) proclamava que o conhecimento e a natureza estão a disposição do ser humano e que a ciência avança pela experiência empírica. A reforma de Martinho Lutero (1483-1546) na Alemanha, que originou o protestantismo, foi a mais célebre das ropturas e influenciou profundamente na educação. Tendo a livre interpretação da Bíblia como um de seus pilares, o protestantismo valorizou a alfabetização e o ensino de línguas, e mais importante, pregou o acesso de todos a esse conhecimento. Os reformadores religiosos defendiam a formação de uma nova classe de homens cultos, dando origem ao conceito de utilidade social da educação. Na educação, o grande nome racionalista foi o do tcheco Comênio (1592-1670), que revolucionou o modo de encarrar a criança, prevendo um ensino que respeitasse a capacidade e o interesse do aluno sem severidade nem recurso a castigos corporais. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 22 2.1. Educação no período primitivo Características da educação primitiva Não existia educação na forma de escolas. Os ensinamentos se davam nas experiências diárias e pelas orientações dos mais velhos e experientes, objectivo era ajustar a criança ao seu ambiente físico e social, através da aquisição das experiências, chefes de família eram os primeiros professores e em seguida os sacerdotes. A educação dos jovens, nesta fase, torna-se o instrumento central para a sobrevivência do grupo e a actividade fundamental para realizar a transmissão e o desenvolvimento da cultura. No filhote dos animais superiores já existe uma disposição para acolher esta transmissão, fixada biologicamente e marcada pelo jogo-imitação. Todos os filhotes brincam com os adultos e nessa relação se realiza um adestramento, se aprendem técnicas de defesa e de ataque, de controlo do território, de ritualização dos instintos. Isso ocorre num nível mais complexo, também com o homem primitivo, que através da imitação, ensina ou aprende o uso das armas, a caça e a colheita, o uso da linguagem, o culto dos mortos, as técnicas de transformação e domínio do meio ambiente. A revolução neolítica é também uma revolução educativa fixa uma divisão educativa paralela à divisão do trabalho (entre homem e mulher, entre especialistas do sagrado e da defesa e grupos de produtores),fixa o papel chave da família na reprodução das infra- estruturas culturais, papel sexual, papéis sociais, competências elementares, introjeção da autoridade, produz o incremento dos locais de aprendizagem e de adestramento específicos (nas diversas oficinas artesanais ou algo semelhante, nos campos, no adestramento; nos rituais, na arte que, embora ocorram sempre por imitação e segundo processos de participação activa no exercício de uma actividade, tendem depois a especializar-se, dando vida a momentos ou locais cada vez mais específicos para a aprendizagem. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 23 2.2. Educação no Período Oriental Caracteristicas A educação começa a ter uma sistematização com registros gráficos. Observa-se o surgimento da escrita, transição da sociedade primitiva para a civilização, surgimento da cidade e do estado. A educação passa a cumprir papel determinante. Mantinha-se a cultura dominante através da educação. Nas civilizações orientais a educação era tradicional: Era dividida em classes, opondo-se à cultura e ao trabalho. Era organizada em escolas fechadas e separadas para a classe dirigente. O conhecimento da escrita era restrito devido ao seu caráter esotérico. As preocupações com a educação apareceram nos livros sagrados, que ofereceram regras, ideais de conduta e enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos. Nesse período surgiu o dualismo escolar, que destina um tipo de ensino para o povo e outro para os filhos dos funcionários, ou seja, grande parte da comunidade foi excluída da escola e restringida à educação familiar informal. a) Pensamento pedagógico oriental TALMUDE: a educação hebraica O traço predominante da educação hebraica era o idealismo religioso. Em todas as escolas, os estudos baseavam-se na Bíblia. As matérias estudadas história, geografia, aritmética, ciências naturais se relacionavam com os textos bíblicos e se impregnavam de preceitos morais. O principal manual do povo hebreu era o TORA, também chamado Pentateucoporque reunia os cinco livros de Moisés. Moisés, homem essencialmente religioso líder do êxodo no Egipto, exerceu muita influência