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P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 1 P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1) Revisar a anatomia funcional das vias sensoriais 2) Identificar as modalidades sensoriais e como avaliá-las (tato leve, pressão superficial e profunda, temperatura, vibratória) 3) Descrever as manobras usadas na avaliação da função sensorial 4) Caracterizar as lesões sensoriais do córtex, do tálamo, do tronco encefálico e da medula 5) Identificar as principais causas de neuropatias periféricas 6) Citar os medicamentos que podem causar neuropatia periférica 📚 REFERÊNCIAS: Neurologia Clínica 8ªed; Neuroanatomia Machado; Guyton e Tortora. 1) Revisar a anatomia funcional das vias sensoriais 📝 De acordo com o livro “Neurologia Clínica” 8ªed: 📝 VIA SENSORIAL entre tec periféricos e córtex cerebral envolve 3 neurônios e 2 sinapses centrais. P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 2 NEURÔNIOS SENSORIAIS 1ª ORDEM ⇒ São pseudounipolares!! Têm corpos celulares nos gânglios radiculares dorsais ⇒ Cada um desses neurônios envia um processo periférico (que termina numa terminação nervosa livre ou em receptores sensoriais encapsulados) e um processo central (que entra na medula espinal) Os receptores sensoriais são especializados em sensações particulares e, além das terminações nervosas livres (dor) incluem corpúsculos de Meissner, corpúsculos de Merkel e células pilosas (táteis); corpúsculos de Vater-Pacini (mecânicos); bulbos terminais de Krause (frio) e corpúsculos de Ruffini (calor) ⇒ Maioria localiza-se na derme Esses neurônios fazem sinapse centralmente, num lugar que depende do tipo de sensibilidade: Fibras que medeiam a sensibilidades tátil, pressão e postural nos membros e no tronco ascendem nas colunas posteriores da medula espinal até a medula oblonga (bulbo), onde fazem sinapse c/ núcleos grácil e cuneiforme P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 3 Outras fibras que medeiam a sensibilidades tátil e termoalgésica fazem sinapse nos cornos posteriores da medula espinal, particularmente na substância gelatinosa Neurônios sensoriais 1ª ordem da face, que têm seus corpos celulares no gânglio trigeminal (de Gasser), trafegam no n. trigêmeo (NCV) e entram na ponte ⇒ As fibras que medeiam a sensibilidade tátil da face e a pressão fazem sinapse no núcleo sensorial principal do NCV, enquanto as que transmitem dor e temperatura fazem sinapse no núcleo espinal do NCV. NEURÔNIOS SENSORIAIS 2ª ORDEM Têm seus corpos celulares nos núcleos grácil e cuneiforme, cruzam a linha média e sobem no lemnisco medial ⇒ Cruzam somente depois de passar pelos núc grácil e cuneifome Os que se originam nos cornos posteriores da medula espinal cruzam a linha média e sobem na parte anterolateral da medula: fibras que medeiam o tato trafegam para cima no trato espinotalâmico anterior ⇒ Cruzam no mesmo nível que entram na medula Neurônios sensoriais 2ª ordem dos membros e do tronco se unem no tronco cerebral às fibras provenientes da face: aquelas que medeiam a sensibilidade tátil e a pressão projetam-se do núcleo sensorial do nervo trigêmeo (V) pelo lemnisco trigeminal e aquelas que transportam a sensibilidade dolorosa e térmica da face projetam-se do núcleo espinal do NCV, pelo trato trigeminotalâmico, para o tálamo ipsilateral No tálamo, as fibras do lemnisco medial e as fibras espinotalâmicas fazem sinapse no núcleo ventral posterolateral (VPL); as fibras espinotalâmicas também fazem sinapse no núcleo ventral posteroinferior (VPI) e nos núcleos intralaminares (ILa); e as fibras no lemnisco trigeminal e no trato trigeminotalâmico fazem sinapse no núcleo ventral posteromedial (VPM). Além disso, neurônios sensoriais espinotalâmicos 2ª ordem emitem colaterais para a formação reticular. NEURÔNIOS SENSORIAIS 3ª ORDEM Projetam-se do tálamo para o córtex cerebral ipsilateral ⇒ Exceto a via olfatória Fibras de VPL, VPI e VPM trafegam