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24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/21 PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL AULA 2 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/21 Profª Lucimara do Nascimento Numata CONVERSA INICIAL Depois de você ter conhecido a Psicologia como ciência e compreendido a importância do comportamento humano nas organizações para as relações de trabalho, nesta aula, tratamos com maior aprofundamento de alguns processos individuais que constituem o ser humano. Iniciamos demonstrando como a psicologia explica o indivíduo, diferenciado dos demais em função da sua identidade. Destacamos a personalidade nos traços e características individuais que formam o sujeito e como se dá o uso de tais traços por meio de tipologias, em instrumentos que são utilizados no meio corporativo. Ademais, possibilitamos uma reflexão sobre a percepção humana e da importância da vida afetiva para o comportamento humano. CONTEXTUALIZANDO Em sua convivência diária, você já deve ter se perguntado por que existem pessoas com visões de mundo diferentes das suas. Além disso, pense em uma situação na qual houve um desentendimento com outro semelhante em razão de uma diferença de opinião. Qual foi a sua reação e o comportamento do seu semelhante? TEMA 1 – O INDIVÍDUO PARA A PSICOLOGIA Como estudamos anteriormente, a psicologia é a ciência que estuda os processos mentais ou o comportamento humano. Apesar de ainda não haver um consenso sobre qual é o foco de pesquisa da ciência psicológica, vejamos o que alguns autores, que são referência no tema, têm a nos dizer sobre o objeto de estudo da psicologia acerca do indivíduo: “a psicologia é o estudo científico do comportamento e dos processos mentais” (Feldmann, 2015, p. 5) “A psicologia colabora com o estudo da subjetividade” (Bock; Furtado; Teixeira, 2002, p. 23). 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/21 Feldmann (2015) entende que os psicólogos devem buscar descrever, prever e explicar o comportamento e os processos mentais humanos para a mudança e melhoria das pessoas e do mundo em que elas vivem (Feldmann, 2015, p. 5). Por sua vez, Bock, Furtado e Teixeira (2002) afirmam que, enquanto objeto de estudo, a subjetividade contempla diversas manifestações do homem: A síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. (…) Esta síntese — a subjetividade — é o mundo de ideias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais. (Bock; Furtado; Teixeira, 2002, p. 23) A compreensão da subjetividade do indivíduo também se dá pelo entendimento de como a história, a sociedade e a cultura influenciam o processo de constituição do sujeito e na formação de sua identidade, como veremos no tema seguinte. TEMA 2 – A IDENTIDADE Você se recorda do questionamento acerca da diferença de personalidade de irmãos gêmeos em nosso diálogo inicial da Aula 1? Neste momento, essa condição faz todo o sentido para estudarmos a identidade do indivíduo, ou seja, apesar de possuírem o mesmo código genético, denominado de DNA (sigla de substâncias químicas envolvidas na transmissão de caracteres hereditários), os irmãos gêmeos possuem identidades próprias. Figura 1– Irmãos gêmeos e suas identidades próprias 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/21 Crédito: Crazy nook/Shutterstock. Essa singularidade, que pode ser denominada o eu de cada um, é a representação da sua identidade. Assim, segundo Bock, Furtado e Teixeira (2002): A identidade é a denominação dada às representações e sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito de si próprio, a partir do conjunto de suas vivências. A identidade é a síntese pessoal sobre o si-mesmo, incluindo dados pessoais (cor, sexo, idade), biografia (trajetória pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo uma representação a respeito de si. (Bock; Furtado; Teixeira 2002, p. 190) A representação dessa identidade se dá pelo reconhecimento de tudo o que o indivíduo tem sobre si mesmo e que o diferencia dos demais: Eu passo a ser alguém quando descubro o outro e a falta de tal reconhecimento não me permitiria saber quem sou eu, pois não teria elementos de comparação que permitissem ao meu eu destacar-se dos outros eus. Dessa forma, podemos dizer que a identidade, o igual a si mesmo, depende da sua diferenciação em relação ao outro. (Bock; Furtado; Teixeira 2002, p. 204) Para os autores, a figura materna representa o primeiro modelo de identificação significativo na vida da pessoa, no qual aprendemos que somos duas pessoas diferentes e não uma extensão da outra. Ao longo da nossa trajetória, outras pessoas farão parte do nosso processo de identificação, nos permitindo configurar um modelo próprio enquanto ser social. 