na mentalidade judaica. O ensino era sobretudo oral. A repetição e a revisão constituíam os processos pedagógicos básicos. Mais do que a Bíblia, outro livro sagrado dos judeus o Talmude contém os preceitos básicos para a educação judaica: as tradições, doutrinas, cerimônias, etc. O Talmude foi redigido no séc. II, existindo dele duas versões. Ele representava o código religioso e civil dos judeus, que não aceitavam Cristo. O Talmude aconselha os mestres a repetir até quatrocentas vezes as noções mal compreendidas pelos alunos. A disciplina escolar recomendada era mais amena do que a da Bíblia. Para o Talmude, a criança deve ser punida com uma mão e acariciada com a outra. Já a UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 24 Bíblia dizia que a vara, a repreensão, o castigo dão sabedoria à criança. A Bíblia não menciona escola elementar, mas o Talmude sim: “depois dos seis anos, levá-lo à escola e carrega-o como um boi”. Essa passagem indica claramente que o ensino hebraico era conteudista, enchendo a criança de trabalhos. 2.3. Educação na Grécia Características da educação na Grécia Grécia é o berço da civilização, tendo como seus principais representantes: Sócrates, Aristóteles e Platão. A educação tinha em como princípio o desenvolvimento individual do ser humano, preparação para o desenvolvimento intelectual da personalidade e da cidadania, Ideais pautados na liberdade política e moral e no desenvolvimento intelectual. Neste período as crianças viviam a primeira infância em família, assistidas pelas mulheres e submetidas à autoridade do pai, que poderia reconhecê-las ou abandoná-las, que escolhia seu papel social e era seu tutor legal. A infância não era valorizada em toda a cultura antiga: era uma idade de passagem, ameaçada por doenças, incerteza nos seus sucessos; sobre ela, portanto, se fazia um mínimo investimento afectivo. A criança crescia em casa, controlada pelo “medo do pai”, aterrorizada por figuras míticas semelhantes às bruxas, gratificada com brinquedos (bonecas) e entretida com jogos (bolas, aros, armas rudimentares), mas sempre era colocada à margem da vida social. Ou então, era submetida à violência, a estupro, a trabalho, até a sacrifícios rituais. O menino em toda a Antiguidade e na Grécia também era um “marginal” e como tal era violentado e explorado sob vários aspectos, mesmo se gradualmente a partir dos sete anos, em geral era inserido em instituições públicas e sociais que lhe concediam uma identidade e lhe indicavam uma função. A menina não recebia qualquer educação formal, mas aprendia os ofícios domésticos e os trabalhos manuais com a mãe. A educação grega era centrada na formação integral do indivíduo. Quando não existia a escrita, a educação era ministrada pela própria família, conforme a tradição religiosa. A transmissão da cultura grega se dava também, através das inúmeras actividades colectivas (festivais, banquetes, reuniões). A escola ainda permanecia elitizada, UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 25 atendendo aos jovens de famílias tradicionais da antiga nobreza ou dos comerciantes enriquecidos. O ensino das letras e dos cálculos demorou um pouco mais para se difundir, já que nas escolas a formação era mais esportiva que intelectual. a) SÓCRATES: (469-399 a.C) Filósofo grego nascido em Atenas, foi considerado o mais espantoso fenômeno pedagógico da história do Ocidente. Sua preocupação como educador, ao contrário dos sofistas, não era de adaptação, a dialética retórica, mas despertar e estimular o impulso para a busca pessoal e a verdade, o pensamento próprio e a escuta da voz interior. Não os interessava os honorários das aulas, mas o diálogo vivo e amistoso com seus discípulos. Sócrates acreditava que o autoconhecimento é o início do caminho para o verdadeiro saber. Não se aprende a andar nesse caminho com o recebimento passivo de conteúdos oferecidos de fora, mas com a busca trabalhosa que cada qual realiza dentro de si. Sócrates foi acusado de blasfemar contra os deuses e de corromper a juventude. Foi condenado à morte e, apesar da possibilidade de fugir da prisão, permaneceu fiel a si e à sua missão. Não deixou nada escrito. O que herdamos foi o testemunho de seus contemporâneos, especialmente do seu discípulo mais importante, Platão. b) PLATÃO: (427-347 a. C.) Principal discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, foi um Importante filósofo. Nascido em Atenas, de