principalmente para o córtex somatossensorial primário no giro pós-central; fibras de ILa tb projetam-se p/ estriado, giro do cíngulo e P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 4 córtex pré-frontal ⇒ Portanto, perceba que a informação somatossensorial sai de um lado do corpo e é detectada no hemisfério encefálico contralateral 📝 Segundo Machado, no livro de Neuroanatomia: 📝 Os 4 elementos de uma via sensorial são: (1) Receptor: discriminação sensorial; (2) Trajeto periférico: nervo espinhal ou craniano + gânglio sensitivo anexo a estes nervos; (3) Trajeto central: fibras se agrupam em feixes (tratos, fascículos, lemniscos). Há tb os núcleos relés (neurônios II, III e IV); (4) Área de projeção cortical: córtex cerebral (diversas sensibilidade; consciente) ou cerebelar (integração motora; inconsciente). O processamento da informação ocorre de maneira hierárquica (subcortical ⇒ cortical). Outra informação importante é que as partes do corpo são representadas na área somestésica do córtex como um homúnculo de cabeça para baixo. 💡 Parte medial do hemisfério ⇒ órgãos genitais e pé; Parte superolateral ⇒ perna, tronco e braço; Mais abaixo ⇒ mão (muito extensa, dada à grande área de sensibilidade). Depois ⇒ cabeça (onde face e boca tb tem representação bastante intensa). Próxima ao sulco lateral ⇒ língua e faringe. Logo, a extensão da representação cortical de uma parte do corpo NÃO depende de seu tamanho, mas da importância funcional e densidade aferências. As grandes vias aferentes podem ser consideradas como cadeias neuronais unindo os receptores ao córtex. No caso das vias inconscientes (cerebelares), esta cadeia é constituída apenas por dois neurônios (I, II). Já nas vias conscientes (cerebrais), estes neurônios são geralmente três, sobre os quais podem ser estabelecidos os seguintes princípios gerais: - Neurônio I: localiza-se fora do SNC, em um gânglio sensitivo (ou na retina e mucosa olfatória, no caso das vias óptica e olfatória). É um neurônio sensitivo, pseudounipolar, cujo dendraxônio se bifurca em “T”, dando um prolongamento periférico e outro central. Em alguns casos o neurônio pode ser bipolar. O prolongamento periférico liga-se ao receptor, enquanto o prolongamento central penetra no SNC pela raiz dorsal dos nervos espinhais ou por um NC P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 5 - Neurônio II: localiza-se na coluna posterior da medula ou em núcleos de NCs do tronco encefálico (fazem exceção as vias óptica e olfatória). Origina axônios que geralmente cruzam o plano mediano logo após sua origem e entram na formação de um trato ou lemnisco - Neurônio III: localiza-se no tálamo e origina um axônio que chega ao córtex por uma radiação talâmica (faz exceção a via olfatória). VIAS AFERENTES QUE PENETRAM NO SNC POR NN ESPINHAIS VIAS DE DOR E TEMPERATURA Os receptores de dor são terminações nervosas livres. Existem 2 vias principais através das quais os impulsos de dor e temperatura chegam ao cérebro: uma via filogeneticamente mais recente, neoespinotalâmica, constituída pelo trato espinotalâmico lateral, que vai diretamente ao tálamo; e outra, mais antiga, paleoespinotalâmica, constituída pelo trato espino-reticular, e pelas fibras retículo- talâmicas (via espino-retículo-talâmica). � Via neoespinotalâmica: Trata-se da via “clássica” de dor e temperatura, constituída basicamente pelo trato espinotalâmico lateral, envolvendo uma cadeia de 3 neurônios. Através dessa via, chegam ao córtex cerebral impulsos originados em receptores térmicos e dolorosos situados no tronco e nos membros do lado oposto. Há evidência de que a via neoespinotalâmica é responsável apenas pela sensação de dor aguda e bem localizada na superfície do corpo, correspondendo à chamada dor em pontada. 