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/21 De acordo com Lorena (2014), o indivíduo é produto do sistema no qual pertence e de sua interação nesse sistema, permeado pelo relacionamento que estabelece com outros indivíduos. Nessa condição, passa a assimilar hábitos e costumes que acabam por contribuir para o desenvolvimento da sua personalidade individual, sendo reconhecido mais tarde como sua personalidade social. Isso posto, avançaremos para o tema seguinte sobre a personalidade, outro aspecto crucial para o seu conhecimento acerca do ser humano. TEMA 3 – A PERSONALIDADE Em sua convivência diária, você já deve ter se perguntado por que existem pessoas com visões de mundo diferentes das suas. Imagine ainda uma situação em que houve um desentendimento com outro semelhante em razão de uma diferença de opinião. São questões da convivência diária que reportam à Psicologia no seu foco de estudo sobre a personalidade para a compreensão do comportamento das pessoas. Enquanto seres humanos, a semelhança se dá pelo fato de que somos, na grande maioria, dotados de funções mentais superiores que nos possibilitam o exercício do raciocínio. Entretanto, carregamos uma forma diferente e especial de sentir e agir sobre os fatos e as coisas que vivenciamos. Essa diferença é denominada de personalidade. A palavra personalidade é originária do latim persona, reconhecida por meio de uma máscara usada pelos atores romanos em suas encenações teatrais. Esses atores antigos usavam essa máscara para representar um papel no qual se projetava um “falso eu”. A persona passou a se referir à aparência externa, o que mostramos aos que nos rodeiam. Entretanto, quando os psicólogos usam o termo “personalidade”, eles estão se referindo a algo que vai além do papel que as pessoas desempenham (Schultz; Schultz, 2014). Figura 2 – A personalidade do indivíduo 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/21 Crédito: pathdoc/Shutterstock. Vários teóricos demonstram sua própria visão sobre a personalidade, entretanto, poucos deles a definiram formalmente. Apresentaremos algumas das diferentes abordagens e entendimentos acerca da personalidade A seguir, você encontra um quadro explicativo mostrando o que é a personalidade, de maneira geral: Quadro 1 – A personalidade em diferentes conceitos em suas abordagens Autor Conceito Feldmann (2015) Personalidade é o padrão de características constantes que produzem consistência e individualidade em determinada pessoa. Abrange os comportamentos que nos tornam únicos e que nos diferenciam dos outros. Também nos leva a agir consistentemente em diferentes situações e por longos períodos de tempo (Feldmann, 2015, p. 384). VandenBos (2010) Personalidade[é] a configuração de características e comportamento que inclui o ajustamento único de um indivíduo à vida, incluindo traços, interesses, impulsos, valores, autoconceito, capacidades e padrões emocionais importantes. A personalidade é vista, geralmente, como uma integração ou totalidade complexa e dinâmica, moldada por muitas forças, incluindo: hereditariedade e tendências constitucionais; maturidade física; treinamento precoce; identificação com indivíduos e grupos significativos; valores e papéis culturalmente condicionados; e 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/21 experiências e relacionamentos críticos. Várias teorias explicam a estrutura e desenvolvimento da personalidade de diferentes formas, mas todas concordam que a personalidade ajuda a determinar o comportamento (VandenBos, 2010, p. 701). Robbins (2005) Personalidade é a soma total das maneiras como uma pessoa reage e interage com as demais (Robbins, 2005, p. 96). Fonte: elaborado com base em Feldmann, 2015, p. 384; VandenBos, 2010, p. 701; Robbins 2005, p. 96. Os autores consultados demonstram em suas definições que o padrão de traços de personalidade é diferente para cada um, sendo eles duradouros ao longo da existência da pessoa. Não se trata de ser uma condição