Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DESCRIÇÃO Competências e habilidades necessárias à prática profissional do psicólogo e sua relação com sujeitos e contextos. PROPÓSITO A Psicologia é uma ciência multifacetada, portanto, conhecer as possibilidades e os limites do fazer do psicólogo torna-se essencial para o alinhamento com as demandas do mercado de trabalho e a inserção do profissional em diversas áreas de atuação. OBJETIVOS MÓDULO 1 Analisar as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de Psicologia MÓDULO 2 Identificar competências e habilidades necessárias ao psicólogo empreendedor MÓDULO 3 Avaliar possibilidades de atuação do psicólogo em equipes multidisciplinares MÓDULO 4 Reconhecer situações de desigualdades e violação dos direitos humanos INTRODUÇÃO A Psicologia é uma ciência que permite ao profissional muitas possibilidades de atuação, pois relaciona-se com várias áreas, como a clínica, a hospitalar, a jurídica, a escolar, entre outros contextos. Tal diversidade coloca você diante de múltiplos caminhos, o que demandará a sua atenção especial no planejamento e desenvolvimento de sua carreira. Esse investimento passa, inevitavelmente, pelo conhecimento da profissão e do mercado de trabalho em que ela está inserida. Assim, neste conteúdo, convidamos você a refletir e dialogar sobre as normas e regras da profissão que escolheu, além de identificar os caminhos necessários para atuar no mercado de trabalho. Nessa caminhada, você acessará a “bússola de carreira”, ferramenta desenvolvida para auxiliar no planejamento da sua trajetória. Ao desenhar o seu projeto, você logo perceberá que é fundamental pensar o seu fazer profissional em redes. Assim, não perca de vista a perspectiva multidisciplinar e foque no desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Antes de iniciar o nosso percurso, é preciso ter atenção para outro ponto não menos importante e que atravessa toda a temática: os diversos públicos e contextos com os quais você irá lidar. Nesse sentido, você será orientado a reconhecer e adotar medidas cabíveis para preservar a autonomia dos sujeitos que estiverem sob os seus cuidados. MÓDULO 1 Analisar as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de Psicologia DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O CURSO DE PSICOLOGIA E AS COMPETÊNCIAS NA PRÁTICA PROFISSIONAL Você conhece as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) da Psicologia? Nesta primeira parte do conteúdo, você aprenderá a analisá-las e compreenderá a lógica da sua matriz curricular, ou seja, a importância de percorrer determinadas trilhas de aprendizagem no processo formativo. O Conselho Nacional de Saúde (CNS), em sua Resolução nº 597, de 13 de setembro de 2018, cumprindo os dispositivos legais previstos na Constituição Federal de 1988, apresenta recomendações à proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de graduação em Psicologia. Anteriores a essas recomendações, temos as DCN de 2011, que a partir da Resolução CNE/CES nº 5, de 15 de março de 2011, publicada no Diário Oficial da União de 16 de março de 2011, passou a instituir as DCN para muitos dos cursos de graduação em Psicologia ainda vigentes. Neste conteúdo, apresentaremos especialmente as DCN de 2018 e, quando for necessário, faremos observações que permitam comparar e entender as particularidades de cada uma. Para compreender o porquê das DCN, é importante checar os objetivos da referida resolução nº 597, conforme descrito a seguir: A PRESENTE PROPOSTA VISA O FORTALECIMENTO DOS PRINCÍPIOS FUNDANTES E ORIENTADORES DE UMA FORMAÇÃO QUE CONTEMPLE A PLURALIDADE, A COMPETÊNCIA E O COMPROMISSO COM O APERFEIÇOAMENTO DA SOCIEDADE, PAUTADA NUMA PERSPECTIVA DE DIREITOS CIDADÃOS PLENOS. O CARÁTER HÍBRIDO E PLURAL DA PSICOLOGIA EFETIVA-SE EM UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO GENERALISTA, CRÍTICA, REFLEXIVA, ÉTICA E TRANSFORMADORA, QUE CONTEMPLA O CARÁTER MULTIFACETADO DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA, APONTANDO UMA DIVERSIDADE DE POSSIBILIDADES TANTO NO QUE SE REFERE ÀS SUAS BASES EPISTEMOLÓGICAS E METODOLÓGICAS, QUANTO ÀS SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO. (BRASIL, 2018, p. 199) Para além de aportes teóricos e inserção do psicólogo nas mais diversas áreas de atuação, é preciso levar em conta a necessidade de aproximação de outros saberes relacionados ao nosso fazer profissional, em perspectiva transdisciplinar, assim como as políticas públicas que o atravessam. Dessa forma, a formação em Psicologia considera desde o início formatos de integração teórico-prática e caminha na direção de olhar o sujeito como um ser biopsicossocial. BIOPSICOSSOCIAL Modelo que considera o sujeito desde uma perspectiva biológica, psicológica e social, em contraposição ao modelo biomédico que apenas considera os fatores biológicos. A seguir você acessará os pontos principais dessa Resolução, mas lembre-se da importância de conhecer o documento na íntegra, pois ele é um norteador para a sua formação acadêmica, além de respaldar a sua prática profissional em um futuro breve. javascript:void(0) EIXOS ESTRUTURANTES DO CURSO DE PSICOLOGIA Para começar, o que o curso de Psicologia assegura ao estudante? O curso promove uma formação científica, pautada na ética, na crítica e na reflexão, com respeito aos direitos humanos e fundamentada no compromisso com a diversidade de perspectivas epistemológicas e teórico-metodológicas, além de contemplar o diálogo permanente com diversas áreas do saber que alcancem os fenômenos psicológicos em sua complexidade e multideterminação. Os componentes curriculares do curso são pautados em sete eixos estruturantes: Observe que esses eixos que dão sustentação à formação em Psicologia garantem ao aluno a apropriação do conhecimento de forma transversal a fim de que ele desenvolva competências capazes de inseri-lo no mercado de trabalho, de forma segura, ética e socialmente responsável. DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS NA FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA Para o desenvolvimento das competências, a formação tem caráter generalista e se compõe de uma base comum, composta de conhecimentos, habilidades e atitudes. Essa base se complementa a partir da realização de ênfases curriculares. Assim, de acordo com as recomendações propostas pelas DNC, em seu artigo 9º, ao final do curso, você deverá estar apto a enfrentar os desafios impostos ao egresso do curso, a exemplo de analisar possibilidades e limites dos diversos campos de atuação profissional. Assim, é fundamental compreender o sujeito que busca o serviço do profissional de Psicologia, em sua integralidade, inserido em contextos de variáveis sociais, econômicas e culturais. Esse caminho deve estar alinhado à postura ética e responsável no exercício profissional. RECOMENDAÇÃO Ao acolher uma demanda de atendimento psicológico, o profissional deve valer-se de escuta sensível, a fim de identificar e analisar as necessidades trazidas pelo sujeito, levantar hipóteses diagnósticas e, quando julgar necessário, fazer uso de instrumentos e técnicas de avaliação, sempre considerando o indivíduo inserido em um contexto, além de contemplar a perspectiva de um olhar multidisciplinar. Durante ou mesmo ao final do processo de acolhimento, orientação, aconselhamento psicológico, psicoterapia ou mesmo mediação, o profissional da Psicologia deve estar apto a elaborar registros de evolução do processo e produzir documentos resultantes da prestação de serviços, como laudos, relatórios e pareceres técnicos. Você consegue perceber a dimensão e a importância do trabalho do profissional de Psicologia? A seguir conheceremos algumas especificidades da jornada acadêmica que podem auxiliá-lo no direcionamento dos estudos e nas escolhas profissionais. ÊNFASES CURRICULARES De acordo com o artigo 10 das DNC, a formação em Psicologia contempla o desenvolvimento de habilidades para produções científicas, metodológicas, sempre inseridas em parâmetros e critérios da ciência e da ética. O primeiro passo para a produção científica é dado na academia, quando o estudante estabelece conexões entre o aporteteórico e a realidade do mercado de trabalho. Nesse sentido, o curso de Psicologia contempla em seus projetos pedagógicos as ênfases curriculares que consistem em um subconjunto de saberes e práticas, dentre aqueles que compõem a base curricular do curso, alinhados com os condicionantes da região, do contexto e das características da própria instituição. Devem ser oferecidas duas ênfases curriculares, no mínimo, a fim de possibilitar a escolha por parte do aluno. ATENÇÃO Não confunda ênfase curricular com área de atuação do psicólogo, ou mesmo procedimentos de trabalho. As ênfases são definidas em termos de processos