1. Neurônios I: localizam-se nos gânglios espinhais situados nas raízes dorsais. O prolongamento periférico dos neurônios liga-se aos receptores através dos nn espinhais. O prolongamento central penetra na medula e termina na coluna posterior, onde faz sinapse com o neurônio II. 2. Neurônios II: axônios cruzam o plano mediano pela comissura branca, ganham o funículolateral do lado oposto, inflectem-se cranialmente para constituir o trato espinotalâmico lateral. Ao nível da ponte, as fibras desse trato se unem com as do espinotalâmico anterior para constituir o lemnisco espinhal, que termina no tálamo fazendo sinapse com os neurônios III. 3. Neurônios III: localizam-se no tálamo, no núcleo ventral posterolateral. Seus axônios formam radiações talâmicas que, pela perna posterior da cápsula interna e P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 6 coroa radiada, chegam à área somestésica do córtex cerebral situada no giro pós- central (áreas 3, 2 e 1 de Brodmann). � Via paleoespinotalâmica: Ao contrário da via neoespinotalâmica, a via paleoespinotalâmica não tem organização somatotópica. Assim, ela é responsável por um tipo de dor pouco localizada, dor profunda do tipo crônica, correspondendo à chamada dor em queimação, ao contrário da via neoespinotalâmica, que veicula dores localizadas do tipo dor em pontada. 1. Neurônios I: localizam-se nos gânglios espinhais: mesmo esquema da via anterior. 2. Neurônios II: situam-se na coluna posterior. Seus axônios dirigem-se ao funículo lateral do mesmo lado e do lado oposto, inflectem-se cranialmente para constituir o trato espinoreticular. Este sobe na medula junto ao trato espinotalâmico lateral e termina fazendo sinapse com os neurônios III em vários níveis da formação reticular. Muitas dessas fibras não são cruzadas. 3. Neurônios III: localizam-se na formação reticular e dão origem às fibras retículo talâmicas que terminam nos núcleos do grupo medial do tálamo, em especial nos núcleos intralaminares (neurônios IV). Os núcleos intralaminares projetam-se para territórios muito amplos do córtex cerebral. Alguns tbm projetam-se para amígdala (componente afetivo da dor). 2) Identificar as modalidades sensoriais e como avaliá-las (tato leve, pressão superficial e profunda, temperatura, vibratória) P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 7 TATO LEVE ⇒ Função é da via lemnisco medial (epicrítico) e espinotalâmico anterior (protopático) Sua percepção é avaliada com um chumaço de algodão, que é colocado cuidadosamente sobre uma pequena região cutânea. O paciente encontra-se deitado calmamente, com os olhos fechados, e faz um sinal toda vez que percebe o estímulo. A percepção do tato leve depende de fibras que atravessam a coluna posterior da medula espinal, no fascículo grácil (perna) e cuneiforme (braço) ipsilateral, passando para o lemnisco medial do tronco cerebral e de fibras no trato espinotalâmico anterior contralateral (tato protopático). PICADA DE ALFINITE E TEMPERATURA ⇒ Função é do trato espinotalâmico lateral (termoalgesia) Picada de alfinete é testada solicitando-se ao paciente que indique onde o alfinete (não uma agulha hipodérmica, que pode perfurar a pele, fazendo-a sangrar) é percebido como afiado ou rombudo. O alfinete deve ser descartado após sua utilização, devendo ser manuseado com cuidado, pois é uma potencial fonte de infecção ⇒ A P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 8 percepção da pressão ou tátil por meio de pressão ou picada de alfinete não deve ser confundida com a percepção de um objeto afiado. Percepção da temperatura é avaliada pela colocação de recipientes contendo água quente e fria sobre a pele. Por conveniência: Sensação de frio ⇒ testada aplicando-se um diapasão de metal em diferentes regiões. Teste do calor ⇒ geralmente é omitido em exame de rotina. 