imutável, mas sim de uma condição cujo ritmo de mudança é gradual. Para Schultz e Schultz (2014), a personalidade se refere às características externas e visíveis da pessoa percebidas pelos outros, ou seja, a impressão que o comportamento de uma pessoa provoca nos outros, o que aparentamos ser. A personalidade é um agrupamento permanente e peculiar de características que podem mudar em resposta a situações diferentes. [...] [São] os aspectos internos e externos relativamente permanentes do caráter de uma pessoa que influenciam o comportamento em situações diferentes. (Schultz; Schultz, 2014, p. 6) Na constituição da personalidade, há a influência dos fatores “biopsicológicos herdados, isto é, as condições ambientais, sociais e culturais nas quais o indivíduo se desenvolve” (D’Andrea, 2001, p. 9). É importante observar que esses aspectos são desenvolvidos por meio da interação entre a hereditariedade e contexto social. Tais atributos da personalidade são manifestados por meio do comportamento, em função das características que são peculiares a cada indivíduo. O conceito sobre a personalidade humana é consolidado por meio de outras teorias da personalidade, sendo que as mais conhecidas são as de Sigmund Freud (1856 – 1939) e Carl Gustav Jung (1875-1961), que serão apresentadas a seguir. 3.1 A PSICANÁLISE DE SIGMUND FREUD Figura 3 – Freud 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/21 Crédito: Olga Popova/Shutterstock. Sigmund Freud (1856-1939) nasceu na Áustria e faleceu na Inglaterra, onde morou seus últimos anos, fugindo das perseguições nazistas em seu país de origem. Formado em Medicina, atuou como neurologista e psiquiatra, sendo pioneiro na abordagem psicológica das doenças mentais como a histeria, diferente da concepção fisiológica tratada pelos médicos da época. Freud desenvolveu a primeira teoria sistemática da personalidade (Hall; Lindzey; Campbell, 2007, p. 44). Muitos outros autores que vieram depois adaptaram os preceitos de Freud para as suas próprias ideias, formando novas teorias e propostas para o entendimento da Psicologia. O desenvolvimento da Psicanálise foi o legado deixado por Freud para a humanidade, cuja abordagem pode ser considerada como a investigação dos processos psicológicos da nossa vida interior, em seus aspectos inconscientes, como as fantasias, sonhos e as memórias. A concepção inicial sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade, baseada em seu livro A interpretação dos sonhos, é caracterizada por três sistemas ou instâncias psíquicas, denominadas de inconsciente, pré-consciente e consciente, como demonstramos no quadro a seguir. Quadro 2 – Primeira teoria das instâncias psíquicas do funcionamento da personalidade Inconsciente O inconsciente exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência”. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Esses conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e ter sido reprimidos, isso é, “foram” para o inconsciente, ou podem ser genuinamente inconscientes. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias. 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/21 Pré- consciente O pré-consciente refere-se ao sistema no qual permanecem aqueles conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência, neste momento, e no momento seguinte pode estar. Consciente O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção, principalmente a percepção do mundo exterior, a atenção e o raciocínio. Fonte: Bock, Furtado, Teixeira, 2002, p. 95-96. Para VandenBos (2010, p. 753), o que distingue a Psicanálise é justamente essa suposição de que a maior parte da atividade mental é inconsciente, concepção confirmada por Benson (2016, p. 95), que afirma que o estado ativo da consciência é apenas uma parte do total das forças que atuam em nossa realidade psicológica. Uma outra parte, intermediária, é pré-consciente e encontra-se abaixo da consciência, podendo resgatar essa condição com facilidade. Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade, cuja interação dinâmica resulta o comportamento do indivíduo. Quadro 3 – Segunda teoria das instâncias psíquicas do funcionamento da personalidade ID O id constitui o reservatório da energia psíquica, é onde se “localizam” as pulsões: a de vida e a de morte. As características atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, são, nessa teoria, atribuídas ao id. É regido pelo princípio do prazer. EGO O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as “ordens” do superego. Procura “dar conta” dos interesses da pessoa. É regido pelo princípio da realidade, que, com o princípio do prazer, rege o funcionamento psíquico. É um regulador, na medida em que altera o princípio do prazer para buscar a satisfação considerando as condições objetivas da realidade. Nesse sentido, a busca do prazer pode ser substituída pelo evitamento do desprazer. As funções básicas do ego são: percepção, memória, sentimentos, pensamento. SUPEREGO O superego é regido pelo princípio da moral. O conteúdo do superego refere-se às exigências sociais e culturais. Fonte: Bock, Furtado, Teixeira, 2002, p. 99-100. 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/21 Para Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 101), Estes sistemas não existem enquanto uma estrutura vazia, mas são sempre habitados pelo conjunto de experiências pessoais e particulares de cada um, que se constitui como sujeito em sua relação com o outro e em determinadas circunstâncias sociais. Isto significa que, para compreender alguém, é necessário resgatar sua história pessoal, que está ligada à história de seus grupos e da sociedade em que vive. Conforme Benson (2016, p. 96), “Freud usa a comparação da mente à um iceberg com a área de pulsões primitivas, o ID, oculta no inconsciente. O EGO lida com o pensamento consciente e regula tanto o ID quanto o SUPEREGO, a voz crítica, julgadora” Figura 4 – Representação do aparelho por meio da figura do iceberg Crédito: Crystal Eye Studio/Shutterstock. 3.2 A PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG Figura 5 – Jung 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/21 Crédito: rook76/Shutterstock. Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatrasuíço, foi o criador da Psicologia Analítica, teoria sobre o papel do inconsciente para o desenvolvimento do indivíduo. O método de trabalho terapêutico proposto por Jung é a análise dos sonhos. Para Schultz e Schultz (2014), a Psicologia Analítica é a teoria junguiana da personalidade. Segundo VandenBos (2010, p. 755), trata-se do: Sistema de psicanálise em que a psique é interpretada principalmente em termos de valores filosóficos, imagens e símbolos primordiais e um impulso de autorrealização. Os conceitos básicos de Jung são (a) o Ego, que mantém um equilíbrio entre as atividades conscientes e inconscientes; (b) o inconsciente pessoal formado por memórias, pensamentos e sentimentos baseados na experiência pessoal; (c) o inconsciente coletivo formado por imagens ancestrais, ou arquétipos, que constituem os fundamentos herdados da personalidade e da vida intelectual do indivíduo. Jung defende que a parte mais importante do inconsciente vem do passado coletivo da humanidade, chamado de inconsciente coletivo, e não das nossas experiências individuais. Este tem suas raízes no passado coletivo do sujeito, ou seja, são os conteúdos psíquicos passados para as futuras gerações, e são os mesmos em todas as culturas. Temos como exemplo os conceitos universais relacionados com deuses, maternidade, água, terra entre outros. Segundo Schultz e Schultz (2014), para Jung, há outras características estruturantes da psique, sendo elas as atitudes e funções. As atitudes são denominadas de introversão e extroversão. Já as funções são quatro e denominadas de pensamento, sentimento, sensação e intuição. A atitude extrovertida é a ação da energia psíquica em direção ao mundo externo e para as outras pessoas. São pessoas abertas, sociáveis e socialmente assertivas (Schultz; Schultz 2014). 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/21 Por sua vez, a atitude introvertida se dá quando voltamos nossa energia psíquica para nossas fantasias, desejos e tendências, nossa forma individual de perceber a realidade. Os introvertidos são relativamente mais retraídos, acanhados, reservados, discretos e ponderados; eles podem tender a silenciar ou evitar a expressão de afeto positivo, adotar visões ou posições mais céticas e preferir trabalhar de maneira independente e isolada (VandenBos, 2010, p. 531). Articuladas às atitudes, Jung formulou a ideia das funções psicológicas, que são formas diferentes e opostas de perceber ou entender o mundo externo real e o nosso mundo interno