de trabalho, ou seja, estão relacionadas à prática dos profissionais da Psicologia. Dentre os processos de trabalho reconhecidos atualmente, destacam-se os de acolhimento, de acompanhamento, de avaliação, educativos, formativos, de mobilização social, organizativos, psicoterapêuticos, investigativos, dentre outros que compõem o fazer do profissional de Psicologia. PESQUISA NA FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA A pesquisa deve ser inserida no processo formativo vinculada a atividades de ensino e extensão que são realizadas no decorrer do curso. Esse formato considera importante o alinhamento da teoria à prática, além de fomentar no estudante o perfil investigativo. Características como transversalidade, interdisciplinaridade, criticidade, comprometimento, bem como elementos que compõem a dinâmica da relação do sujeito com o ambiente que o cerca, devem ser consideradas quando do desenvolvimento de pesquisas acadêmicas e científicas. Vale salientar que os projetos de pesquisa desenvolvidos durante o curso de graduação devem ser aprovados pelo Conselho de Ética em Pesquisa (CEP) e homologados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). ESTRUTURA E METODOLOGIAS A ESTRUTURA DO CURSO DE PSICOLOGIA É COMPOSTA POR: QUANTIDADE DE HORAS Quatro mil QUE DEVEM SER CUMPRIDAS Em, no mínimo, cinco anos NO FORMATO Presencial As atividades acadêmicas são realizadas individualmente e em grupo, visando ao desenvolvimento de competências e habilidades do aluno alinhado aos saberes e às práticas necessários ao exercício da profissão. O uso de metodologias ativas nos contextos educacionais emergiu para fazer frente aos desafios impostos à educação para o século XXI e tem contribuído bastante para o processo formativo, uma vez que posiciona o estudante como protagonista no processo de aprendizagem, estando o docente no papel de mediador/facilitador. Ressalta-se que não se trata de abandonar por completo os modelos que foram utilizados até aqui, mas sim de agregar valor a eles. Assim, às metodologias tradicionais somam-se às metodologias ativas como situações-problema, gamificação, seminários, palestras, conferências, sala de aula invertida, ensino híbrido, estudos de caso, dentre outras ferramentas metodológicas e tecnológicas que ampliam e enriquecem as possibilidades de ensino- aprendizagem, em um formato de rede, viabilizando relações dialógicas permanentes e promotoras do desenvolvimento de todos os atores envolvidos. VEJAMOS QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS ATIVIDADES ACADÊMICAS QUE UM ESTUDANTE DE PSICOLOGIA TERÁ DE DESENVOLVER. TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC) O TCC compõe o rol de atividades acadêmicas da sua formação e pode ser produzido em diversos formatos, como artigo científico, monografia ou relatório. É preciso esclarecer, no entanto, que o relatório de estágio não substitui o TCC. Você se recorda que no início deste conteúdo foram apresentados os eixos estruturantes do curso de Psicologia? Agora abordaremos as atividades de extensão, que consistem em práticas interdisciplinares e intersetoriais, envolvendo atores como professores, estudantes e comunidades, e são propostas com base nos eixos estruturantes. ATIVIDADES DE EXTENSÃO As extensões são propostas com o objetivo de fomentar o protagonismo desses atores ― professores, estudantes e comunidades ― em seus contextos de atuação, de forma articulada e visando à promoção dos direitos humanos e sociais e à qualidade de vida das populações atendidas, numa perspectiva de prevenção e cuidado face a situações de sofrimento. Vale destacar que essas atividades são obrigatórias, realizadas sob supervisão de um docente, e ocupam 10% da carga horária total do curso sem se sobreporem aos estágios. ESTÁGIOS OBRIGATÓRIOS Os estágios obrigatórios são constituídos de atividades práticas, que ocorrem em grau crescente de complexidade e têm o objetivo de garantir o entrelaçamento entre os componentes curriculares, as práticas e a demanda do contexto em que a instituição de ensino está inserida. Os estágios são estruturados em dois níveis: estágios do núcleo comum (ou estágios básicos) e estágios específicos. Devem ocupar, no mínimo, de 20 a 25% da carga horária total do curso e podem ser realizados em campo interno ou externo à instituição. Alguns cursos podem manter ainda a carga horária total dos estágios curriculares apenas acima de 15%, conforme orientação das DCN de 2011. Essa é uma das diferenças existentes entre as DCN de 2011 e as de 2018. A instituição de ensino deve contemplar em seu projeto de curso, um serviço-escola de Psicologia, a fim de garantir um espaço adequado para atendimentos, supervisões, bem como guarda e sigilo dos documentos resultantes dos atendimentos. A supervisão dos estágios obrigatórios deve ser realizada por docente vinculado à instituição de ensino, com formação em Psicologia, inscrição ativa e regular no Conselho Regional de Psicologia (CRP) da jurisdição onde é prestado o serviço, além de qualificação específica na área de estágio. ATIVIDADES COMPLEMENTARES Além de todas as atividades acadêmicas descritas até aqui, o aluno do curso de Psicologia precisa cumprir certa carga horária com atividades complementares. Ressalta-se que essas atividades devem ser validadas por uma comissão de docentes, designada pela coordenação do curso. De acordo com as DNC, cabe à instituição de ensino proporcionar ao aluno suporte, acolhimento e apoio psicossocial e pedagógico, bem como incentivar a participação nas discussões sobre a sua formação, bem como a sua organização política. Nesse caso, o coordenador se encarrega de promover a participação e realização de atividades como: seminários, congressos, colóquios, oficinas, encontros, festivais, palestras, exposições, cursos de curta duração, cursos on-line, projetos ligados à prática de consultoria empresarial, entre outras. Assim, o aluno pode ter uma melhor compreensão das relações existentes entre a prática social e o trabalho acadêmico, a integração teoria/prática e a integração universidade/sociedade, de modo a complementar a sua formação. GESTÃO DO CURSO DE PSICOLOGIA Toda a estrutura acadêmica apresentada até aqui é gerida pela coordenação do curso de graduação em Psicologia, e o ocupante do cargo deve ter formação em Psicologia, inscrição ativa e regular no CRP da jurisdição onde o curso está instalado. O Projeto Pedagógico de Curso (PPC) é concebido, acompanhado, consolidado e avaliado pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE), que atua também no apoio à gestão. FORMAÇÃO DE DOCENTES Dentre as propostas das DCN, está a formação e o aperfeiçoamento do corpo docente do curso, de forma complementar, com o objetivo de adequar a prática pedagógica às demandas do mercado, que incluem propostas de educação inclusiva, adaptação ou inserção de novas tecnologias de ensino-aprendizagem, além de aderência às políticas públicas que regulamentam a educação superior. O conteúdo apresentado a você até aqui dá a dimensão do quão rica e complexa é a nossa área de formação e demonstra como a graduação em Psicologia é amparada por marcos legais que lhe garantem uma formação segura e de qualidade. A seguir, apresentaremos ideias e reflexões acerca de estratégias que você pode adotar para planejar a sua carreira de Psicólogo, focando a sua área de interesse. AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAISDO CURSO DE PSICOLOGIA Neste vídeo, a especialista Tatiana Oliveira reflete sobre a importância e as características das DCN de Psicologia, destacando o tempo mínimo de formação, a estrutura do curso e a relevância dos estágios curriculares. VEM QUE EU TE EXPLICO! Ênfases curriculares no curso de Psicologia Atividades Complementares - definição e importância das Atividades Acadêmicas Complementares VERIFICANDO O APRENDIZADO HABILIDADES SOCIAIS E EMPREENDEDORISMO Para tornar-se um profissional bem-sucedido na carreira escolhida, existem alguns passos importantes para os quais você deverá voltar a sua atenção. Elaborar um planejamento e estabelecer metas são ações fundamentais para alcançar seus objetivos profissionais. Neste material, serão apresentadas estratégias importantes e uma bússola de carreira, ferramenta criada para nortear sua trajetória profissional. MÓDULO 2 Identificar competências e habilidades necessárias ao psicólogo empreendedor Antes de iniciar o percurso, conheceremos uma proposta com três pilares básicos para pensar o seu projeto de vida: autoconhecimento, conhecimento da profissão e conhecimento do mercado. AUTOCONHECIMENTO Esse pilar ajudará você a conhecer o seu perfil, suas características de personalidade, identificação com determinadas áreas de atuação e com outras não, bem como o seu comportamento nas relações interpessoais. CONHECIMENTO