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Geórgia Bastos A m�te de um paciente para a medicina A morte como fenômeno É a negação da morte que é parcialmente responsável pelas vidas vazias e sem sentido das pessoas pois quando você vive como se fosse viver para sempre, fica muito fácil adiar as coisas que você sabe que precisa fazer. em contraste quando você compreende plenamente que cada dia que você vive poderia ser o último, você utiliza o tempo daquele dia para crescer para se tornar mais quem você realmente é, para se aproximar de outros seres humanos. Na antiguidade, a morte era um sentimento de familiaridade com a morte, isento de medo ou desespero. O moribundo aceitava a própria morte como parte de seu destino, em uma cerimônia pública, cujo ritual era estabelecido pelos costumes. na modernidade, apesar da aparente continuidade dos rituais,a morte passa a ser desafiada e é retirada do mundo das coisas familiares. nas relações familiares, a morte se No século 20 ocorreu uma revolução brutal de ideias e sentimentos e a morte tão familiar no passado passa a ser vergonhosa e proibida em uma sociedade que preza felicidade, e apenas a felicidade, não há espaço para a dor o sofrimento as perdas. os rituais funestos não são muito diferentes em sua forma, mas foram esvaziados de seu impacto dramático. A morte no hospital O hospital que antes era um abrigo para pobres e peregrinos, torna-se um centro médico no qual se trava a luta contra a morte. A pessoa não morre mais de mortalidade, morre porque o médico não foi bem sucedido nessa batalha. morrer em casa, tornou-se inconveniente e seu ritual desaparece, deixando espaço para um fenômeno técnico dirigido pela equipe de profissionais. Os ritos passam a ser conduzidos por profissionais, que tratam o mais rápido possível e tratam de tirar logo o cadáver das vistas dos parentes para que estes possam ser liberados para retornar às suas rotinas. Psicologia em saúde 4º Período Geórgia Bastos As cerimônias são discretas,sem emoções e as expressões de luto são motivos de repugnância e não mais de compaixão. expressões muito dramáticas são encaradas como desequilíbrio mental, não como uma reação natural. O médico residente imortal, infalível, submetido a condições absolutamente insuportáveis, cobranças, privações, sobrecargas, corpos objetivados como os dos pacientes por eles tratados. Institucionalização e privatização da morte Em vez de nos livrar de seus efeitos, agrava seu poder traumático. Delegou-se o assunto morte, que é natural, a instituições específicas, pessoas específicas e procedimentos específicos como se elas fossem responsáveis por tudo. A fragmentação organizacional do paciente e do profissional de saúde Na medicina, percebeu-se a necessidade de fragmentar o cuidado, surgindo as especialidades que se tornaram grandes ilhas onde ninguém se conecta ou tenta entender o trabalho do outro. Com isso, ocorre a fragmentação do paciente, onde ele passa por vários profissionais diferentes tratando de forma isolada as condições que ele apresenta. Não são propiciados espaços para os profissionais expressarem as próprias angústias. se por um lado os médicos são heróis, a quem se atribui a decisão sobre a vida ou a morte do paciente, por outro lado, caso fracassem, tornam-se incompetentes. A percepção da morte para médicos e alunos de medicina cenário hostil para a saúde mental dentro da medicina Mito da infalibilidade. Alto índice de suicido entre estudantes e profissionais comparado a outras profissões e pressões psicoemocionais constantes Excesso de novas informações diárias, Longas horas de trabalho, privações constantes de sono, despreparo para lidar com fragilidade emocional dos pacientes. O processo de formação médica no país durante muito tempo não incluiu a preparação dos discentes para o enfrentamento da morte ou a abordagem de temas relacionados à perda de seus pacientes. Psicologia em saúde 4º Período Geórgia Bastos Além disso, quando esse tema era abordado, as instituições, de certa forma, estimulavam uma busca pela impessoalidade na relação médico paciente e esses profissionais, por sua vez, não desenvolveram, com êxito, mecanismos para lidar e superar essas perdas. Quando se analisam os sentimentos dos estudantes de medicina em relação a morte pode-se perceber que a terminalidade da vida remete a sensação de profunda negatividade. alunos aprendem a lidar com a morte por meio de suas experiências práticas. no meio hospitalar, pouco se fala, os profissionais de saúde parecem evitar o confronto com a morte embora o hospital seja o palco principal em que os profissionais convivem diariamente com a terminalidade da vida, pouco ou quase nunca se fala sobre a morte ou sobre as situações que remetem a ela. Para o médico, os reflexos dessa falta de preparo para lidar com a morte são altos custos emocionais exigidos no exercício da profissão, como a síndrome de burnout, além de uma elevada taxa de dependência química, depressão e suicidio entre os médicos. Para o paciente, os reflexos são o distanciamento, a desinformação, o abandono e a fragmentação do cuidado. Psicologia em saúde 4º Período
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