subjetivo. Vejamos na figura a seguir: Figura 6 – As funções psíquicas de Jung Fonte: Schultz; Schultz, 2014, p. 91. De acordo com Schultz e Schultz (2014, p. 91), a função pensamento e a função sentimento são tidas como funções racionais, uma vez que implicam julgar e avaliar, organizar e classificar nossas experiências: “pensar envolve julgar conscientemente se uma experiência é verdadeira ou falsa. A avaliação feita pela função de sentimento é expressa em termos de gostar ou não, agrado ou desagrado, estímulo ou enfado.” Ainda para Schultz e Schultz, “a sensação reproduz uma experiência por meio dos sentidos da mesma forma que uma fotografia copia um objeto. A intuição não surge diretamente de um estímulo externo” (Schultz; Schultz, 2014, p. 91). 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/21 Como todo indivíduo possui as quatro funções, elas se desenvolvem ao longo de sua vida, podendo haver a predominância de uma delas. É o equilíbrio entre elas que possibilita as mudanças e a individuação. Essas são algumas das teorias da personalidade que buscam explicar as razões do comportamento e funcionamento da (psique) mente humana. Saiba mais Quer saber mais? Veja, abaixo, as demais teorias que tratam da personalidade: Behaviorismo ou teoria comportamental Psicologia da Gestalt Psicologia humanista Psicologia corporal Psicologia sistêmica Psicodrama 3.6 AS TIPOLOGIAS DE PERSONALIDADE A partir de diferentes teorias sobre a personalidade, foram criados modelos de tipologias que são reconhecidos e utilizados nas organizações como instrumento para a análise do comportamento humano. Robbins et al. (2010) explicita o quanto é importante conhecer as capacidades e personalidades das pessoas para garantir a adequação da pessoa ao trabalho. Destacaremos, no quadro a seguir, dois modelos dos mais reconhecidos no mundo: modelo dos cinco fatores (Big Five) e o Indicador de tipos de personalidade de Myers – Briggs. Quadro 4 – Primeira teoria das instâncias psíquicas do funcionamento da personalidade Modelo Objetivo Descrição Modelo dos cinco fatores: “Big Five” Mensurar os traços de personalidade da pessoa a partir do modo como ela interage com o meio. Enfoque em cinco dimensões básicas da personalidade: Extroversão Amabilidade 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/21 Conscienciosidade Estabilidade Emocional (neurose) Abertura para Experiências As cinco dimensões podem ser descritas conforme Robbins et al. (2010, p.130): Extroversão: nível de conforto de uma pessoa com seus relacionamentos. Amabilidade: propensão de um indivíduo acatar a ideia dos outros. Conscienciosidade: é uma medida de confiabilidade que a pessoa demonstra em seu comportamento. Estabilidade Emocional: capacidade de uma pessoa lidar com o estresse. Abertura para Experiências: interesse de uma pessoa por novidade. Esse instrumento é utilizado em processos de recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento nas organizações. Modelo Objetivo Descrição Indicador tipológico de Myers Briggs - MBTI Avaliar o que as pessoas sentem ou como agem em diversas situações As pessoas são classificadas como: E ou I: Extrovertidas ou Introvertidas S ou N: Sensoriais ou Intuitivas T ou F: Racionais ou Emocionais J ou P: Julgadoras ou Perceptivas A utilização do MBTI é indicada para a ampliação do autoconhecimento e para o desenvolvimento da carreira profissional. Fonte: Robbins et al., 2010, p. 129-132. TEMA 4 – OS SENTIDOS E A PERCEPÇÃO DO MUNDO QUE NOS CERCA Vimos nos temas anteriores o quão variada e complexa pode ser a personalidade, o que nos indica que não há a possibilidade de haver uma pessoa igual à outra. Lembram dos gêmeos? Nem mesmo entre os idênticos se encontra uma personalidade igual à outra. 