💡 A percepção picada alfinete e temperatura depende integridade tratos espinotalâmicos laterais (função é termoalgesia). As fibras aferentes cruzam na frente do canal central, após terem subido 2-3 segmentos de seu nível de entrada dentro da medula. PRESSÃO PROFUNDA ⇒ Função é da via lemnisco medial (grácil e cuneiforme) A sensibilidade de pressão profunda é avaliada pela pressão exercida sobre os tendões, como o tendão do calcâneo junto ao tornozelo. VIBRAÇÃO ⇒ Função é da via lemnisco medial (grácil e cuneiforme) A sensibilidade vibratória é avaliada com um diapasão (128Hz) em vibração, colocado sobre uma proeminência óssea; pede-se ao pcte que indique se sente a vibração mais do que uma simples pressão ⇒ Muitos indivíduos + idosos e sadios têm comprometimento da sensibilidade vibratória abaixo dos joelhos. POSIÇÃO ARTICULAR ⇒ Função é da via lemnisco medial (grácil e cuneiforme) A sensibilidade postural articular é testada solicitando ao paciente que indique a direção de pequenos movimentos passivos das articulações interfalângicas distais dos quirodáctilos e pododáctilos ⇒ Pcts com comprometimento grave da sensibilidade postural articular podem apresentar movimentos lentos e contínuos dos dedos (movimentos pseudoatetoides) quando tentam, com os olhos fechados, manter as mãos estendidas. P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 9 💡 A sensibilidade postural articular e a capacidade de perceber a vibração dependem de fibras transportadoras nas colunas posteriores da medula, embora exista evidência de que isso não é estritamente verdadeiro para a vibração. 3) Descrever as manobras usadas na avaliação da função sensorial TESTE DE ROMBERG Solicita-se que o paciente assuma uma postura estável, com os pés juntos, os braços estendidos e os olhos fechados. Observa-se qualquer tendência a oscilar ou cair. Teste é positivo (anormal) quando a instabilidade ↑ bastante durante o fechamento dos olhos, como ocorre, p ex, na tabes dorsalis (neurossífilis). Um teste positivo é indicativo de comprometimento grosseiro da sensibilidade postural articular nas pernas. 💡 É usado principalmente como teste de função PROPRIOCEPTIVA, não cerebelar. Apenas o agravamento intenso do equilíbrio com os OLHOS FECHADOS é considerado sinal de Romberg (+). Um pcte que não consegue manter o equilíbrio com os pés juntos e os olhos abertos NÃO tem sinal Romberg (+). DISCRIMINAÇÃO DE DOIS PONTOS A capacidade de distinguir o toque simultâneo de 2 pontos vizinhos depende da integridade do SNC e periférico, do grau de separação entre os 2 pontos e da parte do corpo que está sendo estimulada. Lesão central se sensibilidade cutânea preservada (prof Sílvia). Solicita-se ao paciente que indique se está sendo tocado em 1 ou 2 pontos, enquanto a distância entre os pontos é alterada para determinar a distância mais curta na qual ele é capaz de reconhecer os dois pontos diferentes. Limiar para uma discriminação de 2 pontos é de 4mm nas pontas dos dedos e de vários centímetros nas costas. Qdo a função sensorial periférica está intacta, um comprometimento da discriminação de dois pontos sugere um distúrbio do córtex sensorial. P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 10 GREFESTESIA, ESTEREOGNOSIA E BAROGNOSIA Agrafestesia = incapacidade identificar um nº traçado sobre a pele da palma da mão, a despeito de sensibilidade cutânea normal, indica uma lesão envolvendo o lobo parietal contralateral. Astereognosia = incapacidade distinguir entre diversas texturas ou agudezas de objetos pelo tato. Abarognosia = incapacidade distinguir entre pesos diferentes. DISCRIMINAÇÃO SENSORIAL BILATERAL Em alguns pacientes com sensibilidade aparentemente normal, a estimulação simultânea dos dois lados do corpo revela uma aparente negligência da (ou inatenção à) sensação de um lado, geralmente em decorrência de uma lesão cerebral contralateral subjacente. 