DA PROFISSÃO Consiste em adentrar o universo da sua área de interesse, ou seja, conhecer as atividades do cotidiano de trabalho, os principais desafios e as várias possibilidades de investigação. CONHECIMENTO DO MERCADO Esse pilar requer de você a capacidade de analisar cenários, conjunturas, condicionantes econômicos, políticos, sociais, bem como ameaças e oportunidades que se descortinam na área de atuação que você escolheu. Agora você consegue perceber a importância de um planejamento bem estruturado e pautado nesses três pilares? A seguir, vamos resgatar um pouco da história e, em paralelo, traremos alguns cenários contemporâneos, para contextualizá-lo e auxiliá-lo na construção da sua bússola de carreira. PSICOLOGIA 4.0 Você já ouviu essa expressão alguma vez? Trata-se de uma alusão aos quatro momentos da Revolução Industrial. Quando usamos o termo “Psicologia 4.0” estamos alinhando a profissão ao contexto atual. OS QUATRO MOMENTOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Foi marcada pela invenção da máquina a vapor, e a vantagem competitiva foi conferida aos ingleses. SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL O mundo contou com a chegada da energia elétrica, e esse período ficou conhecido como aquele em que emergiu a produção em massa. Nesse contexto, o trabalho em linhas de montagem e o sistema capitalista ganharam força no cenário econômico mundial. TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Ficou marcada pelos processos de automação, ou seja, aconteceu quando houve grande avanço tecnológico e as máquinas começaram a substituir a mão de obra humana. QUARTA E ATUAL REVOLUÇÃO INDUSTRIAL É aquela caracterizada por um recurso primordial: a informação. É sobre a Quarta Revolução Industrial que debruçaremos o nosso olhar. Essa é a era da inteligência artificial, responsável por reduzir ainda mais as diferenças entre homem e máquina. O economista Klaus Schwab (2019) apresenta reflexões acerca dos desafios da contemporaneidade, no que se refere aos avanços tecnológicos e às novas formas de viver em sociedade, o que requer de cada indivíduo o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes que favoreçam o seu posicionamento nas mais diversas áreas de sua vida, a exemplo da sua trajetória profissional. O trecho a seguir confirma essa percepção: AINDA PRECISAMOS COMPREENDER DE FORMA MAIS ABRANGENTE A VELOCIDADE E A AMPLITUDE DESSA NOVA REVOLUÇÃO. IMAGINE AS POSSIBILIDADES ILIMITADAS DE BILHÕES DE PESSOAS CONECTADAS POR DISPOSITIVOS MÓVEIS, DANDO ORIGEM A UM PODER DE PROCESSAMENTO, RECURSOS DE ARMAZENAMENTO E ACESSO AO CONHECIMENTO SEM PRECEDENTES. OU IMAGINE A ASSOMBROSA PROFUSÃO DE NOVIDADES TECNOLÓGICAS QUE ABRANGEM NUMEROSAS ÁREAS: INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, ROBÓTICA, INTERNET DAS COISAS, VEÍCULOS AUTÔNOMOS, IMPRESSÃO EM 3D, NANOTECNOLOGIA, BIOTECNOLOGIA, CIÊNCIA DOS MATERIAIS, ARMAZENAMENTO DE ENERGIA E COMPUTAÇÃO QUÂNTICA, PARA CITAR APENAS ALGUNS. MUITAS DESSAS INOVAÇÕES ESTÃO APENAS NO INÍCIO, MAS JÁ ESTÃO CHEGANDO A UM PONTO DE INFLEXÃO DE SEU DESENVOLVIMENTO, POIS JÁ CONSTROEM E AMPLIFICAM UMAS ÀS OUTRAS, FUNDINDO AS TECNOLOGIAS DO MUNDO FÍSICO, DIGITAL E BIOLÓGICO. (SCHWAB, 2019, p. 11) E o que a Quarta Revolução Industrial tem a ver com a Psicologia 4.0? É essa relação que estudaremos a seguir. ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA Até pouco tempo atrás, quando pensávamos em um psicólogo, logo vinha à mente a imagem de um consultório, com um divã fazendo parte do mobiliário e um paciente falando sobre si e sobre suas demandas para o psicólogo. O cenário da contemporaneidade não eliminou o formato clínico tradicional, mas o exercício da profissão de psicólogo ganhou novos contornos e, concomitantemente, novos desafios, o que demandou o desenvolvimento de novas competências e habilidades. Atente para o fato de que esse fenômeno não é exclusivo da Psicologia, está relacionado a todas as profissões no contexto atual. Assim, ao pensar em sua carreira, é importante investir na aquisição de novas habilidades. A imagem a seguir apresenta exemplos de habilidades requeridas pelo mercado de trabalho na contemporaneidade: Novas habilidades para o mercado de trabalho. Considerando que você agora já consegue identificar as habilidades que precisa desenvolver ao longo do seu processo formativo, vamos fazer uma pausa para uma pequena reflexão em forma de atividade. A partir da imagem a seguir e posicionando-se no dia de hoje, faça uma projeção para daqui a cinco anos e outra para daqui a dez anos. Pergunte a si mesmo: como vejo minha carreira daqui a cinco anos? E daqui a dez anos? Em seguida faça o mesmo em relação à sua profissão: como estará a Psicologia daqui a cinco anos? E daqui a dez anos? Faça suas anotações e guarde-as, pois usaremos em uma atividade mais à frente. LINHA DO TEMPO RUMO AO ADMIRÁVEL MUNDO 4.0 A Psicologia contempla múltiplas áreas de atuação, e essa diversidade requer dos profissionais da área um olhar para os espaços de trabalho que vêm emergindo ao longo do tempo. A urgência do cotidiano nos grandes centros urbanos tem provocado a busca por serviços de psicologia para o atendimento de demandas pontuais, que sejam solucionadas em curto prazo. Esse fenômeno tem levado o profissional da Psicologia a se reinventar, a romper paradigmas e a permitir-se outras formas de prestação de serviço, entretanto, sem deixar de observar as questões éticas e de respeito aos direitos humanos que lastreiam o seu fazer laboral. EMPREENDEDORISMO Podemos entender o empreendedorismo como um processo de criação, inovação e aporte de novas tecnologias. Pode-se afirmar que esse movimento feito por todos os profissionais da contemporaneidade confere dinamismo às suas carreiras, além de caracterizar a própria ressignificação da sua atividade de trabalho. A seguir, você encontrará algumas áreas de atuação do psicólogo, com atividades relacionadas, para que constate a diversidade de oportunidades de inserção no mercado de trabalho. É importante ressaltar que esses são apenas alguns exemplos, mas as possibilidades de entrelaçamentos com outras áreas do saber ou mesmo de variações dentro da sua prática profissional são inúmeras. ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NEUROPSICOLOGIA Avaliação neuropsicológica Acompanhamento de pacientes em processo demencial Acompanhamento de pacientes com TDAH Acompanhamento de vítimas de AVC Estudos de Neuroplasticidade Estudo das relações do cérebro com o comportamento Reabilitação Neuropsicológica PSICOLOGIA AMBIENTAL Estudo da interação entre as pessoas e o ambiente físico ou natural Participaçãode planejamento de áreas urbanas Concepção de equipamentos e áreas de lazer para melhoria da qualidade de vida Participação de projetos de construção de ciclovias Busca de sustentabilidade Acolhimento e acompanhamento de vítimas de desastres ambientais PSICOLOGIA CLÍNICA Atendimento individual, de casais, família ou grupos Elaboração de luto Psicopatologias Atendimento on-line Orientação profissional Avaliação psicológica PSICOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES Acolhimento de vítimas de emergências e desastres Primeiros cuidados psicológicos Planos de intervenção Ações humanitárias Elaboração de luto Intervenções em situações de transtorno de estresse pós-traumático Acolhimento dos profissionais de Saúde que atuam em situações de emergências e desastres PSICOLOGIA DO ESPORTE Acompanhamento do desempenho de atletas de alto rendimento e performance Preparo emocional para competições / derrotas Avaliação psicológica Orientação profissional PSICOLOGIA DO TRÂNSITO Avaliação psicológica Ações educativas Ações socioeducativas com motoristas infratores, pedestres e ciclistas Estudo do comportamento no trânsito Atendimento de profissionais que atuam no trânsito PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL Planejamento escolar Educação disruptiva/Metodologias ativas Desempenho acadêmico Mediação de conflitos Formação de docentes Transtornos de aprendizagem Orientação profissional Educação inclusiva PSICOLOGIA HOSPITALAR Pré-natal psicológico/Psicologia neonatal Emergência hospitalar Equipes multidisciplinares Psicoprofilaxia cirúrgica Cuidados paliativos Morte no contexto hospitalar Psico-Oncologia Atendimento em UTI Reabilitação Saúde mental PSICOLOGIA JURÍDICA Avaliação psicológica de envolvidos em processos Assessoramento da atividade jurídica Prevenção e combate à violência Políticas de cidadania e direitos humanos Processos de adoção Atuação na área criminal Programas de aconselhamento, orientação e encaminhamento Mediação de conflitos PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO Recrutamento, seleção e desenvolvimento de pessoas Avaliação de desempenho Clima organizacional