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/21 É nessa perspectiva que é importante você saber que o modo de ver o mundo que nos cerca varia de pessoa para pessoa, em consonância com a sua personalidade, visão de mundo e conforme os seus sentidos captam os fenômenos à sua volta. O nosso contato com o mundo externo se dá por meio dos nossos sentidos: a visão, a audição; o olfato; o tato e o paladar, os quais coletam os estímulos vindos do ambiente. Na concepção de VandenBos (2010, p. 832-833), a sensação é o processo ou experiência de perceber o mundo que nos cerca por meio dos sentidos, ou então: Uma unidade irredutível de experiência produzida por estimulação de um receptor sensorial e a resultante ativação de um centro cerebral específico, produzindo consciência básica de um som, odor, cor, forma ou gosto ou de temperatura, pressão, dor, tensão muscular, posição do corpo ou mudança nos órgãos internos associada com processos como fome, sede. A percepção seria, então, o processo ou resultado de, por meio dos sentidos, ou seja, da sensação, tornar-se consciente de objetos, relacionamentos e eventos, incluindo atividades como reconhecer, observar e discriminar. Essas atividades permitem que os organismos se organizem e interpretem os estímulos recebidos do ambiente em conhecimento (VandenBos, 2010). E o que seria, então, um estímulo? Segundo Feldman (2015), trata-se de qualquer fonte passageira de energia física que produz uma resposta em um órgão dos sentidos, sendo que os estímulos variam em tipo e intensidade e que diferentes tipos de estímulos ativam diferentestipos de órgãos dos sentidos. É consenso entre os vários autores que se dedicam ao tema da percepção que, com esse conhecimento, poderemos compreender nós mesmos, bem como muitas das situações de nosso cotidiano, sendo que cada pessoa percebe e interpreta o mundo à sua volta de maneira particular e exclusiva, a partir da sua realidade de vida. Saiba mais Como você percebe a sua realidade? Veja no link: < https://www.youtube.com/watch?v=IoL 7wRgBugM> a animação sobre percepção ZOOM de Istvan Banyai. Quer saber ainda mais? Pesquise sobre a Psicologia da Gestalt, teoria que realizou estudos modernos sobre a percepção humana. https://www.youtube.com/watch?v=IoL7wRgBugM 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/21 TEMA 5 – SENTIMENTO E COMPORTAMENTO HUMANO Você já enfrentou uma situação no âmbito psicológico em que uma determinada experiência acarretou um turbilhão de sensações difíceis de compreender? Para entender melhor o que acontece nessa condição, é importante darmos a devida importância para a nossa vida afetiva, como nos mostra Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 248): “são nossos afetos que dão o colorido especial à conduta de cada um e às nossas vidas. Eles se expressam nos desejos, sonhos, fantasias, expectativas, nas palavras, nos gestos, no que fazemos e pensamos. É o que nos faz viver”. A vida afetiva é parte integrante de nossa subjetividade. Nossas expressões não podem ser compreendidas se não considerarmos os afetos que as acompanham. E mesmo os pensamentos, as fantasias — aquilo que fica contido em nós — só têm sentido se sabemos o afeto que os acompanham (Bock; Furtado; Teixeira, 2002, p. 249). Segundo os estudiosos do comportamento humano, Robbins, Judge e Sobral (2010), o afeto, a emoção e os sentimentos são comumente confundidos. Para tanto, se soubermos diferenciar esses três fatores, podemos ampliar nosso repertório de conhecimento sobre o ser humano. No quadro a seguir, demonstramos para você a definição de afeto, emoção e sentimento. Quadro 5 – Afeto, emoção e sentimento Afeto Os afetos podem ser produzidos fora do indivíduo, isto é, a partir de um estímulo externo — do meio físico ou social — ao qual se atribui um significado com tonalidade afetiva: agradável ou desagradável, por exemplo. A origem dos afetos pode também nascer, surgir do interior do indivíduo. O prazer e a dor são as matrizes psíquicas dos afetos, ou se constituem em afetos originários. Entre estes dois extremos encontram-se inúmeras tonalidades, intensidades de afetos, que podem ser vagos, difíceis de nomear ou discriminados. Emoção As emoções são expressões afetivas acompanhadas de reações intensas e breves do organismo, em resposta a um acontecimento inesperado ou, às vezes, a um acontecimento muito aguardado (fantasiado) que acontece. Durante muito tempo, acreditou-se no coração como o lugar da emoção, talvez pelo fato de, ao manifestar- se, vir frequentemente acompanhada de fortes batimentos cardíacos. Outras reações orgânicas acompanham as emoções e revelam vivências ou estados emocionais do indivíduo: tremor, riso, choro, lágrimas, expressões faciais, etc. Sentimento Os afetos básicos (amor e ódio), além de manifestarem-se como emoções, podem expressar-se como 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/21 sentimentos. Os sentimentos diferem das emoções por serem mais duradouros, menos “explosivos” e por não virem acompanhados de reações orgânicas intensas. Assim, consideramos a paixão uma emoção, e o enamoramento, a ternura, a amizade, consideramos sentimentos, isto é, manifestações do mesmo afeto básico — o amor. Fonte original: Bock; Furtado; Teixeira, 2002, p.251- 259. Crédito: DisobeyArt/shutterstock; Chepko Danil Vitalevich/shutterstock; SewCream/shutterstock. Para Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 259): A vida afetiva — emoções e sentimentos — compõe o homem e constitui um aspecto de fundamental importância na vida psíquica. As emoções e os sentimentos são como alimentos de nosso psiquismo e estão presentes em todas as manifestações de nossa vida. Necessitamos deles porque dão cor e sabor à nossa vida, orientam-nos e nos ajudam nas decisões. Enfim, são elementos importantes para nós, que não podemos nos compreender sem os sentimentos e as emoções. São os afetos que determinam nosso comportamento em muitas das situações de vida que enfrentamos. Então se compreendermos o mundo que nos rodeia, poderemos ser e estar nele de maneira mais positiva em nossos comportamentos e interações com nossos semelhantes. O entendimento contemporâneo acerca do comportamento humano nos revela a relação direta entre o sujeito e o ambiente, ou seja, há uma ação dependente entre o que nós fazemos e o ambiente no qual essa ação acontece. Para Feldmann (2015), tanto o comportamento normal quanto o anormal são aprendidos, já que o comportamento humano é moldado pelo meio ambiente de maneira contínua. Nossa capacidade de mudar com as transformações das circunstâncias vividas nesse meio permite que nos adaptemos a uma série de condições. Os princípios da abordagem comportamental na psicologia foram produzidos inicialmente por John B. Watson, no início do século XX, mas foi com os estudos de B.F.Skinner (1904 – 1990), com a teoria do Behaviorismo Radical, também conhecida por Análise do Comportamento, que o comportamento humano foi entendido como resultado da interação do indivíduo, entre as suas ações e respostas e os estímulos do ambiente. Para Skinner, tudo era comportamento, inclusive os nossos pensamentos, sentimentos e emoções. Para ele, há um tipo de comportamento que é inato, ou seja, vem do nascimento do ser 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/21 humano, que seria o respondente, e há o comportamento aprendido na relação com o ambiente e com os semelhantes, denominado de operante. Para Schultz e Schultz (2014), a ideia fundamental de Skinner é que o comportamento pode ser controlado pelas consequências que acarreta. Segundo ele, um animal ou um ser humano poderia ser treinado para desempenhar uma série de ações e que o tipo de reforço que se seguisse e esse comportamento seria o responsável por determiná-lo. Assim, “quem quer que controle o reforço, tem o poder de controlar o comportamento humano” (Schultz; Schultz, 2014, p. 327). Comportamentos desejáveis podem ser reforçados positivamente, como por exemplo por meio de um elogio, e os indesejáveis podem ser neutralizados quando ignorados. Essa abordagem colabora com o processo de aprendizagem do ser humano, pois esta depende da estimulação recebida do ambiente no qual o indivíduo vive e também do reforço que é a ele, seja para aumentar ou diminuir a probabilidade de repetição desse comportamento que foi aprendido. Saiba mais Pesquise no site da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) (< http://abpmc.org.br/>) artigos e referências relacionadas ao comportamento humano. TROCANDO IDEIAS Neste fórum, propomos que você reflita e apresente um posicionamento em face da questão proposta: como o comportamento humano é determinante nas relações interpessoais no trabalho? Para embasar a sua resposta, consulte o artigo Comportamento Humano e Organizacional na Revista Pós-graduação: Desafios Contemporâneos, v. 2, n. 3, jul./2015. Disponível no link: < http://ojs. cesuca.edu.br/index.php/revposgraduacao>. NA PRÁTICA Neste momento, apresentamos uma proposta de aplicação prática dos conteúdos desta aula: http://abpmc.org.br/ http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/revposgraduacao 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 19/21 Assista ao longa-metragem de animação Divertida mente (Inside out) da Pixar (2015). Divertida mente definitivamente não é apenas uma animação para