uma família nobre, esteve em contato com as personalidades mais importantes de sua época. Das várias obras que deixou, destacam-se: República, Alegoria da caverna, Banquete, Sofista, Leis. Através delas, formula a tarefa central de toda educação: retirar o “olho do espírito” enterrar no grosseiro pantanal, em constante mutação, e fazê-lo olhar para a luz do verdadeiro ser, do divino; passar gradativamente da percepção ilusória dos sentidos para a contemplação da realidade pura e sem falsidade. Para ele, só com o cumprimento desta tarefa existe educação, a única coisa que o homem pode levar para a eternidade. Para que se alcance este objectivo “converter” a alma, encarar a educação como “arte de conversão”. Em sua utópica República todas as mulheres deveriam ser comuns a todos os homens. Para ele as autoridades do Estado deveriam decidir quem geraria os filhos, quando, onde e quantas vezes. Estas e outras teses controversas da obra de Platão não conseguem obscurecer sua contribuição para a concepção do homem Ocidental e da Educação. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 26 c) ARISTÓTELES: (384-322 a. C.) É com Platão, um dos mais geniais filósofos gregos e o maior sistematizador de toda a Antiguidade. Nascido na Macedônia, ingressa com 17 anos na Academia de Atenas, onde permanece estudando e ensinando durante 20 anos, até a morte de seu mestre, Platão. Contrário ao idealismo de seu mestre, Aristóteles prega de maneira realista que as ideias estão nas coisas, com sua própria essência. É também realista em sua concepção educacional; expõem três factores principais que determinam o desenvolvimento espiritual do homem: “disposição inata, hábito e ensino”. Com isso, mostra-se favorável a medidas educacionais “condicionantes” e acredita que o homem pode tornar-se a criatura mais nobre, como pode tornar-se a pior de todas, que aprendemos fazendo, que nos tornamos justos agindo justamente. 2.4.A Educação no Período Romano Características da educação Romana Não existia democratização; a educação dava ênfase à formação moral e física (formação do guerreiro); o ideal de Direitos e Deveres. Educação das Doze Tábuas O texto talhado da educação romana, como atesta Cícero, foi por muito tempo o das Doze tábuas, fixado em 451 a.C., no bronze e exposto publicamente no fórum, para que todos pudessem vê-lo. Nelas, sublinhava-se o valor da tradição (o espírito, os costumes, a disciplina dos pais) e delineava-se um código civil, baseado na pátria e caracterizado por formas de relação social típicas de uma sociedade agrícola atrasada. Como modelo educativo, as tábuas fixavam a dignidade, a coragem, a firmeza como valores máximos, ao lado, porém, da pieta e da parcimônia. A educação na Roma arcaica teve, sobretudo, caráter prático, familiar e civil, destinada a formar em particular o civis romanos, superior aos outros povos pela consciência do direito como fundamento da própria “romanidade”. Os civis romanos eram, porém, formado antes de tudo em família pelo papel central do pai, mas também da mãe, por sua vez menos submissa e menos marginal na vida da família em comparação com a Grécia. A mulher em Roma era valorizada como mater famílias, portanto reconhecida como sujeitoeducativo, que controlava a educação dos UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 27 filhos, confiando-os a pedagogos e mestres. Diferente, entretanto, é o papel do pai, destinada a formar o futuro cidadão, é colocada no centro da vida familiar e por ele exercida com dureza, abarcando cada aspecto da vida do filho (desde a moral até os estudos, as letras, a vida social). Para as mulheres, porém, a educação era voltada a preparar seu papel de esposas e mães, mesmo se depois, gradativamente, a mulher tenha conquistado maior autonomia na sociedade romana. O ideal romano da mulher, fiel e operosa, atribui a ela, porém, um papel familiar e educativo. a) MARCOS TÚLIO CÍCERO (106-43 a.C.) Orador e político romano, nasceu em Arpino, cidade do Lácio onde sua família tinha uma propriedade rural. Aos 10 anos foi enviado a Roma para completar sua educação. Aprendeu então literatura grega e latina, além da retórica, com os melhores mestres da época. Tinha como mestres Múcio Cévola, em Direito; Fedro, Diota e Filo, em Filosofia. Aprofundou-se no conhecimento das leis e doutrinas filosóficas. Em 84 a.C., escreveu sua primeira obra, De inventione, onde apresentou sua teoria sobre a