4) Caracterizar as lesões sensoriais do córtex, do tálamo, do tronco encefálico e da medula LESÕES DO CÓRTEX SENSORIAL Dça limitada ao córtex sensorial compromete a função de discriminação sensitiva no lado oposto do corpo. Os pacientes nessa condição podem ser incapazes de localizar estímulos no lado afetado ou têm dificuldade de reconhecer a posição de diferentes partes do corpo. Também podem ser incapazes de reconhecer objetos pelo tato, ou de estimar seu tamanho, peso, consistência e textura. Distúrbios sensoriais corticais geralmente são mais evidentes nas mãos do que no tronco ou nas porções proximais dos membros ⇒ Inclui discriminação de 2 pontos, grefestesia, estereognosia, barognosiae discriminação sensorial bilateral LESÕES TALÂMICAS Podem levar à perda ou ao comprometimento de todas as formas de sensibilidade no lado contralateral do corpo, e isto pode ter uma distribuição que difere da área com envolvimento sintomático ⇒ Basta lembrar que tálamo está acima da pirâmide bulbar Dor espontânea, que algumas vezes pode ter uma qualidade especialmente desagradável, pode ocorrer no lado afetado. Os pacientes podem descrevê-la como P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 11 queimação dilacerante, semelhante a facadas, mas muitas vezes têm dificuldade para caracterizá-la. Qualquer forma de estimulação cutânea pode levar a sensações dolorosas ou desagradáveis. Ocasionalmente, uma sd talâmica (sd Dejerine-Roussy) pode resultar de lesões SB do lobo parietal ou de lesões medulares ⇒ Essa sd é comum após AVEi talâmico e, paradoxalmente, há dor espontânea intensa hemicorpo contralateral, exatamente o dimídio que apresenta anestesia para todas as modalidades sensoriais, inclusive dor 😲 LESÕES DO TRONCO CEREBRAL Distúrbios sensitivos podem ser acompanhados por déficit motor, sinais cerebelares e paralisias NCs, quando a lesão se encontra no tronco cerebral. Em pacientes com lesões envolvendo o trato espinotalâmico na medula dorsolateral e na ponte, ocorre uma perda da sensibilidade dolorosa e térmica nos membros e no tronco do lado oposto do corpo. Quando tais lesões estão localizadas na medula, elas também costumam envolver o núcleo espinal do trigêmeo, comprometendo a sensibilidade dolorosa e térmica da face, no mesmo lado da lesão. O resultado é um deficit sensorial cruzado, que afeta a face e os membros contralaterais. Em contrapartida, lesões do trato espinotalâmico acima do núcleo espinal do trigêmeo afetam a face, os membros e o tronco contralateral à lesão. Nas lesões que afetam o lemnisco medial, existe perda do tato e da propriocepção do lado oposto do corpo. No tronco cerebral superior, o trato espinotalâmico e o lemnisco medial trafegam em conjunto, de modo que uma única lesão pode causar a perda de toda a sensibilidade superficial e profunda no lado contralateral do corpo. LESÕES MEDULARES Em pacientes com uma lesão medular, pode haver um nível sensorial transverso. No entanto, as áreas fisiológicas de ↓ sensibilidade ocorrem junto à margem costal, sobre as mamas e virilha, e isso não deve ser considerado anormal. Portanto, o nível de um déficit sensorial afetando o tronco é melhor determinado pelo teste cuidadoso da sensibilidade na região das costas do que pelo exame do tórax e do abdome. 📌 Lesão medular central Na presença de uma lesão medular central, como ocorre na siringomielia, após um traumatismo e com certos tumores medulares, existe uma perda característica da P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 12 sensibilidade dolorosa e térmica, poupando as outras modalidades. Essa perda é decorrente da interrupção de fibras que cruzam de um lado da medula para o trato espinotalâmico do outro lado. Tal perda normalmente é bilateral, mas pode ser assimétrica e envolver somente as fibras dos segmentos envolvidos. Ela pode ser acompanhada por uma fraqueza no NMI nos mm supridos pelos segmentos afetados e, às vezes, por um déficit piramidal e da coluna posterior abaixo da lesão (Figura 10-5). 📌 Lesão medular anterolateral Lesões envolvendo a porção anterolateral da medula espinal (trato espinotalâmico lateral) podem causar um comprometimento contralateral da sensibilidade térmica e dolorosa nos segmentos abaixo do nível da lesão. O trato espinotalâmico é laminado, e as fibras dos segmentos sacrais são as mais externas. Lesões intrínsecas (intramedulares) da medula espinal muitas vezes poupam as fibras sacrais, enquanto lesões extramedulares, que comprimem a medula, tendem a envolver essas fibras, assim como as que se originam de níveis mais rostrais. 