Mediação de conflitos Liderança desenvolvedora Orientação de carreira Motivação Qualidade de vida no trabalho Entrevista de demissão PSICOLOGIA SOCIAL Atendimento institucional: vulnerabilidade social Publicidade e propaganda Atendimento a presidiários Centros de atendimento a crianças e adolescentes Atendimento a idosos institucionalizados Atendimento em ONG Ensino e pesquisa PSICOMOTRICIDADE Educação, reeducação, terapia psicomotora Auxílio no desenvolvimento, prevenção e reabilitação Planejamento de atividades das clínicas de reabilitação Parecer psicomotor Desenvolvimento de atividades para pessoas com deficiência Orientações para famílias das pessoas com deficiência PSICOPEDAGOGIA Processos de aprendizagem Garantia da compreensão de conteúdos e facilitação o aprendizado Detecção de dificuldades e realização das devidas intervenções Redução de casos de evasão escolar Empresas: melhoria e assimilação dos conteúdos e performance dos funcionários – RH Clínicas e consultórios Atendimento hospitalar – questões ligadas à falta de memória PLANEJAMENTO DE CARREIRA Após reunir informações sobre as áreas de atuação do profissional da Psicologia, bem como as habilidades requeridas no cenário atual e futuro, você está apto a construir o seu plano de carreira. Retome as anotações que fez na atividade da linha do tempo, pois você precisará delas para o preenchimento do seu plano. Este tópico apresenta a ferramenta bússola de carreira, desenvolvida para auxiliá-lo na estruturação e organização do seu plano de carreira. Ressalta-se que o preenchimento dessa ferramenta não se esgota em si nem é rígido ao ponto de impossibilitar alterações. Gerir a carreira é um processo dinâmico, flexível e passível de retirar ou agregar novos elementos, a todo o momento. A seguir, são apresentadas as orientações para o preenchimento da bússola de carreira, com explicações de cada elemento que a compõe. Depois de conhecer os componentes da ferramenta, escolha uma área de interesse a partir da atividade da linha do tempo que você elaborou na etapa anterior e, com base nessa escolha, preencha a sua bússola. Se você tem dúvidas entre duas ou mais áreas de atuação, preencha uma bússola para cada área de interesse. CONHECIMENTOS Nesse campo, você deve colocar todo o aporte teórico-epistemológico e metodológico que precisará para seguir a área de interesse. Assim, informações como cursos necessários à atuação, graduação, especializações, mestrado, doutorado, pesquisas, entre outros percursos do universo do saber. Para isso, pergunte-se: Quais os conhecimentos necessários para atuar no campo que escolhi? Além da graduação, que títulos preciso obter? Quais são os saberes necessários? Quais cursos preciso realizar? HABILIDADES TÉCNICAS Refere-se ao saber fazer. Esse campo pode ser preenchido com dados relativos às práticas, a exemplo dos estágios (remunerados ou voluntários), das visitas técnicas, dos grupos de discussão de casos clínicos, das entrevistas com profissionais mais experientes, dos trabalhos de campo, entre outras possibilidades de aproximação da aplicação dos conhecimentos. HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS Para o preenchimento desse campo, é fundamental você se autoconhecer, ou seja, identificar quais são os seus potenciais e quais são os seus limites quando se trata de relações interpessoais. Nesse caso, pergunte-se: Para atuar nessa área de interesse, quais ferramentas internas disponho para utilizar a meu favor? Quais são os meus limites? Qual o melhor lugar para trabalhar? Prefiro um cotidiano de trabalho com atividades em grupo ou me realizo mais trabalhando isoladamente? VALORES Quando viemos ao mundo, o nosso primeiro convívio acontece no núcleo familiar e, aos poucos, nossas relações sociais vão se intensificando nos mais diversos ambientes de convívio. A partir dessa díade primária, absorvemos marcas que nos acompanham ao longo do nosso desenvolvimento e vão se solidificando ou se fragilizando conforme nossas vivências. Nesse sentido, quando escolhemos uma profissão ou uma área de atuação, essa escolha vem carregada de simbolismos da nossa história. Ao preencher esse campo, você deve se questionar: quais valores dentre os que me constituem enquanto sujeito, julgo importantes e potencializadores para a minha performance profissional? NETWORKING Ao ingressar no universo acadêmico, você se depara com inúmeros desafios e possibilidades de crescimento. Quando despertar o interesse por determinada área, busque aprofundar-se não apenas nos conhecimentos teóricos, ainda que sejam fundamentais para a sua formação. Esteja atento ao cotidiano de trabalho dos profissionais que atuam na sua área de interesse. Verifique quem é o profissional referência na área em questão, estabeleça conexões, demonstre desejo em seguir os seus passos, marque uma conversa com ele, diga-lhe do seu interesse, solicite a ele a oportunidade de realizar um estágio, mesmo que não seja remunerado. Fazer networking é estabelecer relacionamentos que farão parte da sua trajetória profissional. MERCADO Analisar cenários econômicos, sociais, políticos o coloca alguns passos adiante e lhe confere um diferencial competitivo enquanto profissional. Ao fazer esse movimento, você consegue identificar as ameaças e as oportunidades que o mercado está sinalizando. Assim, ao conhecer as ameaças, você pode se antecipar para minimizar os impactos em sua atividade. Acerca das oportunidades, quando você capta esse sinal do mercado, consegue aproveitá-las a seu favor. Um exemplo claro de análise de cenário foi vivenciado pelos profissionais de Psicologia durante a pandemia da covid-19: de repente, em duas semanas, todos nós fomos levados ao isolamento social e, aqueles que se anteciparam, conseguiram transformar a ameaça em oportunidade, por meio doatendimento on-line, que se impôs por uma necessidade, mas agora faz parte dos serviços prestados por nós. TENDÊNCIAS DA ÁREA DE ATUAÇÃO Para preencher esse campo, você deve posicionar a sua profissão no mercado. Mais uma vez, retome as anotações que realizou na atividade da linha do tempo e observe como você vê a Psicologia hoje, daqui a cinco anos e daqui a dez anos. Essa análise deve ser realizada, tomando como base a análise de cenário que você fez no campo mercado e as habilidades socioemocionais identificadas em você e que dão conta de seus limites e potenciais. Ao situar a Psicologia dentro dessa lógica dinâmica, você terá a chance de se posicionar enquanto profissional também. Por exemplo, há determinadas áreas da Psicologia que, em decorrência de pesquisas, estudos, condicionantes ambientais e mudanças de comportamento, têm ganhado relevo e provocado maior demanda por parte dos usuários dos nossos serviços. Estarmos atentos a esse movimento também contribui para bons resultados na carreira. ATUALIZAÇÕES Quando iniciamos a nossa vida de estudantes, desde a mais tenra idade, não nos damos conta de que ali tem início uma jornada que percorrerá todas as fases do nosso desenvolvimento. Então, ao concluir a graduação, é necessário zelar pela qualidade da nossa carreira. Atentar para o campo atualizações na bússola de carreira implica identificar pontos a aprimorar no seu desempenho. Essas lacunas podem ser preenchidas de variadas formas: participação em congressos, palestras, debates, mesas redondas, formações, eventos de curta duração, mas suficientes para apontar caminhos e dar respaldo para as tomadas de decisão. Agora é a sua vez! A bússola de carreira consiste em um círculo dividido em oito partes, cada uma delas alusiva a um segmento do seu projeto de vida, que você poderá preencher conforme as orientações anteriores. Lembre-se: essa é uma ferramenta dinâmica, que pode sofrer alterações por exclusão ou inclusão de novos elementos, durante a sua trajetória profissional. Ela funcionará como um norte para o seu processo formativo e o fato de ter todas as informações reunidas em um só instrumento ajudará você a se organizar e tomar as melhores decisões. BÚSSOLA DE CARREIRA Neste vídeo, a especialista Tatiana Oliveira reflete sobre a importância e a utilidade de planejar a sua carreira, bem como sobre as particularidades da Psicologia como profissão e seu mercado de trabalho para o preenchimento da bússola de carreira proposta. VEM QUE EU TE EXPLICO! O entendimento da Psicologia 4.0 Áreas de atuação do profissional da Psicologia – mercado de trabalho do psicólogo na contemporaneidade VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Avaliar possibilidades de atuação do psicólogo em equipes multidisciplinares O TRABALHO MULTIDISCIPLINAR NAS DIVERSAS ÁREAS DE ATUAÇÃO Kurt Lewin (apud SCHOSSLER; CARLOS, 2006), ao conceber a teoria do campo, afirma que todos os momentos de nossas vidas ocorrem no interior de grupos, cuja característica