retórica. Aos 25 anos de idade ingressou na vida forense. Em 75 a.C. Cícero foi nomeado questor da Sicília. Contra Verres, Cícero compôs seus famosos discursos, jamais pronunciados, reunidos sob o nome de Verrinas (70 a.C.). Aproximou-se então do auge a vida política do orador, vendo crescer seu prestígio. Sua ambição era chegar a consulado. Fez todo o possível para galgar os cargos políticos, conseguindo obtê-los um a um. Atinge o consulado em 63 a.C. Num momento de crise da República, Cícero entrou em desacordo com César e Públio Clódio, que mandava matar quem discordasse de seu poder. Cícero se afastou da vida pública. Mais tarde ao formar o segundo Triunvirato com Octávio e Lépido, Cícero foi assassinado em Fórmia. Sua cabeça e suas mãos ficaram expostas no Fórum. Sua obra compreende discursos, tratados filosóficos e retóricos, cartas e poemas. Cícero é considerado o maior dos prosadores romanos e o que mais influenciou os oradores modernos. b) MARCOS FÁBIO QUINTILIANO Nasceu em Calagurris, Espanha. Estudou retórica e lecionou em Roma durante 20 anos. Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se escrever a sua rica experiência, na famosa obra Instituto oratória, em doze livros, sobre a educação do orador. Nela Quintiliano não se limita à didática e à metodologia da retórica. Trata do problema do talento, das tarefas do educador e do professor, do estilo UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 28 correto de ensino e de educação e de inúmeras questões pedagógicas. Defendia o ideal educacional da eloquência perfeita. Tinha em mente um homem ao mesmo tempo eloquente e sábio. Não se contentava com um homem apenas eloquente, que poderia defender-se ou responsabilizar-se pessoalmente por aquilo que defendia. Também não lhe bastava um indivíduo apenas sábio: era necessário que fosse eloquente. 2.5.Educação no Período Medieval Características da educação medieval Tinha como ponto de início: doutrina da igreja católica, conhecido como o século das trevas, educação conservadora; criticava a educação grega (liberal) e romana (prática), fundação da Companhia de Jesus (jesuítas). No período medieval a educação era desenvolvida em estreita simbiose com a Igreja, com a fé cristã e com as instituições eclesiásticas que enquanto acolhiam os oratores (os especialistas da palavra, os sapientes, os cultos, distintos dos bellatores e dos laboratores) eram as únicas delegadas (com as corporações no plano profissional) a educar, a formar, a conformar. Da Igreja partiram os modelos educativos e as práticas de formação, organizavam-se as instituições ad hoc e programavam-se as intervenções, como também nela se discutiam tanto as práticas como os modelos. Práticas e modelos para o povo, práticas e modelos para as classes altas, uma vez que era típico também da Idade Média o dualismo social das teorias e das práxis educativas, como tinha sido no mundo antigo. Também a escola, como nós conhecemos, é um produto da Idade Média. A sua estrutura ligada à presença de um professor que ensina a muitos alunos de diversas procedências e que deve responder pela sua atividade à Igreja ou a outro poder (seja ele local ou não); as suas práticas ligadas à lectio e aos autores, a discussão, ao exercício, ao comentário, à arguição etc.; as suas práxis disciplinares (prêmios e castigos) e avaliativas vêm daquela época e da organização dos estudos nas escolas monásticas e nas catedrais e, sobretudo nas universidades. Vêm de lá também alguns conteúdos culturais da escola moderna e até mesmo da contemporânea: o papel do latim; o ensino gramatical e retórico da língua; a imagem da filosofia, como lógica e metafísica. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 29 a) SANTO AGOSTINHO (354-430): Nasceu em Tagaste, parte oriental da actual Argélia. Depois de concluir os estudos, lecionou retórica em Tagaste, Cartago, Roma e Milão. No campo filosófico seguiu outras linhas, como o ceticismo, até ser conquistado pelo cristianismo e baptizado junto com o seu filho, que nasceu quando Agostinho tinha 18 anos. Seu filho Adeodato, morreu com 17 anos. Agostinho foi ordenado sacerdote e, mais tarde, sagrado bispo em Hipona. Morreu nessa cidade, quando os vândalos a assediaram. Agostinho foi grande pensador e sutil psicólogo. Mas destacou-se sobretudo como o mais importante filósofo e teólogo, no limiar entre a Antiguidade e a Idade Média. Entre as suas obras pedagógicas encontrasse