📌 Lesão medular anterior Com lesões destrutivas envolvendo predominantemente a porção anterior da medula espinal, a sensibilidade dolorosa e térmica fica comprometida abaixo do nível da lesão, que envolve o trato espinotalâmico lateral. Além disso, a fraqueza e a paralisia dos mm supridos pelos segmentos medulares envolvidos resultam de lesão dos nn motores do corno anterior. Tem muito mais deficit motor do que as demais (prof Sílvia)!!! P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 13 No caso de uma doença mais extensa, o envolvimento dos tratos corticospinais nos funículos laterais pode causar um déficit piramidal abaixo da lesão. Existe uma preservação relativa da função da coluna posterior (Figura 10-6). Mielopatias isquêmicas, causadas pela oclusão da a. espinal anterior, assumem a forma de lesões medulares anteriores. 📌 Lesão de coluna posterior Um paciente com uma lesão de coluna posterior pode se queixar de uma sensação de aperto ou semelhante a uma faixa nas regiões que correspondem ao nível do envolvimento medular e, algumas vezes, também existem queixas de parestesias (semelhantes a choques elétricos), que se irradiam para baixo nas extremidades durante a flexão do pescoço (sinal de Lhermitte). Existe perda da sensibilidade vibratória e posicional das articulações abaixo do nível da lesão, com preservação das demais modalidades sensitivas. O déficit pode lembrar aquele que resulta do envolvimento das grandes fibras nas raízes posteriores. Temos sinal Romberg positivo (prof Sílvia)!! 📌 Hemissecção medular A hemissecção lateral da medula leva à sd Brown-Séquard. Abaixo da lesão, existe déficit piramidal ipsilateral e distúrbio da sensibilidade vibratória e da sensibilidade P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 14 postural articular, com perda contralateral da sensibilidade dolorosa e térmica, que se iniciam dois ou três segmentos abaixo da lesão (Figura 10-7).Hiperalgesia e dor espontânea são, algumas vezes, evidentes ipsilateralmente. 5) Identificar as principais causas de neuropatias periféricas P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 15 NEUROPATIAS INFLAMATÓRIAS IDIOPÁTICAS � Polineuropatia Idiopática Aguda (Sd Guillain-Barré) Pode ser desencadeada por vários fatores, ex. prof é diarreia (origem autoimune, por isso é desmielinizante). Paralisia flácida, arreflexia ⇒ Vacina, infecção. Tto: Ig ou plasmaférese A sd Guillain-Barré é uma polineuropatia aguda ou subaguda que pode seguir dça infecciosa leve, inoculações ou procedimentos cirúrgicos. Pode ter associação com infecção precedente por Campylobacter jejuni (pior prognóstico). Sua causa parece ter uma base imunológica. Características clínicas: fraqueza ascendente simétrica, começando nas pernas, que frequentemente está mais acentuada proximal do que distalmente e, algumas vezes, é tão grave que apresenta risco para a vida, principalmente se os mm respiratórios ou a deglutição estiverem envolvidos. A atrofia muscular se desenvolve caso tenha ocorrido degeneração axonal. Pode ter queixas sensoriais e disfunção autonômica (↑FC, labilidade PA, sudorese, distúrbio da função pulmonar, distúrbios esfincterianos, íleo paralítico etc). Investigações: - LCR: anormalidade característica= dissociação citoalbuminológica, com ↑ concentração proteica e celularidade normal - Estudos eletrofisiológicos podem revelar acentuada ↓ velocidade de condução motora e sensorial, ou denervação evidente e perda axonal P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 16 - Estudos sorológicos: Quando existe suspeita de infecção por HIV Prognóstico: é autolimitante, e a melhora ocorre durante semanas ou meses após o início do quadro. O prognóstico é pior qdo existe infecção