essencial que os define é a interdependência de seus membros, ou seja, não importa a soma das características dos membros, mas a resultante do processo que ali ocorre. Quando batemos um bolo, misturamos todos os ingredientes e, depois de pronto, o que temos é a resultante do processo da forma como foi definida por Kurt Lewin, ou seja, não identificamos os ingredientes separadamente, mas saboreamos o resultado da mistura. Ao atuarmos em equipes de Saúde, é fundamental nos percebermos como o bolo pronto, isto é, como resultante do processo e não como parte separada, pois apenas dessa forma conseguiremos alcançar a dimensão biopsicossocial dos sujeitos que demandam os nossos serviços. Nesse sentido, o nosso fazer profissional deve estar coordenadamente entrelaçado com outros campos do saber, lançando um olhar para o sujeito inteiro, numa perspectiva de clínica ampliada. Nos tópicos a seguir você avaliará as múltiplas possibilidades de atuação em equipes de Saúde e dará conta de que a resultante de um processo de acolhimento, diagnóstico e intervenção é mais exitosa quando percebida sob diversos olhares e perspectivas do saber. CENÁRIOS EM ATENÇÃO À SAÚDE A fragmentação disciplinar do conhecimento em especialidades e subespecialidades está alinhada ao modelo biomédico que já deu indicativos de ineficácia, tendo em vista a centralização do atendimento do indivíduo em uma única área do saber, além de evidenciar as patologias e não o sujeito em sua integralidade. A percepção fragmentada do demandante dos serviços de Saúde tem sua origem em um viés equivocado que se direciona ao conceito de saúde, ou seja, em acreditar que é possível alcançar o bem-estar absoluto, que não reconhece saúde e doença como processos que fazem parte da vida de todos nós. A distorção no conceito de saúde parece atender a interesses que se afastam do bem-estar dos indivíduos. A indústria farmacêutica, por exemplo, não deseja uma sociedade saudável, porque dessa forma estaria desejando a sua sucumbência. O contexto contemporâneo acaba por fortalecer essa fragmentação. Não raro, deparamo-nos com situações em que os indivíduos têm dificuldade de enfrentar perdas e frustrações e, por essa razão, acabam tendo que lidar com um vazio existencial sem precedentes. Estando nessa condição, esses indivíduos perdem a capacidade de questionar a própria realidade e ingressam em uma busca frenética para preencher o que lhes falta, não havendo possibilidade de admitir a existência da doença. O documentário SOS Saúde , do cineasta Michael Moore, lançado em 2007, aborda o sucateamento do sistema de Saúde nos Estados Unidos e faz um comparativo com outros países que entendem o conceito de saúde de maneira diferenciada, observando todos os fatores condicionantes que estão no entorno da vida humana, isto é, considerando a perspectiva de um sujeito biopsicossocial, inserido em um contexto econômico, social, político e cultural. O filme nos convida a uma reflexão acerca do quão frágil se torna o sistema de Saúde quando coordenado sob um olhar unidirecional. Nesse sentido, compreender que a dor, o sofrimento, a perda são de fundamental importância para a ressignificação de trajetórias de vida já implica um avanço na direção de conceber saúde e doença como processos dinâmicos, em movimento constante, cuja característica principal é a instabilidade. NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE O sistema de Saúde do Brasil apresenta composição hierarquizada, e os serviços são prestados conforme o grau de complexidade de cada caso. Esse formato organiza o acesso aos serviços de Saúde desde atendimentos ambulatoriais até aqueles que requerem especialidades ou maior nível de tecnologia. Assim, o nível de atenção é reconhecido de acordo com o direcionamento do paciente, por um sistema de regulação. ATENÇÃO PRIMÁRIA É o nível em que ocorre o primeiro contato com o usuário; é considerado de alta complexidade, baixo incremento tecnológico e é o de maior frequência de demanda. A alta complexidade se deve ao fato de que é nesse nível de atenção que há maior exigência de habilidades e coordenação das equipes. ATENÇÃO SECUNDÁRIA É o nível em que se inicia o direcionamento para as especialidades e subespecialidades; é de complexidade e incremento tecnológico intermediário. ATENÇÃO TERCIÁRIA O terceiro e último nível de atenção é o terciário, que requer alto incremento de tecnologia. O trabalho nos níveis de atenção demanda coordenação de excelência, e a atuação em equipes respalda os atores intervenientes. No tópico a seguir, você conhecerá as possibilidades de configurações das equipes de Saúde. PROCESSOS EM EQUIPES DE SAÚDE Os processos em equipes de Saúde acontecem segundo estratégias de integração disciplinar, cujo objetivo é reunir possibilidades de produção de conhecimento, para acolhimento, diagnóstico e intervenção voltados para os usuários que demandam tais serviços. Sua configuração pode ser multidisciplinar, pluridisciplinar,interdisciplinar e transdisciplinar (JANTSCH; BIANCHETTI, 2000). Vale ressaltar que qualquer campo do saber é passível de contemplar graus de interação maiores ou menores. Essa dinâmica fortalece a visão de integralidade do sujeito. O esboço gráfico de configurações de equipes, proposto por Jantsch e Bianchetti (2000), exposto a seguir, apresenta a dimensão das possibilidades estratégicas de integração entre equipes, que vão desde atividades justapostas, sem enriquecimento explícito dos saberes envolvidos, passando por interações centralizadas, interações mais articuladas, até chegar ao formato que vislumbra interações recíprocas, com conexões em rede inseridas em um sistema total, que é o transdisciplinar: Configurações de equipes. Ressalta-se que o modelo transdisciplinar não tem o objetivo de se sobrepor aos outros modelos. Observe que a diferença está nas relações, que são mais abertas, propiciando dessa forma um aumento exponencial nas possibilidades de ampliar o conhecimento, agregando valor ao fazer profissional de cada um. Os incrementos tecnológicos da contemporaneidade favoreceram sobremaneira essas conexões. Paralelo a isso, hoje lidamos com uma gama de informações e com níveis de complexidade cada vez mais altos que atuar em rede de forma colaborativa tornou-se uma questão de sobrevivência. Observe a seguir o poema Por quem os sinos dobram , escrito pelo poeta inglês John Donne em 1624, e reflita acerca da importância do outro em nossa vida pessoal ou profissional: O caminho tomado pela ciência na contemporaneidade nos conduz ao entendimento de que fazemos parte de um todo, e esse todo não existiria sem uma das partes que o compõe, por menor que ela seja. Nesse sentido, ao lançar o olhar sobre as possibilidades de atuação em equipes de Saúde, lembre-se da importância do seu trabalho e da importância do trabalho de seus pares; mas, acima de tudo, lembre-se de que há um sujeito inteiro, inserido em um contexto que espera que você o perceba como tal. Até aqui você estudou sobre os processos em equipes de Saúde, mas provavelmente ficou com a impressão de que esses formatos de equipes estão mais adequados para unidades de Saúde, como hospitais, unidades básicas de Saúde, em outras palavras, locais com boa estrutura que possibilite essa interconexão que acabamos de relatar, correto? Você se lembra da bússola de carreira que construiu no módulo anterior? Ela pode auxiliá-lo no caminho de estabelecer conexões que possibilitem formatos transdisciplinares, mesmo que você atue em consultório particular. Quando você for demandado para a prestação de serviços psicológicos, é importante que tenha um bom networking, que atue de forma colaborativa, pois dessa maneira poderá formar uma rede de conhecimentos compartilhados, e o paciente/cliente será contemplado em sua integralidade. Veja o exemplo de caso clínico (fictício), elaborado para auxiliar você na compreensão da importância de uma equipe transdisciplinar: SUPONHA QUE VOCÊ RECEBEU UMA DEMANDA DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE UM ADOLESCENTE DE 15 ANOS, QUE APRESENTA QUEIXA DE MUITA SONOLÊNCIA, EMBOTAMENTO AFETIVO SEM CAUSA QUE O JUSTIFIQUE, GANHO DE PESO CONSIDERÁVEL NOS ÚLTIMOS 6 MESES, DESÂNIMO PARA AS ATIVIDADES COTIDIANAS E AGRESSIVIDADE NO AMBIENTE FAMILIAR. AO INICIAR A ANAMNESE, NO RELATO DA GENITORA, QUE O ACOMPANHOU NA PRIMEIRA SESSÃO, FOI ESTABELECIDA RELAÇÃO DA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO COM O FATO DE O FILHO TER MUDADO DE ESCOLA NO MEIO DO SEMESTRE, MOTIVADA POR DIFICULDADES FINANCEIRAS NA FAMÍLIA. A GENITORA COMENTOU SOBRE O SÚBITO AUMENTO DE PESO DO FILHO. VOCÊ QUESTIONA SE O JOVEM SE SUBMETEU A EXAMES DE LABORATÓRIO NO ÚLTIMO MÊS, A FIM DE INVESTIGAR AS CONDIÇÕES DE SAÚDE FÍSICA DELE, QUANDO ELE RESPONDE NEGATIVAMENTE. NESSE MOMENTO VOCÊ, QUE