uma que foi chamada de “O livro da revolta”, cujo título é O mestre. Dentro da tradição platônica, Agostinho redigiu-a em forma de diálogo entre ele e o seu filho. Nela defendeu a ideia de que, como toda a necessidade humana, também a aprendizagem, em última instância, só pode ser satisfeita por Deus. Em sua pedagogia, recomendou aos educadores jovialidade, alegria, paz no coração e às vezes também alguma brincadeira. b) SÃO TOMÁS DE AQUINO (1224 OU 1225-1274) Nasceu num castelo na região de Nápoles. Filho mais novo do conde de Aquino, foi obrigado a fugir para ingressar na ordem de São Domingos, pois seu pai era contrário à escolha pelo movimento das ordens mendicantes. Terminou os estudos em Paris, onde conheceu seu mestre Alberto Magno. Aos 27 anos, tornou-se professor universitário. Tomás foi canonizado, elevado a doutor da Igreja e declarado patrono de todas as escolas católicas. Com vida de bastante perigrinação, geralmente viajando a pé visitou várias cidades, nas quais não permaneceu mais de três anos. Morreu a caminho do Concílio de Lion, na França. Deixou uma obra imensa. Foi filósofo, teólogo, um dos mais activos organizadores dos estudos, reformador dos programas de ensino, fundador de escolas superiores mas, acima de tudo, professor. Seguia e pregava os seguintes princípios: evitar a aversão pelo tédio e despertar a capacidade de admirar e perguntar, como início do autêntico ensino. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 30 2.6.A Educação no Período do Renascimento Características da educação no renascimento O Renascimento começou na Itália, no século XIV, e difundiu-se por toda a Europa, durante os séculos XV e XVI. Foi um período da história européia marcado por um renovado interesse pelo passado greco- romano clássico, especialmente pela sua arte. Para se lançar ao conhecimento do mundo e às coisas do homem, o movimento renascentista elegia a razão como a principal forma pela qual o conhecimento seria alcançado. O renascimento deu grande privilégio à matemática e às ciências da natureza. A exatidão do cálculo chegou até mesmo a influenciar o projecto estéticodos artistas desse período. Desenvolvendo novas técnicas de proporção e perspectiva, a pintura e a escultura renascentista pretendiam se aproximar ao máximo da realidade. Em consequência disso, a riqueza de detalhes e a reprodução fiel do corpo humano formavam alguns dos elementos correntes nas obras do Renascimento. O Humanismo representou tendência semelhante no campo da ciência. O renascimento confrontou importantes conceitos elaborados pelo pensamento medieval. No campo da astronomia, a teoria heliocêntrica, onde o Sol ocupa o centro do Universo, se contrapunha à antiga ideia cristã que defendia que a Terra se encontrava no centro do cosmos. Novos estudos de anatomia também ampliaram as noções do saber médico dessa época. Os humanistas eram homens letrados profissionais, normalmente provenientes da burguesia ou do clero que, por meio de suas obras, exerceram grande influência sobre toda a sociedade; rejeitavam os valores e a maneira de ser da Idade Média e foram responsáveis por conduzir modificações nos métodos de ensino, desenvolvendo a análise e a crítica na investigação científica. a) MICHEL MONTAIGNE (1533-1592) Nasceu no castelo de Montaigne, perto de Bardeaux. Sua educação foi confiada a um humanista alemão. Estudou direito e durante alguns anos exerceu a função de conselheiro parlamentar em Bardeaux. Mais tarde tornou-se prefeito deste lugar por 4anos. Dedicou o resto da sua vida as actividades literárias. Com seus pensamentos sobre educação, Montaigne pode ser considerado um dos fundadores da pedagogia da Idade Moderna. UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 31 Queixou-se só de trabalhar com a memória, deixando vazias a razão e a consciência. Desejou um homem flexível, aberto para a verdade. Criticou duramente o brutal estilo de educação de sua época. b) MARTINHO LUTERO (1483-1546) Foi líder da Reforma, movimento religioso que levou ao nascimento do protestantismo. Lutero nasceu e morreu na Saxônia. Recebeu o grau de mestre em filosofia na universidade de Erfurt (1505). Iniciou, então, estudos de direito, interrompidos quando ingressou no convento dos agostinianos dessa mesma cidade. Em 1507 foi ordenado sacerdote. Doutorou-se em teologia e foi designado professor de teologia em Winttenberg, cargo que manteve para o resto da sua