pelo Campylobacter jejuni, evolução + lenta e uma recuperação menos completa também são mais prováveis quando a patologia primária é a degeneração axonal, e não a desmielinização. Idade avançada, necessidade de suporte ventilatório ou início + rápido do quadro também podem predizer um prognóstico pior. � Polineuropatia inflamatória desmielinizante crônica A polineuropatia inflamatória desmielinizante crônica é clinicamente similar à sd Guillain-Barré, exceto pelo fatode seguir uma evolução crônica progressiva ou uma evolução caracterizada por recaídas, sem melhora aparente dentro de 6 meses após seu início. Sua causa é desconhecida. Investigação: LCR revela achados que lembram os da sd Guillain-Barré. Achados eletrofisiológicos indicam uma neuropatia desmielinizante com degeneração axonal sobreposta. NEUROPATIAS METABÓLICAS E NUTRICIONAIS � Diabetes Melito ⇒ Polineuropatia simétrica distal (em bota) O envolvimento de nervo periférico no diabetes é comum e pode ser caracterizado por polineuropatia, que tem um caráter misto (sensorial, motora e autonômica) em cerca de 70% dos casos, sendo predominantemente sensorial em cerca de 30% dos casos, mononeuropatia múltipla ou mononeuropatia simples. Tais manifestações clínicas podem ocorrer isoladamente ou em qualquer combinação. Características clínicas: polineuropatia sensorial distal ou mista, que às vezes é diagnosticada erroneamente, antes de se tornar sintomática, pela presença de reflexos tendinosos deprimidos e comprometimento da sensibilidade vibratória nas pernas. Os sintomas costumam ser mais comuns nas pernas que nos braços e consistem em dormência, dor ou parestesias. Investigação: No LCS, a ptn costuma encontrar-se ↑ na polineuropatia diabética e na mononeuropatia múltipla. � Outras Endocrinopatias Hipotireoidismo: é uma causa rara de polineuropatia. Mais comumente, o hipotireoidismo está associado com neuropatia por aprisionamento, em especial a sd P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 17 túnel do carpo (aprisionamento do nervo mediano). A polineuropatia pode ser erroneamente diagnosticada em pacientes com fraqueza proximal em membros, causada pela miopatia hipotireóidea, ou em pacientes com um retardo do relaxamento de reflexos tendinosos, uma manifestação clássica de hipotireoidismo que é independente de neuropatia. Ver os outros sintomas e o diagnóstico (TSH e T4L). Causa edema e aprisiona o n mediano (prof Sílvia)!! Acromegalia: costuma produzir uma sd túnel do carpo e, menos frequentemente, polineuropatia. Como muitos pcts acromegálicos também são diabéticos, pode ser difícil determinar qual distúrbio é primariamente responsável pela polineuropatia em determinado paciente. � Uremia Uma polineuropatia sensorimotora simétrica, predominantemente do tipo axonal, pode ocorrer na uremia. Ela tende a afetar mais as pernas que os braços, sendo mais acentuada distal do que proximalmente. Pernas inquietas, cãibras musculares e “dor em ardência nos pés” foram associados à uremia. A extensão de cada distúrbio da função de nervo periférico parece estar relacionada com a gravidade do comprometimento da função renal. A neuropatia em si pode melhorar de modo acentuado com o transplante renal. A sd túnel do carpo também foi descrita em pacientes com doença renal, podendo se desenvolver distalmente de fístulas arteriovenosas colocadas no antebraço, para acesso durante a hemodiálise. Em pacientes submetidos a hemodiálise crônica, ela está relacionada à amiloidose e ao acúmulo da microglobulina b2. Assim como a deficiencia de Fe, pode desenvolver sd pernas inquietas (prof Sílvia)!! � Doença Hepática Cirrose biliar primária pode levar à neuropatia sensorial, que provavelmente é do tipo axonal. Uma polineuropatia predominantemente desmielinizante pode ocorrer em pctes c/ dça hepática crônica. Não existe correlação entre os achados neurológicos e a gravidade da disfunção hepática. � Deficiência De Vitamina B12 A deficiência de