FAZ PARTE DE UMA EQUIPE TRANSDISCIPLINAR, LEMBROU-SE DE UM CASO SEMELHANTE, QUE OCORREU COM UMA JOVEM E O ENDOCRINOLOGISTA QUE FAZ PARTE DA EQUIPE HAVIA SINALIZADO QUE A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO DA JOVEM FOI PROVOCADA POR UMA DISFUNÇÃO NA TIREOIDE E QUE A SITUAÇÃO DE NORMALIDADE SERIA RESTABELECIDA APÓS INTERVENÇÃO COM MEDICAMENTO E ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO E NUTRICIONAL. COM BASE NESSA INFORMAÇÃO RELACIONADA A OUTRO CASO CLÍNICO, VOCÊ ENCAMINHOU O SEU PACIENTE PARA UMA AVALIAÇÃO COM ENDOCRINOLOGISTA. Observe que o caso clínico relatado acima demonstra a importância de uma ação coordenada e colaborativa. Observe que a atuação de um profissional não exclui a de outro; ao contrário, o paciente, que é visto sob várias vertentes do saber, de forma conjunta, e coordenada, sente-se mais seguro e acolhido em sua inteireza. CLÍNICA AMPLIADA Entende-se por clínica ampliada uma das estratégias da Política Nacional de Humanização. Ampliar a clínica implica colocar o usuário do sistema de Saúde no lugar de protagonista do cuidado consigo, por meio do combate à fragmentação do conhecimento, ao foco no diagnóstico/remediação e à centralidade da figura do médico. O modelo da clínica ampliada baseia-se no conceito de saúde integral. A passagem a seguir confirma esse entendimento: PROPOMOS QUE NÃO PREDOMINE NEM A POSTURA RADICALMENTE ‘NEUTRA’, QUE VALORIZA SOBREMANEIRA A NÃO-INTERVENÇÃO, NEM AQUELA, TÍPICA NA PRÁTICA BIOMÉDICA, QUE PRESSUPÕE QUE O SUJEITO ACOMETIDO POR UMA DOENÇA SEJA PASSIVO DIANTE DAS PROPOSTAS. OUTRA FUNÇÃO TERAPÊUTICA DA HISTÓRIA CLÍNICA ACONTECE QUANDO O USUÁRIO É ESTIMULADO A QUALIFICAR E SITUAR CADA SINTOMA EM RELAÇÃO AOS SEUS SENTIMENTOS E OUTROS EVENTOS DA VIDA (MODALIZAÇÃO). EXEMPLO: NO CASO DE UM USUÁRIO QUE APRESENTA FALTA DE AR, É INTERESSANTE SABER COMO ELE SE SENTE NAQUELE MOMENTO: COM MEDO? CONFORMADO? AGITADO? O QUE MELHORA E O QUE PIORA OS SINTOMAS? QUE FATOS ACONTECERAM PRÓXIMO À CRISE? ISSO É IMPORTANTE PORQUE, CULTURALMENTE, A DOENÇA E O CORPO PODEM SER VISTOS COM UM CERTO DISTANCIAMENTO E NÃO É INCOMUM A PRODUÇÃO DE UMA CERTA ‘ESQUIZOFRENIA’, QUE LEVA MUITAS PESSOAS AO SERVIÇO DE SAÚDE COMO SE ELAS ESTIVESSEM LEVANDO O CARRO AO MECÂNICO: A DOENÇA E O CORPO FICAM DISSOCIADOS DA VIDA. NA MEDIDA EM QUE A HISTÓRIA CLÍNICA TRAZ PARA PERTO DOS SINTOMAS E QUEIXAS ELEMENTOS DA VIDA DO SUJEITO, ELA PERMITE QUE HAJA UM AUMENTO DA CONSCIÊNCIA SOBRE AS RELAÇÕES DA ‘QUEIXA’ COM A VIDA. QUANDO A DOENÇA OU OS SEUS DETERMINANTES ESTÃO ‘FORA’ DO USUÁRIO, A CURA TAMBÉM ESTÁ FORA, O QUE POSSIBILITA UMA CERTA PASSIVIDADE EM RELAÇÃO À DOENÇA E AO TRATAMENTO. (BRASIL, 2009, p. 49) O modelo de clínica ampliada considera os condicionantes que estão no entorno do usuário dos serviços como: sociais, biológicos, psicológicos, ambientais e políticos, traduzindo-se numa proposta que está para além dos muros das instituições ou dos consultórios, visto que fortalece a atenção ao sujeito, não apenas com foco na recuperação ou reabilitação, mas atua também, e principalmente, na prevenção e na promoção à saúde. Como funciona a clínica ampliada e qual a sua relação com as equipes de Saúde? Ao buscar o serviço de Saúde, o indivíduo é acolhido, mesmo que a queixa apresentada não tenha relação direta com o diagnóstico. Nesse sentido, a escuta qualificada e sensível habilita o profissional a ouvir o inaudível, ou seja, o que está por trás do que é verbalizado pelo paciente e do que é percebido diretamente pelo profissional. A fábula Os sons da floresta (KIM; MAUBORGNE, 1992, p. 86), reproduzida a seguir, apresenta a dimensão de uma percepção aguçada e de uma escuta sensível, voltada para o sujeito inteiro: OS SONS DA FLORESTA Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande mestre, com o objetivo de prepará-lo para ser um grande governante. Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever os sons da floresta. Retornando ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever os sons de tudo aquilo que conseguira ouvir. Disse o príncipe: "Mestre, pude ouvir o canto dos cucos, o roçar das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisabatendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus". Ao terminar o relato, o mestre pediu ao príncipe que retornasse à floresta para ouvir todos os sons possíveis. Apesar de intrigado, o jovem obedeceu. Seguiu pensando: "Acho que já escutei todos os sons da floresta". Durante uma semana o rapaz permaneceu sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... mas não conseguiu distinguir nem um som novo, além dos sons mencionados ao mestre. Então, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo que já ouvira antes. Quanto mais atenção prestava, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Pensou: "Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse". E, sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo pacientemente. Queria ter certeza de que estava no caminho certo. Quando retornou ao templo, o sábio mestre o aguardava. O mestre, então, lhe perguntou o que mais conseguira ouvir. O jovem foi logo dizendo: "Mestre, quando prestei mais atenção, pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do Sol aquecendo a Terra e da grama bebendo o orvalho da manhã. O mestre sorriu: seu discípulo estava pronto! (KIM; MAUBORGNE, 1992, p. 86) Quando o sujeito se posiciona como protagonista dos cuidados com a sua saúde, ele é partícipe do processo e atua junto com a equipe de profissionais, na evidência de causas do adoecimento, ou mesmo no direcionamento de possibilidade de prevenção ou promoção da saúde. Vale ressaltar que o diagnóstico e a medicação são contemplados na clínica ampliada, mas não são totalizantes, porque, como já abordamos, sai de cena a centralidade do médico. As equipes de Saúde manejam a abordagem por meio da investigação de condições de vida do sujeito e configurações familiares, realização de grupos terapêuticos, práticas de atividades físicas, manualidades, recreações, dentre muitas atividades interativas que, a partir de recursos simbólicos, possibilitam a emergência de conteúdos para serem elaborados. A seguir, são apresentados alguns benefícios da clínica ampliada: Melhorias na saúde como um todo. Protagonismo do paciente no cuidado da saúde — autonomia e responsabilidade. Desenvolvimento de estratégias para mais qualidade de vida. Equipes de Saúde especializadas em diversas áreas. Maior proximidade na relação entre paciente e profissional de Saúde. Interações entre profissionais para diagnóstico e proposta terapêutica — convergência de saberes. O módulo a seguir tratará da atenção às desigualdades, aos direitos humanos e às diferenças segundo faixa etária. A CLÍNICA AMPLIADA E A PRÁTICA DO PSICÓLOGO. Neste vídeo, a especialista Tatiana Oliveira reflete sobre a clínica ampliada, como ela surge, a sua utilidade e a sua importância, seus benefícios e suas implicações na prática do profissional de Psicologia. VEM QUE EU TE EXPLICO! Níveis de atenção à saúde – definição dos níveis de atenção em Saúde Processos em equipes de Saúde – os processos em equipes de Saúde e as configurações de equipes, proposto por Jantsch VERIFICANDO O APRENDIZADO ATENÇÃO ÀS DESIGUALDADES, AOS DIREITOS HUMANOS E ÀS DIFERENÇAS SEGUNDO FAIXA ETÁRIA QUERO UMA PSICOLOGIA QUE SE METAMORFOSEIE O TEMPO TODO, ACOMPANHANDO AS MUDANÇAS MÓDULO 4 Reconhecer situações de desigualdades e violação dos direitos humanos DA REALIDADE SOCIAL DE NOSSO PAÍS. NÃO PODEMOS QUERER UMA PSICOLOGIA QUE SEJA A CRISTALIZAÇÃO DE UMA MESMICE DE NÓS MESMOS. (BOCK, 1999, p. 328) Até aqui você navegou por mares que o levaram a continentes que, ainda que separados, compõem um todo significativo da sua profissão. Compreender o processo formativo do psicólogo, sua inserção no mercado de trabalho e as relações que permeiam a sua atuação é de fundamental importância para uma carreira de sucesso. Com o objetivo de conferir um encadeamento lógico para a compreensão deste conteúdo, agora você identificará as interfaces possíveis entre a Psicologia e os condicionantes sociais e econômicos que se apresentam como determinantes na vida de cada sujeito. Em outras palavras, cabe a nós questionar em que medida a Psicologia está atenta à observância das desigualdades e do consequente respeito aos direitos humanos. O FAZER DA PSICOLOGIA FRENTE ÀS DESIGUALDADES Antes de iniciarmos a exploração deste tópico, ouça a música Hey Joe , cuja letra se encontra a seguir, e reflita sobre as conexões possíveis entre os fatores intervenientes nas condições de desigualdade e desrespeito aos direitos humanos, presentes nas sociedades contemporâneas, e a nossa prática profissional: HEY JOE - O RAPPA Hey Joe Onde é que você vai Com essa arma aí na mão? Hey Joe Esse não é o atalho