crianças. Retrata o momento da adolescente Riley no enfretamento das emoções que caracterizam o seu amadurecimento pessoal. No filme, são apresentados “basicamente”cinco personagens bem caracterizados e distintos: alegria, tristeza, nojinho, medo e raiva, nos revelando a forma como percebemos o mundo externo a partir dos nossos sentidos. É por meio da sensação dos nossos sentidos que o processo de percepção se forma. Essa animação é um exemplo da ação das emoções na vida cotidiana das pessoas. Justifique, com base nos conhecimentos sobre os sentimentos e comportamento, a razão de os autores terem colocado como solução dos problemas da personagem principal a alegria e a tristeza juntas. Resposta: a combinação de atuação das personagens Alegria e Tristeza como a solução para o momento de conflito na vida da adolescente Riley foi perfeita, pois fundamenta a condição de que as emoções não são categóricas, ou seja, a tristeza não é o oposto da alegria. A alegria pode representar bem-estar, disposição, positividade, extroversão, capacidade para o relacionamento e autoestima. Mas também euforia, negação e onipotência. A Tristeza, quando acolhida e compreendida, auxilia na introspeção, na elaboração simbólica e integração das experiências, através da introversão. Porém, quando não elaborada, é caracterizada pelo negativismo, culpa, passividade e impotência. Inicialmente, o papel da tristeza não é compreendido, mas ela também não pode ser rejeitada ou colocada de lado (está no manual de controle da Riley). Isso quer dizer que ela tem um papel fundamental, mesmo que este ainda não possa ser compreendido e assimilado pelo indivíduo em um dado momento. Então Alegria e Tristeza juntas, através da síntese da integração dos opostos, introduzem a capacidade de interagir com as polaridades, na qual a consciência pode ter um funcionamento dialético e os polos têm igual direito de expressão. Quando a Alegria permite que a tristeza toque em todas as emoções, há uma ressignificação das memórias bases e reajustamento emocional de Riley, agora, para a fase de descobertas da puberdade – e o surgimento de novas memórias – agora coloridas com emoções misturadas, mostrando complexidade e riqueza emocional, pois todas as emoções têm sua função e seu papel reconhecido. 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 20/21 FINALIZANDO O fundamental desta aula foi o aprofundamento do seu conhecimento sobre alguns dos processos individuais que constituem o ser humano para o entendimento de que o indivíduo é diferenciado dos demais em função da sua identidade. As teorias da psicanálise e da psicologia analítica abordaram a questão da personalidade e de que existem funções psicológicas inconscientes que exercem influência na vida dos indivíduos. O entrelaçamento entre as atitudes de extroversão e introversão com funções psicológicas de sensação, intuição, pensamento e sentimento influenciaram o desenvolvimento de instrumentos que são utilizados na análise e avaliação da personalidade. Nosso comportamento é determinado em muitas situações pelo afeto, pela emoção e pelos sentimentos, sendo ele a relação direta entre o sujeito e o ambiente, ou seja, há uma ação dependente entre o que nós fazemos e o ambiente no qual essa ação acontece. Então se compreendermos melhor essa constituição do indivíduo, poderemos ser e estar de maneira mais positiva em nossos comportamentos e interações com nossos semelhantes. REFERÊNCIAS BENSON, N. et al. O livro da psicologia. 2. ed. São Paulo: Globo, 2016. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. D’ANDREA, F. F. Desenvolvimento da personalidade: enfoque psicodinâmico. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. FELDMANN, R. S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: Mac Graw Hill Education, 2015. HALL, C. S.; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. B. Teorias da personalidade 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. ROBBINS, S. T.; JUDGE, T. A.; SOBRAL, F. Comportamento organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. 24/10/2022 23:08 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 21/21 SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. Teorias da Personalidade. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. VANDENBOS, G. R. (org.). Dicionário de Psicologia da APA. Porto Alegre: Artmed, 2010.