vida. Em 1517, com a intenção de arrecadar fundos para a conclusão da suntuosa Basílica de São Pedro, o papa Leão X encarregou o monge dominicano Tetzel de oferecer indulgências (perdão dos pecados) a todos os que oferecessem polpudos donativos à Igreja. Contra isso se insurgiu Lutero. A venda das indulgências forneceu a ocasião para a ruptura. Lutero atacou o inquisidor Tetzel e refugiou-se em Winttenberg. Não tardou a traduzir as consequências de seus princípios e negou sucessivamente a autoridade do papa, a hierarquia, o celibato dos padres, os votos monásticos, o culto aos santos, o purgatório e a missa. Excomungado em 1520, queimou a bula do papa em praça pública. A venda das indulgências forneceu a ocasião para a ruptura. Traduziu a Bíblia para o alemão, colocando-a à altura dos menos letrados. Passando do terreno puramente religioso ao social, através de panfletos, incutiu nos camponeses a rebeldia contra o pagamento de impostos que a Igreja cobrava e contra as opressões dos senhores feudais. Essa campanha resultou numa guerra civil em que os camponeses estavam empenhados. A contenda devorou a vida de 100 mil pessoas de ambos os lados. Nessa época apareceram os primeiros protestantes. As cidades do Império reclamavam o direito das minorias que adotaram a Reforma. Queriam a liberdade de consciência contra a imposição do credo das maiorias católicas. c) OS JESUÍTAS A pedagogia dos jesuítas exerceu grande influência em quase todo o mundo. A ordem dos jesuítas foi fundada em 1534 pelo militar espanhol INÁCIO DE LOYOLA ( 1491-1556) com o objectivo de consagrar-se à educação da juventude católica. Seguia os princípios cristãos e insurgia-se contra a pregação religiosa protestante. O criador da Companhia de Jesus imprimiu uma rígida disciplina e o culto da obediência a todos os componentes da ordem. A Ratium Studiorum é o plano de estudos, de métodos e a base UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 32 filosófica dos jesuítas. Representa o primeiro sistema organizado da educação católica. Ela foi promulgada em 1599, depois de um período de elaboração e experimentação. A educação dos jesuítas destinava-se à formação das elites burguesas, para prepará-las a exercer a hegemonia cultural e política. Eficientes na formação das classes dirigentes, os jesuítas descuidaram completamente da educação popular. 2.7.A Educação no Período Moderno O Modernismo surge no século XVII na Europa. A modernidade costuma ser entendida como um ideário ou visão de mundo que está relacionada ao projecto de mundo moderno, empreendido em diversos momentos ao longo da Idade Moderna e consolidado com a Revolução Industrial. Está normalmente relacionada com o desenvolvimento do Capitalismo. Conhecido como o século das luzes, há um interesse pela educação grega e romana, privilegiava aos que detinham o poder, a separação entre a igreja católica e o estado. Os principais pensadores são: João Amós Comênio e John Locke Características do modernismo Duas instituições educativas, em particular, sofreram uma profunda redefinição e reorganização na Modernidade: a família e a escola, que se tornaram cada vez mais centrais na experiência formativa do indivíduo e na própria reprodução (cultural, ideológica e profissional) da sociedade. As duas instituições chegaram a cobrir todo o arco da infância adolescência, como “locais” destinados à formação das jovens gerações, segundo um modelo socialmente aprovado e definido. A família, objecto de uma retomada como núcleo de afectos e animada pelo “sentimento da infância”, que fazia cada vez mais da criança o centro-motor da vida familiar, elaborava um sistema de cuidados e de controlo da mesma criança, que tendiam a conformá-la a um ideal, mas também a valorizá-la como mito, um mito de espontaneidade e de inocência, embora às vezes obscurecido por crueldade, agressividade etc. Os pais não se contentavam mais em apenas pôr filhos no mundo. A moral da época impõe que se dê a todos os filhos, não só ao primogênito, e no fim dos anos seiscentos também as filhas, uma preparação para a vida. A tarefa de assegurar tal afirmação é atribuída à escola. Ao lado da família, a escola. Uma escola que instruía, que formava e que ensinava conhecimentos, mas também comportamentos, que se UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 33 articulava em torno da didática, da racionalização da aprendizagem dos diversos saberes, e em torno da