Pra sair dessa condição! Dorme com tiro acorda ligado Tiro que tiro Trik-trak boom Para todo lado Meu irmão, é só desse jeito Consegui impor minha moral... Eu sei que sou caçado E visto sempre como um animal Sirene ligada os homi Chegando trik-trak Boom boom Mas eu vou me mandando Hey Joe Assim você não curte o brilho Intenso da manhã Acorda com tiro dorme com tiro Hey Joe O que o teu filho vai pensar Quando a fumaça baixar Fumaça de fumo Fogo de revólver E é assim que eu faço E faço a minha história Meu irmão, aqui estou por causa dele E vou te dizer Talvez eu não tenha vida Mas é assim que vai ser Armamento pesado O corpo é fechado Eu não quero é mais ver Mas vai ser difícil me deter Hey Joe Muitos castelos já caíram E você tá na mira Hey Joe Muitos castelos já, e você tá na mira Também morre quem atira Menos de 5% dos caras do local São dedicados a alguma atividade marginal E impressionam quando aparecem nos jornais Tapando a cara com trapos Com uma Uzi na mão Parecendo árabes árabes árabes do caos Sinto muito cumpadi Mas é burrice pensar Que esses caras É que são os donos da biografia Já que a grande maioria Daria um livro por dia Sobre arte, honestidade e sacrifício Sacrifício... Arte, honestidade e sacrifício Também morre quem atira A música Hey Joe retrata uma das facetas de um país rico em desigualdades, que inegavelmente afetam mais diretamente grupos mais vulneráveis, dos quais fazem parte em maior número negros, mulheres, índios, imigrantes, desempregados e pessoas com deficiência. Todos eles compõem o tecido social, cujos fios da trama se entrelaçam e o tornam impermeável, impedindo o acesso ao mínimo do que lhes é de direito: comida, saúde, educação, segurança. A dinâmica intensa e perversa que dá forma a esse cenário provoca danos de proporções estruturais e revela a ausência do Estado no seu papel de regulador e promotor do estado de bem-estar social. O modelo econômico do neoliberalismo, presente na maioria das nações de sistema capitalista, tem como premissa básica a atuação do mercado em uma livre concorrência. Nas economias desenvolvidas, em determinadas situações, quando o estado de bem-estar social mostra-se vulnerável, o Estado entra em cena, como ente regulador, até que o equilíbrio seja restabelecido. Um exemplo recente desse cenário ocorreu durante a pandemia da covid-19, em que um grave problema de saúde ameaçou a ordem. Nessa situação, muitos Estados agiram, visando amparar a população com recursos econômicos e de biossegurança, a fim de proteger a vida de seus cidadãos e atuar na busca da situação de normalidade. No cenário brasileiro, um país em desenvolvimento, observou-se que a emergência de outras questões de ordem econômica, política e social conduziu o país ao aumento das desigualdades, tornando crônicas situações vivenciadas pela população e evidenciando um quadro de mazelas sociais sem precedentes. Observa-se que o país possui marcos legais que dão sustentação às políticas públicas voltadas para a redução dessas desigualdades, no entanto a sua aplicação mostra-se frágil, o que abre espaço para corrupção, violência, adoecimento da população, falta de acesso à educação, aumentando cadavez mais o abismo que separa ricos e pobres. PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS Você conhece a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH)? Como ela foi concebida? TODOS OS SERES HUMANOS NASCEM LIVRES E IGUAIS EM DIGNIDADE E EM DIREITOS. TODO SER HUMANO TEM CAPACIDADE PARA GOZAR OS DIREITOS E AS LIBERDADES ESTABELECIDOS NESTA DECLARAÇÃO, SEM DISTINÇÃO DE QUALQUER ESPÉCIE, SEJA DE RAÇA, COR, SEXO, IDIOMA, RELIGIÃO, OPINIÃO POLÍTICA OU DE OUTRA NATUREZA, ORIGEM NACIONAL OU SOCIAL, RIQUEZA, NASCIMENTO OU QUALQUER OUTRA CONDIÇÃO. TODO SER HUMANO TEM DIREITO À VIDA, À LIBERDADE E À SEGURANÇA PESSOAL. (DECLARAÇÃO..., 2009, p. 4-5) Os três parágrafos mencionados são fragmentos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Vamos conhecer um pouco da sua história e as motivações da sua construção. A vida em sociedade necessita de normas e valores que organizem as relações humanas e possibilitem a convivência harmônica entre os povos. A inexistência dessas normas nos posicionaria no mesmo patamar dos nossos longínquos ancestrais, os quais, nos tempos da barbárie, lutavam pela sobrevivência e muitas vezes eram levados a ceifarem a vida de seus semelhantes, como solução para os conflitos. Os direitos humanos consistem em normas que garantem aos humanos direitos considerados inalienáveis, como o direito à vida, à liberdade, à justiça, à igualdade, aos quais fazemos jus desde que nascemos. ATENÇÃO Nem sempre foi assim. A nossa história só passou a contar com a observância dos direitos humanos a partir do século XX, quando a humanidade se deparou com os horrores praticados nas guerras mundiais. Foi então que, após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), instituição composta por 50 países, dentre os quais está o Brasil, com o objetivo de manter a paz e a segurança mundial. Com base nessas premissas, em 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua Resolução nº 217, elaborou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), tida como um marco importante para o Direito Internacional, visto que estabelece princípios e valores universais a serem respeitados por todos os povos. Afinal, o que a Psicologia tem a ver com os direitos humanos? Qual é a parte que lhe cabe? Você sabia que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é a base do código de ética da nossa profissão? Ela é referência fundamental para a nossa prática. É o nosso horizonte ético. Agora você percebe a dimensão do nosso trabalho? A Psicologia precisa legitimar o seu lugar de compromisso social e esse passo depende de cada um de nós, à medida que lançamos um olhar para além do espaço circunscrito ao atendimento do sujeito que busca os serviços da Psicologia. Assim, faz-se necessário o posicionamento crítico e atuante nos diversos espaços de inserção do fazer da Psicologia. A Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP), órgão representante da nossa categoria profissional, tem como principais objetivos e atribuições: Fomentar o debate contínuo acerca dos direitos humanos, durante e após o processo formativo do profissional da Psicologia. Avaliar processos excludentes e o sofrimento psíquico deles decorrentes. Engajar-se nos desafios para garantia do respeito aos direitos humanos e apoiar movimentos nessa direção, no Brasil ou em âmbito internacional. Buscar soluções para os casos de omissão do Estado, no que se refere ao respeito aos direitos humanos. Observe o alinhamento da nossa prática profissional com a observância dos direitos humanos. Essa comissão prioriza quatro eixos de ação, pautados no acolhimento, no cuidado e na prevenção, e difunde essa estratégia por todo o território nacional mediante as representações regionais, que ficam a cargo dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRP). Confira a seguir quais são esses quatro eixos de ação: O tópico a seguir apresenta algumas possibilidades de inserção da Psicologia em atividades que objetivam garantir os direitos humanos e reduzir as desigualdades. A PSICOLOGIA EM PROL DA GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS SE PODES OLHAR, VÊ. SE PODES VER, REPARA. (SARAMAGO, 1995, p.9) Situações de vulnerabilidade colocam seres humanos diante da possibilidade de terem a sua vida ameaçada ou mesmo as condições que garantem o mínimo de estabilidade para a sobrevivência. Há muitas possibilidades de atuação do psicólogo, nos mais diversos contextos e voltadas para diferenciados públicos. A frase de autoria de José Saramago traduz a necessidade de entrega do profissional da Psicologia em sua trajetória profissional. Essa entrega refere-se ao desnudar-se de si, do arcabouço teórico que trouxe da academia, das ambições profissionais, do caminho de sucesso traçado nos planos e estar de corpo e alma presentes, disponível para aquele sujeito que demanda simplesmente o seu acolhimento e o seu olhar. De acordo com Freire (2003, p. 14), o trabalho do psicólogo no atendimento aos usuários que demandam seus serviços, assemelha-se a uma “hospitalidade oferecida aos habitantes de um mundo inóspito”. Observe a poesia contida no olhar do autor ao referir-se ao processo de atendimento: OFERECER UM LUGAR PARA O OUTRO ― LUGAR ESTE QUE DESDE SEMPRE JÁ SERIA DELE ―, ABRINDO PORTAS E JANELAS PARA SUA VISITAÇÃO, OFERECENDO O MELHOR CÔMODO, GARANTINDO- LHE UM ESPAÇO DE HABITUALIDADE, OU SEJA, UM ETHOS , UMA MORADA CONFIADA E SERENA ONDE ELE POSSA RENOVAR-SE PARA RETORNAR SUAS DORES NO MUNDO. (FREIRE, 2003, p.14) Assim, é possível constatar a importância da atuação do profissional da Psicologia em contextos de vulnerabilidade, nos quais os