vit B12 está associada c/ muitas características de polineuropatia, incluindo comprometimento sensorial distal simétrico e comprometimento motor leve, além de perda dos reflexos tendinosos. Polirradiculoneuropatia, polineuropatia e P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 18 mielopatia podem seguir cirurgia bariátrica e estar relacionadas a deficiências nutricionais, incluindo vit B12. NEUROPATIAS INFECCIOSAS E GRANULOMATOSAS � AIDS A neuropatia pode ser consequência da infecção por HIV ou de uma infecção secundária por outros microrganismos (p. ex., citomegalovírus, vírus varicela-zoster, Treponema pallidum), pode ter uma base imunológica, estar relacionada a uma deficiência nutricional ou a uma medicação. Polineuropatia sensoriomotora simétrica ou predominantemente sensorial é a neuropatia mais comum associada com infecção por HIV-1. Os axônios, mais do que a mielina, estão primariamente afetados. Polineuropatia inflamatória desmielinizante pode ocorrer precocemente na infecção por HIV-1, podendo apresentar uma evolução aguda ou crônica ⇒ O LCR é anormal, com uma concentração ↑ de ptn e, frequentemente, uma pleocitose linfocítica (diferente da sd Guillain-Barré ou da polineuropatia inflamatória desmielinizante crônica em pacientes sem infecção por HIV-1). Polirradiculopatia lombossacra: ocorre mais tardiamente na evolução da infecção por HIV-1, em pacientes com infecção oportunista prévia. Mononeuropatia múltipla afeta múltiplos NCs e periféricos ⇒ fraqueza focal e perda sensorial. Mononeuropatia simples tende a ocorrer de forma aguda em uma infecção precoce por HIV-1, podendo levar a episódios de síncope, hipotensão ortostática, comprometimento da sudorese termorreguladora e diarreia. Neuropatia relacionada a medicamentos pode resultar de tto com os fármacos antirretrovirais zalcitabina (ddC), didanosina (ddI) e estavudina (d4T) ⇒ Formigamento distal, adormecimento e dor. Outros fármacos que podem estar associados com uma neuropatia em pacientes com Aids incluem isoniazida, etambutol, vincristina, vimblastina, taxol, talidomida e as estatinas. � Hanseníase É uma das causas mais frequentes de neuropatia periférica em todo o mundo. A neuropatia, por sua vez, é a manifestação mais incapacitante da hanseníase. O P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 19 Mycobacterium leprae afeta a pele e os nervos periféricos, pois seu crescimento é facilitado pelas temperaturas mais frias presentes na superfície corporal. Na hanseníase tuberculoide, a resposta imunológica é adequada para confinar a infecção a um ou mais retalhos cutâneos pequenos e seus nn cutâneos e SCs associados. Isso produz uma mácula ou pápula hipopigmentada, sobre a qual existe um distúrbio de sensibilidade, sendo que as sensibilidades térmica e dolorosa são as mais comprometidas. Pode ocorrer anidrose como resultado do envolvimento focal das fibras autônomas. Os déficits sensoriais ocorrem, frequentemente, na distribuição dos nn digital, radial e auricular posterior, enquanto os achados motores estão relacionados ao envolvimento do nervo ulnar ou fibular (peroneal). Os nervos envolvidos costumam estar aumentados em tamanho. Hanseníase lepromatosa é um distúrbio mais disseminado, que produz uma polineuropatia simétrica, primariamente sensorial, que afeta a sensibilidade dolorosa e térmica de modo desproporcional. Sua distribuição é distinta pelo fato de envolver, preferencialmente, áreas corporais expostas (em especial orelhas, nariz, bochechas, superfícies dorsais das mãos, dos antebraços e dos pés, e regiões laterais das pernas). Diferente da maioria das polineuropatias, a polineuropatia causada pela hanseníase tende a poupar os reflexos tendinosos. Achados associados incluem reabsorção de dígitos, úlceras tróficas, cianose e anidrose mãos e pés. 6) Citar os medicamentos que podem causar neuropatia periférica P1M2T8: VIAS SENSORIAIS (TRG) 20
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