disciplina, da conformação programada e das práticas repressivas (construtivas, mas por isso produtoras de novos comportamentos). Mas, sobretudo, uma escola que reorganizava suas próprias finalidades e seus meios específicos. Uma escola não mais sem graduação na qual se ensinavam as mesmas coisas a todos e segundo processos de tipo adulto, não mais caracterizada pela “promiscuidade das diversas idades” e, portanto, por uma forte incapacidade educativa, por uma rebeldia endêmica por causa da acção dos maiores sobre os menores e, ainda, marcadas pela “liberdade dos estudantes”, sem disciplina interna e externa. Com a instituição do colégio (no século XVI), porém, teve início um processo de reorganização disciplinar da escola e de racionalização e controle de ensino, através da elaboração de métodos de ensino/educação o mais célebre foi a Ratio studiorum dos jesuítas que fixavam um programa minucioso de estudo e de comportamento, o qual tinha ao centro a disciplina, o internato e as “classes de idade”, além da graduação do ensino/aprendizagem.Também é dessa época a descoberta da disciplina: uma disciplina constante e orgânica, muito diferente da violência e autoridade não respeitada. A disciplina escolar teve raízes na disciplina religiosa; era mero instrumento de exercício que de aperfeiçoamento moral e espiritual, era buscada pela sua eficácia, como condição necessária do trabalho em comum, mas também por seu valor próprio de edificação. Enfim, a escola ritualizava o momento do exame atribuindo-lhe o papel crucial no trabalho escolar. O exame era o momento em que o sujeito era submetido ao controle máximo, mas de modo impessoal: mediante o controle do seu saber. Na realidade, o exame agia, sobretudo, como instrumento disciplinar, de controlo do sujeito, como instrumento de conformação. a) JOÃO AMÓS COMÊNIO (1592-1670): Educador tcheco, nasceu na Morávia. Criador de um sistema educacional que até hoje não foi superado, foi pioneiro do ecumenismo. Estudou teologia e ocupou a reitoria de um colégio, antes de ser ordenado padre. Vítima da Guerra dos Trinta Anos, passou grande parte de sua vida no exílio, primeiro na Polônia, onde foi bispo, mais tarde na Suécia, na Prússia e na Holanda, onde veio a falecer. Superando definitivamente o pessimismo antropológico da Idade Média, com seu optimismo realista Comênio influenciou as pedagogias UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 34 das épocas posteriores, fortalecendo a convicção de que o homem é capaz de aprender e pode ser educado. Seu trabalho está registrado em vários livros, entre os quais: Pródromus da Ponsofia, de 1630, na qual defende a generalização do ensino, subordinado a um órgão de controlo universal, como meio de pôr fim às guerras; Porta aberta das Línguas, de 1631, onde apresentou um novo método de ensino do latim por meio de ilustrações e lições objetivas, que foi logo traduzido em 16 línguas; A grande didática, de 1633, em que faz uma tentativa de criar a ciência da educação utilizando os mesmos métodos das ciências físicas. As teorias educacionais de Comênio surpreendem pela actualidade. Defendeu-se nelas uma educação que interpretasse e alargasse a experiência de cada dia e utilizasse os meios clássicos, como ensino da religião e da ética. O currículo, além das matérias citadas, incluía música, economia, política, história e ciência. Na prática de ensino, Comênio foi o pioneiro na aplicação de métodos que despertassem o crescente interesse do aluno. b) JOHN LOCKE (1632-1704) Fundou a moderna educação inglesa, cuja influência ultrapassou as fronteiras de sua pátria. Locke estudou filosofia, línguas antigas e medicina. A situação política da Inglaterra abrigou-o a exilar-se na Holanda. Ao regressar, publica a sua principal obra filosófica, Estudo sobre o entendimento humano, e logo depois seu pensamento sobre a educação. Com seu estudo do entendimento humano, Locke marca o início do Iluminismo, que vê a razão como condutora do homem. Para ele, não há dúvida de que o fundamento de toda virtude está na capacidade de renunciar à satisfação dos nossos desejos, quando não justificados pela razão. 