indivíduos têm ameaçada a garantia dos direitos humanos. A seguir, encontram-se relacionadas algumas possibilidades de atuação em situações de desigualdades, vulnerabilidades e consequente risco de violação aos direitos humanos: PSICOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES As mudanças climáticas, que têm ocupado os pesquisadores nas últimas décadas, têm causas que se originam de fenômenos naturais, mas também, e principalmente, decorrem da ação humana. Tais eventos têm ganhado relevância social e científica. Uma nova área da Psicologia vem sendo requisitada para o atendimento das vítimas e, com isso, temos a Psicologia das Emergências, cuja premissa de trabalho está voltada para a emergência do humano. Em outras palavras, a atuação ocorre onde há sofrimento humano decorrente dessas catástrofes, com o objetivo de reduzir os seus efeitos desastrosos. O profissional atua como parte integrante da equipe da Defesa Civil e foca o seu trabalho não apenas na resposta e na recuperação, mas também na preparação e na prevenção. TRABALHOS EM CONTEXTOS DE AÇÕES HUMANITÁRIAS A atuação em contextos de ajuda humanitária, a exemplo do trabalho realizado pela organização Médicos sem Fronteiras, nos conduz a pensar em um trabalho de que viabilize o provimento de alimentos, moradia e atendimento para as dores físicas. É importante ressaltar a importância do atendimento psicológico para cuidar das dores de alma, de pessoas que estão submetidas a condições de miséria humana, com perda de dignidade e desvalorização da vida. TRABALHOS COM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Um recorte possível para atuação do profissional da Psicologia nos casos de violência doméstica pode se voltar para o acolhimento de mulheres vítimas de violência física, psicológica, sexual, financeira, entre outras formas que acabam por tirar a sua autonomia e poder de decisão sobre a própria vida. A independência financeira pode ser o primeiro passo para encorajar as mulheres a saírem de situações de violência. E como a Psicologia pode auxiliar nessas situações? Um processo de orientação profissional, por exemplo, pode apresentar às vítimas possibilidades de inserção no mercado de trabalho e consequente liberdade de escolha sobre os caminhos a seguir. TERAPIA DE GRUPO COM IDOSOS A conjuntura contemporânea traz em seu cenário o fenômeno de aumento da longevidade atrelado aoincremento de tecnologia. Dados do IBGE de 2013 revelam, numa projeção até 2030, uma inversão na relação entre taxa de fecundidade e taxa de envelhecimento, o que aponta para um crescimento da população idosa e, concomitantemente, a demanda por serviços de equipes de Saúde que atendam esse público. Nesse caso, o trabalho do profissional de Psicologia volta-se para a promoção de um envelhecimento autônomo, colocando o idoso na posição de protagonista de sua história, minimizando os condicionantes que ameacem os seus direitos humanos. Apresentamos aqui alguns exemplos de trabalhos que podem ser desenvolvidos por psicólogos, fazendo frente à redução das desigualdades e potencializando a proteção aos direitos humanos. Salientamos que o campo é muito vasto e rico de possibilidades, podendo se estender a públicos e contextos variados. Agora é a sua vez. Pesquise, reúna informações, explore possibilidades de caminhos a serem seguidos, construa seu plano de carreira e tome decisões que garantam uma trajetória profissional de excelência. O PSICÓLOGO FAZENDO FRENTE À REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES Neste vídeo, a especialista Tatiana Oliveira reflete sobre a importância das ações do profissional psicólogo e ilustra, em diversos contextos, o enfrentamento às desigualdades e a prestação de serviço a populações vulneráveis. VEM QUE EU TE EXPLICO! Psicologia e direitos humanos A Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP) VERIFICANDO O APRENDIZADO CONSIDERAÇÕES FINAIS Retomando o que vimos até aqui, é possível estabelecer conexões entre os pontos abordados, que trataram da formação profissional do psicólogo e seus marcos regulatórios, desenvolvimento de habilidades e competências, planejamento de carreira, trabalho em equipes de Saúde em várias configurações e, finalmente, a observância das desigualdades, das violação aos direitos humanos e o fazer do profissional da Psicologia inserido nesse contexto. CONCLUSÃO Você teve contato com uma série de informações que têm utilidade prática para a sua trajetória profissional. Nesse sentido, é importante que você reflita sobre todo o material relativo a essa temática e construa o seu plano de carreira. Assim você estará apto a adotar estratégias para tomar decisões mais seguras em relação à sua trajetória. PODCAST Agora, a especialista Tatiana Oliveira encerra o tema falando sobre a diversidade de habilidades e competências fundamentais na prática do profissional de Psicologia. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BOCK, A. M. B. A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e compromisso social. Estudos de Psicologia, v. 4, n. 2, p. 315-329, 1999. Consultado na internet em: 25 set. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 597, de 13 de setembro de 2017. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 155, n. 230, p. 199-202, 30 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Clínica ampliada e compartilhada. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2009. (Série B. Textos Básicos de Saúde). CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Cartilha: os direitos humanos na prática profissional do psicólogo. 2003. Consultado na internet em: 10 ago. 2021. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. CFP. Ditadura e violência de Estado. 2014. Consulado na Internet em: 10 ago. 2021. DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro: UNIC, 2009 [1948]. Consultado na internet em: 10 ago. 2021. DONNE, J. Meditation XVII. The Literature Network. Consultado na internet em: 10 ago. 2021. FREIRE, J. C. A Psicologia a serviço do outro: Ética e Cidadania na prática psicológica. Psicologia Ciência e Profissão, v. 23, n. 4, p. 12-15, 2003. Consultado na internet em: 10 ago. 2021. HEY Joe. Intérpretes: Falcão, Marcelo D2. Compositor: Billy Roberts. Versão: Ivo Meirelles, Marcelo Yuka. In : RAPPA Mundi. Intérprete: Falcão. Rio de Janeiro: Warner Music, 1996. 1 CD, faixa 5. JANTSCH, A. P.; BIANCHETTI, L. (Orgs.). Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. KIM, W. C.; MAUBORGNE, R. A. A arte de comandar sem tropeçar. Exame, ano 24, n. 22, p. 86-7, 28 out. 1992. ROLLENBERG, M. Nenhum homem é uma ilha. Jornal da USP, abril de 2020. Consultado na internet em: 25 set. 2021. SARAMAGO, J. Ensaio sobre a Cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. SCHOSSLER, A. B.; CARLOS, S. A. Por uma visualização do processo grupal. Psico, v. 37, n. 2, 2006. SCHWAB, K. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2019. Livro eletrônico. SILVA, D. J. O paradigma transdisciplinar: uma perspectiva metodológica para a pesquisa ambiental. In : PHILIPPI JUNIOR, A. et al. (Eds.) Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais. São Paulo: Signus, 2000. Consultado na internet em: 24 set 2021. EXPLORE+ Assista ao filme SOS saúde, em que o cineasta Michael Moore analisa as crises do sistema de Saúde americano e observa por que milhões de americanos continuam sem seguro saúde adequado para tratamentos. Ele explica como o sistema se tornou problemático e visita outros países que recebem tratamentos gratuitos, tais como Canadá, França e Reino Unido. Disponível no YouTube. Leia o artigo Âncoras e valores sob diferentes perspectivas da gestão da carreira, publicado na Revista Brasileira de Gestão de Negócios, v. 18, n. 59, 2016. A pesquisa realizada pelos autores Rodrigo Cunha da Silva e colaboradores constatou a necessidade de considerar a análise de características geracionais na proposta de estruturas de trabalho para profissionais da geração Y. Você pode encontrar o artigo na plataforma SciELO. Assista ao vídeo O tecido e o tear, produzido pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e disponível no YouTube, para saber mais sobre a temática dos direitos humanos na prática profissional do psicólogo. Consulte o guia Primeiros cuidados psicológicos: guia para trabalhadores de campo, disponível no site PAHO. Assista à entrevista realizada por doutor Drauzio Varella a Ionara Rabelo, psicóloga do Médicos sem Fronteiras (MSF), disponível no canal do médico. Psicólogos são essenciais para dar suporte ao atendimento direto em áreas de atuação da MSF. A psicóloga Ionara Rabelo relata suas experiências em missões na Palestina, na Síria e no Equador, incluindo uma missão de alto risco na Libéria para conter surtos de ebola. CONTEUDISTA Tatiana Oliveira
Compartilhar