2.8. PENSAMENTO PEDAGÓGICO ILUMINISTA a) JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778) Filósofo e escritor, nasceu em Genebra, na Suíça, e morreu na França. Nasceu protestante, tornou-se católico e retornou ao protestantismo. Segundo SUCHODOLSKI (1907-1992), pedagogia de Rousseau representou a primeira tentativa radical e apaixonada de oposição fundamental à pedagogia da essência e de criação de perspectivas para uma pedagogia da existência. A obra Emílio de Rousseau tornou-se o manifesto do novo pensamento pedagógico e assim permaneceu até os nossos dias. Nela o autor pretendeu provar que “é bom UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 35 tudo que sai das mãos do criador da Natureza e tudo degenera nas mãos do homem”. Portanto, pregou que seria conveniente dar à criança a possibilidade de um desenvolvimento livre e espontâneo. O primeiro livro de leitura deveria ser o Robinson Crusoé (escrito por Daniel Defoe, em 1719), que o filósofo considerava um tratado de educação natural. A educação, segundo ele, não devia ter por objectivo a preparação da criança com vista ao futuro nem a modelação dela para determinados fins: devia ser a própria vida da criança. Mostrava-se, portanto, contrário à educação precoce. Era preciso ter em conta a criança, não só porque ela é o objecto da educação o que a pedagogia da essência também se dispunha a fazer mas porque a criança representa a própria fonte da educação. b) JOHANN HEINRICH PESTALOZZI (1746-1827) Educador suíço nasceu em Zurique. Desde os tempos de estudante participou de movimentos de reforma social. Em 1774 fundou um orfanato onde tentou ensinar os rudimentos de agricultura e de comércio, iniciativa que fracassou poucos anos depois. Publicou um romance em quatro volumes, bastante lido na época, intitulado Leonardo e Getrudes, no qual delineava suas idéias sobre reforma política, moral e social. Quando a cidade de Stans foi tomada durante a invasão napoleônica de 1798. Pestalozzi reuniu algumas crianças abandonadas e passou a cuidar delas nas mais difíceis condições. Em 1805, fundou o famoso internato de Yverdon, que durante seus 20 anos de funcionamento foi frequentado por estudantes de todos os países da Europa. O currículo adotado dava ênfase na actividade dos alunos. Apresentava-se no início objectos simples para chegar aos mais complexos; parte-se do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato, do particular para o geral. Por isso, as actividades mais estimuladas em Yvedon eram desenho, conto, educação física, modelagem, cartografia e atividades ao ar livre. c) JOHANN HERBART (1776-1841) Filósofo, teórico da educação e psicólogo alemão, estudou na Universidade de Lena, onde foi discípulo de Fichte. Em 1797 esteve na Suiça e visitou a escola dirigida por Pestalozzi. A partir de 1809, ensinou filosofia e pedagogia na Universidade de Konigsberg. Para Herbart, a filosofia apresentou a elaboração e a análise da experiência. A lógica tinha por objectivo a classificação dos conceitos, enquanto a metafísica e a estética referia-se ao UnISCED MANUAL DE TRONCO COMUM DE PEDAGOGIA GERAL 36 conteúdo do pensamento. A análise lógica revelava as contradições dos conceitos que a metodologia procurava resolver. Como teórico da educação defendeu a idéia de que o objectivo da pedagogia é o desenvolvimento do caráter moral. O ensino deve fundamentar-se na aplicação dos conhecimentos da psicologia. Criou o sistema que denominou “instrução educativa”. Esse sistema, segundo educador brasileiro Lourenço Filho, propõe um ensino que, através de situações sucessivas e bem reguladas pelo mestre, fortalece a inteligência e, pelo cultivo dela, forma a vontade e o caráter. Herbart sugeriu que cada lição obedece-se a fases estabelecidas ou passos formais. Seriam eles: o da clareza da apresentação dos elementos sensíveis de cada assunto; o de associação; o de sistematização; e, por fim, o de aplicação. REVOLUÇÃO FRANCESA Avanços tão consideráveis na teoria e na prática da educação, como os que ocorreram no século XVIII, não poderiam deixar de ser transformados em norma jurídica. A educação proposta pela Revolução Francesa deveria ser transformada em direito de todos e dever do Estado. A convenção elaborou vários decretos, expandindo pela França o ensino obrigatório, sem muito êxito. Desde aquela época os planos de educacionais pareciam mais avançados do que a prática. Foi o caso do “Plano Nacional de Eduação”, aprovado pela Assembléia Nacional Constituinte em 1793 e concebido por LEPELLETIER (1760-1793), da qual apresentaremos a seguir algumas partes. Inspirado em Rousseau, o texto de Lepelletier sintetiza as aspirações frustradas de unidade entre educação e a política e de defesa do